Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em Gestão Educacional Trabalho de Conclusão de Curso ESTRATÉGIAS PARA A REDUÇÃO DA EVASÃO NO CURSO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS DA POLÍCIA MILITAR DO DF Autor: Daniel Martins Borges Orientadora: MSc. Ana Paula C. e Silva Brasília - DF 2014 DANIEL MARTINS BORGES ESTRATÉGIAS PARA A REDUÇÃO DA EVASÃO NO CURSO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS DA POLÍCIA MILITAR DO DF Trabalho apresentado ao Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão Educacional – SSP/DF da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para titulação de Especialista em Gestão Educacional. Orientador: MSc. Ana Paula Costa e Silva Brasília 2014 FOLHA DE APROVAÇÃO Artigo de autoria de Daniel Martins Borges, intitulado “ESTRATÉGIAS PARA A REDUÇÃO DA EVASÃO NO CURSO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS DA POLÍCIA MILITAR DO DF”, requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Gestão Educacional, entregue em 29/08/2014. BRASÍLIA 2014 RESUMO Referência: Daniel Martins Borges. Estratégias para a redução da evasão no Curso de Operações Especiais da Polícia Militar do DF. Curso de Pós- Graduação Lato Sensu em Gestão Educacional- SSP/DF, UCB. Brasília – DF, 2014. O presente artigo tem como objetivo propor estratégias para a redução do elevado índice de evasão nos cursos de operações especiais da Polícia Militar do Distrito Federal. Inicialmente é desenvolvido um breve histórico do processo de formação policial, desde a criação da capital até o modelo de curso existente, explicando também a estrutura organizacional do complexo de ensino existente na instituição Policial Militar de Brasília. Demonstra por meio de experiências pessoais do autor ao longo das diversas edições dos cursos de operações especiais, que, em contato com egressos do referido curso, pode relacionar as motivações diversas que culminaram na desistência destes ao longo do treinamento. Com isso, o artigo propõe estratégias a serem implantadas em curto, médio e longo prazo com vistas a contribuir para que as atuais estatísticas relacionadas ao crescente índice de evasão e falta de interesse em completar tal especialização sejam diminuídas e até mesmo eliminadas. Por fim, o trabalho sugere considerar os resultados de especializações futuras e assim, compará-los com edições passadas e desta forma analisar os dados apresentados com o objetivo de evidenciar se a implantação das estratégias propostas, ainda que gradativa, se mostrará benéfica para o melhor resultado na formação de novos policiais. Palavras-chave: Evasão, especialização, operações especiais. ABSTRACT Referência: Daniel Martins Borges. Estratégias para a redução da evasão no Curso de Operações Especiais da Polícia Militar do DF. Curso de Pós- Graduação Lato Sensu em Gestão Educacional- SSP/DF, UCB. Brasília – DF, 2014. This article aims to propose strategies to reduce the high dropout rate in the courses Special Operations Military Police of the Federal District. Initially developed is a brief history of police training process, from the creation of capital to the existing model of course, also explaining the organizational structure of the complex of existing education institution in Brasília Military Police. Demonstrates through personal experiences of the author over the course of several editions of special operations, which, in contact with graduates of this course can relate the various motivations that led to the withdrawal of these throughout training. With this, the article proposes strategies to be implemented in the short, medium and long term in order to contribute to the current statistics related to the growing dropout rate and lack of interest in completing this specialization are reduced and even eliminated. Finally, the paper suggests to consider the results of future specializations and thus compare them with past issues and thereby analyze the data presented in order to highlight the implementation of the proposed strategies, albeit gradual, will prove beneficial to the best result in the formation of new officers. Keywords: Avoidance, expertise, special operations SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 7 2. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 10 3. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 11 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 17 5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 22 7 1. INTRODUÇÃO O formato atual da democracia brasileira exige que seus policiais estejam cada vez mais bem preparados para atuar no atendimento à população. Um erro policial, por menor que seja, repercute por vários dias nas redes sociais e na imprensa televisiva e escrita. Com isso, a imagem institucional não se fortalece e aumenta o descrédito diante da população, que acaba por se distanciar da polícia, temendo tais ações indesejadas. Diante das vastas possibilidades de ocorrências com as quais a polícia militar pode se deparar diariamente, torna-se altamente necessário que seus membros estejam totalmente a par dos tipos de ocorrências que irão atender. Para isso, se faz necessário que o efetivo policial esteja continuamente em treinamento ou especialização, para melhor atendimento à sociedade. A polícia militar do Distrito Federal elaborou um plano estratégico com iniciativas a serem implantadas até o ano de 2022. Também foi criada uma nova estrutura organizacional (Decreto nº 31.793, de 11 de junho de 2010) que define novos órgãos setoriais de direção, dentre os quais cabe destacar o Departamento de Educação e Cultura (DEC), cuja missão principal consiste em: “Planejar, coordenar, fiscalizar e controlar as atividades de educação, cultura e pesquisa no âmbito da Corporação, a fim de contribuir para a consecução da Missão da PMDF”. Esse departamento é formado pelas Diretorias de Formação; de Aperfeiçoamento e Extensão; de Especialização e Educação Continuada; de Ensino Assistencial; e Diretoria de Pesquisa e do Patrimônio Histórico e Cultural. Desta composição de ensino, destacamos a Diretoria de Especialização e Educação Continuada, setor dentro da polícia militar incumbido de gerenciar todos os cursos de especialização, tanto no âmbito interno, quanto externo, no caso de cursos realizados em corporações coirmãs ou em qualquer outro órgão nacional ou internacional, contando com as unidades executoras dos cursos com suas Seções de Instruções Especializadas (SIEsp). Neste contexto, foi publicada também uma portaria interna (Portaria PMDF Nº 613, de 21 de julho de 2008, que estabelece as normas reguladoras para o processo de seleção), estabelecendo que o policial não possa frequentar curso, caso tenha realizado curso, treinamento ou estágio com carga horária superior a 120 (cento e vinte) horas aula, no país ou no estrangeiro 8 nos últimos 36 (trinta e seis) meses e nos últimos 12 (doze) meses para cursos, treinamentos ou estágios com carga horária superior a 240 (duzentas e quarenta) horas aula. O propósito da norma em tela foi evitar que sempre as mesmas pessoas, que normalmente possuíam algum tipo de influência e sempre estavam em cursos no Brasil e no exterior, deixando que os demais policiais também tivessem seus conhecimentos renovados, buscando oportunidades iguais para todos. Paradoxalmente, o número de candidatos aos cursos de especialização na polícia militar não tem apresentado grande adesão, observa-se então que apenas um pequeno grupo de policiais procurava por tais especializações antes da referida portaria normatizar tais prazos. Por outro lado, observa-se também que muitos policiais não procuram por especializações pelo fato dos referidos cursos não acrescentarem valor financeiro na remuneração do concludente, exceto aqueles obrigatórios de carreira, que habilitam para promoções que envolvem acréscimo salarial. Diante das dificuldades apresentadas, vários cursos tiveram seus editais cancelados por não atingirem efetivo mínimo para início. Inclusive, a especialização em Gestão Educacional, à qual se relaciona este trabalho de conclusão, teve algumas prorrogações em virtude da falta de candidatos para completar um efetivo mínimo. Nota-se daí que o mesmo motivo enfrentado na polícia militar, quanto às adesões em especializações, também possui justificativas semelhantes na polícia civil e bombeiro militar. Visando o resgate da procura pela especialização, tanto a polícia militar de Brasília, quanto vários órgãos de segurança pública do Brasil, têm buscado preencher este vazio através de capacitações a distância por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP). Assim, aquele profissional que não dispõe de tempo, seja por motivo particular ou motivo institucional, encontra na educação a distância uma forma de ele mesmo fazer adequação do tempo de acordo com suas necessidades. Mais especificamente no âmbito interno da polícia militar, é comum observar que tanto a falta de adesão aos cursos internos, quanto a evasão destes, tem se dado pelo fato do profissional de segurança pública não concordar com os métodos de ensino aplicados, sejam eles por não estarem de acordo com os costumes e cultura do instruendo ou por não estarem de acordo com o que o policial considera um tratamento digno em relação ao que dele é cobrado ao tratar os cidadãos quando em atendimento de ocorrências. 9 Assim, a Diretoria de Especialização e Educação Continuada (DEEC) tem buscado cobrar maior rigor na implementação dos cursos na corporação. Exigindo assim que seja elaborada toda documentação necessária, como nota de instrução, plano de matérias, plano de cursos, etc. É comum observar ainda que neste mesmo contexto, a administração tem procurado normatizar em edital, mais detalhes da especialização proposta, tais como data de início e término e horário de início e término de instrução, bem com o quantitativo total de horas aula, evitando que os policiais que se candidatarem a uma especialização sejam submetidos a situações não condizentes com o que é proposto no plano de matérias e plano de curso, que muitas vezes acaba por ficarem bem além do expediente previsto em edital, gerando então mais aversão ainda aos cursos oferecidos, pois o policial pode associar a especialização a um momento de sofrimento, angústia, dentre outros sentimentos indesejados. O objetivo principal deste artigo é propor estratégias para reduzir o índice de evasão no Curso de Operações Especiais, oferecido pela Polícia Militar do Distrito Federal na modalidade presencial. O trabalho será desenvolvido por meio de pesquisa documental e bibliográfica relacionadas ao Curso de Operações Especiais, no período compreendido entre 2004 e 2013, uma vez que não há facilidade de acesso a relatórios de edições anteriores, que por razões logísticas e tecnológicas não existia o registro por meio digital. O presente artigo se inicia por esta introdução, seguida por uma contextualização geral e histórica sobre o modelo de segurança pública que temos hoje e também uma visão panorâmica sobre a Formação Policial. 10 2. MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa documental será realizada a partir de relatórios elaborados pela SIEsp no período de 2004 a 2013, nos quais também constam os planos de curso e planos de matéria do Curso de Operações Especiais, oferecido na modalidade presencial. A pesquisa bibliográfica contemplará legislações específicas, bem como obras relacionadas aos temas. Para elaboração das propostas de ações com vistas a reduzir os índices de evasão, será considerada a experiência do autor no desempenho de suas funções na SIEsp, bem como as considerações dos próprios policiais que ainda estão no serviço ativo e atuam no grupo de intervenção como operadores especiais e informações contidas na galeria de honra do Batalhão de Operações Especiais, onde constam as placas com os nomes dos formados, em seus respectivos cursos ao longo da história daquela unidade. 11 3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1. Breve Panorama do Processo de Formação Policial no Brasil A formação policial abrange um vasto campo de atuação, que inclui a prevenção de diversos tipos de crimes em variados contextos geográficos. Como exemplo, temos a polícia civil dos estados, que tem por atribuição ser uma polícia administrativa, ou seja, a responsável por realizar os inquéritos criminais e encaminhá-los à justiça. Também com características de polícia administrativa, a polícia federal tem por atribuição atuar nos crimes e em locais de jurisdição federal. No âmbito preventivo, temos a polícia rodoviária federal, assim como o próprio nome sugere, é responsável pelo patrulhamento nas rodovias federais do país. Ainda no quesito da prevenção temos as polícias militares, que é responsável pelo patrulhamento ostensivo e diário, em que normalmente realizam o primeiro atendimento em quase todo tipo de ocorrência, sendo então acionado ou encaminhado para as demais instituições públicas, como corpo de bombeiros, defesa civil, conselhos tutelares, órgãos de transito, entre outros. Dado esse panorama organizacional da segurança pública, verifica-se ao longo do processo de implantação do policiamento na nova capital, que este se iniciou numa época áurea da ditadura militar (golpe militar de 1964), período caracterizado pela supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão a qualquer manifestação contrária ao governo. Desta forma, as polícias atuavam como braço armado do estado, em defesa do regime de exceção, onde o foco se dava em defender a ideologia da “Segurança Nacional” (período compreendido entre 1964 e 1985), caracterizando assim, uma polícia bem mais política que de segurança pública. O paradigma de Segurança Nacional caracterizase então, pela prioridade dada, inicialmente, ao inimigo externo, materializado no combate ao comunismo. Posteriormente, priorizou-se o inimigo interno, correspondente a qualquer indivíduo percebido como contrário à ordem vigente, momento em que houve grande perseguição política, onde vários artistas, políticos, estudantes e alguns escritores se viram obrigados a deixar o Brasil. Em um segundo momento do contexto de policiamento, com a constituição de 1988, ficou conhecido como o paradigma da Segurança Pública. Evidenciando assim, cada vez mais, a ausência das forças armadas no cenário de policiamento e 12 repressão, em que se observa a migração do foco na defesa territorial e dos interesses nacionais para uma nova modalidade de policiamento, onde a perspectiva se dá para o combate aos crimes comuns, a defesa da integridade física das pessoas e do patrimônio. Por último, evidencia o surgimento, por volta da metade da década de 90, do modelo conhecido como o de “Polícia Cidadã”, modalidade na qual predomina a multicausalidade, ou seja, a busca pelo estudo das diversas formas que podem aumentar a criminalidade em uma região. Nesse modelo visa também a interação entre as diversas instituições públicas e até mesmo privadas, além da sociedade civil e demais voluntários que possam interagir com o sistema de segurança como um todo, com o objetivo de contribuir para melhor desempenho dos índices de criminalidade, de inclusão social, acesso a cultura, lazer, esporte, saúde, educação integral, formação profissional e demais fatores de risco. Como exemplo de alinhamento com esta nova modalidade de prevenção à criminalidade, podemos citar o Programa Nacional de Segurança com Cidadania (PRONASCI), onde se desenvolvem ações de forma a distribuir responsabilidades no quesito segurança pública, conforme preconiza o caput do artigo 144 da Constituição Federal. Podemos observar que o treinamento policial militar e até mesmo de outras polícias, consideradas “civis”, vem de certa forma, de origem de técnicas militares, muito empregadas em guerras e guerrilhas, também chamadas de guerra irregular. Considerando então, que o sistema geral de atuação Militar é a guerra, momento em que não há grande preocupação em selecionar alvos específicos a serem eliminados, ou seja, o foco se concentra em “bater área” e não alvo certo, como deve proceder as Polícias, podemos exemplificar um caso utópico de um assalto em área urbana, em que a Polícia não revidará tiros se houver o risco real de acertar pessoas inocentes que se encontrar na direção dos marginais, mesmo que esteja sendo atacada. Considerando também a problemática da dificuldade por parte de alguns agentes públicos em seguir o caminho da ordem e da ética, do ponto de vista da nossa cultura e de nossas leis e regulamentos, poderíamos dizer que a forma como o adestramento é transmitido na formação de seus agentes, baseado na ideologia de que o indivíduo que está à margem da lei é um inimigo e não um cidadão que necessita ser realocado a seguir o “caminho do bem”, de acordo com a nossa legislação, poderia ser considerada tal formação, como sendo uma formação 13 equivocada e que também a falta de cumprimento das nossas leis e suas diversas brechas induziria ao policial o sentimento de que o trabalho policial é inútil. E caso o agente público chegue ao ponto de acreditar que seu trabalho é em vão, e que, se prender a justiça vai soltar ou que o bandido sairá da delegacia antes do policial que está conduzindo um flagrante, poderíamos alcançar diversos desvios de conduta, do tipo, fazer justiça com as próprias mãos ou o próprio agente público passar a aplicar violência física, contra alguém que tenha cometido pequenos delitos, como forma de punição. Ainda como hipótese de explicação para origem de alguns tipos de violência por parte da polícia poderia exemplificar os casos em que os policiais são treinados mediante violência, como foi amplamente discutido nos últimos anos através do cinema, por meio do filme: “Tropa de elite”, situação em que o protagonista sofria diversas torturas similares aos campos de concentrações de prisioneiros de guerra, (aqui voltamos ao paralelo entre formação policial e formação para a guerra) e que ao término do treinamento, cometia também vários tipos de torturas e demais atrocidades contra supostos marginais. Apesar de ser um filme, é notório observar, por meio de sindicâncias e inquéritos policiais para correição de conduta, que tais atitudes refletem uma situação muito real de comportamento das polícias país afora. Com isso o que o policial encara como treinamento comum, poderia passar a tratar a população com igual violência e ainda visualizar como situação normal e corriqueira. Na conjuntura atual, torna-se até mesmo vicioso tentar estipular um modelo ideal de aplicação da polícia, sendo que a essência de sua formação está focada no regime tradicional de policiamento. Podemos citar alguns exemplos dessa tentativa de dar uma nova roupagem para a polícia, como o caso da polícia do estado do Rio de Janeiro, que grafou como “slogan” em suas novas viaturas, a terminologia “Nova Polícia”. Mas, entre a ideologia e a prática, há um abismo a ser ultrapassado, pois não vemos mudanças da opinião pública em relação à qualidade de conduta ética das Polícias, nem tampouco grandes inovações no modelo de formação de novos Policiais. Como no princípio da reciprocidade, devemos então, aprimorar e inovar nas diversas formas de Formação e Especialização ou Reciclagem dos Policiais, focando assim, nos princípios da dignidade da pessoa e humana, Direitos Humanos e demais necessidades essenciais aos padrões atuais de convivência. Nesse patamar de atualização profissional, observamos que o Departamento de Ensino da Polícia Militar do Distrito Federal tem sido bem atuante e inovador ao 14 implementar no âmbito dos Cursos obrigatórios de carreira, o pré-requisito de ter concluído alguns cursos específicos na modalidade a distância pela rede SENASP, contando assim, como parte curricular dos cursos de carreira e também podemos observar a redução da quantidade de horas de alguns cursos e também a implementação da modalidade a distância em parte de alguns Cursos de Especializações internas, com o objetivo de atrair maior número de candidatos para se atualizarem profissionalmente. Outra forma encontrada pela Polícia Militar para difundir o conhecimento de forma ampla e até mesmo viabilizar a reciclagem dos conhecimentos de seu efetivo, foi a publicação de um manual de Procedimento Operacional Padrão, conhecido como “POP”. Este manual visa padronizar e uniformizar as ações mais comuns que o policial possa se deparar no cotidiano. Com isso, tem sido implementada instrução em módulos presenciais para todos policiais, até que todo o efetivo receba instrução de todos os módulos previstos no manual. Assim, se constitui em uma forma alternativa de fazer com que o policial passe por especialização, de forma menos burocrática e possa de alguma forma despertar a motivação necessária ao serviço policial. 3.2. Contextualização do Curso de Operações Especiais (COEsp) O COEsp (Curso de Operações Especiais) tem seu embrião na lógica de treinamento exaustivo para a guerra, sua origem remete aos tempos da 2º guerra mundial, onde tropas Sul Africanas, Inglesas e Alemãs, criaram pequenos grupos com militares com técnicas e preparo físico acima da média dos demais para efetuarem ataques altamente agressivos contra alvos de valores significativos, localizados em ambientes hostis. No Brasil, o primeiro curso de operações especiais foi ministrado pelo Exército Brasileiro em 1957, posteriormente subdividido em Curso de Ações de Comandos e de Forças Especiais. A primeira edição do Curso de Operações Policiais Especiais, no Distrito Federal, foi no ano de 1982 e foi ministrado basicamente por Policiais Militares formados no Estado do Rio de Janeiro no ano anterior, que também estava na sua primeira edição do curso em tela. A última edição do referido curso foi no ano de 2013, na sua 13º edição. Pelo fato da realização de grandes eventos neste ano de 15 2014, como Copa do Mundo de Futebol e Eleições, a realização de uma nova edição do COEsp se dará somente em 2015. Na Tabela 1 são apresentados os totais de alunos formados em cada uma das edições. Edição 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª 11ª 12ª 13ª Ano 1982 1984 1985 1988 1989 1990 1991 1999 2004 2008 2011 2012 2013 Nº de Formados 06 17 16 10 08 01 17 22 29 24 17 11 03 Tabela 1. Número de formados em cada edição do COEsp O COEsp atual é um programa de treinamento intenso que visa o desenvolvimento de habilidades específicas de policiais que se submetem voluntariamente ao processo seletivo, que consiste em exame de saúde, de habilidades físicas específicas, exame toxicológico e psicológico. Tais etapas se tornam necessárias para que se possa melhor selecionar candidatos que reúnam as mínimas condições necessárias para ingresso no treinamento exaustivo para formação e atuação do homem de operações especiais. Assim, são aplicados testes físicos de flutuação, natação, salto da plataforma de saltos ornamentais, apneia estática, flexão de braço em barra fixa, abdominal, subida em corda, flexão de braço no solo e corrida rústica. O conteúdo do Curso atualmente se organiza em módulos de atuação, no regime de internato, sendo composto por uma fase introdutória, seguida por módulo de instinto básico, de condicionamento físico, de armamento, técnicas específicas, técnicas especiais, operações aéreas, técnicas de infiltração, gerenciamento de crises, técnicas aquáticas e módulo de operações. A duração do COEsp na última edição foi de aproximadamente quatro meses e a carga horária é de 1229 h/a, sendo resumida de acordo com a Tabela 2. 16 Disciplinas Ações Antibomba e Contrabomba Ações Especiais de Intervenção Ações Verticais de Intervenção Armamentos e Munições para Operações Especiais Combate a Incêndios Contraterrorismo Defesa Pessoal em Área de Alto Risco Direção Defensiva Direitos Humanos Estágio Básico do Combatente de Montanha - 11º BIMth/EB Estágio de Aplicações Táticas- BOPE/PMERJ Gerenciamento de Crises Instrução Tática Individual Inteligência Policial Operações com Cães Operações Helitransportadas Operações Químicas Operações Subaquáticas Paraquedismo Operacional Salvamento Aquático Segurança de Dignitários Sobrevivência no Cerrado Socorros de Urgência e Ofidismo Técnicas de Abordagem Técnicas de Equitação Técnicas de Negociação Técnicas Especiais de Tiro Técnicas Verticais Teoria das Operações Especiais Tiro Policial de Precisão Topografia, Orientação e Navegação Terrestre Transportes Náuticos – Botes e motores Treinamento Físico Específico TOTAL Tabela 2. Plano de Matérias – XIII COEsp Carga Horária (h/a) 40 80 48 50 12 24 48 36 08 60 60 24 80 12 08 36 30 36 48 48 44 50 36 36 08 24 50 36 14 36 50 12 45 1229 17 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao longo da história dos cursos de operações especiais na PMDF, sempre foi observado que existe um alto percentual de evasão em relação aos matriculados, excluindo assim desta estatística, os candidatos que reprovaram nos testes de seleção e os que não optaram por se matricular, conforme apresentado na Tabela 3. Edição 9ª 10ª 11ª 12ª 13ª Ano 2004 2008 2011 2012 2013 % de evasão 51,66 56,36 65,30 78,72 87,50 Tabela 3. Percentual de desistentes nas últimas cinco edições do COEsp Visando a redução do índice de desistência do curso, buscando resultado imediato, é conveniente que se faça adequação do tempo total de curso face à realidade requerida do profissional quando formado, visto que o modelo atual possui carga horária “inflada” desnecessariamente em algumas disciplinas. De acordo com os relatos de alguns desistentes, o alto tempo de duração de determinadas disciplinas gerava nesses egressos um sentimento de tempo perdido ou inútil, que levava a reflexões de que poderia estar em outros afazeres altamente importantes, tanto dentro do próprio curso, quanto em outras atividades policiais e também em suas vidas pessoais. Com isso, seriam eliminados alguns problemas diretamente relacionados ao alto índice de evasão, dentre eles a atenção à família, uma vez que muitos egressos declararam que não poderiam prosseguir no curso, mesmo tendo plenas condições físicas, técnicas e psicológicas de continuar, por não ter uma pessoa que cuide das suas finanças, dos problemas na administração do lar e da família. Com o foco no retorno financeiro, de imediato, poderiam ser implantados operações ou estágios durante o curso de forma remunerada (SVG), visto que uma grande parcela de ex-alunos declarou não ter tido condições de prosseguimento pelo fato de o curso onerar bastante as finanças do instruendo, sendo que estes já contavam com a gratificação por serviço voluntário antes do início do curso. Desta forma, o impacto era sentido de imediato pela ausência da gratificação em tela. 18 Outro fator importante para adequar melhor o desenvolvimento do curso e assim obter maior número de formados, é no tocante as refeições. Se houver liberação para realização de refeições diárias em locais de livre escolha dos alunos, pode proporcionar maior conforto e também evitar problemas de saúde decorrente de alimentação que não esteja em condições de consumo. Motivo este que também foi determinante, por vontade própria ou por internação médica, para saída de alguns policiais que frequentaram o COEsp. Em médio prazo, seria altamente pertinente que o custo do material necessário ao curso também fosse fornecido pelo Estado, eliminando assim a crença de egressos do COEsp de que no curso se “paga para trabalhar”. Tal custo com materiais individuais tem sido melhorado ao longo das edições, pois em 2004, por exemplo, não existia sequer mochila para acondicionamento de seus pertences, restando então aos alunos a compra deste equipamento. Já em 2008, o custo pessoal com equipamentos foi reduzido pelo fato desta instituição ter realizado processo de licitação e adquirido vários materiais necessários à realização do curso. Por outro lado, houve acréscimo em gastos que em edições anteriores não existiam, como o custeio de algumas instruções, o pagamento de horas de voo em aviões particulares para exercícios de saltos de paraquedas. Assim, faz-se necessário que seja implementado todo o processo licitatório, que é burocrático e demorado, para aquisição de equipamentos de proteção e uso individual, onde muitos desses são materiais de consumo, ou seja, não são equipamentos permanentes, como, por exemplo, roupas de neopreme, óculos de proteção balística e de natação, nadadeiras e máscaras de mergulho, luvas e protetores individuais para práticas de lutas no decorrer do treinamento. Além dos itens necessários ao bom andamento do ensino, se faz necessária aquisição de toda estrutura operacional para treinamento de mergulho, paraquedismo, escalada e rapel, já que se observam elevados valores nas compras realizadas de forma individual. Para resultados de longo prazo, se faz necessária a preparação do espaço físico nos moldes de uma unidade escola, com salas destinadas para as funções administrativas da SIEsp, e demais instalações totalmente direcionado para o curso em discussão. Como exemplo: a construção de torres de treinamento de escalada, resgate e retomada em prédios e demais técnicas verticais; plataforma de saltos com tanques para uso combinado de mergulho com profundidade de dez metros na 19 parte mais funda; piscina para treinamento aquático e atividade física, alojamentos específicos para o corpo discente condizentes com o mínimo necessário para o bem estar de uma pessoa, como, internet, televisão, banheiros, etc; biblioteca, salas de estudo e de aula preparadas com ar condicionado, projetor e demais itens necessários para o sistema de áudio e vídeo; pista específica para a prática de atividade física, para que não haja risco de lesões aos discentes no decorrer das atividades físicas; estandes de tiro com sistemas de alvos virtuais e isolamento acústico; armamento adequado para treinamento de resgates de reféns, como as submetralhadoras e fuzis de assalto com supressores de ruído; munições de treinamento do tipo “simunition”, onde simulam o treinamento mais próximo da realidade; casa de atirar específica para treinamento de resgate de reféns; vila preparada para treinamento de patrulhas, abordagens e demais técnicas policiais. A tendência naturalmente esperada, quando uma instituição oferece um curso com toda estrutura e logística necessária para o bem estar do docente e discente é que haja melhor fluidez no aprendizado e consequentemente o maior número de formados possível. Se o aluno que durante a realização do COEsp se deparar com bons equipamentos, tanto individuais quanto coletivos, como sistema eficiente de inteligência e comunicação, central móvel de operações em locais de crises, como por exemplo, um ônibus modificado e preparado para o time que atuará na crise, com sala de “briefing” e estrutura de alocação permanente de todo seu material individual necessário no interior desse veículo, com certeza surtirá um sentimento de que vale a pena perseverar e concluir todo o programa de treinamento, pois ao contrário de viver no contínuo improviso e na aquisição de materiais de trabalho tirando do próprio bolso, o aluno verá que mesmo durante a formação o Estado lhe apoiará e sempre fornecerá o que de melhor existir em técnicas e equipamentos táticos ao longo do treinamento e de sua carreira. Consequentemente, vislumbra-se o aumento de formados com o passar das edições do curso em questão. 20 5. CONCLUSÃO Como forma de buscar melhores resultados com um maior número de formados em cada edição, seria interessante a análise dos resultados apresentados nas formações futuras e compará-las com o propósito requerido pela doutrina de formação e especialização Policial, onde requer policiais altamente capacitados e imbuídos com o ideal de segurança pública de qualidade, com tratamento humanitário e democrático para policiais e sociedade em geral. O Curso de Operações Especiais é muito dispendioso para o Estado e não seria coerente investir altas quantias de dinheiro na formação de apenas parte do grupo que inicia no curso. Sendo então necessário que consideremos as discussões aqui apresentadas, com vista a alcançar o objetivo proposto neste tema, que é eliminar as causas motivacionais do alto índice de desistência no COEsp. Em questionamento deste autor a alguns ex-alunos, o que mais se observou nos aspectos motivacionais para a falta de interesse em continuar no treinamento foi: A falta de fornecimento de material (enxoval) pela instituição para a realização do curso, restando ao aluno somente as opções de desistir ou comprar do próprio bolso. O custo em realizar todas as refeições diárias em uma única opção de fornecimento de alimentação, de qualidade questionável, que é o restaurante da caixa beneficente da PMDF (CABE). A ausência do lar e falta de tempo para resolução de assuntos pessoais durante um longo período de tempo, gerando problemas familiares e econômicos. Indiferença na remuneração em relação aos demais policiais, caso conclua ou não o curso. Inviabilidade em continuar a realizar Serviços Voluntários Gratificados (SVG) durante o COEsp, mesmo havendo a previsão legal em se voluntariar para tal serviço. Com a previsão do COEsp em 2015, há a possibilidade de extrair maior números e informações estatísticas em geral sobre várias discussões aqui apresentadas e com isso sempre buscar melhor evolução e com isso melhor resultado para que se atinja uma formação ideal para o propósito de atendimento de 21 ocorrências especiais. Além disso, poderíamos ampliar a pesquisa para outros cursos, como: Explosivista, Negociador, Gerenciamento de Crises, Tiro de Precisão, dentre outros cursos na PMDF e também caso seja de interesse de outras instituições em compartilhar na forma de intercâmbio, para que se alcance resultados mútuos para melhor formação de seus operadores especiais. 22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Constituição Federal. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 21 março 2014. _______, Lei nº 6.450, Organização Básica da Polícia Militar do Distrito Federal. 1977. 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