GRAMSCI E A EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS
GERAIS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO/ DECAE
PROFESSORA: ROSEMARY DORE
GRAMSCI
1891-1937
Um pouco da
história de sua
vida
Ales é a cidade onde nasceu Gramsci.
Fica na Sardenha, sul da Itália
SARDENHA
Localizada ao
sul da Itália
Francesco Gramsci
(1860-1937).
Pai de Gramsci, cuja
família era de origem
albanesa e se mudou
para o Reino das Duas
Sicílias em 1821. Em
1881, Francesco se
mudou para a Sardenha
para trabalhar em
Ghilarza.
Giuseppina Gramsci
mãe de Gramsci, com
a neta Mimma Paulesu,
filha da irmã de
Gramsci, Teresina.
Giuseppina Gramsci
(1861-1932) nasceu
em Ghilarza, na
Sardenha, e casou
com Francesco em
1883. Depois, eles se
mudaram para Ales,
onde nasceu Gramsci,
em 1891.
Gramsci na escola
1905-1908
Gramsci com 15 anos, em
1906.
Entre 1905 e 1908, Gramsci
frequentava as três últimas
séries da escola secundária em
Santu Lussurgiu, cerca de 15
km. de Ghilarza. Durante o ano
escolar, ele ficava naquela
cidade, numa casa de
camponeses. Nos primeiros
anos, Gramsci manifestou uma
inclinação por ciências e
matemática. Em torno de 1905,
ele começou a ler publicações
socialistas, incluindo o jornal
Avanti!, que seu irmão,
Gennaro, costumava enviar-lhe
de Turim, aonde realizava
serviços militares.
Gramsci, com cerca de 30 anos
no início dos anos 20.
Quando tinha entre 20 e 30 anos,
antes de sua prisão em 1926,
Gramsci era politicamente muito
ativo. Em 1919, ele ajudou a fundar
o semanário socialista L’Ordine
Nuovo, em Turim. Em 1920, ajudou
o movimento dos trabalhadores a
ocupar fábricas em Turim e Milão.
Em 1921, era um dos delegados
que participou da ruptura com o
Partido Socialista Italiano e ajudou
a criar o Partido Comunista Italiano.
Em 1922, foi indicado como
representante do PCI no
Comunismo Internacional.
Foto da canteira de identidade do
Comintern de Gramsci, setembro de
1922. Em maio de 1922, Gramsci viajou
para Moscou e, em junho, ele se tornou
membro do Comitê Executivo do
Comintern. Ele morou em Moscou até
novembro de 1923.
Foto de Gramsci em
torno de 1922.
Provavelmente, a
foto é do mesmo
período daquela da
carteira de
identidade do
Comitern.
A família Schucht,
1912-13
Enquanto Gramsci
vivia em Moscou,
ele encontrou
Giulia Schucht (no
centro) que se
tornou sua
esposa. Essa foto
é da família,
quando vivia em
Roma.
Gramsci em Viena,
1923
Gramsci deixou
Moscou e foi para
Viena, em
novembro de 1923.
Sua esposa, Giulia,
permaneceu em
Moscou. Gramsci
chegou em Viena
em 3 de dezembro
e não voltou para a
Itália até maio de
1924. Essa é a
única foto que
mostra um sorriso
de Gramsci.
Tatiana Schucht,
em 1924
Tatiana Schucht
(1887-1943) foi a
cunhada de
Gramsci, irmã de
Giulia, que viveu na
Itália até a morte de
Gramsci.
Tatiana Schucht, em
meados dos anos 20.
Em maio de 1924,
Gramsci voltou para a
Itália e, em janeiro de
1925, ele encontrou
Tatiana pela primeira
vez em Roma. Depois
da prisão de Gramsci,
em novembro de
1926, Tatiana se
tornou seu principal
suporte, seja do ponto
de vista emocional ou
do bem estar físico.
Giulia Schucht, no
final dos anos 20.
No outono de 1925,
Giulia e Delio, filho
de Gramsci,
encontraram
Gramsci em Roma.
Eles não tinham se
visto desde
novembro de 1923 e
foi a primeira vez que
Gramsci viu o seu
filho Delio.
Giuliano Gramsci
Antes da prisão de Gramsci,
em novembro de 1926, sua
esposa Giulia voltou para a
União Sloviética para ter o
seu segundo filho, Giuliano,
que nasceu em Moscou, em
20 de agosto de 1926,
poucos meses depois da
prisão de Gramsci. Devido à
sua prisão e morte precoce,
ele nunca teve a chance de
encontrar Giuliano. Essa
foto foi tirada em torno de
1930, quando Giuliano era
um pequeno garoto, com
seus colegas de escola em
Moscou.
Giulia Schucht e os filhos de Gramsci, Delio e
Giuliano
Cárcere de
Turi
1928
Gramsci ficou preso em Turi
(província de Bari, região da
Puglia), de 19 de julho de
1928 a 19 de novembro de
1933. Quando ele chegou a
Turi, recebeu a identificação
número 7047. Em janeiro de
1929, ele obteve a
permissão para escrever na
sua cela. Ele planejou ler
sistematicamente e
concentrar-se em certos
tópicos. Seu livro mostra a
reflexão proposta em seus
planos de trabalho. Em
1929, ele começou a
escrever o que hoje é
conhecido como os
“Cadernos do cárcere”.
O Primeiro Caderno do
cárcere, 8 de fevereiro de
1929
Antes de começar a escrever
os “cadernos do cárcere”,
Gramsci fez o esboço de um
plano de estudos nas duas
primeiras páginas de um
caderno de estudos comum.
No topo da primeira página,
ele escreveu e sublinhou o
título “Primeiro Caderno”,
seguido pela data “8 de
fevereiro de 1929”. O plano de
estudos consiste de 16 itens
numerados, listados sob o
cabeçalho: Principais
Tópicos.
Deliberação do
Ministério da
Justiça, 13 de
novembro de 1930
Essa deliberação do
Ministério da Justiça
para o
superintendente da
prisão de Turi dá a
Gramsci a
permissão para ler
um certo número de
livros enquanto
estivesse preso.
Clinica Cusumano em Formia
(Provincia de Latina, Região do
Lazio), dezembro de 1933.
Em outubro de 1933, por causa
de sua saúde extremamente
deficitária, Gramsci recebeu
autorização para deixar a
prisão de Turi e ir para a clínica
Giuseppe Cusumano, em
Formia. Gramsci entrou nessa
clínica em 17 de dezembro,
mas como ainda era
considerado prisioneiro ficou
sob a guarda da polícia e sob
cerrada vigilância.
Formia Provincia de
Latina, Região
do Lazio
Formia - 1935
Formia – 1935
Essa foto de Gramsci foi tirada
enquanto ele estava na clínica
Cusumano em Formia. Ali,
Tatiana o visitava
semanalmente e Gramsci
também recebia visitas de seu
irmão Carlo e de Piero Sraffa.
Gramsci recomeçou a ler e,
depois de um período, ele
retomou seus escritos nos
cadernos. Ele permaneceu em
Formia até 24 de agosto de
1935, quando então foi para a
Clínica de Quisisana, em Roma
devido à piora de sua saúde.
Número e foto do Cárcere
Casa de
Gramsci em
Ghilarza Sardenha
Tatiana Schucht no túmulo de Gramsci em 1937
A sentença de prisão de Gramsci expirou em 21 de abril de 1937,
mas ele ainda era um paciente na clínica de Quisisana, quando
sofreu uma hemorragia cerebral na tarde de 25 de abril. Tatiana
permaneceu ao seu lado e Gramsci morreu na manhã de 27 de
abril de 1937. A foto de Tatiana ao lado do túmulo de Gramsci é
num cemitério inglês em Roma. Depois da morte de Gramsci,
Tatiana voltou para Moscou.
Gramsci e a educação
Edição temática organizada por Palmiro Togliatti,
iniciando em 1948, na Itália, e 1968, no Brasil
Cadernos do Cárcere organizado por
Valentino Gerratana, 1975
Edição de Carlos Nelson Coutinho, em colaboração com Luiz Sérgio
Henriques e Marco Aurélio Nogueira.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira
Vol. 1: “Introdução ao estudo da filosofia. A filosofia
de Benedetto Croce”.
Vol. 2: “Os intelectuais. O princípio educativo.
Jornalismo”.
Vol. 3: “Maquiavel. Notas sobre o Estado e a política”.
Vol. 4: “Temas de cultura. Ação Católica.
Americanismo e fordismo”.
Volume 5: “O Risorgimento. Notas sobre a história da
Itália”.
Vol. 6: “Literatura. Folclore. Gramática. Apêndices:
variantes e índices”.
Contexto de produção da tese que
resultou no livro:
•superar interpretações da educação,
então dominantes (Althusser,
Bourdieu), fundamentadas em
concepções deterministas, então e
ainda dominantes,
•recuperar o conceito de hegemonia,
confrontando concepções sobre a escola
de Gramsci, que a confundem com o
modelo soviético
•a contribuição teórica de Gramsci para
a produção intelectual no campo
educacional:
. valorização da cultura
. valorização da escola
. valorização dos professores
(intelectuais)
Conceito de bloco histórico
Metáfora Base e superestrutura, para chegar no conceito
de “bloco histórico”
Superestrutura/ideologias
Estrutura/Economia
MARX, Prefácio à Para a crítica da economia política (1859)
• “O modo de produção da vida material condiciona o
processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é
a consciência do homem que determina o seu ser, mas,
pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua
consciência” (MARX, 1983, p. 24, grifo meu).
• Quando se estudam essas revoluções [sociais], é preciso
distinguir sempre entre as mudanças materiais, ocorridas
nas condições econômicas de produção e que podem ser
apreciadas com a exatidão própria das ciências naturais, e
as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou
filosóficas, numa palavra, as formas ideológicas em que os
homens adquirem consciência desse conflito e lutam para
resolvê-lo. (MARX, 1983, p. 25, grifo meu).
Marx, Teses sobre Feuerbach (1845)
A doutrina materialista sobre a mudança
das contingências e da educação se
esquece de que tais contingências são
mudadas pelos homens e que o próprio
educador deve ser educado. Deve por isso
separar a sociedade em duas partes —
uma das quais é colocada acima da outra.
A coincidência da alteração das
contingências com a atividade humana e a
mudança de si próprio só pode ser captada
e entendida racionalmente como práxis
revolucionária. (MARX, 1985, p. 51, grifo meu).
BLOCO HISTÓRICO
Sociedade política
intelectuais
Sociedade civil
«Reforma Intelectual e Moral»
Relação entre teoria/prática, idéias/ação,
filosofia/história, intelectual/moral,
espírito/matéria
Questões de Gramsci:
Como surgem as idéias, concepções de mundo?
Como elas se transformam em práticas?
Como se convertem em idéias dominantes?
Como se tornam “hegemônicas”?
Reforma Intelectual e Moral
O trabalho para convencer as classes subalternas
a aceitar o status quo não se realiza apenas no
plano intelectual, não se restringe ao mundo das
idéias.
As concepções de mundo são acompanhadas de
comportamentos: um modo de pensar tem um
modo de agir que lhe é correspondente.
Quando a classe dominante consegue dar uma
direção intelectual para a sociedade, essa direção
também é moral, isto é, implica formas de agir
no mundo. Se as massas populares prestam o
seu consentimento ao Estado capitalista, então o
Estado se torna hegemônico: exerce a direção
intelectual e moral da sociedade.
Hegemonia, intelectuais,
reforma intelectual e moral
Importância como referencial teórico para a educação e cultura
Os intelectuais, entendidos por Gramsci como organizadores
e difusores de determinadas concepções do mundo, promovem
uma “reforma intelectual e moral” na sociedade.
Através da política, eles modificam o conjunto das relações
sociais e procuram adequar a cultura às exigências práticas,
determinando efeitos positivos ou negativos, modificando a
maneira de pensar e agir do maior número de pessoas,
criando, portanto, uma “norma de ação coletiva”.
A atividade política de direção cultural, realizada pelos
intelectuais, é fundamentalmente pedagógica, pois visa a
difundir ideologias entre as massas para engendrar uma ética
adaptada a uma determinada ordem social que se quer
preservar ou modificar. Assim concebida, a atividade política é
educativa e “ética”: propõe-se a definir uma outra moral
coletiva que entre em choque com aquela dominante e possa
desagregá-la.
Constituição de um centro unitário de
cultura e a escola unitária
• propiciar a superação do “senso comum” vulgar e
a formação do pensamento filosófico das classes
subalternas
• filosofia da praxis como referência filosófica para
orientar o confronto ideológico seja com o senso
comum, seja com as concepções de mundo
dominantes
• formulação de “um programa escolar, um
princípio educativo e pedagógico original que
interesse e dê uma atividade própria, no seu
campo técnico, àquela fração dos intelectuais que
é a mais homogênea e a mais numerosa (os
professores, do ensino elementar aos professores
de Universidades)” (GRAMSCI, 1977, p. 2047).
A ESCOLA UNITÁRIA
• Gramsci debate com outras concepções de organização
escolar:
• A. – dialoga com a escola humanista (tradicional):
• - recuperação de princípios da escola humanista:
• a) porque tem como objetivo formar dirigentes: o que é
muito mais do que formar para a cidadania;
• b) o princípio do trabalho como o ensino de direitos e
deveres:
•
b1) a relação dos homens entre si: que cria os
diferentes tipos de sociedade; as leis civis, a política, o
governo, o Estado.
•
b2) a relação dos homens com a natureza: que cria a
ciência, a técnica.
A ESCOLA UNITÁRIA
• B. - critica a proliferação de escolas profissionais:
divisões em castas chinesas
• entende que a escola única soviética é uma solução
para a dualidade da escola, mas critica o modelo
soviético, principalmente pela profissionalização
precoce:
• «O homem moderno deveria ser uma síntese daqueles
que podem ser ... imaginados como figuras nacionais: o
engenheiro americano, o filósofo alemão, o político
francês, recriando, por assim dizer, o homem italiano do
Renascimento, o tipo moderno de Leonardo da Vinci
transformado em homem-massa ou homem coletivo
simplesmente mantendo a sua forte personalidade e
originalidade individual. (...) Você pensa que o sistema
educativo Dalton possa produzir Leonardos, seja tão
somente como síntese coletiva?» (Carta à Giulia, n. 283,
1/08/1932, in GRAMSCI, 1965, p. 234, grifo nosso).
A ESCOLA UNITÁRIA
• C. dialoga com a escola ativa (Gentile,
Lombardo Radice)
• “re-apropriação” do conceito de atividade,
da concepção da “escola ativa” (ou nova)
e a formulação dos conceitos de
Hegemonia, como uma relação
pedagógica, para além do mundo escolar.
• Escola Unitária: é escola ativa
• Seu significado, suas possibilidades, sua
necessidade de “aggiornamento”
A ESCOLA UNITÁRIA
• se insere no quadro de suas preocupações no sentido
de tornar hegemônico um “centro unitário de cultura”,
apresentando o que ele chama de “esquema de
organização do trabalho cultural” (GRAMSCI, 1977, p.
1539).
• Integrando um programa político em direção à igualdade
social, a “escola unitária” é uma referência para a crítica
às desigualdades sociais, produzidas pelo sistema
capitalista, e que se exprimem nas diversas instâncias
da sociedade e da cultura, como também na escola.
• O seu significado é muito amplo, parâmetro da análise
de Gramsci sobre a organização da cultura. Refere-se
à luta pela unificação do ser humano como possibilidade
de realização, como devir.
Incompreensão da “escola unitária” de
Gramsci na Itália e no Brasil
1. início da polêmica com a interpretação de autores
brasileiros, com o conceito de “escola politécnica”
2. a chegada ao «nó» da questão:
- a incompreensão do conceito de hegemonia na Itália
- a leitura da proposta educacional de Gramsci a partir da
ótica do modelo soviético: Mario Manacorda
3. a ausência do conceito de “contra-hegemonia” e de
resistência em Gramsci:
- a exigência de um projeto de sociedade e a importância
da cultura
- A escola unitária não seria construída depois de uma
suposta queda do capitalismo, mas a partir da própria
escola que temos, patrimônio histórico e social.
Referências importantes
• http://www.acessa.com/gramsci/?page=vida
• DORE Soares, R. Gramsci, o Estado e a escola. Ijuí : Unijuí,
2000.
• DORE, R. Gramsci e o debate sobre a escola pública no
Brasil. Cadernos CEDES., v.26, n 70, p.329-352, Dec. 2006.
(Disponível no site:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010132622006000300004&lng=en&nrm=iso&tlng=pt)
• GRAMSCI, A. Lettere dal carcere (1925-1937). (Sergio
Caprioglio e Elsa Fubini org.) Torino : Einaudi, 1965.
• GRAMSCI, A. Quaderni del carcere. GERRATANA, Valentino
(org. da edição crítica com 4 vols.). Turim : Einaudi, 1977.
• MARX, Karl. “Prefácio”. In: Contribuição à crítica da economia
política; tradução de Maria Helena Barreiro Alves. 2ª ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1983, pp. 26-29.
• MARX, Karl. Teses sobre Feuerbach (1845). In: Os
pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. 49-53.
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