1 O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO ORGANIZACIONAL NO HOSPITAL MÃE DE DEUS Aluno: José Benjamin Moreira Diniz Costa Orientador: Rene Chabar Kapitansky RESUMO Este artigo foi desenvolvido a partir da análise do processo de socialização organizacional existente no Hospital Mãe de Deus, instituição da área de saúde, em Porto Alegre. Baseia-se em um dos valores institucionais daquele hospital: a acolhida. O processo de socialização organizacional é aplicado aos novos colaboradores, ingressantes no quadro de pessoal da instituição. Começa na integração do colaborador, ou seja, na sua contratação. Após, decorridos 45 dias, a equipe de recursos humanos retoma esse processo através de convite aos colaboradores para participarem de uma reunião, momento em que se busca saber como o colaborador está integrado, se suas expectativas estão sendo atingidas e, ainda, se é necessária alguma intervenção da área de recursos humanos. O Hospital Mãe de Deus é uma empresa privada, religiosa e filantrópica, que juntamente com outros hospitais localizados em outras cidades, faz parte de uma rede que é coordenada pela Associação Educadora São Carlos, entidade mantenedora do sistema de saúde Mãe de Deus. A partir da fundamentação teórica, foram formulados dois questionários para aplicação entre os gestores e os novos colaboradores da instituição. Em suas considerações finais, apresenta os resultados da pesquisa aplicada à gestores e colaboradores, bem como sugestões de melhoria no processo organizacional já existente. PALAVRAS-CHAVE: socialização, cultura organizacional, integração. ABSTRACT This article was developed from the analysis of the process of organizational socialization in the Mother of God Hospital, establishment of health, in Porto Alegre. It is based on one of the institutional values that hospital: the welcome. The process of organizational socialization is applied to new employees, entering the staff of the institution. Begin integration of employee, or in its hiring. Once, after 45 days, the team of human resource recovery through the process of invitation to employees to attend a meeting, when it is looking how the employee is integrated, if their expectations are being met and, furthermore, it is necessary any intervention in the area of human resources. The Mother of God Hospital is a private, religious and philanthropic, which together with other hospitals located in other cities, is part of a network that is coordinated by the Association Educator San Carlos, the body maintains health system Mother of God. From the theoretical basis, two questionnaires were formulated for application between managers and new employees of the institution. In his final comments, shows the results of research applied to managers and employees, as well as suggestions for improvements in existing organizational process. KEYWORDS: socialization, organizational culture, integration. 2 1 INTRODUÇÃO Este artigo pretende apresentar o processo de socialização organizacional no Hospital Mãe de Deus, entidade nosocômica com sede em Porto Alegre. Impende relatar que este trabalho foi realizado pelo líder desse processo, que é deficiente visual. Tal fato gerou a necessidade de algumas adaptações para o seu exercício na função de líder, como implantação de software leitor de tela compatível com Microsoft Windows XP. Houve, ainda, a necessidade de alteração na rotina de trabalho de alguns colaboradores que, ao compartilharem suas atividades laborais com o líder, necessitavam adaptar seus arquivos informatizados àquele que possibilitava a leitura de tela, instalado no equipamento do autor. Moscovici (2004, p. 32) diz que pessoas convivem e trabalham com pessoas e portamse como pessoas. Ou seja, reagem às pessoas com as quais interagem. Comunicam-se, simpatizam e sentem atrações; antipatizam e sentem aversões; aproximam-se, afastam-se, competem, entram em conflito e desenvolvem afeto. Segundo a autora, essas relações formam o processo de interação humana, que é complexo e ocorre através de comunicações verbais ou não-verbais. Para Vygotsky (1984), o homem é visto como alguém que transforma e é transformado nas relações que acontecem em uma determinada cultura. Segundo ele, há uma interação, desde o nascimento, entre o ser humano e o meio social e cultural em que está inserido. Ainda segundo Vygotsky (1984), o sujeito é ativo e age sobre o meio. Para ele não há “natureza humana”. Somos, segundo ele, primeiramente sociais; depois é que nos individualizamos. Nos últimos anos, as organizações têm buscado inúmeras estratégias visando melhorar o comprometimento, a produtividade, a eficiência e a eficácia de seus colaboradores. Uma das estratégias utilizadas é o processo de socialização organizacional, pelo qual o colaborador conhece valores e normas de comportamentos esperados, que permitem a ele ter uma participação mais efetiva como membro da organização. Assim, o processo de socialização acontece por meio da aprendizagem que, por sua vez, internaliza nos colaboradores uma série de valores e normas que são socialmente estabelecidos e tomados como verdade dentro da organização. Este tipo de treinamento de integração é muito importante para a reprodução da cultura da empresa, do modo de se fazer as coisas, como é a gestão organizacional, bem como a forma como as pessoas elaboram e reproduzem seus valores. 3 Entende-se por socialização organizacional o processo pelo qual uma pessoa recebe um acompanhamento focado nos seus primeiros momentos, reforçando os valores e tirando dúvidas a respeito de algumas questões percebidas neste primeiro momento, tanto de desenvolvimento de suas atividades, como de acolhida nas equipes e por parte de seu gestor/supervisor. O processo de “socialização organizacional”, realizado no Hospital Mãe de Deus, é operacionalizado através de uma conversa reflexiva, a partir de uma dinâmica realizada na integração. O objetivo geral da pesquisa apresentada neste artigo é demonstrar que um dos principais valores da instituição, o acolhimento ao novo funcionário por parte de sua chefia e demais colaboradores, diminui a rotatividade de funcionários na empresa. Como objetivos específicos, esta pesquisa pretende identificar a importância de um dos seus principais valores; a acolhida ao novo funcionário, dentro do processo de socialização; demonstrar que o acolhimento impacta no bom funcionamento dos processos internos da instituição; e verificar se os colaboradores vêem o processo de socialização como facilitador de sua ambientação no novo local de trabalho. 1.1 JUSTIFICATIVA O processo de socialização organizacional foi implantado no Hospital Mãe de Deus com o objetivo de dar uma melhor acolhida a seus funcionários, de forma digna, respeitosa e humana. A importância da socialização organizacional é fundamental para que um novo funcionário ao ingressar na empresa sinta-se confortável para realizar suas tarefas de forma tranqüila, podendo assim, fortalecer os valores da instituição em favor do cliente que procura os serviços do Hospital Mãe de Deus. No mundo corporativo, deve-se considerar que cada vez mais as empresas estão olhando para seus colaboradores. Os gestores estão procurando práticas para que seus liderados trabalhem seguros de seus desempenhos, ou seja, estão voltando seus olhares e interesses para práticas e políticas que valorizem seus recursos humanos, não esquecendo os recursos físicos, econômicos e financeiros. A socialização organizacional, portanto, vem ao encontro desses interesses. Assim, esse novo colaborador, percebendo que está sendo bem acolhido, irá procurar exercer as atividades que lhe foram atribuídas, e para as quais foi contratado, com mais 4 firmeza, eficiência e eficácia, utilizando seus conhecimentos adquiridos ao longo de sua carreira profissional e proporcionando um sentimento recíproco para com a organização. 1.2 SOBRE A EMPRESA O Hospital Mãe de Deus foi criado há 30 anos pela congregação das irmãs missionárias scalabrinianas. Juntamente com os hospitais Mãe de Deus Center, em Porto Alegre, Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres, Santa Luzia, em Capão da Canoa, Lauro Réus, em Campo Bom e a Clínica COR Mãe de Deus, em Porto Alegre, faz parte de uma rede coordenada pela Associação Educadora São Carlos, sediada em Caxias do Sul, e fundada há 113 anos pelas irmãs missionárias de São Carlos. O Hospital Mãe de Deus é uma empresa privada e filantrópica, que está inserida no segmento da saúde. É, também, uma instituição religiosa, já que foi fundado por uma congregação missionária. Porém, tem como compromisso não impor sua religião aos que freqüentam suas dependências. Possui diversos setores de atuação nas áreas administrativas e médicas, como o Centro Cirúrgico; a área de Pacientes Graves; Diagnóstico e Tratamento; Maternidade; Internação e Apoio. A missão da organização é "garantir soluções completas e integradas em saúde, com desenvolvimento científico, tecnológico e humano.” Sua visão é “ser reconhecida pela sociedade e pelos médicos como hospital de referência em soluções completas de saúde e de alta complexidade, com sustentabilidade econômica e social.” Seus valores são “a acolhida, a compaixão, a justiça e a ética.” O Hospital Mãe de Deus tem em seu quadro funcional, aproximadamente, 1.840 colaboradores, entre funcionários e estagiários. A maior concentração de colaboradores é na área de atividade fim, ou seja, na área assistencial, que presta cuidado aos pacientes/clientes. 1.3 A SOCIALIZAÇÃO ORGANIZACIONAL NO HOSPITAL MÃE DE DEUS O processo de socialização organizacional no Hospital Mãe de Deus não atinge médicos, funcionários com contrato de horistas ou autônomos que recebem por serviços prestados e terceirizados. Em relação aos (às) enfermeiros (as), há uma dificuldade para seu comparecimento ao processo de socialização organizacional, ante a intensa demanda nas suas áreas que, muitas 5 vezes, impossibilitam seu afastamento do setor. Nesses casos, não há a socialização por meio da área de recursos humanos. O processo se inicia quando o funcionário, recém admitido na instituição, participa do treinamento de integração. Nesse treinamento, o novo funcionário receberá as informações referentes à história do hospital, sua missão e os valores. Como os participantes desse treinamento encontram-se, todos, iniciando um novo emprego, é realizada uma dinâmica no início do dia que visa conhecer os participantes, suas expectativas e seus receios. Esta dinâmica consiste de duas etapas distintas: 1ª etapa: apresentação individual de cada integrante com nome, origem e local onde irá desempenhar sua função; 2ª etapa: elaboração de uma carta onde os novos funcionários descrevem suas expectativas e ansiedades frente ao novo emprego. Esta carta é fechada e endereçada ao funcionário. Após, as cartas são colocadas em uma embalagem para posteriormente ser aberta no segundo momento da “socialização”. Decorridos quarenta e cinco dias do momento da integração, o funcionário é chamado pela equipe de socialização para participar de um reencontro. Nesse momento, conduzido por um consultor interno de recursos humanos, junto com o estagiário/líder, são abertos os envelopes e os integrantes relêem suas cartas. Inicia-se, então, uma reflexão sobre como foram esses primeiros 45 dias, procurando identificar situações positivas ou negativas com relação as suas atividades ou setor. Nessa conversa, também, busca-se conhecer um pouco mais do participante, avaliando o funcionamento da área em que esse funcionário está e, ainda, alguma situação com relação ao hospital, desde o seu ingresso e até aquela data. A participação do funcionário não é obrigatória. Porém, ela é muito importante para um diagnóstico mais próximo da realidade, na intenção de melhorar todos os processos existentes no Hospital Mãe de Deus, já que há um compromisso organizacional com a acolhida e com a excelência. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 CULTURA ORGANIZACIONAL Schein (1999) define cultura organizacional como conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa ou integração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem 6 considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir em relação a esses problemas. Schein (1999) diz, ainda, que se a organização como um todo vivenciou experiências comuns, pode existir uma forte cultura organizacional que prevaleça sobre várias subculturas das unidades (cultura dos gerentes, do sindicato, etc.). SCHEIN coloca como de maior importância o papel dos fundadores da organização no processo e moldar seus padrões culturais, que imprimem sua visão de mundo aos demais e também sua visão do papel que a organização deve desempenhar no mundo. Schein (1999) propõe ainda categorias para se investigar o universo cultural de uma organização: - Analisar o teor e o processo de socialização dos novos membros; - Analisar as respostas a incidentes críticos da história da organização; - Analisar as crenças, valores e convicções dos criadores ou portadores da cultura; - Explorar e analisar junto a pessoas de dentro da organização as observações surpreendentes descobertas durante as entrevistas. Chiavenato (2004, p. 165), ao abordar o tema, diz que: “A cultura organizacional ou cultura corporativa é o conjunto de hábitos e crenças, estabelecidos por normas, valores, atitudes e expectativas compartilhadas por todos os membros de uma organização. A cultura organizacional representa as percepções dos dirigentes e funcionários, e reflete a mentalidade que predomina na organização”. A cultura organizacional, de acordo com Morgan (1996), é percebida no cotidiano das pessoas, e as mesmas têm capacidade de influenciá-la. Diz o autor, ainda, que a cultura de uma organização está interligada aos interesses, conflitos e jogos de poder das pessoas interessadas. Fleury (1989), por sua vez, define cultura com base na concepção de Schein, mas incorpora a dimensão política inerente a este fenômeno. Assim, cultura organizacional é concebida como: “... um conjunto de valores e pressupostos básicos expressos em elementos simbólicos, que em sua capacidade de ordenar, atribuir significações, construírem a identidade organizacional, tanto agem como elemento de comunicação e consenso, como ocultam e instrumentalizam as relações de dominação” (FLEURY, 1989, p. 22). 7 Ainda de acordo com Fleury (1989), a cultura de uma organização pode ser apreendida em vários níveis: - Nível dos artefatos visíveis: fáceis de obter, mas difíceis de interpretar. É o ambiente construído da organização, arquitetura, layout, a maneira de as pessoas se vestirem, padrões de comportamento visíveis, documentos públicos; - Nível dos valores que governam o comportamento das pessoas: valores manifestos na cultura, ou seja, expressam o que as pessoas reportam ser a razão do seu comportamento, o que na maioria das vezes são idealizações ou racionalizações; - Nível dos pressupostos inconscientes: são aqueles pressupostos que determinam como os membros de um grupo percebem, pensam e sentem. 2.2 SOCIALIZAÇÃO ORGANIZACIONAL. Leavitt (1991), ao definir o que é socialização, apresenta alguns termos, como: aculturação, lavagem cerebral, treinamento, manipulação e, até mesmo, educação. O foco principal, segundo o autor, é o convencimento para que as pessoas adotem determinadas atitudes e crenças, por meio de exemplos e/ou pressões sociais, além de reforços positivos ou negativos sobre comportamentos adequados ou impróprios. Conforme definição de Van Maanen (1979): “A socialização organizacional é um processo pelo qual uma pessoa aprende valores, normas e comportamentos exigidos, o que lhe permitirá participar como membro de uma organização, e esse processo é contínuo durante toda a carreira do indivíduo na organização”. Dentro desse processo que se realiza nas organizações, a socialização veio para que as empresas e os novos funcionários pudessem se entender e trabalhar juntos, por isso, vem-se estudando há muitos anos e está sendo aplicado nas organizações, de várias maneiras. Conforme sugestão de Van Maanen, há sete estratégias de socialização organizacional empregadas pelas empresas, que não são mutuamente exclusivas e que, na prática, estão combinadas de diversas formas. Essas estratégias não são garantias de sucesso nos processos de socialização nas instituições, cada uma faz seu processo conforme sua cultura, missão, visão e valores. Segundo o autor, as sete estratégias são: - Formais e informais de socialização: o processo formal de socialização age na preparação do novato para ocupar um cargo específico na organização. Quanto mais formal for o processo, mais o papel de novato é segregado e especificado, e maior a tensão, o que 8 influencia as atitudes e valores dos novatos. Em uma atmosfera informal, não existe forma de diferenciação e grande parte da aprendizagem do novato necessariamente ocorre no interior das redes sociais e das tarefas relacionadas que envolvem sua posição. Dessa forma, o processo formal de socialização é apenas a primeira etapa da socialização. A segunda etapa ocorre quando o novato é colocado em sua posição organizacional designada, devendo aprender informalmente as práticas reais em seu setor. - Individuais e coletivas de socialização: na socialização coletiva, os novatos são agrupados em conjunto para o início e processados por um conjunto de experiências idênticas, com resultados relativamente similares. Quando um grupo é introduzido em um programa de socialização, ele desenvolve quase sempre uma consciência coletiva, o que pode gerar certa incompatibilidade entre os objetivos organizacionais e os do grupo. As estratégias individuais também geram mudanças mas, quando comparadas às coletivas, perdem em termos de homogeneidade de resultados. As mudanças são isoladas e dependem, em grande parte, da relação estabelecida entre o agente socializador e o novato. - Sequenciais e não sequenciais de socialização: a socialização seqüencial caracterizase por processos transitórios marcados por uma série de estratégias discretas e identificáveis, por meio dos quais um indivíduo deve passar a ocupar uma posição e exercer um papel na organização. Os processos não seqüenciais são realizados em um estágio transitório e sem uma relação com outras etapas anteriormente realizadas. Contudo, é necessário que exista um programa seqüencial para que o processo de aprendizagem seja facilitado. - Fixas e variáveis de socialização: os processos de socialização fixa proporcionam a um novato um conhecimento preciso do tempo que necessitará para completar determinado estágio, ou seja, o tempo de transição é padronizado. Nas estratégias de socialização variáveis, os indivíduos desconhecem a dimensão tempo do período de transição. - Socialização por competição ou por concurso: as estratégias de socialização por competição caracterizam-se pela separação dos novos integrantes em grupos ou diferentes programas de socialização, de acordo com as habilidades e ambições dos indivíduos. Assim, cada um atua por conta própria e dificilmente procura apoio do grupo para as ações de sintonia, contra ou a favor da organização. Por outro lado, as estratégias por concurso possibilitam uma certa participação e uma cooperação entre os indivíduos. - Socialização em série e isoladas: a estratégia de socialização em série é aquela que prepara os novos integrantes para assumir diversos papéis organizacionais similares, sendo uma garantia de que a organização não sofrerá qualquer mudança ao longo do tempo. Nas estratégias isoladas de socialização, o indivíduo é socializado com base em sua iniciativa e 9 não por qualquer padrão a ser seguido. Essa estratégia apresenta um elevado risco, pois o novo integrante poderá ficar confuso e se perder durante o processo de socialização. Entretanto, poderá também estimular a criatividade e a iniciativa dos novos integrantes. - Socialização por meio de investidura e despojamento: estas estratégias objetivam confirmar ou destruir a identidade do novato na organização. Ou seja, na investidura, procura confirmar e estabelecer a viabilidade e utilidade dos valores pessoais dos novatos. Ele é bemvindo da forma como ele é. Já no processo de despojamento procura-se destruir e despojar certos valores e crenças dos novatos. Ele é, geralmente, submetido a uma série de “testes” rigorosos para obter acesso privilegiado na organização. Van Maanen (1989, p. 60) ressalta que “as estratégias de despojamento, no lugar das estratégias de investiduras, provavelmente produzem resultados similares entre os novatos”. Essas estratégias são utilizadas pelas organizações para controlar e dirigir o comportamento de seus colaboradores. O autor ressalta, ainda, que grande parte do controle sobre o comportamento do indivíduo nas organizações é resultado direto da maneira pela qual a pessoa é socializada. Pascale (1985) aponta, também, sete passos estruturantes do processo de socialização dos indivíduos na cultura organizacional: - A seleção: voltada para atrair candidatos com características para aceitar as crenças e valores da organização. Os candidatos passam por testes e entrevistas, selecionando-se aqueles que mostrem identificação com os valores e a cultura da organização. - Experiências indutoras de humildade: nos primeiros meses, procura-se induzir os novos colaboradores a questionarem seus comportamentos, crenças e valores, através de ações como atribuir metas difíceis de serem cumpridas ou designar trabalhos que exigem pouca qualificação a indivíduos mais qualificados. Essa fase visa promover uma auto-análise que facilite a aceitação dos valores da organização. - Treinamento na linha de fogo: é uma espécie de materialização da cultura. Busca, além do repasse do conhecimento técnico necessário à realização do trabalho, a construção da subjetividade dos indivíduos que estão a ele submetidos. - Uso de sistemas de recompensa e controle: a organização dedica um extremo cuidado à criação de sistemas abrangentes e consistentes, com o propósito de medir os resultados operacionais e recompensar o desempenho individual. O enfoque se dá particularmente nos aspectos relacionados ao sucesso competitivo e aos valores da organização. 10 Nesse sentido é também importante tratar da questão do poder nas organizações. Para Motta (1991, p. 8), os indivíduos podem ser aprisionados pelas estruturas de poder nas organizações e também pela sua própria conduta. Eles devem dar provas constantes de sua competência, a fim de serem reconhecidos e recompensados. Nas organizações, os indivíduos “nunca podem ou devem perder a sua pose, devem dar prova de coerência e persistência de seus pensamentos”. Dessa forma, as organizações exercem um controle muito forte sobre os indivíduos, por meio de um poder disciplinar presente nas suas práticas sociais cotidianas. Esse poder de restrição e de opressão controla corpo, gestos e risos e até mesmo a memória. Motta (1981, p. 41) complementa com a seguinte afirmação, “quaisquer que sejam as modalidades e a intensidade do poder disciplinar, porém, ele tem sempre o mesmo objetivo: formar corpos dóceis e produtivos”. - Aderência aos valores centrais da organização: essa fase cria uma base de confiança entre a organização e o indivíduo, por meio do comprometimento contínuo com os valores compartilhados, que mantêm a organização em sintonia com a sociedade. - Folclore do reforço: as histórias, mitos, rituais e símbolos da organização oferecem imagens fortes da empresa, que influenciam a maneira como as pessoas vêem a organização. O folclore reforça o código de conduta sobre “como realizamos as coisas por aqui”. - Modelos consistentes de papéis: para os novos integrantes, a organização comunica as maneiras como reconhece formal ou informalmente seus “vencedores”, que carregam de maneira bem forte os traços e atributos que a organização valoriza. Segundo Pascale (1985), essas fases, quando bem gerenciadas, proporcionam uma forte identidade organizacional. Para ele, o objetivo da socialização é estabelecer uma base de atitudes, atos e valores, que favoreça a cooperação, a integridade e a comunicação. De acordo com as estratégias de socialização apresentadas por Van Maanen (1989) e Pascale (1985), é possível entender as especificidades do programa de formação de novos funcionários. Conforme Chiavenato (1999) a orientação das pessoas é o primeiro passo para a adequação delas na empresa. Não adianta somente possuir recursos para colocar mais gente; o que traz competitividade para uma empresa é saber usar adequadamente os recursos que possui o desperdício não é sinal de produtividade. A qualidade do trabalho das pessoas é o que contribui para a melhor produtividade; elas terão qualidade se sentirem bem orientadas nas suas funções. “Orientar significa determinar a posição de alguém frente” ao seu caminho, ao seu lugar na empresa. Quando há 11 mudanças na empresa, antigos e novos funcionários precisam estar certos de seus papéis, de seus rumos, de suas metas para que a organização, que sabe para onde quer ir, seja realmente ajudada pelos seus funcionários. Essas ações é que permitirão aos seus dirigentes e funcionários ajustarem-se “à sua cultura organizacional”. Ainda segundo Chiavenato (1999), nas organizações quatro itens são característicos: a missão, a visão, a cultura e os objetivos. Todos devem estar envolvidos neste contexto, principalmente os novos funcionários. Estes devem se socializar através de processos de condicionamento às novas filosofias, tentando esquecer hábitos antigos, de outras organizações. “Dá-se nome de socialização organizacional” (p.146) este processo de iniciação do novo participante; este deverá aceitar que vai perder um pouco sua liberdade, pois precisará, de agora em diante, obedecer à nova rotina desta nova empresa. É um jogo duplo onde a organização vai querer influenciá-lo ao máximo e ele vai querer colocar suas idéias em prática para tentar alcançar novos postos dentro dela. Temos, então, “de um lado a socialização e de outro a personalização” (p.146). Como se pode notar, o processo adaptativo é duplo, bidirecional e recíproco. O início será difícil, ocorre muita rotatividade de pessoas, o que deverá diminuir com o passar do tempo. Existe um contrato não assinado, mas psicológico, que ajudará neste processo; as pessoas o utilizam para balizar suas expectativas em relação ao seu desempenho e ao esperado pela empresa; estes contratos regem as relações e valores que esta pessoa terá nos intercâmbios “intrapessoais e interpessoais” (p.147). Este contrato não assinado se caracteriza pela reciprocidade entre a organização e o novo participante; se ele se romper, romperá esta relação recíproca. De acordo com Stoner e Freeman (1982), “a orientação ou socialização é elaborada para dar ao novo empregado a informação da qual precisa para trabalhar confortavelmente e com eficácia na organização.” Ainda segundo Stoner e Freeman (1982), existem três tipos de informações na socialização: (1) informação geral sobre a rotina diária de trabalho; (2) exame da história, propósito, operações e produtos ou serviços da organização e sobre como o trabalho do empregado contribui para as necessidades da organização; (3) uma apresentação detalhada, talvez num folheto, das políticas, regras de trabalho e benefícios para os empregados da organização. Van Maanen e Schein (1979) afirmam que socialização organizacional é o processo onde o individuo adquire conhecimentos e habilidades sociais para assumir um papel na 12 organização. O conhecimento pode ser adquirido rapidamente através de manuais, por tentativa e erro, de forma elaborada como por um extenso período de treinamento e educação ou um igualmente longo programa oficial de aprendizagem. Esses autores defendem a idéia de que a tática de socialização formal é a mais indicada para trabalhos de natureza ou de valores que sejam alvos de elevados riscos para os novos membros, para seus colegas, para a própria organização e para os clientes. A socialização não termina quando o novo funcionário aprende o seu papel na nova organização. É um continuo e longo processo que perdura por toda a sua vida funcional. Assim, quando alguém é transferido para outro departamento dentro da mesma empresa, a pessoa iniciará um novo processo de socialização no novo setor e, também, a nova tarefa. É importante haver uma padronização e um formalismo na socialização ou nos programas de treinamento integracionais dos novos membros. É fundamental, antes de inserir o novo colaborador no seu ambiente de trabalho, passar a ele informações importantes sobre a empresa e as suas tarefas. Esse processo pode ser realizado, inclusive, com a realização de cursos de curta duração aos novos colaboradores. As aquisições de informações sobre o trabalho e sobre a organização são necessárias para que os novos funcionários aprendam o sentido da sua nova posição, e entendam quanto são importantes para o processo e o seu aperfeiçoamento. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para que os objetivos deste artigo fossem atingidos, tanto o geral quanto os específicos, foi organizada uma pesquisa de caráter quantitativo, por meio de dois questionários de avaliação com questões fechadas: um para os colaboradores e outro para as chefias do Hospital Mãe de Deus. O questionário de avaliação dos colaboradores do Hospital Mãe de Deus contém quatro questões e o questionário de avaliação das chefias possui cinco questões. Impende salientar que o autor desse artigo, juntamente com seu orientador, tiveram o cuidado de não formularem os questionários com alguma semelhança, portanto, ambas as pesquisas não possuem questões e alternativas iguais. O pesquisador decidiu aplicar os questionários durante o mês de abril do ano de 2009, já que também trabalha na referida instituição. Em relação aos pesquisados, a maioria dos funcionários em cargos de chefia, recebeu o questionário por “e-mail”. Alguns poucos tiveram a pesquisa entregue em mãos e devolveram ao pesquisador algum tempo depois, 13 porque davam prioridade as suas demandas. Os colaboradores responderam o questionário de diferentes formas: a maioria respondeu em seu próprio local de trabalho, querendo ajudar o pesquisador ante sua deficiência visual; alguns, também querendo colaborar com o pesquisador, levaram o questionário ao seu setor e pediram aos demais colegas que respondessem; e, ainda, alguns outros responderam em frente ao pesquisador, quando visitavam o seu setor de trabalho. Apenas alguns poucos colaboradores foram pesquisados durante o processo de socialização. Segundo Gil (2007, p. 114) questionário é “um conjunto de questões que são respondidas por escrito pelo pesquisado.” Nos questionários, houve a preocupação de não haver inserção na intimidade dos pesquisados, mas responder o objetivo geral da pesquisa que é o de demonstrar que um dos principais valores do Hospital Mãe de Deus impacta na diminuição da rotatividade de seu quadro de lotação. De acordo com Gil (2007), existem cinco tipos de amostragem: 1 – Amostragem aleatória simples: consiste em atribuir a cada elemento da população um número específico e depois proceder à escolha de alguns desses elementos de forma casual. Podem ser utilizadas tábuas de números aleatórios nesse processo; 2 – Amostragem sistêmica: é não probabilística ou não aleatória; escolhe-se (por julgamento do pesquisador) um grupo da população que com base nas informações disponíveis possa ser considerado representativo da população; 3 – Amostragem estratificada: divide-se a população em estratos relevantes para pesquisa como sexo, idade, nível de escolaridade, etc. Ela pode ser proporcional ou não proporcional das características da população; 4 – Amostragem por conglomerados: é utilizada quando fica muito elevado o custo de preparar uma lista com toda população. Neste caso, basta elaborar uma lista da população dos conglomerados e não da população total; 5 – Amostragem por cotas: fixam-se cotas para cada entrevistador encarregado de selecionar os elementos da população de modo que a amostra total seja composta de modo que respeite a porcentagem de cada característica. O pesquisador escolheu a amostragem aleatória simples, pois foram chamados a participar somente 51 colaboradores e apenas 17 funcionários em cargo de chefia, em um universo aproximado de 1840 colaboradores. Aqui é importante e necessário informar que o número de colaboradores que participaram da pesquisa (51), é devido ao número de profissionais que ingressam no quadro funcional do Mãe de Deus por mês, ou seja, cerca de 14 50 pessoas. Em relação ao número de gestores entrevistados, escolheram-se aqueles cujos setores têm um número maior de profissionais contratados por mês. Nos 17 questionários de avaliação das chefias, 13 foram respondidos por gestores do sexo feminino e 4 do sexo masculino. Destes, 1 tem idade até 29 anos, 7 entre 30 e 39 anos, 8 entre 40 e 49 anos e 1 com mais de 50 anos. Dentre os 51 colaboradores que responderam o questionário, tivemos a participação de 19 colaboradores do sexo masculino e 32 do sexo feminino. Destes, 33 com idade até 29 anos, 15 entre 30 e 39 anos, 1 entre 40 e 49 anos e 1 com mais de 50 anos. Verifica-se, aqui, uma diferença significativa na faixa etária dos gestores, comparando-se com a dos colaboradores: apenas 1 gestor possui idade inferior a 29 anos, contra 33 colaboradores naquela faixa etária. 4 RESULTADOS DA PESQUISA Nesse capítulo serão apresentados os resultados das pesquisas realizadas com os funcionários em cargo de chefia e os colaboradores do Hospital Mãe de Deus, conforme a tabulação feita após sua realização. Será apresentado, em primeiro lugar, o resultado dos gestores; após, o dos colaboradores e, ao final, será feito um cruzamento dos dados adquiridos. 4.1 RESPOSTAS DOS GESTORES No momento em que foram pesquisados os 17 gestores, o questionário foi respondido da seguinte maneira em relação a cada questão e suas alternativas: a) Na questão 1: você conhece o processo de integração/acolhimento realizado aos novos funcionários do Mãe de Deus, denominado processo de socialização? A alternativa “conheço bem”, foi sinalizada por 10 gestores; a alternativa “conheço superficialmente” escolhida por 7 e, finalmente, a alternativa “não conheço” não foi marcada. Pode-se notar que 58,82% dos respondentes têm conhecimento do processo de socialização da instituição. Entretanto, verifica-se que 41,18% dos gestores, tem necessidade de mais informações sobre esse processo, talvez por não terem tido funcionários participando da socialização, em função das demandas em cada área. b) Na questão 2: recebeu informações do processo de integração/acolhimento do Mãe de Deus? Nessa questão havia apenas duas alternativas: “sim”, que foi escolhida por 16 dos pesquisados, e “não”, apontada apenas por um. Nota-se aqui que a grande maioria, 94,11%, 15 recebeu as informações necessárias para o bom andamento do processo, contra apenas 5,89%, não obteve tal conhecimento. c) A questão 3 dizia: em sua opinião, o processo de socialização. Essa questão contava com quatro alternativas, assim distribuída: “dificulta a adaptação do funcionário”, obteve a escolha de apenas 1 gestor; a segunda alternativa “facilita a adaptação do funcionário” a opção de 16 ocupantes de cargo de chefia; a terceira alternativa “não influencia na adaptação do funcionário”, juntamente com a quarta alternativa “não sabe responder”, não obtiveram marcação. Mais uma vez, 94,11% respondem favoravelmente ao assunto abordado neste artigo e concordando com um dos valores do Mãe de Deus. O único gestor que escolheu a alternativa que dificulta a adaptação ao trabalho, ou seja, 5,89%, pode não estar alinhado aos valores da instituição. d) A questão 4: quando você ingressou no Mãe de Deus, participou do processo de integração/acolhimento, que compõe o processo de socialização? Mais uma vez, havia apenas duas alternativas: sim ou não. A alternativa “sim” foi escolhida por 14 gestores, contra 3 que optaram pela alternativa “não”. Aqui ainda está havendo uma concordância entre os gestores em relação ao processo de socialização, tendo 82,35% deles participado da socialização e os 17,65% restante, não conseguido comparecer ao processo devido às demandas de seus setores. e) Na questão 5: Você considera importante que seus liderados participem do processo de integração/acolhimento do Mãe de Deus? Aqui tivemos novamente as alternativas “sim”, que conseguiu 16 marcações, e apenas 1 deles escolheu a alternativa “não”. A importância do processo foi ratificada pela grande maioria dos gestores, 94,11%, apontando que o acolhimento possui grande visibilidade dentro da instituição. No que tange ao gestor que optou pelo “não”, infere-se que prefere que seus liderados não deixem o setor para participarem do processo de socialização, para não interromper suas atividades. Há no Hospital Mãe de Deus, em decorrência de tratar-se de saúde, uma priorização no atendimento dos clientes a outras tarefas. 4.2 RESPOSTAS DOS COLABORADORES Depois de formulado o questionário de avaliação dos colaboradores, o pesquisador aplicou o referido instrumento para 51 funcionários, que deram suas respostas da seguinte forma: 16 a) Questão 1: qual a sua avaliação da acolhida por parte de sua chefia no momento de seu início no setor? Os colaboradores tiveram as seguintes opções: “Ótimo”, que foi marcada por 24 pesquisados; “Bom”, que igualmente foi escolhida por 24 colaboradores; “Regular”, que foi a opção de 2 funcionários; “Ruim”, que não obteve nenhuma marcação; e “Indiferente”, apontada por apenas 1 colaborador. Portanto, nota-se que no momento de início das atividades de 47,05% dos colaboradores, terem uma ótima acolhida, foi sua primeira impressão. Já para outros 47,05%, foi uma boa acolhida. Isso confirma que o acolhimento, como valor institucional, foi atingido. De resto, 3,92% dos funcionários pesquisados perceberam que poderiam ter tido uma melhor acolhida, já que marcaram a opção regular, e para 1,96% foram tratados com indiferença por sua chefia. b) Na questão 2: você considera que a maneira como foi recepcionado pela sua chefia imediata, teve como opções: “Dificultou sua adaptação ao trabalho”, escolhida por 2 colaboradores; “Facilitou sua adaptação ao trabalho”, com 41 marcações; e 8 funcionários responderam que “Não influenciou sua adaptação ao trabalho”. Entende-se aqui que quando o colaborador é bem acolhido, escolha feita por 80,39% dos pesquisados, tem sua adaptação ao trabalho mais tranqüila. Todavia, 15,68% entendem que a recepção dada pela chefia interferiu de forma negativa na sua adaptação, enquanto que para 3,92% dos respondentes não fez diferença serem bem acolhidos ou não. c) Em relação à questão 3: a maneira como o processo de integração/socialização e acolhimento ocorre no Mãe de Deus, teve como opções: “Dificultou sua adaptação ao trabalho” não foi a escolha de nenhum dos pesquisados; “Facilitou sua adaptação ao trabalho” foi a opção de 40 funcionários; e “Não influenciou sua adaptação ao trabalho” foi a opção de 11 pesquisados. Aqui, verifica-se que 78,43% valorizam o acolhimento na hora de sua adaptação e 21,56% disseram não fazer diferença terem ou não um processo de acolhimento durante sua adaptação. d) Na questão 4: o acolhimento proporcionado no Hospital Mãe de Deus, em relação aos seus empregos anteriores, foi: “Melhor” é a primeira opção, sendo marcada por 29 pesquisados; “Pior”, foi selecionada por 2 funcionários; “Igual”, foi escolhida por 10 colaboradores; e “Não havia programa de acolhimento”, obteve 10 marcações dos colaboradores pesquisados. Por envolver outro processo de acolhimento recebido pelos colaboradores em seus empregos anteriores, nota-se que 56,86% deles valorizam a acolhida que o Hospital proporciona, e acreditam no processo desenvolvido pelo Mãe de Deus,. 17 Outra verificação importante, é que apenas 3,92% dos funcionários perceberam que em seu emprego anterior foram melhor acolhidos. Nota-se, ainda, que 19,60% desses funcionários, não perceberam diferenças no acolhimento de seu emprego anterior ao do Mãe de Deus, e outros 19,60% disseram não haver processo semelhante em seus antigos empregos. 4.3 CRUZANDO OS DADOS Vale ressaltar que durante o acolhimento e o processo de socialização, tanto os colaboradores com mais tempo de casa, quanto os novos funcionários demonstram que o andamento das atividades, o processamento das rotinas e dos processos em cada setor da instituição tornam-se mais eficientes e eficazes, fazendo com que o Hospital Mãe de Deus tenha um crescimento em todos os aspectos. Para melhor avaliar os resultados da pesquisa, deve-se fazer um cruzamento entre os dados dos questionários aplicados para os funcionários em cargos de chefia e colaboradores. Esses cruzamentos são demonstrados como segue: - Cruzamento I: no questionário para as chefias, há a questão 1 que perguntava sobre o conhecimento do processo de integração/acolhimento, denominado processo de socialização, a qual teve como resposta “conheço bem” por 10 gestores e “conheço superficialmente” por 7 chefias, e a questão 2, sobre o recebimento de informações do processo de integração/acolhimento, tendo 16 funcionários em cargos de chefia respondendo que “sim” e apenas 1 “não”. Aqui, cruzando-se com os resultados da questão 1 do questionário dos colaboradores, que perguntou sobre a avaliação da acolhida pelo seu gestor, em que 48 colaboradores responderam entre “ótimo” e “bom”, nota-se que quando o gestor recebe as informações e, por conseguinte, conhece o processo em questão, pode implantar um dos valores do Mãe de Deus, fazendo com que seu liderado sinta-se valorizado, respeitado e realize suas funções com mais firmeza. - Cruzamento II: na questão 3 destinada às chefias, que versava sobre a sua opinião em relação ao processo de socialização, onde mais uma vez 16 gestores responderam que “facilita a adaptação ao trabalho”, cruza-se com a questão 2 para os colaboradores que perguntava a opinião deles sobre a maneira como foram acolhidos pela chefia, tendo 41 funcionários respondendo que “facilita a adaptação ao trabalho”. Novamente aqui, têm-se um resultado positivo, pois verifica-se que o processo alvo de estudo desse artigo promove uma facilidade de adaptação, tanto na opinião de funcionários em cargos de chefia, quanto na dos demais colaboradores. 18 - Cruzamento III: é possível fazer um novo cruzamento entre a questão 3 feita aos gestores, com a questão 3 destinada aos colaboradores, cujo tema era a maneira como a qual o processo de integração, socialização e acolhimento, dentro do Mãe de Deus, tendo a alternativa “facilita a adaptação ao trabalho”, a escolha de 40 funcionários. Pelas respostas, pode-se considerar que o processo de integração/acolhimento/socialização, vem proporcionando uma melhor adaptação ao trabalho para seus colaboradores. 5 CONCLUSÃO Após as análises dos resultados das pesquisas com os colaboradores em cargos de chefia e os novos funcionários, juntando com a teoria usada na fundamentação deste artigo, pode-se concluir que os resultados obtidos foram positivos, demonstrando a importância do processo de socialização do Hospital Mãe de Deus.. Durante a fundamentação teórica, falou-se da orientação das pessoas dentro das instituições, de acordo com Chiavenato; do que consiste o processo de socialização, conforme Van Maanen e algumas estratégias sugeridas por ele. Nas idéias de Stoner e Freeman, entre outras citações, viu-se que o que ocorre no Mãe de Deus faz parte da cultura literária. Entretanto, deve-se ressaltar que o real objetivo deste artigo é mostrar que o acolhimento, por ser um valor institucional do Hospital Mãe de Deus, possui uma importância fundamental para a organização. Ante o que se analisou na literatura disponível, é perfeitamente aceitável que o processo de socialização organizacional desenvolvido pelo Hospital Mãe de Deus está de acordo com os autores que abordam o assunto. Durante as pesquisas dos gestores, houve uma confirmação de aproximadamente 90% deles, sobre a importância da “acolhida” aos novos funcionários. Acredita-se que, com esse processo tanto gestores quanto colaboradores irão crescer pessoal e profissionalmente. Com essa informação, pode-se deduzir que os processos, rotinas e demais atividades realizadas no Hospital, tornam-se mais fáceis de serem concluídos. Há um entendimento por todos sobre a importância dessa realização para o desenvolvimento da organização, como para os outros hospitais da rede que integram a Associação Educadora São Carlos. No que se refere aos colaboradores, tanto os novos quanto os mais antigos, o processo de socialização baseado na “acolhida” proporciona uma interatividade maior entre eles, fazendo com que haja uma melhoria no clima organizacional, gerando um melhor desenvolvimento das atividades para as quais foram contratados. 19 Vale ressaltar que a diminuição da rotatividade não está inteiramente ligada ao valor estudado nesse artigo, porque em uma instituição hospitalar há diversos tipos de contratos, como horista, temporário e autônomo. Porém, deve-se considerar que se essa rotatividade não diminui, mantém-se a níveis aceitáveis dentro do setor em que está inserida. Registre-se que a equipe de recursos humanos que operacionaliza o processo de socialização do Mãe de Deus, dá prioridade às demandas realizadas em cada área do Hospital, porque o foco principal é o paciente/cliente. Assim, caso o participante da integração/socialização não venha na data marcada, será definida uma nova reunião na semana seguinte. Outra questão que pode ser deduzida, no que se refere ao processo de socialização desenvolvido pelo Hospital em relação às outras instituições hospitalares, por meio de uma pesquisa informal feita pelo líder do processo em questão e confirmada pelas conversas entre os colaboradores e o estagiário/líder da socialização, é a que o Hospital é o único em seu setor que conduz esse processo. Todavia, sabe-se que outras empresas, de setores diferentes ao da saúde, realizaram a socialização, porém, com uma sutil diferença em sua operacionalização. Tendo em vista todos esses detalhes organizados nas pesquisas, nos cruzamentos feitos em seus resultados e nas idéias organizadas na fundamentação teórica, o autor vê-se no direito de sugerir que sejam feitas pequenas conversas com gestores para que o processo de socialização seja mais enfatizado na instituição. Assim sendo, poderá haver uma diminuição ainda maior na rotatividade em seu quadro de lotação, sem esquecer na melhoria no clima organizacional, já que se trata de um hospital onde há uma tensão no ar devido à atividade principal da organização que é a saúde do ser humano. Outra sugestão do autor, que servirá aos colaboradores, é uma nova conversa a ser marcada com cerca de noventa dias após o seu ingresso, melhorando ainda mais o sentimento de acolhimento. REFERÊNCIAS CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1999. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2004. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2007. 20 FLEURY, Maria Tereza Lemes. O simbólico nas relações do trabalho. In: FLEURY, Maria Tereza Lemes; FISCHER, Rosa Maria (Org.). Cultura e poder nas organizações. São Paulo: Atlas, 1989. GONTIJO, Cylmara Lacerda. Socialização, cultura e constituição do sujeito organizacional: um estudo de caso. Publicado em 25 de fevereiro de 2005. Disponível em: <http//www.universia.com.br/images/docs/artigoufla.doc>. Acesso em: 08 jun. 2009. LEAVITT, J. H. Socializing our MBAs: Total Immersion? Managed cultures? Brainwashing? California Management Review, Berkeley, v. 33, n. 4, p. 127-144, 1991. MOTTA, F. C. P. Organizações: vínculo e imagem. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 33, n. 3, p. 5-11, jul./set. 1991. MORGAN, Gareth. Imagens da organização. São Paulo: Editora Atlas, 1996. MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 14 ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004. PASCALE, R. The paradox of corporate culture: reconciling ourselves to socialization. California Management Review, Berkely, v. 27, n. 2, p. 26-41, 1985. SCHEIN, Edgar H. Guia de sobrevivência da cultura corporativa. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1999. STONER, James A. F; FREEMAN, R. Edward. Administração. 5a ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 1982. VAN MAANEN, John. Processando as pessoas: estratégias de socialização organizacional. In: FLEURY, Maria Tereza Lemes; FISCHER, Rosa Maria (Org.). Cultura e poder nas organizações. São Paulo: Atlas, 1989. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1984. 21 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DAS CHEFIAS DO HMD Prezado (a) Colega, Solicito o preenchimento do presente questionário, que será parte integrante do projeto de pesquisa que estou desenvolvendo, visando meu Trabalho de Conclusão de Curso de Administração na ESADE. Agradeço a colaboração, José Benjamin Costa SEXO: ( ) masculino ( ) feminino IDADE: ____ anos CARGO: ____________________ 1 – Você conhece o processo de integração / acolhimento realizado aos novos funcionários do MÃE DE DEUS, denominado processo de socialização? ( ) Conheço bem ( ) Conheço superficialmente ( ) Não conheço 2 – Recebeu informações do processo de integração / acolhimento do MÃE DE DEUS? ( ) sim ( ) não 3 – Na sua opinião, o processo de socialização: ( ) Dificulta a adaptação do funcionário ( ) Facilita a adaptação do funcionário ( ) Não influencia na adaptação do funcionário ( ) Não sabe responder 4 – Quando você ingressou no MÃE DE DEUS, participou do processo de integração / acolhimento, que compõe o processo de socialização? ( ) sim ( ) não 5 – Você considera importante que seus liderados participem do processo de integração / acolhimento do MÃE DE DEUS? ( ) sim ( ) não OBRIGADO!!! 22 APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DOS COLABORADORES DO HMD Prezado (a) Colega, Solicito o preenchimento do presente questionário, que será parte integrante do projeto de pesquisa que estou desenvolvendo, visando meu Trabalho de Conclusão do Curso de Administração na ESADE. Agradeço a colaboração, José Benjamin Costa SEXO: ( ) masculino ( ) feminino IDADE: ____ anos CARGO: ____________________ 1 – Qual a sua avaliação da acolhida por parte de sua chefia no momento de seu início no setor? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) Indiferente 2 – Você considera que a maneira como foi recepcionado pela sua chefia imediata: ( ) Dificultou sua adaptação ao trabalho ( ) Facilitou sua adaptação ao trabalho ( ) Não influenciou em sua adaptação ao trabalho 3 – A maneira como o processo de integração / socialização e acolhimento ocorre no HMD? ( ) Dificultou sua adaptação ao trabalho ( ) Facilitou sua adaptação ao trabalho ( ) Não influenciou sua adaptação ao trabalho 4 – O acolhimento proporcionado no HMD, em relação aos seus empregos anteriores foi: ( ) Melhor ( ) Pior ( ) Igual ( ) Não havia programa de acolhimento OBRIGADO!!!