ID: 48438578 27-06-2013 Tiragem: 45684 Pág: 11 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 16,22 x 30,41 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 2 Mais de um quinto dos doentes com cancro operado fora dos prazos previstos na lei Hospitais Alexandra Campos e Romana Borja-Santos No global, a lista de espera para cirurgia melhorou no ano passado, mas na área mais sensível, a do cancro, ainda há muito a fazer A conclusão global é positiva: em 2012 conseguiu-se o melhor valor de sempre no tempo de espera por cirurgias no Serviço Nacional de Saúde (SNS), com a maior parte dos hospitais a conseguir tratar os doentes em apenas três meses, bem abaixo do prazo máximo de nove meses previsto na lei. Mas, quando se analisam com mais atenção os dados do Relatório da Actividade Cirúrgica Programada, ontem divulgado, percebe-se que os resultados ainda deixam muito a desejar na área mais sensível, a do cancro: no ano passado, mais de um quinto dos doentes oncológicos (21,7%) foi operado acima do tempo máximo recomendado na legislação, e, entre estes, 15,3% eram mesmo considerados prioritários. Na oncologia, os tempos máximos de espera previstos na lei são bem mais curtos do que nas outras áreas — oscilam entre os dois meses e os 15 dias, consoante a gravidade do caso. O problema é que, se em 2012 a percentagem dos doentes tratados fora do prazo legal diminuiu face ao ano anterior, a proporção dos prioritários operados fora do prazo aumentou (era de 13,6% em 2011). “Actualmente já conseguimos gerir bem o tratamento das situações normais. Agora, o grande desafio é fazer isso também na área oncológica, onde não temos melhorado tanto quanto gostaríamos”, admitiu ao PÚBLICO Pedro Gomes, o cirurgião que coordena o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia, programa lançado em 2004 para combater as listas de espera. “No cancro é preciso tratar depressa, mas alguns hospitais têm dificuldade em articular os vários exames necessários [antes das cirurgias], como TAC, ressonâncias”, por isso se ultrapassam os prazos para cirurgias, explicou. Um outro fenómeno que surpreendeu os especialistas foi o de que diminuiu em 2012 o número de doentes com tumores malignos submetidos a cirurgias, quando a evolução demográfica faria antecipar justamente o contrário, devido ao envelhecimento da população e aumento das neoplasias. Um mistério que está a ser investigado, revela Pedro Gomes, que presume que isto possa eventualmente estar relacionado com problemas de acesso às primeiras consultas, no caso de doentes que residem no interior do país, porque o tratamento do cancro se faz sobretudo nos grandes centros. “Não sei se as dificuldades de deslocação e os encargos que os doentes passaram a ter com os transportes terão contribuído para retirar alguma procura. Se estes doentes estiverem a chegar mais tarde aos hospitais, podem estar a chegar com neoplasias em estádios mais elevados, já sem indicação para cirurgia”, reflecte. De resto, o relatório ontem divulgado permite concluir que o acesso 166.798 pessoas estavam inscritas à espera de uma cirurgia em 2012, menos 7,5% do que em 2011, e menos 24,6% face a 2006 a cirurgias não diminuiu, como sucedera em 2011, quando houve um agravamento da lista de espera. Pelo contrário, em 2012 registou-se um ligeiro aumento, destaca Pedro Gomes. Quando a comparação é feita com anos anteriores, a evolução é mesmo muito positiva: os dados mostram que, no global, em 2012 houve 534.415 operados, quando em 2006 eram 345.321, o que representa um crescimento de quase 50%. Quanto às listas de espera, “apesar das restrições” financeiras, nota ainda, foi possível melhorar até a situação, também porque foram encaminhados mais casos para hospitais convencionados, com protocolo ou em regime de parceria público-privada (PPP), que operaram cerca de 89 mil doentes no ano passado (em 2006 tinham sido 26 mil). Assim, neste período mais do que triplicou o número de doentes intervencionados fora dos hospitais do SNS. Numa reacção ao relatório, o secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde preferiu realçar à Lusa a “diminuição significativa” da percentagem de pessoas que não foram operadas dentro do tempo ideal na produção normal, bons resultados que atribuiu em parte significativa ao aumento das cirurgias em ambulatório. Segundo o governante, “se bem que exista ainda um conjunto de pessoas que não foram operadas dentro do tempo ideal, esse número está a diminuir de ano para ano”. “Mesmo na oncologia, onde, de 2010 para 2011, tinha existido algum agravamento [nas listas de espera], neste momento [isso] já está a ser corrigido”, salientou. Entre as várias regiões do país continuam também a existir assimetrias, com os doentes do Algarve a esperarem em média 4,2 meses, quando no Norte só se espera 2,3 meses. No centro, a espera é de 3,6 meses, em Lisboa e Vale do Tejo, de 3,4 e no Alentejo, de 2,5. Quanto às cirurgias feitas fora do tempo, a situação é mais frequente no centro (23,7%), seguindo-se Lisboa e Vale do Tejo (18,7%), Algarve (19,6%), Norte (6,7%) e Alentejo (6,3%). “Os utentes que mais tempo esperaram foram os residentes nos distritos de Setúbal e Faro, ambos com medianas [casos mais frequentes] acima dos quatro meses. No pólo inverso, Braga, Beja, Porto e Viana do Castelo são os distritos com menores medianas do tempo de espera”, lê-se no relatório. ADRIANO MIRANDA Diminuiu o número de doentes com tumores submetidos a cirurgias ID: 48438578 27-06-2013 Tiragem: 45684 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 5,03 x 4,25 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 2 Doentes com cancro operados fora dos prazos legais Mais de um quinto dos doentes oncológicos foi operado acima do tempo máximo, diz relatório p11