Interpretação clínica do exame de urina simples (EAS) Prof. Luiz Carlos Bertges SUPREMA O que é o EAS? • Para o leigo: o exame de urina • Conceitualmente: Exame qualitativo de urina (EAS) é um conjunto de provas não-invasivas e baratas que fornecem informações sobre várias funções metabólicas do organismo. Qual a utilidade do EAS • • • • Doenças renais Doenças do trato urinário Doenças metabólicas Outras doenças sistêmicas Em que consiste o EAS? • • • • • • • Verificação do aspecto e cor, pH e densidade Pesquisa de proteínas e glicose Pesquisa de corpos cetônicos Pesquisa de urobilinogênio e bilirrubinas Pesquisa de hemácias e leucócitos Pesquisa de nitritos e esterases Sedimentoscopia O sistema urinário Como deve ser feita a coleta? • Primeira urina, pela manhã (mais concentrada) • Limpeza suave dos genitais, com antisépticos ou água e sabão neutro • Mulher: abrir os grandes lábios • Coletar o jato médio • Recipiente descartável, limpo, seco • Etiquetar com nome, data e hora da coleta • Examinar até 1 hora após a coleta (refrigerada/4horas) Coleta O que é uma tira reagente? • São tiras plásticas que possuem substâncias, revelando a positividade por modificações de cor – Simples • (medem um único parâmetro) – Múltiplas Tira reagente multiparâmetros Qual é a técnica? • Submergir totalmente a tira na amostra de urina (máximo de 1 segundo) – Misturada, sem centrifugar • Retirar o excesso de urina por capilaridade, na borda do frasco • Comparar a cor das áreas reativas com a escala cromática correspondente. • Fazer a leitura em local com boa iluminação. Técnica Qual é a cor normal da urina? • A cor da urina emitida por indivíduos normais varia de amarelo -citrino a amarelo âmbar fraco – Pigmentos urocrômicos – Uroeritrina – Uroporfirinas – Riboflavinas – Etc Quais as cores comumente encontradas? • • • • • • Amarelo claro ou incolor Amarelo escuro ou castanho Alaranjada ou avermelhada Marrom escuro ou enegrecida Azulada ou esverdeada Esbranquiçada ou leitosa Cor da urina Amarelo claro ou incolor • • • • • • Poliúria Diabetes mellitus e insípidus Insuficiência renal avançada Hiperhidratação Diuréticos Álcool Amarelo escuro ou castanho • • • • • • Oligúria Anemia perniciosa Febre Início de icterícias Exercício extenuante Ingesta de argirol, mepacrina, ruibarbo e furandantoínas Alaranjada ou avermelhada • • • • Hematúria, hemoglobinúria, mioglobinúria Icterícias hemolíticas Porfirinúrias Uso de anilina, eosina, fenolftaneína, rifocina, sulfanol, tetranol, trional, xantonina, beterraba, piridina, nitrofurantoína, vit. A, fenindio • Contaminação menstrual Marrom escura ou enegrecida • • • • • • • CA de bexiga GNDA Meta-hemoglobinúria Alcaptonúria Paludismo Melanoma maligno Uso de metildopa, levodopa, metronidazol, argirol, salicilatos Azulada ou esverdeada • • • • • Pseudomonas Icterícias antigas Tifo Cólera Uso de azul de Evans, Azul de metileno, riboflavina, amitriptilina, metocarbamol, cloretos, indican, fenol, santonina Esbranquiçada ou leitosa • • • • • Quilúria Lipidúria maciça Hiperoxalúria Fosfatúria Pús Qual o aspecto normal? • Claro, transparente, límpida – Não deve ser turva, opaca, conter coágulos, muco ou outros elementos estranhos Qual a densidade normal, e quando se altera? • 1.015 a 1.025 / urina de 24 h • 1.002 a 1.030 / amostras ao acaso • Sinaliza incapacidade de concentrar ou diluir – Doença renal (túbulo distal) – Deficiência de HDA Exemplos de alteração da densidade • Densidade aumentada – Diabetes melitus – Hipersecreção de ADH (meningites, TU etc) • Densidade diminuída – Diabetes insípidus – Alcool Qual o pH normal? • 4,5 a 8 • O pH urinário reflete a capacidade do rim em manter a concentração normal dos íons hidrogênio no liquido extracelular Exemplos de pH alto ou baixo • pH baixo – Acidose metabólica ou respiratória • pH elevado – Alcalose metabólica ou respiratória Observação: alguns antibióticos funcionam melhor com pH ácido e outros com pH alcalino Como é dado o resultado qualitativo das proteinúrias? Resultado em cruzes Resultado em mg/dL Traços + ++ +++ <50 <100 <150 >150 Quando há proteinúria? • Lesão da membrana glomerular (distúrbios – Autoimunidade – Amiloidose – Tóxicos • Comprometimento da reabsorção tubular – Mieloma múltiplo – Nefropatia diabética – Pré-eclampia – Proteinúria ortostática ou postural. O que é o mieloma múltiplo • Distúrbio proliferativo de Plasmócitos, que produzem muita imunoglobulina (Proteína de Bence Jones) – Pequenas – Facilmente filtradas – Ultrapassa a capacidade de reabsorção tubular Como é dado o resultado qualitativo das glicosúrias? Resutados em cruzes Resultados em mg/dL Traços + ++ +++ ++++ <100 <250 <300 <500 >1.000 Quando aparece glicose na urina? • Molécula pequena • Facilmente filtrável • Reabsorvida no TCP – Aparece na urina: • Quando acima de 180 mg/dL no sangue • Defeito no TCP (Síndrome de Fanconi) Como é dado o resultado qualitativo das cetonas? Resultado em cruzes Traços + ++ +++ Resultados em mg/dL <5 <15 <50 <150 Quando ocorre cetonemia e cetonúria? • As cetonas são formadas por três substâncias: – Acetoacetato, b-hidroxibutirato e acetona – Produto do desvio do metabolismo glicídico / lipídico É normal a presença de urobilinogênio na urina? • Metabolismo das bilirrubinas: – BI – BD – Urobilinogênio • Fezes (estercobilina) • Urina (urobilina) É normal ter bilirrubinas na urina? • BD – Lesão hepatocelular – Icterícia obstrutiva • BI – Não aparece na urina Observação: a bilirrubinúria D pode preceder a icterícia (limar entre 2 e 4 mg/dL) Quando ocorre hematúria? • • • • • • Infecções do trato urinário Cálculo renal Tumor do trato Urinário Rim policísistico Glomerulonefrite pós-estreptocócica. – A maior parte dos casos de hematúria são microscópicas – Cilíndros hemáticos indica lesão renal Quando ocorre hemoglobinúria? • Síndromes hemolíticas: – Síndrome hemolítico urêmica – Púrpura trombocitopênica – Hemoglobinúria paroxística noturna – Reações transfusionais – Toxinas bacterianas (sepse) – Venenos (cobra, aranha etc) – Malária – Queimadura – Exercícios extenuantes Quando ocorre mioglobinúria? • • • • • Com destruição aguda de fibras musculares Exercício excessivo Convulsões Hipertermia Queimaduras graves Qual a importância do nitrito? • Infecções por produtores de enzimas que reduzem o nitrato da urina a nitrito: – Escherichia coli – Enterobacter – Citrobacter – Klebsiella – Espécies de Qual o valor das esterases? • O nível de esterase na urina está correlacionado com o número de neutrófilos (contém muita esterase) – Sinaliza infecção urinária Quais as condições ideais para a sedimentoscopia? • • • • Três condições são necessárias: a) que a urina seja recente b) que a urina seja concentrada c) que a urina seja ácida – Risco de deterioração dos elementos formados O que pesquisar na sedimentoscopia? • • • • • Células epiteliais Leucócitos Hemácias Cilindros Muco Origem dos sedimentos Células epiteliais escamosas • São as mais comumente encontradas na urina e com menor significado. • Provêm do revestimento da vagina, da uretra feminina e das porções inferiores da uretra masculina. Células transicionais ou caudadas • O cálice renal, a pelve renal, ureter e bexiga são revestidos por várias camadas de epitélio transicional – Cateterização ou instrumentação urinária – Câncer Células dos túbulos renais • Isquemia aguda ou doença tubular renal, ou tóxica – Necrose tubular aguda por metais pesados ou drogas – Rejeição a transplante renal – Intoxicação por salicilatos Leucócitúria (Piúria) • Normal: < 4 / campo – Doenças infecciosas • Pielonefrite • Cistite • prostatite e uretrite – Doenças não infecciosas • Glomerulonefrite • Lúpus eritematoso sistêmico • Tumores Hematúria • Normal: < 5 / campo – Glomerulonefrites, Pielonefrites, Cistites – Cálculos – Tumores – Traumas – Menstruação – Exercício extenuante • Hemácias dismórficas sugere origem glomerular O que são cilindros? • São moldes mais ou menos cilíndricos do túbulo contornado distal e do ducto coletor Cilindros hialinos • A presença de 0 a 2 por campo de pequeno aumento é considerada normal • Aumentados: – exercício físico intenso, febre, desidratação – e estresse emocional – glomerulonefrites, pielonefrites, doença renal – crônica, anestesia geral e insuficiência cardíaca – congestiva. Cilindros hemáticos • Os cilindros hemáticos geralmente estão associados a doença renal intrínseca • Aumentados: – Glomerulonefrite – Nefrite intersticial aguda – Nefrite lúpica – Hipertensão malígna – Exercício extenuante Cilindros leucocitários • Indicam infecção ou inflamação renal e necessitam de investigação clínica • Aumentados: – Glomerulonefrite – Pielonefrite Cilindros de células epiteliais • Têm origem no túbulo renal e resultam da descamação das células que os revestem • Aumentados: – Agressões nefrotóxicas – Isquemia tubular – Citomegalovírus Cilindros granulosos • São compostos primariamente de proteína • Aumentados: – Exercício extenuante – Estresse – Estase urinária – Infecção urinária Cilindros céreos • Representam um estágio avançado do cilindro hialino • Aumentados: – Obstrução tubular – Insuficiência renal crônica – Rejeição de transplantes – Síndrome nefrótica – Glomerulonefrite – Hipertensão malígna Cilindros graxos • São um produto da desintegração dos cilindros celulares • Aumentados: – Síndrome nefrótica – Nefropatia diabética – Doenças renais crônicas – Glomerulonefrites Muco • O muco é uma proteína fibrilar produzida pelo epitélio tubular renal e pelo epitélio vaginal • Não é considerado clinicamente significativo Obrigado [email protected] www.bertges.com.br