Na gestação Karine Durães Nutricionista www.nutricionistainfantil.blogspot.com @nutrinfantil [email protected] Gestação Gestação: Fisiologia 1º trimestre É caracterizado por grandes modificações biológicas, devido a intensão divisão celular. A saúde do embrião vai depender das condições nutricionais pré-gestacionais. Gestação: Fisiologia Placenta Órgão; Transporta oxigênio e nutrientes da mãe para o feto; Estrutura esponjosa oval; Peso de 450g; Velocidade aumenta 6x do início até o fim; Ausência de insulina nas primeiras 14 semanas (produção de PTN semelhante); Gestação: Fisiologia Hormônios HCG (Gonadotropina Coriônica Humana) Início da gravidez papel fundamental; Promove a evolução do feto, enquanto não existe produção suficiente de estrogênio e progestereona; Estimula o crescimento do corpo lúteo (cerca de duas vezes o seu tamanho original após um mês) Detectada no sangue a partir do 8 dias; Urina 15 dias. Gestação: Fisiologia Hormônios Progesterona Relaxa a musculatura lisa do útero, mas acaba interferindo em outros órgãos e intestino = constipação intestinal Reduz sensibilidade a ocitocina, hormônio que contrai o utero Participa da mamogênese Gestação: Fisiologia Hormônios Estrogênio Aumentar a elasticidade uterina e do canal cervical; Participa da mamogênese, mas inibe a lactogênese na gravidez Gestação: Fisiologia Hormônios Lactogênio Placentário Humano (hPl) Inicia o processo de produção de leite (lactogênese) nos alvéolos das glândulas mamárias. Ação contrária à insulina pelo estímulo a glicogenólise (quebra do glicogênio) , promove a utilização do ácido graxo livre das reservas adiposas da mãe Gestação: Fisiologia Hormônios Insulina Aumento na produção, para dar conta do aumento da demanda de glicose e a insulina vai ficando menos eficiente no final da gestação Adaptações Fisiológicas Durante a gestação ocorrem várias adaptações fisiológicas que afetam o sistema orgânico materno e as vias metabólicas: Aumento de 50% do volume plasmático; 20% do aumento no conteúdo de hemoglobina Aumento do estrogênio e progesterona Débito cardíaco aumenta 30 a 40% (625ml de sangue por minuto) Adaptações Fisiológicas Metabolismo basal 15 a 20% maior devido ao aumento de peso; Ajustes no metabolismo de CHO, PTN e Lipídeos para garantir a boa nutrição do feto; < das taxas de glicose, transformando os ácidos graxos na fonte de energia; Respiração ofegante=aumento do movimento do diafragma Adaptações Fisiológicas Mudanças significativas no olfato, paladar e preferência de alimentos; Aumento de peso no último trimestre da gravidez que promove o estímulo do crescimento da massa muscular fetal Fatores de Risco Gestação na adolescência Gestação com mais de 35 anos Baixo peso Sobrepeso ou obesidade Paridade Tabagismo Álcool Avaliação Nutricional Período curto de observação Modificações rápidas das medidas antropométricas Avaliação de 1 indivíduo: estado nutricional de 2 Objetivos da avaliação nutricional Identificar gestantes com desvio ponderal no início da gestação Detectar gestantes com ganho menor ou excessivo para idade gestacional Subsidiar intervenções adequadas: melhorar estado nutricional materno e do recém-nascido e as condições do parto, melhorar sintomatologia típica. Avaliação Nutricional da Gestante Métodos Utilizados: - ANTROPOMÉTRICOS - BIOQUÍMICOS - CLÍNICOS - DIETÉTICOS Avaliação Antropométrica na Gestação Estatura materna Perímetro braquial Altura uterina Peso pré-gestacional (PPG) Ganho de peso na gestação Estatura Materna Indicador aproximado do crescimento infantil e da estrutura óssea pélvica Estatura < 1,47 a 1,53m RCIU < 1,40 a 1,50m complicações no parto < 1,40 - 1,53 m Riscos Gestacionais WHO, 1995 Avaliação da Estatura da Gestante Avaliar no início da gravidez (antes da 20 a semana gestacional ) Postura alterada Lordose Fisiológica Alteração na Estatura Perímetro Braquial Reflete o estado nutricional prévio à gestação e o atual; Menos sensível que o peso em relação às alterações a curto prazo das condições de saúde e nutrição; Usado na ausência de recursos para aferir o peso. PB < 21 - 23 cm risco de baixo peso ao nascer Peso Pré-Gestacional Permite nortear qual a necessidade de ganho de peso durante a gestação; Fator preditivo do crescimento fetal. PPG < 45 Kg ou > 75 Kg -Peso ao nascer (baixo peso ou macrossomia) -Parto pre-maturo -Morbi-mortalidade materna ou perinatal Peso Pré-Gestacional O Peso pré-gestacional pode ser obtido por várias formas: recordação da mãe com relação ao seu peso até 2 meses antes da gestação (sujeito a viés de memória); registro médico (até 2 meses anteriores à gestação); aferição logo após a concepção (ideal); aferição durante o primeiro trimestre (sujeito a erros). IMC Pré-Gestacional Referência: Instituto de Medicina USA (1995) Ponto de Corte Diagnóstico Ganho de peso semanal (g/semana) > 29 Obesidade 500 a partir do 2 semestre 29-26 Pré-obesidade 400 a partir do 2 semestre 26-19,8 Eufrofia 300 a partir do 2 semestre < 19,8 Baixo Peso 200 a partir do 2 semestre IMC Pré-Gestacional Referência: Organização Mundial de Saúde (1995) Ponto de Corte Diagnóstico > 30 Obesidade 29,99 - 25 Pré-obesidade 24,99 – 18,5 Eufrofia < 18,5 Baixo Peso Ganho de peso (kg) recomendado durante a gestação segundo EN inicial Estado Nutricional Inicial (IMC) Ganho de peso total no 1º trimestre Ganho de peso de peso semanal médio 2º e 3º trimestre Ganho de peso total na gestação Baixo peso 2,3 0,5 12,5-18 Adequado 1,6 0,4 11,5-16 Sobrepeso 0,9 0,3 7-11,5 Obesidade ------ 0,3 7 Fonte: IOM, 1992 adaptado in SISVAN, 2004 Ganho de Peso Associação com crescimento fetal - Ganho Excessivo - Ganho Insuficiente Uterino macrossomia fetal (4 a 4,5kg) Retardo Crescimento Intra Não permite distinguir peso materno e peso fetal Baixa especificidade como indicador Mais adequado quando considera o PPG Avaliação do ganho de peso na gestação -Principais Referências- Curva de Rosso Classifica o estado nutricional de acordo com o % de adequação do peso/altura e a idade gestacional 1985: 1ª versão - 262 gestantes baixa renda .EUA 1991: 2ª versão - 2.168 gestantes baixa renda .Chile Adotada no Brasil – MS – Assistência Pré-natal de 1986 até 2000 1.Calcular a adequação do peso atual em relação ao peso ideal/ altura %= peso atual x 100 Peso ideal/altura 2. Marcar o ponto correspondente ao percentual encontrado (eixo y) e à idade gestacional (eixo x); A= Peso Baixo B= Peso Normal C= Sobrepeso 3. Nas consultas subsequentes, procede-se da mesma maneira e liga-se os pontos para obter o traçado da gestante, cuja inclinação reflete a evolução do ganho de peso durante a gestação. Avaliação por IMC Curva de Atalah, elaborada no Chile com 3000 gestantes em 1997 Indicado e atualmente utilizado pelo MS Avalia gestantes independente de sua altura Avaliação por IMC 1 -calcular a semana gestacional. 2- pesar a cada consulta e medir a altura na primeira consulta. 3 - localizar, no eixo horizontal, a semana gestacional calculada e identificar, no eixo vertical, o imc da gestante. 4 - marcar um ponto na interseção dos valores de imc e dasemana gestacional. 5 - classificar o estado nutricional da gestante segundo imcpor semana gestacional, conforme legenda do gráfico 1: 6- ligar os pontos obtidos e observar o traçado resultante. Investigação Alimentar Inquérito por registro (a gestante vai anotando o que vai consumindo) Inquérito de 24 horas (dieta anterior a consulta) Alimentação diária habitual (alimentos mais consumidos diariamente) Inquérito de frequência (frequência que determinados alimentos aparecem) Necessidades Nutricionais Maternas Energia Gestantes com IMC pré gestacional normal: Durante o primeiro trimestre não há acréscimos Segundo e terceiro trimestres, são adicionados 300 kcal / dia Gestantes com baixo peso devem receber o adicional desde o primeiro trimestre. Necessidades Nutricionais Maternas EER Gestantes (IOM) EER (pré gestacional)+adicional de energia gestacional+energia necessária para depósitos 1º trimestre = EER (pré gestacional) + 0 + 0 2º e 3º trimestre = EER (pré gestacional) + (8kcal x IG) + 180 kcal EER Pré gestacional (19 – 50 anos) EER = 354 – (6,91 x I) + CAF x (9,36 x P) + 726 x E EER= Necessidade Estimada de Energia (Estimadet Energy Requeriment) IG – Idade gestacional ( semanas) CAF I = Idade (anos) 1,0 – Sedentária P = Peso (kg) 1,12 = Pouco ativa E = Estatura (metros) 1,27 = Ativa CAF = Coeficiente de Atividade Física 1,45 = Muito ativa Necessidades Nutricionais Maternas Carboidratos e Lipídeos Aumentam proporcionalmente à energia Deve ser adotada a distribuição normal de nutrientes Com especial atenção à qualidade das gorduras oferecidas e a oferta de ômega 3 e 6, encontrados em peixes de água fria (atum, salmão, sardinha, cavalinha) e alimentos como ovos, linhaça e óleos vegetais, respectivamente Necessidades Nutricionais Maternas Proteínas 1,1g/ kg/ dia, considerando o peso pré gravídico; Oferta adequada de alimentos (Pirâmide Alimentar). Necessidades Nutricionais Maternas Fibras As recomendações de fibras são as mesmas para os indivíduos normais (25 a 30g) Importante: tendência de constipação durante a gravidez Recomendável a substituição de alimentos refinados por integrais, além do consumo de hortaliças e frutas recomendado na pirâmide alimentar. Necessidades Nutricionais Maternas Ácido Fólico Relacionado à síntese de DNA e RNA Deficiência na gestação pode ocasionar anemia megaloblástica, má formação fetal, deficiência do tubo neural, descolamento da placenta, sangramento no terceiro trimestre, prematuridade, baixo peso ao nascer, hipertensão gestacional e aborto espontâneo. O ácido fólico também pode ter seus níveis reduzidos antes da gravidez pelo uso de determinados anticoncepcionais e alguns medicamentos (antibióticos e anticonvulsionantes). Recomendação de ácido fólico na gestação é de 600mcg/ dia obtidos por meio do consumo de alimentos como fígado, ovo, feijões, vegetais verde escuros, laranja, beterraba, além da suplementação terapêutica. Necessidades Nutricionais Maternas Vitamina B12 • Papel fundamental para a regeneração da forma ativa do ácido fólico • Vários pesquisadores * verificaram uma diminuição da concentração de cobalamina no líquido amniótico de mulheres com gestação afetada por DTN • Atenção a pacientes vegetarianos, com dificuldade de produzir fator intrínseco, bariátricos, presença de H. Pilory *(Steen e col, 1998; Dawson e col, 1998) Necessidades Nutricionais Maternas Piridoxina-B6 Relacionada com a síntese de aminoácidos e também com a redução de náuseas e vômitos durante o período gestacional A recomendação é de 1,9mg/ dia Mulheres com pré eclâmpsia e eclâmpsia: necessidades podem ser maiores Presente em diversos alimentos, principalmente em cereais fortificados, fígado e carnes. Necessidades Nutricionais Maternas Vitamina C Não há estudos que relatem a deficiência de vitamina C durante a gestação; Funções estão relacionadas a defesa imunológica e também à síntese de colágeno, além de ser potencial antioxidante; Estudos demonstram que a deficiência de Vitamina C está associada ao aumento do risco de infecções, parto pré maturo e eclampsia. Necessidades Nutricionais Maternas Vitamina C Outro aspecto importante é a sua colaboração para o melhor aproveitamento do ferro presente nos alimentos; DRI - 85 mg o que pode ser facilmente atingido com o consumo regular de frutas e hortaliças fontes desta vitamina. Necessidades Nutricionais Maternas Vitamina A Participa do processo reprodutivo, desenvolvimento do tecido epitelial, crescimento ósseo e tem importante função imunológica; Excesso de retinol pode resultar em teratogênese - não é aconselhável a suplementação; Consumo dietético na forma de retinol (alimentos de origem animal como leite, queijos, manteiga, fígado e ovo) e caroteno (alimentos de origem vegetal como vegetais amarelo alaranjados e vegetais verde escuros). Necessidades Nutricionais Maternas Vitamina D Relacionada a mineralização óssea no feto; Deficiência na gravidez pode ocasionar problemas na calcificação de ossos e na formação do esmalte dos dentes no feto; Ingestão adequada é de 5mcg; Fontes: óleos de peixe, salmão, atum sardinha, gema de ovo e manteiga; Exposição regular ao sol (no início da manhã durante 30 minutos) é uma das melhores formas de obtenção desta vitamina. Necessidades Nutricionais Maternas Cálcio As necessidades de cálcio na gestação contemplam principalmente a mineralização óssea do feto e as reservas deste nutriente para o período de lactação; As necessidades são maiores no último trimestre e a recomendação é de 1000 mg/ dia; Necessidades Nutricionais Maternas Ferro Necessidades aumentadas de acordo com o aumento do volume sanguíneo, principalmente a partir do segundo trimestre; A ausência da menstruação no período gestacional reduz as perdas mensais de ferro e por esta razão, o aumento das necessidades de ferro não é tão significativo; A DRI para este nutriente é de 27mg a partir do segundo trimestre. Necessidades Nutricionais Maternas Ferro O ferro dietético é encontrado principalmente nas carnes, mas também presente em feijões e alguns vegetais (de forma menos biodisponível); Para garantir o bom aproveitamento do nutriente recomenda-se consumir alimentos fontes de ferro junto à vitamina C, o que melhora sua absorção, e evitar o consumo concomitante de alimentos fontes de cálcio como leite e derivados, chá e café. Contra Indicado na gravidez O uso de adoçantes e produtos diet à base de sacarina, aspartame não são recomendados, pois, pela permeabilidade da placenta eles podem permanecer nos tecidos do bebê; Uso de álcool, mesmo em pequenas quantidades; Uso de cafeína (resultados controversos) Fase Intra uterina e alimentação da gestante • Mais de 300 pesquisas confirmam que a alimentação da gestante influencia na preferência alimentar do bebê; • Estudo com população britânica indicou que a ingestão alimentar materna durante a gestação, exerce mais influência no hábito alimentar da criança quando comparada com o período pós-natal; *Brion MJ, Ness AR, Rogers I, Emmett P, Cribb V, Davey Smith G, et al. Maternal macronutrient and energy intakes in pregnancy and offspring intake at 10 y: exploring parental comparisons and prenatal effects. Am J Clin Nutr. 2010 Fase Intra uterina e alimentação da gestante O Monell Chemical Senses Center, na Filadélfia (EUA) conduziu estudo comparando o comportamento de dois grupos de gestantes: Um grupo consumiu suco de cenoura por toda a gravidez o segundo grupo consumiu água; Os filhos das gestantes que consumiam suco, da alimentação complementar em diante, aceitaram mais cereal com cenoura. *Mennella JA, Jagnow CP, Beauchamp GK. Prenatal and postnatal flavor learning by human infants. Pediatrics 2001;107: E88. Problemas comuns na gravidez Obstipação Náuseas e vômitos Enjoos Enjoos e náuseas Causados por hormônios da gestação, mas podem ser sintomas de hipoglicemia. Indicações: consumir uma fruta a cada 2,5 horas; 2 a 3 litros de água por dia; Alimentos frios ou gelados (ação antiemética) Consumo gengibre (ação antiemética) Verificar oferta de vitamina B6 (carência causa enjoos), zinco e complexo B em geral (necessários para produzir enzimas e sucos digestivos – ácido fólico em excesso atrapalha absorção Zinco) Obstipação intestinal Pressão do útero sobre o reto, ação hormonal Indicações: • Consumo adequado de fibras • Suplementação com pré e probióticos, respeitando a indidualidade bioquímica • Postergar a evacuação • Verificar se a gestante está tomando suplementação em forma de sais inorgânicos, como sulfatos, óxido e carbonatos – preferir quelados