GESTÃO DE MUDANÇAS APLICADA À IMPLANTAÇÃO DE PROJETO DE LIÇÕES APRENDIDAS. Daniele Collyer Girão Fátima Regina Ferreira M. Peixoto Gladys Machado Pereira Santos Lima José Américo Borges de Bastos Laura de Britto Perdigão C. de Souza PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA EM GESTÃO DO CONHECIMENTO E INTELIGÊNCIA EMPRESARIAL. Aprovado por: _________________________________________________ Prof. Marcos do Couto Bezerra Cavalcanti, D.Sc. _________________________________________________ Prof. Raquel Borba Balceiro, D.Sc. _________________________________________________ Alexandre Korowajczuk, esp. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL DEZEMBRO DE 2006 BASTOS, JOSÉ; GIRÃO, DANIELE; LIMA, GLADYS; PEIXOTO, FATIMA; SOUZA, LAURA Gestão de mudanças aplicada à implantação de projeto de lições aprendidas. [Rio de Janeiro] 2006 VII, 78 p. 29,7 cm (CRIE/COPPE/UFRJ, Especialização,Gestão do Conhecimento, 2006) Projeto Final - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE 1. Gestão do Conhecimento 2. Gestão de Mudança 3. Lições Aprendidas I. COPPE/UFRJ II. Título ( série ) ii Resumo Resumo do Projeto Final apresentado à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Especialista em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial. GESTÃO DE MUDANÇAS APLICADA À IMPLANTAÇÃO DE PROJETO DE LIÇÕES APRENDIDAS Daniele Collyer Girão Fátima Regina Ferreira M. Peixoto Gladys Machado Pereira Santos Lima José Américo Borges de Bastos Laura de Britto Perdigão C. de Souza Novembro/2006 Orientadora: Raquel Borba Balceiro Programa: Engenharia de Produção Este trabalho apresenta uma proposta de um modelo de implantação de gestão de Lições Aprendidas para o processo de homologação de software na Diretoria de Administração da Marinha do Brasil. Nele, encontram-se descritos o objetivo do projeto, a metodologia adotada para a realização do mesmo e os resultados encontrados. Para a realização deste projeto foi analisado um conjunto de ferramentas, dentre elas, a descrição do processo, Análise SWOT, Mapa de Relacionamento e Mapa de Valor (Verna Allee), a partir dos quais foi feita uma avaliação de aplicabilidade ao processo. Serão apresentados conceitos para Gestão de Mudanças, a proposição de um modelo de mudança e o diagnóstico da cultura da organização escolhida, bem como um plano de ação para a Gestão das Lições Aprendidas e as considerações finais. Palavras-chave: Gestão de Conhecimento, Gestão de Mudanças, Lições Aprendidas, Engenharia de Software. iii Abstract Abstract of Final Project presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of specialist in Knowledge Management and Enterprise Intelligence. CHANGE MANAGEMENT APPLICATION FOR THE PROJECT IMPLEMENTATION OF LESSON LEARNED Daniele Collyer Girão Fátima Regina Ferreira M. Peixoto Gladys Machado Pereira Santos Lima José Américo Borges de Bastos Laura de Britto Perdigão C. de Souza November/2006 Mentor: Raquel Borba Balceiro Program: Production Engineering This Project presents a proposal for an implementation of Lesson Learned Management Model for software homologation process in Directory of Brazilian Marine Administration. Additionally, in this document, we will find the Project objectives and the adopted methodology for the Project development and achievement of the expected results. Furthermore to the Project accomplishment, a tools set was analyzed, such as, the Process Description, SWOT Analysis, Relationship Map and Value Network Map (Verna Allee). With this tools set, an assessment was made to evaluate the whole process applicability. The concepts for the Change Management, a proposition of the Change Management model and the diagnosis of the culture of the elected organization will be also presented. Moreover, in order to entire the Project, an Action Plan to Lessons Learned Management was developed. Key words: Knowledge Management, Change Management, Lesson Learned, Software Engineering. iv Índice do Texto Capítulo 1 ........................................................................................................................ 8 Introdução ....................................................................................................................... 8 1.1 – Apresentação ......................................................................................................... 8 1.2 – Motivação e Justificativa ....................................................................................... 9 1.3 – Problema................................................................................................................ 9 1.4 – Hipótese ............................................................................................................... 10 1.5 – Objetivo ............................................................................................................... 10 1.6 – Metodologia......................................................................................................... 11 1.7 – Organização do Projeto ....................................................................................... 11 Capítulo 2 ...................................................................................................................... 13 Lições Aprendidas e Engenharia de Software ........................................................... 13 2.1 – Introdução............................................................................................................ 13 2.2 – Organização da Memória Corporativa ................................................................ 14 2.3 – Lições Aprendidas ............................................................................................... 16 2.4 – Engenharia de Software....................................................................................... 17 2.4.1 – Organizações de Software ................................................................................ 18 2.4.2 – Abordagens da Gestão de Conhecimento......................................................... 19 2.4.3 – Aplicações da Gestão de Conhecimento para a ES .......................................... 19 2.4.4 – Barreiras e Desafios.......................................................................................... 20 2.5 – Gestão de mudança dentro da organização.......................................................... 21 2.5.1 – Elementos Organizacionais .............................................................................. 21 2.5.2 – Técnicas de Gestão de Mudanças..................................................................... 21 2.5.3 – Mudança Cultural: barreiras e estímulos .......................................................... 23 2.5.4 – Um Modelo de Mudança .................................................................................. 25 2.5.4.1 – Fase 1: Sensibilização dos Gestores e Patrocinadores................................... 25 2.5.4.2 – Fase 2: Diagnóstico, Sistematização e Formação de Modelos...................... 26 2.5.4.3 – Fase 3: Ativação dos Mecanismos de Revaloração....................................... 28 2.5.4.4 – Fase 4: Modelagem da Nova Cultura ............................................................ 29 2.6 – Considerações Finais ........................................................................................... 29 Capítulo 3 ...................................................................................................................... 31 Homologação de Software Administrativo ................................................................. 31 na Marinha do Brasil .................................................................................................. 31 3.1 – Introdução............................................................................................................ 31 3.2 – A Marinha do Brasil ............................................................................................ 32 3.3 – Processo de Homologação de SDA ..................................................................... 34 3.3.1 – Base de Conhecimento atual ............................................................................ 35 3.3.2 – Equipe de Homologação................................................................................... 38 3.3.3 – Mapa de Valor .................................................................................................. 40 3.3.4 – Problemas Identificados ................................................................................... 41 3.4 – Matriz S.W.O. T. do Conhecimento.................................................................... 42 3.5 – Aplicando Lições Aprendidas ............................................................................. 45 3.5.1 – Modelo de Lições Aprendidas.......................................................................... 46 3.5.2 – Atividade de Certificação ................................................................................. 47 3.6 – Conclusões........................................................................................................... 49 Capítulo 4 ...................................................................................................................... 50 Propondo um modelo de Gestão de Mudança ........................................................... 50 4.1 – Introdução............................................................................................................ 50 4.2 – Convergindo as idéias de Gestão de Mudança .................................................... 50 v 4.3 – Elaborando um Plano de Comunicação............................................................... 53 4.3.1 – Ações de Comunicação .................................................................................... 53 4.3.2 – Canais de Comunicação ................................................................................... 54 4.3.3 – Requisitos para as ações de Comunicação ....................................................... 54 4.3.4 – Identificação do Público-alvo........................................................................... 55 4.3.5 – Principais Mensagens ....................................................................................... 55 4.4 – As ações de Comunicação e as etapas da Curva de Mudança............................. 56 4.5 – Medindo as Ações de Comunicação.................................................................... 59 4.6 – O modelo de Gestão de Mudança proposto......................................................... 59 4.6.1 - Sensibilização.................................................................................................... 61 4.6.2 - Diagnóstico ....................................................................................................... 61 4.6.3 - Ativação dos Mecanismos de Revaloração....................................................... 62 4.6.4 - Modelagem da Nova Cultura ............................................................................ 63 4.7 - Considerações Finais............................................................................................ 63 Capítulo 5 ...................................................................................................................... 64 Plano de Ação................................................................................................................ 64 Gestão de Mudança à Implantação de LA ................................................................. 64 5.1 – Introdução............................................................................................................ 64 5.2 – Ferramenta de Diagnóstico e Priorização............................................................ 64 5.2.1 – A Ferramenta no Modelo de Gestão de Mudanças........................................... 66 5.2.2 – Executando a Ferramenta ................................................................................. 67 5.3 – Plano de Ação...................................................................................................... 69 5.3.1 – Fase 1: Sensibilização....................................................................................... 69 5.3.2 – Fase 2: Diagnóstico .......................................................................................... 71 5.3.2.1 – Curva de Mudança......................................................................................... 75 5.3.3 – Fase 3: Ativação dos Mecanismos de Revaloração.......................................... 75 5.4 – Conclusões........................................................................................................... 77 Capítulo 6 ...................................................................................................................... 78 Avaliação e Considerações Finais ............................................................................... 78 6.1 – Introdução............................................................................................................ 78 6.2 – O Trabalho Desenvolvido.................................................................................... 78 6.3 – Avaliação ............................................................................................................. 79 6.4 – Trabalhos Futuros................................................................................................ 80 6.5 – Conclusões........................................................................................................... 81 Referências Bibliográficas ........................................................................................... 82 vi Índice de Figuras FIGURA 1.1 – APRESENTAÇÃO DO PROJETO EM CAPÍTULOS. ..................................................................... 12 FIGURA 2.1 – MODELO DE CONCEITUAL DE REVALORAÇÃO DA CULTURA................................................. 25 FIGURA 2.2 – ESTRUTURA DA CULTURA CORPORATIVA (FONTE: JOHANN, 2004)................................ 26 FIGURA 3.1 – ORGANOGRAMA SIMPLIFICADO DA MARINHA DO BRASIL. ................................................... 32 FIGURA 3.2 – ATIVIDADES DO PROCESSO DE HOMOLOGAÇÃO................................................................... 34 FIGURA 3.3 – INFORMAÇÕES DE UM SDA NA BASE DE CONHECIMENTO - DADM. ................................... 36 FIGURA 3.4 – CONSULTA POR CLASSE À BASE DE CONHECIMENTO – DADM. ......................................... 36 FIGURA 3.5 – CONSULTA TIPO DE ARQUITETURA À BASE DE CONHECIMENTO – DADM. ......................... 37 FIGURA 3.6 – MENU PRINCIPAL PARA ACESSO À BASE DE CONHECIMENTO – DADM.............................. 37 FIGURA 3.7 – REDE DE RELACIONAMENTO ENTRE COLABORADORES DO DADM-30............................... 39 FIGURA 3.8 – MAPA DE VALOR...................................................................................................................... 40 FIGURA 3.9 – AMBIENTE EXTERNO E INTERNO DO SWOT.......................................................................... 42 FIGURA 4.1 – MUDANÇA CULTURAL – BARREIRAS E ESTÍMULOS................................................................ 51 FIGURA 4.2 – ADAPTAÇÃO DA CURVA DE MUDANÇA DE DUCK (2001). .................................................... 56 FIGURA 4.3 – ADAPTAÇÃO DA PROPOSTA DE COLLINS E PORRAS ............................................................. 60 FIGURA 4.4 – ADAPTAÇÃO DO MODELO DE COLLINS E PORRAS. ............................................................... 60 FIGURA 4.5 – ÁREAS DE CONHECIMENTO DO MODELO GESTÃO DE MUDANÇA......................................... 65 FIGURA 5.1 – FERRAMENTA DE DIAGNÓSTICO E PRIORIZAÇÃO .................................................................. 67 FIGURA 5.2 – FERRAMENTA DE DIAGNÓSTICO E PRIORIZAÇÃO (CONTINUAÇÃO) ...................................... 69 vii Índice de Tabelas TABELA 2.1 – EXEMPLOS DE ATIVIDADES E FERRAMENTAS DE GC NA ES..................................................... 19 TABELA 2.2 – TIPOS DE RESISTÊNCIA À MUDANÇA – ADAPTADO DE CHIAVENATO (1996). ........................... 23 TABELA 2.3 – TIPOS DE VÍNCULOS DE PESSOAS ÀS ORGANIZAÇÕES. ............................................................... 24 TABELA 3.1 – MATRIZ S.W.O.T. DO CONHECIMENTO PARA O PROCESSO DE HOMOLOGAÇÃO. ..................... 43 TABELA 3.2 – PLANILHA DE DESCRIÇÃO/SUBMISSÃO DE LA........................................................................... 46 TABELA 3.3 – AVALIAÇÃO DE LA:................................................................................................................... 48 TABELA 4.1 – CORRELAÇÃO ELEMENTOS ORGANIZACIONAIS E TÉCNICAS...................................................... 51 TABELA 4.2 – CORRELAÇÃO DE FONTES DE RESISTÊNCIAS E PROPOSIÇÕES PARA VENCER BARREIRAS. ......... 52 TABELA 4.3 – NECESSIDADES DE COMUNICAÇÃO RELACIONADAS AO COMPROMETIMENTO. ........................ 58 TABELA 4.4 – INDICADORES DOS NÍVEIS DE COMPROMETIMENTO.................................................................. 59 TABELA 5.1 – PÚBLICO-ALVO: ......................................................................................................................... 71 TABELA 5.2 – PAPÉIS E RESPONSABILIDADES:................................................................................................. 71 TABELA 5.3 – EXPECTATIVAS DOS ENVOLVIDOS:............................................................................................ 72 TABELA 5.4 – AÇÕES E EVENTOS:.................................................................................................................... 72 TABELA 5.5 – MENSAGENS PARA OS ENVOLVIDOS:......................................................................................... 73 viii Capítulo 1 Introdução “Aqueles que não conseguem se lembrar do passado estão condenados a repeti-lo” (George Santayana) 1.1 – Apresentação As intensas transformações que vêm ocorrendo na economia mundial está forçando os Países, como o Brasil, a buscarem uma nova estratégia de desenvolvimento, não mais calcada na utilização dos recursos naturais herdados que ajudavam a embasar a Lei das Vantagens Comparativas1, mas baseada na interação complexa entre capital humano, tecnologia e flexibilidade institucional. No intuito de integrar eficazmente estas dimensões, as organizações brasileiras, tanto no setor privado quanto no setor público, têm procurado viabilizar, por meio de diversos projetos, a conquista desse objetivo. Os países precisam agora participar de uma economia globalizada (TOFFLER, 1995). Por isso, questões como informação, modelos de gestão, capacitação das pessoas e visão de mundo estão na ordem-do-dia, demonstrando que estão passando por mudança de paradigma, ou seja, uma mudança nas idéias, perspectivas e realizações, que são consideradas suficientes para explicar certo objeto em estudo e orientar as ações dos gestores (MORGAN, 1997). Neste contexto, o conhecimento é hoje um recurso com significado. Os tradicionais fatores de produção - terra (isto é, recursos naturais), mão-de-obra e capital - não desaparecem, mas tornaram-se secundários. Eles podem ser obtidos facilmente, desde que haja conhecimento. E o conhecimento, neste novo sentido, significa conhecimento como uma coisa útil, como meio para a obtenção de resultados sociais e econômicos (DRUCKER, 1999). Em síntese, a Gestão do Conhecimento procura compreender, a partir dos recentes avanços nas tecnologias de informática e de telecomunicações, e das conclusões das teorias sobre criatividade e aprendizado individual e organizacional, como os investimentos nesta área podem de fato aumentar a capacidade de gerar, difundir e armazenar conhecimento de valor para as organizações e para o País. 1 A Lei das Vantagens Comparativas tem como uma de suas premissas a imobilidade do capital (e do trabalho) entre as nações. Somente os bens seriam comercializados internacionalmente (DALY, 1996). 8 Não obstante, uma das ferramentas empregada na Gestão do Conhecimento, Lições Aprendidas, pode ser traduzida como sendo o conhecimento explícito que pode ser facilmente acessado, que evita duplicações de esforços, facilitando assim, o compartilhamento de conhecimento tácito. 1.2 – Motivação e Justificativa A escolha do tema Lições Aprendidas (LA) foi, em um primeiro momento, a necessidade de capacitar esta equipe de pós-graduação do CRIE sobre o assunto e, por conseguinte, possibilitar o desenvolvimento futuro de projetos pessoais. O outro objetivo de grande relevância foi o desafio da criação de uma metodologia de aplicação de LA, que embora já exista, não é efetivamente empregada nas Empresas. Etimologicamente, o significado de método está relacionado ao caminho a seguir, objetivando um fim, logo com resultados e metas traçados, planos bem elaborados e diferenciados, buscamos dessa forma contribuir com o crescimento da produtividade na organização. Segundo Luckesi (1990), o conhecimento da realidade exige uma forma metodológica de abordá-la com uma perspectiva positiva, segundo a qual a realidade é vista e, dessa forma os métodos utilizados ganham caráter teórico, permitindo a realização desejada, de modo que seja alcançada do ponto de vista do conhecimento. Em síntese compreendemos que devemos focar nossos objetivos, traçar nossas metas e desenvolver um processo focado em um modelo, onde estaremos alavancando o reposicionamento mental, pessoal e profissional dos envolvidos. Estamos diante de uma oportunidade de propiciar mecanismos de valorização do conhecimento, onde cada indivíduo acessará e compartilhará no novo contexto criado pelos recursos tecnológicos e seus novos suportes de registro, administração e recuperação de informação. 1.3 – Problema A formação, o sustento e a implantação de um projeto de LA, para uma organização, são, de fato, itens de uma tarefa que emana grande esforço, envolvendo todos os indivíduos afetos. Alguns fatores contribuem para isso, como a falta de tempo dos indivíduos para relatar as suas experiências; o ceticismo dos participantes; o isolamento das pessoas dificultando a fomentação de experiências e idéias; e mesmo a inexistência de uma taxonomia destinada à identificação de determinados projetos. 9 Este contexto também é vivido pelas organizações que trabalham com o desenvolvimento de software. Apesar do grande conhecimento das tecnologias de informação e comunicações (TIC) existentes e dos benefícios de um projeto de LA, persistem as barreiras oriundas dos comportamentos dos próprios profissionais (pessoas), como: resistência em compartilhar conhecimento; e em registrar os fracassos. Nesta área de atividade, existem evidências de que a produtividade de processos e as atividades de engenharia de software estão relacionadas às organizações que conseguiram manter bases de conhecimento. Desta forma, no contexto desse Projeto, pretende-se investigar a seguinte questão: “Como garantir a implantação de um projeto de Lições Aprendidas obtendo ganho de produtividade na Engenharia de Software”? 1.4 – Hipótese Neste sentido, algumas empresas demonstram interesse em adotar algumas estratégias para solucionar ou mesmo minimizar estas barreiras, empregando ações como: divulgar a importância desse tipo de atividade nos valores da companhia; promover e compartilhar os resultados práticos alcançados pela LA; e valorizar a participação e iniciativa individuais. As limitações da utilização de ações isoladas, não direcionadas aos fatores culturais da organização, podem levar ao insucesso de tais medidas. Desta forma, foi formulada a hipótese que norteou este estudo: “Um processo de Gestão de Mudanças é pré-requisito (ou fator crítico) para o sucesso da implantação de um projeto de Lições Aprendidas”. 1.5 – Objetivo O objetivo principal desse Projeto é propor um modelo de gestão de mudança que possa garantir a implantação do registro e disseminação de Lições Aprendidas para o caso prático selecionado, mostrando, aos seus gestores, as principais mudanças que devem ser consideradas, de forma a prepará-los para lidar com os impactos dessas mudanças e mesmo no comportamento das pessoas que a integram. Neste contexto, o foco do trabalho foi pesquisar modelos de gestão de mudanças e identificar aquele compatível com o escopo deste trabalho: implantação de um projeto de LA para o processo de homologação de software da Diretoria de Administração da Marinha (DAdM). 10 1.6 – Metodologia Visando atender aos objetivos propostos no projeto e comprovar a hipótese descrita anteriormente, a metodologia empregada para o desenvolvimento deste trabalho é análoga às cinco etapas propostas pela Metodologia de Implantação de Projetos de Gestão de Conhecimento (Teixeira Filho, Silva e Lapa in SILVA e NEVES, 2004). A fase de preparação, primeira etapa, consistiu em atividades de revisões bibliográficas dos dois principais temas: Lições Aprendidas e Gestão de Mudanças. Tendo ocorrida nos meses de maio e junho de 2006, resultou em duas apresentações: Sumário Executivo à Coordenação do Centro de Referência em Inteligência Empresarial (CRIE/COPPE/UFRJ), e Estrutura do Projeto Final para a orientadora do trabalho. Considerando sua dupla aprovação, passamos para a próxima etapa. A etapa de explicitação auxiliou na definição do escopo que foi elaborado por todos os participantes do projeto, com a externalização das fronteiras. Num trabalho conjunto foram realizadas as atividades de: fichamento dos conhecimentos adquiridos na etapa anterior; escolha da organização (caso prático); identificação do patrocinador dentro da organização; desenvolvimento do projeto; e escolha do parecerista. Tendo ocorrido no período de junho a agosto de 2006, a elaboração do projeto para apreciação da parecerista, bem como a proposta de qualificação do projeto junto ao CRIE/COPPE/UFRJ. A terceira etapa, a socialização, consistiu na troca de informações entre os participantes do projeto, suas visões do problema e discussão das propostas apresentadas. Esta etapa ficou caracterizada pelo levantamento da cultura da organização selecionada (caso prático). A fase de divulgação, iniciada em julho de 2006, consiste das diversas apresentações de acompanhamento ao CRIE/COPPE/UFRJ, bem como da apresentação do plano de ação ao patrocinador do projeto na organização selecionada. A última etapa, a avaliação, consiste da análise dos resultados obtidos com a implantação do projeto na organização e pela avaliação do próprio projeto final pela banca examinadora do CRIE/COPPE/UFRJ. 1.7 – Organização do Projeto Este trabalho foi organizado em seis capítulos. Após a introdução foi realizada uma revisão sobre os conceitos e os benefícios da aplicação de Lições Aprendidas na área de Engenharia de Software, focando nas barreiras para sua real aplicação. 11 Em seguida, é apresentado o diagnóstico do caso prático escolhido, buscando identificar as similaridades com o problema a ser tratado para implantação do modelo de Lições Aprendidas. Visando o embasamento da hipótese é realizada uma pesquisa sobre Gestão de Mudança: levantamento de possíveis elementos organizacionais envolvidos, fontes de resistência à mudança, e de aspectos relevantes para sua contornar as principais barreiras. No Capítulo cinco foi descrita a proposta de Implantação de um projeto de Lições Aprendidas, com detalhamento do Plano de Ação elaborado com base no processo de Gestão de Mudança. No último capítulo são apresentados alguns indicadores para avaliar a implantação, bem como algumas possibilidades de evolução deste projeto em trabalhos futuros. A figura 1.1 apresenta graficamente a organização desse projeto em capítulos. Figura 1.1 – Apresentação do Projeto em capítulos. (Fonte: os autores, 2006). 12 Capítulo 2 Lições Aprendidas e Engenharia de Software “As diferenças culturais, quer sejam advindas da filosofia de negócios ou da identidade cultural, terão uma influência: a visão e o auxílio da gerência determinarão se a influência continuará em um ciclo vicioso ou virtuoso.” (Duck,2001) 2.1 – Introdução Durante toda História, informação e conhecimento têm sido fatores decisivos em todas as disputas em que o homem se envolveu, surgindo, a partir daí, a necessidade de desenvolver meios eficazes de captar e tratar esses fatores (STEWART, 1998). Ao escrever “Compartilhamento de Informações e Valorização dos Indivíduos na Empresa e Seus Reflexos na Produtividade: Um Caso Prático”, Cassará descreve que os grandes saltos do progresso da humanidade ocorreram, primeiramente, pela ação efetiva do homem e depois, pela inovação – não há conhecimento sem a presença humana, nem inovação sem a atuação ativa do ser humano (CASSARÁ apud KRUGLIANSKAS e TERRA, 2003). Hoje, os desafios e tendências do mundo globalizado impõem à sociedade, às organizações, ao mercado e ao capital, profundas mudanças. Estas mudanças exigem organizações mais produtivas e mais competitivas a cada dia e apontam para a necessidade destas encontrarem novas formas de criar valor a partir de seus ativos. Pessoas e informações estão sendo cada vez mais reconhecidas como recursos essenciais neste processo. O sucesso, a cada dia depende mais da capacidade que as pessoas da organização têm em aprender e usar os conhecimentos, e da capacidade destas organizações em: entender, analisar, mensurar e gerir seu ativo intelectual para transformar sabedoria corporativa em valor (SVEIBY, 1998). Podemos definir ativo intelectual como a totalidade de recursos não materiais, que agregam conhecimento, de propriedade da organização e que podem ser usados para criar vantagem diferencial no mercado (competências, know-how, experiência, patentes, sistemas etc). Neste cenário, conceitos como informação, conhecimento, intangível, rede, conectividade, ambiente chegam a superar em importância outros, como capital, matéria-prima, mão-de-obra e chão de KRUGLIANSKAS e TERRA, 2003). 13 fábrica (ANDRADE e TOMAZ in Segundo Cavalcanti, Gomes e Pereira (2001), o estoque de conhecimento aumenta à medida que extraímos este conhecimento de dentro de nós. Quando um conhecimento é vendido sob a forma de um bem, perde-se a propriedade sobre esse bem, mas quem o vende continua a deter o conhecimento. O custo do conhecimento se reduz quanto maior for sua acessibilidade. O conhecimento bem gerido pode levar a ganhos de eficiência, a redução de custos e desperdícios e à tomada de decisões relativas aos clientes, concorrentes e processos internos, impactando diretamente na produtividade da organização. Para isso, se faz necessário um ambiente propício ao aprendizado e à geração e compartilhamento deste conhecimento, além de formas e locais para o seu armazenamento, ou seja, criar uma memória organizacional. 2.2 – Organização da Memória Corporativa Muita informação e conhecimentos importantes ficam dispersos nas organizações, em documentos impressos, em dispositivos de armazenamento de dados ou mesmo na mente das pessoas, dificultando acesso e disseminação em momentos oportunos e, consequentemente, a melhoria de processos e a redução de reincidência de erros. Por isso, há a necessidade de se dispor de uma memória organizacional que permita a utilização, disseminação e compartilhamento de informações relevantes ao negócio e aos processos da organização. A memória organizacional pode ser entendida como uma maneira de se registrar conhecimento tácito, explicitando-o. Isto permite que o conhecimento se torne parte do patrimônio da organização, podendo ser partilhado e recriado pelo uso, quando utilizado nos processos organizacionais (BARONI et al., 2004). Para Nonaka e Takeuchi (1997) a chave da criação de conhecimento organizacional está exatamente nos processos de conversão dos conhecimentos tácito e explícito. O conhecimento tácito é pessoal, difícil de formalizar e está incorporado à experiência individual (palpites, insights, conclusões etc.), enquanto que o explícito é estruturável e pode ser transmitido formal e facilmente pelas pessoas (procedimentos, relatórios etc.). Os autores definem quatro modos de conversão do conhecimento: socialização (de tácito para tácito), externalização (de tácito para explícito), combinação (de explícito para explícito) e internalização (de explícito para tácito). Estes modos de conversão se interagem dinâmica e continuamente, formando o que os autores denominam de “espiral do conhecimento” e que, segundo eles, torna possível o surgimento de uma inovação. Para explicar a espiral do conhecimento Nonaka e Takeuchi (1997) citam o exemplo da Matsushita, uma indústria japonesa que precisava 14 desenvolver uma máquina doméstica de fazer pão. Isto precisava ser implementado com o conhecimento tácito que só os padeiros possuíam (haviam micro-passos que nem mesmo o próprio padeiro sabia descrever). Os técnicos da Matsushita aprenderam o conhecimento tácito do padeiro, através da observação e do conceito de “aprender fazendo” (socialização); este conhecimento foi apresentado a outros membros do grupo de desenvolvimento, através de alguma forma de comunicação explícita (externalização); o grupo padronizou o conhecimento adquirido primeiramente através de um manual e depois no desenvolvimento da máquina (combinação); e, a partir deste desenvolvimento, o grupo enriqueceu seus conhecimentos tácitos, possibilitando o surgimento de novos conhecimentos (internalização). Uma das melhores formas de se aumentar a memória organizacional é com o acúmulo de Lições Aprendidas (LA). O registro e a disseminação de Lições Aprendidas fazem com que as pessoas da organização aprendam com ela e recupere a memória organizacional para dar suporte às decisões no presente ou no futuro. As informações sobre boas (ou mal sucedidas) práticas adotadas no passado são primordiais para a organização no futuro, evitando a repetição de erros e a “reinvenção da roda” (STEWART, 1998). Para Davenport e Prusak (1998), como o conhecimento empresarial é vasto, um grande problema é encontrar o que se precisa – o valor deste conhecimento aumenta na proporção do grau de acessibilidade. É muito comum resolver um problema várias vezes, partindo do zero, desperdiçando esforços pelo não compartilhamento de soluções já criadas. As organizações que aprendem são habilidosas em cinco atividades principais: solução de problemas de maneira sistemática; experimentação de novas abordagens; aprendizado com as próprias experiências e antecedentes; aprendizado com as experiências e melhores práticas alheias; e transferência de conhecimentos rápida e eficiente em toda a organização (GARVIN, 2001). As empresas serão mais eficazes na gestão do aprendizado mediante a criação de sistemas e processos que respaldem essas atividades e as integrem no cotidiano. Em relação ao aprendizado com as próprias experiências, Garvin (2001) afirma que as empresas devem analisar seus sucessos e fracassos, avaliá-los de maneira sistemática e registrar os ensinamentos de modo aberto e acessível para os empregados. Ele cita o filósofo George Santayana, que forjou a frase “os que não conseguem lembrar-se do passado estão condenados a repeti-lo”. Quando não se reflete sobre o passado, valiosos conhecimentos deixam de ser captados. Garvin (2001) relata que um estudo de mais de 150 novos produtos concluiu que o conhecimento resultante dos fracassos muitas vezes é proveitoso na conquista 15 de êxitos subseqüentes – o fracasso é o melhor professor. A Boeing, imediatamente após suas dificuldades com os programas dos aviões 737 e 747 (que foram lançados com muito alarde e graves problemas), para assegurar a não repetição dos erros, constituiu um grupo de empregados de alto nível para comparar os processos de desenvolvimento do 737 e do 747 com os dos 707 e 727, dois dos produtos mais lucrativos da empresa. O grupo foi incumbido de desenvolver um conjunto de Lições Aprendidas aplicável a futuros projetos. Depois de três anos de trabalho a equipe apresentou centenas de recomendações compiladas em um livro. Em seguida, muitos membros da equipe foram transferidos para os projetos emergentes do 757 e do 767 e, sob a orientação da experiência, produziram os lançamentos de maior sucesso e com menos erros da história da Boeing. O ponto primordial desta abordagem, segundo Garvin (2001), é a capacitação da empresa em reconhecer o valor do fracasso produtivo (aquele que induz novas idéias e conhecimentos, agregando algo à sabedoria predominante) em contraste com o sucesso improdutivo (aquele que ocorre quando algo dá certo, mas ninguém sabe como ou por quê). 2.3 – Lições Aprendidas Para gerir a memória organizacional, afirmam Baroni et al. (2004), se faz necessário entender como o conhecimento crítico está organizado nos processos de negócio e quem são os produtores e os consumidores deste conhecimento. Devem ser construídos mecanismos de resgate do conhecimento integrados nos processos de negócio e que possibilitem torná-lo explícito, além de se identificar e remover quaisquer barreiras (estruturais ou psicológicas) que possam impedir a exteriorização de conhecimento e a colaboração entre as pessoas. Um estudo do GAO (United States General Accounting Office), em 2002, revela que o uso de lições aprendidas é um importante componente de uma cultura organizacional comprometida com a melhoria contínua. Mecanismos de gestão das lições aprendidas servem para compartilhar conhecimento adquirido mais efetivamente e certificar que informação relevante é produzida no planejamento, nos processos de trabalho e nas atividades. O estudo indica quatro elementos principais para os sistemas de Lições Aprendidas: Coleta - envolve a captura de informação através de processos estruturados e não-estruturados como críticas de projeto, formulários escritos e reuniões. 16 Verificação - serve para verificar a assertividade e a aplicabilidade das lições submetidas. em Armazenagem - normalmente envolve incorporar lições aprendidas um banco de dados eletrônico para a disseminação e compartilhamento de informação, de maneira que os usuários possam procurar e identificar facilmente. Disseminação – para que tenham algum benefício, as lições devem ser distribuídas e usadas pelas pessoas. A disseminação pode incluir a revisão de um processo de trabalho, treinamento e rotina de distribuição através de uma variedade de mídias de comunicação. Para Almeida (2005) os benefícios obtidos por uma organização com o uso das “Lições Aprendidas” são: • Aprender a partir de suas próprias experiências; • Documentar as práticas bem sucedidas; • Evitar que um mesmo erro seja cometido em diversos projetos; • Fazer com que as pessoas percebam e entendam a necessidade de melhoria contínua e; • Gerar envolvimento e motivação de todos com a projeção de melhorias. Para a gestão da memória organizacional, é necessário entender como o conhecimento está organizado e quem produz e consome este conhecimento na organização. Para isso, deve-se lançar mão de mecanismos para capturar o conhecimento e torná-lo explícito, além de remover barreiras que impeçam o seu compartilhamento e a colaboração entre as pessoas. Por isso, a gestão da memória organizacional depende de um esforço conjunto de todas as pessoas e departamentos, unindo Estratégia, Tecnologia de Informação e Recursos Humanos. A atualização é primordial para uma memória viva, por isso ela deve ser interativa, partilhada e dinâmica. 2.4 – Engenharia de Software Muitas organizações, na área de Sistemas e Engenharia de Software (ES), executam diversos projetos durante o ano e muitos destes com o mesmo ambiente operacional, as mesmas ferramentas para desenvolvimento e o mesmo banco de dados. A preocupação de um gerente de projeto é sempre a mesma: garantir o sucesso do projeto. 17 O desenvolvimento de software, segundo Aurum et al. (2003), é uma atividade complexa de solução do problema, onde o nível de incerteza é alto. Existem muitos desafios, como: cronogramas, estimativa de custo, confiabilidade, segurança das informações, defeitos e desempenho, que contribuem para incrementar a complexidade do software e a demanda por qualidade. Além destes, a rotatividade das equipes, a volatilidade dos requisitos de software, o ambiente competitivo e os problemas de comunicação entre os indivíduos podem contribuir no aumento da complexidade do desenvolvimento que, aliado à constante evolução tecnológica, provê uma oportunidade para a utilização das experiências e conhecimentos disponíveis. Analisando este cenário, podemos perceber a importância de se compartilhar as Lições Aprendidas decorrentes das experiências vividas em outros projetos dentro das organizações. 2.4.1 – Organizações de Software As organizações de software são organizações cujo negócio envolve tecnologia, processos, gerência de projetos, produtos e conhecimento sobre o conhecimento do domínio. Estes fatores críticos são bastante diversos e dependentes da tecnologia, onde o conhecimento é utilizado para produzir melhor, mais rápido e mais barato (LINDVALL e RUS in AURUM et al., 2003). Assim, as organizações de software possuem diversos fatores críticos de sucesso, tais como: • Reduzir o tempo de desenvolvimento e custo, aumentando a qualidade; • Realizar decisões melhores; • Conhecer novas tecnologias; • Conhecer o domínio (ambiente) do problema em questão; • Conhecer sobre políticas e práticas de projetos anteriores; • Reconhecer e capturar fontes de conhecimento; e • Compartilhar o conhecimento por gerências distribuídas. Neste cenário, a Gestão do Conhecimento (GC) para a Engenharia de Software tem perspectivas diferentes. Para o nível estratégico, a GC pode auxiliar nas tomadas de decisão; no nível tático pode ser útil na melhoria de processos, enquanto que no nível operacional pode apoiar o desenvolvimento de tecnologias e o domínio do problema. 18 2.4.2 – Abordagens da Gestão de Conhecimento Na Engenharia de Software, diferentes abordagens tem sido propostas para armazenar informações do negócio e do conhecimento necessário (LINDVALL e RUS apud AURUM et al., 2003). Do ponto de vista das pessoas e equipes, por exemplo, o foco tem sido facilitar o acesso às informações certas no tempo certo. Para Basili e Caldiera (1995) a Engenharia de Software está engajada há bastante tempo com algumas atividades da Gestão do Conhecimento, como: melhoria de processos, melhores práticas e fábrica de experiências. Entretanto, segundo Lindvall e Rus, a Gestão do Conhecimento (GC) pode apoiar mais do que o indivíduo (consumidor e fornecedor de conhecimentos dentro da organização). A GC pode ser empregada dentro de uma abordagem para explicitar e sistematizar a gerência sobre o conhecimento da organização, como forma de capturar, armazenar, evoluir e acessar a melhoria de processos, facilitando a adoção de novas tecnologias. A preocupação constante das organizações de software com melhoria de processos pode ser demonstrada também pela existência de diversos modelos de certificações do processo de desenvolvimento de software, como, por exemplo, o Capability Maturity Model for Software (PAULK, 1993). Estas abordagens sugerem que a gestão de conhecimento deva estar alinhada às atividades de desenvolvimento como forma de incrementar o objetivo do negócio e como suporte ao aprendizado organizacional. 2.4.3 – Aplicações da Gestão de Conhecimento para a ES Como resultado do estudo das atividades e ferramentas de gestão do conhecimento para a Engenharia de Software, Lindvall e Rus identificaram dois grupos: as básicas (aplicadas a qualquer tipo de organização) e as exclusivas para apoiar o desenvolvimento de software. Este último grupo foi dividido em três categorias: apoiar o desenvolvimento propriamente; apoiar o aprendizado e a tomada de decisões; e atividades de apoio das organizações. Alguns exemplos de atividades e/ou ferramentas são apresentados na Tabela 2.1. Tabela 2.1 – Exemplos de Atividades e Ferramentas de GC na ES. Básica Apoio ao Apoio ao Apoio às desenvolvimento aprendizado e tomada de 19 organizações decisões Reuso Gerência de documentos Gerência de configuração / controle de versões Rastreamento Lições Aprendidas Melhores Práticas Gerência de Relacionamento com Clientes Gerência do Capital Intelectual (marcas, patentes etc.) Portal de Conhecimento Ensino à Distância Gerência de Relatório de Case-based competências problemas systems Rede de Ferramentas CASE Datamining especialistas (Fonte: Adaptação de LINDVALL e RUS apud AURUM et al., 2003) 2.4.4 – Barreiras e Desafios A pesquisa realizada pelo GAO (2002) revelou diversos pontos fracos na coleta e compartilhamento de lições aprendidas pela NASA, embora o sistema fornecesse um repositório comum para armazenamento das lições. O estudo identificou diversas razões para o insucesso do sistema como, por exemplo, a dificuldade na procura por lições aplicáveis e algumas barreiras culturais para o compartilhamento. Dentre elas, a relutância em compartilhar lições negativas. Outros pesquisadores, como Almeida (2005), citam várias barreiras para a aplicação de Lições Aprendidas, como: inexistência de tempo para refletir sobre os projetos; ineficiência no controle da produtividade e dos prazos; existência de uma cultura ocidental que valoriza o fazer sem planejar; ausência do hábito das práticas de reflexão e de meditação; existência do cultivo do medo de errar e fracassar; e existência de um sistema educacional que valoriza o conhecimento do mundo externo, não contribuindo assim, para o auto-conhecimento. Segundo Lawton (2001), é possível identificar três tipos de barreiras na implantação de gestão de conhecimento em organizações de software: • Tecnológicas – a GC é apoiada pela Tecnologia da Informação (software), mas ainda nem sempre é possível integrar todos os diferentes sistemas e ferramentas existentes para armazenar os vários níveis de acesso aos conhecimentos; • Organizacional – devido ao foco da gestão de conhecimento voltado para a tecnologia, muitas vezes, as organizações de software não planejam uma estratégia para implantação do processo, por acreditar na suficiência da tecnologia; e 20 • Individual – especialistas reportam falta de tempo para registrar ou buscar conhecimento, ou não querem compartilhar seu conhecimento, ou ainda reusar um conhecimento de outro. Entendida as barreiras e dificuldades para implantar um projeto de LA é preciso buscar conhecimento para mapear uma estratégia que permita suplantar este desafio: criar um ambiente para implantação de Lições Aprendidas. Neste sentido, foi iniciada uma pesquisa para entender os diferentes aspectos organizacionais e como estes impactam em um processo de mudança dentro de uma organização, descritos a seguir. 2.5 – Gestão de mudança dentro da organização Primeiramente, foram levantados os diferentes tipos de mudanças organizacionais (MARRAS, 2000) e (BEER, 2003). Complementando estas visões, foram levantadas possíveis formas de vencer resistências, a partir das barreiras identificadas (KOTTER, 1997) (KEITH apud ZABOT et al, 2002). Considerando que estas visões não apresentam uma metodologia para aplicação de uma mudança organizacional, será apresentado o modelo proposto por Johann (2004), identificado e adotado no mapeamento das etapas do processo de mudança. 2.5.1 – Elementos Organizacionais A estrutura, tecnologia ou pessoal são aspectos da organização que podem ser atingidos pelo processo de mudança (Leavitt apud ZABOT et al, 2002). Na dimensão estrutura estão envolvidos os modelos de gestão adotados, ou seja, a reformulação dos processos internos, dos fluxos de trabalho ou da hierarquia administrativa. Na dimensão tecnologia, a adequação de seus sistemas e equipamentos, dando suporte a estrutura e as pessoas. Já para a dimensão pessoal, envolve mudança nas relações, nas atitudes, nos papéis dos membros da organização e nas atividades desempenhadas por estes. Para trabalhar os aspectos e os objetivos organizacionais, promovendo a mudança cultural, alguns pesquisadores propõem técnicas de mudanças, apresentadas a seguir. 2.5.2 – Técnicas de Gestão de Mudanças É preciso compreender o núcleo da cultura, a ideologia central, a força motriz da organização e promover a correta ativação desta cultura, promovendo um alto grau de 21 compartilhamento de valores pelas pessoas de forma a internalizar continuamente valores que levem a organização aos crescentes desafios que o ambiente externo lhe impõe (Collins e Porras apud JOHANN, 2004). De qualquer modo, sempre é bom enfatizar que mudanças mais globais na cultura organizacional são investimentos a longo prazo, com períodos de avanços (aceitação) e retrocessos (resistências) se alternando, até que o ciclo da internalização se efetive com o emprego do novo valor em todos os momentos da vida organizacional. Essa assimilação, por outro lado, servirá de aprendizagem para outros tantos processos que darão suporte às inovações e às exigências de flexibilidade cultural (JOHANN, 2004). Beer (2003) afirma que existem quatro categorias de programas que podem ser utilizados pelas organizações e que promoverão a gestão de mudanças: • mudança estrutural – a organização é vista como um conjunto de peças funcionais e, então, a alta gerência procura reconfigurar as peças a fim de obter um melhor desempenho geral; • redução de custo – concentram-se na eliminação de atividades nãoessenciais ou em outros métodos de enxugamento dos custos operacionais; • modificação de processos – tem por objetivo a alteração do modo como as coisas são feitas, essas mudanças normalmente visam tornar os processos mais rápidos, eficazes e seguros e/ou menos dispendiosos; e • mudança cultural – o foco é o lado “humano” da organização, onde busca-se a mudança de comportamento ou de gerência para conquistar melhorias no desempenho geral. No mercado, segundo Marras (2000), existem cinco principais técnicas de se executar uma mudança, diferenciadas, principalmente, pelos respectivos propósitos: Delegação – visa ampliar o sistema decisório na estrutura, até o menor nível possível da pirâmide organizacional, dando aos grupos de trabalho o poder e a autonomia de ‘como’ realizar suas tarefas, reforçando-os com credibilidade e encorajando sua criatividade. Para isso a empresa tem que ter um estilo de liderança muito bem construído para suportar as conseqüências deste modelo. Trabalho em Equipe - visa o compartilhamento de responsabilidades em um trabalho de equipe, obtendo-se indivíduos comprometidos e envolvidos com a solução do problema. A equipe é guiada por um coordenador, não controlador, sendo fácil notar nos membros da equipe um autocontrole para apoio nos ajustes, técnicos ou de comportamento. É sempre bom lembrar que existe diferença entre grupo e equipe. No grupo, cada pessoa executa seu próprio 22 trabalho e, na equipe, todos trabalham em uníssono, preocupados com o resultado final. Este é o modelo mais utilizado. Qualidade Total – visa a busca da melhoria da qualidade, direcionada ao cliente (externo ou interno à organização). Considera o resultado do trabalho e todos os seus aspectos (relações, relacionamentos, imagem etc). Estrutura Organizacional – visa otimizar recursos, criando estruturais (matriciais diferenciadas) ‘sem gorduras’ e que contemplam a possibilidade do rodízio de atividades entre si, permitindo uma multiplicidade de arranjos participativos para uma diversidade de projetos. São pirâmides organizacionais com poucos níveis hierárquicos e com maior distribuição de responsabilidades entre os seus membros operacionais. Aprendizagem Organizacional – visa o aprimoramento de questões da própria empresa: composição, estrutura, desenvolvimento, seus pontos fracos e fortes, seu presente e seu futuro. É parte do desenvolvimento de seu corpo gerencial e de seus talentos. 2.5.3 – Mudança Cultural: barreiras e estímulos Com foco na atuação de uma mudança cultural (visão Beer) é necessário entender as principais barreiras para sua implantação, visando identificar e empregar estímulos que possam neutralizá-las. Tabela 2.2 – Tipos de resistência à mudança – Adaptado de Chiavenato (1996). • • Objeções racionais e lógicas • • Aspectos psicológicos • • Atitudes emocionais e psicológicas • • Aspectos sociológicos • Interesses de grupos e fatores • • sociológicos • Aspectos lógicos Interesses pessoais Tempo/esforço Custos Viabilidade Medo do desconhecido Compreensão/tolerância Falta de confiança Segurança Coalizões política Valores sociais Visão paroquial Interesses/colegas Keith David (1996) visualiza a resistência à mudança cultural como conseqüência de três aspectos: lógicos, psicológicos e sociológicos, como apresentado na Tabela 2.2 (CHIAVENATO apud ZABOT, 2002). 23 A motivação humana é outro fator importante que deve ser compreendido para se estabelecer um adequado enfrentamento das barreiras à mudança cultural. Isto porque alguns elos motivam e amarram as pessoas às organizações e estes devem ser utilizados como aliados, são eles: Aprendizado; Independência e Lealdade Tribal. Tabela 2.3 – Tipos de vínculos de pessoas às organizações. VÍNCULOS Aprendizado Independência Lealdade Tribal MOTIVAÇÕES • Ter oportunidade de promoção e crescimento; • Ter um futuro pela frente na organização; • Ter desafios; • Ter desafios em diferentes setores e áreas de conhecimento; • Ter chances de realizar trabalhos interessantes na vanguarda; • Ter oportunidade de aprendizado; • Estar numa organização que o pessoal e ambiente é harmônico; • Ter muito treinamento para não estagnar; e • Estar vinculadas ao conhecimento das organizações – as redes humanas e eletrônica, de especialistas e as fontes em que confiam. • Ser um ambiente para exibir os seus adornos, como se fossem arenas; e • Poder atuar com independência (liberdade e responsabilidade são as melhores algemas de ouro existentes). • Sentir pertencer a equipe e as comunidades de práticas; • Estar em um ambiente transacional: compartilhar atitudes e crenças; espaços de trabalho; e • Desenvolver relacionamentos (quando as tarefas mudam de uma hora para outra e a toda hora, as pessoas precisam apegar-se a algo mais estável, que transmita um senso de continuidade). (Fonte: BEER, 2003) Uma vez compreendido a fonte das resistências às mudanças e quais fatores podem ser alavancadores de motivação para as pessoas envolvidas, poderemos considerar num plano de ação para implantação de uma mudança uma ou mais das seis proposições de Kotter e Schlesinger (apud ZABOT, 2002) como maneiras de vencer a resistência à mudança: • Educação e comunicação – é considerada uma das maneiras mais óbvias de vencer a resistência, pois se trata da explicação às pessoas acerca da mudança. Dessa forma a mudança é bem mais tranqüila. • Participação e envolvimento – é interessante que se envolva as pessoas afetadas para que a mudança seja mais fácil e bem mais preparada. • Facilitação e apoio – apoio para os participantes da mudança é uma forma de facilitar o processo. 24 • Negociação e acordo – negociação com as pessoas envolvidas. Envolve normalmente altos custos. • Manipulação e cooptação – os responsáveis pela mudança podem disfarçadamente manipular as pessoas. A cooptação normalmente é barata, contudo, se as pessoas se sentirem induzidas, podem reagir de maneira negativa. • Coerção explícita e implícita – a resistência pode ser tratada por meio de ameaças explícitas ou implícitas como a perda de cargo, por exemplo. A mudança organizacional (reaprendizagem organizacional) para alguns pesquisadores é a mudança de comportamento das pessoas (ARGYRIS, 1991), ou seja, uma estratégia para enfrentar as barreiras a novos procedimentos, fazendo uso dos estímulos. A reaprendizagem organizacional envolve a absorção de novas técnicas e pressupõe essencialmente a adoção de nova postura; basicamente, é a evolução para uma cultura de aprendizagem contínua, em que os funcionários aprendem uns com os outros. Porém, estas abordagens são conceituais e não apresentam uma técnica, passo a passo, de como podemos modelar uma mudança. 2.5.4 – Um Modelo de Mudança Johann (2004) propõe que a mudança cultural pode ser estabelecida em quatro fases, de forma sistêmica, como apresentado na Figura 2.1. Fase 1 Sensibilização Fase 2 Fase 3 Diagnóstico Ativação dos mecanismos Fase 4 Modelagem da nova cultura Figura 2.1 – Modelo de Conceitual de revaloração da Cultura (Fonte: JOHANN, 2004) 2.5.4.1 – Fase 1: Sensibilização dos Gestores e Patrocinadores Esta fase consiste em transmitir aos gestores e aos patrocinadores (sponsors) uma percepção dos benefícios que poderão advir do processo de mudança (visão); a metodologia a ser adotada; acordar modelo de gestão; e internalizar a responsabilidade 25 destes com o processo de mudança; sendo utilizadas reuniões ou entrevistas para facilitar esta formação. Para Johann, esta fase se justifica anteriormente à fase de diagnóstico devido a sua importância quanto ao envolvimento dos patrocinadores no processo de Gestão de Mudanças. 2.5.4.2 – Fase 2: Diagnóstico, Sistematização e Formação de Modelos Esta fase caracteriza-se pela definição do escopo do trabalho por meio do diagnóstico da situação atual. Sugere-se identificar pequenas unidades autônomas por onde deve começar a mudança. Uma vez realizado o levantamento, as etapas do projeto serão sistematizadas. Esta fase se desdobra em diferentes etapas: • Atividade 2.1: Analisar e/ou mapear a cultura da organização; • Atividade 2.2: Identificar líderes motivados; • Atividade 2.3: Identificar problema; • Atividade 2.4: Definir resultados desejados; e • Atividade 2.5: Construir o modelo de mudança. A atividade Analisar e/ou mapear a cultura da organização visa compreender as diversas camadas que compõem a cultura organizacional, conforme apresentado na Figura 2.2, de forma a preservar o núcleo e estimular a absorção de novos valores. Núcleo da Cultura Ideologia Central Força Motriz Organizacional Novos Valores / Mudanças Figura 2.2 – Estrutura da Cultura Corporativa (Fonte: JOHANN, 2004) 26 As camadas podem ser entendidas da seguinte maneira: Núcleo da Cultura: determina a maneira como o trabalho é organizado e o conjunto de atitudes que norteiam a interação entre pessoas. Ideologia Central: Identificado pelo conjunto de regras e pelos valores culturais mais fortes, autênticos, nobres e duradouros da organização. Aqueles que norteiam o destino e as decisões da empresa. Identifica se a ênfase é no poder, na definição de papéis, na tarefa ou nas pessoas Força Motriz Organizacional: Identifica os diferentes impulsos que constituem o motor básico da organização e que predominam no processo de tomada de decisão. Orientação para: produto, mercado, produção, tecnologia, distribuição ou logística. Internalização de Novos Valores: Identifica a agilidade de absorção de novos valores e sua capacidade adaptativa. A atividade Identificar líderes motivados consiste em identificar profissionais respeitados e eficientes que estejam motivados para mudar e que estejam habituados a trabalhar de maneira colaborativa. O desafio neste momento é contrapor novos valores ao legado cultural da organização. O caminho é reformatar a maneira de ser e agir destes líderes ou “modelos sociais” da organização. O novo valor deverá ser facilitado, difundido e compartilhado pela prática e exemplo das pessoas que detêm maior nível de influência. Pressupõe-se que o indivíduo possa assumir um padrão de comportamento derivado de modelos que lhe causem admiração ou competência (Teoria de modelagem social, Bandura in Johann, 2004). O patrocinador e o gestor, envolvidos na primeira fase, deverão definir os valores a serem trabalhados no projeto de mudança, o estilo de liderança a ser adotado e a identificação dos líderes que atuarão como modelos sociais. Existem duas modalidades para a liderança: modelagem participativa ou mudança diretiva. Na liderança baseada na modelagem participativa, os líderes criam uma visão do futuro; desenvolvem uma estratégica lógica para torná-la realidade; iniciam o treinamento técnico e educacional, desenvolvendo nestas suas atitudes, valores, alinham os esforços e emoções; e conduzem o grupo para o atingimento da visão. Na liderança diretiva, os líderes têm as seguintes funções: fazer com que as tarefas sejam completadas; elaborar os detalhes da implementação; reunir os recursos 27 humanos necessários; prover treinamento; e manter a energia dos colaboradores na direção certa. 2.5.4.3 – Fase 3: Ativação dos Mecanismos de Revaloração Uma vez capacitados, os gestores terão conhecimento específico para analisar os valores da cultura atual, os novos valores que deverão ser absorvidos e que mecanismos deverão ser ativados. É fundamental nesta etapa a concentração nos resultados e não na realização de atividades. Esta fase se desdobra em diferentes etapas: • Atividade 3.1: Comunicar aos diferentes públicos envolvidos; • Atividade 3.2: Monitoração das novas práticas; e • Atividade 3.3: Acompanhamento das atividades. A atividade Comunicar aos diferentes públicos envolvidos é executada por meio de mecanismos formais ou informais de propaganda, visando: • Disseminar informações e conhecimento sobre o projeto de forma consistente e periódica – sua importância, objetivos e benefícios; • Alinhar e criar expectativas realistas sobre os resultados do projeto; • Buscar o envolvimento das partes envolvidas e impactadas, através de iniciativas que propiciem a colaboração, a discussão e atuação dos profissionais, fazendo com que eles se sintam parte do projeto; • Eliminar todas as incertezas, dúvidas ou “medos” em relação a esta implantação; • Incentivar e encorajar a troca de idéias e o feedback durante o período de implantação; • Reduzir o risco de atrasos no projeto em função de problemas causados pela falta de um processo de comunicação efetivo e eficiente; • Preparar e treinar os profissionais envolvidos; • Compartilhar com os envolvidos os resultados do projeto para que se sintam parte dele, promovendo uma atitude de preocupação e acompanhamento dos interesses da organização. 28 Neste momento poderá ser necessário utilizar rituais corporativos, ou seja, eventos coletivos que congregam pessoas com mesmos valores culturais, podendo constituir-se nos portais mágicos de acesso ao convencionalmente inatingível. Durante a atividade Monitoração das novas práticas recomenda-se a opção por metas mensuráveis de aperfeiçoamento de desempenho de curto prazo. A atividade Acompanhamento das atividades é a oportunidade para os gestores e patrocinadores promover o conhecimento das pessoas por meio de pequenos relatos dos serviços de mudança, de maneira informal ou por metáforas (contadores de histórias), de forma a aguçar a motivação do processo pelos ouvintes. 2.5.4.4 – Fase 4: Modelagem da Nova Cultura Um primeiro resultado que objetivamos que seja alcançado é a modelagem da nova cultura. Os líderes, que atuam como modelos sociais, são os responsáveis, neste modelo, por gerir os resultados. Uma vez atingido um objetivo, é necessário solidificar as realizações conquistadas através de políticas, normas e procedimentos que descrevam como o trabalho deve ser feito. A equipe envolvida adquire experiência dentro do projeto tendo condições de indicar melhorias a este. O gestor deve questionar as pessoas envolvidas durante o processo formalizando as sugestões, incentivando a pró-atividade e registro de suas contribuições que poderão ser utilizados nas futuras implantações. Com base nas informações adquiridas, o gestor e o patrocinador monitoram e ajustam as estratégias em resposta aos obstáculos encontrados no processo de mudança. 2.6 – Considerações Finais A literatura mostra a importância do registro, disseminação e uso de Lições Aprendidas para as organizações. Apesar da existência de algumas facilidades, como ferramentas para captura e compartilhamento das lições, muitas organizações não as utilizam e perdem a oportunidade de melhorar seus processos e aumentar sua eficiência. Analisando os desafios e as barreiras para implantação de um projeto de Lições Aprendidas, apresentados neste Capítulo, observamos a necessidade de um modelo para apoiar a mudança da cultura organizacional, como fator primordial para o sucesso da implantação e conseqüente utilização dos benefícios desta prática da Gestão do Conhecimento. Nesta etapa do nosso trabalho, alinhados com nossas motivações iniciais, percebemos a importância de identificar um caso prático para implantação de Lições 29 Aprendidas, com dois propósitos: inicialmente, identificar uma organização de software que esteja interessada em implantar o uso de Lições Aprendidas; e, posteriormente, sugerindo um conjunto de ações para apoiar a adoção deste projeto visando minimizar os riscos de insucesso e os desafios identificados. No próximo Capítulo, será descrito uma situação particular sobre o Processo de Homologação de Software da Diretoria de Administração da Marinha. Sendo importante ressaltar, neste momento, que a escolha desta organização militar fundamentou-se nas seguintes premissas: facilidade de acesso às informações pelo grupo de trabalho; correlação dos problemas estudados com fatos reais na organização; facilidade de identificação de um projeto com escopo definido e conclusivo (exeqüível dentro do prazo estabelecido); rápida identificação de um patrocinador (sponsor); e reconhecimento pela organização sobre a validade deste trabalho. 30 Capítulo 3 Homologação de Software Administrativo na Marinha do Brasil “A maior recompensa pelo trabalho não é o que a pessoa ganha, mas o que se torna através dele.” (John Ruskin) 3.1 – Introdução A aplicação de Lições Aprendidas (LA) pode proporcionar a aprendizagem organizacional que, por sua vez, possibilitará um aumento da produtividade, ao evitar, principalmente, o retrabalho. Entretanto, conforme os resultados apresentados no Capítulo anterior, devido às barreiras culturais, existem dificuldades na implantação dos projetos que envolvem atividades de registro e disseminação das Lições Aprendidas, podendo não corresponder aos resultados pretendidos. Nesta etapa do nosso trabalho buscamos identificar um caso prático para aplicação das LA na empresa escolhida. Neste sentido, neste capítulo será apresentado um diagnóstico da organização, descrevendo-se as dificuldades de compartilhar experiências e consultar trabalhos anteriores para ganhar produtividade no desempenho das atividades componentes do processo de homologação de software administrativo na Marinha do Brasil (MB). Para avaliar a adequação e a exeqüibilidade da implantação de um projeto de LA junto a esta equipe, como alavanca de produtividade para o processo de homologação, foi necessário pesquisar e modelar o processo, o conhecimento dos colaboradores da equipe, bem como seu mapa de relacionamento. Neste contexto, com a finalidade de entender os principais problemas da equipe envolvida e os recursos disponíveis foi elaborada uma matriz S.W.O.T do Conhecimento, metodologia proposta pelo Prof. Michael Zack, da Northeastern University College of Business Administration, no qual são listadas forças e fraquezas relacionadas aos ativos de conhecimento associados ao processo de homologação, visando auxiliar a identificação de oportunidades e ameaças que têm impacto direto nestes ativos. A seguir é apresentado o resultado do levantamento realizado junto ao Coordenador e aos Colaboradores envolvidos na homologação de software administrativo, explicitando o escopo deste trabalho dentro da Marinha do Brasil. 31 3.2 – A Marinha do Brasil A Marinha do Brasil é composta de Organizações Militares (OM) e cada uma delas pode ser considerada uma unidade organizacional. A aquisição de produtos e serviços de software, assim como outras atividades, pode ser abordada de forma diferente em cada uma. Para permitir um tratamento diferenciado aos produtos de software que atendem a atividade fim da Marinha, como softwares embarcados em plataformas, dos demais softwares para atendimento das outras atividades, a Marinha estabeleceu dois conceitos: Sistemas Digitais Operativos (SDO) e Sistemas Digitais Administrativos (SDA). Devido às especificidades e usos distintos, os SDO e os SDA estão sob a responsabilidade da Diretoria-Geral do Material da Marinha (DGMM) e da Diretoria de Administração da Marinha (DAdM), respectivamente, representadas na Figura 3.1. Comandante da Marinha (Brasília) EMA (Brasília) GCM (Brasília) CIM (Brasília) SECIRM (Brasília) EGN (Rio de Janeiro) CASNAV (Rio de Janeiro) ComOpNav (Rio de Janeiro) SGM (Brasília) DGMM (Rio de Janeiro) DGPM (Rio de Janeiro) DGN (Rio de Janeiro) CGCFM (Rio de Janeiro) ComenCh (Rio de Janeiro) DAdM (Rio de Janeiro) DEN (Rio de Janeiro) DPMM (Rio de Janeiro) DHN (Niterói) CMatFN (Rio de Janeiro) Com1ºDN (Rio de Janeiro) DAbM (Rio de Janeiro) DAerM (Rio de Janeiro) DEnsM (Rio de Janeiro) CIAGA (Rio de Janeiro) CPesFN (Rio de Janeiro) Com2ºDN (Salvador) DFM (Rio de Janeiro) DSAM (Rio de Janeiro) DPCivM (Rio de Janeiro) IEAPM (Arraial do Cabo) Com3ºDN (Natal) DPHCM (Rio de Janeiro) DTM (Rio de Janeiro) DSM (Rio de Janeiro) DPC (Rio de Janeiro) Com4ºDN (Belém) CCIM (Rio de Janeiro) AMRJ (Rio de Janeiro) DASM (Rio de Janeiro) Com5ºDN (Rio Grande) DConM (Rio de Janeiro) IPqM (Rio de Janeiro) CDM (Rio de Janeiro) Com6ºDN (Ladário) DOCM (Rio de Janeiro) Com7ºDN (Brasília) CTEMSP (Rio de Janeiro) Com8ºDN (São Paulo) CPN (Rio de Janeiro) Com9ªDN (Manaus) ComFFE (Rio de Janeiro) Figura 3.1 – Organograma Simplificado da Marinha do Brasil. Fonte: www.mar.mil.br Conforme descrito no capítulo anterior, a facilidade de acesso às informações e de identificação do patrocinador, gerada pelo fato de um dos integrantes deste projeto trabalhar no Departamento de Tecnologia de Informação da DAdM, doravante, o escopo deste trabalho estará restrito aos SDA, coordenados por esta organização. 32 Neste contexto, com a finalidade de asseverar a plena aderência dos Sistemas Digitais Administrativos ao preconizado pela Doutrina de Tecnologia da Informação da Marinha2 e, principalmente, otimização dos investimentos financeiros nesta área, a DAdM estabeleceu o processo de homologação de SDA. Este processo foi definido com o propósito de orientar às demais organizações militares no que tange aos Requisitos Básicos para Desenvolvimento e Aquisição de software, sendo divulgado por meio da NOSDAM3. A homologação é regida pelos seguintes princípios: • facilitar a administração e utilização dos SDA pelos usuários, por meio da padronização; • orientar a documentação dos SDA, com a finalidade de facilitar futuras manutenções corretivas ou evolutivas; • minimizar o impacto de novos SDA em redes locais e na infra-estrutura da intranet da MB, no que tange a possíveis quedas de desempenho quando da necessidade de transmissões de dados; • garantir a aderência aos padrões internacionais ou do governo federal para interoperabilidade com outros sistemas; • apoiar o planejamento das substituições ou modernizações dos SDA (obsolescência planejada); • garantir a transmissão dos conhecimentos, os aproveitamentos das equipes de desenvolvimento e manutenção de SDA, por meio do registro e disseminação de Lições Aprendidas e Melhores Práticas; e • garantir o acesso a longo prazo das informações digitais contidas nos SDA. O detalhamento deste processo é apresentado a seguir, mostrando o relacionamento da DAdM e as demais organizações militares interessadas na aquisição de novo SDA, bem como a distribuição das tarefas entre os colaboradores do processo de homologação. 2 A Doutrina de Tecnologia da Informação da Marinha é uma publicação controlada que dispõe sobre governança de TI, responsabilidades e atribuições dos setores de TI da MB e sobre a política de segurança da informação. 1ª Edição, 2006. 3 A Norma para Sistemas Digitais Administrativos da Marinha (NOSDAM) é uma publicação para estabelecer os princípios fundamentais e as normas relativas ao emprego da Tecnologia da Informação para fins administrativos nas diversas organizações militares da Marinha. 1ª Edição, 2003. 33 3.3 – Processo de Homologação de SDA As organizações militares da Marinha podem adquirir software, mais especificamente SDA, de três maneiras distintas: pelo desenvolvimento com equipe própria; ou pela contratação de serviços de terceiros; ou ainda, pela aquisição de produtos disponíveis no mercado (Commercial Off-The-Shelf – COTS). O processo de desenvolvimento do SDA é apoiado pelas normas ISO/IEC 12207 (Tecnologia da Informação – Processos de Ciclo de Vida de Software), pelo modelo CMMI, pelo PMBOK e pelas normas ISO/IEC 15504-5 (Information Technology – Process Assessment). Entretanto, a Doutrina de Tecnologia da Informação estabelece que, anteriormente ao processo de aquisição ser iniciado, toda Organização Militar deverá apresentar uma Proposta de Projeto, contendo as funcionalidades requeridas (requisitos) para o novo SDA. A homologação do novo SDA é composta por duas etapas distintas: • Primeira etapa: análise da Proposta de Projeto (PP) – verificação de sua conformidade com a política de TI em vigor e não redundância com outros SDA homologados; e definição dos critérios de avaliação; e • Segunda etapa: homologação do SDA adquirido – avaliação dos critérios de homologação estabelecidos pela DAdM, durante a primeira etapa, no caso de aprovação do PP. O fluxo das atividades dos processos de aquisição e de homologação de um SDA, mostrado na Figura 3.2, é composto pelas atividades: Elicitar Requisitos; Estabelecer Critérios; Adquirir Produto; e Avaliar Produto, com respectivos responsáveis por sua execução. Elicitar Requisitos OM solicitante Adquirir SDA Estabelecer Critérios DAdM OM solicitante Avaliar SDA DAdM Figura 3.2 – Atividades do Processo de Homologação. As atividades Elicitar Requisitos e Estabelecer critérios ocorrem durante a primeira etapa do processo de homologação e têm os seguintes propósitos: 34 • Elicitar Requisitos – definir as necessidades (requisitos) e restrições estabelecidas pelos clientes e usuários para o novo SDA, ocorrendo na própria OM interessada; e • Estabelecer critérios – caso não exista um outro SDA homologado que atenda aos requisitos, evitando duplicidade de esforços e novos custos de aquisições, a DAdM aprovará a proposta e estabelecerá os Critérios de Avaliação a serem utilizados na segunda etapa do processo de avaliação, mas que deverão ser seguidos durante a aquisição do novo SDA. Os Critérios de Avaliação são elaborados para cada SDA baseando-se em algumas características técnicas, tais como: tamanho, complexidade, escopo e aplicação para a própria MB. Estes critérios visam a garantia de adoção de requisitos de qualidade, emprego de padrões para a interoperabilidade dos SDA, adoção de linguagens de programação de mercado, a aderência aos metadados e a adequada preparação dos recursos humanos na administração e operação do SDA. As atividades Adquirir SDA e Avaliar SDA ocorrem durante a segunda etapa do processo de homologação e têm os seguintes propósitos: • Adquirir SDA - desenvolvimento do software, ou contratação de serviço de desenvolvimento, ou aquisição de produto no mercado, conforme escolha da OM, baseado nos custos e prazos estabelecidos, que atenda aos requisitos definidos bem como aos critérios de homologação estabelecidos; e • Avaliar SDA - avaliação da correta implementação dos Critérios para o novo SDA adquirido e, no caso inexistência de não conformidades, será emitido o Laudo de Homologação e atualização do inventário de produtos homologados pela DAdM. 3.3.1 – Base de Conhecimento atual A DAdM mantém uma base de conhecimento sobre os SDA homologados, conhecida como Inventário DAS, com as seguintes informações: OM responsável; Nome / Sigla; objetivo; fase atual do ciclo de desenvolvimento; nome da empresa desenvolvedora ou fornecedora; arquitetura empregada; linguagem de programação empregada; banco de dados (caso utilizado); sistema operacional; servidor de aplicação (caso utilizado); requisitos de hardware das estações clientes e do servidor; custo anual de operação e manutenção; categoria do SDA; tráfego de rede; e outras informações adicionais (quando couber), conforme apresentado na Figura 3.3. 35 Figura 3.3 – Informações de um SDA na Base de Conhecimento - DAdM. Figura 3.4 – Consulta por classe à Base de Conhecimento – DAdM. Os colaboradores da DAdM para execução das atividades de homologação fazem consultas à base de Inventário, principalmente, durante a atividade Elicitar Critérios. O propósito da consulta é identificar a existência de algum SDA homologado que atenda aos requisitos estabelecidos, evitando-se, desta forma, despender recursos com um produto já existente. A base de conhecimento dos SDA possui algumas facilidades de consulta, como: classe do SDA (Figura 3.4), linguagem, arquitetura (Figura 3.5), banco de dados, dentre outras, que auxiliam em tomadas de decisão relativas a outras atividades do 36 Departamento de Tecnologia da Informação, como, por exemplo, medidas para planejamento de obsolescência de sistemas. Figura 3.5 – Consulta tipo de arquitetura à Base de Conhecimento – DAdM. A taxonomia empregada, nas diversas consultas desta base de conhecimento, permite que a equipe de homologação do Departamento de Tecnologia da Informação identifique rapidamente sistemas de características semelhantes aos novos sistemas, ou propostas de projeto, em homologação. Entretanto, esta base não armazena informações referentes aos próprios processos de homologação ou referências aos laudos técnicos ou laudos de homologação (Figura 3.6), não facilitando à equipe de homologação conhecer critérios utilizados nos processos semelhantes. Figura 3.6 – Menu principal para acesso à Base de Conhecimento – DAdM. 37 3.3.2 – Equipe de Homologação O Departamento de Tecnologia da Informação está organizado de forma hierárquica em três divisões. Entretanto, para executar as atividades relativas ao processo de homologação de SDA trabalha de forma matricial, contando nove colaboradores. Estes colaboradores possuem capacitações e experiências distintas na área de Tecnologia da Informação, conforme detalhado: • Colaborador 1: Bacharel em Ciências Náuticas pela Escola Naval e Mestrado em Ciência da Computação. Especialização em Computação Gráfica. Possui 6 anos de experiência em desenvolvimento de sistemas. Possui conhecimento diversificado dos diversos negócios da Marinha e mantém uma rede de relacionamento com diversos outros colaboradores na área de TI nas diversas organizações militares. Executa também a tarefa de coordenação das atividades de homologação. • Colaborador 2: Engenheiro Eletricista com aperfeiçoamento em Análise de Sistemas e Mestre em Engenharia de Sistemas e Computação (COPPE/UFRJ). Especialização em Engenharia de Software. Possui 15 anos de experiência em desenvolvimento de sistemas. Única na equipe com conhecimentos sobre preservação digital, um dos critérios existentes para homologação de SDA. Pós-graduação em Gestão do Conhecimento pelo CRIE / COPPE / UFRJ. • Colaborador 3: Estatístico com aperfeiçoamento em Análise de Sistemas e Mestre em Informática (NCE/UFRJ). Especialização em Banco de Dados Metadados. Possui 5 anos experiência em desenvolvimento de sistemas. • Colaborador 4: Formação em Informática e Mestre em Informática (NCE/UFRJ). Especialização em Banco de Dados - Qualidade. Possui 6 anos de experiência em desenvolvimento de sistemas. • Colaborador 5: Engenheiro de Sistemas de Computação. Cursado em Análise Orientada a Objetos. Possui 3 anos de experiência em desenvolvimento de sistemas. • Colaborador 6: Formação em Comunicação Social e Análise de Sistemas. Pós-graduada em Gestão da Administração Pública. Possui 16 anos de experiência em desenvolvimento de sistemas. Participou de diversas 38 homologações de SDA e possui grande conhecimento nas diversas tecnologias e arquiteturas. • Colaborador 7: Tecnóloga em Processamento de Dados. Possui 10 anos de experiência em desenvolvimento de sistemas. • Colaborador 8: Tecnóloga em Processamento de Dados. Possui 5 anos de experiência em desenvolvimento de sistemas. Segundo o Coordenador da atividade de homologação, atualmente, a transferência de conhecimentos é feito por meio de contatos colaborador a colaborador, buscando aconselhamento com colaboradores mais experientes. O resultado do entendimento da rede de aconselhamento entre os colaboradores, elaborado pela equipe deste trabalho, é apresentado na Figura 3.7, sendo entendido como mapa de relacionamento. Desta forma, o acesso ao conhecimento será aprimorado muito mais por meio de métodos de colaboração e comunicação do que da armazenagem explícita de conhecimento tácito. Neste caso, os colaboradores preferem aconselhar-se com outros colaboradores do que buscar os relatórios de homologação relativos a processos de homologação de outros SDA. Adicionalmente, também foi observado que devido a programação das outras atividades desempenhadas por estes colaboradores, as atividades de homologação são distribuídas, inicialmente entre os Colaboradores 1, 2, 3, 4 e 5. Somente haverá distribuição de atividades para os Colaboradores 6, 7 e 8, caso os outros já estejam realizando alguma atividade de homologação de outro sistema. Figura 3.7 – Rede de Relacionamento entre Colaboradores do DAdM-30. (Fonte: os autores, 2006) 39 3.3.3 – Mapa de Valor Segundo Verna Allee (2002), uma organização pode ser vista como uma rede de valores (network value). Todas as transações de troca entre os participantes, valores tangíveis e intangíveis, são representados como diagrama de fluxos em um mapa, onde os participantes são os nós da rede que recebem ou entregam produtos ou valores a outros nós, conforme o sentido das setas. Uma análise do mapa de valor permitirá conhecer: o padrão de troca entre participantes; o impacto para cada participante dos valores recebidos; e o próprio processo de criação de valores para os participantes. Neste sentido, a equipe deste projeto desenhou um mapa de valor (Figura 3.8), representando as trocas de bens, de serviços e de alguns valores intangíveis entre a equipe do Processo de Homologação de SDA do Departamento de Tecnologia da Informação com outros atores, para auxiliar no entendimento e diagnóstico do problema. Figura 3.8 – Mapa de Valor. (Fonte: os autores, 2006) Os principais fornecedores identificados são: • Chefe do Departamento; • OM reguladora, Secretaria-Geral da Marinha, que dispõe sobre as normas para o emprego de Tecnologia da Informação para fins administrativos; • Instituições de pesquisa e universidades com as quais a DAdM mantém parcerias para qualificar seus colaboradores; e • Organizações certificadoras, como, por exemplo, a International Organization Standardization (ISO). 40 Dentre os clientes do processo de homologação de SDA estão: as próprias OM solicitantes de homologações de novos SDA; e as demais OM favorecidas com os novos produtos adquiridos pela Marinha. Os atores envolvidos internamente ao processo de homologação são: o coordenador e os colaboradores que executam as atividades de Estabelecer Critérios e Avaliar SDA, descritas anteriormente. 3.3.4 – Problemas Identificados As atividades de homologação ocorrem sequencialmente, mas a responsabilidade de sua execução é alternada: ora da OM solicitante, ora da própria DAdM, conforme definido no item 1.3.1. Assim, os colaboradores da DAdM somente poderão Avaliar SDA após a conclusão da atividade Adquirir SDA. Considerando que maioria dos SDA é adquirida por meio de desenvolvimento (implementação) de um software, o prazo para prontificação desta atividade dependerá diretamente do escopo e complexidade do software, podendo ter duração superior a um ano. A ocorrência deste longo período de tempo entre as atividades Estabelecer Critérios e Avaliar SDA poderá implicar na escolha de colaboradores distintos para estas tarefas. Neste caso, poderá ocorrer uma perda de continuidade da tarefa, principalmente, nas motivações do estabelecimento dos critérios e sua importância relativa para um SDA. Para o coordenador das atividades do processo de homologação, além das conseqüências naturais desta longevidade, a produtividade da equipe pode ser afetada por outros fatores, como: • Alta rotatividade da equipe de colaboradores para as atividades relacionadas (o tempo médio de participação de um colaborador na equipe é de apenas dois anos); • Cada colaborador pode não deter todo o conhecimento que necessita para lidar com a grande variedade de tecnologias envolvidas pelos SDA; • Atividades de homologação são consideradas secundárias (colaterais), em virtude dos mesmos colaboradores possuírem outra atribuição principal, ou seja, os colaboradores podem não priorizar tarefas relacionadas a aquisição de novos conhecimentos que auxiliem nas atividades de homologação; e • Falta de motivação dos colaboradores para execução destas atividades, por não deflagrar novos prazos em suas atividade principais, tomando como prejuízo o tempo gasto com a homologação. 41 3.4 – Matriz S.W.O. T. do Conhecimento A Análise S.W.O.T. é uma técnica empregada para a análise estratégica dos ambientes interno e externo de uma organização. Este termo tem origem no idioma inglês e representa as iniciais das palavras Strenghts (forças), Weaknesses (fraquezas), Oportunities (oportunidades) e Threats (ameaças). Forças e fraquezas estão relacionadas ao ambiente interno, enquanto que oportunidades e ameaças referem-se ao ambiente externo (KOTLER, 1983). Neste contexto, a matriz S.W.O.T. da Tabela 3.1 representa uma adaptação desta técnica, tendo como propósito permitir uma análise estratégica do conhecimento, bens, serviços e outros valores do Processo de Homologação. Olhando pela perspectiva que o ambiente interno se confunde com o próprio processo de homologação, o ambiente externo é composto pela equipe de homologação e pelos demais colaboradores do Departamento de Tecnologia da Informação, conforme apresentado na Figura 3.9. Os pontos fortes e fracos apontados referem-se, portanto, ao processo de homologação. AMBIENTE EXTERNO Organização Militar Equipe de Especialistas AMBIENTE INTERNO Processo de Homologação Procedimentos e Atividades de Homologação Cultura Departamentos Figura 3.9 – Ambiente Externo e Interno do SWOT. (Fonte: os autores, 2006) 42 Tabela 3.1 – Matriz S.W.O.T. do conhecimento para o Processo de Homologação. OPORTUNIDADES AMEAÇAS Pontos fortes: - aplicado a qualquer SDA (independente de tamanho, complexidade ou tecnologia a ser utilizada). (f) colaboradores possuem capacitações e experiências diversificadas em áreas distintas de TI. (k) cultura militar de guerra indica uma forte tendência e necessidade em acompanhar o estado da arte. Pontos fracos: (b) conhecimentos explícitos estão disponíveis em formato de relatórios e correspondências. (c) aprendizado organizacional não é explicitado pelos colaboradores durante as atividades. (d) inexistência de taxonomia com foco nos critérios do processo de homologação. (j) hierarquia e disciplina militares no cumprimento das normas e regulamentos. (a) atividades de homologação de um mesmo SDA podem não ser executadas por um mesmo colaborador. (h) colaboradores mais experientes não dedicam tempo para transferir os conhecimentos adquiridos. (i) transferência de conhecimento entre colaboradores é feita em função do capital de relacionamento entre estes. (e) rotatividade da equipe de colaboradores. (g) atividades do processo de homologação são atividades secundárias. (Fonte: os autores, 2006) A matriz S.W.O.T. do conhecimento da Tabela 3.1 foi elaborada com base na observação dos fatores apontados e analisados a seguir: a) As atividades de Estabelecer critérios e Avaliação, de um mesmo SDA, podem não ser executadas pelo mesmo colaborador. Análise S.W.O.T.: Pode representar uma ameaça ao processo de homologação pela dificuldade de compreensão dos critérios estabelecidos, função do contexto do SDA, que precisará ser apreendido nas duas atividades, podendo haver perda de conhecimento. b) Os conhecimentos explícitos estão disponíveis somente no formato de relatórios e correspondências formais entre as organizações; organizados e armazenados sem uma taxonomia adequada para futuras buscas. 43 Análise S.W.O.T.: Pode ser visto como um ponto fraco devido a Base de Conhecimento atual (seção 3.3.1) por não armazenar referências aos conhecimentos explicitados somente nos relatórios. c) O aprendizado organizacional não é explicitado pelos colaboradores durante as atividades, ou seja, nem os conhecimentos que apoiaram e justificaram o estabelecimento de critérios, nem os conhecimentos obtidos durante a avaliação de um SDA ficam registrados explicitamente. Análise S.W.O.T.: Pode ser visto como um ponto fraco. d) Os critérios e resultados dos processos de homologação não são armazenados ou registrados, segundo uma taxonomia que facilite sua consulta posterior, existindo apenas os relatórios gerados após as atividades. Análise S.W.O.T.: Pode ser visto como um ponto fraco. e) Existe uma rotatividade da equipe de colaboradores que podem contribuir no processo, devido à característica de mobilização de pessoal militar. Análise S.W.O.T.: Pode representar uma ameaça ao processo de homologação, diretamente afetada pelos pontos fracos b, c e d. f) Os colaboradores possuem capacitações e experiências diversificadas em áreas distintas da Tecnologia da Informação (Engenharia de Software, Computação gráfica, banco de dados, dentre outros), não existindo uma formação única para este processo. O nível de formação atual da equipe é no mínimo de mestrado com outras especializações. Análise S.W.O.T.: Este fator é extremamente favorável para o processo de homologação, indicando uma capacidade dos colaboradores poderem atuar em atividades do processo de SDA com características diferentes, tornandose uma oportunidade. g) As atividades do processo de homologação são consideradas atividades secundárias, ou seja, o colaborador sempre estará alocado a uma outra atividade fim do Departamento. Análise S.W.O.T.: Pode ser visto como uma ameaça pois a homologação de um SDA poderá não ser completa, escapando algum critério quando observado que o colaborador deseja terminar rapidamente sua atividade para retornar ao seu principal trabalho. h) Os colaboradores mais experientes não dedicam tempo para transferir os conhecimentos adquiridos. Análise S.W.O.T.: Pode ser visto como uma ameaça. i) A transferência de conhecimento entre colaboradores é feita em função do capital de relacionamento entre estes. 44 Análise S.W.O.T.: Pode ser visto como uma ameaça. j) A observação da hierarquia e disciplina militares no cumprimento das normas e regulamentos. Análise S.W.O.T.: Pode ser visto como uma oportunidade se a disciplina for empregada como alavanca no processo de registro dos conhecimentos obtidos durante o processo. k) A cultura militar de guerra indica uma forte tendência e necessidade em acompanhar o estado da arte nas diversas áreas de conhecimento. Análise S.W.O.T.: Pode ser visto como uma oportunidade se a visão de lições aprendidas for concretizada como um benefício nas atividades do processo de homologação. Seguindo os conceitos utilizados por Wilson e Snyder (1999), o processo de homologação de SDA enquadra-se em um caso típico onde o conhecimento existente apenas suporta o processo. Para estes mesmos autores, o conhecimento pode ser utilizado num outro nível como alavanca. Segundo Kotler (1983), na matriz de S.W.O.T., as oportunidades e as ameaças quando relacionadas aos pontos fortes sugerem direções para se alavancar e se defender (vulnerabilidade), respectivamente. Esta abordagem será utilizada no planejamento de uma nova estratégia, com base nos conhecimentos, a ser utilizada para o processo de homologação dos SDA. 3.5 – Aplicando Lições Aprendidas Como todo repositório de conhecimento, uma ferramenta de Lições Aprendidas deve estar associada à facilidade de acesso, à interconexão entre os usuários e à atualização permanente, ou seja, deve ser um sistema dinâmico. No repositório de conhecimento, a contribuição para com o conhecimento e seu uso seguem um procedimento de transferência de conhecimento de dois passos: de uma pessoa para o repositório e do repositório para uma pessoa (TURBAN, McLEAN e WETHERBE, 2004). Considerando este aspecto, é necessário um modelo que compreenda a submissão, a avaliação (filtragem) e a disseminação das lições. Para facilitar a disseminação das lições a serem catalogadas, foi elaborado um modelo aproveitando a base de conhecimento atual (vide seção 3.3.1), incluindo mecanismos computacionais de busca (já disponíveis em sistemas e aplicativos isolados). 45 3.5.1 – Modelo de Lições Aprendidas A equipe de homologação será conscientizada da importância do registro de Lições Aprendidas que possam trazer ganhos significativos ou alertas à organização. Deverá ser nomeado um certificador, que será responsável pela análise das LA submetidas, observando a relevância para a organização. Este certificador será designado pelo Gestor do Departamento de TI da DAdM, considerando seu grau de conhecimento/especialização. A título de exemplo, mostramos abaixo uma tabela com o modelo de descrição/submissão de LA sugerido: Tabela 3.2 – Planilha de descrição/submissão de LA DESCRIÇÃO/SUBMISSÃO DE LA Título Palavras-chave Tipo de LA [ ] Boa Prática [ ] Alerta Responsável / Posto Data da submissão Nome/Sigla DAS Classe Linguagem Arquitetura Categoria Banco de Dados Sist. Operacional Grau de Sucesso/Fracasso [ ] Baixo [ ] Médio [ ] Alto Descrição da LA Contexto Que lições podem ser aprendidas com o fato ocorrido? Uso do Sistema Certificador Data da certificação Histórico de atualização. Numeração Fonte: Elaborada pelos autores, com base no modelo do CRIE/COPPE/UFRJ. 46 A submissão de uma lição será feita através de uma ferramenta que deverá conter informações, tais como: • Título – nome pelo qual a LA deve ser conhecida; • Palavras-chave – relação das palavras/expressões para facilitar a busca; • Tipo de LA – identifica se a lição foi uma boa prática ou alerta; • Responsável, patente e lotação – pessoa que deverá ser consultada para tirar dúvidas sobre a LA; • Data da submissão da LA; • Informações da base de conhecimento do SDA (nome/sigla do SDA, classe, linguagem, arquitetura, categoria, banco de dados, sistema operacional etc.); • Grau de sucesso (ponto positivo) ou fracasso (ponto negativo) da LA; • Descrição da LA – resumo da LA, contendo o período onde a lição foi observada (para mais detalhamento, podem ser anexados arquivos, como planilhas e gráficos); • Contexto – descrição da situação onde o problema/solução é relevante; • Lições aprendidas com o fato ocorrido; • Certificador – nome do responsável pela análise e certificação da LA submetida; • Data da certificação; • Histórico de atualizações (autor, data e hora de todas as atualizações); Numeração - número da LA. 3.5.2 – Atividade de Certificação Após uma LA ser submetida, será realizada uma triagem a fim de verificar a existência outra LA semelhante. Neste caso, será o certificador efetuará a atualização da LA no sistema. No caso de uma LA inédita, será o certificador avaliará se esta pode ser uma referência para o departamento. As informações da submissão da LA (Tabela 3.2) serão analisadas e consolidadas pelo certificador, por meio de entrevista com o autor/responsável. Caberá ao certificador recomendar a revisão das informações, quando for o caso. A avaliação da LA será registrada no sistema, onde estarão discriminadas as seguintes informações (Tabela 3.3): • Título da LA; • Tipo da LA (boa prática ou alerta); 47 • Nome e lotação do avaliador; • Data da avaliação; • Relevância da LA para a DAdM – classifica a LA como “pouco relevante” (baixo impacto financeiro e/ou de produtividade), “relevante” (médio impacto financeiro e/ou de produtividade) ou “muito relevante” (alto impacto financeiro e/ou de produtividade); • Alterações necessárias – informações recomendadas pelo certificador; • Nome do arquivo no sistema; • Informação se o arquivo é novo ou não; • Estado da avaliação – em avaliação (a LA ainda encontra-se em processo de avaliação); adotada (a LA já foi avaliada e adotada). • Numeração do arquivo no sistema. Tabela 3.3 – Avaliação de LA: AVALIAÇÃO DE LA Título Tipo de LA [ ] Boa Prática [ ] Alerta [ ] Pouco relevante [ ] Relevante Avaliador / Lotação Data da avaliação Relevância [ ] Muito relevante Alterações Necessárias Nome do Arquivo Arquivo novo? [ ] Sim [ ] Não Estado da Avaliação [ ] Em avaliação [ ] Adotada Numeração Fonte: Elaborada pelos autores, com base no modelo do CRIE/COPPE/UFRJ A LA será disponibilizada no sistema após passar pelo processo de avaliação, sendo mostrado o seu estado (adotada ou em avaliação). O cadastro obedecerá à seqüência de submissão/avaliação. Quando a LA for acessada, o sistema mostrará uma tela com as informações da Tabela 3.2. e links para as avaliações (Tabela 3.3). A ferramenta oferecerá recursos para acesso às LA por título, numeração, data, palavraschave, tipo (positiva ou negativa), responsável, grau de sucesso/fracasso e informações de classificação do SDA (nome/sigla do SDA, classe, linguagem, arquitetura, categoria, banco de dados, sistema operacional). 48 O sistema deverá ser submetido a uma avaliação periódica anual, incluindo uma pesquisa de satisfação dos usuários que irá considerar sua relevância para a DAdM, descrição das LA, a eficiência das ferramentas de busca, classificação/indexação, tempo de avaliação das LA e treinamento. 3.6 – Conclusões Neste capítulo foi descrita a identificação do problema no caso prático estudado, a implantação do projeto de LA proposto para o Departamento de Tecnologia da Informação da DAdM, como uma forma de registrar o conhecimento dentro da equipe de colaboradores (base de experiência e aprendizado) e de aumentar a produtividade de um processo de homologação de SDA. O entendimento das atividades de homologação de um SDA, o mapeamento dos valores tangíveis e intangíveis, bem como dos conhecimentos envolvidos, e a identificação da base de conhecimento atuais foram fundamentais para a escolha do modelo de LA proposto. O sucesso de implantação do modelo ainda não está garantido com sua escolha. A análise S.W.O.T. do processo de homologação de SDA, registrada neste Capítulo, permitiu constatar que as ameaças observadas coincidem com as barreiras e os desafios deste tipo de projeto revisados no Capítulo 2. Para compreender melhor a hipótese proposta, utilizar a gestão de mudanças para apoiar a implantação, o próximo capítulo apresentará os conceitos envolvidos. Entretanto, é importante ressaltar que as oportunidades e os pontos fortes do processo de homologação de um SDA foram relevantes para a escolha da metodologia de mudança. 49 Capítulo 4 Propondo um modelo de Gestão de Mudança “As diferenças culturais, quer sejam advindas da filosofia de negócios ou da identidade cultural, terão uma influência: a visão e o auxílio da gerência determinarão se a influência continuará em um ciclo vicioso ou virtuoso.” (Duck,2001) 4.1 – Introdução Considerando a mudança cultural e os elementos organizacionais revisados no capítulo dois, bem como as características dos colaboradores do processo de homologação de SDA (Capítulo três), neste momento o foco é buscar uma forma para aplicação do modelo de gestão de mudanças apresentado anteriormente. Como o modelo proposto por Johann (2004) não apresenta soluções completas para as suas fases componentes, tornou-se necessário acrescentar a identificação das barreiras ao processo de mudança, visando a direta aplicação na organização; e possíveis formas de vencer as resistências, visando auxiliar na identificação das ações de implantação. 4.2 – Convergindo as idéias de Gestão de Mudança Baseado nas revisões realizadas no Capítulo dois, analisamos os elementos organizacionais que passariam por transformações durante uma implantação de projeto de lições aprendidas. Verificamos que as mudanças ocorreriam nos aspectos estruturais, tecnológicos e pessoais, atingindo os processos internos e a adequação de seus sistemas, as atividades e papéis desempenhados pelos membros do Departamento, como também, as relações entre colaboradores e suas atitudes. Durante o processo de mudança, as barreiras e os estímulos podem alterar ou conduzir ao resultado esperado, respectivamente, como apresentado na Figura 4.1. 50 MUDANÇA CULTURAL BARREIRAS ESTRUTURAL TECNOLOGIA PESSOAL ESTÍMULOS Barreiras e estímulos Foco deste trabalho Mudança cultural Figura 4.1 – Mudança cultural – barreiras e estímulos. (Fonte: os autores, 2006) Classificamos, segundo as idéias de Beer (2003), como abordagem central do projeto a Mudança Cultural. As pessoas envolvidas no processo deverão seguir novos procedimentos relativos ao projeto de LA e desenvolver novos comportamentos. A aceitação das novas rotinas por parte das pessoas passa a ser considerada fator crítico de sucesso para o projeto devendo ser foco da gestão de mudanças. Partindo da análise dos elementos organizacionais, sugeridos por Leavitt (apud ZABOT, 2002), e das definições das diferentes técnicas, propostas por Marras (2000), Beer (2003) e Collins e Porras (apud JOHANN, 2004), estabelecemos suas correlações, conforme apresentado na Tabela 4.1. Tabela 4.1 – Correlação elementos organizacionais e técnicas. ELEMENTOS TÉCNICAS DE GESTÃO DE MUDANÇA ORGANIZACIONAIS Leavitt Collins e Porras Marras Estrutural Empowerment Qualidade Total Estrutura organizacional Tecnologia Correlacionado com os elementos Estrutural e Pessoal Trabalho em equipe Aprendizagem Organizacional Pessoal Cultura (Atitudes, Valores, forças e capacidade adaptativa) (Fonte: os autores, 2006) 51 Beer Mudança Estrutural Modificação de Processos Redução de Custos Correlacionado com os elementos Estrutural e Pessoal Mudança Cultura A separação dos elementos organizacionais foi feita para facilitar o entendimento, entretanto, é necessário ressaltar que as mudanças, quando ocorrem, impactam nestes elementos em maior ou menor grau dependendo da situação analisada. Observando as técnicas de gestão dispostas verificamos que estas estão fortemente relacionadas com pessoas. Collins e Porras focam na Cultura Corporativa e sua técnica propõe ações relacionadas às pessoas, ressaltando valores e atitudes do indivíduo, suas forças e capacidade adaptativa. Uma reflexão sobre as visões de Marras, Beer, Collins e Porras permite observar que estas não são excludentes. O desenvolvimento de um trabalho de equipe e de aprendizado organizacional, por exemplo, se apresenta como um meio para promover a Mudança Cultural. A necessidade de um maior entendimento sobre o que ocorre durante uma Mudança Cultural, nos impulsionou a compreender as fontes de resistência, os fatores de motivacionais e as proposições para vencer as barreiras (KOTTER e SCHLESINGER apud ZABOT, 2002), apresentados na Tabela 4.2. Tabela 4.2 – Correlação de fontes de resistências e proposições para vencer barreiras. FONTES DE RESISTÊNCIAS À MUDANÇA CULTURAL Aspectos lógicos Objeções racionais e lógicas Interesses pessoais Tempo/ esforço Aspectos psicológicos Atitudes emocionais e psicológicas Aspectos sociológicos Interesses de grupos e fatores sociológicos Compreens ão/tolerânci a Valores sociais Interesses/ colegas FATORES DE MOTIVAÇÕES Ter desafios Ter chances de realizar trabalhos interessantes na vanguarda Ter oportunidade de aprendizado Estar vinculadas ao conhecimento das organizações – as redes humanas e eletrônica, de especialistas e as expertises em que confiam PROPOSIÇÕE S PARA VENCER AS BARREIRAS Educação e Comunicação Participação e envolvimento Sentir pertencer a equipe e a comunidades de práticas Estar em um ambiente transacional: compartilhar atitudes e crenças; espaços de trabalho Desenvolver relacionamentos; (quando as tarefas mudam de uma hora para outra e a toda hora, as pessoas precisam apegar-se a algo mais estável, que trasmita um senso de continuidade) (Fonte: os autores, 2006) 52 Educação e Comunicação Participação e envolvimento Na Tabela 4.2 foi feito o exercício de identificar os fatores de motivação capazes de incitar mudanças nas pessoas. Poderemos, a partir desta correlação, optar pelas proposições mais adequadas para vencer as barreiras, uma vez que, dentro de cada uma das estratégias poderemos ativar os diferentes fatores de motivação, minimizando as fontes de resistência, sejam elas objeções racionais, emocionais ou sociológicas. A educação, comunicação, busca da participação e comprometimento dos envolvidos se apresentaram como meios para promover: a gestão da cultura corporativa, o trabalho de equipe, a aprendizagem organizacional e, principalmente, como fatores cruciais para vencer resistências. 4.3 – Elaborando um Plano de Comunicação As técnicas de gestão de mudanças propõem a utilização de um Plano de Comunicação como ferramenta para controlar as ações entre os participantes, assim sendo, verificamos a necessidade de uma base conceitual para apoiar a elaboração de um plano de comunicação (CHAVES et al, 2006). Encontramos também nos conceitos de Duck (2001) as informações necessárias para estruturar as ações de comunicação que serão tomadas. 4.3.1 – Ações de Comunicação É foco das ações de Comunicação garantir que a mensagem seja transmitida de forma correta para os envolvidos no processo que sofrerá mudanças (CHAVES et al, 2006). O propósito destas ações é: • • • Disseminar informações e conhecimento sobre o projeto de forma consistente e periódica – sua importância, objetivos e benefícios; Alinhar e criar expectativas realistas sobre os resultados do projeto; Buscar o envolvimento das partes envolvidas e impactadas, através de iniciativas que propiciem a colaboração, a discussão e atuação dos profissionais, fazendo com que eles se sintam parte do projeto; • • • • Eliminar todas as incertezas, dúvidas ou “medos” em relação a esta implantação; Incentivar e encorajar a troca de idéias e o retorno (feedback) durante o período de implantação; Reduzir o risco de atrasos no projeto em função de problemas causados pela falta de um processo de comunicação efetivo e eficiente; Preparar e treinar os profissionais envolvidos; e 53 • Compartilhar os resultados do projeto, promovendo uma atitude de preocupação e acompanhamento dos interesses da organização. 4.3.2 – Canais de Comunicação A definição do veículo utilizado para interagir com os diferentes públicos será avaliada a partir de alguns fatores como: tamanho da audiência, tipo de mensagem a ser comunicada e freqüência requerida. Alguns tipos de canais de comunicação utilizados: Contato Direto; Meio Eletrônico; e Meio Impresso. O Contato Direto é o meio adequado para integrar as equipes e comunicar as atividades do projeto. Este se dá por meio de reuniões e treinamentos. As reuniões são utilizadas para tomada de decisões, para informar em qual etapa do projeto está no momento e promover o envolvimento das pessoas. O treinamento é promovido o entendimento de novas ferramentas, conceitos e processos. O Meio Eletrônico é adequado para documentar as etapas do projeto, atingindo um maior número de pessoas, assim como disponibilizar material didático para o entendimento e a utilização da nova ferramenta. O Meio Impresso é indicado para reforçar a imagem da implantação do projeto e incentivar o processo de mudança. 4.3.3 – Requisitos para as ações de Comunicação As ações de comunicação necessitam possuir requisitos que devem ser verificados de forma buscar a efetividade em relação a cada objetivo especificado, sendo estes: identidade visual; flexibilidade; informação completa, correta e oportuna; mensagens ajustadas para os envolvidos; avaliação e acompanhamento; e visão renovadora. Apresentamos a seguir cada um destes. O projeto necessita ter uma Identidade visual própria que o represente dentro da organização, sendo esta utilizada em todos os meios de comunicação e documentos gerados durante o projeto. As ações de comunicação precisam ser flexíveis para se adaptarem ao perfil da equipe em cada momento e às demandas que possam vir a surgir durante o projeto. As mensagens acompanharão as atividades do projeto e serão comunicadas quando a informação estiver correta, previamente aprovada pelos gestores e patrocinadores do projeto, devendo ser analisado o momento oportuno para divulgá-la. 54 Estas serão adaptadas ao público que irá recebê-la, assim como o meio de comunicação a ser utilizado. A forma de abordagem será diferenciada para adequar-se ao nível de envolvimento do receptor no processo de mudança, com objetividade, linguagem clara e de fácil entendimento. Visando a obtenção de uma avaliação relacionada às ações do projeto que forem implantadas, serão aplicados questionários que medirão a efetividade da comunicação e promoverão as mudanças que forem necessárias, sendo estas as principais ações de avaliação e acompanhamento. Deve-se promover a mudança minimizando o impacto das ações do passado e transmitindo uma visão nova, que conta com a atuação dos envolvidos. 4.3.4 – Identificação do Público-alvo O público-alvo reúne todos os profissionais envolvidos e impactados pelo projeto. Sua correta identificação é importante para que cada mensagem seja criada de acordo com suas características, necessidades e expectativas. 4.3.5 – Principais Mensagens Ao elaborar as mensagens de comunicação, é importante levar em consideração cada público. As mensagens principais podem ser definidas como “o que você gostaria que o público pensasse ou fizesse após o recebimento da mensagem”. Os objetivos principais para estabelecer mensagens são: apresentar a visão geral do projeto; estimular ações; promover mudanças de atitude; direcionar o público a algum objetivo; e mostrar que a equipe da Rede de Mudança está levando em consideração e capturando as preocupações e o feedback das partes impactadas pela implementação do projeto. É preciso ter cuidado para não comunicar em excesso, o que poderia provocar confusão e ansiedade aos receptores das mensagens. Diversos tipos de mensagem serão contemplados pelas comunicações enviadas ao longo do projeto. Cada uma delas deve suportar os objetivos listados acima, atendendo a premissas básicas. Alguns exemplos de mensagens que poderão ser adotadas a cada etapa da mudança: 55 4.4 – As ações de Comunicação e as etapas da Curva de Mudança A curva de mudança contribui com a proposição de uma nova forma de agir e pensar sobre os envolvidos nas transformações propostas num projeto, conforme Figura 4.2. Figura 4.2 – Adaptação da Curva de Mudança de Duck (2001). Duck (2001) contribui nesta etapa do trabalho, propondo a identificação do movimento natural do indivíduo no processo de entendimento, avaliação e aceitação dos novos conceitos, que contribui com o comprometimento da mudança. Adaptamos os conceitos desta autora na criação de um modelo que pudesse determinar as táticas necessárias para promover a educação, orientar a estratégia de comunicação e os meios adequados para atingir cada grupo de envolvidos durante as várias fases de implantação do projeto. Apresentamos a seguir a descrição de cada fase vivenciada pelo público envolvido num projeto: • Desinformação: As pessoas não têm conhecimento da mudança e são informadas da mesma. Neste momento a estratégia é gerenciar os aspectos de conflito durante esta fase, fornecendo informação para responder a estes questionamentos - “Do que se trata o Projeto? Por que agora será diferente?”. • Dúvidas: As pessoas não conhecem o escopo, impactos, importância e conteúdo da mudança e normalmente personalizam os impactos da mudança. As reações emocionais se evidenciam através de perguntas tais 56 como: Quais serão os impactos no meu trabalho? “O que ganho com isso?” É necessário responder pró-ativamente às perguntas e gerenciar as incertezas e preocupações. O enfoque deve ser aberto. Deve-se buscar a participação, através de uma via de mão-dupla, que permita que o funcionário fale o que está pensando ou achando do projeto. Provavelmente surgirão resistências e atitudes negativas em relação ao projeto. Para tal, torna-se necessário, sempre que possível, tratar as metas abertamente, enfatizar os aspectos positivos e envolver os funcionários impactados pela mudança. • Conscientização: À medida que as perguntas iniciais são respondidas e as expectativas iniciais gerenciadas, começa a aparecer uma atitude mais aberta e um movimento de escuta e aprendizado acerca da transformação que se apresenta. Durante esta fase, é importante ajudar as pessoas a entenderem e valorizarem o novo contexto e a necessidade de mudança de postura e maneira de agir, bem como as conseqüências positivas ou negativas associadas ao alcance dos objetivos ou não, o papel que elas devem assumir dentro do novo contexto e os benefícios que o projeto traz para o seu dia-a-dia. É importante que se alcance o cumprimento dos indicadores e metas associadas ao novo processo. • Participação: Durante esta fase, os envolvidos tomam uma decisão consciente de adotar ou aceitar a mudança. Podem existir algumas dúvidas e medos, assim como podem surgir novas preocupações à medida que experimentam totalmente o processo de mudança. • Ação: Este é o objetivo máximo dentro do processo de mudança. Esta fase deve ser dedicada à consolidação dos resultados e reforço dos comportamentos adequados aos novos valores da organização; através de explicitamente rejeitar atitudes contrárias, disseminando a nova cultura e solidificando a nova forma de agir e pensar, após o projeto. Para que a abordagem do Plano de Comunicação seja eficaz, precisamos desenvolver mensagens que sejam adequadas ao perfil e às necessidades dos envolvidos. Para cada nível de comprometimento da Curva de Aceitação da Mudança há um objetivo específico e uma mensagem que deve ser enviada ao público impactado. Na Tabela 4.3 apresentamos uma visão geral das necessidades de comunicação relacionadas a cada nível da Curva: 57 Tabela 4.3 – Necessidades de Comunicação relacionadas ao Comprometimento. Nível de Comprometimento Necessidades de Comunicação Questionamentos Desinformação Apresentar os motivadores da mudança, gerenciar a ansiedade e a expectativa dos usuários em relação ao processo de mudança. Por que mudar? Quais os impactos da mudança? Dúvida Esta fase deve fomentar o ato de reflexão sobre a situação atual do projeto e dos benefícios proporcionados pela mudança. Exige mensagens explicativas que apresentem o escopo do projeto, a organização e o plano de trabalho, os impactos e benefícios da tecnologia. É preciso que o público-alvo adquira conhecimentos sobre o status do projeto e sinta-se inserido no processo de mudança. Conscientização Auxiliar as pessoas no entendimento e na valorização do novo contexto, além de reforçar a necessidade de mudar a postura e a maneira de agir diante da mudança. O público-alvo receberá mensagens que permitam uma compreensão a fundo dos detalhes da mudança e de todos os impactos no seu dia-a-dia, que expliquem como será implementado o projeto e forneçam orientações para lidar com a mudança. Participação Os participantes tomam a decisão de adotar a mudança e devem ser conscientizados de que seu comprometimento é fundamental para o sucesso do processo. Nesta fase, as mensagens falam do andamento do projeto, gerando expectativa para a próxima etapa e ampliando o conhecimento dos envolvidos com informações específicas sobre a sua atuação. Ação Esta fase deve ser dedicada à consolidação dos resultados e o reforço dos comportamentos adequados aos objetivos da mudança. As mensagens da fase de ação devem envolver o públicoalvo, trocando informações sobre o status do projeto, problemas e soluções. Qual o escopo do projeto? Como a mudança será implementada? Quais serão os impactos em minhas atividades? Gostaria de entender de forma detalhada como o meu dia-a-dia mudará. Como está andamento mudança? O benefício esperado está sendo atingido? Como devo me preparar para implementar a mudança? Como utilizar a nova ferramenta? Como garantir a adoção da nova ferramenta por todos os usuários sob a minha influência? (Fonte: os autores, 2006 - adaptação de DUCK, 2001) 58 o da 4.5 – Medindo as Ações de Comunicação A eficiência das Ações de Comunicação poderá ser avaliada por meio da identificação e implementação de indicadores de desempenho. Estes indicadores também poderão apoiar o controle da qualidade das atividades executadas, relacionados às várias fases da Curva de Aceitação da Mudança, conforme apresentado na Tabela 4.4. Tabela 4.4 – Indicadores dos Níveis de Comprometimento. Nível de Comprometimento Indicadores Mecanismos de Medição Desinformação Os participantes conseguem explicar com suas próprias palavras do que se trata a mudança, suas etapas e o que seu sucesso representa para a organização. Questionários de compreensão do assunto abordado em reuniões, além de dúvidas e sugestões recebidas por e-mail. Dúvida Os participantes demonstram atitude positiva perante a mudança, conseguem ver os benefícios do novo processo e entendem o seu papel. Participação em reuniões de status (no de convocados / no de participantes) e respostas aos questionários anteriores. O público-alvo compreende os detalhes do novo processo e busca orientações para lidar cada vez melhor com a mudança. Novos questionários mais detalhados de compreensão do assunto. Comparação com as respostas aos questionários anteriores. Os pontos positivos do processo são disseminados através dos participantes, envolvendo e encorajando a participação. Quantidade de participantes comprometidos com a mudança. Conscientização Participação Ação Incorporação dos novos processos Pesquisa de Satisfação. da mudança no dia-a-dia dos participantes. (Fonte: os autores, 2006 - adaptação de DUCK, 2001) 4.6 – O modelo de Gestão de Mudança proposto Correlacionamos as diferentes idéias estudadas até o momento com a finalidade de promover ao modelo de Johann (2004) a capacidade de agregação, inserindo os conceitos de barreiras e técnicas de vencer resistências, como apresentado na Figura 4.3. 59 Implantação de políticas, normas e procedimentos; Registro de sugestões de melhorias; e Implementação das melhorias. 4 Modelar Nova Cultura 1 Sensibilizar Visão do projeto; Metodologia; Benefícios; e Responsabilidades. Patrocinador e Gestores Gestores Pelo Gestor de mudanças: Identificação dos valores atuais; Valores que deverão ser absorvidos; e Mecanismos que deverão ser ativados. Gestor de mudança e suas equipes 2 Diagnósticar 3 Ativar Mecanismos de Revaloração Definição dos valores desejáveis; Estilo de liderança adequado; Coleta de Dados da Organização Figura 4.3 – Adaptação da proposta de Collins e Porras (Fonte: os autores, 2006) 13. Medir Resultado. 14. Solidificar realizações conquistadas; 16. Formalização de melhorias; 17. Ajusta a estratégia. 1. Envolver 2. Escopo 3. Definir Papéis Patrocinador/ Gestores Gestores Gestor de mudança e suas equipes 4. Mapear Cultura 5. Identificar Líderes 6. Identificar Problemas 7. Definir Metas 8. Capacitar Gestores 9. Sistematizar 10. Analisar Barreiras e Pontos Fortes; 11. Tomada de Decisão; 12. Ativar mecanismos adequados; Figura 4.4 – Adaptação do modelo de Collins e Porras. (Fonte: os autores, 2006) 60 Iniciada na fase sensibilização e continuando nas fases seguintes, cada uma delas, sugere-se ações chaves que levarão a internalização do novo valor adjacente a cultura organizacional. Na figura 4.4, detalhamos estas principais ações. Apesar das proposições de Johann se apresentarem consistentes, não identificamos durante o Diagnóstico, na etapa Mapeamento da Cultura, um detalhamento sobre as barreiras à mudança, os fatores de motivação dos diferentes públicos envolvidos e quais proposições para se vencer as barreiras seriam adequadas aplicar em cada um dos casos. Outro ponto que avaliamos foi aprofundar na etapa Ativação de Mecanismos, o entendimento sobre a Comunicação num projeto auxiliando no suporte da implantação, como também a Curva de Mudança que se submetem os indivíduos que passam pelas transformações. 4.6.1 - Sensibilização Definimos junto com o Patrocinador e o Gestor do projeto a visão do projeto, sua metodologia, os possíveis benefícios e responsabilidades, conforme proposto por Johann. Também são apresentadas as etapas da curva de mudança pelas quais passam pessoas envolvidas nas implantações, assim será possível reconhecer no grupo e nos indivíduos o momento que os mesmos estão em relação à aceitação do projeto. As ações de comunicação são as principais ferramentas, e nesta fase se iniciará o registro das informações acerca do projeto: o levantamento das expectativas em relação ao projeto; da situação problema; das barreiras que podem ocorrer; dos colaboradores que poderão contribuir; e dos valores correntes no departamento ou organização pela ótica do gestor e patrocinador. 4.6.2 - Diagnóstico Nesta etapa o público alvo se amplia. Passamos a envolver os diferentes colaboradores. Será preciso identificar, além das redes de relacionamento, o perfil dos principais envolvidos que possam atuar como modelos no processo de gestão de mudança. O aprofundamento sobre como as mudanças podem afetar os diferentes públicos, quais seriam as fontes de resistência, quais os fatores que podem suscitar as suas motivações por meio da compreensão de seus valores e interesses, o quanto estamos reduzindo o investimento de tempo e esforço e quais as alternativas para se 61 vencer as barreiras serão realizadas através de ações de comunicações efetivas e direcionadas para os diferentes grupos envolvidos. A realização de entrevistas individuais ou em grupo, o preenchimento de questionários são recomendações de ações de comunicação que podem ser utilizados neste momento para se obter as informações necessárias. Um fator de sucesso nesta etapa é buscar a convergência das informações levantadas nesta fase com a dos gestores e patrocinadores, iniciado na fase anterior, através da redefinição do problema e dos resultados esperados, já que é comum a visão das lideranças estar em desarmonia com os seus liderados. Este diagnóstico passa a ter um valor fundamental para se definir o prazo para a implantação do projeto: o tempo em que o grupo envolvido permanecerá em cada fase do Ciclo da Mudança, a quantidade de ações de comunicação e mecanismos que deverão ativados, ao longo do tempo de realização do projeto, e o prazo para a obtenção de resultados. As ações de comunicação serão os meios que os diferentes públicos envolvidos caminharão através de cada fase da curva de mudança sendo elas; desinformação; dúvida; conscientização; informação e culminando na efetiva ação para o projeto. 4.6.3 - Ativação dos Mecanismos de Revaloração Uma vez elaborado o plano de ação do projeto, iniciasse a ativação dos mecanismos planejados. O sucesso do plano está relacionado com a capacidade do gestor e equipe do projeto em avaliar as barreiras e resistências que se apresentam e que não foram planejadas e ativar novos mecanismos. Consideramos ser fundamental a realização contínua de entrevistas e de reuniões que visem acompanhar a aceitação dos envolvidos e registrar em que estágio se encontram em relação ao projeto, verificando se seus interesse, preocupações estão sendo tratados e se novos surgiram. Nesta fase, como na anterior, as ações de comunicação são os principais mecanismos e fator de sucesso para a proposição e implementação da mudança, pois além de promover o entendimento acerca do projeto, devemos incitar o interesse dos envolvidos e valorizar as pessoas chaves através dos diferentes canais. 62 4.6.4 - Modelagem da Nova Cultura O ciclo do modelo de gestão de mudança se completa pela primeira vez. Como principais objetivos nesta etapa teremos a medição dos resultados e a elaboração da documentação promovendo a estabilização das conquistas realizadas. Podemos constatar nesta etapa que, ou as pessoas pouco evoluíram em relação à aceitação do projeto conforme a curva de mudança ou conquistamos grandes avanços. É fundamental, por esta razão, não superestimar as ferramentas disponíveis e propor um plano de ação realista. Este plano deve considerar que as pessoas precisam de tempo para compreender os benefícios e se visualizarem no novo ambiente. As ações de comunicação permanecem como ferramenta poderosa para divulgação destas conquistas, dos colaboradores que foram destaque e da identificação das resistências para revisão dos fatores motivacionais e da nova proposição de papéis que serão assumidos. A análise das conquistas, dos erros e das melhorias propostas, assim como o início de um novo ciclo demonstra ser outro fator de sucesso para a implantação de um projeto. 4.7 - Considerações Finais Apresentamos até este momento, a fundamentação teórica e o ambiente no qual será implantado o projeto. Propusemos acrescentar ao modelo de Mudança Cultural proposto por Johann idéias que aprofundasse o modelo acerca das barreiras por entendermos ser a gestão destas, um fator crítico de sucesso, conforme levantamento feito no capítulo três, em empresas da mesma área de negócio. Identificamos que um dos principais mecanismos de revaloração que deveria ser utilizado neste projeto seria o uso de ações de comunicação, por esta razão, levantamos conceitos relativos a esta comunicação e acrescentamos neste capítulo. No próximo capítulo será descrita a proposta de Gestão de Mudança numa implantação de Lições Aprendidas onde iremos detalhar um plano de ação que sugerimos ser adotado. 63 Capítulo 5 Plano de Ação Gestão de Mudança à Implantação de LA “Você pode sonhar, criar, desenhar e construir o lugar mais maravilhoso do mundo... mas é preciso gente para fazer do sonho uma realidade.” (Walt Disney) 5.1 – Introdução Com a pesquisa apresentada anteriormente, iremos agora direcionar este conhecimento para o efetivo apoio na implantação de Lições Aprendidas na DAdM, pois percebemos que Gestão de Mudança é o tratamento das dimensões humana e cultural da organização durante todo o ciclo de vida do projeto, priorizando as áreas mais críticas de forma a viabilizar a mudança. Seu principal objetivo é engajar e habilitar os indivíduos e grupos a se responsabilizarem pela implementação da nova visão organizacional e pelo desenvolvimento de seus próprios potenciais, que será conduzido pelo Plano de Ação que será descrito mais a frente. 5.2 – Ferramenta de Diagnóstico e Priorização Como parte do Plano de Ação que será descrito, foi desenvolvida pela Equipe de Pós-Graduação do CRIE a Ferramenta de Diagnóstico e Priorização. Esta ferramenta apoiou o entendimento da cultura da organização, permitindo identificar os Pontos de Atenção, tratados durante o processo de Gestão de Mudança. Inicialmente, foram relacionadas, pela Equipe de Pós-Graduação do CRIE, algumas questões necessárias para mapear: crenças, valores, regras e metodologias de trabalho, vivenciados pelos colaboradores da organização. Estas questões surgiram a partir dos conceitos do modelo proposto por JOHANN (2004), sendo agrupadas por áreas de conhecimento, denominadas: processos; valores e atitudes; tecnologia; gestão; grau de importância da tarefa estudada; rotatividade da chefia e dos colaboradores; e quem patrocina. Tendo o propósito de fornecer a equipe, ao patrocinador, ao gestor e aos colaboradores a possibilidade de sistematizar as várias 64 variáveis que podem interferir ou facilitar a implantação do Projeto de Lições Aprendidas por meio da Gestão de Mudanças. Apesar da Ferramenta de Diagnóstico e Priorização permitir uma visão global das áreas de conhecimento previstas (diagnóstico do ambiente), apresentadas na Figura 4.5, sua utilização durante o processo de Gestão de Mudanças será focado nas principais áreas identificadas, ou seja, com maior número de Pontos de Atenção. Figura 4.5 – Áreas de Conhecimento do modelo Gestão de Mudança. (Fonte: os autores, 2006) Concluída a identificação dos Pontos de Atenção, foi observada pela Equipe a necessidade de estabelecer uma prioridade no tratamento dos Pontos de Atenção levantados com a Ferramenta para auxiliar a elaboração do Plano de Ação e a estruturação do processo de Gestão de Mudanças. Neste contexto, foi inserida uma melhoria na Ferramenta de Diagnóstico, que incorporou a análise de GUT (Gravidade, Urgência e Tendência) permitindo a Priorização dos Pontos de Atenção numa área de conhecimento, utilizando os seguintes conceitos: Gravidade - Impacto do problema sobre pessoas, resultados, processos ou organizações e efeitos que surgirão a longo prazo, caso o problema não seja resolvido. 65 Urgência - Relação com o tempo disponível ou necessário para resolver o problema. Tendência - Potencial de crescimento do problema, avaliação da tendência de crescimento, redução ou desaparecimento do problema. 5.2.1 – A Ferramenta no Modelo de Gestão de Mudanças A ferramenta deve ser aplicada em duas fases distintas do Modelo de Gestão de Mudanças (Sensibilização e Diagnóstico) e visa atingir diferentes públicos alvo. Na primeira fase do modelo, de sensibilização, a aplicação da Ferramenta visa principalmente envolver o público alvo, o gestor e o patrocinador, na tarefa de definição do escopo (tarefa concreta) do Processo de Mudanças. Para a Equipe de PósGraduação do CRIE a Ferramenta estará permitindo a Análise e Levantamento do Departamento onde será implantado o Projeto de Lições Aprendidas. Neste contexto, a Ferramenta apoiou os autores nas seguintes tarefas: determinação da melhor abordagem a ser adotada junto aos colaboradores; a capacidade de internalização de novos valores e de melhorias que os colaboradores vivenciam no momento; quais os mecanismos que deveriam ser ativados como fator de geração da aceitação da mudança proposta; e definir os papéis dos envolvidos no processo, ou seja, as proposições fase do Modelo de Gestão de Mudança. O resultado obtido na primeira fase auxiliará diretamente na decisão sobre a forma de abordagem do público alvo da segunda fase, o diagnóstico. Na segunda fase, a Ferramenta permitirá o mapeamento da cultura da organização e os problemas inerentes, junto a seu público alvo: os colaboradores. O contato direto com a equipe de colaboradores, possibilitará também a elaboração da rede de relacionamentos (veja item 3.3.2), sugerida inicialmente pelo gestor. Posteriormente, a rede de relacionamentos associada aos resultados da aplicação da Ferramenta permitirá a identificação dos possíveis agentes de mudanças. Os resultados apontados na aplicação da Ferramenta, individualmente por colaborador, devem ser comparados às respostas apresentadas pelo gestor e pelo patrocinador. As discrepâncias, oriundas de percepções e vivências distintas, devem ser discutidas com o gestor visando um realinhamento do Plano de Ação (metas, expectativas, papéis e responsabilidades). O confronto destas expectativas será fundamental, pois poderá revelar indícios da velocidade em que os novos valores poderão ser internalizados pelos colaboradores. 66 Cabe ressaltar que a Ferramenta de Diagnóstico e Priorização poderá ser empregada na última fase do modelo de Gestão de Mudanças adotado, modelagem da nova cultura. A solidificação da nova cultura poderá ser empreendida com a aplicação da Ferramenta, principalmente para mapear os novos processos adotados. 5.2.2 – Executando a Ferramenta A Ferramenta de Diagnóstico e Priorização está dividida em sete áreas de conhecimento: Processos; Valores e Atitudes; Tecnologia; Gestão; Patrocinadores do Projeto Alvo; Importância da Tarefa e Rotatividade de Pessoal, conforme apresentado nas Figuras 5.1 e 5.2. Figura 5.1 – Ferramenta de Diagnóstico e Priorização 67 As questões sobre Processo abordam: a normalização dos processos existentes; a documentação de procedimentos; o conhecimento dos colaboradores sobre as normas e os documentos; a agilidade operacional dos processos; o cumprimento das normas e dos procedimentos pelos colaboradores; a autonomia da organização para estabelecer novas normas e novos procedimentos; e a autonomia para inovações pelos colaboradores. As questões sobre Valores e Atitudes abordam: relacionamento de confiança com a organização e a diretoria; reconhecimento da organização quanto à devoção ao trabalho; facilidade de absorção de novos conceitos; agilidade do processo de tomada de decisão; forma de compartilhamento das informações; estímulos da organização quanto a capacitação dos seus colaboradores; valorização do pessoal; e relacionamentos de integridade e ética. Nestas duas áreas do conhecimento as questões devem ser analisadas como Bom Resultado (acima ou dentro do esperado) ou Ponto de Atenção (abaixo do esperado ou inexistente). 68 Figura 5.2 – Ferramenta de Diagnóstico e Priorização (continuação) (Fonte: os autores, 2006) As questões de Tecnologia abordam: identificação de ferramentas para o projeto alvo (prontificadas ou planejadas); e conhecimento da taxonomia da organização. As questões de Gestão abordam: metas de trabalho; compartilhamento de propósitos da organização; participação no processo de tomada de decisão; facilidade de absorção de inovações; conhecimento do processo de treinamento; procedimentos de punição ou repreensão. As questões de Patrocinadores visam identificar os patrocinadores (reais e potenciais) e suas áreas de atuação, bem como a influência direta sobre o projeto alvo. A ferramenta deve ser executada da seguinte forma: primeiramente, os envolvidos devem responder a todas as questões e, num segundo momento, fazer a Análise GUT somente para as questões apontadas como Ponto de Atenção. Cada um dos Pontos de Atenção deve ser classificado quanto: a gravidade (G), a urgência (U) e a tendência (T), conforme a seguinte escala: Muito Baixa (1); Baixa (3); Média (5); Alta (7); e Muito Alta (10). Nesta Ferramenta, o resultado da análise de GUT é obtido com a soma dos valores atribuídos (G + U + T). 5.3 – Plano de Ação Neste Plano de Ação utilizaremos as fases de Johann (figura abaixo) como uma quebra para nossas atividades macro, de maneira a organizar as fases da Gestão de Mudança para implantação de LA. E para melhor entendimento e visualização do detalhamento das atividades, as mesmas serão descritas na seguinte estrutura: • Atividade: (atividades principais do projeto); • Sub-atividade: (quebra da Atividade, quando houver) e; • Foco: (foco do objetivo da atividade e sub-atividade citados acima). Ao lado da descrição da Atividade, também aparecerá um quadrado para rápida identificação visual se a Atividade já está concluída (5) ou não ( ). 5.3.1 – Fase 1: Sensibilização Nesta fase é importante que se faça a sensibilização do Gestor da DAdM, capacitando-o com todo o conhecimento necessário para suportar todas as fases da implantação de LA por meio da Gestão de Mudança, composta das atividades: 69 5 Atividade: Identificação do problema - Sub-atividade: Reunião de entrevista Foco: Levantamento das necessidades do coordenador da equipe de homologação de SDA da DAdM, apoiado pela Ferramenta de Diagnóstico e Priorização, executada pela Equipe de Pós-Graduação do CRIE. 5 Atividade: Análise e levantamento do Departamento Sub-atividade: Reunião Foco: Com o resultado do questionário da Ferramenta de Diagnóstico e Priorização, a Equipe de Pós-Graduação do CRIE pode discutir o mesmo com o Gestor, destacando os Pontos de Atenção, os quais permitiram a Equipe de Pós-Graduação do CRIE um melhor entendimento da organização. Durante também a reunião, a Equipe de Pós-Graduação do CRIE fez com o Gestor a confecção do Mapa de Valores, da matriz de SWOT e da Rede de Relacionamentos para aprofundar o conhecimento da organização. Atividade: Expectativas do Departamento – validação/direcionamento Sub-atividade: Reunião de direcionamento Foco: A Equipe de Pós-Graduação do CRIE levará ao Gestor a sua Visão do problema, Metodologia, Benefícios, Responsabilidades e Orientação de um Projeto de LA, no intuito de validar seu entendimento quanto a necessidade da DAdM e de dar direcionamento ao Projeto. Definição do escopo do projeto, processo de gestão de mudança para apoiar as atividades e seus benefícios, bem como definição das atribuições das partes. Neste momento ficou estabelecido que o sistema que apoiará o registro e disseminação das lições aprendidas será desenvolvido pela DAdM. 70 5.3.2 – Fase 2: Diagnóstico Conforme o capítulo 2, esta fase é composta das seguintes atividades: Atividade: Ações de Comunicação Sub-atividade: Confecção do Plano de Comunicação Sub-atividade: Validação do Plano de Comunicação Foco: descrever o objetivo, os requisitos e mensagens (de cada etapa da Curva de Mudança) do Plano de Comunicação, bem como a definição do Público-alvo (os colaboradores do Departamento), os papéis e responsabilidades e veículos. Como exemplos do conteúdo deste Plano de Comunicação seguem alguns itens: Tabela 5.1 – Público-alvo: Público Diretamente Envolvido Descrição Gestor Gerente da DAdM Rede de Mudança e certificador Reúne pessoas-chave da equipe da DAdM envolvidas no projeto Equipe do Projeto da DAdM Público Indiretamente Envolvido Equipe da DAdM envolvida no dia-a-dia da operação do registro das lições aprendidas Descrição Equipe dos projetos que serão Equipe dos projetos que terão seus projetos homologados homologados pela equipe da DAdM (Fonte: os autores, 2006 – adaptação de CHAVES, 2006) Tabela 5.2 – Papéis e Responsabilidades: Públicos Papéis e Responsabilidades - Fornecer recursos e diretrizes às ações de comunicação; Gestor - Garantir o cumprimento das atividades por parte da equipe do projeto, dos profissionais impactados e das outras que por ventura venham dar suporte a este projeto; - Participar efetivamente de reuniões voltadas a tomada de decisões que impactem o andamento do projeto previstas no Plano de Ação. Rede de Mudança e certificador - Participar das reuniões previstas no Plano de Ação, para que possam informar o andamento do projeto a sua equipe e preparála para a introdução da nova forma de trabalho; - Estabelecer e garantir o cumprimento das diretrizes do projeto. Equipe do Projeto da - Absorver e entender a nova forma de trabalho proposta, através DAdM das ações de comunicação previstas no Plano de Ação. (Fonte: os autores, 2006 – adaptação de CHAVES, 2006) 71 Tabela 5.3 – Expectativas dos Envolvidos: Públicos Expectativas - Mobilizar os profissionais necessários à execução das atividades do projeto; - Suportar e direcionar o projeto visando alinhar expectativas, solucionar conflitos e suportar a equipe do projeto; - Facilitar a tomada de decisões e contribuir para a execução das Gestor atividades e elaboração dos produtos finais; - Comunicar informações pertinentes ao projeto junto aos envolvido, garantindo assim, o fortalecimento e comprometimento dos mesmos. - Agir como um agente multiplicador da mudança, garantindo a disseminação e o entendimento da comunicação que está sendo transmitida; - Maximizar as chances de sucesso da implementação do projeto, assegurando a adoção do novo processo e procedimentos pelas Rede de Mudança e áreas impactadas; certificador - Garantir a divulgação das ações do projeto; - Obter “feedback” sobre as ações desenvolvidas pelo projeto; - Identificar dúvidas, problemas e resistências, propondo soluções; - Desmistificar as ações do projeto junto às pessoas impactadas. - Cumprir com sucesso e dentro dos prazos estabelecidos os Outros papéis e responsabilidades anteriormente estabelecidas. (Fonte: os autores, 2006 – adaptação de CHAVES, 2006) Tabela 5.4 – Ações e Eventos: Ação / Evento Característica Público-Alvo Feedback / Indicador Workshop de KickRede de Mudança - Feedback ao final da Evento Participativo Projeto reunião off Apresentação do Equipe do Projeto da Feedback ao final da Plano de Evento Participativo DAdM reunião - Validação Comunicação "Material de Equipe do Projeto da Documentos Avaliação do Material Treinamento" DAdM Reuniões com a Reunião informativa Feedback ao final da “Rede de Mudança” “Rede de Mudança” / participativa reunião (Fonte: os autores, 2006 – adaptação de CHAVES, 2006) 72 Tabela 5.5 – Mensagens para os Envolvidos: Nível de Comprometimento Desinformação Dúvida Conscientização Participação Ação Necessidades de Comunicação Questionamentos Apresentar os motivadores da mudança, gerenciar a ansiedade e a expectativa dos usuários em relação ao processo de mudança. Esta fase deve fomentar o ato de reflexão sobre a situação atual do projeto e dos benefícios proporcionados pela mudança. Exige mensagens explicativas que apresentem o escopo do projeto, a organização e o plano de trabalho, os impactos e benefícios da tecnologia. É preciso que o público-alvo adquira conhecimentos sobre o status do projeto e sinta-se inserido no processo de mudança. Auxiliar as pessoas no entendimento e na valorização do novo contexto, além de reforçar a necessidade de mudar a postura e a maneira de agir diante da mudança. O público-alvo receberá mensagens que permitam uma compreensão a fundo dos detalhes da mudança e de todos os impactos no seu dia-adia, que expliquem como será implementado o projeto e forneçam orientações para lidar com a mudança. Por que mudar? Quais os impactos da mudança? Qual o escopo do projeto? Como a mudança será implementada? Quais serão os impactos em minhas atividades? Gostaria de entender de forma detalhada como o meu dia-a-dia mudará. Como está o andamento da mudança? O benefício esperado está sendo atingido? Como devo me preparar para implementar a mudança? Como utilizar a Esta fase deve ser dedicada à consolidação nova ferramenta? dos resultados e o reforço dos Como garantir a comportamentos adequados aos objetivos adoção da nova da mudança. As mensagens da fase de ação ferramenta por devem envolver o público-alvo, trocando todos os usuários informações sobre o status do projeto, sob a minha problemas e soluções. influência? (Fonte: os autores, 2006 – adaptação de CHAVES, 2006) Os participantes tomam a decisão de adotar a mudança e devem ser conscientizados de que seu comprometimento é fundamental para o sucesso do processo. Nesta fase, as mensagens falam do andamento do projeto, gerando expectativa para a próxima etapa e ampliando o conhecimento dos envolvidos com informações específicas sobre a sua atuação. Atividade: Analisar e/ou mapear a cultura da organização Sub-atividade: Ações de Comunicação Sub-atividade: Análise e resultado do diagnóstico (Pontos de Atenção) Foco: Envolver os colaboradores por meio da Ferramenta de Diagnóstico e Priorização, onde estes respondem ao questionário, e os resultados serão 73 comparados com o resultado do Gestor. Esta comparação será utilizada para realinhamento do processo de gestão de mudança. A ação de comunicação é conquistada com uma reunião da Equipe de Pós-Graduação do CRIE, Gestor e colaboradores. Atividade: Identificação de líderes motivados Foco: Confirmação dos papéis e responsabilidades definidas no Plano de Comunicação em função da identificação dos colaboradores motivados. Atividade: Identificação conjunta do problema Foco: Reunião da equipe de colaboradores com Gestor, para apresentação e discussão do modelo do projeto de LA, com a designação do primeiro certificador e divulgação das tarefas. Neste momento, deverá ser ressaltado que uma Lição Aprendida será descrita por: título, tipo (positiva ou negativa), nome do avaliador, data e relevância, bem como o acompanhamento do estado da avaliação. Para os demais avaliadores serão ressaltados algumas facilidades do novo sistema para o processo de homologação. Deverão ser apontadas pelo Gestor e pelos colaboradores as impressões e dificuldades iniciais observadas. Atividade: Definição dos resultados apresentados Foco: Definição dos indicadores de desempenho: do projeto de LA (com o Gestor) e do processo de gestão de mudança, explicitando os mecanismos de controle. Atividade: Construção dos modelos sociais Foco: Reunião da Equipe de Pós-Graduação do CRIE com o Gestor (DAdM) com finalidade de orientar na condução das dificuldades identificadas durante a fase de diagnóstico. 74 5.3.2.1 – Curva de Mudança Dentro desta fase, serão trabalhadas as seguintes etapas da Curva de Mudança: Desinformação, Dúvida e Conscientização. Iniciando na atividade Análise e resultado do diagnóstico (Pontos de Atenção) até a atividade de Identificação conjunta do problema, os colaborados serão motivados a expor seus conflitos e medos sobre a mudança, onde os mesmo passarão pelas etapas de Desinformação a Dúvida. A etapa da Conscientização será trabalhada das atividades de Definição dos resultados apresentados a Construção dos modelos sociais, criando nos colaboradores atitudes mais abertas e um movimento de aprendizado acerca da transformação do Projeto. 5.3.3 – Fase 3: Ativação dos Mecanismos de Revaloração Com a disponibilização da ferramenta de registro e disseminação de Lições Aprendidas (SAPDIM), e com chegada de novos SDA a serem homologados, o Gestor poderá iniciar sua utilização, devendo executar as atividades: Atividade: Comunicar diferentes públicos envolvidos Foco: Ao identificar medos (não querem) ou dificuldade (não sabem) da equipe de colaboradores, o Gestor poderá lançar mão das reuniões diárias matinais (paradas) para novos esclarecimentos, relatos informais de soluções, com intuito de manter a motivação. O Gestor poderá utilizar um mecanismo de prestigiar (mérito) o colaborador mais atuante, levando-o para participar de reuniões com a Chefia do Departamento com a intenção de destacar seus esforços e resultados. Neste caso, o benefício também será do próprio Gestor quando estará demonstrando os resultados positivos do projeto de LA. Atividade: Monitoração das novas práticas Foco: Com base nos indicadores estabelecidos na fase anterior, o Gestor poderá quantificar a adoção do projeto de LA pela equipe de colaboradores. A Equipe de Pós-Graduação do CRIE, juntamente com o Gestor, poderão verificar os indicadores do processo de gestão de mudanças. 75 Com base nos relatórios dos registros de LA, o Gestor promoverá reuniões para monitorar os registros realizados, onde os colaboradores deverão divulgar os trabalhos realizados, valorizando os melhores registros. Atividade: Acompanhamento das atividades Foco: O Gestor verificará o cumprimento das práticas de registro (e certificação) de LA por meio do sistema SAPDIM. 5.3.3.1 – Curva de Mudança Dentro desta fase, será trabalhada a etapa de Participação da Curva de Mudança, onde das atividades Comunicar diferentes públicos envolvidos a Acompanhamento das atividades os colaboradores estarão prontos para adotar a mudança exposta pelo Projeto. 5.3.4 – Fase 4: Modelagem da Nova Cultura Como registrado no capítulo 2, ”um primeiro resultado que objetivamos que seja alcançado é a modelagem da nova cultura”. Será neste momento que a organização solidificará os novos procedimentos como parte do escopo do seu trabalho, adquirindo experiência para inclusive contribuir com melhorias para o projeto. Atividade: Medição dos resultados - Sub-atividade: Avaliação dos indicadores Foco: Nesta fase, o Gestor analisará novamente os indicadores de desempenho para avaliar os resultados adquiridos nas fases anteriores com intuito de avaliar se os colaboradores evoluíram pouco ou tiverem grandes avanços conforme a curva de mudança. Atividade: Criação de novas políticas - Sub-atividade: Confecção dos documentos Foco: O Gestor, após a finalização da fase anterior e da avaliação dos indicadores, deve documentar e divulgar os novos procedimentos 76 absorvidos pelo Departamento, de forma a registrar a solidificação da nova cultura. Se possível, é interessante que o Gestor envolva os colaboradores na confecção dessas novas políticas para que os mesmos se sintam cada vez mais parte da mudança do Departamento. 5.3.4.1 – Curva de Mudança Nesta última fase os colaboradores passarão pela etapa Ações, que é a última etapa da Curva da Mudança. Nesta, os colaboradores estarão centralizando forças na consolidação dos resultados e reforçando os novos valores da organização. 5.4 – Conclusões Foi apresentado neste capítulo um plano de ação utilizando-se o modelo definido no capítulo anterior. Dessa forma, será mais simples o entendimento das atividades que a Equipe de Pós-Graduação do CRIE propõe para a DAdM, para utilização de um processo de Gestão de Mudança para implantação de LA. Durante a implantação deste projeto, modificações e sugestões podem ser feitas pelo Gestor para adaptar o Projeto conforme as reações dos colaboradores com intuito de se contornar as resistências à mudança. 77 Capítulo 6 Avaliação e Considerações Finais “Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.” (Fernando Pessoa) 6.1 – Introdução Neste trabalho, por meio da revisão bibliográfica, apresentamos uma visão genérica sobre Gestão do Conhecimento e memória corporativa; a importância do registro e disseminação de Lições Aprendidas, bem como barreiras para sua implantação. Apresentamos também algumas particularidades das organizações de software e sua relação com Gestão do Conhecimento. O estudo de alguns modelos de Gestão de Mudanças, aplicáveis à organização em estudo, nos levou à adoção de um modelo para nortear e determinar ações que pudessem reduzir as barreiras e garantir a aplicação do modelo de Lições Aprendidas proposto. A revisão bibliográfica nos mostrou que um programa de Gestão do Conhecimento ancora-se em três pilares: tecnologia, processos e pessoas. Nosso projeto está focado neste último por identificá-lo como o mais importante e verificou-se que é nele que residem as maiores barreiras. Além disso, tecnologia e processos não são grandes problemas para a Diretoria de Administração da Marinha, nossa empresa alvo, devido à cultura militar, que acompanha o “estado da arte” nesses quesitos. O objetivo do trabalho se desdobra na eliminação (ou redução) do retrabalho, no aumento do fluxo de conhecimento entre os colaboradores, no registro dos principais conhecimentos gerados no processo e na aceleração do aprendizado. 6.2 – O Trabalho Desenvolvido Mediante os problemas apresentados pelo Gestor do Processo de homologação de Sistemas Digitais Administrativos da DAdM em aumentar a produtividade da sua equipe nas atividades envolvidas, a equipe deste trabalho propôs, dentre as ferramentas de Gestão de Conhecimento, a implantação de um projeto de Lições Aprendidas. Entretanto, conhecendo-se as barreiras e dificuldades desta 78 implantação foi pesquisado um modelo de gestão de mudanças para apoiar a incorporação desta solução na cultura da organização. A convergência das idéias de gestão de mudanças pesquisadas apontou a adoção do modelo proposto por Johann (2004), dividido em quatro fases: Sensibilização; Diagnóstico; Ativação de Mecanismos; e Modelagem da Nova Cultura. Durante a fase de Sensibilização ocorreram reuniões com o gestor do processo de homologação de software administrativo da Marinha do Brasil. Foi possível identificar algumas barreiras culturais e comportamentais que pudessem levar a implantação do registro de LA ao fracasso. Fazendo uso dos conhecimentos desta fase, foi elaborado um questionário, destinado ao gestor, na fase um, e à equipe de homologação, na fase dois. O resultado destes questionários serviu de base para a identificação do problema e diagnóstico da organização. As respostas cujos resultados não foram considerados bons serviram como pontos de alerta e, para priorizar as ações sobre eles, utilizou-se uma matriz GUT. Com base nessas informações, foi elaborado um Plano de Ação. Este trabalho se limitou à fase inicial do processo de Gestão de Mudanças, aguardando a construção da ferramenta de registro de LA para passar às fases 2 (Diagnósticos), 3 (Ativação de Mecanismos) e 4 (Modelagem da Nova Cultura). 6.3 – Avaliação É necessário medir os benefícios de um modelo para se avaliar a efetividade da hipótese inicial do trabalho. Neste sentido, a etapa de avaliação pode ser dividida em dois aspectos: o primeiro, em relação aos ganhos obtidos com o projeto de Lições Aprendidas no contexto da equipe de homologação; o segundo, para avaliar diretamente os resultados do modelo de Gestão de Mudanças adotado. No caso de LA, busca-se melhorar a produtividade da equipe, portanto existem duas dimensões que poderiam ser observadas: os resultados visíveis externamente ao Departamento de Tecnologia de Informação (indicam os ganhos com LA) e aqueles internos ao Departamento (indicam adoção efetiva de LA) • Número de projetos homologados com sucesso (indica eficiência e produtividade) - externo; • Tempo de homologação, ou seja, o tempo diretamente gasto nas atividades pela equipe da DAdM - externo; • Número de acesso à base de LA (indica uso do sistema e participação) - interno; 79 • Freqüência de registros (indica uso do sistema, participação e compartilhamento de conhecimentos) – interno. No caso de Processo de Gestão de Mudanças, os indicadores deste aspecto poderão ser avaliados na quarta fase do modelo: Modelagem da Nova Cultura. Neste momento, o próprio questionário utilizado já prevê este tipo de avaliação: • Matriz GUT das questões com resultados abaixo da expectativa; e • Resultados dos questionários nas diversas rodadas. Os resultados da avaliação deverão ser apresentados de forma clara, inclusive utilizando gráficos comparativos. 6.4 – Trabalhos Futuros Este projeto cria uma base em Lições Aprendidas e pode ser aprimorado para um banco de Melhores Práticas (MP) e Alertas, gerando padronização (respeitando obviamente o tempo de maturação para que uma LA se torne uma MP e esta se torne um padrão). Sugere-se a criação de uma taxonomia, considerando as áreas-chave e as unidades da Marinha (OM), para que possa ser usada em um banco de Melhores Práticas. O estudo feito em Gestão de Mudanças e a Ferramenta de Diagnóstico e Priorização que foi elaborado, utilizando seus conceitos, podem ser adaptados para outras unidades da Marinha, ou mesmo para outras organizações. Como os Sistemas Digitais Operativos devem ter um processo de homologação, dentro de suas fases do ciclo de vida de desenvolvimento, acreditamos que outro projeto de LA possa ser implantado, utilizando a experiência da DAdM e os artefatos produzidos, com um mínimo de esforço de adaptação. Quanto a Ferramenta de Diagnóstico e Priorização, observamos, na primeira fase do processo de Gestão de Mudanças, a possibilidade de agregar algumas questões por área-chave. Algumas das áreas identificadas são: Processos, Valores e Atitudes, Gestão, e Tecnologia. Esta melhoria poderia contribuir para melhorar a priorização das questões, usando não somente o GUT. Outra melhoria para Ferramenta seria a geração automática de gráficos para apoiar a análise, como, por exemplo, o gráfico das questões por valores do GUT, questões por Bom Resultado e Pontos de Atenção. 80 6.5 – Conclusões Um projeto de registro e disseminação de Lições Aprendidas fornece informações que ajudam no aumento da eficiência e da produtividade da homologação de software da DAdM e no comprometimento dos colaboradores, estando de acordo com os objetivos da Marinha. Este projeto ajuda também na melhoria de um ambiente propício a um programa mais abrangente de Gestão do Conhecimento, uma vez que cria condições para que possa se enraizar e tornar-se permanente. Contudo, deve-se evitar “queimar etapas”, tomando cuidado para não se confundir tropeços com velocidade. Verificamos que implantar processos e ferramentas baseados apenas em TI pode ser um grande equívoco e não qualifica uma organização como orientada para o conhecimento e aprendizado contínuo. As pessoas também são essenciais para o sucesso de qualquer programa de Gestão do Conhecimento. Uma ferramenta “on line” com processos bem desenhados não garante de forma alguma o uso e a disseminação de conhecimento e o seu compartilhamento entre os colaboradores. O interesse dos colaboradores em adquirir conhecimento e o interesse dos detentores de conhecimento em compartilhá-lo não depende de qualquer estratégia de TI. Gestão do Conhecimento é também mudança e transformação da cultura organizacional. É fundamental o alinhamento das estratégias de Gestão do Conhecimento com os objetivos da organização, além do engajamento dos gestores para que a iniciativa obtenha sucesso. Este trabalho pode ser útil na revisão bibliográfica, na aplicação de ferramentas como Análise SWOT, Mapa de Valor e Matriz GUT, e como inspiração ou ponto de partida para outros trabalhos acadêmicos que explorem a Gestão de Mudanças para apoiar a implantação de projetos de Gestão de Conhecimento. Cabe ressaltar, entretanto, que durante a revisão sobre a Gestão de Mudanças não foi possível identificar um modelo completo e totalmente aplicável ao caso prático, destacando-se as seguintes ações complementares: • Criação de uma ferramenta de diagnóstico e priorização; • Detalhamento da atividade de ativação (adaptação com Plano de Comunicação); • Integração do modelo de JOHANN (2004) com a Curva de Mudança (DUCK, 2001) para melhor definir o início de cada fase / atividade; e • Busca por fatores motivacionais para vencer as barreiras identificadas nas fases / atividades do modelo. 81 Referências Bibliográficas ALLEE, V., 2002, “Reconfiguring the Value Network”, Journal of Business Strategy, v. 21, n. 4, Jul-Aug. Disponível em: http://www.vernaallee.com. Acesso em: fev. 2006. ALMEIDA, R. T., 2005, “Introdução de Práticas de Reflexão para a Coleta de Lições Aprendidas em Projetos de Software”. Seminário de Pesquisa SPQ 2005.1, MGCTI/UCB, Brasília, DF, Brasil. ANDRADE, E. P., TOMAZ, L. 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