ISSN 18094589
ANO VII – Nº 13 - DEZEMBRO D E 2011
P. 15 – 17
O ESTADO MODERNO E A RELEVÂNCIA DA GEO GRAFIA POLÍTICA
Rodrig o Janoni Carvalho1
Os estudos na área da Geografia Política ou Geopolítica apresentaram notável crescimento nos
últimos anos e seu ritmo de produção tem sido nitidamente regulado pelos processos relacionados à política
dos Estados e à natureza das relações internacionais. Certamente seria precipitado deduzir que as atividades
e os estudos nesta área estejam restritos aos segmentos militares.
O Estado moderno, aparelhado para múltiplas atividades, desenvolve suas próprias investigações em
diversos temas. A Geografia Política tem merecido cada vez mais atenção por parte dos aparelhos estatais
dedicados à formulação e a execução de políticas públicas voltadas às estratégias nacionais ou
internacionais. Esta ciência, a geopolítica, enquanto ideologia do Estado, pode ser formulada não
exclusivamente pelo Estado, como também em múltiplos espaços de pesquisas, como as universidades.
Vale pontuar algumas diferenças entre os termos Geografia Política e Geopolítica. A primeira é
identificada com os estudos sistemáticos mais afetos à geografia e restritos às relações entre o espaço e o
Estado, enquanto à segunda caberia analisar as relações poder entre os Estados e as estratégias, de modo
que esta se aproxima mais das ciências políticas e é bastante interdisciplinar. 2
A geografia política tendencialmente acaba por assumir uma dada concepção de Estado, em que este
aparece desprovido de contradições internas e de movimento histórico, como uma entidade geral e abstrata,
pairando acima da sociedade. Do ponto de vista desta ciência, Estado, nação e território constituem um todo
indivisível. A família ou o clã são tomados como unidades políticas e elementos celulares de organização
comandada pelo Estado. O mesmo ocorre com o território, considerado como recurso geral para a política
estatal. Uma determinada visão de conjunto se tornou imperativa, em que se costuma propor uma
apresentação do movimento da política dos Estados e blocos a nível mundial.
Toda sociedade que delimita um espaço de vivência e produção, delimita ao mesmo tempo um
espaço político, uma dada projeção te rritorializada das suas relações econômicas, sociais, culturais
e políticas. É evidente que à medida que a complexidade da organização socia l e política aumenta
[...] a tendência é que essas relações tornem-se mais explícitas e que a nitidez do espaço político
1
Bachare l e Licencia do em História pe la Universidade Fede ral de Ube rlândia.
José William Vesentini faz uma interessante esquematização composta por quatro principais diferentes visões sobre
o
que
é
geopolítica
e
suas
relações
com
a
geografia
política.
Disponível
em:
<http://www.geocritica.com.br/geopolitica.htm>. Acesso em 20 set. 2011.
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CE Dr. Dorvalino Lucia no de Souza – Cerro Grande-RS
F.: 55 3756 1133
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também aumente, in dependente se sociedades se organizem sob a forma clá ssica de Estado ou
não. O que importa ressaltar é que a relação espaço/poder é rela ção socia l por excelência e tem um
significado in questionável para a socie dade. (COSTA, 1992, p. 27).
No estudo da Geografia Política Clássica, destacam-se dois autores importantes para constituição
desta disciplina: Friedrich Ratzel (1844-1904), em especial com sua obra Geografia Política (1897), e Camille
Vallaux (1870-1945) com o destaque pela obra O solo e o Estado (1910). Para analisar Ratzel é fundamental
compreender seu contexto de vivência, influenciado pelo darwinismo e pelo naturalismo, preocupado com os
destinos e com a questão nacional de seu país, a Alemanha. Este ambiente cultural e político alemão da
segunda metade do século XI X têm na questão nacional um forte elemento de particularização.
Para o escritor alemão, os Estados são organismos que devem ser concebidos intimamente
conectados ao espaço. Caberia ao Estado estreitar seus laços de coesão e unidade para atingir toda a
extensão, articular o povo e o solo e ter papel político como organismo espiritual e moral. Fica aí descartada,
para este pensador, a ideia liberal do indivíduo. O Estado deveria controlar ao máximo as questões internas
sob articulação e coesão.
Camille Vallaux apresentou o primeiro estudo crítico e sistemático com relação à obra de Ratzel,
discordando dos métodos e inspirações daquele. Para ele, a aproximação das ciências biológicas e sociais é
equivocada. Ele rompe com o antigo mito da unidade sociedade-natureza. O meio natural representaria um
elemento constante a combinar permanentemente com os elementos variáveis da vida em sociedade,
diferenciação esta que se daria no tempo e no espaço com particularidades.
O método do pensador francês implica dois procedimentos lógicos: a analogia e a determinação do
tipo. Há uma noção de solo político e solo econômico que acaba por definir dois tipos de Estados. Os simples
são caracterizados por um nível de coesão interna baixo. Os complexos apresentam forte coesão interna e
seu domínio sobre o território é completo com um grau de interdependência entre suas partes.
Os dois autores se divergem principalmente no que dizem respeito ao espaço, em que o francês
critica o geógrafo alemão por sua escrita que objetivava a unificação de seu país. Vallaux destaca-se ainda
por suas análises sobre temas como problemas de circulação, cidades e fronteiras. Ratzel assume quase que
uma posição explicitamente imperialista em relação ao Estado e o território, todavia é necessário
compreender um contexto mais amplo, no qual este autor se incluía, de disseminação de ideias pangermânicas e de unificação política de seu país. Vallaux se coloca como primeiro crítico das ideias do
pensador alemão e propõe análises mais sofisticadas em alguns pontos propostos anteriormente por Ratzel.
Independentemente de seus contrapontos, vale ressaltar que ambos são consideravelmente importantes no
seio do pensamento e na formação da disciplina de geografia política.
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Bibliografia
COSTA, Wanderley Messias da. Geografia Política e Geopolítica: Discursos sobre o Território e o Poder.
São Paulo: HUCITEC: Editora da Universidade de São Paulo, 1992.
VESENTINI, José William. O que é a geopolítica? E a geografia política? Disponível em
<http://www.geocritica.com.br/ geopolitica.htm>. Acesso em 20 set. 2011.
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