COMPOSTAGEM DE GLICERINA RESIDUAL COM RESÍDUOS ORGÂNICOS E LODO DE ESGOTO Sabine Robraa, Luiz Frederico Cavalcanti de Andradeb, Rosenira Serpa da Cruzc, José Adolfo de Almeida Netod Introdução A glicerina obtida no processo de produção de biodiesel de óleos e gorduras residuais (OGR), possui baixo valor agregado, devido a presença de impurezas na matéria-prima original. Para que a glicerina alcance níveis de pureza compatíveis com a demanda das aplicações industriais, são necessários processos de purificação complexos e de alto custo que nem sempre apresentam uma relação custo/benefício favorável. A glicerina residual, devido a seu alto teor de carbono de fácil degradabilidade, pode ser apropriada para a valorização através da compostagem com materiais de alto teor de nitrogênio, como o lodo ativado e os resíduos de alimentos, favorecendo uma relação C/N ideal (3035:1)1,2 para os microorganismos. O objetivo dessa etapa da pesquisa foi avaliar qualitativa e quantitativamente a introdução da glicerina residual no processo de compostagem. Na Tabela 1 é mostrada a relação C/N da matéria-prima. Devido ao alto teor de nitrogênio dos materiais usados, a relação C/N está próxima do limite inferior de 20. Com a adição do 5 % da glicerina, a relação C/N ultrapassa o ideal de 35. Já com 10% e com 15% de glicerina, a relação C/N está acima do ideal e deve reduzir a velocidade de decomposição do processo de compostagem. °C 80 0% 5% 10% 70 15% tendência 0 % tendência 5 % 60 tendência 10 % tendência 15 % 50 40 30 20 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Días Figura 4 - Curva de temperatura x tempo . Vol.-% 100,0 0% 5% 10 % 90,0 15 % Materiais e Métodos 80,0 O experimento foi conduzido com base no processo de compostagem utilizado no Hotel Transamérica (HT), na Ilha de Comandatuba. Foram montadas 12 pilhas com aproximadamente 400 kg (1,4 m³), com as seguintes matérias-primas: corte de grama do campo de golfe, restos de alimentos da cozinha, palha de coqueiro, composto maturado e o lodo ativado da estação de tratamento dos esgotos sanitários (Figura 1) adicionando-se três proporções (5, 10 e 15 %m) de glicerina de OGR. As pilhas foram reviradas, nas duas primeiras semanas, de dois em dois dias e, até o final da fase termofílica, de cinco em cinco dias. Na fase final de maturação, as pilhas não foram reviradas. palha de coco 5% composto maduro 10% lodo ativado 4% resíduos de verduras/frutas 10% corte de grama 57% Figura 2 - Mistura dos materiais do composto 60,0 50,0 40,0 30,0 0 Matérial % do peso Relação C/N (estimado pelos dados da literatura) Relação parcial C/N Corte de grama 56,5 15 8,5 Composto maduro 10,1 20 2,0 Lodo ativado 3,6 6 0,2 Resíduos de comida 14,3 18 2,6 Resíduos de verdura/frutas 10,5 20 2,1 Palha de coco 5,1 100 5,1 total 100 Glicerina* 20,5 350 total com 5% glicerina 38,0 total com 10% glicerina 55,5 total com 15% glicerina *) calculado 73,0 4 6 8 10 13 15 17 20 23 25 27 30 34 38 Figura 5 - Perda de volume das pilhas de composto Conclusão Figura 3 - Pilha de composto após um dia O processo de compostagem foi controlado pelas variáveis: temperatura (medida diariamente em três posições na pilha: na base, no meio e no topo, figura 4), perda de volume (estimada através do diâmetro da base e da altura do topo, figura 5). Resultados e discussão Tabela 1 - Relação C/N da matéria-prima3,4 antes e depois da adição de glicerina 2 Días resíduos de comida 14% Figura 1 - Composição do composto (m%) 70,0 As pilhas com 0% de glicerina tiveram uma subida brusca da temperatura média, até atingir a temperatura máxima de 75°C, caindo suavemente até o final da quinta semana. Nas pilhas com glicerina (5, 10 e 15%m), foi identificada uma camada de fungos, provavelmente associada à baixa umidade do material. A falta de umidade provocou uma subida mais lenta e um valor máximo de temperatura média menor nessas pilhas. Do meio para a fase final do processo, após a correção da umidade, observou-se que as pilhas com 10 e 15%m de glicerina voltaram a apresentar alta atividade microbiana, constatado através das altas temperaturas médias verificadas (acima de 60°C). A adição da glicerina elevou tanto o teor do carbono de fácil digestão quanto o de matéria seca, tornando mais difícil o manejo das variáveis de processo: umidade, temperatura e aeração. As pilhas com 5%m, apesar da limitação relativa de umidade, apresentaram comportamento próximo do ideal. A maior lentidão do processo nas pilhas com 10 e 15%m foi provavelmente devida à combinação dos fatores relação C/N elevada e baixa umidade. Desde que esses fatores sejam monitorados, a compostagem poderá ser uma alternativa utilizada para o aproveitamento da glicerina residual como adubo. Literatura 1) http://www.awm.muenchen.de/privatkunde/br_komp.pdf Acesso em 30/05/2003. 2) http://www.gab.barnim.de/download/Kompostierung.pdf Acesso em 30/05/2003. 3) http://www.viking-garden.comtipstricks/c_n.htm Acesso em 30/05/2003. 4) http://www.swo-network.org/pdf/cnverhaeltnis.pdf Acesso em 30/05/2003. a) Engenheira Agrícola, Universidade de Kassel, Departamento de Engenharia Agrícola, Witzenhausen, Alemanha, tel.: (73) 680-5274 – e-mail: [email protected] b) Engenheiro Agrônomo, Hotel Transamérica Ilha de Comandatuba, Una-BA, tel.: (73) 686-1122 – e-mail: [email protected] c) DS em Química, Universidade Estadual de Santa Cruz, Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas, Ilhéus-BA. tel.: (73) 680-5274 – e-mail: [email protected] d) MS em Engenharia Agrícola, Universidade Estadual de Santa Cruz, Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais, Ilhéus-BA, tel.: (73) 680-5274 – e-mail: [email protected]