Universidade Presbiteriana Mackenzie
A IDENTIFICAÇÃO DOS INDIVÍDUOS EM SEUS OBJETOS NA CONTEMPORANEIDADE
Glauco Cavinato Moura (IC) e Teresa Maria Riccetti (Orientadora)
Apoio: PIBIC CNPq
Resumo
Com a crescente segmentação do mercado e a individualização da sociedade, os objetos físicos
estão adquirindo novos papéis, estabelecendo relação com a identificação dos indivíduos que os
possuem. O artigo a seguir se propõe a mostrar as maneiras com que os indivíduos contemporâneos
se identificam com seus objetos, sendo os resultados produzidos a partir de levantamento de dados
obtidos na literatura de design, sociologia, antropologia e psicologia, e de entrevistas semi-abertas
com jovens de 20 à 26 anos, brasileiros, da região sudeste, de classe média. A intenção deste
trabalho é de auxiliar no desenvolvimento de novos projetos de produtos para que atendam as
expectativas do indivíduo contemporâneo. Os resultados apontam que a identificação com o objeto
ocorre através de questões simbólicas, podendo ser vinculadas a marca, caso esta seja forte, ou às
características estéticas, como cores, materiais e formas. O processo pode ocorrer de maneira
pessoal, quando a importância do símbolo é somente para o próprio indivíduo, sendo indiferente o
que os outros pensam sobre. Ou de maneira social, quando a importância do símbolo é de
convenção de algum grupo de indivíduos, ou seja, o que importa é o que o grupo, pensa sobre. Os
casos analisados nesta investigação apontam aspectos interessantes ao presente estudo.
Palavras-chave: objetos físicos, identidade, design de produto
Abstract
With the increasing market segmentation and the individualization of the society, the objects are
acquiring new roles related with de identification of the individuals who have them. The following
article intends to show the ways that the contemporary individual identify himself with his objects. The
results were produced from data survey obtained in the design, sociology, anthropology and
psychology literature and from semi-open interviews with youngsters aged 20 to 26 years old,
Brazilians, in the middle to high social class. The intention of this work is to help develop new products
for attend the expectations of the contemporary individual. The results point that the identification with
the object occur by symbolic questions, may be linked to the brand if it is strong or to the aesthetic
characteristics like colors, materials and forms. The process can occur in personal way when the
importance of the symbol is only to the self individual, indifferent to what others think about. Or in
social way when the importance of the symbol is a convention from a group of peoples, in other words,
what matters is what the group think about.
Key-words: physical objects, identity, product design
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Introdução
A crescente segmentação de mercado e a individualização da sociedade ocorrida nos
últimos tempos apontam para novos papéis a ser desempenhados pelos objetos.
Dantas (2005) afirma que as transformações ocorridas nas relações produtivas e o
barateamento das tecnologias fizeram com que o diferencial dos objetos passa-se a ser em
seus conceitos que carregam e não mais em suas questões produtivas. Ainda segundo a
autora:
O crescente desenvolvimento da individualidade como característica
marcante dos tempos atuais traz consigo a necessidade de identificar-se,
estabelecer uma identidade própria... Nesse contexto, a moda deixa de ser
standard para virar ícone de identidade, sendo acompanhada pelos objetos
e acessórios, que transformam-se em ícones do comportamento. (Dantas,
2005)
Portanto nota-se que os indivíduos estão buscando objetos que os identifiquem, ou seja,
objetos que carreguem valores em que eles acreditam e queiram expressar.
A imagem a seguir nos mostra uma pequena parcela da quantidade de modelos de fones de
ouvido que são oferecidos no mercado. Todos com a mesma função básica, porém cada um
em um estilo diferente.
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Fig.1. Diversos fones de ouvido – marcas e formas
A presente pesquisa teve como objetivo investigar as maneiras com que os indivíduos
contemporâneos se identificam em seus objetos e assim, pretende com seus resultados,
auxiliar no desenvolvimento de novos projetos de produtos para que atendam as
expectativas do indivíduo contemporâneo. Para isso foram feitas entrevistas e discussões
com o público jovem brasileiro de classe média por maior acessibilidade a este público, por
parte do autor deste artigo.
Referencial Teórico
A relação indivíduo, identidade e objeto, no contexto atual
Segundo Jack Young apud Bauman (2003), quando a comunidade entra em colapso, a
identidade é inventada. Ela então se torna individualizada e substitui a identidade
comunitária. Assim, essa crescente individualização dos tempos atuais traz a necessidade
de estabelecer uma identidade própria, entendendo identidade como “aparecer, ser
diferente, e por essa diferença, ser singular” (Bauman, 2003).
Lima (2000) afirma que:
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Hoje vivemos em uma sociedade que se baseia em um processo de busca
da individualidade em meio ao caos. Cada indivíduo busca encontrar seu
“nicho” social onde possa expressar sua visão de vida e possa exercer sua
originalidade,
participando
do
contexto
social
via
suas
principais
manifestações personalizadas. (Lima, 2000)
Para Dantas (2005), devido a esses fatores, a moda acompanhada de seus objetos e
acessórios tornam-se ícones de comportamento, ou seja, os indivíduos buscam a sua
diferenciação por intermédio dos objetos e assim, as marcas e seus produtos assumem o
papel de identificadores culturais. Segundo Bedbury (2002), “um produto nada mais é do
que um artefato ao redor do qual os clientes têm experiências” e sua posse gera um senso
de identificação, de pertencer a algo. “[...] a mera propriedade de um determinado artigo
pode levar os consumidores a sentirem-se ligados a todos os outros que possuem o mesmo
produto – quase como se, juntos, fossem uma grande família.” Bedbury (2000).
Dantas apud Hilman (1993) diz que “o “mundo das coisas” interfere no homem e sua
percepção do mundo, e não apenas qualifica o espaço. Assim, os objetos são responsáveis
pela representação do próprio mundo e sua imagem, tendo reflexo direto no comportamento
humano. O autor afirma que “um objeto presta testemunho de si mesmo na imagem que
oferece, e sua profundidade está na complexidade dessa imagem.” (Hilman, 1993)”.
“O produto mais procurado hoje não é mais alguma matéria prima ou máquina, mas uma
personalidade.” Riesman (apud Baudrillard, 1991) “Por intermédio dos objetos adquiri-se um
rosto, um lugar no mundo” (Pichon-R e Quiroga, 1998).
Para Dantas apud Bolas (1998), a seleção de um objeto é uma forma de expressão.
Sudjic (2010) acredita na mesma coisa; em suas palavras:
Os objetos são nossa maneira de medir a passagem de nossas vidas. São
o que usamos para nos definir, para sinalizar quem somos, e o que não
somos. Ora são as jóias que assumem esse papel, ora são os móveis que
usamos em nossas casas, ou os objetos pessoais que carregamos
conosco, ou as roupas que usamos. (Sudjic, 2010)
Método
O estudo seguiu os seguintes procedimentos metodológicos: Na primeira etapa foi realizado
um levantamento bibliográfico em diversos livros e trabalhos acadêmicos, cruzando e
confrontando os dados obtidos.
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Na segunda etapa foram aplicadas entrevistas qualitativas semi-abertas e discussões com
jovens de 20 à 26 anos, de classe média, brasileiros, por meio digital através de um
programa de mensagens de texto instantâneas para que o entrevistado pudesse ter o tempo
que precisasse para responder as perguntas e ficando automaticamente registradas as
respostas. A amostra conta com 15 entrevistas realizadas. Na terceira e última etapa foram
feitas reflexões e análises do conteúdo obtido com as entrevistas, fazendo relações com as
informações obtidas na primeira etapa.
Resultados e Discussão
Podemos concluir, através dos diversos autores citados no referencial teórico, que os
objetos são instrumentos para as maneiras de expressão do indivíduo contemporâneo, ou
seja,
através
deles,
os
indivíduos
demonstram
suas
características,
valores,
comportamentos e ideologias. As entrevistas realizadas puderam verificar como ocorre esse
processo e resultaram em proposições interessantes, apresentadas logo mais.
As entrevistas aconteceram da seguinte maneira: iniciava-se fazendo a seguinte pergunta
ao indivíduo: “Você tem algum ou alguns objetos que você acredita que falem algo sobre
“quem é você”? Ou seja, que falem algo sobre você e seus valores, ideais, etc.” Em seguida
o mesmo apontava alguns objetos, tais como óculos de sol e relógio, e pedia-se que se
explica o porquê de terem citado tais objetos.
Apesar da idade e classe social dos entrevistados serem bem próximas, houve variação
quanto ao entendimento da pergunta. Uma parte entendeu claramente o que a pergunta
queria, por já ter consciência desse processo na hora de escolherem seus objetos. Nesses
casos, as respostas obtidas foram absolutamente relevantes com o que se pretendia para
essa pesquisa. Já com relação a outra parte, a que sentiu dificuldades em entender a
questão, possivelmente por não estarem conscientes do processo, não foram obtidas
respostas diretas interessantes, mas as discussões que foram feitas acrescentaram
bastante ao estudo, por suscitar hipóteses bastante relevantes sobre a relação objeto,
indivíduo e identidade e sobre a afirmação de que, na contemporaneidade, os indivíduos
manifestam seus valores através de seus objetos. Enquanto que para alguns parece ser
natural a expressão de seus valores através de seus objetos, para outros não passa de
discurso de marketing e que isso não vale para eles. Porém, o fato de não concordarem não
quer dizer que o processo não ocorra com eles... Pode apenas querer dizer que não se
interessam por tais questões, simplesmente devido a sua maneira de ser e ver o mundo.
Todas as entrevistas aconteceram com linguagem bastante informal para que as respostas
pudessem ser as mais espontâneas possíveis.
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A seguir apresento os trechos mais relevantes de algumas das entrevistas.
Entrevistado 1
Idade: 22 anos
Sexo: masculino
Profissão: estudante de engenharia mecânica
Objeto escolhido: Óculos de sol da Subaru
Partes mais relevantes da entrevista:
Palavras do entrevistado quando se perguntou o porquê dele identificar-se com seus óculos
de sol: “Pela cor das lentes e por ser da Subaru. Comprei por ser simples (não muito
ornamentado) e por que queria passar a imagem de que tenho óculos escuros por precisar
deles. Isso inclui a lente azul (principalmente por ser diferente, uma maneira de
diferenciação) que é melhor para anular a luz amarela. Na verdade isso foi um bônus, por
que se não tivesse esse lance eu comprava de qualquer jeito.”
Entrevistado 2
Idade: 25 anos
Sexo: masculino
Profissão: estudante de desenho industrial
Objeto escolhido: Tênis All Star
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Partes mais relevantes da entrevista:
A partir da pergunta do por que da escolha do tênis All Star:
Entrevistado: acho que mostra que eu tenho um estilo mais despojado. Não sei se a cor
faria muita diferença, talvez o material sim. Têm uns de couro que eu não usaria.
Entrevistador: Então tem a ver com o símbolo por traz da marca All Star e do símbolo por
traz do material do tênis... Por exemplo, o All Star com o tecido “x” te remete a algo que te
identifica ... é isso ?
Entrevistado: Não sei se eu daria tanta importância pra que tipo de tecido é. É mais a
aparência mesmo. E o preço também importa. Não gosto de comprar coisas caras por
causa da marca. O All Star é um tênis comum, bonito, com um preço acessível.
Entrevistador: Tem a ver com os valores da marca então -- não é cara, é comum, despojado
e tal...
Entrevistado: Isso
Entrevistado 3
Idade: 23 anos
Sexo: masculino
Profissão: músico
Objeto escolhido: pulseira
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Partes mais relevantes da entrevista:
Entrevistado: Eu tenho uma pulseira que tem um significado pra mim. Eu tenho há muitos
anos. Também é uma marca minha.
Entrevistador: Por que você acredita que essa pulseira fale algo sobre você? Pode-se dizer
que você se identifica com ela ?
Entrevistado: Eu me identifico com ela e sempre usei pra passar mensagens, dizer coisas.
Entrevistador: E por que você se identifica com ela, que mensagens são essas, como você
acha que a pulseira consegue passar isso? Seria através das características estéticas dela,
por algum símbolo que você acha q ela carregue, algo assim?
Entrevistado: É uma pulseira vermelha. O vermelho pode remeter a sangue e é uma forma
de mostrar que eu tenho "sangue nas veias". Traduzindo, eu tenho vida dentro de mim,
amor pela vida, eu preciso viver.
Entrevistado 4
Idade: 21 anos
Sexo: masculino
Profissão: estudante de design
Objetos escolhidos: esculturas, relógio, chapéu
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Partes mais relevantes da entrevista:
Entrevistado: Bom, eu tenho três esculturas sobre as minhas mesas, que elas falam um
pouco de mim. Duas são esculturas realistas, uma de um cavalo e uma de um garoto
pegando água do poço. São bem tradicionais, que acho que mostram meu lado tradicional
por preferir mais realista do que abstrato. Mais familiar talvez. Mas em contrapartida, eu
tenho uma caveira, que acho que mostra a minha vontade de mostrar meu lado um pouco
mais rebelde e descontraído, eu tenho esses dois lados. Mas a caveira é mais uma coisa
que transmite não status, mas uma característica pessoal minha sabe? Meu chapéu
também. É algo que pode transmitir estilo, não é necessário, mas eu tenho ele meio que pra
isso, sabe? Estilo, um estilo mais clássico.
Entrevistador: Entendi; é um estilo que já carrega certos valores, valores que você aprecia e
veste eles é isso ?
Entrevistado: Sim, exatamente. Também tenho um relógio que eu gosto. É um relógio
assim, que eu uso ele pra demonstrar status também. Financeiro e de bom gosto. Pra
mostrar que eu tenho bom gosto e que talvez eu tenha dinheiro, o que é mentira hahahahaa
(risadas). E ele também é um modelo clássico.
Entrevistado 5
Idade: 26 anos
Sexo: masculino
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Profissão: designer gráfico e estudante de filosofia
Objetos escolhidos: isqueiro e fone de ouvido
Partes mais relevantes da entrevista:
Entrevistado: Eu particularmente tenho um zelo muito grande por algumas coisas que tenho.
Não sei se elas chegam a dizer quem eu sou, mas talvez digam meus gostos e minhas
preferências. Eu tenho um isqueiro francês da S.Dupont. Ele é antigo, provavelmente dos
anos 60. Mas ainda conserva seu charme, folheado a ouro. Ainda funciona perfeitamente,
mas eu obviamente não uso, fica guardado na minha gaveta. Tenho muitos Bics pra fazer o
trabalho diário.
Entrevistador: E o que você acha que ele fala sobre você, por apresentar essas
características e você gostar delas?
Entrevistado: Olha, eu até posso fazer esse tipo de leitura, mas não sei se alguém olhando
para o isqueiro faça o mesmo tipo de avaliação. Eu poderia dizer que gosto de
exclusividade, já que é um isqueiro raro e sempre feito com versões limitadas. Também
poderia dizer que eu tenho uma fascinação pela nobreza, pelo clássico. Logicamente
também diz que eu sou um fumante, rsrs (risos).
Entrevistador: É uma maneira de diferenciação sua perante os outros certo?
Entrevistado: Acho que sim. É claro que tudo isso acontece de maneira muito sutil. Quando
eu comprei o isqueiro em um leilão, não pensei em nada disso. Pensei apenas que ele era
lindo e que eu precisava tê-lo. Na época custou +- 20% do meu salário, mesmo usado, a
individualidade é uma coisa que surge no dia a dia involuntariamente. É claro que hoje a
customização de certa forma abre um pouco mais possibilidade, por exemplo, hoje tanto
nike, vans e adidas, é só entrar no site e montar o tênis do jeito que você quiser. Eles fazem
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e entregam na sua casa. Você não precisa mais comprar um objeto que está na prateleira.
Você pode fazer um de acordo com as suas preferências.
Entrevistador: E além do isqueiro você tem algum outro objeto desse tipo?
Entrevistado: Cara, eu sou muito preciosista com algumas coisas que eu tenho. Por
exemplo, algumas coisas ficam separadas das outras. Eu tenho um fone da Skullcandy. um
lowrider muito loco. Fica só na gaveta também.
Entrevistador: esse fone da Skullcandy te identifica por ser dessa marca ou por ter alguma
outra característica?
Entrevistado: Eu adoro a marca. Isso não nego, mas é porque ele é roxo (uma das minhas
cores preferidas), e é todo acolchoado. eu que adoro ouvir músicas posso ouvir muito tempo
sem que machuque a orelha.
Entrevistador: Tirando essa questão da funcionalidade dele, então você se identificou
através dos valores embutidos na marca e da cor roxa então, É isso?
Entrevistado: Exatamente. A Skullcandy por exemplo tem justamente esse tipo de foco.
Público jovem, meio underground, que pratica esporte.
Entrevistado 6
Idade: 20 anos
Sexo: feminino
Profissão: estudante de publicidade e rádio e TV
Objeto escolhido: relógio
Partes mais relevantes da entrevista:
Entrevistada: Acho que meu relógio
Entrevistador: Você acha que é por causa da marca dele, do estilo, da cor ou o quê?
Entrevistada: Minha cor favorita, rosa! É simples, sem muito enfeite, e eu gosto dele.
Entrevistado 7
Idade: 23
Sexo: masculino
Profissão: designer de interfaces digitais
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Objeto escolhido: óculos de sol
Partes mais relevantes da entrevista:
Entrevistado: Tenho um óculos de aviador, que exprime minha preferência pelo retrô, exalta
acho que a minha personalidade mais forte e tal.
Entrevistador: Essa sua preferência então mostra que característica sua? Preferir retrô
significa o que exatamente pra você?
Entrevistado: Bom, sou apaixonado pelos 70s e 80s! Não é muito a nossa geração, mas é
bacana! Acho q influência dos meus pais e da mídia.
Entrevistador: Qual valor que você acha que esse estilo carrega pra você? Se alguém vê
você com esses óculos, a pessoa deve achar que você é como? Tem qual jeitão?
Entrevistado: Nunca pensei por esse lado hahaha (risos). Acho que... imponente.
Entrevistador: Então, imponência é um valor, uma característica que você deseja ou que
você gosta de possuir, certo?
Entrevistado: Sim! Acho q o óculos me deixa sempre imponente, mesmo eu não sendo
sempre assim!
A partir dos dados obtidos com as leituras, discussões e entrevistas podemos dizer que:
- A maneira com que cada indivíduo lida com essa questão de identificação com seus
objetos varia bastante. Com mais indagações talvez seja possível verificar padrões de
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comportamento através de características como idade, sexo, profissão, classe social, local
em que vive, etc.
- O grau de conscientização com relação ao papel dos objetos como identificadores dos
indivíduos também varia. Enquanto há pessoas totalmente conscientes, há pessoas que não
percebem esse fato.
- Varia a capacidade que os objetos têm para que os indivíduos se identifiquem com eles.
Existem objetos que possuem alta capacidade e outros que possuem baixa capacidade.
Relógios e óculos de sol, por exemplo, apresentaram nessa pesquisa uma alta capacidade
para desempenhar essa função. No entanto, a capacidade de cada objeto, para
identificação também varia de pessoa para pessoa, ou seja, enquanto que para alguns o
relógio serve como identificador, para outros o mais importante é a sua função de mostrar as
horas, o que faz com que o indivíduo não o utilize por se identificar, mas sim pelo uso
prático do relógio.
- A eficiência com relação ao quanto que o objeto identifica o indivíduo também varia
bastante. Há casos em que o objeto pode simbolizar perfeitamente o que o indivíduo quer,
mas também o indivíduo pode escolher um objeto por falta de uma opção que lhe sirva
melhor. Portanto ele estaria mais “não dizendo” algo que ele não queira dizer, do que
dizendo algo que ele quer que seja dito (o que não deixa de ser uma maneira de
identificação, pois a questão simbólica está sendo relevada, ainda que de maneira sutil. Não
ser algo, também significa ser um outro algo).
- A relação entre o objeto e o indivíduo, portanto, é um processo bastante específico para
cada caso. Estabelecer proposições gerais sobre essa relação é uma tarefa complexa,
sendo difícil estabelecer regras absolutas.
- As marcas desempenham bem o papel de identificadores, porém varia muito o potencial
que elas têm, de acordo com sua força. Se a marcar for forte, seus valores estarão
impregnados em seus objetos, porém se a marca não for forte, ela torna-se irrelevante,
tornando as características estéticas do objeto, como sua cor, materiais, texturas e formas, o
fator de maior relevância para algum possível processo de identificação com ele.
- As cores dos objetos podem apresentar alto valor simbólico para os indivíduos, podendo
remeter tanto a questões pessoais (como no caso da pulseira vermelha do entrevistado 3),
quanto a questões sociais.
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Conclusão
Podemos concluir que o indivíduo contemporâneo se identifica com seus objetos através de
questões simbólicas. Seja através da marca ou de alguma característica estética do objeto,
a identificação com o objeto pode ocorrer de duas maneiras: ou de maneira pessoal, quando
a importância do símbolo é somente para o próprio indivíduo, sendo indiferente o que os
outros pensam sobre. Ou de maneira social, quando a importância do símbolo é de
convenção de algum grupo de indivíduos, ou seja, o que importa é o que o grupo pensa
sobre.
Varia a maneira com que cada indivíduo lida com seus objetos e para sabermos se um
objeto está identificando um indivíduo, é necessário estudar o caso em especial para não
cometer enganos como achar que o indivíduo possui tal objeto por se identificar com uma
característica “X” dele, quando na verdade ele o tem apenas por não haver escolha. Por
exemplo, por falta de oferta de outras opções no mercado, ou por limitações relacionadas a
condição financeira.
Os resultados apresentados nessa pesquisa se mostram relevantes para auxiliar no design
de novos produtos, pois descrevem alguns processos com que os indivíduos se identificam
em seus objetos com exemplos reais, obtidos através de entrevistas. Ela também fornece
dados e questionamentos necessários para que o objeto a ser desenvolvido atenda às
expectativas do indivíduo contemporâneo em sua busca por identificação através dos
objetos.
Referências
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DE MASI, Domenico. A sociedade pós-industrial. São Paulo: Senac SP, 1999.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006
HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1992.
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do dia-a-dia. Rio de Janeiro: Editora Rocco Ltda., 2004
OKAMOTO, Jun. Percepção Ambiental e Comportamento. São Paulo: Pleiade, 1996.
RICCETTI, Teresa Maria. A Paisagem Doméstica: a relação do homem com sua morada.
Dissertação de Mestrado: São Paulo: FAU USP, Universidade de São Paulo, 1999.
SUDJIC, Deyan. A linguagem das coisas. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010
Contato: [email protected] e [email protected]
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