OCDE - Nota Sobre Políticas de Administração Pública Construindo a Confiança Pública: Medidas Éticas nos Países da OCDE Os serviços públicos devem merecer a confiança pública. Os cidadãos esperam que os funcionários públicos sirvam lealmente ao interesse público e administrem os recursos públicos de forma apropriada constantemente. Serviços públicos executados de maneira apropriada e com zelo inspiram confiança pública e criam um ambiente favorável para os negócios, contribuindo, desse modo, para o bom funcionamento dos mercados e para o crescimento econômico. A ética no serviço público épré-requisito e fundamento da confiança pública, constituindo-se em marco fundamental para a boa governança. No entanto, o que é necessário para a construção da confiança pública atualmente? Baseado na experiência dos 29 países membros da OCDE, esta Nota sobre Políticas de Administração Pública descreve o que constitui uma política efetiva e abrangente de gerência da ética, bem como apresenta sugestões de políticas para ampliar a confiança nas instituições públicas. PUMA Nota de Política No. 7 setembro 2000 Valores fundamentais constituem a essência do serviço público A identificação dos valores fundamentais é o primeiro passo para a criação de um entendimento comum na sociedade com relação ao comportamento esperado dos ocupantes de cargos públicos. Todos os países da OCDE publicam uma lista de valores fundamentais para orientar seus funcionários públicos em suas operações diárias, extraídos das mesmas fontes principais, ou seja, normais sociais, princípios democráticos e cultura profissional. igualdade de acesso aos serviços públicos, assim como igualdade perante à lei. Os oito valores fundam entais do serviço público m ais freqüentem ente apontados nos países da OCDE (número de países apontando cada valor) 24 Imparcialidade O ambiente mutável do setor público requer articulação dos valores fundamentais. Mais de um terço dos países da OCDE já atualizaram seus valores fundamentais para o serviço público nos últimos cinco anos, e revisões adicionais continuam sendo implementadas. No decorrer dessas revisões, os países voltaram a enfatizar os valores tradicionais, conferindo-lhes conotação moderna e adicionando novos valores para refletir uma cultura do serviço público baseada cada vez mais em resultados. Por exemplo, a imparcialidade é o valor fundamental identificado com maior frequência, implicando 22 Legalidade 18 Integridade E ficiência 14 T rans parência 14 R es ponsabilidade 11 Igualdade 11 Jus tiça 10 Os padrões de comportamento estabelecem limites para a conduta Leis criminais penalizam formas específicas de corrupção e desvios dos valores fundamentais. Embora quase todos os países da OCDE punam criminalmente atos ativos e passivos de corrupção cometidos por funcionários públicos, um número cada vez maior de países também tem punido criminalmente outras formas de corrupção, tais como a corrupção indireta e as tentativas de corrupção. Adicionalmente, a Convenção Anti-suborno da OCDE exige que todos os países membros, assim como os cinco países não membros, considerem o suborno de funcionários públicos estrangeiros passível de punição por meio de penalidades efetivas, proporcionais e dissuasivas. Um número crescente de países também vem procurando punir os desvios dos princípios e valores fundamentais do serviço público (tais como imparcialidade nos processos de decisão) e a utilização do cargo público em benefício privado. A legislação referente a padrões de comportamento tornou-se a principal forma de aprimoramento dos valores fundamentais indicados. Quase todos os países da OCDE desenvolveram uma descrição mais detalhada dos padrões esperados dos funcionários públicos em situações de potencial conflito de interesses, particularmente com relação a: utilização de informações oficiais e de recursos públicos; recebimento de presentes ou benefícios; e trabalho fora do serviço público. Adicionalmente aos padrões gerais aplicáveis a todos os funcionários públicos, os países da OCDE utilizam diretrizes suplementares para grupos específicos de profissões relacionadas a áreas sensíveis ou nas quais exista alto risco de conflitos de interesse, tais como as envolvidas com a aplicação da lei e com as administrações tributária e alfandegária. Alguns países também elaboraram códigos para a condução dos negócios governamentais pelos ministros. 2 A prática dos valores começa com a comunicação especializados para assegurar a neutralidade da orientação. Quase todos os países da OCDE utilizam treinamento para aumentar a conscientização dos funcionários públicos com relação a assuntos éticos. Porém, registra-se uma ênfase crescente no desenvolvimento da capacitação necessária para o tratamento de dilemas éticos. Mais da metade dos países dá atenção especial aos novos funcionários, oferecendolhes informação sobre valores ao ingressarem no serviço público e, em um terço dos países, uma declaração de valores também constitui parte integrante do contrato de trabalho. Alguns países da OCDE ainda oferecem treinamento em serviço regularmente. O envolvimento dos funcionários de forma direta ou por meio de sindicatos ou associações profissionais na revisão de valores e padrões estabelece o entendimento mútuo entre os funcionários públicos e facilita a implementação. Um terço dos países da OCDE realizou consultas com grupos específicos dentro do serviço público ou fora dele; alguns países consultaram, também, a opinião pública. Número crescente de países vem utilizando novas tecnologias, especialmente a Internet e CD-ROMs interativos para fornecer informações sobre valores e padrões desejáveis, bem como para treinar seus funcionários públicos em questões éticas. Adicionalmente, os servidores públicos podem buscar orientação de seus superiores quando confrontados com dilemas éticos no ambiente de trabalho. Alguns países ainda oferecem acesso a órgãos externos Assegurando a integridade na administração cotidiana compras públicas, e empregam medidas suplementares como: As seguintes medidas administrativas são essenciais para a criação de um ambiente de trabalho que assegure a transparência e reforce a integridade: Estabelecer padrões de pontualidade; Solicitar justificativas para as decisões tomadas; Conceder reparações de decisões; Exigir identificação de conflitos de interesse. Regulações e diretrizes específicas; Controle mais rígido; Realocações regulares de funcionários. A revelação de interesses particulares torna o processo de decisão mais transparente por minimizar a possibilidade de conflitos entre cargos públicos e interesses privados. Com poucas exceções, os países da OCDE exigem a revelação de interesses financeiros pessoais, enquanto metade dos países também obriga os funcionários a revelar se possuem cargos externos e se recebem presentes. Praticamente todos os países da OCDE realizam o recrutamento e a promoção no serviço público com base no mérito. A vasta maioria dos países garante a transparência de seus processos seletivos por meio da publicação das regras de recrutamento e das vagas disponíveis. Mais da metade dos países também levam em consideração aspectos éticos no recrutamento e nas avaliações de desempenho. Quanto mais elevado o cargo, maior a transparência necessária. Tipicamente, a divulgação de interesses é exigida para os cargos eletivos e para os altos escalões do funcionalismo público; alguns países a exigem dos funcionários públicos em geral. Certos setores sensíveis, tais como as administrações tributária e alfandegária, também contam com normas severas exigindo a divulgação de interesses. A atenção especial aos funcionários em posições particularmente suscetíveis à corrupção é uma preocupação crescente nos países da OCDE. A ampla maioria desses países exige a identificação e o relato de conflitos de interesse. Dois terços dos países desenvolveram medidas específicas anticorrupção em áreas sensíveis, tais como as de 3 Monitorando o cumprimento Uma boa administração da ética não apenas estabelece os padrões de comportamento, mas também monitora seu cumprimento. Fiscal Geral até avaliações judiciais ou éticas específicas. A concessão de poder de fiscalização ao Ombudsman independente tornou-se instrumento popular em mais da metade dos países da OCDE, e cada vez mais países designam uma unidade especializada independente para inspecionar o comportamento dos servidores públicos. O controle interno é amplamente utilizado para detectar irregularidades individuais e falhas sistêmicas nos países da OCDE. Os países reforçaram os mecanismos legais existentes ou estabeleceram um aparato legal para o controle interno. Geralmente, as atividades de controle interno são conduzidas anualmente, ou quando se fizer necessário, recomendando medidas para uma melhor administração e, em alguns casos, reportamse diretamente ao nível político ou ao público em geral. A denúncia de conduta inadequada de servidores públicos é exigida por lei e/ou facilitada por normas administrativas em dois terços dos países da OCDE. Percebe-se, também, na maioria desses países, uma necessidade crescente de garantir proteção a denunciantes no setor público. Quase metade desses países garante proteção geral principalmente no âmbito do serviço público, onde as garantias disponíveis consistem preponderantemente na proteção legal e no anonimato. Em dois terços dos países da OCDE, é concedido acesso a serviços tais como normas de reclamação, Ombudsman ou Inspetor Geral, bem como o apoio de balcões de atendimento ou linhas diretas, propiciando aos cidadãos condições para denunciarem a conduta inadequada dos servidores públicos. O controle interno é acompanhado por uma supervisão independente. Essa supervisão obriga os servidores públicos a responderem por suas ações, em última instância, ao público. Em virtualmente todos os países, o poder legislativo é responsável pelas avaliações das atividades do setor público. Outros tipos comuns de supervisão variam desde investigações externas independentes realizadas pelo Ombudsman ou pelo Atuando contra a conduta inadequada Embora os gerentes do setor público sejam responsáveis em primeira instância por dar início tempestivamente a medidas disciplinares em seus órgãos, eles podem, de maneira semelhante, receber apoio de instituições externas específicas, as quais desempenham papel fundamental na investigação e punição de conduta inadequada no serviço público. Esses órgãos têm o poder de conduzir os casos suspeitos de corrupção diretamente aos tribunais em todos os países da OCDE. Agir contra violações de padrões é uma responsabilidade compartilhada entre gerentes e agências externas de fiscalização. Os países da OCDE reconhecem que ações disciplinares contra falta de decoro administrativo devem ser tomadas dentro da organização onde tal atitude ocorrer. Todos os governos desenvolveram uma série de procedimentos disciplinares que permitem aos gerentes impor sanções tempestivas e justas ou fornecem garantias de processo justo para os servidores públicos. Os países da OCDE impõem sanções administrativas bastante semelhantes, que variam desde advertência e repreensão, passando por penalidades materiais, até a demissão temporária ou definitiva, sendo esta última a sanção mais severa utilizada por todos esses países. Além disso, dois terços dos países contam com procedimentos e mecanismos que permitem ao público denunciar a conduta inadequada aos órgãos de supervisão independente das atividades do setor público. 4 Os cidadãos confiarão nas instituições públicas se eles perceberem que os órgãos públicos são utilizados para o bem público. As lições do levantamento da OCDE sugerem os seguintes passos para a construção da confiança nas instituições públicas: Definir uma missão clara para o serviço público Adaptar a missão do serviço público às necessidades atuais e assegurar que os valores e padrões fundamentais respondam às expectativas variáveis do público constituem-se nos principais desafios para os governos em um mundo em constante mutação. Salvaguardar valores enquanto se processam as mudanças As mutações no ambiente sócio-econômico, especialmente a crescente demanda por transparência, exige que o governo revise e ajuste os mecanismos que asseguram que o comportamento dos servidores públicos corresponda às expectativas. Conceder poderes tanto aos servidores públicos quanto aos cidadãos para denunciar a conduta inadequada Estabelecer procedimentos claros e reconhecidos que facilitem a denúncia de conduta inadequada e garantam proteção aos denunciantes que contribuírem para a detecção de casos individuais de má conduta. Articular medidas de integridade na administração como um todo Medidas de integridade não se constituem em atividades isoladas, mas parte integral de todos os sistemas administrativos nos quais as medidas de integridade fornecem apoio complementar ao ambiente gerencial como um todo. Coordenação de medidas de integridade: uma pré-condição para o sucesso Medidas de integridade bem sucedidas consistem de uma combinação de ações que sejam consistentes e que levem em consideração um ambiente do serviço público mais amplo. Avaliar a eficácia dessas medidas propicia aos formuladores de políticas sugestões quanto a sua implementação e permite preparar o terreno para a formulação de políticas futuras. Mudança de ênfase de execução para prevenção Uma boa política de administração da ética combina adequadamente medidas de execução e de prevenção. Entretanto, existe um crescente reconhecimento de que uma maior atenção para a prevenção reduz a necessidade de execução. A prevenção é um investimento menos dispendioso no longo prazo, com impacto mais favorável sobre a cultura do serviço público e sobre o relacionamento entre o serviço público e a sociedade civil. Antecipando problemas Com a antecipação de situações que poderiam enfraquecer a adesão aos valores e padrões de comportamento do serviço público, os governos podem preparar respostas adequadas para prevenir a ocorrência de efeitos adversos. Por exemplo, como podem os governos fazer face às demandas públicas por mais informações sobre interesses privados que afetam decisões públicas? Aproveitando as novas tecnologias A exploração de maneiras de utilizar novas tecnologias permite aos governos encontrar novos caminhos para internalizar a integridade e informar seus cidadãos sobre os padrões esperados de comportamento dos servidores públicos. 5 Sobre esta Nota sobre Políticas de Administração Pública... Esta Nota revela os principais resultados de um levantamento sobre ética conduzido pela OCDE no período 1999-2000 a pedido dos Ministros da OCDE em sua reunião anual. Sua elaboração busca facilitar o aprendizado mútuo e apoiar os formuladores de política na construção de estratégias éticas modernas tanto nos países membros da OCDE quanto nos países não membros. Em outras palavras, esse levantamento foi dedicado à construção da confiança pública. Tendências comuns mostram que os seguintes passos são necessários para construir um sistema consistente de mecanismos de apoio, ou, em termos mais específicos, a infra-estrutura ética: Comunicar e inculcar valores fundamentais e padrões éticos visando proporcionar orientação clara e conselhamento no processo de resolução de dilemas éticos. Promover padrões éticos por meio da prevenção de situações propícias a gerar conflitos de interesse e premiar os padrões elevados de conduta por meio de promoção na carreira. Monitorar o cumprimento e relatar, detectar e disciplinar a conduta inadequada. Esta Nota é baseada em levantamento sobre administração da ética no serviço público que revisou a implementação da Recomendação da OCDE sobre Melhoria de Conduta Ética no Serviço Público de 1998. Esse levantamento foi baseado na auto avaliação pelos 29 países membros da OCDE: os governos centrais forneceram informações sobre seus sistemas vigentes e o seu modo de funcionamento. A OCDE promove a boa governança O ambiente sócio-econômico em constante mudança e, especialmente, a crescente demanda por transparência, exige que governos revisem e ajustem mecanismos para assegurar elevados padrões de conduta no setor público. A OCDE apoia seus países membros nas ações para promover a boa governança tanto na esfera pública como privada. Iniciativas recentes que abordam tanto o lado da demanda quanto o da oferta de corrupção incluem o trabalho sobre ética pública e a implementação da Convenção da OCDE de 1997 contra Suborno de Autoridades Públicas Estrangeiras e dos princípios de Governança Corporativa da OCDE. Informações adicionais... sobre este levantamento estão disponíveis na publicação da OCDE intitulada Trust in Government: Ethics Measures in OECD Countries. Essa publicação constitui uma fonte única de informação comparativa sobre administração da ética nos 29 países membros da OCDE, incluindo tendências gerais, práticas promissoras e soluções inovadoras. A base de dados apresentada no relatório tem o objetivo de prestar assistência aos países na avaliação de seus sistemas no contexto das práticas e tendências prevalecentes nos países da OCDE. As versões do relatório em inglês e em francês podem ser adquiridas na Livraria Online da OCDE (http://www.oecd.org/bookshop/). Para maiores informações sobre os trabalhos da OCDE sobre ética pública, favor entrar em contato com: E-mail: [email protected] Fax: +33-1-45.24.17.06 / 89.76 Website: http://www.oecd.org/puma/ © OCDE, 2000. All rights reserved. 6