ISOLAMENTO E PURIFICAÇÃO DE COMPLEXOS ATIVOS Ariane Chimin Diante de muitos estudos validados cientificamente, várias espécies vegetais apresentaram expressivas atividades farmacológicas. Dentro desses estudos, estão os processos de fracionamento de extratos vegetais com o isolamento de substâncias ativas. Para o isolamento de compostos consideravelmente de maior interesse utiliza-se, atualmente, a cromatografia líquida de alta eficiência acoplada a espectrofotômetro de ultravioleta e espectrômetro de massas ou de ressonância magnética nuclear. Este resultado é dado em função dos dados espectrais obtidos.1 Mas também, podem ser utilizados outros métodos para o isolamento de complexos ativos, como a cristalização fracionada, sublimação, destilação fracionada, destilação pelo vapor de água sobreaquecido, filtração por géis, eletrodiálise, e eletroforese. 2 1. PARTIÇÃO POR SOLVENTES O fracionamento de um extrato vegetal pode ser iniciado através da partição por solventes orgânicos de polaridade crescente ou através da partição ácido-base. A partição envolve uma dissolução seletiva e distribuição entre as fases de dois solventes imiscíveis. Esse fenômeno pode ser aplicado visando à separação de componentes de uma mistura. Cada substância apresenta um coeficiente de partição ou distribuição, o qual está relacionado com a concentração de cada um dos componentes em cada fase. Quando o volume total de solvente utilizado na partição é dividido em partes, obtêm-se melhores rendimentos de extração. Neste método de extração líquido/líquido é utilizado um funil de separação.1 2. MÉTODOS CROMATOGRÁFICOS Os métodos cromatográficos são os mais utilizados atualmente nos processos de separação e isolamento de compostos ativos, mas podem servir também para identificar e analisar misturas (cromatografia preparativa) e substâncias isoladas (cromatografia analítica). A fase estacionária pode estar empacotada em coluna (aberta ou fechada) ou compor uma superfície plana, como na cromatografia em papel e cromatografia em camada delgada. Em geral, a técnica cromatográfica compreende as seguintes etapas: - montagem da coluna ou placa: disposição correta da fase estacionária ou suporte e preparação da fase móvel; - aplicação da amostra; - desenvolvimento: passagem da fase móvel (solvente) através da fase estacionária; - revelação/visualização: localização das diferentes zonas de separação dos compostos e/ou - extração das substâncias retidas na fase estacionária. De acordo com o processo no qual se baseia a separação dos componentes da mistura a ser analisada, a cromatografia líquida divide-se em quatro espécies: a) cromatografia de partição: separação dos componentes de uma mistura baseada nos seus coeficientes de partição entre dois solventes imiscíveis que formam as fases móvel e estacionária; b) cromatografia de adsorção: a fase estacionária sólida que é constituída por partículas finas de adsorventes polares ou apolares é utilizada para adsorver os componentes da solução analisada, onde o componente que for mais atraído pelo adsorvente será deslocado pela fase móvel de forma mais lenta; c) cromatografia de troca iônica: baseia-se na troca de íons entre a fase móvel e resinas, as quais contém grupos funcionais do tipo ácido sulfônico (resina catiônica ou trocadora de ânions). Então esta cromatografia é aplicada na separação apenas de substâncias contendo grupamentos ionizáveis, como por exemplo, aminoácidos e alcalóides; Exemplo de cromatografia de troca iônica: d) cromatografia de exclusão ou de filtração molecular: é baseada no tamanho das moléculas do soluto que passam através da fase estacionária, a qual é constituída por um gel poroso. Este gel não permite que as moléculas maiores passem pelos poros, e assim, são arrastadas pela fase móvel. Já as moléculas menores, que conseguem atravessar estes poros da fase estacionária são retidas por um tempo mais longo no interior da coluna. Os géis utilizados são derivados do dextrano, conhecido comercialmente como Sephadex. Há várias técnicas de cromatografia líquida, que se diferenciam pelos equipamentos utilizados e pelo tipo de material usado como fase estacionária. A cromatografia gasosa (CG) serve para separar componentes a partir de misturas de compostos voláteis. Obtém-se como resultados, produtos de baixo ponto de ebulição, originados se substâncias não voláteis através de reações químicas com derivados do silano. A combinação com um sistema de espectrometria de massas, é muito útil para separar e identificar estruturas, como por exemplo, componente de óleos voláteis. Exemplo de um espectro de cromatografia gasosa (óleo da canela): A cromatografia líquida em coluna é uma das técnicas mais utilizadas para a separação ou isolamento de constituintes de extratos vegetais; além de ser muito versátil, pois podem ser utilizadas colunas de diferentes tipos e dimensões, assim como combinações de diversas fases móveis e estacionárias. Essa técnica pode ser realizada em colunas de vidro, sob pressão atmosférica, ou com equipamentos especiais que permitem trabalhar com pressões maiores, o que consequentemente aumenta a velocidade e a eficiência do processo de separação. A cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE ou HPLC – High Performance Liquid Chromatography) requer uma pressão alta e fluxo livre de pulsações, pois utiliza colunas contendo o suporte, que é a fase estacionária, formado por partículas extremamente finas (3 a 10 µm), esféricas ou irregulares, homogêneas e densamente compactadas, que oferecem grande resistência ao fluxo da fase móvel. Isto permite que a fase móvel flua a uma velocidade razoável através da coluna, e por este motivo a CLAE é uma técnica mais cara. Utilizando equipamentos mais simples, pode-se trabalhar com pressões inferiores, como na cromatografia líquida a vácuo ou ainda com a cromatografia líquida de média pressão. Os suportes mais empregados são substâncias inorgânicas como gel de sílica e alumina (óxido de alumínio), utilizadas geralmente na separação de compostos lipofílicos. Também se utiliza para suporte materiais orgânicos como celulose, poliamida e géis de dextrano quando se quer a separação de substâncias hidrofílicas, como aminoácidos e açúcares. E ainda, existem os materiais modificados quimicamente, como a celulose acetilada ou gel de sílica substituído por cadeias orgânicas alifáticas de C8 a C18 que também podem ser utilizados como suportes. Separações cromatográficas em que a fase móvel é apolar e a fase estacionária é polar são denominadas de separações em fase normal, enquanto sistemas com fase móvel polar e fase estacionária apolar constituem as separações em fase reversa ou RP (reversed phase). Exemplo de um espectro de HPLC: A cromatografia em camada delgada (CCD) é uma técnica bastante utilizada para análise de extratos vegetais brutos e também para avaliar o resultado de um processo de separação. Ocasionalmente, pode-se utilizar também a CCD para fins preparativos, e nesse caso, com camadas suporte que comportem uma quantidade maior de amostra, então com maior espessura. Há vários tipos de suportes, que podem ser usados tanto de fase normal como reversa, variando com a polaridade dos componentes da amostra a analisar. As placas para CCD podem ser produzidas no próprio laboratório, mas devem facilitar o espalhamento uniforme da suspensão aquosa do suporte sobre as placas de vidro. O método de preparação manual tem a vantagem de ser bastante econômico, mas requer certa prática, e pode ser bastante satisfatório em algumas análises de rotina, principalmente quando os suportes mais comuns. As placas industriais devem estar padronizadas quanto ao tamanho das partículas do suporte, à espessura da camada (0,025 cm para fins analíticos e 0,2cm para fins preparativos) e à ativação do suporte, possibilitando resultados mais reprodutíveis do que com as placas preparadas manualmente. Os suportes podem conter indicadores fluorescentes em 254 nm, com a especificação F254, geralmente sobre base de vidro, celulóide ou alumínio. As duas últimas, além de inquebráveis, possibilitam que se recortem as placas em tamanho menor, se desejado. O desenvolvimento da CCD ocorre em uma cuba fechada, previamente saturada com a fase móvel. A aplicação das amostras nas cromatoplacas é feita a partir de soluções concentradas, onde a aplicação é feita com capilares a uma distância adequada das bordas laterais, inferior, e entre as amostras. Quando se deseja isolar uma substância de uma mistura, CCD preparativa, pode ser utilizado um número maior de placas com a mesma amostra, que é aplicada em linha ou barra.1 Exemplo de cromatografia em camada delgada: 3. CRISTALIZAÇÃO FRACIONADA São feitas cristalizações sucessivas pela evaporação parcial dos solventes, por aquecimentos, ou pelo acréscimo de outros solventes, em pequenos volumes, que sejam miscíveis para diminuir a solubilidade dos compostos analisados. Estes cristais são separados por decantação, filtração ou centrifugação. 2 4. SUBLIMAÇÃO Esta técnica é utilizada para isolar alguns constituintes naturais, como por exemplo, cantaridina, ácido benzóico, compostos antraquinônicos. É pouco utilizada nos métodos extrativos no exame de fármacos, e seu valor reside na purificação de compostos químicos já isolados anteriormente.2 Exemplo de sublimação: 5. DESTILAÇÃO FRACIONADA É utilizada na separação de componentes líquidos, de modo que não haja alterações nas estruturas moleculares pela ação do calor. Então esta técnica é realizada a baixas temperaturas, a pressões reduzidas, e em atmosfera de azoto. Os líquidos são transformados, dessa maneira, em cristais muito fáceis de purificar. É mais usual para misturas de compostos com estruturas análogas, inclusive isômeros espaciais.2 6. DESTILAÇÃO PELO VAPOR DE ÁGUA SOBREAQUECIDO Usado para separar compostos com tensões de vapor elevadas, como ácidos alifáticos de pequenos pesos moleculares, óleos essenciais, alcalóides da cicuta, tabaco.2 7. FILTRAÇÃO POR GÉIS É uma técnica baseada na grandeza das moléculas e na sua capacidade de passagem através de glóbulos de géis muito pequenos (de poliestireno, acetato de vinilo, sílica ou vidro, exceto materiais que determinem fenômenos de adsorção). O glóbulo de vidro é o mais estável. Ao colocar a solução, as macromoléculas conservam-se no topo das colunas, e as que conseguem atravessar, que são as menores, ficam retidas um pouco nos poros do gel, retardando assim a velocidade de escoamento. As maiores são as que aparecem primeiro no líquido afluente, pois passam imediatamente pelas colunas. As fases móveis são líquidos de pequena viscosidade capazes de dissolver as substâncias que devem ser separadas. Alguns exemplos são a água, tolueno, benzeno, clorofórmio. Este método não tem utilidade quando os compostos forem análogos, pois as substâncias são separadas pelos diferentes pesos moleculares.2 8. ELETRODIÁLISE Esta técnica é importante na extração e purificação de substâncias ionizáveis, porém não se pode dizer que é um método de isolamento. Utiliza membranas semipermeáveis que separam as tinas contendo os eletrodos e o eletrólito, e a solução analisada é colocada na tina conveniente. É usada uma corrente contínua, de intensidade fraca, a fim de aumentar a velocidade da diálise, que em geral leva algumas horas. 9. ELETROFORESE É semelhante à cromatografia em papel, embora os princípios sejam diferentes. Folhas de papel dispostas verticalmente são percorridas por um eletrólito ininterruptamente, e o campo elétrico fica estabelecido entre os eletrodos dispostos lateralmente. São recolhidas diferentes frações na extremidade das folhas de papel. É empregado na análise de macromoléculas dos prótidos, sobre diversos suportes.2 Exemplo de eletroforese: VERIFICAÇÃO DA PUREZA DA AMOSTRA As farmacopéias estabelecem genericamente, valores de quaisquer fatores que possam interferir na pureza de uma droga vegetal. São analisados critérios como a presença de elementos estranhos à droga, teor de umidade, contaminação microbiológica e parasitária, resíduos de pesticidas e de metais pesados. 1 A pureza das substâncias isoladas também pode ser determinada analisando suas propriedades físico-químicas como, ponto de fusão e de ebulição, índice de refração e de polarização, infravermelho, ultravioleta e cromatogramas. 2 - Pesquisa de elementos estranhos Algumas impurezas estão frequentemente presentes em drogas vegetais, que podem ser órgãos da própria planta, diferentes do farmacógeno, como por exemplo, restos de caules em flores de camomila; fragmentos de outras plantas, como gramíneas e ervas daninhas; ou materiais de outra origem, como areia ou terra em raízes e caules, mesmo quando são cultivadas e tratadas adequadamente. São fatores considerados impurezas desde que não caracterizem falsificação ou adulteração do material. A Farmacopéia Brasileira (1988) inclui ainda, como impurezas, a presença de fungos, insetos e outros materiais contaminantes. A OMS (WHO, 1992) acrescenta que os materiais devem estar livres de organismos patogênicos. As Farmacopéias Alemã e Britânica incluem, ainda, outras impurezas de origem animal. A Farmacopéia Brasileira (1988) e, também, a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1992), classificam os elementos estranhos em três grupos: a) partes do organismo ou organismos dos quais a droga deriva, acima do limite de tolerância especificado na monografia, com exceção daqueles incluídos na definição e descrição da droga; b) quaisquer organismos, porções ou produtos de organismos além daqueles especificados na definição e descrição da droga em sua respectiva monografia; c) impurezas de natureza mineral não inerentes à droga, tais como pedras, areia ou terra. Para as Farmacopéias Alemã e Britânica são considerados elementos estranhos: a) partes da planta, que não correspondam ao farmacógeno descrito na monografia farmacopéica; b) partes de outras plantas ou elementos de origem mineral. A quantidade de amostra a ser analisada é estabelecida de acordo com a granulometria ou o tipo de farmacógeno empregado. A amostra é inicialmente pesada (geralmente entre 100 e 500g), separando-se através de exame visual, inicialmente sem auxílio de lupa e, posteriormente, empregando uma lente de aumento (6x), os elementos estranhos. O percentual de elementos estranhos não deve exceder a 2% (m/m), a não ser quando especificado diferentemente na monografia.1 - Pesquisa de constituintes químicos indesejáveis A verificação da presença de constituintes químicos vegetais indesejáveis é preconizada em algumas monografias farmacopéicas como um dos critérios de pureza da amostra. Na análise de frutos de erva-doce (Pimpinella anisum L.), é indicada a realização da reação com hidróxido de potássio e verificação do desprendimento de odor desagradável (de urina de rato), o qual caracteriza a presença de coniina, um alcalóide tóxico presente em frutos de cicuta (Conium maculatum L.), os quais já foram encontrados como contaminantes de amostras de erva-doce. Erva-doce Cicuta As cascas frescas de cáscara-sagrada (Rhamnus purshiana DC.) possuem, predominantemente, antronas e diantronas na forma reduzida, as quais podem causar irritação da mucosa gástrica, vômitos, cólicas e diarréia sanguinolenta. É preconizada a secagem das cascas em corrente de ar quente ou o seu armazenamento por um ano antes do uso, pois estes procedimentos permitem a oxidação destes compostos. Portanto, na análise de amostras de cáscara-sagrada, a presença de antronas indica que o material ainda não está adequado para o uso. Cáscara As aflatoxinas são substâncias tóxicas produzidas pelo fungo Aspergillus flavus, sendo recomendado, com ênfase para drogas oleaginosas, a análise dessas substâncias, paralelamente com a verificação da contaminação por microrganismos, através de metodologia por CCD para a determinação da presença de aflatoxinas. Aspergillus flavus A pesquisa de substâncias químicas indesejáveis pode ser realizada através de reações químicas de caracterização ou por métodos cromatográficos. A Farmacopéia Alemã (1991) indica a CCD como método de determinação da pureza em várias monografias.1 - Determinação do teor de cinzas Impurezas inorgânicas não-voláteis podem estar presentes nas amostras, o que significa que as mesmas estão contaminadas. Para a pesquisa dessas impurezas, determina-se o teor de cinzas. O material é colocado em cadinho de porcelana ou de platina e quantitativamente incinerado, até peso constante. Frequentemente é preconizado o tratamento prévio da amostra com ácido sulfúrico (cinzas sulfatadas), o que aumenta a reprodutibilidade do método, sendo então, o mais indicado para drogas vegetais. Esses ensaios são realizados em triplicata, e as técnicas são detalhadamente descritas nas Farmacopéias. Recomenda-se no caso de farmacógenos, a determinação das cinzas insolúveis em ácido clorídrico, permitindo, por exemplo, a verificação de contaminantes como resíduo de terra ou areia em raízes. Para essa análise podem ser utilizadas também as metodologias de cinzas sulfatadas ou de cinzas não tratadas.1 - Determinação do teor de umidade O desenvolvimento de microrganismos em matérias-primas vegetais pode ser originário do excesso de umidade das mesmas, pois essa umidade permite a ação de enzimas que degradam os constituem químicos vegetais. O teor de umidade estabelecido nas diferentes farmacopéias varia entre 8 e 14%, com poucas exceções especificadas nas monografias. Podem ser utilizados vários métodos. A Farmacopéia Brasileira (1988) preconiza os métodos gravimétricos, da destilação azeotrópica e volumétrico (Karl Fischer). O método gravimétrico, também descrito nas Farmacopéias Britânica e Alemã e pela OMS, é mais adequadamente denominado perda por dessecação. No método gravimétrico determina-se o percentual de material volatilizado após a dessecação, caracterizado assim como de simples execução. No caso de plantas contendo, por exemplo, elevado teor de óleo volátil, o percentual de perda de massa poderá ser consideravelmente maior. É recomendada a utilização de 2 a 5g de material rasurado (no máximo 3 mm; frutos, mesmo de dimensões inferiores, devem ser rasurados ou quebrados), secagem em estufa entre 100 a 105ºC por 5h e resfriamento, em dessecador, por 1h, porém a técnica pode variar de uma farmacopéia para outra. O ciclo de aquecimento-resfriamento é repetido até peso constante ou até que a diferença entre duas pesagens sucessivas não exceda a 5mg. Como alternativa, podem ser empregadas balanças acopladas à sistema de secagem por irradiação infravermelha. Ainda há outra técnica farmacopéica que prescreve a manutenção do material vegetal em dessecador, sob pentóxido de fósforo, à pressão atmosférica e temperatura ambiente, utilizada geralmente para drogas contendo resinas ou substâncias voláteis que sofrem alteração do estado físico de 100 a 105ºC, originando uma massa disforme após a secagem em estufa. Também pode ser recomendado processos sob pressão reduzida. A quantidade de água presente no vegetal pode ser determinada pelo método de destilação azeotrópica, onde o material é destilado juntamente com tolueno ou xileno. É utilizada uma aparelhagem específica, variando o modelo de acordo com a Farmacopéia. Lou (1980) apresenta uma tabela comparativa entre os modelos apresentados nas Farmacopéias Americana, Chinesa, Européia, da Alemanha Oriental e Rússia, concluindo que os modelos das Farmacopéias Européia e da Alemanha Oriental apresentam o melhor desenho. A Farmacopéia Brasileira, 4ª edição, preconiza o aparelho proposto por Dean e Stark. A técnica consiste em destilar, inicialmente, 200ml de tolueno saturado com água, adicionado de 2ml de água, por 2h. Após o resfriamento, faz-se a medida do volume de água destilada. A seguir, adiciona-se material vegetal a ser analisado e alguns fragmentos de material inerte poroso, aquecendo-se brandamente por 15 min. Destila-se a um fluxo determinado. Após o término da destilação da água, lava-se o condensador com tolueno e destila-se por mais 5 min. Ao final do procedimento há a separação das fases e o volume de água é medido no tubo coletor, desconta-se o volume inicial e calcula-se o percentual de água na amostra.1 - Pesquisa de contaminantes microbiológicos Fungos e bactérias, geralmente provenientes do solo, pertencentes à microflora natural de certas plantas podem estar presentes na drogas vegetais ou podem ser até mesmo introduzidas durante a manipulação. Dependendo das condições de manuseio, secagem e armazenamento, a contaminação pode se intensificar pelo desenvolvimento de microrganismos viáveis. A determinação dos limites de toleráveis é discutida por vários países, sendo freqüentemente aceitos os valores estabelecidos para alimentos. A Farmacopéia Européia estabelece para as drogas vegetais os seguintes critérios: a) drogas que serão submetidas a tratamento que pode conduzir a uma redução do número de microrganismos, antes do uso, como por exemplo, com água fervente: Microrganismos aeróbios ≤ 107 bactérias aeróbias viáveis (totais) ≤ 105 fungos /g ou /ml Escherichia coli ≤ 102 /g ou /ml b) Outras preparações vegetais: Microrganismos aeróbios ≤ 105 bactérias aeróbias viáveis (totais) ≤ 104 fungos /g ou /ml Enterobactérias e outras ≤ 103 /g ou /ml bactérias gram-negativas Ausência de Escherichia 1g ou 1ml coli Ausência de Salmonella 10g ou 10ml A Farmacopéia Brasileira não estabelece limites específicos para drogas vegetais, sendo detalhadamente descritos os métodos de filtração por membrana, contagem em placa ou em tubos múltiplos, aplicáveis à contagem de microrganismos viáveis em produtos que não necessitam cumprir com o teste de esterilidade. A Organização Mundial da Saúde também diferencia limites, de acordo com o destino do material, apresentando alguns valores diferentes da Farmacopéia Européia. As técnicas de determinação da carga microbiana estão descritas na publicação da Organização Mundial da Saúde, bem como nas farmacopéias.1 - Pesquisa de agrotóxicos ou pesticidas Neste grupo são considerados diferentes produtos empregados no combate a organismos danosos às plantas, como: raticidas (contra ratos, camundongos e outros roedores); inseticidas (contra vários insetos e alguns artrópodos); herbicidas (contra ervas indesejáveis) e fungicidas (contra os diferentes tipos de fungos). O grupo químico das substâncias é o que determina qual a técnica de análise a ser utilizada. Segundo a estrutura ou composição química, a OMS apresenta a classificação das substâncias mais freqüentemente empregadas (hidrocarbonetos clorados e agrotóxicos correlatos, derivados clorados do ácido fenoxiacético, organofosforados, carbamatos, ditiocarbamatos, inorgânicos, de origem vegetal e outros). A contaminação acidental de plantas silvestres que crescem em áreas próximas à cultivo agrícola intensivo, o emprego impróprio dessas substâncias em culturas de plantas medicinais ou o tratamento inadequado das drogas armazenadas, são grandes fatores para a presença de agrotóxicos nas drogas vegetais. Entre os diversos produtos, os hidrocarbonetos clorados e alguns organofosforados possuem ação residual prolongada, os demais possuem, geralmente, uma ação residual muito curta. Portanto, a OMS recomenda, principalmente no caso de matérias-primas de origem duvidosa, a realização de testes para a verificação da presença ou quantificação de organoclorados. Os limites toleráveis de agrotóxicos, semelhantemente à contaminação microbiana, também estão diretamente relacionados às regulamentações para alimentos. Porém considerando que as plantas medicinais geralmente sofrem algum tipo de processamento, como a extração, estes limites podem ser diferentes. Ali (1987) estudou o teor de pesticidas organoclorados em 45 lotes de 15 espécies e demonstrou que os chás preparados a partir dessas drogas continham entre 3 e 67% do teor do agrotóxico encontrado no material de partida. Em 90% das drogas o teor encontrado no chá foi inferior a 25% do teor original. Schilcher et. Al. (1987) demonstraram que, dependendo das características do agrotóxico, bem como do tipo de extração e solvente extrator, o percentual extraído pode variar, por exemplo, de 1% (p,p-DDT em extrato aquoso) a 89% (HCH em um extrato diclorometano) do teor encontrado na droga. Outros estudos realizados mostram que muitas preparações medicinais de origem vegetal são empregadas por períodos prolongados, então é recomendado o estabelecimento de limites específicos para plantas medicinais, a partir das determinações da FAO (Food and Agriculture Organization) e a OMS. A Farmacopéia Européia define limites máximos toleráveis para 34 pesticidas em drogas vegetais. No Brasil, como existem parâmetros específicos para drogas vegetais, podem ser utilizados, como orientação, os critérios contidos na relação de substâncias com ação tóxica sobre animais e plantas, cujo registro pode ser autorizado no Brasil, em atividades agropecuárias e produtos domissanitários, publicada originalmente através da Portaria 10/SVS de 08/03/85, D.O.U. de 14/03/85, e reatualizada constantemente pelo Ministério da Saúde ou na Portaria 685/SVS de 27/08/98, republicada em 24/09/98, que determina os princípios gerais para o estabelecimento de níveis máximos de contaminantes químicos em alimentos. Do ponto de vista analítico, esses ensaios são relativamente complexos, devido à grande variedade de substâncias, bem como a sua instabilidade e as pequenas quantidades a serem detectadas. O conhecimento da origem geográfica do plantio ou a da coleta pode auxiliar no estabelecimento dos possíveis agentes empregados. Geralmente são empregados métodos cromatográficos, especialmente cromatografia gasosa (CG) e cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE). O assunto é discutido detalhadamente em documentos da OMS, com diversas técnicas de análise, assim como outras publicações específicas.1 - Pesquisa de metais pesados A presença de metais pesados em plantas medicinais pode ser decorrente de fatores como poluentes ambientais ou resíduos de agrotóxicos. Estudos realizados na Alemanha demonstraram que plantas silvestres apresentaram variações nos teores de contaminação, especialmente por chumbo, maiores do que as plantas cultivadas. Em análise farmacêutica, o termo “metal pesado” tem sido utilizado para descrever, principalmente, o chumbo, o arsênio, o cádmio, o cobre e o mercúrio, elementos cuja ingestão deve ser restrita devido a seus efeitos tóxicos. Há divergências no estabelecimento de limites de tolerância para esses elementos em plantas medicinais nas legislações. Algumas consideram adequados os limites determinados para alimentos, outras, no entanto, entendem que as drogas vegetais devem seguir os mesmos critérios fixados para as demais matérias-primas farmacêuticas e medicamentos. Estudos da FAO/WHO estabeleceram como tolerável a ingestão semanal de, no máximo, 3000µg de chumbo ou 500µg de Pb/dia, juntamente com a alimentação e água. Admitindo que 20% desse total (100µg de Pb/dia) poderia advir na ingestão de medicamentos, Hartke (1986) apresenta uma tabela relacionando a dose diária de medicamento, com o limite máximo de Pb. Sendo assim, o limite deve ser mais rigoroso quanto maior a dose diária ingerida. Correlação entre a ingestão diária de medicamento e o limite máximo de Pb Ingestão diária do Dose diária máxima de Pb Limite máximo para o medicamento teor de Pb 100g 100g 1 ppm 10g 50g 5 ppm 1g 25g 25 ppm 0,1g 10g 100 ppm 0,01g 1g 1000 ppm No caso das plantas medicinais, os procedimentos usuais de extração de drogas vegetais são capazes de extrair percentuais que variam de 3% a 48% do teor de metais pesados presentes na droga. E em alguns casos, existem possibilidades tecnológicas que permitem a descontaminação do vegetal. Segundo Schilcher et al. (1987), os métodos de análise farmacopéica tradicionais, baseados nos ensaios-limite, não são seletivos para metais pesados específicos, e ainda apresentam pouca sensibilidade e baixa precisão. Os autores preconizam como metodologias adequadas a espectrofotometria de absorção atômica, espectrometria de emissão atômica ou voltometria inversa.1 REFERÊNCIAS: 1- SIMÕES, C. M. O. et al. FARMACOGNOSIA da planta ao medicamento. 1ed. pag. 173 – 215. Florianópolis / Porto Alegre: UFSC / UFRGS, 1999. 2- COSTA, A. F. Farmacognosia. Vol. II. 4 ed. Pág. 1063 – 1075. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994. - Disponível em: http://www.geocities.com/rainforest/2038/diversos/metais2.jpg Acesso em: 06/05/2006 - Disponível em: http://www.elsalvador.com/guanicidas Acesso em: 06/05/2006 - Disponível em: http://jata.vampula.net/kasvio/html/myrkkykeiso.htm Acesso em: 06/05/2006 - Disponível em: http://www.folkpartiet.se/upload/bilder/illustrationer/planta.jpg Acesso em: 06/05/2006 - Disponível em: http://licitação.uol.com.br/img/comprimido.jpg Acesso em: 06/05/2005 - Disponível em: http://www.ual.es/investigacion/purifi6.gif Acesso em: 13/05/2005 - Disponível em: http://www.chem.wky.edu/research/lynn/HPLC.jpg Acesso em: 13/05/2005 - Disponível em: http://www.consciencia.net/agrotoxicos Acesso em: 13/05/2005 - Disponível em: http://www.com.univ-mrs.fr/images/hplc.jpg Acesso em: 13/05/2005 - Disponível em: http://www.ciencianews.com.br/eletroforese.jpg Acesso em: 13/05/2005 - Disponível em: http://www.sbq.org.br/PN-NET/images/canecro.gif Acesso em: 13/05/2005 - Disponível em: http://www.scielo.br/img Acesso em: 13/05/2005 - Disponível em: http://www.labfa.com.br/images/figura.gif Acesso em: 13/05/2005 - Disponível em: http://feiradeciencias.com/dpquim/fc6.gif Acesso em: 13/05/2005 - Disponível em: http://www.prof2000.pt/users/anitsirc Acesso em: 13/05/2005