XI Encontro da SBQ-Rio de Janeiro Universidade Federal Fluminense, 29 a 31 de outubro de 2007 XI ENCONTRO DA SBQ-RIO DE JANEIRO P19 Composição e dosagem das aguardentes de cana, laranja e uva. Renato Pereira Ribeiro (IC), Aline Guerra Manssour Fraga (PQ) Instituto de Química, Universidade Federal Fluminense, Campus do Valonguinho, 24020-005, Niterói, RJ. [email protected] ; [email protected] Introdução e objetivos As bebidas obtidas por destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar, como a aguardente de cana, caninha ou cachaça, devem seguir alguns padrões de qualidade importantes para o consumo. Segundo estatísticas oficiais, a produção de aguardente no Brasil ultrapassa a marca de 1 bilhão de litros por ano.¹ De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, “Brandy” ou aguardente de fruta é a bebida com graduação alcoólica de 36 a 54% em volume a 20ºC, obtida do destilado alcoólico simples de fruta ou do mosto fermentado de fruta.² A aguardente de cana é a bebida com graduação alcoólica de 38 a 54% em volume a 20ºC, obtida do destilado alcoólico simples de cana-de-açúcar ou pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar, podendo ser adicionada de açúcares até 6g/L.³ A fermentação dos mostos de canade-açúcar, laranja e uva produzem, além de álcool etílico, seu principal produto, vários outros componentes chamados secundários, como os aldeídos, metanol, álcoois superiores, ácidos, ésteres, cetonas, fenóis, 4 mercaptanas, entre outros. Apesar da pequena quantidade dessas substâncias, em relação à água e ao etanol, elas são determinantes na caracterização do “flavour”, que é definido como sendo a mistura das sensações de aroma e sabor 5 e tem grande influência sobre a qualidade das aguardentes. O projeto realizado visa à elaboração de uma nova alternativa para as disciplinas experimentais de Química Orgânica, tendo como objetivo principal a avaliação da composição e dosagem das aguardentes de cana, laranja e uva, empregando metodologia viável para realização em laboratório, facilitando-se assim a compreensão e o entendimento do assunto abordado. Resultados e Discussão Tabela 1: Destilação simples da cachaça. Volume Temperatura Massa Densidade (mL) (°C) (g) (g/mL) ---1ª gota 79 ---10 80 8,31 0,831 20 80 8,20 0,820 30 80 8,18 0,818 40 81 8,05 0,805 50 81 8,26 0,826 60 81 8,34 0,834 70 81 8,40 0,840 80 81 8,06 0,806 90 82 8,72 0,872 100 82 7,93 0,793 Tabela 2: Destilação fracionada da cachaça. Volume Temperatura Massa Densidade (mL) (°C) (g) (g/mL) 1ª gota 80 ------10 80 7,80 0,780 20 80 8,12 0,812 30 82 7,77 0,777 40 82 7,60 0,760 50 82 7,77 0,777 60 82 8,15 0,815 70 82 8,00 0,800 80 82 7,78 0,778 90 82 8,27 0,827 100 84 8,26 0,826 De acordo com as tabelas 1 e 2, podemos observar que a destilação fracionada é a técnica de destilação mais eficiente para a separação do etanol da cachaça, devido ao seu maior poder de separação. Uma XI Encontro da SBQ-Rio de Janeiro Universidade Federal Fluminense, 29 a 31 de outubro de 2007 destilação fracionada é composta por várias destilações simples. Essa separação é dificultada pelo fato de o etanol formar um azeótropo de mínimo com a água, ou seja, misturas binárias que não podem ser separadas uma das outras por uma destilação, devido a forças de superfície. Assim, a mistura azeotrópica de mínimo (etanol / água) na proporção de 5:95, destila a uma temperatura abaixo do ponto de ebulição do líquido mais volátil, onde cerca de 20% da mistura não consegue ser separada. Mistura Azeotrópica Composição PE Azeotrópica Azeotrópica (%) (°C) Água 100 5 78,15 etanol 78,3 95 Tabela 3: Mistura Azeotrópica. de separação e purificação de substâncias orgânicas presentes nas aguardentes de cana, laranja e uva, como: as destilações simples e fracionada. A submissão dos produtos originados destes procedimentos à técnicas de identificação trivial mostrou-se como uma nova abordagem para as disciplinas de Química Orgânica Experimental. Essa abordagem coloca o aluno a contextualizar experimentos ou procedimentos laboratoriais com temas atuais do cotidiano o que torna a disciplina mais desafiadora e interessante. PE (°C) Foram feitas, logo após a destilação a identificação do álcool primário (etanol), através de testes químicos convencionais, como: Teste de Jones e Teste de Lucas. O Teste de Jones baseia-se na oxidação de álcoois primários e secundários a ácidos carboxílicos e cetonas, respectivamente pelo ácido crômico. A oxidação é acompanhada pela formação de um precipitado verde de sulfato crômico. O Teste de Jones também dá resultado positivo para aldeídos e/ou fenóis. O Teste de Lucas é a reação de álcoois com solução de ácido clorídrico e cloreto de zinco, com a formação de cloreto de alquila. Esse teste é indicado somente para álcoois solúveis em água, onde os álcoois primários não reagem. Conclusão Conclui-se que a metodologia escolhida para o desenvolvimento deste projeto consistiu-se na aplicação de técnicas comuns Referências bibliográficas 1. 2. AMORIN, H.V. Introdução à bioquímica da fermentação alcoólica. Araras: Planalsucar, 1977. 95 p. BRASIL. Decreto n. 2.314, de 4 de set. de 1997. Dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Brasília, cap. IV, Seção IV, Art. 96a. 1997a. 3. BRASIL. Decreto n. 2.314, de 4 de set. de 1997. Dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Brasília, cap. IV, Seção IV, Art. 91b. 1997b. 4. MAIA, A. B. R. A. Componentes secundários da aguardente. Stab Açúcar, Álcool e Subprodutos, [S.1.], v. 12, n. 6, p. 29-33, 1994. 5. STEVENS, R. Beer Flavour: I. volatile products of fermentation: a review. Journal of the Institute of Brewing, Brewing, v. 66, p. 456-471, 1960.