Toxicidade Aguda por Agentes Químicos Industriais Eduardo M. De Capitani Centro de Controle de Intoxicações FCM-HC-UNICAMP Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Toxicidade Aguda por Agentes Químicos Industriais Via respiratória – – – – Irritação de vias aéreas Dano alveolar Fibrose Respostas alérgicas Via dérmica – Irritação dérmica / queimaduras – Absorção e efeitos sistêmicos Via digestiva – sempre complementar Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Respostas do Sistema Respiratório à agressão tóxica Irritação de vias aéreas superiores – Hidrossolubilidade da substância – Broncoespasmo • Irritação de terminações nervosa • Via colinérgica (acetilcolina) • Liberação de histamina – Edema de mucosa – Necrose – Infecção secundária Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Respostas do Sistema Respiratório à agressão tóxica Bronquiolite obliterante (tardia) 48 h - 7 dias depois do episódio agudo NOx O3 COCl2 (fosgênio) Amônia Cloro SO2 HF H2S Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Respostas do Sistema Respiratório à agressão tóxica Dano celular difuso – – – – Mecanismo oxidativo Necrose Alteração da permeabilidade Edema pulmonar não hemodinâmico • Substâncias menos hidrossolúveis (NOx) • Hidrossolúveis em alta concentração Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Respostas do Sistema Respiratório à agressão tóxica Fibrose pulmonar – Nodular = Silicose – Difusa • Asbestose • Produto final de dano celular difuso • Produto final de alveolites alérgicas e granulomatoses Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Respostas do Sistema Respiratório à agressão tóxica Asma brônquica – Mecanismo imunológico (IgE; linfócitos) – Lista de 250 agentes em ambiente de trabalho Síndrome reativa das vias aéreas (SRVA) – Hiperreatividade brônquica perene após episódio irritativo agudo único no passado Alveolite alérgica (pneumonite alérgica) – Alérgenos orgânicos e inorgânicos Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Classificação dos agentes químicos por características físicas GASES: fluídos sem forma que permanecem no estado gasoso nas condições normais de temperatura e pressão VAPORES: formas gasosas de substâncias normalmente sólidas ou líquidas - volatilização de solventes / mercúrio / água FUMOS: condensação de metais com oxidação no nível atmosférico: PbO, Fe2O3 POEIRAS:particulado sólido formado por degradação mecânica NÉVOAS: subdivisão de matéria líquida - óleo de corte/ pintura spray NEBLINAS: condensação de líquidos que volatilizaram FUMAÇAS: mistura de GASES + VAPORES + PARTICULADO + NÉVOAS + NEBLINAS Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Asfixiantes Simples – Substância que ocupa o espaço do OXIGÊNIO na árvore brônquica • Gases nobres; CO2; metano, butano, propano (GLP) Químicos – Impedem a utilização bioquímica do O2 • A- atuam no transporte de O2 pela Hb CO e metemoglobinizantes • B- impedem o uso tecidual do O2 Cianeto e H2S Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Monóxido de Carbono Inodoro, incolor, mais pesado que o ar Fontes de exposição: – 80% das mortes em incêndios – Ar atmosférico urbano: de 1 ppm a 140 ppm – Queima de combustíveis carbonáceos • • • • • • • Mineiros subterrâneos Fundições / siderurgia Motores a explosão em geral Grupos geradores a diesel Bombeiros Policiais de trânsito Garagistas Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Monóxido de Carbono Outras fontes: – Metabolismo de Cloreto de Metileno (dicloroetano) • 75% = CO2; 20% = CO; 5% exalado inalterado – Catabolismo de hemoproteínas: • Hemoglobina • Mioglobina • Citocromo Produz cerca de 0,5% a 3% de COHb Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br O2 O2 O2 O2 Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Curva de Dissociação da Hemoglobina SaO2 % 100 80 60 40 20 0 Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Equação de Haldane CO Hb PaCO M x Hb 02 Pa O2 M = constante (para o homem = 245) Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br % CO no ar Período de exposição em minutos Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Mecanismo de ação tóxica do CO 1. Ligação forte com a Hb formando COHb que leva à hipóxia 2. Deslocamento da curva de dissociação da Hb para a ESQUERDA 3. Ligação com outras hemoproteínas: – 10 a 15% do CO inalado se liga à mioglobina e à citocromo oxidase 4. Inibição de outras enzimas – Altera metabolismo de SNC Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Curva de Dissociação da Hemoglobina SaO2 % 100 80 60 40 20 Deslocamento para a esquerda 0 Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Monóxido de Carbono Diagnóstico da Intoxicação SINAIS E SINTOMAS de HIPÓXIA • • • • Tontura Tinitus Cianose Sedação • • • • Cefaléia Dispnéia Agitação psicomotora Coma LABORATÓRIO • • • • COHb elevada – VR = 2 a 3% (tabagistas, até 10%) pO2 baixa ou nl Sat Hb baixa Acidose Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Critérios para tratamento • • • • • HbCO > 25% HbCO > 15%, em isquêmicos Alterações do ECG Sintomas neuropsiquiátricos PaO2 < 60 mm Hg Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Fatores interferentes na toxicidade do CO a) b) c) d) e) f) Concentração de COHb prévia Tempo de exposição Atividade metabólica durante exposição Volume-minuto (ventilação) Doenças cardiovasculares e pulmonares associadas Hábito tabágico Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Meia Vida da COHb Ar ambiente (O2 = 21%) = 4 a 6 horas O2 a 100% = 60 a 90 minutos O2 hiperbárico (3 atmosferas) = 25 minutos Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Metemoglobinemia HbFe2+ + O2 -------> HbFe3+O2 MetaHb = HbFe3+, sem O2 Incapaz de carregar O2 hipóxia tecidual deslocamento da curva de dissociação para a esquerda pO2 e pCO2 normais Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Metemoglobinemia Mecanismos naturais de manutenção da Hb na forma ferrosa HbFe2+: – NADH como doador de elétrons: 95% – NADPH, via G6PD e glutation peroxidase = 5% sistema ligado à ação do Azul de Metileno como redutor da HbFe3+ Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Metemoglobinemia Valores normais até 1% Oxidação da Hb por substâncias tóxicas HbM = Fe está sempre na forma férrica • herança heterozigótica • 15 a 30% de MeHb Déficit de NADH-redutase • 10 a 15% de MeHb Déficit de NADPH-redutase Agência Nacional de Vigilância Sanitária pouco importante www.anvisa.gov.br Metemoglobinemia Causadores de MeHb – Anilinas – Nitratos e Nitritos • • • • NOx nitrito de prata nitrito de amila nitroglicerina – Nitrofenóis Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Metemoglobinemia Sulfonamidas – – – – dapsona sulfanilamida sulfapiridina Sulfatiazol Pyridium – corantes AZO - pigmentos sintéticos do grupo azóico, a maior parte deles sintetizada a partir do alcatrão do carvão mineral Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br MetaHb Sinais e sintomas associados 0 - 3% sem sintomas 3 - 15% nenhum ou leve acinzentado cutâneo e mucoso 15 -20% Agência Nacional de Vigilância Sanitária cianose assintomática sangue achocolatado www.anvisa.gov.br MetaHb Sinais e sintomas associados 20 - 50% intolerância a esforços cefaléia, fadiga tonturas/síncope, dispnéia leve, mal estar 50 - 70% taquipnéia, acidose metabólica, arritmias depressão SNC sensação de morte iminente convulsões, coma Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Metemoglobinemia: Tratamento Afastamento da exposição Descontaminação externa e interna O2 Ácido ascórbico (nos casos leves) Azul de metileno endovenoso Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Metahemogobinemia: Tratamento Azul de metileno: – se MeHb > 30% – age na via NADPH-redutase como carreador de elétrons Inconvenientes: causa efeitos colaterais Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Azul de metileno Produto utilizado : Cloreto de tetrametiltionina 1 a 2 mg/kg (0,1 a 0,2 mL/kg) EV lento, em 5 a 10 minutos repetir após 1 a 2 horas se MeHb permanecer > 30% Causas de falhas no tratamento: deficiência de NADPH-redutase deficiência de G6PD Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Azul de metileno Efeitos colaterais ???????????????? – pode produzir MeHb – dose tóxica: 7 a 15 mg/kg – mecanismo tóxico: ação oxidante Hemólise Sintomas tontura, mal estar, angústia, cefaléia, tremores, taquicardia, dor precordial, náusea e vômitos Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Asfixiantes Teciduais Cianeto (CN) Fontes industriais: • • • • • • galvanoplastia extração de ouro e prata têmpera de metais processos fotográficos produção de acrilonitrila, acetonitrila, gliconitrila fabricação de pesticidas e fumigantes Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Cianeto Produtos tóxicos de combustão – Nylon – PVC – Polituretano – Plásticos – Lã e Seda Agência Nacional de Vigilância Sanitária NH3 + HCN COCl2 + HCl HCN + isocianatos HCl + NH3 + HCN NO2 + NO + COCl2 SO2 + H2S + HCN + NH3 www.anvisa.gov.br Cianeto Mecanismos fisiológicos de desintoxicação: – excreção pulmonar – ligação com cisteína – ligação com hidroxicobalamina – oxidação – via do tiossulfato e rodanese Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Cianeto Enzimas inibidas pelo CN – xantina oxidase – anidrase carbônica – nitrito oxidase – 2-ceto-4-hidroglutarato aldolase – acetato descarboxilase – succinato desidrogenase – citocromo oxidase Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Cianeto Sinais e sintomas – cefaléia, vertigem, prostração, ansiedade, agitação, sensação de morte iminente, trismo, opistótono, convulsões, coma – taquipnéia – hipertensão com bradicardia reflexa – arritmias e taquicardia Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Cianeto Dados diagnósticos importantes: – – – – conhecimento da ocupação do paciente odor de amêndoas amargas no ar exalado taquipnéia e agitação, sem cianose sangue venoso vermelho brilhante – confusão com oxicarbonismo fazer COHb e gasometria Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Tratamento da intoxicação por CIANETO O2 a 100% ?? Respiração boca a boca ?? Nitrito de amila inalatório 1 ampola aplicada em gase, durante 15 seg a cada min, até a aplicação do nitrato de sódio Nitrato de sódio NaNO2 3% = 10 mL EV em 2 a 4 min lentamente pode causar hipotensão grave Tiossulfato de Na (hipossulfito de Na) 25% = 50 ml EV Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br SANGUE HbFe2+ NO2 MeHbFe3+ - nitritos nitratos TECIDOS Citocromo oxidase - Fe3+ CN cianetos MeHbFe3+ CNHbFe2+ CN- Tiocianato Agência Nacional de Vigilância Sanitária Na2S2O3 tiossulfato de Na URINA www.anvisa.gov.br Tratamento da intoxicação por CIANETO O2 hiperbárico ? Casos de ingestão lavagem gástrica com oxidantes • tiossulfato de Na a 5% • KMnO4 a 0,1% • H2O2 3% diluída 1:5 Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Tratamento da intoxicação por CIANETO Mecanismos de ação dos antídotos: – Nitrito de amila e Nitrato de Sódio formação de MeHb MeHb + CN = ciano-MeHB, deslocando o CN da citocromo oxidase – Tiossulfato de Na via rodanese - converte cianeto em tiocianato que é excretado pela urina – Agentes oxidantes transformam cianeto em cianato (menos ativo) Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Tratamento da intoxicação por CIANETO Outros antídotos disponíveis: 1. EDTA dicobalto (Kelocyanor®) • 600 mg EV • quela o íon CN, promovendo excreção renal Efeitos colaterais taquipnéia, instabilidade hemodinâmica Vantagens rápida administração, início rápido do efeito, não forma metemoglobina, efetivo mesmo quando tardio Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br Tratamento da intoxicação por CIANETO Outros antídotos disponíveis: 2. Hidroxicobalamina + Tiossulfato • liga-se com CN, formando cianocobalamina • Provoca a excreção renal da cianocobalamina • atravessa a barreira hematoencefálica • cede CN para o sistema rodanese + tiossulfato Posologia: 4 g hidroxicobalamina + 50 ml tiossulfato Agência Nacional de Vigilância Sanitária www.anvisa.gov.br