Entrevista ao Professor
Grupo Disciplinar de Matemática
Escola Secundária Francisco Franco - Funchal
Professor, agradecemos o tempo que nos concedeu para esta entrevista e a abertura que
demonstrou ao aceitar participar no projeto Aula Aberta.
Os alunos da Escola Secundária Francisco Franco têm alcançado resultados excepcionais a
nível nacional em termos de progressão média entre os exames de 9o ano e de 12o ano de
Matemática. Por outras palavras, os resultados do vossos alunos a Matemática melhoram
muito durante o ensino secundário, mais do que seria expectável quando tomamos como
medida os outros alunos do país. Portanto, imaginamos que alguma coisa certa a Escola e os
seus professores de Matemática estarão a fazer.
O propósito desta entrevista é ouvir a sua opinião acerca deste assunto, sobre a questão das
boas práticas no ensino da Matemática, e apresentar vários aspetos relevantes das vossas aulas.
1) Não é uma pergunta fácil, mas tem ideia de quais são os principais fatores
que poderão contribuir para os bons resultados da Escola a Matemática, quando
comparada com a generalidade das escolas públicas que trabalham com alunos
semelhantes?
a) O grupo de professores de Matemática é muito estável, visto que na sua grande maioria
pertencem ao quadro da escola; b) A maioria dos professores dão continuidade pedagógica às
suas turmas; c) Trabalhamos muito em equipa.
2) A aprendizagem da Matemática exige dedicação e trabalho continuado. De
que formas procuram manter os vossos alunos motivados?
De um modo geral, o relacionamento professor/aluno é muito bom, o que proporciona um
bom ambiente de trabalho e consequente motivação dos alunos.
3) No ensino da Matemática nem sempre é fácil estabelecer um equilíbrio entre o
tempo despendido a fazer exercícios e a resolver problemas, e o tempo despendido
a fundamentar conceitos e a fazer demonstrações. Na sua escola, e comparando
com as práticas mais correntes, são adeptos de uma abordagem mais prática ou
mais teórica?
Tem sempre de haver um bom equilíbrio entre a parte teórica e a aparte prática. As aulas
são teórica/práticas. Os alunos devem perceber os conceitos, os exemplos, e os exercícios de
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aplicação devem sempre que possível falar da sua realidade.
4) É frequente as turmas serem compostas por alunos muito diversos. Por razões
várias, alguns aprendem com maior rapidez, outros necessitam em média de mais
tempo. Em termos práticos, como tenta gerir a diversidade numa aula e responder
às necessidades dos diferentes tipos de alunos?
O professor envolve todos os alunos na aula. Através do questionamento e de feedback, percebe os raciocínios elaborados pelos alunos, desfaz os esquemas errados e orienta-os para uma
aprendizagem efectiva. Também se pratica o trabalho de grupo (com cuidado na sua formação), de modo que os que têm mais facilidade de aprendizagem possam ajudar os restantes.
5) Sem dúvida que nas suas turmas aparecem de quando em vez alunos particularmente difíceis, seja em termos de disciplina, seja pela falta de aplicação ao
trabalho, seja por uma menor facilidade de aprendizagem. Em cada um destes
três casos distintos, de que formas concretas procura resolver o problema?
Em termos de disciplina, procura-se conversar a sós com o aluno e tentar perceber a razão pelo
qual se porta desse modo. O diretor de turma é também muito importante, porque através
dele podemos ter muita informação e de acordo com o caso selecionar o problema. Quanto
à falta de trabalho, também o conversar com o aluno e/ou com o encarregado de educação
ajuda; No que respeita, à menor facilidade de aprendizagem, é necessário analisar se o aluno
está matriculado na área, para o qual está mais vocacionado e também é necessário remetê-lo
para a aula de apoio, que é semanalmente facultada pela escola.
6) No seu entender, a atitude do professor é o factor determinante para a manutenção da disciplina na sala de aula, ou existem outros mecanismos disciplinares
sem os quais um professor dificilmente consegue manter a sua autoridade perante
turmas difíceis?
A atitude do professor é o fator mais determinante para a manutenção da disciplina na sala
de aula. O professor não pode no primeiro dia do ano letivo, acordar regras com os alunos e
depois não as cumprir e/ou não as fazer cumprir. O professor é o modelo. Tem de conhecer
bem os seus alunos e perceber que tem de manter a disciplina sem ser autoritário. Por
vezes, é importante perceber qual a resposta que o aluno espera do professor, para provocar
a sua rebeldia e dar-lhe uma resposta diferente da esperada. A troca de opiniões e o trabalho
conjunto os professores da turma também ajuda. É fundamental que a turma goste de trabalhar
com o professor.
7) Na distribuição de serviço dos professores de Matemática da Escola, privilegiam
a continuidade pedagógica, ou existem professores especializados em certos anos
de escolaridade, como sejam, por exemplo, os anos terminais?
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Sim, na nossa escola o primeiro critério a privilegiar é a continuidade pedagógica. O segundo
critério é a atribuição do 12o ano (ano de exame) aos professores classificadores.
8) Normalmente seguem à risca o curriculum de Matemática do ensino público?
Se fazem alterações, pode dizer-nos em linhas gerais quais são elas, e por que
razões as fazem?
Sim, seguimos o curriculum de Matemática do ensino público. Alguns professores, no início
de cada unidade, exploram com os alunos um pequeno texto, sobre a História da Matemática
relacionada com o conteúdo a lecionar; após o términus do assunto lecionado e consolidado,
lançamos alguns problemas exploratórios, para os alunos mais interessados investigarem e ainda
alguns exercícios com grau de dificuldade não elevado, para aqueles que eventualmente ainda
não tenham consolidado o assunto estudado.
9) Que papel atribui ao estudo complementar em casa? Tem ideia de quanto
tempo por semana, em média, os vossos alunos dedicam aos trabalhos de casa de
Matemática?
O estudo de casa é importante, porque quando o aluno trabalha sozinho, apercebe-se das suas
reais dificuldades. Em minha opinião, o professor deve indicar tarefas de resolução em cada
aula, mas não exagerar na quantidade.
10) Na disciplina de Matemática, como avaliam internamente os alunos? Que
factores são tidos em conta na avaliação (testes, participação, trabalho na aula e
em casa, projectos, etc.), e com que peso entram estes fatores na nota final?
Os critérios de avaliação, da disciplina de Matemática, propostos pelo grupo disciplinar e
aprovados pelo Conselho Pedagógico, são os seguintes:
• Testes escritos: 10o ano(75%); 11o e 12o anos(80%)
• Outros trabalhos, nomeadamente, questões aula, relatórios, projetos, TPC, composições
matemáticas, . . . : 15%
• Atitudes e valores: 10o ano (10%); 11o e 12o anos (5%)
Devendo sempre haver bom senso do professor, ao analisar a progressão do aluno.
11) Os professores de Matemática da Escola dão aulas de dúvidas e de apoio ao
estudo, além das aulas normais? Em caso afirmativo, com que frequência, a que
alunos, e como funcionam estas aulas?
Sim, na nossa escola, semanalmente é oferecido um bloco de 90 minutos a cada turma, onde
o aluno pode recorrer e de uma forma mais individualizada esclarecer as suas dúvidas.
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12) Antes dos exames fazem algum trabalho intensivo de preparação com os
alunos? Em caso afirmativo, de que formas?
É prática corrente, no período entre o términus do ano letivo e o exame, todos os professores
que lecionam o 12o ano, oferecerem-se para fazer um trabalho intensivo de preparação para o
exame com as suas turmas.
13) A escola participa no projeto dos testes intermédios? Até que ponto lhe
parecem úteis?
Desde o início do projeto dos testes intermédios, esta escola sempre participou. Era uma
maneira de nós professores aferirmos o nosso trabalho e dos alunos se familiarizarem com
avaliações externas.
14) Existe trabalho de equipa entre os professores de Matemática da Escola? Que
importância lhe atribui e, em termos práticos, como funciona?
Sim, os professores de matemática desta escola trabalham muito em equipa. No início de
cada período, o delegado reúne com o grupo de professores que lecciona cada um dos anos
e apresenta uma proposta de planificação para esse período. Nesta planificação, são também
indicados exercícios e problemas previamente seleccionados. Tal proposta é discutida e aprovada pelo grupo de professores. Posteriormente, em todas as quartas feiras pelas 17 horas, os
professores de cada um dos anos, reúnem-se para trabalharem em grupo, trocar experiências
e materiais.
15) Para um professor recém-formado, os primeiros anos de contacto com a escola
real nem sempre são fáceis. No seu entender, de que formas os professores mais
experientes podem ajudar os colegas mais jovens a evoluir como professores?
Os professores mais experientes devem proporcionar aos professores recém formados uma boa
integração no grupo. Devemos ouvir as suas dúvidas e as suas dificuldades e procurar ajudá-los
com as nossas opiniões, disponibilizar-lhes materiais e convidá-los a assistirem se possível, às
nossas aulas.
16) Na sua opinião, quais são as principais qualidades que distinguem um bom
professor de um professor mediano? Se assistisse a uma aula de Matemática de
um colega seu, a que sinais prestaria atenção para tentar perceber se as coisas
estão a correr bem?
Um bom professor elabora uma planificação bem estruturada evidenciando autonomia na produção; O plano reflecte conhecimentos dos alunos, da turma, da comunidade e do Sistema
Educativo; Demonstra conhecimento dos conteúdos e orientações metodológicas, adaptandoas às tarefas de aprendizagem e necessidades dos alunos; Utiliza com rigor e clareza os conceitos
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e terminologia da Matemática; Revela bom conhecimento, ao nível da elaboração de estratégias no contexto da intervenção; Contempla formas de avaliação e registo e ainda reflecte
com rigor a aula e a sua intervenção; Comunica com rigor e clareza os conhecimentos disciplinares e conteúdos de forma objectiva; Promove de uma forma eficiente o saber adquirido
com as novas aprendizagens; Envolve todos os alunos na aula e aplica quando necessário o
reforço positivo no desenvolvimento das aprendizagens; Apresenta uma relação com os alunos
e proporciona um bom ambiente de aprendizagem.
Na assistência a uma aula de Matemática observaria:
• a segurança do professor como desenvolve o plano de aula
• se a comunicação era feita de forma clara e objectiva
• se envolvia todos os alunos da aula
• se o professor reflectia e avalia as aprendizagens dos alunos, orientando-os em função
dessa avaliação
• se interligava com eficácia aprendizagens passadas e presentes
• se os alunos trabalhavam motivados
• se no feedback do professor era introduzido reforços positivos
• como tratava os erros do aluno
• se o ritmo de aprendizagem dos alunos era respeitado
• se a organização do quadro era bem feita
• se todos os alunos eram apoiados nas suas dúvidas
• e como se movimentava o professor no espaço físico.
17) Utiliza TIC nas suas aulas? Na sua opinião, até que ponto podem as novas
tecnologias ser úteis no ensino da Matemática? Quais lhe parecem mais interessantes?
Utilizo as TIC nas minhas aulas quando o conteúdo a leccionar se proporciona. As novas
tecnologias são úteis na motivação dos alunos, na resolução de cálculos fastidiosos, na verificação de resultados, na exploração de actividades dinâmicas e no estudo de certas funções.
Considero mais interessantes: a) a calculadora; b) o computador; c) o quadro interactivo.
18) Acha que a comunicação com os pais dos alunos deve fazer parte das tarefas
de um professor? Se sim, até que ponto, em termos práticos? Se não, como deve
ser feita esta comunicação?
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Em minha opinião, a comunicação com os pais dos alunos deve fazer-se em primeiro lugar
através do director de turma. Este por sua vez comunicará aos colegas a informação que achar
relevante. Tal como nos moldes atuais.
19) Tem alguma sugestão de métodos ou práticas vossas no ensino da Matemática,
mesmo coisas pequenas, que seria interessante mencionar a colegas seus de outras
escolas?
O trabalho em equipa é sempre produtivo, pelo que aconselho esta prática a todos os colegas
de Matemática de outras escolas.
20) Há alguma coisa que queira acrescentar?
Se queremos que os nossos alunos melhorem as suas aprendizagens, temos o dever de reflectir
sobre as nossas práticas.
Muito obrigado!
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