3. O TRABALHO DE CAMPO A pesquisa de campo junto aos beneficiários do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) no Estado da Bahia foi realizada nos municípios de Ituaçú, Monte Santo e Maragogipe, conforme préseleção feita pela equipe central. Cada município contou com uma equipe formada por um coordenador de equipe e três entrevistadores, sendo que um destes acumulou a fuenção de supervisor de campo. Com base nas listas fornecidas principalmente pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) com a relação dos pronafianos, foi feito o sorteio dos nomes dos entrevistados, em cada município, seguindo as instruções dadas no treinamento realizado em Salvador nos dias 07 e 08 de março de 2002, com o Professor Dr. Flávio Botelho. Este relatório contém as informações sobre a pesquisa de campo em cada município. Os três municípios escolhidos para a pesquisa têm na agricultura a sua principal atividade econômica, fonte de renda de parcela significativa da população. Segundo estudo realizado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e FJP (Fundação João Pinheiro), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,420, para Ituaçú, 0,312, para Monte Santo, e 0,435, para Maragogipe. Esses municípios apresentam um IDH abaixo da média do Estado da Bahia (que é de 0,530), bem abaixo também do brasileiro (de 0,742). Segundo relato dos entrevistadores, alguns entrevistados, principalmente os agricultores com melhores condições de vida, omitiram informações ou mentiram sobre sua verdadeira situação ou condição, por receio de eventuais complicações com o próprio Pronaf, com os Bancos e com o Governo. 24 3.1. Ituaçú A pesquisa de campo no município de Ituaçú foi realizada entre os dias 14 e 26 de março de 2002. A equipe de entrevistadores contou com o apoio dos técnicos (engenheiros e agrônomos) do Posto Avançado da EBDA, que disponibilizaram uma lista com os nomes e endereços dos agricultores pronafianos do ano-safra 2000-2001. Para o referido ano, a EBDA tinha 316 cópias de declarações de aptidão. A partir desse universo, foram sorteados 60 agricultores pronafianos do tipo B. Os créditos para agricultores dos tipos C e D não foram liberados pelo Banco do Nordeste (principal agente financeiro do município) porque a maioria desses são produtores de café e os preços do produto estavam em baixa no mercado. Nesse município foram entrevistados 49 agricultores pronafianos do tipo B e 51 não-pronafianos. As entrevistas foram realizadas de 16 a 25 de março, com volta a campo quando necessário. Houve resistência, por parte dos agricultores familiares, em indicar um vizinho não-pronafiano. Muitas vezes a equipe teve que bater à porta dos estabelecimentos. Dentre as dificuldades que os entrevistadores passaram na aplicação do questionário está a falta de compreensão, por parte dos entrevistados, da linguagem utilizada nas perguntas. Segundo as instruções no Manual do Entrevistador, as perguntas deveriam ser feitas exatamente como estavam no questionário, o que tornaria o trabalho impossível no local. No caso de Ituaçú, os agricultores do grupo B geralmente são analfabetos ou com pouca escolaridade. Outro problema identificado foi a grande quantidade de perguntas do questionário. O preenchimento do quadro de variação patrimonial do questionário é muito difícil, pois os agricultores não conhecem o tamanho certo de suas terras e 25 propriedades, os valores, as medidas e não conseguem quantificar nem qualificar seus bens e produção com segurança. Muitos agricultores reclamaram a falta de assistência técnica e orientação, por parte do Programa, para a realização dos cultivos ou investimentos na terra. Alguns agricultores não forneceram documentos de comprovação de posse da terra e muitas vezes nem conhecem a declaração de aptidão do Pronaf ou o próprio programa, que é chamado de os quinhentos. A EBDA já passa a documentação pronta para eles assinarem. 3.2. Monte Santo O trabalho de campo no município de Monte Santo foi realizado no período de 17 a 29 de março de 2002. A equipe contou com o apoio do escritório local da EBDA, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e de associações rurais. O trabalho foi iniciado com o sorteio de 60 pronafianos, com base em duas listagens do escritório local da EBDA, contendo nomes de 1.165 agricultores que receberam crédito do Pronaf no ano safra 2000/2001. Dessa amostra, 50 agricultores pronafianos foram entrevistados. Houve dificuldade para a obtenção das listagens através das instituições financeiras. Considerando que parcela significativa dos agricultores tinha recorrido ao crédito do Pronaf, houve dificuldades para se encontrar não-pronafianos e realizar as entrevistas. Dos 100 entrevistados - cinqüenta pronafianos e cinqüenta nãopronafianos - parcela significativa pertence ao tipo B. Monte Santo foi considerado pela equipe central, a partir de informações dos agentes financeiros, um município representativo do grupo C, no entanto, só foram entrevistados 14 agricultores deste grupo. Este fato é justificado e explicado com maiores detalhes no item relativo às análises dos dados primários. 26 Um dos fatores que dificultaram a execução do trabalho foi a extensão do município, com uma grande área rural, demandando tempo maior de deslocamento para as entrevistas. As distâncias entre as propriedades e o acesso precário em algumas localidades dificultavam a localização dos endereços dos entrevistados. Como parcela significativa dos municípios do semi-árido baiano, Monte Santo tem na sua agricultura a base da economia e seus agricultores apresentam condições socioeconômicas muito precárias. A produção é basicamente de subsistência, com um pequeno excedente que é vendido nas feiras. A irregularidade das chuvas agrava essa situação, contribuindo para um quadro de pobreza na região. A seca de 2001 deixou grandes prejuízos para os pequenos agricultores. Foi observado que, em geral, os agricultores não têm conhecimento do Pronaf, sabem apenas da existência de um projeto, conhecido como Projeto do Bode, através do qual receberam um empréstimo do banco, destinado à aquisição de caprinos e ovinos, de rolos de arame para fazer cercas e de sementes para plantio. Os pronafianos reclamaram do atraso na liberação dos recursos, prejudicando o plantio. Os não-pronafianos, além do desconhecimento do Pronaf, alegaram receio no cumprimento de dívidas. Assim como em Ituaçú, o baixo grau de instrução e a complexidade do questionário foram problemas levantados pelos entrevistadores, que utilizaram muito tempo para a realização das entrevistas. 3.3. Maragogipe As entrevistas no município de Maragogipe aconteceram entre os dias 18 e 31 de março de 2002. Foram utilizadas para o sorteio dos 60 agricultores pronafianos do ano safra 2000-2001 as listas do escritório local da EBDA e do Banco do Brasil. 27 Ao final do trabalho, a equipe retornou do campo com 47 questionários respondidos por agricultores pronafianos e 44 por não-pronafianos. Não foram encontrados 13 pronafianos e das dez famílias sorteadas para a reserva de pronafianos, cinco tinham migrado, um tinha o mesmo nome mas o CPF era diferente e a pessoa garantiu que jamais tinha usado o Pronaf e quatro não foram encontrados. Nesse município foi muito difícil encontrar produtores que não utilizaram o Pronaf. Mais de 80% são pronafianos, o que justifica a falta de seis entrevistas. Nesse município foram entrevistados agricultores pronafianos do tipo D. Esses, tomaram o crédito para o plantio do Inhame, segundo informações dos técnicos da EBDA, e conheciam o Programa como financiamento da terra. Os entrevistados demonstravam ter conhecimento sobre o assunto. Comparando-se o nível de vida dos agricultores entrevistados nesse município com os demais, percebe-se que esses têm um padrão de vida melhor. Outro aspecto percebido na estrutura dessas famílias foi a articulação da produção. Os agricultores trabalham na comercialização conjuntamente (venda em lotes). Existe uma cooperativa que beneficia a produção para exportação. Entretanto, as estradas para o escoamento dessa produção ainda são muito precárias. Foram superados muitos obstáculos para a realização das entrevistas nesse município. A principal dificuldade foi a localização dos agricultores, pois os mesmos são conhecidos pelo apelido e não pelo nome. Os endereços das listas fornecidas não eram suficientes para garantir a localização dos agricultores. Os agricultores omitiram muitas informações durante as entrevistas. Por possuírem um nível de vida melhor, comparando-se com os agricultores dos tipos C e D, os agricultores entrevistados em Maragogipe tinham receio de informar as verdadeiras informações sobre a terra, produção, valor, renda etc. 28 Apesar do nível de vida e do grau de instrução nesse município serem melhores, o tamanho e forma do questionário da pesquisa também prejudicou o andamento das entrevistas. Muitas vezes o entrevistado não tinha tempo para responder todas as perguntas e ficava impressionado com o tamanho visual do questionário. 29