EDUCAR E CUIDAR PELA PERSPECTIVA DAS RELAÇÕES DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO INFANTIL* Maria Cristina Bezerra Cardoso (FACEQ)** Tâmara de Oliveira (FACEQ) *** Maria Clara Lopes Saboya (FAFE/FACEQ) **** Resumo Este trabalho tem com proposta apresentar a importância do gênero masculino na docência da Educação Infantil. A partir deste texto, procurou-se apresentar que a história da Educação Infantil configurou-se como um espaço totalmente feminino e, em contrapartida, a figura masculina é de certo modo excluída. Para tanto, este trabalho propõe os conceitos de cuidar e educar pela perspectiva dos gêneros na Educação Infantil. O objetivo foi analisar fatores culturais e sociais que envolvem a exclusão e a discriminação do professor homem na Educação Infantil. Constatou-se que há muito preconceito e discriminação incrustados nessa modalidade e que o professor encontra muitos obstáculos para exercer essa profissão. Esta pesquisa ressalta a necessidade de reflexão e ações contrárias concernentes à postura social relacionada à exclusão e discriminação do gênero masculino no tocante à docência na Educação Infantil. Palavras-Chave: Relações de Gênero. Educação Infantil. Docência Masculina. Abstract This work has proposed to present the importance of males in teaching in early childhood education. From this text, we sought to present the history of early childhood education was configured as a totally feminine space, however, the male figure is excluded certain way. For both this present work proposes the care and education from the perspective of gender in early childhood education. The aim was to analyze cultural and social factors related to exclusion and discrimination of male teacher in early childhood education. It was found that there is a lot of prejudice and discrimination embedded in this mode, the teacher finds many obstacles to pursue that profession. This research highlights the need for * Artigo resultante do Trabalho de Conclusão de Curso das duas primeiras autoras, apresentado à Faculdade Eça de Queiros (FACEQ – UNIESP Jandira) em 2014, como exigência parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, sob orientação da Professora Dra. Maria Clara Lopes Saboya. ** Licenciada em Pedagogia pela FACEQ – UNIESP Jandira. *** Licenciada em Pedagogia pela FACEQ – UNIESP Jandira. **** Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Mestre e Pedagoga pela mesma instituição. Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). 1 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq reflection and actions contrary stance concerning social exclusion and discrimination related to males in relation to teaching in early childhood education. Keywords: Gender Relations. Early Childhood Education. Teaching Men. Introdução Por muitos anos, na história da Educação Infantil, o cuidar e o educar eram vistos como atividades que poderiam ser desenvolvidas apenas pelo gênero feminino. Marcado pela cultura do feminismo, o ato de cuidar era exercido apenas como uma atividade corporal, no qual mães e outras mulheres próximas às crianças poderiam executar, sendo ele apenas uma atividade doméstica, o cuidar era responsabilidade da mulher. O educar, embora visto como uma atividade intelectual, não fica aquém dessa visão, pelo vínculo maternal, e a divisão social do papel feminino na sociedade, o educar também se mostrou nessa perspectiva como uma atividade desenvolvida pelo gênero feminino, tendo como finalidade a preservação da figura feminina (materna) fora de casa, fortalecendo ainda mais a responsabilidade da mulher em transmitir também a educação formal. Diante desse fato, percebe-se que a mulher assume a responsabilidade de educadora na Educação Infantil, quase que erradicando a figura do gênero masculino. Sendo assim, este trabalho propõe-se a afirmar a importância do gênero masculino na Educação Infantil, sendo o homem, valorizado também como professor. O tema abordado tornou-se objeto de pesquisa devido à observação no campo da Educação Infantil, em que se percebe a grande ausência da figura masculina como educador e/ou cuidador nas escolas e instituições de Educação Infantil. Diante dessa realidade, surgem alguns questionamentos tais como: 1) A ausência do gênero masculino na Educação Infantil refere-se ao fato da sociedade impor papéis para ambos os sexos/gêneros?; 2) Há preconceito em relação ao homem exercer o papel de cuidador tal como também educador?; 3) Acredita-se que o homem tenha competências e habilidades suficientes para ser parte integrante na Educação Infantil? Em resposta a essas problemáticas, levantamos as seguintes hipóteses: 1) Vítimas de uma sociedade machista, os gêneros masculino e feminino desempenham tarefas diferentes em que, mulheres deveriam cuidar do lar e de seus filhos, e homens trabalhar fora, e serem supridores de seus lares. Entretanto, essa mesma sociedade cresceu se desenvolveu, e com ela, foram quebrados vários paradigmas, entre eles, a presença da 2 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq mulher no mercado de trabalho, a conquista por direitos sociais, entre outros. Com todas essas mudanças e conquistas, vivenciamos a igualdade perante os gêneros, o que nos faz acreditar que assim como muitos paradigmas foram quebrados, homens e mulheres podem desempenhar várias funções sem desigualdades. 2) Dentre os vários papéis que homens e mulheres desempenham na sociedade, o papel de cuidar e educar também pode e deve ser desempenhado pelo gênero masculino. A prática do cuidar e do educar exercida pelo homem, não desdenha a figura feminina, nem tão pouco desvaloriza a figura masculina, mas fortalece o conceito de uma sociedade igualitária e humanística, em que independente de gêneros, competências e habilidades são dadas a todos. 3) Outro paradigma que precisa ser vencido é o preconceito que há em relação ao gênero masculino como educador na Educação Infantil. Cuidar e educar não são uma tarefa exclusiva das mulheres, mas uma tarefa que pode ser desempenhada por ambos os gêneros, sendo exigida para essa tarefa certa qualificação. Partindo desse pressuposto, a escola deveria se caracterizar em um espaço que não excluísse, mas uma aliada na quebra de tabus, um ambiente que não tivesse tantos desencontros em suas ações. Como formadora de opiniões, a escola pode reverter o preconceito que há em relação ao homem como educador, mostrando a sociedade que a educação não exige um gênero específico, mas qualificação. Na história da Educação Infantil no Brasil, o gênero feminino ocupou o espaço de educadora concernente à mulher ser uma fiel representante da figura materna. Ainda no tocante à Educação Infantil, a preocupação era atender as crianças de uma maneira assistencialista, sendo essa função destinada às mulheres. Com o passar dos anos, percebeu-se que as crianças necessitavam mais do que apenas cuidados maternos, e que as instituições de Educação Infantil poderiam oferecer muito mais que apenas cuidados assistencialistas. Relevante a essa vertente, a lei e a constituição exigiram preparo profissional para o atendimento às crianças. Diante desse fato, tanto na lei como na constituição, não especifica mulheres ou homens de forma singular capaz para exercer a função de educador (a). O critério para atender as crianças na Educação Infantil não é uma questão de gênero, mas é preciso que haja competência e habilidade. Competências se constituem num conjunto de conhecimentos, atitudes, capacidades e aptidões que habilitam alguém 3 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq para vários desempenhos da vida. Habilidades se ligam a atributos relacionados não apenas ao saber-conhecer, mas ao saber-fazer, saber-conviver e ao saber-ser. Sendo assim, o homem tem aptidão para exercer a função de educador na Educação Infantil. Por meio de dados históricos, bibliográficos e pesquisa em campo, pretende-se averiguar como o gênero masculino é visto no âmbito da Educação Infantil e como é sua participação e contribuição para o exercício do cuidar e educar. Em suma, será apresentado nesta pesquisa um breve recorte da Educação Infantil na educação no Brasil, a perspectiva dos gêneros na educação e por fim a importância do gênero masculino na Educação Infantil. Em seguida será apresentada a pesquisa de campo realizada em três escolas privadas na cidade de São Paulo. A primeira escola é a Escola Viva, localizada na Vila Olímpia –São Paulo, a segunda escola é Red Balloon localizada em Santana de Parnaíba- São Paulo e a terceira e ultima é Maria Montessori localizada no Jabaquara- São Paulo. Dentro de cada escola foi abordado um professor de Educação Infantil, e esses professores responderam um questionário composto por oito perguntas abertas concernentes à docência masculina na Educação Infantil. 1 Referencial teórico 1.1 A história da Educação Infantil Historicamente falando, a Educação Infantil apresenta uma política de atendimento assistencialista e de grandes batalhas para a valorização da infância enquanto processo importante do desenvolvimento infantil. Este título propôs-se em reunir importantes fatos históricos da Educação Infantil no geral, observando paradigmas, compreendendo os avanços, até chegar ao que a constitui hoje a Educação Infantil Brasileira (KRAMER, 2005). Segundo Rizzo (2003), de um modo geral, a Educação Infantil surgiu com o fenômeno da era industrial, em que a mão de obra humana deixa de ser relevante, sendo ela substituída pelas maquinas. Foi na Revolução Industrial que a mão de obra feminina foi incorporada no mundo fabril, e se separou o trabalho doméstico do trabalho remunerado no mercado de trabalho formal, mesmo que de forma subalterna. 4 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq Inicia-se então uma era em que a mulher deixa as funções de mãe em tempo integral, dona de casa, para assumir o papel de provedora do lar e funcionária remunerada. Norteado por esse contexto, em meados dos séculos XVIII e XIX, na Europa e nos Estados Unidos, surge o embrião do que seria a Educação Infantil (RIZZO, 2003). Com as mulheres no mercado de trabalho, muitas delas não tinham com quem deixar seus filhos, e, com a finalidade de sanar esse problema, surgem mulheres que tomam por opção cuidar dessas crianças em suas casas, enquanto suas mães trabalham. Com a crescente participação do trabalho dos pais nas fabricas, fundição e mina de carvão, ergue-se uma alternativa no tocante ao cuidado com as crianças, de maneira formalizada, mulheres da comunidade (sem proposta instrucional formal), desenvolvem com as crianças atividades voltadas para o ensino de bons hábitos de comportamento e a internalização de regras morais. Com o aumento das mulheres no mercado de trabalho, mais se aumentava essas pequenas zonas de assistencialismo doméstico, crescendo os riscos de maus tratos às crianças, reunidas em um numero maior, aos cuidados de apenas uma cuidadora, essas crianças eram vitimas da pouca alimentação e higiene, causando um quadro caótico (RIZZO, 2003). Ainda segundo essa autora, preocupados com a sobrevivência, famílias se tornaram coniventes com o desprezo e os maus tratos com as crianças, sendo assim, a sociedade aplaudiu a atitude de algumas pessoas que retiravam as crianças desvalidas das ruas, com afinco de cuidar e dar assistência. Na perspectiva de Didonet (2001), surgem no contexto de desenvolvimento industrial, nos Estados Unidos e na Europa as primeiras instituições, que procuravam cuidar e proteger as crianças enquanto suas mães estavam no trabalho. Dessa forma, o surgimento dessas instituições é atribuído às transformações sociais e da família. As escolas maternais, creches, jardins de infância, tiveram em seu inicio, o objetivo assistencialista, cujo propósito era a guarda, alimentação, higiene e o cuidado físico com as crianças. Embora o aparecimento dessas instituições fosse assistencial, Kuhlmann Jr. (2001) afirma que havia uma preocupação com a educação, visto que eram apresentadas desde o inicio como instituições pedagógicas. Essa afirmativa é respaldada com a Escola de Principiantes, ou a escola de tricotar, criada pelo pastor Orbelin, na França, em meados 5 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq de 1769, com o atendimento para crianças de dois a seis anos. Essa instituição tinha como objetivo desenvolver nas crianças diferentes habilidades como: hábitos de obediência, bondade, identificação das letras do alfabeto, pronuncia correta das palavras, além de noção moral e religiosa. Como exemplo, podemos citar a escola de Robert Owen, criada no ano de 1816 em New Lanark, na Escócia: uma instituição pensada com proposta pedagógica, já que atendia crianças de um ano e seis meses até vinte e cinco anos de idade, e tinha como objetivo trabalhar questões que abordavam a natureza, exercícios de dança e canto coral. Nessa instituição eram usados materiais didáticos com proposta educativa, desenvolvendo nos alunos raciocínio e o julgamento correto diante das situações problema proposta pelo professor (KUHLMANN JR, 2001). Outra instituição considerada como pedagógica é o Jardim de Infância, do ponto de vista histórico, essa instituição não tinha como prioridade o cuidar somente, (embora essa questão estivesse sempre atrelada ao educar). Todavia, vale ressaltar que o primeiro jardim de infância criado em meados de 1840, em Blankenburgo, por Friedrich Froebel, não tinha uma preocupação apenas educativa e assistencial, mas de transformar a estrutura familiar, de maneira que as famílias pudessem dar melhor assistência aos seus filhos. Para essa afirmação diz Kuhlmann Jr: Os estudos que atribuem aos Jardins de Infância uma dimensão educacional e não assistencial, como outras instituições de Educação Infantil, deixam de levar em conta as evidências históricas que mostram uma estreita relação entre ambos os aspectos: a que a assistência é que passou, no final do século XIX, a privilegiar políticas de atendimento à infância em instituições educacionais e o Jardim de Infância foi uma delas, assim como as creches e escolas maternais. (KUHLMANN JR, 2001, p. 26) A despeito dos jardins de infância, de acordo com Kramer (2006, p. 25) “surgem os jardins da infância por Froebel, nas favelas alemãs; por Montessori nas favelas italianas A pré-escola era encarada, por esses educadores, como uma forma de superar a miséria, a pobreza e a negligência familiar”. Partindo da segunda metade do século XIX, as instituições destinadas à primeira infância, eram formadas por creches e jardins de infância, acompanhadas de outras modalidades educacionais que foram obtidas como modelo em vários países. Em contexto diferente, numa realidade assistencialista, nasce a Educação Infantil no Brasil, em detrimento dos outros países que tinham como objetivo não apenas assistir as crianças, mas também educa-las. No tocante a esse objetivo, é de suma importância avaliar essa 6 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq diferença para que possa haver uma compreensão da trajetória da Educação Infantil no Brasil, na relação estabelecida com o contexto universal (Revista HISTEDBR, 2009). 1.2 A Educação Infantil no Brasil Segundo Rizzo (2003), a Educação Infantil nasce, no Brasil, com caráter assistencial. Pautada numa realidade em que mulheres trabalhavam fora, viúvos desamparados e órfãos abandonados, surgem as primeiras tentativas de organização de creches, asilos e orfanatos. Além disso, fatores como alto índice de mortalidade infantil, desnutrição generalizada e um numero significativo de acidentes domésticos, religiosos, empresários e educadores começaram a pensar num espaço de cuidado para as crianças fora do ambiente familiar. Foi através dessa preocupação que a criança começou a ser vista com um sentimento filantrópico, caritativo, assistencial, e que começou a ser atendida fora da família (DIDONET, 2001). Enquanto para as famílias mais abastadas pagavam uma babá, as pobres viam-se na contingência de deixar os filhos sozinhos ou colocá-los numa Instituição que deles cuidasse. Para os filhos das mulheres trabalhadoras, a creche tinha que ser de tempo integral; para os filhos de operárias de baixa renda, tinha que ser gratuita ou cobrar muito pouco; ou para cuidar da criança enquanto a mãe estava trabalhando fora de casa, tinha que zelar pela saúde, ensinar hábitos de higiene e alimentar a criança. A educação permanecia assunto de família. Essa origem determinou a associação creche, criança pobre e o caráter assistencial da creche. (DIDONET, 2001, p. 13) Nesse contexto, vale ressaltar que ao longo das décadas, foram se constituindo arranjos alternativos para atender as crianças menos favorecidas. No Brasil, por exemplo, uma das instituições mais perduráveis foi a roda dos excluídos ou a roda dos expostos, em que crianças recém-nascidas abandonadas eram colocadas num tabuleiro, puxava-se então uma corda que servia de aviso para as auxiliadoras dessa instituição de que uma criança havia sido posta naquele local. Por mais de cem anos a roda dos expostos foi uma alternativa para as crianças abandonadas, e mesmo vista por muitos como uma alternativa ruim de atendimento a criança, a roda dos expostos perdurou até meados do século XX (MARCÍLIO, 1997). Partindo do pressuposto de abandono e fragilidade no contexto da Revolução Industrial, as crianças menos favorecidas eram atendidas nessas instituições que além de assistencialistas, eram também instituições femininas, pois as tarefas do cuidar e do educar eram direcionadas apenas às mulheres, pois o gênero feminino era visto como uma 7 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq performance perfeita da figura materna. Assim, essas instituições crescem no Brasil, ainda sem respaldo judiciário e governamental; um número significativo de creches foi criado por entidades filantrópicas com a proposta de atender não apenas as crianças menos favorecidas, mas também, ser suporte para mães operárias com jornada de trabalho de meio à período integral (KUHLMANN JR, 1998). Outro fator, segundo Haddad (1993), considerado contribuinte para o nascimento de creches e instituições foram os movimentos feministas iniciados nos Estados Unidos, essas manifestantes defendiam a ideia de que tanto creches como pré-escolas deveriam atender todas as mulheres, independente da sua situação econômica. O resultado desse movimento culminou num número significativo de instituições mantidas e geridas pelo poder público. Foi apenas em meados das décadas de 70 e 80 que a Educação Infantil começou a ter apoio judiciário e governamental, a criança passou a ser vista como pequeno cidadão, sendo assim, deveria receber seus direitos e não poderia sofrer de privação social. Em consequência de uma forte reivindicação das massas para que todos, irrestritamente, tivessem acesso à educação, em 1988 a Constituição Federal Brasileira reconhece a Educação Infantil como um direito de toda criança e dever do Estado. Em 1990, se elabora o ECA (Estatuto da criança e do Adolescente), afirmando os direitos universais a infância. A LDB 9394/96 incorpora a Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica e formaliza a municipalização desta etapa do ensino. Em 1998 é elaborado o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI – um documento que norteia o trabalho pedagógico realizado com as crianças de 0 a 5 anos. Além desse importante documento para o avanço da qualidade dessa etapa de ensino, o Ministério da Educação Cultura e Desporto/MEC, lanças outros como: Parâmetros em Ação – Educação Infantil (1999); Política Nacional de Educação Infantil: pelo direito da criança de 0 a 5 anos à educação (2006); Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (2006) com dois volumes; Parâmetros Básicos de infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (2006); Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (2009). Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010) todos esses materiais, visam propiciar uma educação voltada para a diversidade. (BRASIL, 1988). Além da Constituição Federal de 1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente 8 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq de 1990, destaca-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, que, ao tratar da composição dos níveis escolares, inseriu a Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica. Essa Lei define que a finalidade da Educação Infantil é promover o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, complementando a ação da família e da comunidade (BRASIL, 1996). De acordo com o Ministério da Educação, o tratamento dos vários aspectos como dimensões do desenvolvimento e não áreas separadas foram fundamentais, já que “[...] evidencia a necessidade de se considerar a criança como um todo, para promover seu desenvolvimento integral e sua inserção na esfera pública” (BRASIL, 2006, p. 10). Sendo assim, agora a Educação Infantil recebe um grande avanço concernente aos direitos da criança pequena, uma vez que a Educação Infantil passa a ser considerada como a primeira etapa da Educação Básica, embora, não obrigatória, é um direito da criança. Partindo desse pressuposto, segundo DIDONET (2001), três importantes objetivos devem ser observados nessa nova modalidade educacional: Objetivo Social: associado à questão da mulher enquanto participante da vida social, econômica, cultural e política; Objetivo Educativo: organizado para promover a construção de novos conhecimentos e habilidades da criança. Objetivo Político: associado à formação da cidadania infantil, em que, por meio deste, a criança tem o direito de falar e de ouvir, de colaborar e de respeitar e ser respeitada pelos outros (DIDONET, 2001, p. 53). Em uma relação coerente com a Legislação, o Ministério da Educação publicou em 1998, documentos que dariam suporte para que instituições infantis fossem credenciadas, concomitantemente nasce também o Referencial Curricular Nacional (BRASIL, 1998a), com o objetivo de contribuir para a implantação de práticas educativas de qualidade. Este último foi concebido de maneira a servir como um guia de reflexão de cunho educacional sobre os objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que atuam com crianças de zero a cinco anos de idade. Para a concretização desses objetivos, o Referencial Curricular para a Educação Infantil engaja uma proposta que possibilita compreender a criança, como um sujeito de direitos, autônoma, capaz de usar sua voz para, constituir um fazer educativo eficiente e prazeroso, e acima de tudo transformador: 9 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq Desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações; Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-estar; Estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças, fortalecendo sua autoestima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social; Estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração; Observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente, valorizando atitudes que contribuam para sua conservação; Brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejo e necessidades; Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas ideias, sentimentos, necessidades e desejos e avançar no seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva; Conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e valorizando a diversidade (BRASIL, 1998a, p. 63, v. 1). Dentre os direitos promulgados pela Legislação e Constituição, destaca-se também para a efetivação de qualidade na Educação Infantil, a preparação de funcionários, para o atendimento às crianças. Todavia nesses documentos, não há especificidade de gênero para atender as necessidades das crianças, mas apenas preparo profissional, uma vez que a Educação Infantil passa a ser vista como a primeira etapa da Educação Básica. (BRASIL, 1998). O trabalho docente na Educação Infantil desde sua origem esteve ligado ao gênero feminino, isso porque segundo Souza (2010), embora essa primeira etapa da Educação 10 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq Básica tenha diversas origens, nas várias propostas o cuidar e o educar se relacionavam à maternidade e ao âmbito doméstico, características consideradas femininas. Além disso, no início da história da Educação Infantil, consolidando-se socialmente a profissão de professora como feminina, amparada em uma concepção, que tinha como pressuposto a escola como extensão do lar e continuidade da maternidade para atuar em Educação Infantil. Como afirma Carvalho (1998, p. 5): Predomina uma visão maternal e feminina na docência no curso primário, colocando em relevo os aspectos formadores, relacionais, psicológicos, intuitivos e emocionais da profissão, frente aqueles aspectos socialmente identificados com a masculinidade, tais como a racionalidade, a impessoalidade, o profissionalismo, a técnica e o conhecimento cientificam. Sendo assim, dentre as várias transformações que a Educação Infantil sofreu e sofre, vale ressaltar que um dos avanços desejados é de que homens possa ser um personagem igualitário no tocante à docência feminina. Embora as mulheres tenham uma vantagem na história da Educação Infantil, sendo ela tida como o único ser capaz de educar, paradigmas tem se levantado de maneira positiva a essa vertente, de maneira que o gênero masculino, têm se mostrado como um forte contribuinte à Educação Infantil como papel de educador. 2 A perspectiva dos gêneros na Educação Infantil O presente texto tem como objetivo apresentar uma síntese no tocante as relações de gêneros na Educação Infantil. Partindo do pressuposto de que não só na Educação Infantil, mas na historia da humanidade, a sociedade sempre se dispôs a impor papéis para homens e mulheres, veremos através de alguns autores, a perspectiva que se tem em relação aos gêneros feminino e masculino, e os papéis que são estipulados pela sociedade para ambos na Educação Infantil. 2.1 Gêneros e sua Terminologia Para compreender a separação de papeis e tarefas destinadas aos gêneros feminino e masculino, é preciso compreender o que se entende por gênero. O termo “Gênero” tem significação polissêmica, podendo ser utilizado para diversas atribuições em diferentes campos do conhecimento, o que permite interpretá-lo como conceito e categoria de análise. 11 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq Para Scott (1995), ele descreve que a o emprego terminológico de gênero é muito recente, no que se refere às diferentes formas de pensar a organização entre os sexos. Nesse sentido, gênero é um conceito originário das Ciências Sociais que surgiu nos anos 60/70, relacionado a uma construção social do sexo. Assim, o termo gênero significa a “distinção entre atributos culturais alocados a cada um dos sexos e à dimensão biológica dos seres” (SCOTT, 1995, p. 86). Segundo Felipe: O conceito de gênero está relacionado fundamentalmente aos significados que são atribuídos a ambos os sexos em diferentes sociedades. Homens e mulheres, meninos e meninas constituem-se mergulhados nas instâncias sociais em um processo de caráter dinâmico e contínuo. Questões como sexualidade, geração, classe, raça, etnia, religião também estão imbricadas na construção das relações de gênero. (FELIPE, 2004, p. 33) O questionamento da diferença entre homens e mulheres não é fixado na questão biológica, mas sim numa questão social e cultural. Porém, não significa que as características biológicas do sexo sejam negadas, pois a valorização e a desvalorização do ser humano com base na diferença sexual são socialmente constituídas, também em relação a essas diferenças biológicas. Para Meyer: O conceito de gênero enfatiza a pluralidade e conflitualidade dos processos pelos quais a cultura constrói e distingue corpos e sujeitos femininos e masculinos, tornasse necessário admitir que isso se expressa pela articulação de gênero com outras “marcas” sociais, tais como classe, raça, etnia, sexualidade, geração, religião, nacionalidade. É necessário admitir também que cada uma dessas articulações produz modificações importantes nas formas pelas quais as feminilidades ou as masculinidades são, ou podem, ser, vividas e experiências por grupos diversos, dentro dos mesmos grupos ou ainda, pelos mesmos indivíduos, em diferentes momentos de sua vida. (MEYER, 2005, p. 17). Como vivemos em diferentes culturas, lugares, níveis sociais, pode se perceber que esses fatores influenciam e agem como determinantes na maneira de viver a masculinidade e a feminilidade. Partindo desse pressuposto, Louro afirma que: Ao afirmar que o gênero institui a identidade do sujeito (assim como a etnia, a classe, ou a nacionalidade, por exemplo) pretende-se referir, portanto, a algo que transcende o mero desempenho de papéis, a ideia é perceber o gênero fazendo parte do sujeito, constituindo-o. (LOURO, 1997, p. 25) Todas essas mudanças e estruturas vão se construindo ao longo da vida em determinados momentos históricos, em uma determinada sociedade, em diversos grupos, 12 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq tais com: raciais, religiosos, de classe, gêneros entre outros. Sendo assim, existem concepções de gêneros que não abordam diferenças simplesmente como distinções biológicas entre homens e mulheres, mas que percebem tais diferenças como construção social. Nesse sentido, Mayer afirma: O conceito de gênero propõe um afastamento de análises que repousam sobre uma ideia reduzida de papéis, funções de mulher e de homem, para aproximarnos de uma abordagem muito mais ampla que considera que as instituições sociais, os símbolos, as normas, os conhecimentos, as leis, as doutrinas e as políticas de uma sociedade são constituídas e atravessadas por representações e pressupostos de feminino e de masculino ao mesmo tempo em que estão centralmente implicadas com sua produção, manutenção ou ressignificação. (MEYER, 2005, p. 18) Portanto, vale ressaltar que há uma necessidade de perceber o gênero não como uma simples forma de perceber atitudes para mulheres e homens, mas sim de examinar como é vista essa diferença, imposta e constituída pela sociedade, deixando de ver o que homens e mulheres fazem ou como se constituem como homens e mulheres e passar a considerar o gênero em si como fator operante, que estrutura e determina socialmente a masculinidade e a feminilidade dos seres humanos, e que acima de tudo, opera na constituição de ideologias e políticas, normatizando a vida em sociedade. Felipe afirma que: O conceito de gênero se contrapõe à ideia de uma essência (masculina ou feminina) natural, universal e imutável, enfatizando os processos de construção ou formação histórica, linguística e socialmente determinada. A constituição de cada pessoa deve ser pensada como um processo que se desenvolve ao longo de toda a vida em diferentes espaços e tempos. Desta forma, o conceito de gênero trouxe a possibilidade de colocar em discussão as relações de poder que se estabelecem entre homens e mulheres, posicionando os como desiguais em suas possíveis e múltiplas diferenças. (FELIPE, 2004, p. 33) A construção de gênero, considerada como uma construção histórico-cultural assume uma face muito mais complexa do que é vista nas relações entre as pessoas. Nessa perspectiva, Furlan e Santos afirmam que: [...] não é propriamente a diferença sexual – de homens e mulheres – que delimita as questões de gênero, e sim as maneiras como ela é representada na cultura através do modo de falar, pensar ou agir sobre o assunto. (FURLAN e SANTOS, 2010, p.1) Sendo assim, a relação entre os gêneros tem em sua concepção além da sexualidade homem e mulher, papéis diferenciados e estipulados, o que fortalece a ideia de que dentre esses papéis, homens não devem exercer a atividade de educador na Educação 13 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq Infantil. 2.2 Gêneros e os papéis desempenhados na Educação Infantil Partindo do pressuposto da observação das relações de gênero que ocorrem no espaço escolar, e como essas são centrais na construção da identidade das crianças, e também como é primordial a participação do pedagogo (a), na construção das significações do que é ser homem e mulher, este recorte tem como propósito expor os papéis que são impostos para os gêneros feminino e masculino, na docência na Educação Infantil. As diferentes representações relacionadas aos papeis profissionais concernente ao gênero, são veiculados pelo tecido social envolvente, traduzindo-se em preferências por colocações e ocupações que oferecem diversas responsabilidades de nível instrumental e expressivo, tornando-as respectivamente masculinas e femininas. Existem profissões que ao longo do tempo ganharam características de um determinado gênero. Podemos citar, por exemplo, a de professor (a) que foi criada de homens para homens e as mulheres não tinham direito a escolarização, pois desde o inicio da colonização até o Brasil Império, a sociedade da época as via como cuidadoras do lar, dos filhos e do marido, não necessitando investir em conhecimento. Entretanto, apesar das influencias socioculturais transmitirem uma orientação negativa concernente à figura masculina nos primeiros níveis de ensino, a presença masculina começa ser relevante na Educação Infantil à medida que paradigmas vão sendo quebrados, no tocante aos papeis desempenhados pelo gênero masculino. Muitos desses paradigmas expressam-se pela feminização da docência na Educação Infantil. Por muito tempo se permaneceu engessada a ideia de que cuidar e educar era uma tarefa terminantemente feminina, nisso, o magistério foi ao longo dos anos tornando-se feminino em decorrência de vários fatos históricos e culturais, a ideia de que a mulher está mais preparada para atuar com crianças pequenas está relacionada ao fato da maternidade. A despeito dessa afirmativa, Carvalho esclarece: A existência de uma matriz cultural comum informando os ideais de relação mãe-filho na família e professora-aluno na escola, uma matriz estruturada a partir das prescrições de cuidado infantil e ideais de maternidade como atributo natural das mulheres, cujas raízes mais profundas podem ser encontradas no 14 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq pensamento pedagógico do século XVIII e nas ideias de infância, feminilidade e maternidade então gestadas. (CARVALHO, 1999, p. 25) A sociedade na qual estamos inseridos costuma pensar que as mulheres devido ao seu instinto maternal exercem mais aptidão para serem educadoras na Educação Infantil do que homens. Assim, fica claro como ainda é compreendido o papel da mulher como cuidadora, carinhosa, paciente, qualidades essas que não contextualizam o universo de significações do gênero masculino. Esses adjetivos remetem a uma visão normativa no tocante ao ser homem e ser mulher, porém não há apenas uma forma de ser homem ou mulher, mas sim diferentes maneiras de viver a feminilidade e a masculinidade. Embora o gênero masculino se contraponha como educador na Educação Infantil, nem sempre essa vertente foi estabelecida. Até o final do século XIX, no Brasil a docência na educação era tida como uma profissão masculina até que aos poucos as mulheres foram tomando espaço como educadoras, segundo Almeida (1998), dois motivos para a inserção da mulher no magistério seria o repudio a coeducação liderado pela Igreja Católica, e pela necessidade de professoras para reger as classes femininas (ALMEIDA, 1998, p. 65). Ainda no âmbito da feminização na docência, o homem foi deixando aos poucos a profissão de educador na Educação Infantil, nesse sentido, é possível identificar além da mulher ser considerada como o estereotipo perfeito como educadora, alguns fatores que contribuíram para esse afastamento. Dentre esses fatores segundo (RABELO, 2010), vale ressaltar os baixos salários, o baixo status social, o paradigma estabelecido pela sociedade de que homens trabalhando na Educação Infantil aumentaria o risco de abuso sexual, a possível homossexualidade associada ao docente masculino (RABELO, 2010 p. 145). Os baixos salários e o baixo status social têm colaborado para o desinteresse e a desmotivação para que o homem não procure a carreira de professor de Educação Infantil. Isso se reflete também no contexto social, em que a figura masculina ainda se encontra e se espera que o homem seja provedor do lar, o que se torna difícil com a remuneração paga a esses trabalhadores. O inicio dessa desvalorização, rende-se ao fato em que as mulheres começam a ocupar esse espaço, como o salário delas não seria a única renda da casa, logo não haveria necessidade de serem bem remuneradas. Partindo desse pressuposto, segundo (RABELO, 2010), a visão da sociedade de que a profissão de professor (a) está relacionada com uma suposta “vocação”, cujo louvor é de ordem espiritual, como uma missão que deve ser cumprida no espaço terreno para que 15 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq seja recompensada nos céus. Sendo assim, caracterizado por uma missão, e não uma profissão a ser valorizada, não exige que sejam bem pagos os profissionais que se disponham a servir nessa área (RABELO, 2010, p. 137). Outro fator apontado anteriormente é o medo do possível abuso sexual se tratando de professores homens na Educação Infantil, tendo em vista que esse profissional é responsável também pelo cuidado corporal relacionado às crianças. Segundo Jensen, As pessoas que se opõem a ideia do professor na Educação Infantil, o fazem sob a alegação de que o risco de abuso sexual aumentaria e que homossexuais masculinos em particular seriam atraídos para a profissão. Isto coloca ênfase na sexualidade masculina enquanto a sexualidade feminina nunca é levada em consideração. (JENSEN, 1993, p. 92) Em uma pesquisa realizada por Ramos e Xavier (2010), apresenta que há certo desdém dos demais colegas e da comunidade escolar quando um homem professor de Educação Infantil atua na área. Muitas vezes a sexualidade desse profissional é colocada em questão, e associada à homossexualidade, tendo em vista que o campo da Educação Infantil não seja um ambiente apropriado para a docência masculina, pois é uma atividade que abarca tanto o cuidar como o educar, tarefas essas desempenhadas pelo gênero feminino. Partindo desse pressuposto, como a Educação Infantil é vista ainda como uma extensão da maternidade, e essa função acarretam cuidados pessoais das crianças, tais como troca, banho, um homem ocupando essa função acarretaria muitos conflitos, duvidas questionamentos, estigmas e preconceitos (SAYÃO, 2005, p. 16). Essa autora ainda aponta que “é indubitável a crença disseminada de um homem sexuado, ativo, perverso e que deve ficar distante do corpo das crianças. Em contrapartida, há formas explícitas de conceber as mulheres como assexuadas e puras e, portanto, ideais para este tipo de trabalho”. Ainda persiste o pensamento de que a sexualidade pertence apenas ao mundo masculino, definindo a mulher como assexuada. SAYÃO ainda afirma que o “que “capacita” as mulheres a tocarem nos corpos das crianças e gera a desconfiança quanto ao abuso dos homens é que as primeiras controlariam sua sexualidade, enquanto os homens seriam incontroláveis” (SAYÃO, 2005, p. 189). Numa pesquisa feita pela mesma autora, persiste a ideia de que muitos entraves são impostos aos homens, concernente a troca de fraldas, ao banho, e ao contato corporal dos alunos. Um dos entrevistados da autora afirma que em diversas vezes foi questionado tanto pelos pais como pelas colegas de profissão como seria se tivesse que dar banho em 16 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq uma criança, respondendo a pergunta, ele diz que faria essa tarefa como faz em seus filhos e em crianças mais próximas afetivamente (SAYÃO, 2005, p. 191). Sendo assim, a representação social dessa profissão em relação à figura masculina é ainda negativa, identificando-se em situações de diferenciação tangentes em seus locais de trabalho, e na sociedade em geral, tendo o risco de serem acusados de desvio sexual e ou até mesmo de falhas no seu suposto papel masculino. Badinter afirma que: Ao retirar aos homens o conforto de modelos sexuais diferenciados, as nossas sociedades tornam-lhes ainda mais difícil a aquisição do sentimento de identidade. À falta de se sentirem suficientemente ancorados no seu próprio sexo, os homens receiam que a realização de tarefas tradicionalmente femininas desperte neles pulsões homossexuais. (BADINTER, 1986, p. 283) Devido à sexualidade masculina ser colocada em xeque, o exercício profissional do educador pode se tornar desagradável numa atmosfera de desconfiança, criando situações de desigualdade e ou discriminação perante o gênero feminino, no qual estas questões são vistas com desdém. Assim, essas identidades que acabam se dissertando nos professores homens que atuam na Educação Infantil, representam um pouco do que esses profissionais sofrem de suas colegas, dos pais e da sociedade. Dessa forma, percebe-se que mesmo com todas as dificuldades enfrentada pelos professores homens na Educação Infantil, muitos desses têm enfrentado os preconceitos e paradigmas estabelecidos pela sociedade, e prosseguem na carreira quebrando o feminismo imposto nessa profissão. 3 pesquisa de campo 3.1 Histórico das escolas A pesquisa de campo foi realizada em três escolas de ensino privado em São Paulo. A primeira escola é a Escola Viva, localizada na Vila Olímpia - São Paulo, essa instituição existe há 40 anos, e segue uma proposta construtivista. A equipe de trabalho da escola conta com uma diretora, uma gestora pedagógica, uma coordenadora, duas professoras de apoio, e sete professores de Educação Infantil, sendo dois desses professores homens. A segunda instituição é a Escola Red Balloon localizada em Santana de Parnaíba, São Paulo; essa escola possui cerca de três professores homens, sendo apenas um de Educação Infantil, além disso, a equipe da escola é formada por um diretor, duas 17 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq coordenadoras pedagógicas e sete professores. E a terceira e ultima é Maria Montessori localizada no Jabaquara, São Paulo, essa escola também segue uma proposta construtivista, possui em sua equipe uma diretora, três coordenadoras pedagógicas e doze professores de Educação Infantil, sendo que apenas um é homem. 3.2 O homem como professor de Educação Infantil Partindo de uma reflexão sobre a participação de profissionais homens que atuam na Educação Infantil e analisando a perspectiva de gênero na organização nessa modalidade de ensino, Lopes (2000) aponta que não é por acaso que essa categoria profissional é formada basicamente por profissionais do sexo feminino. Entretanto, este capítulo propõe a análise da inserção do professor de Educação Infantil na perspectiva das relações de gênero, analisando os fatores sociais e culturais que envolvem a inserção e o trabalho do professor na Educação Infantil, para assim compreender a exclusão e a discriminação que envolve este profissional em sala de aula com crianças de zero a cinco anos. A proposta inicial para essa pesquisa era recolher dados de professores de Educação Infantil nas escolas municipais existentes nos municípios de Santana de Parnaíba, Barueri, Itapevi e Jandira. Porém, não foi possível recolher esses dados junto às secretarias de Educação dos municípios citados devido à negação de informações que teriam de ser disponibilizadas por estes órgãos municipais. Sendo assim, buscou-se uma nova alternativa, e foi possível realizar a pesquisa com professores de Educação Infantil de outros municípios em escolas particulares dentro do Estado de São Paulo. 3.3 Coleta de dados Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas com três professores pedagogos especificamente da área da Educação Infantil. O instrumento utilizado para a pesquisa foi um questionário semiestruturado organizado sobre os seguintes eixos: 1) Dados de identificação, procurando caracterizar os sujeitos, sua formação e tempo de trabalho; 2) A escolha pela profissão, os obstáculos encontrados, a discriminação de gêneros pela sociedade, escola e família para exercer a profissão e; 3) O contexto do 18 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq trabalho dos professores e a relação sobre o cuidar e o educar na Educação Infantil e; 4) A opinião desses profissionais referente a causa da ausência de professores homens na Educação Infantil e por ultimo a opinião desses professores referente a sua colaboração docente na quebra de paradigmas estabelecidos contra a docência masculina. Para a realização dessa pesquisa, foram entrevistados três professores de Educação Infantil, todos com graduação em Pedagogia, um dos professores além de Pedagogia, é graduado também em Psicologia, e outro com especialidade em Língua Inglesa, todos os três residentes na cidade de São Paulo. 3.4 Análise de dados 3.4.1 Luiz Alberto Duarte Camacho, um valente na docência masculina O primeiro professor entrevistado foi o pedagogo Luiz Alberto Duarte Camacho. Muito responsivo, ele não hesitou em responder ao questionário de pesquisa. Luiz disse que já havia dado uma entrevista para uma revista a despeito da docência masculina na Educação Infantil, um tema segundo ele pertinente, que deve ser visto com respeito e interesse pela sociedade, pelos pais e pela escola. Luiz Alberto Duarte Camacho tem 39 anos, é casado pai de três filhos, formado inicialmente em psicologia e logo após formou-se também em Pedagogia. Trabalha na escola de ensino privado de Educação Infantil Escola Viva situada na rua Prof. Vahia de Abreu, 664 - Vila Olímpia – São Paulo, Luiz trabalha nessa escola há 16 anos, sendo deles, 14 na Educação Infantil. Professor Luiz Alberto formou-se em pedagogia aos 32 anos, embora formado em psicologia, não conseguia manter a ideia de se manter em um consultório de atendimento psicológico, a respeito de sua opção por pedagogia, Luiz diz: “Sou psicólogo e quando terminei a faculdade, a perspectiva de ficar confinado em um consultório me dava certa aflição”. Desde os 23 anos Luiz trabalha na área da Educação Infantil, na Escola Viva, instituição essa que lhe abriu as portas ainda sem a formação em pedagogia, durante os três primeiros anos, ele foi o único docente homem na instituição. Para Luiz, o que o motivou a seguir a profissão de educador foi sempre gostar de crianças, e formado em psicologia, despertou o interesse em ajudar as crianças referentes 19 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq às dificuldades de aprendizagem. Ao entrar na escola, todos os professores teriam de passar pela Educação Infantil, e, ao passar por essa fase, Luiz sentiu-se desafiado a trabalhar com essas crianças, e desenvolver seus projetos para auxiliar os pequenos nos processos de ensino e aprendizagem. Quando foi perguntado ao professor Luiz a respeito dos desafios encontrados na escola para exercer a função de educador, Luiz relata que embora a escola onde trabalhe siga uma proposta construtivista, quando iniciou na escola, como professor auxiliar, a coordenadora pedagógica o orientou a não ter problemas com os pais, e de inicio manter-se distante dos cuidados corporais das crianças. Aos poucos a confiança e o bom trabalho foram dando lugar ao medo, e tanto a coordenação como o restante do corpo docente da escola passaram a ter Luiz como um grande colaborador no crescimento educacional dos alunos. Já o relacionamento com os pais e as mães, houve algumas relutas, pois os pais de crianças menores tinham certo receio de que seus filhos fossem cuidados por Luiz. Quando cheguei à escola, havia um professor que estava de saída, e embora os pais já de certa forma estivessem habituados com a presença de um professor do sexo masculino, ao entrar outro professor houve um estranhamento da parte dos pais, demorou um pouco até eu conquistar a confiança deles. (PROF. LUIZ ALBERTO) Segundo Luiz, ele não encontrou obstáculo referente a pratica pedagógica, porém se tratando dos cuidados corporais, havia certas objeções dos pais, certa vez, Luiz diz ter sido questionado por um pai dizendo: “é você quem vai trocar meu filho?”, o pai disse isso sem ar arrogante, porém surpreso por ser ele quem trocaria o filho. Hoje, Luiz conquistou a confiança dos pais, não apenas pelo trabalho desempenhado por ele, mas segundo ele, isso se deve também ao apoio que a escola deu ao seu trabalho e a sua postura profissional diante dos pais, inclusive o igualando as suas colegas de profissão. No tocante a pratica do cuidar e do educar, o professor Luiz afirma que cuidar de crianças vai além de práticas assistencialistas, segundo ele como educador do gênero masculino, sua contribuição é atribuída principalmente à quebra de paradigmas, do seu ponto de vista, homens e mulheres tem a mesma capacidade de ser educador. Embora os pais e a sociedade vejam os professores homens como uma ameaça aos pequenos, professores homens podem e contribuem muito na educação da criança, pois um lar não é feito apenas da figura materna, o docente masculino torna através do cuidado e da convivência, a escola como verdadeiramente uma extensão completa do lar. 20 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq Para muitos não seria normal um homem trocar fraldas, alimentar, dar banho ou colocar para dormir, porém, faço essas atividades com muita naturalidade, e quando questionado pelos pais ou até mesmo pelas colegas de trabalho, digo a eles que assim como um pai biológico participa do crescimento de seus filhos, eu também como professor participo, cuido e ensino. (PROFESSOR LUIZ ALBERTO) Todavia, a profissão de educador do gênero masculino não é só flores ou baseada em ideologias, quando foi perguntado ao professor Luiz sobre qual seria a causa de haver poucos professores homens na Educação Infantil, o pedagogo afirma que uma das causas seriam os baixos salários pagos para essa profissão, como ainda o homem é visto como provedor do lar, segundo Luiz, é impossível um pai de família sustentar sua casa trabalhando apenas como professor. Essa não seria a única causa, Luiz afirma que o preconceito referente à masculinidade afasta homens dessa profissão. Por diversas vezes fui questionado em relação a minha opção sexual, e o fato de ser casado ser pai de três filhos, não me isentaram de comentários maldosos, porém nunca deixei que esses comentários me fizessem desistir dessa profissão. (PROFESSOR LUIZ ALBERTO) Em nossa última questão, referente como pode ser quebrado os paradigmas estabelecidos em relação à docência masculina, o professor Luiz Alberto alega que: Muitos são os desafios que enfrentamos e enfrentaremos até a docência masculina ser vista como algo natural, eu acredito que os paradigmas começarão a ser quebrados a partir do momento em que a sociedade deixar de estipular papéis para homens e mulheres, embora a questão de gêneros na ciência esteja bem definido, na pratica social isso ainda esta um pouco longe de acontecer. A escola pode ser uma grande colaboradora nessa quebra de tabus, a escola deve nortear mudanças sociais, e ser apoiadora de novas mudanças que contribuem para a igualdade. (PROFESSOR LUIZ ALBERTO) Segundo o pedagogo, os desafios são muitos, porém com o passar dos anos houve uma melhora significativa referente à docência masculina. Para ele, o importante é que a escola, os novos professores homens, as professoras, trabalhem em prol de um único objetivo, serem colaboradores na educação de seus alunos, ensinando-os a respeitar as diversidades, o outro e incentivar a igualdade. 3.4.2 Professor Rafael Carvalho, um acaso que se tornou vocação O segundo professor entrevistado foi o professor Rafael Carvalho, educador de Educação Infantil na Escola Red Balloon Educação Infantil Bilíngue situada na rua: Alameda Dali, 85, Santana de Parnaíba - SP. Rafael prontificou-se em responder ao 21 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq questionário sem hesitação, achou o tema do trabalho muito pertinente e sentiu-se esperançoso concernente a mudanças no tocante a docência masculina. Rafael Carvalho tem 28 anos é solteiro, inicialmente teve licenciatura em Letras na PUC – SP em 2009, e atualmente está cursando Pedagogia pela mesma Faculdade. Embora Rafael tenha cursado letras por gostar de ler e escrever e especializou-se em língua Inglesa, sua grande paixão tornou-se a pedagogia. Rafael iniciou por acaso em 2009 numa escola que tinha acabado de se tornar bilíngue iniciou como auxiliar de classe dos alunos de ensino fundamental, 1° e 2° ano, a principio ele auxiliava uma professora e participava apenas nas atividades lúdicas. A despeito dessa experiência, Rafael afirma: A experiência de participar do letramento foi muito boa, apesar de uma das professoras ter se referido a mim como "mais uma criança para cuidar". Isso aconteceu porque eu participava do playground e brincava de jogar os alunos para cima, de pendurar. Agora entendo esse comentário: eu tinha mesmo vários aspectos a lapidar e outra professora me deu várias dicas, para não brincar de alguns modos que pudessem machucar as crianças. (PROFESSOR RAFAEL CARVALHO) Logo após essa escola, em 2010, Rafael ingressou na Red Balloon onde está até o momento; iniciou como assistente de sala, e hoje tem uma turma com sete alunos de dois anos e meio, junto com uma professora assistente. Fora ele, na escola, existem ainda mais dois professores homens, um é especialista em Educação Física e o outro, em música. Depois da experiência em sala de aula com crianças menores, Rafael decidiu cursar pedagogia, se especializar no cuidar e educar crianças menores. A respeito de sua formação Rafael diz que: Eu comecei por acaso. Cursei licenciatura em letras na PUC-SP porque gostava de escrever e ler. Tenho vontade de fazer psicologia e hoje curso pedagogia, porque é minha área atual. Na prática aprendi muito, e quando me perguntam como eu consigo dar aulas em inglês para crianças de 2 anos e meio, eu não sei responder. Talvez seja porque tem pouca gente fazendo isso e acho que, se mais pessoas fizessem, elas também iriam gostar. Já tentei jogar futebol profissionalmente, fui monitor de acampamento, vendedor de loja, telemarketing e agora estou aqui aprendendo a ser professor, estou me construindo. (PROFESSOR RAFAEL CARVALHO) Rafael está trabalhando na área desde 2009, porém na Educação Infantil trabalha desde 2010. Como afirmado pelo professor, ele iniciou por acaso, embora especializado na língua inglesa, descobriu nos pequenos a paixão por ensinar além do idioma. Sua motivação para a profissão foi sempre gostar de crianças, além disso, Rafael sempre gostou de ensinar, e sempre se achou hábil para o ensino. 22 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq Ao ser perguntado em relação aos obstáculos que enfrentou ou enfrenta na escola, Rafael afirma que embora sendo um dos três professores homens eu existem na escola, não encontrou por parte da coordenação objeção para trabalhar, porém houve dificuldade de aceitação de algumas colegas de trabalho. A despeito disso Rafael afirma: Muitas professoras ficavam me perguntando se era mesmo isso que eu queria fazer, que eu não tinha habilidade para trabalhos manuais, muita até mesmo se sentiam ameaçadas com a minha presença, porém com o passar do tempo fui conquistando o respeito e a confiança delas. (PROFESSOR RAFAEL CARVALHO) Em relação às dificuldades enfrentadas com os pais, Rafael diz que não encontrou nenhuma objeção ao seu trabalho, porem os pais sempre estavam e são até hoje muito presentes se tratando dele como professor. “Nenhum pai se opôs ao meu trabalho, porém consigo perceber neles pontos de interrogação dizendo: o que você faz aqui”? (Professor Rafael Carvalho). No relacionamento entre o cuidar e educar, Rafael sente-se muito realizado, para ele o coração da Educação Infantil se estabelece nessa relação. Tarefas como troca, alimentação, ajudar a ir ao banheiro são ricas oportunidades para ensinar, assim como ensinar a se vestir, amarrar o cadarço, o vocabulário que é desenvolvido nessa fase. Rafael, não separa o educar do cuidar, e na sua perspectiva, sua colaboração como docente do gênero masculino se resume em incentivar a autonomia das crianças, o bom relacionamento que tem com elas faz gerar uma confiança, que elas acabam se desprendendo. Muitos de meus alunos de dois anos e meio já conseguem ir ao banheiro sozinho, sempre os motivo a ir sozinhos, percebo que com minhas colegas isso é mais difícil de acontecer, acho que elas seguram demais as crianças, tem medo dela se machucarem, mais eu tento ao máximo fazer com que meus alunos acreditem em si mesmos, e que são capazes sim de fazer as atividades sozinhas. (PROFESSOR RAFAEL CARVALHO) Concernente à opinião em relação à pequena quantidade de professores homens na Educação Infantil, o professor alega que além dos baixos salários, muitos homens veem essa profissão como sendo algo inferior, justamente por ela ser vista como uma profissão feminina, sendo vista como uma extensão da maternidade. Em relação à ausência masculina na Educação Infantil Rafael diz: Talvez esse tipo de serviço afaste um pouco os homens, porque temos uma exposição social diferente e a expectativa da família em relação a nós. Às vezes penso em fazer outra coisa para ganhar dinheiro e, no minuto seguinte, volto atrás. Não sei se me vejo dando aulas até os 40 anos, mas, hoje, aos 28, eu gosto do meu trabalho. (PROFESSOR RAFAEL CARVALHO) 23 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq Em nossa última questão relacionada à opinião de Rafael no tocante à quebra de paradigmas na docência na Educação Infantil, o professor compreende que ainda há muitos obstáculos a serem rompidos, mais o que ele considera primordial, seria a mudança da visão masculina em relação a essa profissão. Rafael afirma que: Já foram vencidos muitos obstáculos nessa profissão, porém eu acho que os homens no geral deveriam ver a docência masculina na Educação Infantil como uma profissão digna, honrosa, assim como medicina, direito, engenharia, afinal estamos trabalhando com o futuro do nosso país, somos formadores de opinião. Se mudarmos a nossa opinião em relação aos valores dessa profissão, acredito que toda a sociedade mudará. (PROFESSOR RAFAEL CARVALHO) 3.4.3 Valdson Tolentino Filho, um apaixonado pela profissão O terceiro e último professor entrevistado foi o professor Valdson Tolentino Filho, que trabalha no colégio Maria Montessori situada - Av. Gen. Valdomiro de Lima, 288, Jabaquara - São Paulo. O Professor Valdson tem 33 anos é solteiro e tem dois filhos. É formado em Letras/Inglês – Especialização em Educação Infantil, e assim como os outros dois professores, respondeu prontamente ao questionário, inclusive achou o tema interessante, ressaltando que em sua defesa de mestrado falará sobre a feminização da docência e a ausência do gênero masculino na Educação Infantil. Valdson formado em Letras desde 2007, em 2009 especializou-se em Educação Infantil, trabalha na área ha de 16 anos. Motivado pelo gostar de crianças, e por ver os resultados do processo educacional, esse professor decidiu seguir essa honrosa profissão. Valdson afirma que “gostar de crianças e ver os resultados desse processo educacional” foi sua motivação. Professor Valdson Tolentino. Relacionado aos obstáculos que encontrou ou encontra na escola para exercer a docência, Valdson alega que não teve nenhum problema, sempre com livre acesso para trabalhar na escola, foi muito bem recebido pelos alunos e pelos colegas de profissão. Valdson diz: “Na escola não encontrei nenhum [obstáculo]. Sempre tive toda liberdade para trabalhar e muita aceitação por parte das crianças. Todos têm muito carinho por mim e muita receptividade” (Professor Valdson). O Professor trabalha numa escola construtivista, o que talvez faça com que a docência masculina na Educação Infantil tenha uma melhor aceitação, tanto por parte da escola quanto por parte dos pais. Quanto aos obstáculos enfrentados pelos pais, Valdson 24 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq alega que: Hoje estou na função de coordenador pedagógico. No início da minha carreira sentia estranheza por parte dos pais por um homem ser o professor da turma (minha primeira classe foi o maternal). Porém, nunca tive nenhum tipo de problema ou de pais que se opuseram, embora eu perceba que há quem não concorde de um homem ser o professor de uma classe de Educação Infantil. (PROFESSOR VALDSON) Em relação ao cuidar e o educar, algo tão essencial e significativo na Educação Infantil, o papel do educador é muito importante e para Valdson não é diferente; segundo ele, sua contribuição nessa relação resume-se na afetividade que há entre professor e aluno, sendo professor do gênero masculino, a relação com seus alunos, a autoridade, segurança, que ele passa é a de um pai, segundo Valdson: “Percebo, em grande número, que as crianças têm em mim muita confiança e respeito. Para muitas, sou a voz masculina que ela não tem em casa”. Partindo da penúltima questão referente à causa de haver poucos professores homens de Educação Infantil, o professor expressa sua opinião dizendo: Pelo preconceito, por acharem que na Educação Infantil deve ser a mulher a professora pelo fato do lado maternal, do cuidar. Muitos se esquecem do processo educativo que pode, sim, ser conduzido por ambos os sexos. Outro ponto que favorece o afastamento de homens na Educação Infantil é o de que muitos não querem trabalhar com esta modalidade por medo de isso arranhar sua sexualidade. Alguns educadores acreditam que só trabalham nessa fase homossexuais ou pessoas afeminadas, o que se revela uma grande tolice. (PROFESSOR VALDSON) Em resposta à última pergunta, no tocante à sua opinião de como poderiam quebrar os paradigmas estabelecidos na sociedade, concernentes à presença do homem como professor de Educação Infantil, o professor Valdson afirma que a mudança deve partir dos próprios profissionais de Educação Infantil, são eles que devem valorizar seu papel de educador: “Mostrar que todo e qualquer processo educativo pode ser feito por quem quer que seja. O que deve ser levado em conta é a formação, capacidade e perfil para esta modalidade de ensino” (Professor Valdson). Sendo assim, não se devem ter restrições os gêneros no que se refere à docência na Educação Infantil, o que deve ser avaliado são a formação e preparação desse profissional para responder aos quesitos dessa modalidade. Considerações finais De acordo com a definição das relações de gênero, percebe-se que há uma variável estabelecida nas representações referentes aos papéis desempenhados pelos 25 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq profissionais na modalidade de Educação Infantil. Embora a definição dada para gênero signifique, dentre várias, a “distinção entre atributos culturais alocados a cada um dos sexos e à dimensão biológica dos seres” (Scott, 1995), para muitos, gênero significa a separação de competências e habilidades entre o sexo feminino e masculino. A partir dessa definição, segundo alguns autores, e observando-se a realidade de nosso contexto escolar, ficou claro que referente à docência na Educação Infantil, essa modalidade tem como profissional a maioria de mulheres. Analisando os fatos históricos da Educação Infantil, percebe-se que a mulher foi inserida na Educação Infantil como uma extensão da maternidade, excluindo o homem dessa profissão. Embora haja a feminização da docência na Educação Infantil, esse atributo não se refere somente ao fato da mulher ser uma representação fidedigna da maternidade, a revolução industrial, a inserção da mulher no mercado de trabalho, os baixos salários dessa modalidade foram grandes contribuintes para que o homem fosse afastado dessa profissão. Além dos fatores apresentados, uma das questões mais pertinentes foi o preconceito do homem como professor de Educação Infantil. A sociedade prega que o homem é um ser forte, provedor do lar e se estiver lecionando em Educação Infantil ou Series Iniciais, a orientação sexual desse professor é questionada, isso faz com que os homens se tornem professores de disciplinas no ensino Fundamental II ou desistam dessa profissão. Com esta pesquisa, pôde-se identificar que durante toda a história da Educação Infantil, a presença do gênero masculino como docente é uma exceção, os próprios educadores não se encontram nesse espaço, incorporam em seu discurso que esse espaço é das mulheres. Verificou-se que existe preconceito por parte da família, das colegas de trabalho e da sociedade que acham que homens não podem exercer a docência na Educação Infantil. Na pesquisa de campo, percebeu-se que professores homens são a minoria, e que os poucos que existem sofrem vários preconceitos e questionamento por terem decidido por essa profissão. A permanência desses profissionais na docência deve-se à sua vocação e paixão pelo que fazem. Os professores entrevistados nesta pesquisa, embora bem estabelecidos profissionalmente, não ficaram aquém das dificuldades de exercer essa atividade. Ainda está longe para desconstruírem-se os preconceitos; mas para que isso ocorra, desde cedo a criança deve ter contato com a diversidade de gêneros para contribuir 26 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq na construção de personalidades e aprender a respeitar o diferente que circula na sociedade atual. Retornando às hipóteses apresentadas no início desta pesquisa, percebeu-se que todas as três hipóteses apontadas foram confirmadas. Infelizmente em nossa sociedade, e também com as colegas de profissão, o educador do gênero masculino sofre o preconceito e o desdém em relação a essa profissão. Partindo dos dados abordados pelos professores entrevistados, pudemos presenciar que ainda hoje a sociedade impõe papéis para homens e mulheres exercerem: o homem, por exemplo, ainda é visto como uma figura viril, forte, robusta, intacto a emoções e sentimentos, o que acaba contribuindo à baixa procura do gênero masculino para a profissão de educador infantil. Além dos papéis impostos pela sociedade, o professor homem de Educação Infantil sofre o preconceito da sociedade e até mesmo das próprias colegas de trabalho. Constatou-se que por exercer essa profissão, muitos dos professores homens são questionados no tocante à sua opção sexual, e até mesmo sendo acusados de pedofilia. Infelizmente, a sociedade, em geral, vê o homem como um ser que não controla seus impulsos e paixões sexuais, e pelo fato de que na Educação Infantil, há muito contato físico do professor com o aluno, devido aos cuidados assistenciais, para muitos, o gênero masculino não responde piamente ao papel que essa profissão exige. A despeito da última hipótese, concernente às competências e habilidades para exercer a profissão de educador, constatou-se que os professores homens enfrentaram muitos desafios, inclusive, um desses professores entrevistados (professor Rafael) nos disse que, no início, ele sentiu muita dificuldade para exercer tarefas como recorte, montagem de painéis, etc. Porém foi aos poucos se familiarizando com a tesoura e outros materiais usados na Educação Infantil. Entretanto, Rafael alegou que colegas (mulheres) o questionavam dizendo como conseguia fazer esses materiais, sendo que ele era homem. Assim, verificou-se que, infelizmente, a escola e as colegas de profissão duvidam das competências e habilidades de um homem, o definindo como um ser inapto para exercer essa profissão. Para que essa realidade seja mudada, a escola precisa ser a grande porta voz da mudança, do incentivo a igualdade na docência e da valorização da profissão. Entretanto a escola ainda não está preparada para trabalhar com a diversidade de profissionais. Sendo assim, conclui-se que homens e mulheres dividem as mesmas atribuições, e podem exercer 27 E-FACEQ: revista dos discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 4, número 5, maio de 2015. http://www.faceq.edu.br/e-faceq a mesma profissão em qualquer circunstancia, independente de gênero. Entretanto, a profissão de professor sofre os dogmas estabelecidos pela sociedade; infelizmente, a docência na Educação Infantil é vista como uma profissão que não pode ser exercida por ambos os gêneros, independente do preparo profissional e vocação. As mulheres ainda continuam sendo as representantes dessa profissão e se alguém fugir desse padrão ou modelo enfrentará preconceitos e desmotivações no decorrer do caminho. Referências Bibliográficas ALMEIDA, J. S. Mulher e educação: a paixão pelo possível. São Paulo: Edunesp, 1998. BADINTER, Elisabeth. Um é o outro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. __________. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Departamento de Políticas Educacionais. Coordenação Geral de Educação Infantil. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília, 1998. __________. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069, de 13 de junho de 1990. __________. Política nacional de Educação Infantil. Brasília, DF: MEC/SEF/COEDI, 1994 a. __________. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. 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