Resistência dos Materiais EME311 – Mecânica dos Sólidos Resistência dos Materiais Objetivo do Curso: Fornecer ao aluno os fundamentos teóricos necessários para se calcular as tensões e as deformações em elementos estruturais de projetos mecânicos. 1-1 Resistência dos Materiais EME311 – Mecânica dos Sólidos Bibliografia: BEER, F.P.; JOHNSTON, E.R.; Resistência dos Materiais, Ed. Makron Books, 3ª ed. (1995); Notas de aula. 1-2 Resistência dos Materiais EME311 – Mecânica dos Sólidos CAP.1 - Conceito de Tensão; CAP.2 - Tensão e Deformação, Carregamento Axial; CAP.3 - Torção em Seções Circulares; CAP.4 - Flexão Pura; CAP.5 - Carregamento Transversal; Carregamentos Múltiplos; CAP.6 - Análise de Tensões no Estado Plano; CAP.7 - Deflexão de Vigas por Integração; CAP.8 - Flambagem de Colunas. 1-3 Terceira Edição CAPÍTULO RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS Ferdinand P. Beer E. Russell Johnston Jr. Conceito de Tensão Resistência dos Materiais Capítulo 1 – Conceito de Tensão 1.1 – Introdução 1.2 – Forças e Tensões; 1.3 – Forças Axiais: Tensões Normais; 1.4 – Tensões de Cisalhamento; 1.5 – Tensões de Esmagamento; 1.6 – Tensões em um plano Oblíquo; 1.7 – Tensões para o Caso de Carregamento Qualquer; 1.8 – Tensões Admissíveis e Tensões Últimas; Coeficiente de segurança. 1-5 Resistência dos Materiais 1.1 - Introdução • O principal motivo do estudo da mecânica dos materiais é proporcionar ao engenheiro os meios que habilitem para a análise e projeto de várias estruturas e elementos de máquinas, sujeitos a diferentes carregamentos. • A análise da estática e o projeto de uma dada estrutura implicam na determinação das tensões e das deformações. Neste primeiro capítulo será apresentado o conceito de tensão. 1-6 Resistência dos Materiais 1.2 – Forças e Tensões Seja a estrutura da figura, formada pelas barras AB e BC. 1-7 Resistência dos Materiais 1.2 – Forças e Tensões Diagrama de Corpo Livre • Condições para o equilíbrio estático: ∑ MC = 0 = Ax (0.6 m) − (30 kN)(0.8 m) Ax = 40 kN ∑ Fx = 0 =Ax + Cx Cx = − Ax = −40 kN ∑ Fy = 0 = Ay + C y − 30 kN = 0 Ay + C y = 30 kN • Ay e Cy não podem ser determinados destas equações. 1-8 Resistência dos Materiais 1.2 – Forças e Tensões • Para uma estrutura em equilíbrio, cada componente também deve satisfazer as condições de equilíbrio estático. • Do diagrama de corpo livre da barra AB: ∑ M B = 0 = − Ay (0.8 m) Ay = 0 Substituindo na equação de equilíbrio da estrutura Ay + C y = 30 kN ⇒ Cy = 30kN • Logo: Ax = 40 kN → C x = 40 kN ← C y = 30 kN ↑ 1-9 Resistência dos Materiais 1.2 – Forças e Tensões • As barras AB e BC estão sujeitas a duas forças que são aplicadas nas extremidades das barras. • Para o equilíbrio, as forças dever ser paralelas a um eixo entre os pontos de aplicação de força, de igual intensidade, porém de sentidos opostos. Método dos nós: no nó B: F ∑ B =0 FAB FBC 30 kN = = 4 5 3 FAB = 40 kN FBC = 50 kN 1 - 10 Resistência dos Materiais 1.2 – Forças e Tensões A estrutura pode suportar com segurança a carga de 30 kN? • Da análise da estática: FAB = 40 kN (compressão) FBC = 50 kN (tração) dBC = 20 mm • Esses resultados representam um primeiro passo na análise da estrutura, mas não nos levam á conclusão de que as barras vão suportar as cargas com segurança. • Além do valor encontrado para o esforço interno, a área da seção transversal da barra e o material com que ela foi construída devem ser considerados. 1 - 11 Resistência dos Materiais 1.2 – Forças e Tensões • Em qualquer seção da barra BC, a força interna é 50 kN. • Esta força representa a resultante de forças elementares que se encontram distribuídas em toda a área da seção transversal da barra BC. dBC = 20 mm • A intensidade dessas forças distribuídas é igual à força por unidade de área. • A força por unidade de área ou a intensidade das forças distribuídas numa certa seção transversal é chamada de tensão. 1 - 12 Resistência dos Materiais 1.2 – Forças e Tensões A estrutura pode suportar com segurança a carga de 30 kN? • Da análise da estática: FAB = 40 kN (compressão) FBC = 50 kN (tração) • Em qualquer seção da barra BC, a força interna é 50 kN com uma tensão de P 50 ×103 N σ BC = = = 159 MPa A 314 ×10-6 m 2 dBC = 20 mm • Supondo que a barra BC é de aço, com uma tensão admissível à tração de σ adm = 165 MPa • Conclusão: a resistência da barra BC é adequada. σ <σ BC adm 1 - 13 Resistência dos Materiais 1.2 – Forças e Tensões • O projeto de novas estruturas requer a seleção de materiais apropriados e a seleção da dimensão dos componentes necessários. • Por razões baseados em custo, peso, disponibilidade, etc., optou-se em construir a barra BC de alumínio (σadm= 100 MPa). Qual é uma escolha apropriada para o diâmetro da barra? σ adm = P A A= P σ adm = 50 ×103 N = 500 ×10−6 m2 6 100 ×10 Pa 2 A=π d 4 d= 4A π = 4 ( 500 ×10−6 m2 ) π = 2,52 ×10−2 m = 25,2mm • Uma barra de alumínio de 26 mm ou mais no diâmetro é adequado. 1 - 14 Resistência dos Materiais 1.2 – Forças e Tensões Observações: • Tensão de tração (barras tracionadas) – SINAL POSITIVO • Tensão de compressão (barras comprimidas) – SINAL NEGATIVO • No Sistema Internacional de unidades: força em N (Newton) área em m2 tensão em N/m2 ou Pa (Pascal) 1 - 15 Resistência dos Materiais 1.2 – Forças e Tensões Observações: • Em unidades inglesas: força em lb (libras) ou quilolibras (kip) área em pol2 (in2) tensão em libras por polegada quadrada (psi) ou quilolibras por polegada quadrada (ksi) 1 kip = 103 lb = 4,448 kN 1 ksi = 103 psi = 6,895 MPa 1 - 16 Resistência dos Materiais 1.3 – Forças Axiais: Tensões Normais • A resultante das forças internas para um membro carregado axialmente é normal a uma seção cortada perpendicularmente em relação ao eixo do membro. • A intensidade da força na seção transversal é definida como a tensão normal e representa o valor médio das tensões ∆F ∆A→0 ∆A σ = lim σ med = P A • A tensão normal em um ponto particular pode não ser igual à tensão média, mas a resultante da distribuição de tensão deve ser satisfeita. P = σ med A = ∫ dF = ∫ σ dA A 1 - 17 Resistência dos Materiais 1.3 – Forças Axiais: Tensões Normais • Uma distribuição uniforme de tensão em uma seção só é possível se a linha de ação da resultante das forças internas passar pelo centróide da seção (carga centrada). • Se um membro sob duas forças é carregado excentricamente, então a resultante da distribuição de tensões em uma seção deve produzir uma força axial e um momento. • A distribuição de tensões em membros carregados excentricamente não pode ser nem uniforme nem simétrica (Cap. 4). 1 - 18 Resistência dos Materiais 1.4 – Tensões de Cisalhamento • Duas forças P e P’ são aplicadas transversalmente ao membro AB. • Correspondentes forças internas agem no plano da seção C e são chamadas forças de cisalhamento. • A resultante da distribuição de forças internas de cisalhamento é definida como cisalhamento da seção e é igual à carga P. • A correspondente tensão de cisalhamento média é, P τ med = A • A tensão de cisalhamento ocorre comumente em parafusos, rebites e pinos que unem diversas partes de máquinas e estruturas. • A distribuição de tensões de cisalhamento não pode ser assumida como uniforme (Cap. 5). 1 - 19 Resistência dos Materiais 1.4 – Tensões de Cisalhamento Cisalhamento simples τ med = P F = A A Cisalhamento duplo τ med = P F = A 2A 1 - 20 Resistência dos Materiais 1.5 – Tensões de Esmagamento • Parafusos, rebites e pinos criam tensões nos pontos de contato ou superfícies de esmagamento das barras. • A resultante da distribuição das forças na superfície é igual e oposta à força exercida no pino. • A intensidade média da tensão de esmagamento é, σ esmag. = P P = A td 1 - 21 Resistência dos Materiais Exemplo 1.1 Determinar as tensões nos elementos (barras e conexões) da estrutura mostrada. • Da análise da estática: FAB = 40 kN (compressão) FBC = 50 kN (tração) • Deve-se considerar a máxima tensão normal em AB e BC, e a tensão de cisalhamento e a tensão de esmagamento em cada conexão de pinos. 1 - 22 Resistência dos Materiais Exemplo 1.1 • Estrutura detalhada: Barra circular BC; Barra AB; Extremidade A; Extremidade B; Extremidade C. 1 - 23 Resistência dos Materiais Exemplo 1.1 – tensões normais nas barras Barra BC • sob TRAÇÃO com uma força axial de 50 kN. • na parte circular (A = 314x10-6m2), a tensão normal média é is σBC = +159 MPa (tração). • nas partes achatadas, a menor área da seção transversal ocorre na linha central do pino, A = ( 20mm )( 40mm − 25mm ) = 300 × 10−6 m 2 σ BC = P 50 × 103 N = = 167 MPa A 300 × 10−6 m 2 Barra AB • sob COMPRESSÃO com uma força axial de 40 kN • área (A = 1,5x10-3m2), a tensão normal média é σAB = –26,7 MPa. • Como a barra AB está comprimida, as seções transversais da barra de menor área não estão sujeitas a nenhuma tensão de tração. 1 - 24 Resistência dos Materiais Exemplo 1.1 – tensões de cisalhamento nos pinos • Área da seção transversal para os pinos em A, B e C, 2 25 mm −6 2 A = πr = π = 491× 10 m 2 2 • A força no pino C é igual à força exercida pela barra BC (corte simples), τ C ,med P 50 × 103 N = = = 102MPa A 491 × 10−6 m 2 • O pino A está em corte duplo, τ A,med = P 20kN = = 40,7 MPa A 491 × 10−6 m 2 1 - 25 Resistência dos Materiais Exemplo 1.1 – tensões de cisalhamento nos pinos • Divida o pino B em seções para determinar a seção com a maior força de cisalhamento, PE = 15kN PG = 25kN (maior) • Tensão de cisalhamento média, τ B ,med = PG 25kN = = 50,9MPa A 491 × 10−6 m 2 1 - 26 Resistência dos Materiais Exemplo 1.1 – tensões normais de esmagamento • Para determinar a tensão de esmagamento no ponto A da barra AB, nós temos que t = 30 mm e d = 25 mm, σ esmag . = P 40kN = = 53,3MPa td ( 30mm )( 25mm ) • Para determinar a tensão de esmagamento nas chapas de ligação em A, nós temos que t = 2(25 mm) = 50 mm e d = 25 mm, σ esmag . = P 40kN = = 32,0MPa td ( 50mm )( 25mm ) • ou t = 25 mm, d = 25 mm e P = (40kN / 2) σ esmag . = ( 40kN 2 ) P = = 32,0MPa td ( 25mm )( 25mm ) 1 - 27 Resistência dos Materiais 1.6 – Tensões em um plano Oblíquo • Forças axiais em membros sob a ação de duas forças resulta somente em tensões normais em um plano de corte perpendicular ao eixo do membro. • Forças transversais em parafusos e pinos resulta em tensões de cisalhamento no plano perpendicular ao eixo do parafuso ou ao eixo do pino. • Mostraremos que forças axiais ou forças transversais podem produzir ao mesmo tempo tensões normais e de cisalhamento em um plano que não é perpendicular ao eixo do membro. 1 - 28 Resistência dos Materiais 1.6 – Tensões em um plano Oblíquo • Seja passar uma seção na peça que forma um ângulo θ com o plano normal. • Das condições de equilíbrio, as forças distribuídas (tensões) no plano devem ser equivalentes à força P. • Decompondo P nas componentes normal (F) e tangencial (V) para a seção oblíqua, F = P cos θ V = P senθ • As tensões médias normal e de cisalhamento no plano oblíquo são F P co s θ P = = cos 2 θ A0 Aθ A0 cos θ V P sen θ P = = τ = sen θ co s θ A0 Aθ A0 co s θ σ = 1 - 29 Resistência dos Materiais 1.6 – Tensões em um plano Oblíquo • Tensões normal e de cisalhamento em um plano oblíquo σ= P P cos 2 θ τ = senθ cos θ A0 A0 • A tensão normal máxima ocorre quando o plano de referência é perpendicular ao eixo da peça (θ = 0o), σm = P A0 τ′ = 0 • A tensão de cisalhamento máxima ocorre para um plano em + 45o em relação os eixo, τm = P P sen45o cos 45o = =σ′ A0 2 A0 1 - 30 Resistência dos Materiais 1.7 – Tensões para o Caso de Carregamento Qualquer • Vamos analisar as tensões em um certo ponto Q no interior do corpo. • Um membro sujeito a uma combinação geral de cargas é cortado em dois seguimentos por um plano que passa por Q • As componentes de tensões internas podem ser definidas como, ∆F x ∆A→0 ∆A σ x = lim τ xy = lim ∆A→0 ∆V yx ∆A ∆Vzx ∆A→ 0 ∆A τ xz = lim 1 - 31 Resistência dos Materiais 1.7 – Tensões para o Caso de Carregamento Qualquer Estado de tensões • Os componentes de tensões são definidos para os planos de cortes paralelos aos eixos x, y e z. Pelo equilíbrio, tensões iguais e opostas são exercidas nos planos ocultos. • As forças geradas pelas tensões deve satisfazer as condições de equilíbrio: ∑ Fx = ∑ Fy = ∑ Fz = 0 ∑Mx = ∑My = ∑Mz = 0 • Considere o momento em torno do eixo z’: a a ∑ M z ' = 0 = 2 (τ xy ∆A) 2 − 2 (τ yx ∆A) 2 τ xy = τ yx similarmente, τ xz = τ zx e τ yz = τ zy 1 - 32 Resistência dos Materiais 1.7 – Tensões para o Caso de Carregamento Qualquer Estado de tensões • Segue que somente 6 componentes de tensão são necessárias para definir o estado de tensões completo no ponto Q. σ x , σ y , σ z , τ xy , τ xz e τ yz • Onde: τ xy = τ yx τ xz = τ zx τ yz = τ zy 1 - 33 Resistência dos Materiais 1.8 – Tensões Admissíveis e Tensões Últimas; Coeficiente de segurança • A máxima força necessária que faz romper ou quebrar um corpo de prova é chamada de carga última ou carregamento último • Membros estruturais ou máquinas devem ser projetados com segurança para receber um carregamento (carregamento admissível ou carga de utilização ou carga de projeto) menor que a carga última. CS = Coeficiente de segurança CS = Fatores para a escolha do CS: • Incertezas nas propriedades dos materiais; • Incertezas no carregamento; • Incertezas de análises; • Número de ciclos do carregamento; • Tipos de falhas; • Necessidades de manutenção e efeitos de deterioração; • Etc. σu tensão última = σ adm tensão admissível 1 - 34 Resistência dos Materiais Exemplo 1.2 Para a estrutura mostrada na figura, determinar: a)O diâmetro dAB da barra de controle AB que é de aço com tensão de escoamento σ u = 600 MPa, usando um coeficiente de segurança CSAB = 3,3; b)O diâmetro dC do pino C que é de aço com uma tensão última de cisalhamento τ u = 350 MPa, usando um CS ao cisalhamento igual a 2,5; c)A espessura t das chapas de apoio em C que são de aço sabendo que a tensão para esmagamento do aço é σ adm = 300 MPa. 1 - 35 Resistência dos Materiais Exemplo 1.3 Os parafusos B, C e D são de aço com tensão última de cisalhamento τ u = 300 MPa e têm diâmetros dB = 8 mm, dC = 12 mm e dD = 8 mm. A barra de controle AB tem diâmetro dAB = 9 mm, é de aço, com tensão última de tração σ u = 450 MPa . Usando um CS igual a 3, calcular a maior força que o cilindro hidráulico pode aplicar, de baixo para cima, no ponto C. 1 - 36 Resistência dos Materiais Exemplo 1.4 O elemento inclinado na figura está submetido a uma força de compressão de 3kN. Determine a tensão de compressão média ao longo das áreas de contato lisas definidas por AB e BC e a tensão de cisalhamento média ao longo do plano horizontal definido por EDB. 1 - 37 Resistência dos Materiais Exemplo 1.4 1 - 38 Resistência dos Materiais Proposto 1.2 A junta de topo quadrada aberta é usada para transmitir uma força de 250 kN de uma placa a outra. Determine as componentes da tensão de cisalhamento média e da tensão normal média que essa carga cria na face da solda, da seção AB. 1 - 39 Resistência dos Materiais Proposto 1.3 A junta está submetida a uma força axial de 5 kN. Determine a tensão normal média que age na seção AB e BC. Considere que o elemento é liso e tem 50 mm de espessura. 1 - 40 Resistência dos Materiais Observações Tipos de apoios mais encontrados em problemas bidimensionais 1 - 41 Resistência dos Materiais 1 - 42