FÓRUM PERMANENTE “DESAFIOS DO MAGISTÉRIO”:
CULTURA DO PROFESSOR E A TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO
Unicamp & Acorde
MESA REDONDA: Cultura, Educação e Vida dos Professores
Convidados:
Nereide Saviani (Universidade Católica de Santos e PUC-SP)
Roseli Cação Fontana (FE/Unicamp)
Coordenador:
Dario Fiorentini (FE/Unicamp)
Terry Eagleton (2004) - Cultura e suas significações
Defende uma concepção de cultura que explore o sentido amplo de
linguagem, identidade, símbolo, tradição, comunidade... de modo a
problematizar as contradições sociais, sobretudo a condição
humana subjacente às diferentes culturas.
Pérez Gómez (2001) - Conceito de cultura escolar:
conjunto de significados e significações gerados no âmbito da
escola como instituição social o qual inclui tradições, costumes,
rotinas, rituais, procedimentos, valores, conhecimentos, crenças...
Cultura Escolar - cruzamento complexo de várias culturas:
• cultura social;
• a cultura institucional;
• a cultura acadêmica-disciplinar;
• a cultura crítica;
• a cultura experiencial.
Algumas questões
Focando a construção/desenvolvimento da cultura escolar e docente
• Como o professor participa da construção da cultura escolar e
de sua cultura profissional?
• Que espaços e tempos participam da construção da cultura
docente?
• Qual tem sido o papel da universidade e dos formadores de
professores na produção e transformação da cultura escolar?
• Quais os desafios da formação inicial e continuada de
professores como produtores de uma cultura escolar vida e
aberta/capaz a estabelecer uma interlocução crítica
(problematizadora e criativa) com as diferentes culturas do
passado e do presente?
• Que experiências alternativas estão sendo gestadas entre
universidade e escola, tendo em vista a construção conjunta
dessa cultura escolar?
Pressuposto:
O professor não apenas constrói/desenvolve saberes e a
cultura escolar/profissional, mas, também, é construído e
desenvolve-se a partir deles
três dimensões espaço-temporais em que ocorre o processo de
construção da cultura escolar/docente:
1) Ao longo da vida (a formação do professor ocorre através de
múltiplas práticas sociais e culturais dentro e fora das
instituições educativas) ;
2) No âmbito das práticas escolares (como aluno ou como
professor);
3) Nos processos de formação profissional (inicial e
continuada).
Relações entre
Cultura acadêmica e Cultura escolar ou docente
Todos concordam que a teoria é importante, mas e a prática? Será
que tudo funciona como estudamos na Universidade? Não, as
coisas não funcionam assim e eu tive muitas dificuldades até
entender isso. A faculdade não nos prepara para enfrentar vários
problemas que acabamos tendo de enfrentar depois que
começamos a lecionar (Prof iniciante) [Rocha, 2005]
Tem momentos, no dia–a–dia da sala de aula, que estou sozinha
lutando para que meus alunos gostem e aprendam Matemática.
Muitos cursos, artigos ou livros discutem assuntos que parecem ser
baseados em alunos perfeitos, ideais e ficam distantes da realidade
do adolescente da minha escola (Prof experiente – GEPFPM, 2003).
A pesquisa acadêmica “não entra ou pouco entra na sala de aula,
porque os professores, na verdade, estão se formando mais com os
outros professores dentro das escolas do que nas aulas das
universidades ou dos institutos de formação. Os professores
costumam dizer que a investigação não serve para eles...”. (Charlot)
Principais problemas e insatisfações apontadas pelos
docentes (Pesquisa GEPFPM, 2003):

Problemas relacionados às condições estruturais e à gestão
escolar;
A falta de trabalho em equipe na própria escola;

A indisciplina e a falta de interesse dos alunos;

...
“ensinar Matemática a alunos que não querem aprender nada,
pois falta a eles interesse, perspectiva, cultura, equilíbrio
emocional e familiar” (Docente P22).
... conquistar o aluno que não quer aprender, que não quer vir
para a escola (e nem) aprender Matemática (...) Tento de “tudo”,
desde jogos, material concreto, resolução de problemas,
trabalho de pesquisa de campo, até teatro ultimamente tenho
feito (Docente P11).
Que soluções vislumbram os professores brasileiros?
... Gostaria de ter um lugar ou alguém que pudesse mostrar
caminhos alternativos para melhorar a minha aula e que também
pudesse me animar quando tudo parecesse que perdeu a
importância, o valor... Tem momentos, no dia–a–dia da sala de
aula, que estou sozinha lutando para que meus alunos gostem e
aprendam matemática. Sugiro que montem grupos de estudo com
os professores que estão na sala de aula do ensino fundamental
ou médio, mas de alguma forma que a Secretaria da Educação
apóie e custeie.(Docente P22).
... Melhorar a vida da escola tendo verdadeiramente grupos
trabalhando em conjunto para um mesmo objetivo. Professores
com número de aulas menores, para que tenham espaço dentro da
escola para se reunir (de verdade) para discutir os problemas e
suas possíveis soluções. (Docente P5).
Cultura/Mundo
Acadêmico
Cultura/Mundo
profissional dos
professores
Coloconização
Trabalho
Colaborativo:
X
Endogenia
Diálogo
cultural,
científico
profissional
Quemetem
a
tendo
como foco:
solução?
Busca
Visa
• Qualificar profissionais
com abstrações e
prescrições;
• A prática vista como
ideal, previsível;
• Produzir/socializar
conhecimentos;
• Desenvolvimento
curricular a partir da
pesquisa.
• Competência no
Problemas e
desempenho docente
desafios do trabalho (mobilização de saberes)
docente
[Complexo,
imprevisível 
Apresenta
resistências à
racionalidade
científica]
• Melhoria da prática e
desenvolv. curricular ;
• Desenvolvimento dos
professores;
• Buscam visibilidade e
reconhecimento social.
Ressignifica
• Reflexão Compartilhada
• Pesquisa co-generativa
Construção de uma nova cultura profissional
Na contra-mão das
políticas neoliberais
que visam formação
continuada em grande
escala
A dimensão formativa das práticas reflexivas e Investigativas
na formação inicial e continuada de professores
REFLEXÃO
&
Busca de sentido e
compreensão sobre
• Nós  nossas idéias, crenças e
saberes adquiridos ao longo da vida
• Sobre nossas práticas com os outros
 reflexão compartilhada.
• Sobre o mundo que vivemos –
abarcando a totalidade social, política
e histórica das práticas educativas.
 Pode ser enriquecida mediante
interlocução entre diferentes
profissionais e com teorias e
resultados de pesquisa.
INVESTIGAÇÃO
Busca de compreensão
profunda sobre
• Um foco ou uma questão
específica identificada pela
reflexão e que instiga a
curiosidade do licenciado ou do
professor.
• Exige distanciamento da ação
e um processo mais sistemático
de busca de respostas.
• Pode ser individual ou
colaborativa [co-generativa] .
Pesquisa Colaborativa - Uma forma de aliar investigação e reflexão.
Algumas experiências de práticas reflexivas
e investigativas na formação inicial
Desenvolvimento de projetos investigativos na escola pelos
licenciandos durante a prática de ensino e estágio. O foco de
investigação é primeiramente a prática de outro docente e,
posteriormente, sua própria prática.
 Desenvolvimento de projetos colaborativos envolvendo
Professores, licenciandos, formadores universitários (GdS):
• Os professores trazem o saber da experiência e o desafio de
ensinar Matemática nos diferentes contextos;
• Os professores universitários entram com os conhecimentos
teóricos e metodológicos;
• Os licenciandos com suas habilidades em informática e seus
sonhos e entusiasmo.
• Desenvolvimento de textos e narrativas reflexivas sobre
experiências exploratório-investigativas de ensino de Mat.
 Os licenciandos desenvolvem o habitus do trabalho colaborativo
(reflexivo e investigativo).
Docência e Investigação
na Formação Contínua De Professores
• Aliança entre formadores e professores em torno de práticas
investigativas e reflexivas sobre problemas e desafios dos professores
escolares  investigação COM professores.
• Pesquisa co-generativa (Greenwood & Levin): geração conjunta de
conhecimentos sobre a prática do ensino da matemática, envolvendo
pessoas com excedente de visão entre si (Bakhtin).
• Os professores escolares podem priorizar questões relativas ao
processo ensino-aprendizagem nas escolas como, por exemplo, as
contribuições da reflexão escrita do aluno sobre a aprendizagem
matemática ou o impacto das explorações ou investigações no
currículo ou na dinâmica das aulas e no desenvolvimento do
pensamento matemático do aluno.
• Os formadores podem investigar questões relativas
 aos processos metodológicos do trabalho colaborativo;
 ao desenvolvimento profissional dos participantes (resignificações de saberes e práticas) nessas práticas;
 aos saberes docentes mobilizados, produzidos ou resignificados nesse processo.
Docência e investigação na formação inicial de
professores de matemática
 Um dos saberes do formador é conhecer – e saber desenvolver
– estratégias ou atividades que favoreçam o desenvolvimento do
professor como profissional reflexivo-investigador e habilitado a
desenvolver investigações sobre a própria prática.
 Uma alternativa é desenvolver com os licenciandos a vivência
de práticas reflexivas e investigativas. Relacionadas ou não às
práticas escolares. Essa vivência desenvolve habitus de projetar
estudos, investigar, escrever, relatar e refletir/discutir seus
resultados e aprendizados.
 Essas práticas contribuem para habilitar o futuro professor a
enfrentar com competência os problemas que surgem em seu
trabalho docente. Pois competências não se ensinam, mas podese aprendê-las a partir da reflexão/investigação sobre a prática.
 Todas essas práticas formativas fazem parte da atividade do
formador, portanto, são seus objetos possíveis de investigação.
Seria uma forma de investigar a própria prática como formador.
Concluindo
Tendo em vista a contribuição da universidade na produção e
transformação da cultura escolar, a universidade e os
formadores de professores precisam:
 conceber o professor ou o futuro professor como um
parceiro e estudioso do processo educativo;
 reconhecer que o professor da escola tem um saber que não
é superior nem inferior ao seu, apenas diferente, e que o
formador pouco conhece por não viver a condição docente;
 perceber que a aliança/parceria entre formadores e
professores em torno de projetos investigativos sobre
problemas e desafios da prática profissional pode co-gerar
um saber profissional que é relevante para ambos.
 Reconhecer que a investigação co-generativa (ou
interlocução entre profissionais com saberes diferentes) é
uma poderosa alternativa de formação/desenvolvimento do
professor, da cultura escolar, do licenciando e do próprio
formador.
• A investigação co-gerativa apresenta, assim, uma dimensão
formativa e emancipativa do professor, pois formadores e
professores não aprendem apenas o que e como fazer
(perspectiva da prática - nível de competência), mas também os
porquês e a compreensão do significado desse fazer
(perspectiva da teoria - nível da qualificação profissional).
 Carr e Kemmis (1988), para superar a principal limitação dos
professores que é a sua reduzida autonomia profissional,
propõem que os próprios professores construam coletivamente
uma teoria de ensino por meio da reflexão crítica e da
investigação sobre seu próprio trabalho e sobre seus
conhecimentos.
 Apoiados em Stenhouse, defendem também que
“os professores devem ser usuários críticos e reflexivos do saber
elaborado por outros investigadores e estabeleçam
comunidades autocríticas de docentes-investigadores que
desenvolvam sistematicamente um saber educacional que
justifique suas práticas educativas” (p.199).
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Apresentação