Mirian Dayrell chegou ao mercado imobiliário por vias tortas Eles se desfizeram dos seus planos e foram atrás dos seus sonhos. Curiosamente, como na música do cantor Fábio Jr. regravada em 2008 pelos roqueiros do Raimundos, todos eles tinham seus 20 e poucos anos. Algumas décadas depois, os principais corretores de imóveis atualmente em atividade na capital contam que a especialização em segmentos diferentes do ramo foram cruciais para que eles chegassem ao sucesso. E afirmam que o contato com o público diversificado e a vida fora do escritório são e sempre serão – ao lado do dinheiro – os maiores atrativos da carreira. “O bom corretor de imóveis tem que gastar muita sola de sapato e saliva. Senão, morre de fome”, resume Newton Marques Barbosa. Aos 83 anos e atualmente vice-presidente do Conselho Federal de Corretores de Imóveis, ele calcula já ter vendido mais de 80 mil lotes. Começou na profissão em 1956, com 24 anos. Na época, Belo Horizonte não tinha mais que 250 mil almas, e bairros como Buritis, Estrela Dalva, Palmeiras e São Benedito (em Santa Luzia) eram matas e pastos com casinhas esparsas. “As pessoas estavam chegando à cidade e precisavam morar” conta. Quase seis décadas depois, a empresa virou um grande negócio familiar. Atualmente, filhos e sobrinhos gerenciam os projetos e vendas, quase sempre de terrenos. Tudo sob a supervisão atenta do patriarca, que faz questão de bater ponto diariamente no amplo conjunto de salas localizadas na rua dos Carijós, na praça Sete, coração de Belo Horizonte. O tino da família para os negócios também é motivo de orgulho de Newton. Sem pestanejar, aponta um dos sobrinhos, o hoje corretor Frederico Ferreira Nunes, como “o melhor vendedor de lotes da região metropolitana”. Quem também se orgulha da prole, mesmo que sem laços de consanguinidade, é a corretora Mírian Dayrell, dona da imobiliária de mesmo nome. Desde o início de fevereiro, a corretora se desdobra para supervisionar processos, documentação e satisfação de todos os clientes. Não é pouca coisa. Em março, a carteira da imobiliária tinha 2 mil imóveis à venda. “Com o tempo, tive que reduzir as visitas, mas todos os dias acompanho pelo menos uma visita”, conta Mírian. Diretor da Prolar Imóveis, Vinicius Araújo também acompanha de perto as negociações tocadas nas quatro unidades – Floresta, Mangabeiras, Silveira e Castelo. Aos 22 anos, a rede de imobiliárias aposta em uma diretriz simples. Cada profissional tem que conhecer bem sua área, mas todos devem trabalhar em equipe. Motivação é outra palavra-chave. “O sonho principal de todo mundo é ter sua casa própria. O cliente não quer alguém para mostrar algo. Quer alguém atualizado e capacitado para resolver seus problemas, conseguir o melhor imóvel nas melhores condições”, resume. Para ser corretor de imóveis, um profissional precisa ter segundo grau completo, diploma técnico como corretor – o curso tem dois anos de duração – e ter matrícula no Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci). As consultas podem ser feitas junto ao órgão no www.crecimg.gov.br. A mãe exigente Advogada por formação, Mirian Dayrell, chegou ao mercado imobiliário por vias tortas. Era consultora jurídica de processos quando recebeu uma proposta para se tornar vendedora. O riso fácil e a abundância de casos que gosta de contar contribuíram para que em sete anos passasse de corretora novata para dona da própria empresa, que leva sua assinatura. Doze anos depois, Mirian abriu, em 2013, sua segunda unidade, na Cidade Nova. A primeira fica no Sion. Com portfólio de mais de 2 mil unidades à venda, é ela que vistoria todas as documentações, fichas e contratos. “Pelo menos uma vez por dia, acompanho uma visita, vou para a rua. O contato com os clientes e a atualização constantes são fundamentais para o bom corretor.” Alexandre Gribel começou a trabalhar no ramo em 1989 a convite do irmão O especialista No mercado há duas décadas, o diretor da Alphasul Corretora, Márcio Lanna, é um especiaista. Todos os meses vende, ao lado de sua equipe, média de 20 imóveis. Número modesto, a princípio. Mas só para quem olha de longe. Seu negócio são casas em condomínios no Vetor Sul – Nova Lima, Brumadinho e região – e apartamentos de luxo e alto luxo nos bairros da região sul de Belo Horizonte. Raramente um imóvel como esses sai por menos de meio milhão de reais. Não raro, vende casas de até 15 milhões de reais. Para isso, o corretor deixou de lado outras opções de mercado. “A especialização é uma tendência do setor. Para vender bem, o corretor tem que entender o que o seu público quer, conhecer a área como a palma da mão, saber prós e contras de cada venda. É essa a nossa aposta. Queremos ser os maiores especialistas do mercado na nossa área.” O empreendedor Antes dos 21 anos Alexandre Gribel já tinha morado nos Estados Unidos, onde lavou pratos e serviu lanches. De volta a Belo Horizonte, começou a trabalhar no ramo em 1989 a convite do irmão, que lhe comprou seu primeiro terno. Vinte e cinco anos depois, é um empreendedor e toca duas imobiliárias: a LIP, especializada em empreendimentos no entorno da lagoa dos Ingleses, em Nova Lima, e a Morus, onde tem como sócio o também empresário Alexandre Lobo. Trata-se de empresa com 350 corretores e faturamento na casa dos 50 milhões de reais mensais, que negocia de 80 a 110 imóveis por mês. Os resultados são surpreendentes, mais ainda porque Alexandre se dedicou, até 2011, à imobiliária que leva seu sobrenome, hoje uma concorrente. “Paguei multa pesada para sair da sociedade, mas hoje estou seguro que fiz a melhor decisão”, assegura. Suas metas: tornar a Morus a maior corretora do estado, e a lagoa dos Ingleses uma nova centralidade da Região Metropolitna de Belo Horizonte, com casas, prédios, hospital, escola etc. “Ser corretor é ter força de vontade, determinação, estudar sempre e, principalmente, querer resolver o problema do cliente.” O amigão Moreno, rechonchudo e com os primeiros cabelos brancos apontando, Frederico Ferreira Nunes, hoje com 39 anos, trabalha em sala modesta na NMBarbosa, uma das mais antigas empresas do ramo no Brasil. Sobre a mesa, pilhas rigorosamente organizadas de documentos em pastas de cores diferentes, e três telefones à vista. O local é simples e agradável, mas o profissional fica pouco por ali. A maior parte de seu tempo é gasta em visitas a empreendimentos na região metropolitana. Vender lotes virou sua vida nas duas últimas décadas. Antes, trabalhou na firma como office boy. Seu segredo? Desde o primeiro contato, parece um velho conhecido. “Um lote no entorno da cidade é uma coisa que vai beneficiar não só o comprador, mas sua família, seus filhos, seus netos. Quando vendo um, tenho certeza de que vou vender mais um ou dois imóveis para amigo, parente do cliente. A propaganda boca a boca, a confiança, é o que move esse setor.”