Desenvolvimento sustentável como fator de competitividade
Autoria: Marta Sambiase Lombardi, Eliane Pereira Zamith Brito
Resumo
A competitividade tem sido amplamente discutida e trabalhada com tentativas de
estabelecimento de modelos e teorias capazes de explicar e prever causas e efeitos dos
movimentos dos mercados e firmas, com o intuito de garantir qualidade de vida aos
habitantes, bem como sobrevivência futura de organizações, mercados e nações. Schumpeter
(1943) e os economistas evolucionários como Nelson e Winter (2005, 1982) estão
comprometidos com o desenvolvimento de longo prazo da economia e da sociedade, cujo
vínculo é com a mudança quantitativa e qualitativa na estrutura econômica. Neste sentido,
este trabalho discute o papel do desenvolvimento sustentável na competitividade. O nível de
análise principal é a firma, mas os níveis atividade econômica e nação fazem parte da
proposta. Discute-se a idéia de que o desenvolvimento sustentável como fator de
competitividade, segundo a proposta de Ferraz, Kupfer e Haguenauer (1997). Além disso,
propõe-se que o desenvolvimento sustentável é determinado pelos valores individuais e das
organizações, bem como pela inovação e pelo capital social.
Introdução
A compreensão e o desenvolvimento da capacidade competitividade tem sido uma
preocupação no nível das nações (PORTER, 1989; CHO; MOON, 2000), das indústrias
(BESANKO, 2001; PORTER, 1989) e das organizações (CASTRO et al., 1999; FERRAZ;
KUPFER; HAGUENAUER, 1997). O conceito é amplamente discutido e trabalhado com
tentativas de estabelecimento de modelos e teorias capazes de explicar causas e efeitos dos
movimentos dos mercados e firma s, com o intuito de garantir qualidade de vida aos
habitantes, bem como sobrevivência futura das organizações e nações.
Hughes (1998, p. 551-552) define competitividade a partir do conceito de competição e
sugere que a melhor noção de competição desenvolvida na análise da economia formal é
inerente ao estado dos negócios, conhecida como competição perfeita. Entretanto, para
competição perfeita pressupõem-se condições restritivas, tais como presença de muitos
compradores e vendedores cada um com pouco poder de interferir nas relações de mercado
negociando, os produtos ou serviços negociados não apresentam diferenciação entre si, o
mercado se auto-regula por meio de mecanismos de preço e a informação está igualmente
disponível para todos atuando no mercado. Além disso, na definição de competição perfeita
os agentes econômicos são tidos como racionais e estes buscam a maximização do uso dos
recursos. A definição de competitividade para a competição perfeita no nível da firma está
fundamentada na análise dos ganhos pela alocação de recursos internamente, entre produtores
eficientes.
A eficiência assumida pela competição perfeita, entretanto, é limitada por causa de sua
inabilidade em lidar com mudanças econômicas que envolvem alterações na distribuição de
renda, como é o caso da problemática atual acerca da limitação de recursos naturais,
econômicos e sociais, tratada pelos debates da sobrevivência de indivíduos, sociedades e
nações no longo prazo. Neste sentido, a discussão do Desenvolvimento Sustentável deveria
ser inserida na análise para que se garantisse uma análise que represente mais a realidade.
A idéia de Desenvolvimento Sustentável tem sido usada por muitos grupos e de diversas
maneiras. A definição deste conceito mais comumente considerada é a do relatório
Brundtland da World Commission for Economic Development (WCED, 1987). Neste, o
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desenvolvimento sustentável é tido como um processo de mudanças onde a exploração de
recursos, direção dos investimentos, orientação do desenvolvimento tecnológico e alterações
institucionais, são realizadas de maneira consistente com as necessidades atuais e futuras
(ROMEIRO, 2001; BANERJEE, 2002; CLARO; CLARO; AMANCIO, 2005).
Conforme previsto por modelos de previsão do futuro da economia mundial, os recursos são
finitos e seu mau uso levaria a um colapso global ainda no séc. XXI; então o desenvolvimento
sustentável aparece como resposta ao equilíbrio dos enfoques econômicos, sociais e
ecológicos (FREEMAN, 1996; ANDRADE, 2004; CORAZZA, 2005)
Segundo a perspectiva evolucionária de sobrevivência da firma, diante de um ambiente de
mudanças, depende de sua capacidade de aprender e mudar suas regras internas de decisão.
Então se pode dizer que importantes desafios nas teorias modernas das firmas e organizações
vêm, por um lado, enfatizado a natureza e não somente o grau de conhecimento imperfeito, e
por outro lado, salientado que é a natureza do conhecimento gerado pela organização que
determina seu desempenho (DOSI, 2006)
Debates acerca deste assunto têm ocorrido entre economistas desde a década de 1970
(COMMON; PEARCE, 1973). Várias áreas têm se ocupado da questão e demonstrado
preocupações sobre o tema; artigos e livros escritos foram encontrados com diversos
enfoques, dentre eles: ecológico e ambiental (CASTELLANO; CHAUDHRY, 2000;
LAYRARGUES, 2000; CAPRA, 2002); humano, social e com respeito à cidadania
(VERGARA; BANCO, 2001; ALVES, 2001), operação e produção, envolvendo processos
produtivos e desenvolvimentos de tecnologias relacionadas à produção enxuta, por exemplo,
(MANZINI; VEZZOLI, 2005); e principalmente trabalhos que compartilham com o foco
deste ensaio, relacionando competitividade com o tripé economia, meio ambiente e sociedade,
com estratégias organizacionais, processos de inovação e aprendizagem (GLADWIN;
KENNELLY; KRAUSE, 1995; BANERJEE, 2002; SENGE, 2001; BAKER et al.,1997;
PORTER, 1989; RODRIGUEZ; RICART; SANCHEZ, 2002); além dos indicadores de
sustentabilidade que são difundidos e procuram, de uma forma quantitativa, mostrar o
comprometimento das organizações com o desenvolvimento sustentável (STROBEL;
CORAL; SELIG, 2004 ; CLARO; CLARO; AMANCIO, 2005; BOVESPA, 2006; KUHNDT;
GEIBLER; ECKERMANN, 2002).
Assim, o objetivo deste artigo é discutir a relação existente entre Desenvolvimento
Sustentável e Competitividade das Organizações, procurando encontrar fundamentações para
mostrar se o primeiro pode ser considerado fator de competitividade no nível da firma. Fator
de competitividade aqui está alinhado com a discussão apresentada em Ferraz, Kupfer e
Haguenauer (1996) sobre fatores de competitividade.
Este trabalho está estruturado em partes sendo que a primeira apresenta uma revisão da
teórica dos conceitos de Competitividade feita em âmbito microeconômico, discutindo fatores
direcionadores da competitividade. Na seqüência, conceitos de Desenvolvimento Sustentável
são apresentados e analisados, procurando, fundamentalmente, mostrar as formas de seu uso
para os enfoques de nações (BAKER et al, 1997; MANZINI; VEZZOLI, 2005; CLACDS,
2006) e de organizações (BAKER el at, 1997; SENGE; CARSTEDT; PORTER, 2001),
esclarecendo o que este estudo compreende por Desenvolvimento Sustentável no nível da
firma.
Defende-se a idéia de Desenvolvimento Sustentável como um fator de competitividade para
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as organizações. Para isto, apresenta-se no artigo uma proposta de mapeamento das
dimensões do desenvolvimento sustentável no nível da firma, cujo objetivo é servir de base
para o aprofundamento de estudos sobre o tema de instituições que pretendem atuar de forma
orientada a seus stakeholders, como acionistas, sociedade e meio ambiente.
Competitividade e fatores de competitividade.
Competitividade tem sido conceituada pelos enfoques microeconômicos e macroeconômicos
(KUPFER, 1992). No âmbito microeconômico, as definições de competitividade estão
focadas sobre a firma e sua capacidade de se sobressair sobre seus concorrentes pelo êxito de
seus projetos, produção e venda de produtos. Já no âmbito macroeconômico, são apresentadas
posições que relacionam competitividade à capacidade de economias nacionais mostrarem
resultados econômicos satisfatórios; conseguidos pelo bom desempenho da economia no
mercado internacional e pela elevação do nível de vida e bem estar de sua sociedade
(CHUDNOVSKY, 1990).
Não há um consenso acerca do conceito competitividade, bem como quanto às metodologias
mais adequadas para sua avaliação. No nível microeconômico o comum é tratar
competitividade como um fenômeno relacionado às características de desempenho ou de
eficiência técnica, surgindo duas famílias de conceitos. Para a primeira, competitividade é
vista como um desempenho, ou seja, aquilo que foi revelado. Neste caso, a competitividade é
expressa na participação de mercado, onde a demanda é que define a posição competitiva das
firmas ao escolher quais produtos serão adquiridos, portanto, uma variável ex-post. Como
fonte de competitividade pode-se considerar melhores habilidades na utilização de recursos
produtivos. Na segunda família, competitividade é vista como eficiência, ou seja, potencial
competitivo. Neste caso, a competitividade é traduzida em termos da relação insumo-produto
ou sua capacidade de converter insumos em produtos com o máximo rendimento. É o
produtor que define sua competitividade ao escolher as técnicas que utiliza, é, portanto, uma
variável ex-ante. Como fonte de competitividade pode-se considerar o domínio de técnicas
mais produtivas que interfere na competição de sucesso da firma (HAGUENAUER, 1989;
KUPFER, 1992; FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER, 1996).
Considerando a competitividade como um processo dinâmico resultante do comportamento
dos mercados, dos gestores e, conseqüentemente, das organizações e dos consumidores, não é
útil optar por uma das abordagens do conceito de competitividade descritas acima, ou seja, se
ela está na classe dos fenômenos ex-ante ou ex-post. Ao invés disto, deve-se compreender a
competitividade por meio de uma abordagem sistêmica, onde em certos momentos as
variáveis ex-ante pesam mais e em outros, as variáveis ex-post são as decisivas.
Uma abordagem bastante apropriada é apresentada por Hughes (1998) na qual o autor analisa
competição não segundo as condições dos negócios, mas como um processo dinâmico
relacionando mudanças estruturais com o comportamento do mercado. A competição é tida
para dar significado a um conjunto de atividades que concentram esforços ao cumprimento de
objetivos de um produtor à custa de outros; deste modo, a competição é definida, no mundo
dos negócios, como um processo que envolve rivalidade entre organizações. A rivalidade
competitiva envolve tanto os contextos dos mercados como o potencial para inserção em
novas áreas onde o retorno é aparentemente atrativo. A rivalidade ainda é vista em termos de
preço, sob bases tecnológicas do processo produtivo e em termos de melhorias de informação
dos produtos aos consumidores.
A competição é entendida também como um processo dinâmico por outros autores
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fundamentais na análise deste tema tais como Marx (1967-94), Schumpeter (1942); Downie
(1958) e Clarck (1961). Hughes (1998, p. 552) ainda completa que uma política apropriada de
competição deve ser desenhada a luz de condições econômicas existentes, à luz de evidências
dos efeitos de formas variadas de estruturas e comportamentos de mercado, e, especialmente,
à luz dos objetivos da política econômica.
Schumpeter (1943) afirma que a realidade capitalista é desfavorável ao máximo desempenho
da produção e, então, discute a validade dos conceitos e teorias sobre “concorrência perfeita”.
O autor esclarece que a taxa de crescimento de produção no século XX e que o padrão de
vida das massas evoluíram se considerarmos a proporcionalidade da relação preço e horas
trabalhadas. Esta condição está relacionada aos grandes conglomerados e aí se deve
considerar que as grandes firmas têm forte ligação com a criação de um padrão de vida mais
elevado. O ponto principal desta questão é a constatação que o capitalismo é evolutivo. O
processo de destruição criativa, como nomeado por Schumpeter (1943, p.113), é o fato
essencial do capitalismo. A questão é compreender como o capitalismo cria novas estruturas,
com conseqüente destruição das anteriores. A teoria evolucionária, proposta por Schumpeter
(1943) trata das capacidades e comportamentos das operações das organizações em seu
mercado, com foco nos diferentes aspectos das alterações econômicas, como: a reação das
firmas e setores econômicos em alterar as condições de mercado, crescimento econômico e
competição por meio da inovação.
Schumpeter (1943) não foi o primeiro a considerar os aspectos orgânicos em uma teoria
econômica, Steiner (1922, p.22) em seu livro “Economia Viva”, já afirma que, primeiro
devemos compreender o organismo social. “As idéias da ciência econômica devem ser bem
móveis. Devemos perder o costume de construir conceitos que possam ser definidos.
Devemos conscientizar-nos de estarmos lidando com um processo vivo, e de que dentro de
um processo vivo os conceitos devem ser maleáveis”.
A noção de Desenvolvimento Sustentável se encaixa com a Teoria Evolucionária e a visão de
Steiner, principalmente sobre a ênfase dada a elementos de continuidade no processo
econômico. A teoria evolucionária contempla tanto características herdadas como adquiridas
com adequada variação sob estímulos de adversidade (NELSON; WINTER, 2005, 1982).
Kupfer (1992, p. 4) desenvolve uma “definição de competitividade como sendo a adequação
das estratégias adotadas pela firma em relação ao padrão de concorrência vigente na(s)
indústria(s) considerada(s)”. Contudo, este ensaio utiliza a definição a seguir que considera
competitividade como “a capacidade da firma formular e implementar estratégias
concorrências, que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição
sustentável no mercado”, complementando o raciocínio, “é, portanto, no processo de decisão
das estratégias empresariais que se deve buscar os elementos analíticos centrais de
compreensão da competitividade” (FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER, 1997, p. 5).
Os padrões de concorrência são munidos de dois aspectos fundamentais para avaliação da
competitividade: (1) a natureza específica de cada setor e (2) são mutáveis no tempo. Isto
esclarece que a competitividade não é uma questão intrínseca a um produto, firma ou país; ela
é um fenômeno que se forma no âmbito da indústria, no conjunto de firmas que a constitui e
no mercado. As análises de competitividade devem levar em conta os processos internos à
firma, ao setor e as condições econômicas gerais do ambiente.
O triângulo da competitividade estrutural e os fatores determinantes da competitividade
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propostos por Ferraz, Kupfer e Haguenauer (1997) são ilustrados na Figura 1 é composto de
fatores empresariais – que são variáveis do processo decisório da firma e podem ser
controlados ou modificados através de condutas ativas assumidas; fatores estruturais – estão
parcialmente sob a área de influência da firma e, portanto, sua capacidade de intervenção é
limitada pela medição do processo de concorrência; e, por fim, fatores sistêmicos –
constituem-se parâmetros do processo decisório, sobre a forma de externalidades para a firma
produtiva onde esta detém reduzida ou nenhuma possibilidade de intervenção. Os fatores
empresariais e sistêmicos possuem caráter genérico na forma e intensidade de influência nos
setores industriais; já os fatores estruturais possuem um caráter setor-específico, refletindo
mais diretamente sobre os padrões de concorrência.
O caráter empírico de tais conceitos foi extraído a partir de uma pesquisa de campo realizada
com indústrias brasileiras entre 1992 e 1993, de portes variados. Conclusões a respeito das
particularidades dos grupos pesquisados são retratadas no parágrafo transcrito a seguir.
Definida a noção de competitividade no nível da firma individual, podem
ser considerados como competitivos os setores onde a maior parte da
produção ocorre em firmas competitivas, tomando-se como referencia os
padrões internacionais. No caso de setores muito heterogêneos, em que a
estrutura industrial contém firma s líderes e não líderes em proporções
significativas, a competitividade deve ser avaliada através da comparação
das estruturas industriais, segmento a segmento (FERRAZ; KUPFER;
HAGUENAUER, 1997, p. 51).
Macroeconômico
Mercado
Político-institucionais
-
Internacionais
EMPRESA
Capacitação
Inovação
Gestão C Humanos
Inovação
Produção
Gestão E Humanos
Produção
Inovação
Estratégia
Gestão D Humanos
-
Produção
Legais regulatórios
Sociais
Desempenho
Configuração da indústria
Regime de incentivos e regulação
Infra-Estruturais
Figura 1: Fatores determinantes da competitividade.
Fonte: Ferraz; Kupfer; Naguenauer (1997, p. 14).
Desenvolvimento Sustentável
Durante muito tempo houve uma dissociação entre estudos organizacionais e o ambiente
natural (GLADWIN; KENNELLY; KRAUSE, 1995); considerando quase que
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exclusivamente transações entre humanos diante dos limites da firma e meio ambiente;
ignorando transações do eco-sistema, que ultimamente tem mantido as firmas vivas.
Um levantamento realizado na literatura acadêmica, governamental e não acadêmica,
possibilita identificar maneiras diferentes onde o termo desenvolvimento sustentável tem sido
aplicado e definido. O termo surgiu e tem sido tratado mais fortemente em esfera da economia
macroambiental, transmitindo preocupações e desafios das nações, governos e instituições
relacionadas a estes.
Romeiro (2001, p 7-8) faz uma retrospectiva histórica do termo desenvolvimento sustentável
e esclarece que:
[...] é um conceito normativo que surgiu com o nome de
ecodesenvolvimento no início da década de 70. A autoria do termo não é
bem estabelecida, mas existe concordância geral em atribuir a Ignacy Sachs,
da Escola de Altos em Ciências Sociais de Paris, uma preeminência nas suas
qualificações conceituais. Ele surgiu num contexto de controvérsia sobre as
relações entre crescimento econômico e meio ambiente, exacerbada
principalmente pela publicação do relatório do Clube de Roma que pregava
o crescimento zero como forma de evitar a catástrofe ambiental.
O autor ainda afirma existir duas correntes principais de interpretação do debate acadêmico
em economia do meio ambiente. A primeira corrente é representada principalmente pela
Economia Ambiental; esta considera que os recursos naturais (como fonte de insumos e como
capacidade de assimilação de impactos dos ecossistemas) não representam, a longo prazo, um
limite absoluto à expansão da economia. Esta visão implícita de infinitude dos recursos
naturais na análise neoclássica foi objeto de crítica pioneira e sistemática por Nicolas
Georgescu-Roegen. A segunda corrente é representada principalmente pela chamada
Economia Ecológica, que vê o sistema econômico como um subsistema de um todo maior que
o contém, impondo uma restrição absoluta à sua expansão. Capital e recursos naturais são
essencialmente complementares. O progresso científico e tecnológico é visto como
fundamental para aumentar a eficiência na utilização dos recursos naturais em geral
(renováveis e não renováveis) e, nesse aspecto, esta corrente partilha a convicção de que é
possível instituir uma estrutura regulatória baseada em incentivos econômicos capaz de
aumentar imensamente esta eficiência. Permanece, entretanto, a discordância fundamental em
relação à capacidade de superação indefinida dos limites ambientais globais. Em longo prazo,
portanto, a sustentabilidade do sistema econômico não é possível sem estabilização dos níveis
de consumo per capita de acordo com a capacidade de carga do planeta.
O conceito desenvolvimento sustentável é tratado, na literatura, tanto em termos
macroeconômicos como microeconômicos. Percebem-se vários casos onde Instituições de
Ensino possuem acordos de cooperação ou parcerias com instituições de iniciativa
governamental ou não. Dentre estes casos, há o CLACDS - Centro Latino-Americano para
Competitividade e Desenvolvimento Sustentável (CLACDS, 2006); ele foi fundado em 1995
depois de um trabalho intenso realizado pelo professor Michael Porter, da Harvard Business
School, onde também participa Dr. Jeffrey Sachs, economista de renome mundial e outros
importantes acadêmicos, Brizio Biondi-Morra, então Reitor do INCAE Business School, e
Stephan Schmidheiny, na época Presidente da AVINA (2006), mostrando preocupação e
relação entre a competitividade das nações ou de bloco econômicos com o desenvolvimento
sustentável macroeconômico (INCAE, 2006). Há também o US EPA Office of Sustainable
Ecosystems and Communities (OSEC) com acordo de cooperação com o Lowell Center for
Sustainable Production da University de Massachusetts, cujo autor Maureen Hart (1998)
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afirma existir provavelmente muitas definições de desenvolvimento Sustentável, porque
existem muitas pessoas tentando defini-lo. O fato de existir muitas definições não é problema,
as pessoas têm diferentes maneiras de olhar as coisas; e, além disso, havendo diferentes
definições proporciona muitas maneiras de discutir um conceito que é difícil.
O conceito desenvolvimento sustentável é inspirado por múltiplos objetivos e ingredientes,
por interdependências complexas e considerável ‘esperteza moral’. Outros conceitos
representativos de Desenvolvimento Sustentável são apresentados por Gladwin, Kennelly e
Krause (1995, p. 877). São eles: (1) Barbier (1987) afirma que desenvolvimento sustentável
(DS) deve maximizar simultaneamente objetivos do sistema biológico, do sistema econômico
e de sistemas sociais; (2) A World Conservation Union, em 1991, declara que DS é para
melhorar a qualidade de vida dos homens em conjunto com a capacidade de suportar
ecossistemas; (3) Já Constanza, Daly e Bartholomew (1991) definem sustentabilidade como o
relacionamento entre a dinâmica de sistemas econômicos humanos e uma dinâmica maior,
mas normalmente com mudanças mais lentas dos sistemas ecológicos, onde vida humana
pode continuar indefinida, os indivíduos podem progredir, e a cultura humana pode se
desenvolver, entretanto, as atividades dos homens não devem destruir a diversidade,
complexidade e trabalhar para um sistema de suporte de vida ecológico; (4) Meadows,
Meadows e Randers, em 1992, afirmam que uma sociedade sustentável é aquela que persiste
por gerações, onde as coisas são previdentes, flexíveis e sábias o suficiente para não arruinar
seus sistemas físicos e sociais de suporte; (5) Hawken, em 1993, declara sustentabilidade
como um estado econômico onde as demandas colocadas no ambiente, por pessoas e pelo
comércio podem ser atendidas sem diminuir as capacidades do ambiente em fornecer a futuras
gerações; (6) Em 1994, U.S. President´s Council on Sustainable Development, anuncia que
sustentabilidade é um processo participatório que cria e persegue uma visão de comunidade
que respeita e faz uso consciente de seus recursos – naturais, humanos, criados pelo homem,
social, cultural, científico, entre outros. Sustentabilidade persegue, ao grau possível, que
gerações atuais alcancem alto nível de segurança econômica e possam realizar com
democracia e participação popular, o controle de suas comunidades, enquanto mantém o
controle ecológico de seus sistemas, garantindo que gerações futuras possam agir com
inteligência o que lhe é provido de maneira apropriada (VIEDERMAN, 1994); (7) A
proposição realizada por Blended Value é que todas as organizações, com fins lucrativos ou
não, criam valor com componentes de valores econômicos, sociais e ambientais. Este valor é
indivisível e, portanto, uma mistura destes três elementos (BLENDEDVALUE, 2006).
Portanto, o desenvolvimento sustentável considera a conciliação do crescimento econômico
com manutenção do meio ambiente, além de um foco na justiça social e desenvolvimento
humano; assim como uma distribuição e utilização equilibrada de recursos com um sistema de
igualdade social (BANERJEE, 2002; STROBEL; CORAL; SELIG, 2004). Em nível
organizacional, a abordagem deste pensamento está no ramo das organizações ecologicamente
responsáveis, onde teóricos organizacionais defendem que a integração ambiental pode ser
empregada assim como TQM - Total Quality Management, análise de ciclo de vida de
produto, gerenciamento de risco e eficiência, entre outras técnicas gerenciais (BANERJEE,
2002).
Parece, entretanto, que para se ter um pensamento voltado ao desenvolvimento sustentável e
suas implicações para a firma, não é só uma questão de se criar e implantar uma técnica ou
metodologia de gestão; é necessário também dispor de meios que incentive a consolidação de
uma cultura organizacional incorporando as cinco dimensões dos componentes do
desenvolvimento sustentável, de Gladwin, Kennelly e Krause (1995): inclusividade;
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conectividade; igualdade; segurança e prudência.
Desenvolvimento sustentável como fator de competitividade da firma
Avaliar a capacidade de formular e implantar estratégias implica em identificar o padrão de
concorrência da atividade econômica. Como o padrão de concorrência está relacionado aos
fatores determinantes do sucesso de agrupamentos industriais, “a avaliação da
competitividade se traduz na necessidade de elaboração de critérios multidimensionais de
aferição do desempenho competitivo das firmas, privilegiando aqueles efetivamente
relevantes de acordo com os padrões de concorrência vigentes” (FERRAZ; KUPFER;
HAGUENAUER, 1997, p. 51).
Common e Pearce (1973), pioneiros no discurso da sustentabilidade e viabilidade econômica,
usam um modelo simples para mostrar que o mecanismo de preço não pode ser confiável para
quebrar a ligação entre taxa de crescimento da renda e taxa de depleção de recursos. A
indução de preço por mudanças no uso pode acomodar crescimento econômico sustentável
para a preservação do ambiente para gerações sucessórias ao invés de promover fracassos.
Então surge a hipótese que benefícios tecnológicos aparentemente benevolentes de produtos
produzirão resultados ambientais desejáveis somente se alguma condição socioeconômica for
satisfeita. Os autores argumentam que os ecologistas estão essencialmente corretos em
afirmar que existe um potencial de conflito entre crescimento econômico exponencialmente
sustentado e a preservação do ambiente. A assertiva de uma possível eco-catástrofe é
meramente uma forma extrema de uma proposição sobre alocação generalista de
oportunidades reais. Com isto, os autores sugerem que a posição dos cientistas sociais sobre o
assunto deve depender da análise de como o sistema sócio econômico responde ao
crescimento econômico com relação às conexões do sistema com o ambiente.
Acredita-se, ainda, que o desenvolvimento sustentável não está entre os fatores determinantes
da competitividade de todas as atividades econômicas. O que se percebe são movimentos
surgindo em diversas áreas, lugares e negócios em crescentes proporções e que ainda não foi
efetivado, mas encontra-se alguma sinalização de interferência no padrão de concorrência em
atividades econômicas específicas e em mercados específicos. Nesta perspectiva, o
desenvolvimento sustentável é determinante da competitividade em condições específicas.
Por outro lado, o desenvolvimento sustentável depende de fatores que se traduzem em
condições estruturais, empresariais e sistêmicas. No nível da firma destaca-se aqui os valores
organizacionais, a capacidade inovativa da firma e seu capital social.
O fator valores é relevante porque uma firma não está constituída por partes físicas, mas por
estruturas de eventos, de interações, de atividades por ela executadas (ALLPORT, 1962;
SCHEIN, 1965). Os principais componentes de uma firma são os papéis, as normas e os
valores. Estes elementos definem e orientam o funcionamento da firma. Os papéis definem e
prescrevem formas de comportamento associadas a determinadas tarefas, as normas são
expectativas transformadas em exigências e os valores são as justificações e aspirações
ideológicas mais generalizadas (TAMAYO; BORGES, 2001).
Além disso, por trás da predisposição e o modo de competir, encontram-se: a cultura
organizacional, que são os valores compartilhados pelas pessoas em um grupo, segundo
conceito de Kotter e Heskett (1994); os valores organizacionais, que são papéis, normas e
valores que definem e orientam o funcionamento da firma, segundo conceito de Katz e Kahn
(1978, p. 54) e os valores pessoais, que são princípios e metas que norteiam o comportamento
do indivíduo.
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Os problemas fundamentais das organizações são retratados partir das necessidades básicas,
que estabelecem padrão de comportamento e valores e expressam princípios que orientam a
vida cotidiana, tanto dos indivíduos como das organizações. As necessidades básicas devem
ser conhecidas pela firma e seus membros, e estes devem aprender a dar respostas para sua
satisfação que se traduzirão em metas e intenções comportamentais. A orientação que “um
processo de mudanças onde a exploração de recursos, direção dos investimentos, orientação
do desenvolvimento tecnológico e alterações institucionais são realizadas de maneira
consistente com as necessidades atuais e futuras” (tradução nossa), está no caminho do
desenvolvimento sustentável segundo o relatório Brundtland do World Commission for
Economic Development (WCED, 1987). Pode-se dizer, então, que os papéis, normas e valores
são fatores ex-ante para orientação da competitividade empresarial.
Uma visão de competitividade aponta que o potencial competitivo é traduzido em termos da
relação insumo-produto ou sua capacidade de converter insumos em produtos com o máximo
rendimento. É o produtor que define sua competitividade ao escolher as técnicas que utiliza.
Como fonte de competitividade pode-se considerar o domínio de técnicas mais produtivas que
interfere na competição de sucesso da firma (HAGUENAUER, 1989; KUPFER, 1992;
FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER, 1996). Esta escolha depende dos valores da
organização e de seus gestores.
Quanto ao fator Inovação como recurso para o desenvolvimento sustentável, a literatura de
regulação e meio ambiente é discutida por Pearce (1999) com base em Kemp (1997). A
preocupação é analisar o papel de instrumentos políticos na indução de grandes mudanças de
paradigmas tecnológicos. Kemp (1997) afirma que é preferível criar mercados de tecnologias
renováveis pela intermediação governamental, criação de redes de fornecimento e integração
de novas tecnologias regionais por meio de políticas de planejamento e industriais.
Michael Porter, por outro lado, se dedica a projetos de manutenção da competitividade dos
setores econômicos do continente americano via inovação; bem como sua defesa ao
desenvolvimento sustentável das nações, como o Comitê de Desenvolvimento Sustentável
para a América Latina (CLACDS, 2006). Senge, Carstedt e Porter (2001) afirmam que a
Nova Economia é ao mesmo tempo, nova e não nova. A indústria está diante de uma
encruzilhada e os autores falam que o impacto de novas práticas de produção e a
disponibilidade de recursos pode acarretar em uma nova revolução industrial. A
extraordinária criatividade de equipes tem sua origem no reconhecimento de restrições, como
as impostas pela natureza. Restrições e criatividade andam juntas.
No nível microeconômico, Senge; Carstedt e Porter (2001) chamam de “próxima revolução
industrial” ao processo de inovação das organizações para garantir sobrevivência nos
próximos tempos. Os autores relembram o que Schumpeter chamou de ‘destruição criativa’,
onde velhas indústrias morrem e novas nascem. Ondas de tecnologia disruptiva aceleram e
expandem a Revolução Industrial. Alguns exemplos são citados: O fabricante de aparelhos
Electrolux, que usa tinta a base do solvente água e pó ao invés de tintas a base de solventes
perigosos, prioriza o uso de materiais reciclados e introduziu no mercado a primeira família
de refrigeradores e freezers sem clorofluorcarboneto que contribui para a degradação da
camada de ozônio; a Toyota e Honda começaram a vender carros híbridos que combinam
combustão interna e propulsão elétrica com desempenho comparável a seus concorrentes e
pode alcançar mais de 70 milhas por galão hoje, com perspectivas de duas ou três vezes mais;
em 1998, a Xerox introduziu a primeira copiadora totalmente digitalizada, onde mais de 95%
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de suas peças é remanufaturável e 97% reciclável, o que economizou em 1998 US$ 250
milhões para a empresa; e finalmente a Interface Inc. gerou $ 140 milhões em redução de lixo
sustentável de 1995 a 1999 e estão repensando seu modelo básico de negócios, na fala de seu
principal executivo, ele desabafa: ‘No futuro as pessoas me jogariam na cadeia’ (SENGE;
CARSTEDT; PORTER, 2001, p. 26, tradução nossa). As firmas, por meio da inovação,
podem alterar o padrão de concorrência vigente nas atividades econômicas que atuam de
modo a ganhar vantagem competitiva pelo produto final ou pelo uso dos recursos.
No Brasil, alguns casos podem ser lembrados: A Soletrol, maior fabricante de aquecedores
solares do continente americano, líder desse mercado, investe constantemente na ampliação
de sua capacidade industrial, no desenvolvimento de novas tecnologias e na popularização no
Brasil do aquecedor solar de água. A produção e o uso da energia são algumas das principais
causas da destruição do meio-ambiente e “é por isso que a energia solar é tão interessante:
porque ela não polui” (SOLETROL, 2006). A larga expansão do álcool em nível nacional e
mundial, enquanto energia com fonte renovável e teoricamente não esgotável, é outro
exemplo que tanto mercados consumidores como industrias estão atentos à questão da
sustentabilidade de recursos (COPERSUCAR, 2006). Outros casos, como o Grupo
Centroflora (CENTROFLORA, 2006), ABN Amro Bank (REAL, 2006) e Natura (NATURA,
2006) também demonstram um movimento regido por práticas de desenvolvimento
sustentável no mercado brasileiro, por meio da introdução de novas tecnologias.
As atividades inovativas das firmas que procurem aproveitar melhor os recursos escassos ou
mesmo propor recursos alternativos ou substitutos poderão permitir a sobrevivência da firma,
mas uma solução para a empresa individual pode não garantir a sustentação das atividades da
empresa, caso a alteração implique em mudança do bem ofertado. Nas situações em que
ocorre mudança no bem e o mercado valoriza a mudança, a firma se beneficiará do efeito da
inovação, no sentido de ganhar uma fonte de vantagem competitiva, apenas se seus
concorrentes não conseguirem imitar a inovação (PETERAF; BERGEN, 2003; BARNEY,
1991; PETERAF, 1993). De qualquer maneira, as análises sobre os efeitos das inovações
deverão ocorrer conjuntamente no nível da firma e nos níveis de análise acima, ou seja,
atividade econômica e nações, porque a sustentabilidade num nível não garante a dos outros
níveis.
Por fim, e não que isto signifique uma ordem, a dimensão Capital Social, foi motivada pelo
trabalho de Penrose (1955) a respeito dos limites para o crescimento e tamanho das firmas.
Segundo a autora, a verdadeira natureza da economia é definida em termos do tipo de firmas
que a compõe, seu tamanho, o modo em que elas são estabelecidas e crescem, seus métodos
de fazer negócios e o relacionamento entre elas. Trata-se de instituições complexas e
geralmente dirigidas à luz das razões humanas. A autora faz críticas à forma como os
economistas as vêem em termos de preço e alocação de recursos para produção; esta visão de
firma é inapropriada na tentativa de conciliar a teoria econômica com a teoria organizacional.
Se o estudo do processo de crescimento da firma é uma proposta legítima da análise
econômica, então é importante ter um conceito mais novo de firma, onde este deve ser
claramente definido como um conceito a ser usado para diferentes propósitos além do
tradicionalmente conhecido.
Penrose (1955) faz uma proposta alternativa de crescimento da firma, de acordo com a variante
biológica, onde a predisposição para crescer é inerente na maioria das firmas, mas em
contraste, o crescimento depende da motivação humana, na maior parte dos casos, pela busca
de sucesso pelos homens de negócios. O crescimento proposto por Penrose considera duas
10
categorias, as questões externas e as internas; entretanto seu foco está na discussão em
incentivos internos que influenciam o crescimento da firma. No processo de crescimento, o
“organismo” muda radicalmente sua forma; a firma torna-se menos “orgânica” e,
naturalmente, menor que uma firma sob o senso econômico mais puro, sugerindo um
interessante paradoxo. Por fim, o crescimento das firmas deve ser consistente com o uso mais
eficiente dos recursos da sociedade; o contínuo de crescimento deve ser rentável para a firma
e vantajoso para a sociedade, se esta usa recursos subutilizados.
Na linha de análise sociológica da firma, sob a perspectiva de relacionamento humano e entre
as firmas, surge o debate realizado por Nahapiet e Ghoshal (1998) a respeito das origens e
condições da “vantagem organizacional”, onde ao invés do foco estar nas causas e efeitos dos
eventos de mercado, os autores afirmam que a vantagem organizacional é vista como
resultado de capacidades específicas que algumas organizações tem em criar e compartilhar
conhecimento.
A argumentação é dada a partir da proposta central da teoria do capital social, onde as redes
de relacionamento constituem um recurso valioso para a conduta de negócios sociais,
fornecendo a seus membros capital ganho pela coletividade e suas credenciais estabelecidas
socialmente e que facilita a criação de novo capital intelectual, ou seja, o conhecimento e
capacidades de aprendizagem do coletivo social, como uma firma , comunidade intelectual ou
prática profissional. Além disso, as organizações, como ambiente institucional, são
conduzidas para o desenvolvimento de altos níveis de capital social e (3) é por causa de seu
denso capital social que as firmas possuem vantagens de mercados na criação e
compartilhamento de capital intelectual, com certos limites (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998).
A conjunção das idéias apresentadas nesta seção levou a propor uma forma de pensar a
relação do desenvolvimento sustentável e os fatores de competitividade aqui apontados. A
relação está relacionada abaixo.
Sendo:
Competitividade = “capacidade da firma formular e implementar estratégias
concorrentes, que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição
sustentável no mercado” (FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER, 1996, p.3);
Desenvolvimento Sustentável = “um processo de mudanças onde a exploração de
recursos, direção dos investimentos, orientação do desenvolvimento tecnológico e
alterações institucionais, são realizadas de maneira consistente com as necessidades
atuais e futuras” (BANERJEE, 2002, p. 106, tradução nossa);
Competitividade (CO) está positivamente correlacionada com desenvolvimento
sustentável;
Desenvolvimento sustentável (DS) é um fator de competitividade, ou seja, a
sustentabilidade nos diferentes níveis de análise econômica depende dos valores
individuais (VI) e das organizações (VO), assim como da inovação (In) e do capital
social (KS);
Portanto, supõe-se que a competitividade depende dos valores individuais e das
organizações, assim como da inovação e do capital social.
11
Então, CO = f (VI; VO; In; KS).
No nível da firma tem-se que a competitividade depende do seu desenvolvimento sustentável,
que representa a capacidade para competir em longo prazo, de forma duradoura, para garantir
uma posição no mercado. Além disso, o desenvolvimento sustentável da firma poderia ser
medido pelo desempenho econômico positivo no longo prazo, que deveria ser associado a
uma taxa de preservação/renovação de fontes de recursos do meio ambiente e mais uma taxa
de preservação/renovação de fontes de recursos sociais.
Considerações Finais
A figura 2, que tem como base a figura 1, representa as idéias aqui desenvolvidas. Neste
sentido ela mostra que a idéia de preservação e renovação de recursos visando uma atuação
em longo prazo tem como pano de fundo o ambiente competitivo da indústria na qual está
inserida, bem como o macroambiente.
O triângulo da competitividade estrutural e os fatores determinantes da competitividade
(FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER, 1997), servem de referencia para este ensaio que
considera o desenvolvimento sustentável como fator de competitividade para a firma. As
questões tratadas pelo desenvolvimento sustentável encaixam-se dentre os fatores estruturais e
sistêmicos, principalmente, por ser o desenvolvimento sustentável um conceito macro
ambiental; e que influenciam os fatores empresariais, estes relacionados ao processo decisório
da firma e sua forma de atuação.
Macroeconômico
FIRMA
Político-institucionais
Capacitação
Valores (Culturais
+ Individuais)
Internacionais
Estratégia
Valores
Organizacionais
DS
Inovação Produtos e
Processos
-
Relações Internas
e Externas
Decisões estratégicas e
Capacidades Tecnológicas
Legais regulatórios
Capital Social
Desempenho
Sociais
Infra-Estruturais
Figura 2: Dimensões desenvolvimento Sustentável para Firma e Fatores determinantes da
competitividade
Fonte: Autores (2006), inspiradas em Ferraz; Kupfer; Naguenauer; (1997, p.14).
A tomada de decisão estratégica e as práticas gerenciais compatíveis com desenvolvimento
sustentável é um movimento que ocorre segundo o movimento do micro e macroambiente,
cuja velocidade será dada ou por padrões de concorrência da indústria vigente ou por pressão
12
das dimensões do desenvolvimento sustentável proposto neste ensaio.
Gladwin, Kennelly e Krause (1995) sugerem que os teóricos em administração deveriam
considerar uma questão fundamental: Como nós gostaríamos de viver e qual o papel das
organizações neste modo de vida? As leis compartilhadas, não escritas, das teorias de
administração refletem um paradigma antropocêntrico encoberto. Procuram também,
confrontar a questão do impacto das teorias da administração e prática da comunidade do
homem integral, completo, o ambiente natural e o futuro sustentável.
Assim, este estudo pretendeu contribuir para uma gestão mais consciente por parte das
organizações, no sentido de transformar os impactos desfavoráveis de suas atuações em
favoráveis para os stakeholders, onde todos estão inseridos, acionistas, sociedades e meio
ambiente. A proposta de um modelo das dimensões do desenvolvimento sustentável em nível
de firma compreende a dimensão valores organizacionais, capacidade inovativa da firma e seu
capital social. Estas dimensões podem servir como recursos orientadores às rotinas da firma e
a formação de capacidades dinâmicas (TEECE, PISANO, SHUEN, 1997).
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