1 A FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR PARA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA REDE MUNICIPAL DO RECIFE Helidiane Souza de Lima1 Tícia Cassiany Ferro Cavalcante2 RESUMO Este trabalho tem como objetivo identificar as principais necessidades dos profissionais da educação básica em relação à inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino. Foram realizadas entrevistas com roteiro semi-estruturado com professores do ensino fundamental da rede Municipal da Cidade do Recife – PE. A análise foi realizada com base no conceito de Núcleos de Significação, após transcrição, na íntegra, de todas as entrevistas. Os resultados demonstraram que os professores abordam, sobremaneira, a necessidade de formação continuada para educação inclusiva. Nos seus discursos, verifica-se que a “inclusão” parece se resumir somente a matrícula e permanência do aluno, além disso, os participantes citaram a falta de apoio estrutural, especializado e formativo. Faz-se necessário a implementação de políticas publicas e planejamento educativo inclusivo. Palavras-chave: formação continuada; educação inclusiva; políticas públicas 1. INTRODUÇÃO Esse estudo tem como ponto de partida a reflexão sobre a inclusão, bem como sobre a interação entre professor e alunos que favoreça o processo de inclusão em ambiente escolar. A questão relaciona-se diretamente com a formação continuada de professores e equipes pedagógicas. A idéia de trabalhar com esse tema surgiu da experiência com um aluno com necessidades educacionais especiais. Esta experiência deu-se no início da atuação profissional da primeira autora, como professora da rede municipal do Recife; recém formada em magistério, primeiro emprego e um desafio enorme: trabalhar com um aluno 1 Concluinte do Curso de Graduação em Pedagogia – Centro de Educação – UFPE. [email protected] 2 Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Orientação Educacionais – Centro de Educação – UFPE. [email protected] 2 com necessidades educacionais especiais, sem laudo, sem apoio de profissionais, sem uma posição da rede municipal e sem a mínima formação e/ou capacitação em educação inclusiva. Contava com as poucas aulas do curso de magistério, sobre educação especial, e pesquisas investigativas realizadas por interesse próprio. Isso levou a reflexão sobre a qualidade da educação inclusiva oferecida pela rede e a situação do profissional para trabalhar com inclusão. Muitos destes profissionais alegam não se sentirem preparados para esse processo de inclusão e, muitas vezes, esse despreparo é evidenciado nas feições dos professores sobre as diversas facetas da prática educativa, o que vem determinar atitudes negativas no que se refere à inclusão. Sendo assim, é preciso considerar quais as metodologias, atitudes e procedimentos devem ser utilizados pelos professores nesse novo olhar do processo educativo. Para isso, é preciso que haja um questionamento do entendimento do professor sobre inclusão, como encara sua prática, como concebe seus alunos, que função julga desempenhar. A necessidade de preparação adequada dos professores, esta recomendado na Declaração de Salamanca (Brasil, 1994) e na atual LDB (Brasil, 1996) como fator fundamental para a mudança em direção às escolas integradoras. No artigo 59 inciso III da LDB vem falando da importância deste aspecto como pré-requisito para a inclusão, ao estabelecer, que os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais, “[...] professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns”. O movimento pela inclusão escolar é um tema discutido em todo o mundo, e no Brasil, o tema teve inicio a partir da participação do país na conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jontiem, Tailândia e, principalmente com a Declaração de Salamanca, em 1994, quando os princípios da educação inclusiva ficaram mais claros. A necessidade de preparação adequada dos professores, esta recomendado na Declaração de Salamanca (Brasil, 1994) e na atual LDB (Brasil, 1996) como fator fundamental para a mudança em direção às escolas integradoras. No artigo 59 inciso III da LDB vem falando da importância deste aspecto como pré-requisito para a inclusão, ao estabelecer, que os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades 3 especiais, “[...] professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns”. No momento em que a orientação inclusiva vem tratar de um ensino adequado às diferenças e às necessidades individuais, a implantação da educação inclusiva tem se deparado a limites e dificuldades, em decorrência da falta de formação dos professores para atender às necessidades educacionais dos alunos, além da precariedade da infra-estrutura e de condições materiais para o trabalho pedagógico junto a crianças com deficiência. O que tem colocado em discussão, a ausência de formação dos educadores para trabalhar com a inclusão, e isso se torna um sério problema na implantação de políticas desse tipo. Diante desse quadro, torna-se importante que os professores sejam instrumentalizados a fim de atender às peculiaridades apresentadas pelos alunos. Esse trabalho tem como objetivo identificar as principais necessidades dos professores da educação básica da rede municipal do Recife em relação à inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino. Além disso, objetiva-se analisar no discurso do professor se ocorre a inclusão nas escolas públicas municipais, bem como verificar a receptividade dos professores diante do paradigma de educação inclusiva e finalmente analisar a partir do discurso do professor, como as práticas pedagógicas e atitudes dos professores favorecem a concepção inclusiva da educação. 1.1. Histórico da Educação Especial. Inicialmente é evidenciada a exclusão da pessoa com deficiência. Marcada pela negligência, na era pré-cristã, em que havia uma completa ausência de atendimento. Existia total descaso, segundo Sassaki (1999), a sociedade simplesmente ignorava, rejeitava, perseguia e explorava essas pessoas, então consideradas “possuídas”. Nos séculos XVIII e meados do século XIX, encontra-se a fase de institucionalização. Nesse período os indivíduos que apresentavam deficiência eram segregados e protegidos em instituições meramente assistencialista, construídas longe das povoações, onde as pessoas com deficiência, afastadas da família e dos vizinhos, permaneciam incomunicáveis e privadas de liberdade. Na década de 80 do século XX, reconheceu-se o direito à igualdade de oportunidades, o direito à integração e o direito à “normalização” das crianças e dos jovens com 4 deficiência, isto é, a sua plena participação numa sociedade para todos, o que correspondeu à intervenção centrada na escola. No ano de 1981, a Organização das Nações Unidas e a Carta para os Anos 80, contribuíram para o aprofundamento das concepções e das práticas referente à inclusão social. A aceitação e a valorização da diversidade, a cooperação entre diferentes e a aprendizagem da multiplicidade são valores que norteiam a inclusão social, entendida como o processo pelo qual a sociedade se adapta de forma a poder incluir, em todos os seus sistemas, pessoas com necessidades especiais e, em simultâneo, estas se preparam para assumir o seu papel na sociedade, já que possuem o direito de ser diferente. 1.2. O direito de ser diferente. Desde os tempos remotos, observa-se algo que une, e ao mesmo tempo separa os homens de todas as raças e credos: as diferenças. Instituem-se padrões, de como ser e se comportar. Aqueles que fogem deles são discriminados e excluídos. Todavia, existe uma premissa básica que expressa a existência humana: nenhum ser humano é igual ao outro; cada um tem as suas próprias singularidades. Cada um de nós é percebido como pessoa, por nossas características individuais, aparência física, origem lingüística, religiosa, cultural e étnica. Uma das questões mais difíceis de lidar, que podem surgir nas relações humanas, é a tendência que muitas pessoas têm em definir as outras em termos meramente negativos, e de atribuir aos grupos a qual estas pessoas pertencem, como inferiores. Como demonstra Carvalho (2004) quando se refere à diferença marcada como deficiência ele diz que: O discurso fundante calcado, numa racionalidade objetiva em torno das deficiências e organizado como retórica social, histórica e econômica gerou, no imaginário social, um sujeito fundado como deficiente, incapaz e improdutivo porque percebido apenas em suas limitações qualquer que seja a manifestação objetiva de sua deficiência. (p.54). A diferença é um valor universal disponível a todos. Entender essa diferença é entender o processo de inclusão. Mantoan (2006) afirma que: “a inclusão propõe a desigualdade de tratamento como forma de restituir uma igualdade que foi rompida por formas segregadoras de ensino especial e regular”. (p.16) 5 A dimensão da igualdade precisa ser compreendida para que não haja a concepção de que devemos ser iguais em tudo. Mantoan (2006) relata que para se alcançar os ideais da igualdade seria necessário eliminar as desigualdades sociais e permanecer com as desigualdades naturais, pois estas são indiferentes aos preconceitos gerados pelas relações de domínio social. O mundo não será totalmente inclusivo de um dia para outro, a inclusão é um processo, ninguém nasce sabendo incluir ou excluir, ela faz parte da educação, desde os primeiros anos de vida aprendemos dentro de uma determinada cultura e valores, com nossos pais, educadores ou colegas. As pessoas têm que aprender a se fazer mais inclusivas. Isso significa mudar, e como isso é algo que decorre do ambiente humano, inclusão implica em mudança de paradigmas, implica no olhar para si e para o mundo sob outro ângulo, basicamente, em lidar com as diferenças. Incluir não é dar lugar ao diferente, é reconhecer que ele sempre teve seu lugar, mas nos recusamos a enxergar. A história da educação especial nos mostra que, o ser diferente ou especial sempre foi rejeitado de alguma forma. Ultimamente, as pessoas ainda têm seu direito de ser diferente negado, uma vez que, eles são excluídos da escola, do mercado de trabalho, e do convívio social; portanto, não são respeitados em seus direitos. A escola se configura em um dos espaços mais marcantes da exclusão. Trabalhando com uma lógica de homogeneidade, que parte do princípio que os iguais devem ser agrupados entre os iguais, ela tem, sistematicamente, excluído de seu espaço todos aqueles considerados muito diferentes, principalmente as pessoas com deficiência. Contra esta lógica, é que se estabelece o paradigma de Inclusão e trabalha-se a construção da escola inclusiva. 1.3. Integração e Educação Inclusiva Os conceitos de integração e inclusão são empregados para expressar casos diferentes de inserção e têm por trás posicionamentos divergentes para a consecução de suas metas. O conceito de integração tem origem no principio da normalização. Esse conceito defendia para as crianças com deficiências, modos de vida e condições iguais ou parecidas 6 com as dos demais membros da sociedade. Sassaki (2003) relata que “a normalização é transferida do meio à criança, ou seja, para que as crianças em situação de deficiência pudessem conviver com os demais em meio “normal”, elas deveriam se “normalizar” o máximo possível”. A idéia da normalização, como foi proposta, implicava não em adotar o indivíduo como “normal”, mas torná-lo capaz de participar naturalmente de uma vida social, inclusive na escola. Ou seja, o processo de integração, visa trabalhar com as deficiências das pessoas para que possam se reintegrar na sociedade como ser produtivo. O aluno tem acesso às escolas através de um leque de possibilidades educacionais, que vai da inserção às salas de aula do ensino regular ao ensino em escolas especiais. Contudo, nem todos os alunos cabem, e os escolhidos para a inserção no ensino regular são os que foram avaliados por instrumentos e profissionais supostamente objetivos. Assim, o princípio se baseia na individualização dos programas instrucionais, os quais devem se adaptar às necessidades de cada um dos alunos, com deficiência ou não. A Inclusão, diferente da integração, é um processo de ajustamento da sociedade às necessidades de seus membros. A escola e toda equipe escolar devem se preparar e se modificar para aceitação de crianças com necessidades especiais. Ela questiona não somente as políticas e a organização da educação especial e regular, mas também o conceito de integração. Esse conceito faz referência à vida social e educativa de todos os alunos sem exceções, todos devem freqüentar as salas de aula do ensino regular. Mantoan (2006) caracteriza a educação inclusiva como: [...] um “novo paradigma”, que se constitui pelo apreço à diversidade como condição a ser valorizada, pois é benéfica à escolarização de todas as pessoas, pelo respeito aos diferentes ritmos de aprendizagem e pela proposição de outras práticas pedagógicas, o que exige ruptura com o instituído na sociedade e, conseqüentemente, nos sistemas de ensino. (p.40) A inclusão trás novas transformações na perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar somente os alunos que apresentam dificuldades na escola, mas apóia a todos: professores, alunos, pessoal administrativo, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. 7 1.4. O que é um sistema escolar inclusivo? As escolas inclusivas devem provocar o respeito mútuo, reconhecendo e respondendo às diversas dificuldades de seus alunos, acomodando os diferentes estilos e ritmos de aprendizagem, assegurando e provendo uma educação de qualidade para todos, mediante currículos apropriados, modificações organizacionais, estratégias de ensino, recursos e parcerias com suas comunidades. Isso implica, ainda, um esforço para a atualização e reestruturação das condições atuais, para que o ensino seja adaptado à diversidade e às ações pedagógicas dos aprendizes. Feltrin (2007, p 64) enfatiza a importância da criança de diferentes faixas etárias e condições sociais relacionar-se na sociedade como uma forma de aprendizado e complementação mútua, convivendo e pensando as diferenças desde a infância. A escola inclusiva não é feita de boas intenções, é constituída de ações concretas, que permitam a todas as crianças o aprendizado. [...] As escolas inclusivas propõem um modo de se constituir o sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas necessidades. A inclusão causa uma mudança na perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar somente os alunos que apresentam dificuldades na escola, mas apoia a todos: professores, alunos, pessoal administrativo, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral (MANTOAN, 1997, p.121). Assim sendo, a construção da escola inclusiva é uma concepção coletiva, que passa por uma reformulação do espaço escolar como um todo, desde espaço físico, dinâmica de sala de aula, passando por currículo, formas e critérios de avaliação. A Inclusão implica no compromisso com o processo educacional por parte de todos que nele estão envolvidos. Embora a inclusão da criança com deficiência na escola regular não seja um fato novo, principalmente em âmbito mundial, é a partir de 1994, com a publicação pela ONU da Declaração de Salamanca sobre princípios, políticas e prática em educação especial, que o termo Educação Inclusiva ganha força, e coloca-se como meta dos países signatários da Declaração, inclusive o Brasil. Nós congregamos todos os governos e demandamos que eles: atribuam a mais alta prioridade política e financeira ao aprimoramento de seus sistemas 8 educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem todas as crianças, independentemente de suas diferenças ou dificuldades individuais e adotem o princípio de educação inclusiva em forma de lei ou de política, matriculando todas as crianças em escolas regulares, a menos que existam fortes razões para agir de outra forma. (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p.1) A base da Inclusão está na crença de que a diversidade é parte da natureza humana. Inclusão é, antes de tudo, uma questão de ética. Mantoan (2006) destaca que: “as ações educativas inclusivas, nessa perspectiva ética, têm como eixo: o convívio com as diferenças e a aprendizagem como experiência relacional, participativa, que produz sentido para o aluno, pois contempla a sua subjetividade, embora construída no coletivo das salas de aula”. (p.4) A formação na inclusão não fornece respostas prontas, não é uma múltipla habilitação para atendimento a todas as dificuldades possíveis em sala de aula, mas é uma formação que trabalha o olhar do educador sobre seu aluno, que lhe garante o acesso ao conhecimento sobre as particularidades de cada aluno e que o ajuda a compreender as necessidades que esse possa ter, a entender que tipo de apoio é necessário, e onde buscá-lo. Na visão de Sassaki (1999), a inclusão social deve contribuir para a construção de um novo tipo de sociedade através de transformações, pequenas e grandes, nos ambientes físicos (espaços interno e externo, equipamentos, aparelhos e utensílios, mobiliários e meios de transporte) e na mentalidade de todas as pessoas, bem como da própria pessoa com necessidades educacionais especiais. É preciso que se pense também na formação dos educadores, que é de fundamental importância para que se ocorra esse processo inclusivo. Uma das estruturas de ação, citado na Declaração de Salamanca (1994) como fator chave na promoção de progresso no sentido do estabelecimento de escolas inclusivas, é o RECRUTAMENTO E TREINAMENTO DE EDUCADORES: O menor desafio reside na provisão de treinamento em serviço a todos os professores, levando-se em consideração as variadas e freqüentemente difíceis condições sob as quais eles trabalham. Treinamento em serviço deveria sempre que possível, ser desenvolvido ao nível da escola e por meio de interação com treinadores e apoiado por técnicas de educação à distância e outras técnicas autodidáticas.(p.2) Quando se pretende trabalhar em ambientes que se favoreçam a aprendizagem de forma inclusiva é necessário que se pense em mudanças, tanto das concepções educativas 9 que o professor carrega consigo, como também da sua prática em sala de aula, para que atenda as necessidades de todos os alunos sem que prejudique o seu desenvolvimento. Para isso, é preciso que o professor tenha como objetivo principal à aprendizagem do aluno, acompanhando seu desenvolvimento. O sistema escolar inclusivo é uma forma de educação que envolve toda a sociedade. A convivência, o respeito, a abertura ao diferente e iniciativas por parte do professor, são algumas das disposições fundamentais para a inclusão da criança com deficiência na escola regular. Sobre esse assunto Sassaki (1999) enfatiza que “quanto mais sistemas comuns da sociedade adotarem a inclusão, mais cedo se completará a construção de uma verdadeira sociedade para todos a sociedade inclusivista”.(p.42) 1.5. A formação continuada e a educação inclusiva. A discussão sobre a formação de educadores para a educação de todos, para a inclusão e escolarização adequada das pessoas com dificuldades de aprendizagem teve início a partir da Conferência Mundial sobre Educação para Todos em Jomtien, Tailândia em 1990. A partir de então, entrou em discussão as habilidades e competências que os educadores deveriam dominar para a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais. Esse documento destaca os conhecimentos e aptidões requeridas em uma boa pedagogia, tais como: a capacidade de avaliar as necessidades educativas, de adaptar os conteúdos dos programas de estudo, de recorrer à ajuda da tecnologia, de individualizar os procedimentos pedagógicos e trabalhar em conjunto com especialistas e pais. A atenção à diversidade deve se concretizar em medidas que levem em conta não só as capacidades intelectuais e os conhecimentos dos alunos, mas também seus interesses e suas motivações.. O professor tem um papel fundamental na escola, tendo em vista que, as suas atitudes determinarão a qualidade da interação nas situações de ensino, cabe a ele também, decidir quais as expectativas de aprendizado do aluno com deficiência (se de integração ou inclusão), bem como, poderá influenciar a maneira como os demais alunos irão interagir com aquele colega. Sendo assim, para além da prática da educação inclusiva, faz-se necessário um redimensionamento do papel do professor. 10 O professor tem como principal desafio, desenvolver uma pedagogia centrada no aluno, sendo capaz de educar e incluir integralmente os educandos, uma vez que a inclusão se aplica a todos. Os educadores precisam estar preparados para romper com paradigmas e se sustentar em constantes mudanças educacionais progressivas criando escolas inclusivas e de qualidades. Prioste, Raica e Machado (2006) ainda da ênfase ao papel do professor como “promotor do ambiente de aprendizagem inclusiva. Será ele o profissional que poderá reger com maestria toda a abordagem que prima pela qualidade do desenvolvimento humano, desde que esteja realmente sensibilizado para tais questões”.(p.54) Elas também chamam atenção para “às inovações exigidas pela própria profissão, já que o ato de ensinar requer aprendizagem constante”.(p.55) É neste ambiente, que vai se inserir a formação de professores. Encontrada profundamente atrelada aos modelos impostos pelo poder público, que geralmente vem munido, com políticas públicas incoerente e distantes da teoria e da prática. Isso faz surgir uma certa insatisfação por parte da maioria dos professores. Sobre este aspecto Feltrin(2007) destaca que: Sempre houve, no entanto, sérias dificuldades impostas aos docentes. De um lado, a dificuldade de formação acadêmica e as poucas chances que o profissional da educação encontra em sua real necessidade de se atualizar. Do outro lado, a incompetência dos poderes públicos aliada à grande extensão territorial, com uma diversidade muito grande de culturas e condições socioeconômicas, o descaso e a pouca valorização do trabalho do professor e de toda a educação.(p.23) Diante dessas circunstâncias e para que se possa alcançar o intento de formar professores para uma escola de qualidade para todos, o que se almeja, segundo Sassaki (2003, p. 01), é reconhecer os princípios educacionais inclusivos, os quais se pautam na colaboração e cooperação, na autonomia intelectual e social, na aprendizagem ativa, no senso de pertencer, no padrão de excelência, em novos papéis e responsabilidades, entre outros. Dessa maneira, a formação vai além dos aspectos instrumentais, pois há o exercício constante de reflexão, do questionamento da própria prática em busca de caminhos pedagógicos da inclusão e, ainda, de ações das experiências concretas que são a matéria prima para a mudança, o pensar entre os participantes desta longa caminhada. 11 Numa escola inclusiva o repertório de cada professor é considerado um recurso rico para a troca de experiências com o objetivo de aperfeiçoar a prática docente e de todos os envolvidos. Sobre essa formação (Mantoan,2006) destaca que: [...] todo plano de formação deve servir para que os professores se tornem aptos ao ensino de toda a demanda escolar. Dessa forma, seu conhecimento deve ultrapassar a aceitação de que a classe comum é, para os alunos com necessidades educacionais especiais, um mero espaço de socialização.(p.60) Assim, a formação docente deve apresentar como um de seus pilares o pressuposto de que a escola é um ambiente no qual todos têm capacidade de aprender. Uns de maneira mais específica do que outros. A proposta de uma escola inclusiva tende a promover um sistema unificado de ensino que atenda à diversidade do alunado. Por isso, é imprescindível que se reflita sobre a formação dos educadores, porque a inclusão é uma formação na qual o educador terá outra visão do seu aluno, tendo assim acesso às peculiaridades dele, entendendo e buscando o apoio necessário. Mantoan (2006) pede atenção para o compromisso dos sistemas de ensino com a formação continuada do professor, ressalvando que eles devem ser: [...] comprometidos com a qualidade do ensino que, nessa perspectiva, devem assegurar que sejam aptos a elaborar e a implantar novas propostas e práticas de ensino para responder às características de seus alunos, incluindo aquelas evidenciadas pelos alunos com necessidades educacionais especiais.(p.57) Ainda sobre os sistemas de ensino a autora ainda destaca que: [...]é preciso atentar para que seus profissionais sejam capacitados para atuar no sistema regular de ensino junto às escolas, uma prática que eles não carregam como herança e, portanto, tem de ser objeto de formação continuada, prevendo que sua intervenção, no âmbito das escolas, esteja assentada em práticas de ensino a serem desenvolvidas com esses alunos em turmas do ensino regular. Ainda entre outras possíveis atribuições, precisam reorientar seu conhecimento e sua prática para atuar em cargos administrativos em diversos órgãos dos sistemas públicos de ensino, a fim de construir políticas de educação para todos, além de realizar atividades de assessoria e acompanhamento de planejamento e de implantação de políticas educacionais públicas que visem a atender com qualidade as demandas desses alunos.(p. 68) A criação de espaços para a formação contínua do professor no seu cotidiano escolar, por meio do diálogo, discussões e debates e do conhecimento implícito que os atores internos e externos desenvolvem no espaço escolar e fora dele podem ser uma 12 possibilidade, um foco irradiador para a reconstrução do projeto político-pedagógico da escola e da educação, da construção de uma escola aberta para todos. Este novo olhar, faz o professor se questionar, problematizar a sua realidade e prática pedagógica, interpretando as propostas de mudanças, dentro das condições possíveis e por sua vez, aumentando, sua capacidade de envolvimento. Mantoan (2009), ressalta que “a formação continuada desses profissionais é antes de tudo uma autoformação, pois acontece no interior das escolas e a partir do que eles estão buscando para aprimorar suas práticas”. (p.92) A valorização da atitude investigativa contínua, fundamentada em pressupostos pedagógicos, éticos e políticos por parte dos professores, atrelada ao compromisso de modificação qualitativa do projeto político pedagógico da escola, beneficia o plano de uma “educação para todos”. O professor precisa estar disposto e aberto a aprender sempre, a partir da ligação nos processos de comunicação nos momentos de formação e de trabalho. Mantoan (2006) relata que “não há como mudar práticas de professores sem que os mesmos tenham consciência de suas razões e benefícios, tanto para os alunos, para a escola e para o sistema de ensino quanto para seu desenvolvimento profissional”.(p.59) Tanto a educação quanto a ciência da educação, devem munir o profissional de referências e de entusiasmo que lhe permitam atuar, como que em um processo dialético, no qual nos conhecemos e depois nos abrimos para conhecer o outro. A formação caracteriza-se por um processo dinâmico, integrador e, sobretudo, dialógico. Dessa forma, as atividades de planejamento deveriam se estabelecer como um momento de compartilhamento de experiências docentes e reflexão sobre a prática como recurso para responder à diversidade existente nas salas de aula. Esses aspectos são essenciais na formação de professores para o ensino regular e especial. Este último, além das questões apontadas, deve: aprofundar o conhecimento relativo às pessoas com deficiência, suas necessidades, a formação da identidade, o desenvolvimento da autonomia pessoal, social e intelectual; avaliar as necessidades específicas e educacionais especiais; dominar as metodologias específicas e as estratégias didático-metodológicas de acesso ao conhecimento, às artes e à cultura. Sobre essa formação Mantoan (2006) relata que ela deve: 13 [...] possibilitar-lhes a disseminação de conhecimentos necessidades educacionais especiais, pela elaboração de práticos sobre a aprendizagem e o ensino dessa população referenciais de ação político-administrativo com vistas educação para todos.(p.68) sobre pessoas com referenciais teóricoe pela construção de a de fato, garantir Assim sendo, na perspectiva da inclusão, a escola não é só para acolher positivamente a diversidade ou compartilhar o espaço de aprendizagem, mas principalmente saber lidar com essa diversidade. Sobre esse aspecto Oliveira (2009) articular que “em virtude da diversidade dos alunos, incluindo aqueles que apresentam necessidades educacionais especiais, os educadores são chamados a rever suas práticas educativas para ensinar um coletivo de sujeitos cujas características se apresentam mais heterogêneas que antes”. (p. 37) Um instrumento essencial para que a escola possa concretizar o processo de inclusão é o Projeto Político-Pedagógico, ele pode ser utilizado como fio condutor que simplifica as ações da escola, proporcionando a possibilidade de legitimar as diretrizes e linhas de ação pelas quais serão construídas propostas para a aprendizagem e participação de todos os alunos na escola. O Projeto Político-Pedagógico representa a oportunidade de a direção, equipe escolar e a comunidade, definir o papel estratégico da escola na educação do seu alunado, organizando suas ações, a fim de atingir uma educação de qualidade para todos, sem distinção. 2. METODOLOGIA Como procedimentos metodológicos para efetivar os objetivos propostos, foram realizadas entrevistas com oito professoras do ensino fundamental I, em duas escolas municipais do bairro de Jardim São Paulo, essas escolas são compostas por alunos da própria comunidade e de bairros vizinhos, são crianças em sua maioria carentes que necessitam dos benefícios que necessitam dos benefícios que a escola pode proporcionálos. Essas duas escolas pertencem à rede municipal do Recife na região político administrativa 5. Como pré-requisito para participar das entrevistas, todas as professoras tem ou já tiveram alunos com necessidades educacionais especiais em suas salas de aula regulares, com a proposta de inclusão. As entrevistas seguiram o modelo semi-estruturado e 14 foram gravadas em áudio. Elas foram feitas individualmente a partir de temas como capacitação, educação inclusiva, prática pedagógica, dentre outros. A análise dos dados envolveu a análise de conteúdo do discurso de professores de escolas da Rede Municipal do Recife. O discurso analisado foi construído a partir da leitura e interpretação de entrevistas transcritas, com base na proposta do conceito de núcleos de significação. Segundo Aguiar (2006), tais núcleos são fundamentados nas propostas de Vygotski sobre a concepção de realidade e da relação homem-mundo que é constituído por uma relação dialética com o social e a história, onde o homem é um ser que é único, singular e histórico ao mesmo tempo (p.11). Ainda segundo Aguiar e Ozella (2006), esses núcleos são constituídos pelo conjunto dos indicadores e seus conteúdos é que resultarão na organização dos núcleos de significação através de nomeações. O que vai nortear a análise dos dados são os conceitos de similaridade, complementaridade e contraposição que serão denominados como critérios presente nos discursos dos professores em cada núcleo de significação. Os critérios de aglutinação citados acima vem formalizar o núcleo de significação de toda a análise. Através da similaridade, pode-se detectar os aspectos que contenham critérios de semelhanças; já a complementaridade trata-se dos critérios que são utilizados como complemento de algo semelhante; o critério de contraposição vem a ser um fato que contradiz o que foi dito anteriormente. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram criando cinco núcleos de significação, que vem tratar dos objetivos propostos no referido trabalho, enfatizando o que os professores destacaram como de fundamental importância para a problemática da educação inclusiva na rede. São eles: Educação Inclusiva: da forma que é feita não inclui. Ressalta-se que a educação inclusiva consiste em uma concepção coletiva, na qual o aluno tem a possibilidade de lidar com as diferenças, buscando soluções que se ajustem a cada aluno, ao trabalhar não só o coletivo, mas a individualidade de cada pessoa. 15 Neste primeiro núcleo de significação, observa-se que as professoras possuem discursivos de similaridade e complementaridade, conforme recortes: Professora M.A.P.: inclusiva, é a educação onde abrange todo o aluno, independente de suas dificuldades, é igual pra todos. Se houvesse um aluno trabalhoso que houvesse uma pessoa acompanhando esta criança, que a professora pudesse trabalhar com ele e com toda a turma por igual. Professora M.R.: é tudo que tem haver com diversidade humana, incluir o ser em sala. Professora J.L.: da forma que é feita eu acho que não inclui, porque os professores não são preparados para receber os alunos, (...). Inclusão é você poder, incluir de verdade aquele aluno que tem a necessidade especial, incluir com material didático apropriado, incluir com atividades adequadas para ele, a turma saber recebê-lo da forma certa, a escola também esta preparada para que esse aluno possa circular por toda escola. Professora M.A.: “É preparar os professores, com cursos, e antes de receber crianças dá um apoio não só aos professores as estagiárias também, (...). Então eu acho que a gente tem que ser preparado bastante, agente tem que ter cursos, tem que ler muito, a pessoa que vem também, agente tem que preparar as crianças para aceitar.” As professoras M.A.P. e M.R. possuem conceitos de inclusão marcados pela similaridade; enquanto as professoras J.L. e M.A. levantam a problemática havendo um discurso de complementaridade com as duas anteriores e de similaridade entre elas. Quando questionados sobre o conceito de inclusão, elas remetem a formação continuada e as dificuldades de implementar a inclusão, por ser uma necessidade dos professores. Nesse sentido, Mantoan (2006) destaca: As escolas inclusivas propõem um modo de organização do sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas necessidades. 16 (...) a inclusão implica uma mudança de perspectiva educacional, porque não atinge apenas os alunos com deficiência e os que apresentam dificuldades de aprender, mas todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. (p.19) Se há inclusão, deve haver a formação continuada Sobre esse assunto Mantoan(2004) enfatiza que: Os professores precisam dominar cada vez mais os conteúdos curriculares, os processos de ensino e de aprendizagem, isto é, especializarem-se no “o que”, no “como” e no “para que” se ensina e se aprende. Ao nosso ver e inspirados nos projetos que visam uma educação de qualidade para todos, o tratamento das questões relativas ao ensino de pessoas com deficiência na formação geral dos educadores eliminaria, em grande parte, os obstáculos que se interpõem entre a escola regular e esses alunos. Em resumo, a formação única para todos os educadores propiciaria a tão esperada fusão entre a educação especial e a regular, nos sistemas escolares.(p.93) Nesse núcleo de significação verifica-se que as professoras possuem relatos discursivos de similaridade e um de contraposição, mas, constata-se na fala da professora F.S. a falta de experiência na rede, pois a mesma havia ingressado a pouco tempo. Isto é verificado conforme os recortes: Professora M.A.P.: A formação antes era muito mais proveitosa. Nós tivemos o ano trasado, o ano passado ficamos sem. Professora M.R.: Olha, até dois anos atrás era uma freqüência a cada semestre tínhamos formação, mas, de dois anos pra cá a formação eu posso dizer que é zero. Professora A.M.C.: Hoje menos, antigamente agente tinha mais, no começo do ano, no meio do ano, hoje bem menos. Professora F.S.: Olha, eu entrei a pouco tempo na rede, tenho apenas seis meses, então não tenho conhecimento das capacitações, (...). Até agora não tive outra, mas acho que a prefeitura investe bem nas capacitações. 17 Já sobre a formação em educação inclusiva, todos os professores usam discursos de similaridade ao afirmarem nunca ter participado de cursos de formação ou capacitação direcionada pela rede. Houve um discurso de complementaridade da professora C.B. que diz ter participado de capacitações sobre educação inclusiva, mas não proporcionada pela rede e sim com a itinerante. Verifica-se os seguintes recortes: Professora M.A.P.: Nunca tive capacitação. Só tive algumas orientações da itinerante. Se há inclusão, deve haver a capacitação pro professor, principalmente o professor que tem o aluno especial em sala. Então se todos podem pegar um aluno especial, pode haver inclusão em sua sala, então todos devem ser preparados. Professora M.R.: Nenhuma. Nem falar do tema, nem palestra sobre o tema, nem especial, nem inclusiva. A professora C.B.: Duas capacitações no final de reuniões que P.(itinerante) de boa vontade trouxe para agente, mas da rede, nenhuma. C.B. apresenta discurso de similaridade com M.A.P. e M.R. Quando se refere, a não haver participado de formação para educação inclusiva, mas, complementa ter participado de duas capacitações com a itinerante. Sobre este assunto Mantoan (2006) enfatiza que: “Os conhecimentos sobre o ensino de alunos com necessidades educacionais especiais não podem ser de domínio apenas de alguns “especialistas”, e sim apropriados pelo maior número possível de profissionais da educação, idealmente por todos.”(p.58) Quanto à formação continuada, pode-se constatar que foi quase unânime a afirmação da falta de formação dos professores na rede, mas elucidam que já existiram capacitações de qualidade há algum tempo passado. A inclusão ocorre de fato? Mantoan (2006) destaca como ocorrência de grande problemática nas escolas é o conceito de inclusão escolar: 18 A tradução para inclusão escolar, não raras vezes, tem se restringido no âmbito das práticas, como já assinalado, à garantia da oferta de vagas para alunos com necessidades educacionais especiais em classes comuns. A meu ver, essa distorção conceitual é que tem se configurado, de fato, como um dos principais obstáculos à concretização da tão conclamada educação para todos. (p.41) Esse núcleo de significação apenas três professoras utilizam um discurso de similaridade e complementaridade para afirmar que a inclusão realmente ocorre, as demais contrapõem a afirmação, com respostas diretas, tendo as professoras J.L. e M.A. um discurso mais significativo. Observa-se os seguintes recortes: Professora M.A.P.: Ocorre, praticamente temos que aceitar, apesar de todas as dificuldades que há na escola, temos que aceita-lo, é lei, mas falta a preparação do professor pra receber o aluno com a dificuldade especifica que ele possui. Apesar de ser integrante do discurso de similaridade e complementaridade com o discurso de M.A.P. , é importante destacar parte do discurso da professora M.R. que vem afirmar que a inclusão ocorre através da matrícula, onde M.A.P. e M.R. Vem mostrar que a inclusão ocorre através das leis mas, integralmente não ocorre pois, a assistência ao professor ainda é muito restrita. Assim sendo vale destacar que a inclusão vai além desse horizonte, passando por caminhos bem mais significativos. Mantoan (2006) explica que: Embora sem respaldo teórico, no discurso recorrente de muitos profissionais da educação a inclusão escolar tem sido expressão empregada com sentido restrito e como se significasse apenas matricular alunos com deficiência em classe comum. Mas a construção conceitual dessa expressão ultrapassa em muito essa compreensão. Sua implantação pode implicar resguardar a classe comum como espaço de escolarização de todos ou como uma das opções para aqueles com necessidades educacionais especiais, ainda que deva ser a preferencial, como preconizado pela Constituição Federal de 1988. (p.34) Professora M.R.: Ocorre através de matricula regular, até o ano passado eles tinham uma avaliação das itinerantes, que foi um serviço que foi tirado de dentro da escola que atrapalhou e muito isso. Professora C.B.: Olha acontece. Mas a inclusão podia ser mais efetiva. 19 Quando agente tinha acompanhamento funcionava melhor, (...). Claro existem núcleos da Prefeitura, mas até agente ter acesso a esses núcleos, e até esses núcleos retornar com a resposta para agente as dúvidas já aumentaram e já se criaram outras perguntas. Professora J.L.: Não. Ocorre da forma que dá pra ser, a gente recebe, trabalha com o aluno dá forma que a gente acha que deve trabalhar, porque agente não tem certeza, não tem preparo. Professora M.A.: Não. A criança é jogada, sem preparo nenhum, nem nós somos preparados, nem quem acompanha é preparado, quando tem acompanhamento. O país na verdade, ele diz: a inclusão social é muito bonito o que eles falam, mas, as escolas não tão preparadas, nem estruturalmente, nem os profissionais são preparados(...) J.L. e M.A. apresentam um discurso de complementaridade aos discursos de M.A.P., M.R. e C.B., mas vem confirmar que a inclusão ocorre de cima para baixo. Alguns professores afirmaram que ocorre sim a inclusão, mas enfatizaram as dificuldades enfrentadas por falta de assistência da prefeitura. Outros disseram que o tipo de processo de inclusão aplicado dela PCR não pode ser considerado inclusivo, pois, não dá subsídios para o trabalho do professor e o desenvolvimento do aluno. Ao se deparar com a burocracia dos laudos médicos muitos dos professores vê-se prejudicados pela falta de recursos humanos, a falta de experiência, e/ou capacitação dos professores de apoio e até do próprio professor, ou simplesmente desacreditam que esse processo ocorra, mediante tanto descaso com essa particularidade do ensino. O professor e sua prática pedagógica Quando se fala de práticas inclusivas, trata-se de um processo que envolva todos os alunos, onde o professor deverá trabalhar com a dificuldade do aluno, procurando métodos para que todos estejam envolvidos na mesma atividade. Mantoan (2009), fala sobre dois aspectos que merecem destaque nesse núcleo de significação: 20 Ensinar é, de fato, uma tarefa complexa e exige dos professores conhecimentos novos que muitas vezes contradizem o que lhes foi ensinado e o que utilizam em sala de aula.(p.79) O pavor de errar impedem alunos e professores de contemplar as diferenças e de reconhecer o valor e a riqueza que elas aportam ao desenvolvimento dos processos educativos, dentro e fora das escolas. (p.84) O quarto núcleo de significação as professoras constroem discursos de similaridade e complementaridade, conforme os recortes: Professora M.A.P.: procuro pesquisar coisas que possam alcançar o nível dele de aprendizagem, e que possa buscá-lo para interagir e se integrar com o grupo, há algumas coisas que pra eles a dificuldade é muito grande, então eu vou buscando coisas mais a nível deles, (...), busco também com as amigas, coisas a nível dele, e vou trabalhando desse modo. M.A.P. relata que busca ajuda com as colegas, ou seja, a troca de experiência mostra ter grande importância de compartilhar as dificuldades e limitações que cada um tem em sala para melhorar o desenvolvimento dos alunos em sala, principalmente quando se trata da educação inclusiva. Professora M.R.: Rapaz é na base do diálogo, com todos, buscar do aluno até do próprio especial. Então tem momentos que todos trabalham integrados realmente, não tem diferença nenhuma. Eu digo que professor é o seguinte, ele tem que escutar, formalizar e devolver e depois ver como se faz pra dar um feedback. Professora J.L.: Bem, primeiro eu sinto o nível dos alunos, aí eu vejo aonde ta a principal dificuldade, aí eu vou vendo o que eles tão necessitando mais, ai eu vou sempre trabalhando a prática, não é uma prática fixa, ela tá sempre sendo mudada, sempre sendo questionada. Você consegue fazer essa prática com esse seu aluno com necessidades educativas especiais? 21 Professora J.L.: Não. Porque o que o aluno x consegue fazer ele não consegue, e aí pra ele não ficar se sentindo mal diante dos colegas, eu tento trabalhar com ele com outra atividade que esteja mais adaptada ao nível desse aluno. Professora C.B.: Muitas vezes bem antiga, confesso a você, e depende do aluno. Então muitas vezes a minha prática é bem antiga, aí de repente minha pratica se torna moderna com uma música bem diferente (...). Então eu sou um misto entre tradicional e construtivista (...) Nesse caso, todos os professores mostraram dentro de suas práticas, certo desvio dessas práticas inclusivas, às vezes até entrando em contradição com a prática inclusiva, muitas vezes até confessando uma atitude de negligência perante a essa prática. A problemática da falta de capacitação e condições inclusivas Sobre a capacitação dos professores Mantoan (2009) refere-se da seguinte forma: A formação continuada desses profissionais é antes de tudo uma autoformação, pois acontece no interior das escolas e a partir do que eles estão buscando para aprimorar suas práticas. Estudam e trocam experiências de trabalho e vão atualizando seus conhecimentos, dirimindo dúvidas, esclarecendo situações e, cooperativa e coletivamente, delineando teorias próprias para explicar o modo como ensinam e as crianças aprendem. (p.92) Esse último núcleo de significação explicita um discurso de similaridade referente a um apoio de profissionais especializado e a formação do professor em praticamente todas as professoras, conforme mostra os recortes: Professora M.R.: Apoio psicopedagógico, fonoaudiólogos, apoio psicológico, apoio psiquiátrico, porque eu tenho alunos que tem problemas psiquiátricos, não é a questão da deficiência mental. 22 (...) eu acredito que falta a formação sabe, a coisa é jogada. O que se queixa não é contra o aluno, o que se queixa é de como trabalhar com esse aluno. Professora A.M.C.: Eu acho que na escola deveria ter também o apoio de um médico e uma psicóloga, uma vez por mês pra visitar a escola, e alguém que oriente mesmo que venha ver como a professora ta lidando com essa criança (...) Professora M.A.: É preparar os professores, com cursos, e antes de receber crianças dá um apoio não só aos professores, as estagiárias também (…). Então eu acho que a gente tem que ser preparado bastante. (...) Veja a escola podia ter uma psicóloga, mesmo que não tivesse toda semana, mas viesse a cada 15 dias, aí talvez essa inclusão seja melhor. Professora C.B.: (...) era necessário que tivesse uma pessoa da área que nos orientasse em diversas atividades. Ter capacitação voltada para eles, porque a gente não teve, entendeu, eles entraram na prefeitura e a gente não teve assim, nada. Além da formação continuada e/ou capacitações, outro aspecto muito enfatizado entre as professoras, foi a questão de outros profissionais para ajudar nessa inclusão, pessoas que pudessem facilitar esse processo e também tirar suas dúvidas. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O propósito deste artigo foi refletir sobre a formação continuada dos professores para educação inclusiva na Rede Municipal do Recife (RMR), e dentro desse aspecto foram levantados alguns questionamentos investigativos: saber as principais necessidades desses profissionais; como ocorre e se ocorre realmente à inclusão; como é a receptividade do professor para com o aluno com necessidades educacionais especiais; que conhecimentos possuem sobre educação inclusiva; se sua pratica pedagógica e atitudes são inclusivas. Diante da investigação proposta podemos concluir que as escolas investigadas parecem se agarra as burocracias e as brechas legais para não proporcionar uma educação inclusiva 23 de qualidade à população e também negligencia seus profissionais mediante uma completa falta de capacitações, cursos, especializações para auxiliar o trabalho diário do educador na Rede. A proposta de inclusão oferecida pela rede parece ser composta somente pela matricula e permanência do aluno em sala de aula como citado por algumas professoras em entrevista. Contudo, para que haja inclusão é necessário muito mais como pontua Mantoan (2009): O sucesso das propostas de inclusão decorre da adequação do processo escolar à diversidade dos alunos e quando a escola assume que as dificuldades experimentadas por alguns alunos são resultantes, entre outros, do modo como o ensino é ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada. Ensinar é, de fato, uma tarefa complexa e exige dos professores conhecimentos novos que muitas vezes contradizem o que lhes foi ensinado e o que utilizam em sala de aula. Acreditamos que não são os especialistas nem os métodos especiais de ensino escolar que garantem a inserção de todos os alunos à escola regular, mas que é necessário um esforço efetivo e coletivo, visando transformar as escolas e aprimorar a formação dos professores para trabalhar com as diferenças nas suas salas de aula. (p.79) Quanto à receptividade, os professores entrevistados não aparentaram problemas ou mencionaram a não aceitação de alunos com necessidades educacionais, a única problemática demonstrada pelo professor foi frente à negligência da rede diante da falta de preparo e condições de trabalho dos mesmos. O professor vem mostrar que não ocorre a inclusão de fato, mas que simplesmente como um meio de acatar a lei. A rede municipal torna obrigatório a matricula de toda criança, sem exceções, salientando não haver nenhuma mudança estrutural e nenhum programa de formação e apoio de profissionais especializado, sendo esses dois últimos, necessidades citadas a todo o momento durante a entrevista. Tendo esses, como fatos de fundamental importância para uma prática pedagógica mais inclusiva, que atenda as necessidades de todos os alunos sem haver a diferenciação das atividades. A carência do professor sobre o verdadeiro conceito do que seja inclusão e de como realmente se constrói um ambiente inclusivo, faz com que ele venha desconstruir o que ainda não foi construído, com atitudes exclusivas, fato que chega a ser imperceptível e que para o professor é utilizado para repreender um aluno que tenha uma atitude preconceituosa ou porque ache a atitude mais correta para que o aluno não se sinta inferiorizado. 24 Essa carência parece ser um resultado da falta de formação continuada, que daria uma compreensão de como acontece à educação inclusiva na escola. Formações esporádicas oferecidas pela rede municipal, não terão resultados positivos no caso da inclusão. A formação continuada é construída no interior das escolas levando em conta as problemáticas de aprendizagem dos alunos, como também as práticas pedagógicas do professor, suas deficiências e inadequações. Essa formação deve acontecer constantemente e envolver toda a escola, é importante que o professor tenha a consciência de que suas experiências vividas em sala de aula são de fundamental importância não só para o seu crescimento profissional, mas o de seus colegas. O apoio especializado é essencial como parceria para um diagnóstico e um melhor rendimento do aluno, mas não resolverá às dúvidas e inseguranças dos professores. Inicialmente, durante a elaboração do projeto de pesquisa, foi pensado na possibilidade de realizar uma análise dos projetos político pedagógicos das escolas, com o objetivo específico de analisar a proposta dos projetos, refletindo acerca das alternativas que favoreçam ações inclusivas nas salas de aula. Contudo, tal objetivo foi retirado do estudo, pois os projetos políticos pedagógicos nem sequer citam a necessidade de haver uma perspectiva inclusiva. Finalizando, cabe refletirmos sobre a necessidade de incluir na formação de professores, a discussão sobre como articular os conhecimentos, os fundamentos e práticas de educação inclusiva. Esse trabalho vem contribuir com a reflexão sobre os pensamentos, valores e hábitos compartilhados que influenciam na formação e na maneira como os professores lidam com a diversidade, com os desafios e barreiras enfrentadas no processo de aprendizagem dos alunos. E por fim, é necessário fazer referência sobre como acontece essa formação inclusiva nas instituições de formação docente, como a reflexão sobre o que as leis e diretrizes mencionam sobre essa formação inclusiva tanto nas redes, como nas instituições de ensino. 5. REFERÊNCIAS AGUIAR, Wanda Maria Junqueira; OZELLA, Sergio. Núcleos de significação como instrumento para a apreensão da constituição dos sentidos. Psicologia: ciência e profissão, 2006, 26(2), 222 – 245. 25 _______. AGUIAR, Wanda Maria Junqueira. A pesquisa junto a professores: fundamentos teóricos e metodológicos. In: W. M. J. Aguiar (org.). Sentidos e significados do professor na perspectiva sócio-histórica: relatos de pesquisa. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. CARVALHO, Rosita Edler. Educação Inclusiva: com os pingos nos “is”. Porto Alegre: Mediação, 2004. FELTRIN, Antonio Efro. Inclusão social na escola: quando a pedagogia se encontra com a diferença. 3 ed. São Paulo: Paulinas, 2007. MANTOAN, Maria Teresa Eglér. A Integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: Memnon. Editora SENAC, 1997. _______. Caminhos pedagógicos da Educação Inclusiva. IN: GAIO, Roberta & MENEGHETTI, Rosa G. Krob (Orgs.). Caminhos pedagógicos da educação Inclusiva. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. _______. O direito à diferença nas escolas – questões sobre a inclusão escolar de pessoas com e sem deficiências. Disponível em:<http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2004/01/r2.htm>. Revista do centro de educação de São Paulo. Edição: 2004 – Nº 23.Acesso em 20/agosto/2009. _______. Igualdade e diferenças na escola: como andar no fio da navalha. In: M. T. E. MANTOAN; R. G. PIETRO (orgs.) Inclusão escolar: portos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2006. Necessidades Básicas de Aprendizagem, Jomtien, Tailândia - 5 a 9 de março de 1990. OLIVEIRA, Luzia de Fátima Medeiros de. Formação docente na escola inclusiva: diálogo como fio tecedor. Porto Alegre: mediação, 2009. 152p. PRIOSTE, Claudia Dias ; RAICA, D. ; MACHADO, M. L. G. . Dez questões sobre a educação inclusiva da pessoa com deficiência mental. São Paulo: Avercamp, 2006. SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão. Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1999. _______. Pressupostos da educação inclusiva. In: Educação inclusiva: conceito e prática. Palestra, 2003. UNESCO (1994). Declaração de Salamanca e Enquadramento da Acção: Necessidades Educativas Especiais. Salamanca: Unesco.