UM NOVO CAMINHO: O PROCESSO DE INCLUSÃO COM O DEFICIENTE MENTAL
MODERADO E A MATEMÁTICA
Roberta Gianotti Pereira Casal Y Delgado
RESUMO
A inclusão escolar dos portadores de deficiência tem sido a proposta dominante da educação
especial nos últimos anos. O “Movimento Mundial de Educação para Todos”, a partir da
Declaração de Salamanca, gerou um avanço na Educação, não só nos discursos, mas na produção de
novos conhecimentos. Este estudo tem por objetivo conhecer o processo de inclusão ao portador de
necessidades educativas especiais – Deficiente Mental, identificando, na matemática, um dos
elementos que auxiliam na adaptação destes indivíduos na sala de aula. Nesta pesquisa, foram
envolvidos, como sujeitos, 14 adolescentes portadores de necessidades especiais – Deficiente
Mental – nível Moderado – com idades entre 11 e 18 anos. Posteriormente, foi observado 1 aluno
portador de deficiência mental inserido no ensino regular. Considerou-se ainda, para estudo,
depoimentos da psicóloga e das professoras tanto da Unidade Escolar quanto da Instituição, que
deram subsídios para a compreensão do processo desse tema,
entendendo-se que estas são
intermediadoras do processo de inclusão. A pesquisa segue um modelo bibliográfico, baseando-se
em levantamento, registro e análise voltada à inclusão, nos seus aspectos históricos e da prática
atual do professor. As informações levantadas bibliograficamente são complementadas com um
estudo de caso: inclusão de um adolescente portador de necessidades especiais – Deficiente Mental
Moderado – em uma sala de ensino regular. Investigo-se o comportamento desse adolescente em
relação a sua interação social, diante de propostas que envolvam o conhecimento matemático. Para
a coleta de dados, além das entrevistas, utilizou-se pesquisas em diversos autores e, durante o quarto
bimestre do ano letivo de 2005 foram observados os sujeitos em uma instituição especializada em
Deficientes e, além desses, durante o 1º bimestre de 2006 foi observado 1 do Ensino Regular. Esta
pesquisa foi fundamentada na teoria do desenvolvimento de Jean Piaget, que apresenta
possibilidades de análise dos estágios de desenvolvimento do pensamento dos Deficientes Mentais.
Palavra chave: Deficiente Mental, Piaget, Aprendizagem Matemática.
1668
Introdução
Este Trabalho aborda um seguimento da educação, a inclusão, amplamente discutida e de
relevância fundamental para a nova proposta pedagógica da escola de educação básica.
O processo de integração e inclusão dos portadores de necessidades especiais vem sendo
alvo de inúmeras discussões dentro dos sistemas sociais e educacionais. Durante muitos séculos a
questão da deficiência foi encarada de maneira inteiramente negativa por povos e governos de
diferentes países. Já no século XX esses portadores de necessidades especiais eram vistos como
cidadãos, tendo direitos e deveres. Foi a partir desse momento que, no Brasil e no mundo, pais e
parentes desses portadores de deficiência começaram a se organizar em associações para que
pudessem não só oferecer melhor compreensão a respeito das deficiências, mas sim sugerir idéias
para que o ensino desses portadores de necessidades especiais se efetivasse. Essa evolução porém,
foi demorada,com discussões em que participaram diversos países inclusive o Brasil discutindo e
organizando os caminhos para com a educação, principalmente no que diz respeito aos portadores
de necessidades especiais. E nesses encontros surgiram algumas declarações, nos quais se destacam:
DECLARAÇÃO DE CUENCA-1981- ESPANHA.
A partir desse momento surge um novo
princípio, o de normanilzação, que visa oferecer aos deficientes um modo de vida semelhante ao da
sociedade.
DECLARAÇÃO DE SUNDEMBERG-1981-ESPANHA.Resultando uma declaração da ONU
considerando em 1981 como o ano internacional das pessoas deficientes.
DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA TODOS -1990-TAILÂNDIA. Que
apresentava garantias do atendimento às necessidades básicas de aprendizagem resultando no
princípio da integração,trazendo a idéia de que todas as pessoas têm o direito a usufruir as
condições de vida o mais comum ou normais possíveis na comunidade onde vive.
DECLARAÇÃO DE SANTIAGO - 1993- CHILE. Teve como meta principal aprimorar os índices
gerais de qualidade de aprendizagem.
DECLARAÇÃO SALAMANCA.1994 ESPANHA. A Declaração de Salamanca é um documento
que surgiu após a conferência da Declaração Mundial para todos, que se inspirou no principio de
integração e reconhece a necessidade da Escola para Todos, ou seja, começa o princípio da
inclusão, que visa à inserção total dos indivíduos portadores de necessidades especiais na sociedade
e na escola, respeitando suas diferenças.
1669
A partir dessas conquistas, deu-se início a um grande movimento de pesquisas educacionais
com crianças portadoras de necessidades especiais onde se destacou o Deficiente Mental. Há
diversas instituições que trabalham com essa deficiência, e dentre elas, pesquisou-se uma, no
município de São Vicente, no Estado de São Paulo, mediante a observação de 14 sujeitos
Portadores de Necessidades Especiais entre 11 e 18 anos que se encontram em nível moderado, e
estão em fase de preparação para o seu potencial cognitivo, afetivo e social para, conforme suas
limitações, serem encaminhados para classes de inclusão. Também foi observado 01 aluno portador
de deficiência mental de uma sala de ensino regular.
Este estudo tem como objetivo reconhecer o processo de inclusão ao Portador de
Necessidades Educativas Especiais - Deficiente Mental Moderado - identificando na matemática,
um dos elementos que auxiliam na adaptação do indivíduo em sala de aula.
Esta pesquisa foi desenvolvida e fundamentada na teoria de Piaget, como forma de
diagnosticar as etapas do desenvolvimento do sujeito, por considerar que, dentre todas essas
vertentes, foi com Piaget que se atingiu o ápice das explicações sobre desenvolvimento cognitivo
baseadas nesse paradigma, bem como, pelo fato de que, a exemplo da educação regular, esta tem
sido a corrente que, principalmente nas duas últimas décadas, tem exercido influência decisiva
sobre a educação do Deficiente Mental.
O pensamento lógico-matemático é um dos fundamentos essenciais para o desenvolvimento
do pensamento e das formas de se constituir códigos de relação e comunicação, desta forma, a
pesquisa procura responder se seria possível o Deficiente Mental de nível moderado, adaptar-se
em uma sala de ensino regular, por meio do raciocínio lógico?
A relevância de pesquisar este tema, situa-se na necessidade, cada dia mais premente do
docente em se preparar para o trabalho em um sistema inclusivo.
Objetivo Geral - Este estudo tem por objetivo conhecer como se desenvolve o processo de
inclusão ao Portador de Necessidade Educativas Especiais na Rede de Ensino Regular – Deficiente
Mental Moderado - identificando, na matemática, um dos elementos que auxiliam na adaptação
deste indivíduo na sala de aula.
Objetivos específicos - Observar, identificar e registrar o estágio do desenvolvimento do
pensamento dos portadores de necessidades educativas especiais por intermédio de atividades matemáticas elaboradas e aplicadas pelos professores tanto na Unidade Escolar quanto na Instituição;
1670
- Identificar de que maneira a matemática pode ajudar o aluno Deficiente Mental a interagir
com o grupo no processo de inclusão.
Hipótese - As realizações de atividades matemáticas auxiliam na interação social dos portadores de
necessidades educativas especiais – Deficiente Mental Moderado.
Metodologia
A pesquisa segue um modelo bibliográfico baseando-se em levantamento, registro e análise
de literatura voltada à Inclusão nos seus aspectos históricos e da prática do professor. As
informações levantadas bibliograficamente são complementadas com um estudo de caso: Inclusão
de um adolescente portador de necessidade especial - Deficiente Mental Moderado - em uma sala
de ensino regular. Investigando seu desenvolvimento cognitivo e a sua integração social, diante de
propostas que envolvem o conhecimento matemático.
Foram envolvidos como sujeitos 14 alunos portadores de necessidades especiais –
Deficientes Mentais Moderados - com idades entre 11 a 18 anos, que se encontram em nível
moderado e estão em fase de preparação do seu potencial cognitivo, afetivo e social para, conforme
suas limitações, serem encaminhados para a inclusão. Estes sujeitos freqüentam uma instituição
para deficientes no período matutino, no Município de São Vicente, em São Paulo. Posteriormente
foi observado um aluno portador de deficiência mental em uma sala de ensino regular do mesmo
Município. Considerando ainda para o estudo, as professoras tanto da Unidade Escolar quanto da
instituição e a psicóloga, entendendo que estas são intermediadoras desse processo de inclusão, o
que justifica as entrevistas realizadas com as mesmas. Dentre os 14 sujeitos Deficientes Mentais: 5
apresentam Paralisia Cerebral, 5 Síndrome de Down e 4 são Autistas, e o aluno da Unidade
Escolar, já incluso, apresenta Paralisia Cerebral.
Deficiente Mental e a Matemática
A importância das interações sociais no processo pedagógico e de desenvolvimento
cognitivo das crianças traz à tona a importância de olhar para este sujeito de forma global. Tendo a
sensibilidade acompanhar o desenvolvimento integral do aluno, não podemos esquecer de que os
sujeitos caminham para uma autonomia no plano físico, emocional e social. A contribuição de Jean
Piaget tem um significado de orientar a reflexão à procura de subsídios para entender como se dá o
processo de desenvolvimento complexo do aparato cognitivo da criança. O conceito de deficiência
mental é bastante variado, sofrendo as influências do meio no qual foi estruturado, passando a
serem objetos de atenção médica e pedagógico e de estudo científico a partir do final do século
1671
XVIII. Segundo Costa e Bentes, (2001), é importante saber a diferença entre doente mental e
Deficiente Mental. O Deficiente Mental embora tenha problemas de comportamento, sua
deficiência não foi causada por eles, e o doente mental é aquele que rompe com a sua estrutura de
vida através de uma doença geralmente de ordem psíquica como psicopatia e esquizofrenia.
Considera-se o desenvolvimento bem como os déficits dessa população, conforme a
classificação da Organização Mundial de Saúde – OMS (1995), tendo as seguintes características:
Deficientes Mentais leves, Moderados, Severos, e, por fim, os Profundos.
Segundo Jannuzzi, (2004, citado por Oliveira), com relação à deficiência mental, no Brasil,
nos seus 169.799.170 habitantes, cerca de 24.537.985, apresentam algum tipo de deficiência e,
desse total, 68% são pessoas com deficiência mental, e de acordo com Mec/Inep, (1998/2004)
registravam-se cerca de 291.544 deficientes mentais
Optou-se por desenvolver este estudo com sujeitos portadores de necessidade especiais Deficiência Mental - tendo característica o nível Moderado. Em nível psicométrico, o deficiente
tem, em média, um QI entre 36 a 51, manifestando-se antes dos 18 anos.
Segundo Ballone, (2003), por meio da classificação da Organização Mundial da Saúde, o
Deficiente Mental Moderado, encontra-se, de acordo com a teoria piagetiana, no período préoperatório do desenvolvimento do pensamento. O Deficiente Mental em nível Moderado apresenta,
normalmente um vocabulário limitado, mas, em determinadas ocasiões, principalmente quando o
ambiente for sucessivamente acolhedor e carinhoso, consegue ampliar sua habilidade de expressão
até condições realmente surpreendentes.
Fierro (2004) menciona que uma criança com deficiência cognitiva tem, em particular,
dificuldades em desenvolver comportamento auto-referido, relativos a si mesma, e que enfatizam
uma reflexão física, mas, sobretudo mental. Por outro lado, deve-se buscar recursos didáticos,
metodológicos e realizar algumas mudanças curriculares que atuem no sentido de desenvolvê-lo em
todas as suas habilidades (cognitivas, motoras, sociais afetivas, musicais).
Segundo Mantoan (1989) o Deficiente Mental é capaz de realizar um processo educacional
através de um currículo baseado em conteúdos construtivistas. O aluno Deficiente Mental tem o
direito de exercer sua liberdade e autodeterminação, poder de decisão e crítica, e facultar-lhe a
iniciativa própria na resolução de conflitos da natureza intelectual e moral, é condição importante
para seu desenvolvimento. Não devendo ocultar as limitações de sua condição de excepcional, este
1672
deve contar com a colaboração da família e da sociedade para que se estenda a outros ambientes o
mesmo clima de confiabilidade, através do qual poderá desenvolver autoconfiança e afirmação.
Jean Piaget
Jean Piaget (1896-1980) foi um renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho
pioneiro no campo da inteligência infantil, passou grande parte de sua carreira profissional
interagindo com crianças e estudando seu processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um grande
impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia. O ano de 1919 foi um marco em sua vida.
Iniciou seus estudos experimentais sobre a mente humana e começou a pesquisar também sobre o
desenvolvimento das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de Biologia levou-o a enxergar o
desenvolvimento cognitivo de uma criança como sendo uma evolução gradativa.
Em seu trabalho, Piaget identifica os quatro estágios de evolução mental de uma criança.
Cada estágio é um período onde o pensamento e o comportamento infantil é caracterizado por uma
forma específica de conhecimento e raciocínio. Esses quatro estágios são: sensório-motor, préoperatório, operatório concreto e operatório formal.
No Sensório-Motor, aproximadamente de 0 a 2 anos o bebê começa a construir esquemas de
ação para assimilar mentalmente o meio. O Pré-operatório vai aproximadamente de 2 a 7 anos e
caracteriza-se, principalmente, pela interiorização de esquemas de ação construídos no estágio
anterior (sensório-motor). No operatório concreto, de 7 a 11 anos, a criança desenvolve noções de
tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, já sendo capaz de relacionar diferentes aspectos e
abstrair dados da realidade. Finalmente, no operatório formal, dos 12 anos em diante, a
representação permite a abstração total.
A construção do conhecimento segundo Piaget ocorre quando acontecem ações físicas ou
mentais sobre objetos que, provocando o desequilíbrio, resultam em assimilação ou, acomodação e
assimilação dessas ações e, assim, em construção de esquemas ou conhecimento. Esquemas são as
estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente organizam o meio.
Assimilação é o processo cognitivo de colocar (classificar) novos eventos em esquemas existentes.
Por acomodação entende-se que a modificação de um esquema ou de uma estrutura em função das
particularidades do objeto a ser assimilado.
O Deficiente Mental e a Matemática
Para Piaget o processo de construção do desenvolvimento desencadeia-se pela ação do
sujeito por meios de seus mecanismos de adaptação e acomodação, ele trabalha com o sujeito
1673
epistêmico, que não corresponde a ninguém em particular, demonstrando as possibilidades de cada
indivíduo e de todos ao mesmo tempo. Sendo assim, ocorre a inclusão dos deficientes mentais entre
estes sujeitos cognoscentes capazes de conhecer, não importando a que níveis consigam alcançar.
Segundo Lorenzo (citado por Krynsky, 1969, p. 216/217), no trabalho de Piaget, têm-se
buscado inspiração e estímulos para o trabalho com Deficientes Mentais, principalmente em dois
aspectos: um seria o enfoque clínico, que por sua vez o adulto deve promover e registrar a conduta,
sem projetar idéias. Este método implica em uma análise dos aspectos qualitativos do
funcionamento intelectual. O professor tem que analisar as respostas de seus alunos, bem como o
conteúdo do ambiente onde as respostas foram promovidas, implicando, também na indagação tanto
das respostas certas quantos das respostas erradas, e o outro aspecto seria o conceito de etapas, ou
seja, como resultado do mundo experiencial da criança pequena e como esta começa a compreender
as coisas em certos momentos de seu desenvolvimento.
Para Mantoan (1991), os déficits nas trocas dos deficientes mentais se configuram em uma
condição intelectual análoga a uma construção inacabada, mas até o nível em que conseguem
evoluir intelectualmente, essa evolução se apresenta como sendo similar a das pessoas normais mais
novas. Embora possuam esquemas de assimilação equivalente, os deficientes mentais mostram-se
inferiores, em face da resolução de situações problemas, ou seja, na colocação prática de seus
instrumentos cognitivos. Apesar de se definir por paradas definitivas e uma lentidão significativa no
processo intelectual, a inteligência do Deficiente Mental testemunha uma certa plasticidade ao
reagir satisfatoriamente a uma solicitação adequada do meio em que visa à construção das estruturas
mentais. “Algumas crianças aprendem mais rapidamente do que as outras; algumas aprendem mais
vagarosamente que seus companheiros da mesma idade e, conseqüentemente, têm dificuldades em
se adaptar às demandas sociais.” (KIRK, 1979, apud DALTOÉ; SILVEIRA, 2003).
Segundo Ballone (2003) o sistema qualitativo do Deficiente Mental refere-se ao fato de que
muitos deficientes não apresentam limitações em todas as áreas das habilidades adaptativas, nem
todos precisam de apoio às áreas que não estão afetadas. Não se pode afirmar que as pessoas
mentalmente deficientes não possam aprender e ocupar-se de si mesmos. Felizmente a maioria das
crianças deficientes mentais pode aprender muita coisa, chegando à vida adulta de uma maneira
parcialmente e relativamente independente e, mais importante, desfrutando da vida como todo
mundo.
1674
Segundo Piaget, (apud Daltoé e Silveira, 2003), a aquisição mental do número não se dá por
simples aprendizagem, para começar a operacionalizar o número, conceitualmente, a criança deve
estar perceptivelmente madura e ter
determinadas estruturas mentais. Por meio de atos
exploratórios, a criança verifica as relações numéricas, por exemplo, um conjunto constituído por
quatro objetos é maior que um constituído por dois objetos. Entretanto isso não ocorre com o aluno
Deficiente Mental, uma forma de aprendizagem inadequada ocorre com este aluno no que se refere
à contagem. Há uma falta de habilidade facilmente observada neste aluno, é comum ouvi-lo nomear
a seriação, um, dois, três, e assim por diante, atingindo numerações bem altas, sem conhecer o seu
significado. O aluno Deficiente Mental não consegue adquirir as noções para a aprendizagem da
matemática, devido a limitações de suas experiências e, conseqüentemente, tem dificuldades de
efetuar as necessárias construções lógicas.
Para Séguin (1946, apud Daltoé e Silveira, 2003), o ensino da matemática para o Deficiente
Mental tinha como objetivo formalizá-lo com as qualidades observáveis na vida prática e o ensino
da numeração falada e iniciação aritmética para o aluno Deficiente Mental deveria ser ministrado
partindo sempre do concreto.
Estudo de Caso: O Processo de Inclusão de uma criança portadora de Deficiência Mental em
uma sala de ensino regular.
Caracterização da Instituição
A Instituição estudada é uma entidade filantrópica que presta serviços no município de São
Vicente há 18 anos tendo como objetivo oferecer atendimento na área de educação, assistência
social, esporte, lazer, orientação, prestação de serviços e apoio às famílias, possibilitando a melhoria
da qualidade de vida da pessoa com deficiência, promovendo a construção de uma sociedade mais
justa, inclusiva e solidária. Sendo mantenedora da escola de educação especial, prestando
atendimento especializado para as pessoas com deficiência mental, atualmente com 180 alunos
adultos, assumindo a responsabilidade compartilhada matriculados nos programas de educação
infantil, ensino fundamental, educação de jovens e com a família, estado e sociedade no
fundamentada nos princípios da valorização e promoção do ser humano.
O aluno Deficiente Mental na Instituição
Contatou-se a psicóloga que atua clinicamente há 26 anos na abordagem psicológica
cognitivo-comportamental e está na instituição estudada há 15 anos trabalhando com os portadores
de deficiência mental, realizando trabalho de psicóloga escolar no grupo de Estimulação II,
1675
constituído de crianças; no grupo de apoio, formado por jovens e adultos e ainda no grupo de
orientação familiar. Essa profissional, relatou que o processo de ingresso do deficiente nesta
instituição se dá, primeiramente, por uma triagem quando o portador de deficiência chega à
instituição, acontecendo por meio de avaliações psicológicas, entrevista e teste com objetivo de se
identificar o grau de deficiência de cada um, bem como suas aptidões. É importante que cada
candidato à vaga passe por um neurologista e/ou psiquiatra, pois esta Instituição atende somente
portadores de deficiência mental leve e moderado. Com o resultado da triagem, o aluno,
dependendo do grau de deficiência, é levado a desenvolver atividades para estimular as áreas
psicomotoras, sensório-perceptiva, cognitiva, sócio-afetivo e de linguagem, esperando que cada um
atinja o máximo de suas possibilidades, nunca subestimando suas capacidades, pois, são encarados
como cidadãos, respeitando seus direitos e orientando-os para o cumprimento dos seus deveres.
Entre 2005 e 2006 foram inclusos cerca de 20 alunos, entre crianças, adolescentes e adultos,
sendo assim, os que se encontram na educação infantil são freqüentemente encaminhados para o
ensino regular e continuam em atendimento psicológico e fonoaudiológico nesta Instituição,
podendo retornar ou não à Educação Especial dependendo da evolução de cada caso. Os demais,
que são adolescentes e adultos, podem participar do E.J.A. ou do supletivo, quando apresentam
condições e continuam a freqüentar na Instituição, atividades, tais como: informática, grupos de
apoio psicológico e esportes. Este trabalho visa o suporte e a supervisão dos alunos que deixam a
Educação Especial. A inclusão destes portadores só acontece se eles atingirem algumas metas no
desenvolvimento de suas potencialidades, ou seja, quando conseguem superar algumas limitações
emocionais e escolares. Esse processo pode durar entre 5 e 10 anos, dependendo de cada caso e
aqueles que não conseguem, ficam na instituição, em salas de oficina.
Em 2005, os sujeitos observados estavam matriculados na educação especial desta
Instituição, onde pude constatar, que existe um relacionamento de respeito, amizade, compreensão
e solidariedade entre eles mesmos e a professora. Nas aulas práticas e dinâmicas têm-se obtido bons
resultados quanto à participação. Inicialmente, pode ocorrer de alguns terem dificuldades em
ajustarem-se às normas estabelecidas pela escola, porém vão se adaptando com o tempo,
necessitando, às vezes, de um reforço individualizado. Foi possível constatar, por meio desta
pesquisa que os 14 sujeitos observados, considerando-se a teoria do desenvolvimento do
pensamento de Jean Piaget, encontra-se no estágio pré-operatório. Em entrevista, a professora da
instituição relata que os sujeitos apresentam dificuldade quanto ao conceito de quantidade
1676
relacionado a números, pois os mesmos utilizam diagramas e/ou figuras para realizarem a relação
dos conceitos.
Em 2006, não houve inclusão conforme citado pela psicóloga, pois os alunos não estavam
prontos e ainda, um desses, não acompanhando o ritmo do grupo, foi encaminhado para a sala de
oficina onde será preparado para o mercado de trabalho. Por não ter acontecido nenhuma inclusão
neste grupo, optamos por observar um aluno já incluso no ano anterior, numa sala de ensino regular.
O aluno Deficiente Mental na Unidade Escolar
Por meio desta entrevista, percebeu-se que a participação dos pais, bem como o
conhecimento da família, de todo o processo de inclusão é importante para que se possa obter uma
significativa evolução do aluno.
Segundo entrevista com a professora da Unidade Escolar, o movimento da Educação
Inclusiva poderia dar certo se as escolas tivessem o material para atender esses alunos e
profissionais capacitados para auxiliar o professor em situações que fujam de seu controle, também
devem ter casos de capacitação para que o professor pudesse preparar-se para atender as
necessidades do aluno Deficiente Mental.
O aluno observado foi incluso no ano anterior e apresenta Paralisia Cerebral, inicialmente
ele ficava isolado na aula com grandes dificuldades. Considerando-se o aspecto do sentimento, a
turma se dividia em dois grupos: um sentia repulsa e o outro um sentimento de “pena”, porém com
o decorrer tempo, em meio à relação amistosa e de respeito, os grupos se fundiram, mediante
cooperação e interação resultando num comportamento mais homogêneo, em pouco tempo,o aluno
em questão se envolveu com os outros alunos, refletindo em sua inserção social. Na sala de aula, em
relação à matemática, o aluno não consegue acompanhar o ritmo do grupo, pois é muito disperso,
não realizando as atividades propostas no tempo devido e ainda tirando a concentração dos outros,
uma vez que ele só se interessa por atividades práticas como jogos, manipulação de material, entre
outros, demonstrando desinteresse durante as aulas expositivas, tornando-se, às vezes, agitado e
agressivo, exigindo uma atenção especial do professor, já que o aluno tem dificuldades em seguir
normas. Ele apresenta, também, dificuldade em se expressar tanto oralmente quanto por escrito.
Quando é necessária a transcrição de livros para o caderno (cópia e resolução), ele só resolve
atividades se houver relação entre o abstrato e o concreto.
1677
Conclusão
O objetivo desta pesquisa foi conhecer como se desenvolve
processo de inclusão ao
portador de Necessidades Educativas Especiais – Deficiente Mental – identificando, na matemática,
um dos elementos que auxiliam na adaptação do indivíduo em sala de aula.
De forma geral, pelos dados obtidos, mediante entrevistas realizadas e observações,
constatou-se que esse processo é decorrente de uma preparação pedagógica e emocional para que o
portador de deficiência não seja apenas mais um em sala de aula, e sim que seja preparado para
lidar com as dificuldades e frustrações do dia a dia. Percebemos que no processo de Inclusão, na
Unidade Escolar, existe uma baixa expectativa por parte do professor sobre a possibilidade de
aprendizagem de alunos com Deficiência Mental, pois acredita-se que estes são incapazes. Isso leva
o professor a investir aleatoriamente em estratégias e técnicas intuitivas, rejeitando a proposta
inclusiva.
Constatou-se que ao ensinar matemática, é importante perceber que um dos elementos, os
quais auxiliam na adaptação do aluno em sala de aula, consiste em trabalhar com materiais
concretos, relacionando-os com o cotidiano do aluno, preparando-o para o mercado de trabalho,
conseqüentemente, auxiliando-o no processo de cidadania.
As observações mostram que os adolescentes se encontram no período de desenvolvimento
do pensamento pré-operatório se considerarmos a teoria Piagetiana, sendo assim estes adolescentes
têm habilidades e necessidades diferenciadas, ou seja, é possível que o aluno portador de
Deficiência Mental Moderado realize atividades propostas pelo professor desde que estas estejam
relacionadas com o período que ele se encontra, uma vez que são incapazes, neste estagio, de
realizar tarefas as quais não estejam relacionadas às representações do seu mundo concreto (anexo
VI), ou seja, resolver problemas que envolvam a lógica. Logo, o aluno Deficiente Mental Moderado
não consegue adaptar-se dentro de uma sala de ensino regular por meio do raciocínio lógico, mas
consegue adaptar-se em
uma sala de aula se o professor trabalhar a sua relação com o
conhecimento no concreto.
Ao finalizar nossa pesquisa esperamos que, assim como nós, outros explorem esse tema o
que permite continuidade e aprofundamento, observando o desenvolvimento dos alunos não apenas na área da matemática e sim em todas as áreas, por meio de atividades diferenciadas.
1678
O desenvolvimento desse tema, permitiu que adentrásse em um universo impossível de ser
penetrado, apenas pelo currículo apresentado no curso de licenciatura, e que desta forma estamos
convencidos que o caminho para o professor resolver os problemas apresentados em sua prática
profissional é o da investigação, esteja ele em qualquer área.
Bibliografias
• BALLONE. G. Deficiente Mental. revisto em 2003. Disponível em <http://sites.uol.com.br/
gballone/infantil/dm1 html> acesso em 28/10/2005
• COSTA.E; BENTES.K. A importância do Brincar no desenvolvimento de crianças de 03 a 05
anos portadores de necessidades educativas especiais (DM ) na Educação infantil 2001.
Monografia (trabalho de conclusão de curso.) Universidade da Amazônia. Belém – Pará
• DALTOÉ.H; SILVEIRA.M. Iniciação Matemática para portadores de Deficiência Mental.
2003. Disponível em< www. Somatemática.com.Br/artigos>, acesso em 29/10/2005
• FIERRO. A. Os alunos com deficiência Mental in Coll, Cesar. Marchesi, Álvaro. Palacios, Jesus,
et al. Desenvolvimento psicológico e educação – Transtorno do desenvolvimento e
necessidades educacionais especiais, vol.3 , edição 2º, editora Artmed. 2004.
• KRYNSKY, S. Deficiência Mental. São Paulo,Atheneu,1969
• MANTOAN, Maria T. E. -Compreendendo A deficiência Mental – novos caminhos
educacionais Editora scipione, 1989.
• MANTOAN.Maria T. Egler. A construção da Inteligência nos deficientes mentais: um
desafio, uma proposta. Revista Brasileira de Educção Especial.1991.
• PIAGET, J. Epistemologia Genética. Rio de Janeiro: Vozes, 1972.
• OLIVEIRA.f.M.G.S. Educação inclusiva – Diferentes olhares- Disponível em <http://www.mj.
gov.br/documentos> acesso em 25/10/2005.
Download

UM NOVO CAMINHO: O PROCESSO DE INCLUSÃO