1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: vínculos paradigmáticos e questões práticas Biguaçu 2007 2 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: vínculos paradigmáticos e questões práticas Dissertação apresentada como requisito para a obtenção do Título de Mestre em Administração na Universidade do Vale do Itajaí no Programa de Mestrado Acadêmico em Administração do Centro de Educação Biguaçu. Orientadora: Prof. Dra. Christiane Kleinübing Godoi Biguaçu 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS vínculos paradigmáticos e questões práticas. Esta dissertação foi julgada adequada para obtenção do título de Mestre em administração e aprovada pelo Programa de Mestrado Acadêmico em Administração e Turismo da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Biguaçu. Biguaçu, 19 de dezembro de 2007. _________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Ricardo Rosseto Coordenador _________________________________________________ Prof. Dra. Christiane Kleinubing Godoi Orientadora _________________________________________________ Prof. Dr. Sérgio Luiz Boeira Avaliador Interno _________________________________________________ Prof. Dr. Rodrigo Bandeira-de-Mello Avaliador Interno _________________________________________________ Prof. Dra. Simone Ghisi Feuerschutte Avaliadora Externa 4 A felicidade do homem depende da sua disposição e de aceitar a luta. Da sua determinação de não aceitar nunca a derrota. Da sua capacidade de enfrentar a adversidade firmemente disposto, e não se deixar abater. Da sua tenacidade de perseguir o objetivo traçado. Da sua disposição de manter-se livre a qualquer custo. 5 Aos meus pais, Jane e Géu. Às minhas filhas, Bianca e Camila. 6 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente e de forma extremamente especial aos meus pais, Jane e Géu, por todo o carinho e dedicação, por acreditarem e confiarem em mim, por cuidarem das minhas filhas sempre que foi preciso e por investirem em mim. Sem eles não teria existido o mestrado. As minhas filhas, Bianca e Camila, pela “tentativa” de compreensão desse mundo acadêmico, que nos prende ao computador enquanto o sol está lindo. Agradeço as minhas irmãs, Raquel e Letícia, por me darem força pra crescer profissionalmente e emocionalmente trocando idéias e criando filhos. Agradeço também a minha avó querida “Bisa”, pois sempre acreditou em mim e me ajudou muito. Ao meu avô Aldo (in memoriam), pois sei que está de alguma forma presente. A minha orientadora Christiane Kleinübing Godoi por todos os conhecimentos e experiências repassados a mim, e por acreditar que tudo isso seria possível. Espero ainda aprender muito contigo. Aos meus amigos Fran e Lucas pelo apoio essencial para minha conclusão. As amigas Lena, Déia e Danny. Ao meu namorado Cidral. Aos professores Rossetto, Lorena, Simone Ghisi., MDK, Marco Dias, Lu Imeton, Boeing, Rose, RBM, Silvana Dal, Marilize, Anselmo, Rosane, Elaine, Sérgio, Cláudia e Jucelino. Aos meus gatos Espoleta e Mini Pink (in memoriam), que nunca me deixam só 7 RESUMO Com a intenção de incitar a reflexão acerca de aspectos paradigmáticos e epistemológicos em estudos organizacionais, este estudo teórico buscou compreender as possibilidades de confluência entre os paradigmas pósmodernos propostos por Lincoln e Guba (2006) – positivismo, pós-positivismo, teoria crítica, construtivismo e participativo - e as estratégias de pesquisa empíricas utilizadas nos estudos organizacionais (experimental, survey, estudo de caso, historiografia, etnografia, grounded theory e pesquisa-açâo). Para compreender a existência de uma confluência paradigmática, este estudo se baseou em sete questões práticas também propostas por Lincoln e Guba (2006). As sete questões (axiologia; acomodação e comensurabilidade; ação; controle; fundamentos da verdade; validade e voz, reflexividade e representação pós-moderna) são consideradas as mais controversas e, por este motivo, com poder de geração de diálogo e reflexão. Através da análise do posicionamento das estratégias de pesquisa com as questões práticas foi possível elaborar uma provável vinculação paradigmática das estratégias de pesquisa analisadas aos paradigmas pós-modernos. Para alcançar este objetivo utilizou-se a estratégia de pesquisa bibliográfica a fim de justificar teoricamente as questões analisadas e a vinculação aos paradigmas. Como conclusão pode-se identificar pouca confluência entre os paradigmas considerados quantitativos (positivismo e pós-positivismo) e os paradigmas qualitativos (teoria crítica, construtivismo e participativo) provavelmente pela dicotomia quali-quantitativa. PALAVRAS-CHAVE: Estratégia de pesquisa; paradigmas; questões práticas. 8 ABSTRACT With the aim of stimulating reflection on paradigmatic and epistemological aspects in organizational studies, this theoretical study seeks to understand the possibilities of convergence between the postmodern paradigms proposed by Lincoln and Guba (2006) - positivism, post-positivism, critical, constructivist and participatory theories - and the empirical research strategies used in organizational studies (experimental, survey, case study, historiography, ethnography, grounded theory and participatory action research). To understand the existence of a convergence of paradigms, this study is based on seven practical inquiries, also proposed by Lincoln and Guba (2006). These seven practical inquiries (axiology; accommodation and commensurability; action; control; foundations of truth; validity and voice, reflectivity and postmodern representation) are considered very controversial, and for this reason, the ones with the power to generate dialogue and reflection. Through an analysis of the positioning of the research strategies in relation to the practical inquiries, it was possible to identify a probable convergence of paradigms between the research strategies analyzed and the post-modern paradigms. To achieve this objective, a bibliographical review was carried out, to give theoretical support to the inquiries analyzed, and the linking of paradigms. In conclusion, little convergence is identified between the paradigms considered quantitative (positivism and post-positivism) and those considered qualitative (critical and participatory theories, and constructivism). KEY WORDS: Research strategy; paradigms; practical questions. 9 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Os paradigmas pós-modernos................................................ 55 Quadro 2: As questões práticas............................................................... 62 Quadro 3: As questões práticas atuais selecionadas para este 71 estudo....................................................................... Quadro 4: Resultados do posicionamento das estratégias de pesquisa 94 quanto às questões práticas selecionadas............................. Quadro 5: Resultado da vinculação paradigmática das estratégias 96 empíricas utilizadas em estudos organizacionais................... 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 11 1.1 Problema de pesquisa.............................................................................. 17 1.2 Objetivos do estudo.................................................................................. 17 1.3 Metodologia.............................................................................................. 18 2 2.1 AS ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EMPÍRICAS UTILIZADAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS............................................................. A estratégia de estudo de caso................................................................ 2.2 A estratégia de pesquisa etnográfica....................................................... 25 2.3 A estratégia de pesquisa historiográfica.................................................. 31 2.4 A estratégia de pesquisa-ação................................................................. 34 2.4 A estratégia de pesquisa grounded theory .............................................. 36 2.5 A estratégia de pesquisa survey.............................................................. 40 2.6 A estratégia de pesquisa experimental..................................................... 42 3 4 DESCRIÇÃO DOS PARADIGMAS E SUA RELAÇÃO COM AS QUESTOES PRÁTICAS........................................................................... DISCUSSÂO DAS QUESTÕES PRÁTICAS SELECIONADAS.............. 4.1 As questões selecionadas para este estudo............................................ 65 5 70 5.1 O POSICIONAMENTO DAS ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EMPÍRICAS QUANTO ÁS QUESTÕES PRÁTICAS SELECIONADAS E UMA POSSÍVEL VINCULAÇÃO PARADIGMÁTICA.......................... A questão da “Acomodação e Comensurabilidade”................................. 73 5.2 A questão da “Ação”................................................................................. 77 5.3 A questão do “Controle”........................................................................... 80 5.4 A questão dos “Fundamentos da Verdade e do Conhecimento”............ 82 5.5 A questão da “Ampliação das Considerações sobre a Validade”............ 85 5.6 A questão da “Voz, Reflexividade e Representações Textuais Pósmodernas”................................................................................................. CONCLUSÕES......................................................................................... 6 21 21 44 59 89 99 REFERÊNCIAS........................................................................................ 102 11 1 INTRODUÇÃO Os estudos organizacionais tratam do esforço de compreensão do mundo social que nós habitamos. Ele não é um sistema fechado de estudo, como a lógica ou a matemática (STABLEIN, 20001). É uma área de estudo interdisciplinar, e de longa data beneficiários e devedores do conhecimento de outras áreas (FREITAS, 2005). Os estudiosos das organizações têm se mostrado receptivos às áreas de conhecimento, como a sociologia, a psicologia e a antropologia, inclusive compondo teorias destas outras ciências (CAVEDON; LENGLER, 2005). Além do mais, os estudos organizacionais tem se utilizado dos métodos de pesquisa destas outras disciplinas, apesar de Deshaies (1992) acreditar que um método não pode ser intermutável de uma disciplina para outra, os estudos organizacionais utilizam métodos advindos de outras disciplinas como uma forma de alcançar novos conhecimentos. Sendo assim, não é possível negar a interdisciplinaridade dos estudos organizacionais. Vasconcelos (2003) define a interdisciplinaridade como um “modelo” ideal de abordagem em ciências sociais, pois quando temos por assunto os estudos organizacionais, em um ponto ou em outro aflora uma outra disciplina. Esta interdisciplinaridade ao mesmo tempo em que torna o campo de conhecimento dos estudos organizacionais abrangente, dificulta o processo de busca dos estudos organizacionais para se tornar uma ciência. Os estudos organizacionais na busca por essa cientificidade e identidade terão, conseqüentemente, que abarcar as visões de mundo diferenciadas na qual se inserem estas disciplinas tais como: sociologia, psicologia, antropologia e economia. 12 Adorno (1975) esclarece explicando que o conjunto de disciplinas das ciências sociais não é delimitado e, além disso, não podemos considerar que isto seja um defeito do sistema da ciência e sim, deve-se pensar que as ciências relacionadas ao homem formam uma unidade e, assim sendo, percebemos a noção de interdisciplinaridade sendo advogada nos meios científicos atuais (LENGLER;CAVEDON, 2005) e nos estudos organizacionais. Para Bhaskar (apud LACEY, 1998) as ciências sociais – na qual se insere o estudo organizacional – não podem ser consideradas ciências, mas talvez ideologias. Esse processo de maior dificuldade em busca de uma maior cientificidade dos estudos organizacionais ocorre porque as ciências sociais são mais complexas do que quaisquer definições únicas que sua atividade poderia abranger, estas disciplinas, como a sociologia, economia, psicologia estão contribuindo para constituir uma nova “ciência”, e para tal devem conhecer a natureza dos seus métodos (MAY, 2004). Geertz (1989) descreve que se quisermos compreender o que é a ciência devemos olhar, em primeiro lugar, para o que os praticantes da ciência fazem. Relata Stablein (2001) que o público mais importante para o estudioso em organizações são os outros pesquisadores. Então, olhar para o que o outro faz, e para si mesmo, é conhecer o que é considerado científico para os estudiosos das organizações, pois todos são membros da mesma academia. Como já explicitou May (2004), considera-se ciência um corpo coerente de pensamento sobre um tópico acerca do qual há um amplo consenso entre os cientistas que a praticam. Para compreender e refletir sobre a cientificidade dos estudos organizacionais os próprios pesquisadores passaram a fazer uma auto-análise daquilo que eles já haviam publicado no meio científico. Percebeu-se então, desde a década de 80, a busca de um maior consenso e de uma maior cientificidade nos estudos organizacionais através de trabalhos publicados sobre a produção científica brasileira de diversas áreas, como marketing, recursos humanos e outras áreas de conhecimento. 13 A importância de buscar compreender o contexto no qual os estudos organizacionais estão inseridos advém do fato de que a investigação social não se faz “simplesmente seguindo regras metodológicas” (HAMMERSLEY; ATKINSON, 1994, p. 39) de outras disciplinas. Esta busca tem a intenção de perceber e esclarecer que tipo de ciência os estudos organizacionais estão gerando, para possibilitar uma reflexão acerca do que os próprios pesquisadores estavam produzindo e considerando científico. Deu-se então início à discussão metodológica e epistemológica acerca dos estudos organizacionais, e este fato despertou e ainda desperta o interesse de diversos pesquisadores brasileiros. A preocupação dos pesquisadores perante a produção científica brasileira publicada nos últimos anos é percebida através dos trabalhos com estes temas publicados no meio científico1. Estes trabalhos são de extrema importância para o conhecimento e avaliação do que se tem produzido no meio acadêmico de forma que sejam “fontes de reflexão crítica” tal como determinou Bertero, Caldas e Wood Jr. (2005). Estas críticas fizeram com que os autores chegassem a conclusões que contribuem para a reflexão da produção científica brasileira, como a falta de rigor nas pesquisas realizadas no Brasil; a baixa qualidade metodológica da produção brasileira e desempenho limitado das pesquisas. As críticas encontradas na produção científica brasileira2 denotaram uma fragilidade 1 Vergara e Carvalho (1995); Hemais e Vergara (2000); Bignetti e Paiva (2001); Vergara e Pinto ; (2001); Viera(2003) Loiola e Bastos (2003); Vergara (2005b); Godoi e Balsini (2004 e 2006); a Vieira, (2005b); Vieira (2003 ); Martins e Pucci, (2002); Bertero, Binder e Vasconcelos(2005); a Tonelli et al (2003 ); Tonelli et al (2005b), Pacheco (2005),; Arkader (2005); Hoppen e Meirelles a) (2005 ; Hoppen e Meirelles (2005b), Hoppen (1998); Rodrigues e Carrieri (2000); Hemais E Vergara, 2000; Bignetti E Paiva, 2001); Giroletti (2000); Vergara e Pinto (2000); Vergara e Pinto (2001); Ludmer et al,(2002); Leal (2005); Leal, Oliveira, Soluri (2003); Arkader (2005), Gosling e a Gonçalves(2004); Froemming et al (2000 ); Froemming, 2000b, Lima, 1999, Tonelli et al (2005), Pacheco (2005). 2 Determinadas críticas foram comuns, entretanto, as mais recorrentes foram as seguintes: a) A crítica pela utilização, em excesso, de referências estrangeiras (VERGARA e CARVALHO, 1995; VERGARA, 2005b, VIEIRA, 2003a; VIEIRA, 2005b; HEMAIS e VERGARA, 2000; BIGNETTI e PAIVA, 2001, VERGARA e PINTO, 2001; LOIOLA e BASTOS, 2003); b) A crítica pela concentração do estudo em determinados temas (VIEIRA, 2003a; MARTINS e PUCCI, 2002; BERTERO, BINDER e VASCONCELOS, 2005; TONELLI et al, 2003 a; TONELLI et al, 2005 b, PACHECO, 2005,; VIEIRA , 2005b; ARKADER, 2005; HOPPEN e MEIRELLES, 2005 14 metodológica, e não somente metodológica, mas conseqüentemente epistemológica na área de estudos organizacionais. Vale lembrar que, em grande parte dos artigos, as análises não estavam concentradas em aspectos de ordem epistemológica, ontológica e metodológica, sendo que um grupo considerável de pesquisadores fizeram análises não tão aprofundadas no contexto epistemológico, tornando, na visão de Caldas (2005, p. 53), a discussão ainda incipiente perante a escassez de trabalhos epistemológicos e metodológicos em língua portuguesa. Esta questão não apenas metodológica, mas também epistemológica permanece insolúvel. Bertero, Caldas e Wood Jr. (2005) percebem essa inquietude e consideram que ainda é problemático falar em conhecimento científico em administração, pois a área continua agitada por modismos e por posições diferenciadas quando se tenta abordar a questão de uma perspectiva epistemológica ou mesmo metodológica. Porém os problemas metodológicos estão intimamente vinculados com a caracterização epistemológica (VERA, 1973). Além disso, indagar de método é indagar o humano, e irá desencadear uma atividade pensante (ZACCUR, 2003, grifo do autor) que só terá efeito se for realizada por toda a academia. a; HOPPEN e MEIRELLES, 2005b, HOOPEN, 1998); c) A crítica pela não utilização dos autores da academia como referência (VIEIRA, 2003a; MARTINS e PUCCI, 2002; VIEIRA, 2005b, RODRIGUES e CARRIERI, 2000; HEMAIS e VERGARA, 2000; BIGNETTI e PAIVA, 2001); d) A crítica pela escassez de desenvolvimento de uma análise organizacional brasileira gerando falta de identidade na produção científica (GIROLETTI, 2000; VERGARA e PINTO, 2000; VERGARA e PINTO, 2001; RODRIGUES e CARRIERI, 2000; HEMAIS e VERGARA, 2000; BIGNETTI e PAIVA, 2001; GIROLETTI, 2000; LUDMER et al, 2002); e) A crítica à endogenia revelada através da concentração de algumas instituições com maior número de publicações (VIEIRA, 2003; LEAL, 2005; LEAL, OLIVEIRA, SOLURI, 2003; BERTERO, BINDER e VASCONCELOS, 2005, VIEIRA, 2005, ARKADER, 2005, TONELLI et al, 2003; VERGARA e PINTO, 2001; LOIOLA e BASTOS, 2003); f) A crítica ao excesso de trabalhos exploratórios ou sem pretensão de criação de teoria (HOPPEN, 1998; TONELLI et al, 2003; GOSLING e GONÇALVES, 2004; FROEMMING et al, 2000a; FROEMMING, 2000b, LIMA, 1999, TONELLI et al, 2005, PACHECO, 2005, HOPPEN e MEIRELLES, 2005) g) A crítica de um número pequeno de autores por artigo revelando individualismo exacerbado (ARKADER, 2005; VIEIRA, 2003a; BERTERO, BINDER e VASCONCELOS, 2005; VIEIRA, 2005b; LEAL, OLIVEIRA e SOLURI, 2003; LEAL, 2005 ). 15 Diante desta fragilidade verificada nos estudos das organizações e também da escassez de estudos metodológicos e epistemológicos na área, intencionou-se inserir esta pesquisa na contribuição do preenchimento da lacuna verificada na produção brasileira. A busca de uma maior compreensão da epistemologia das estratégias de pesquisa utilizadas nos estudos organizacionais tem como fator motivador, além dos resultados encontrados nos estudos críticos da produção brasileira, o fato de incitar a reflexão acerca da produção científica que, como percebeu Caldas (2005, p.53), a “metodologia e epistemologia são necessidades eminentes geradas pela falta de consenso metodológico entre alunos, e principalmente entre pesquisadores”. Sabe-se que a epistemologia não pode dissociar-se da metodologia e a metodologia, como Demo (2004, p. 9) explica, concede “construir a capacidade de construir conhecimento”. Ressalta-se, então, que revitalização do epistemológico é uma necessidade diante do exposto acerca da produção científica brasileira e da conseqüente produção de conhecimento. Antes de descrever o objetivo desta pesquisa ainda é preciso explicar, primeiramente, o termo estratégia de pesquisa. O termo estratégia de pesquisa é atual e utilizado por Denzin e Lincoln (1994 e 2000), organizadores do livro “Handbook of Qualitative Research”. Este termo foi utilizado tanto na edição de 1994, quanto na edição de 2000. O livro em questão é reconhecido na academia como referência em termos de pesquisa qualitativa. Denzin e Lincoln (1994) definem o termo estratégia de pesquisa como um pacote de concepções, práticas e habilidades que o pesquisador emprega para movimentar-se do paradigma ao mundo empírico. Percebe-se então que estratégia de pesquisa é um termo abrangente e importante para a construção de conhecimento científico. O termo estratégia de pesquisa foi sendo então designado como preferencial à historicamente clássica (GODOI, denominação método BANDEIRA-DE-MELLO de e pesquisa SILVA, utilizada 2006). Na concepção de Yin (2005, p.33) a estratégia de pesquisa não é nem uma 16 técnica para coleta de dados, nem simplesmente um planejamento de dados, mas uma estratégia de pesquisa abrangente. Ainda Godoi, Bandeira-de-Mello e Silva (2006, p. 9), depois de analisarem a obra de Rossenau (1992), explicam que a utilização do termo estratégia de pesquisa não é apenas uma escolha semântica, mas sim “uma postura crítica com relação à ausência de aproximação entre sujeito e objeto”. Nesse sentido, vale utilizar a tipologia de Valles (1997) para tornar mais compreensível a conceituação do termo estratégia de pesquisa utilizado neste estudo. Na tipologia proposta por Valles (1997) explica-se a designação de elementos metodológico-epistêmicos e de elementos metodológico-técnicos. Os elementos metodológico-epistêmicos não se isolam dos elementos metodológicos–técnicos, e o mesmo ocorre com os elementos metodológicostécnicos que estão amarrados aos elementos metodológico-epistêmicos. Os elementos metodológico-epistêmicos são o suporte fundamentador da pesquisa e estão em constante relação com os elementos metodológicostécnicos, ou seja, as decisões técnicas da pesquisa estão também vinculadas aos elementos metodológico-epistêmicos. A noção de elementos epistêmicos refere-se a aspectos epistemológicos e ontológicos da pesquisa que definem a metodologia da pesquisa e são a base do pensamento e da visão, tanto de homem quanto de mundo e da realidade, sendo que estes elementos funcionam como os pilares do trabalho. Dado este exposto percebe-se que a estratégia de pesquisa estaria em maior predomínio naquilo que Valles (1997) denomina de elementos metodológico-epistêmicos, sendo que na passagem para elementos metodógico-técnicos não existe dissociação. Apesar das definições acerca da metodologia serem normalmente acertadas posteriormente, nos elementos metodológico-técnicos as suas características já estarão inevitavelmente esboçadas desde o princípio através da base epistêmica. Na base epistêmica está inserida a questão doa escolha do paradigma e questões relativas a ontologia, já nos elementos metodológicotécnicos, inserem-se as escolhas metodológicas, mais práticas. Pois os 17 problemas relativos ao método tocam, não somente problemas lógicos, mas epistemológicos e até mesmo metafísicos (MORA, 2000, p. 156). O que norteia e perpassa todo conjunto de elementos, tanto epistêmicos quanto técnicos, é o que ficará definido como estratégia de pesquisa neste estudo, tomando como conceito a designação de Valles (1997). Na definição de Yin (2005, p. 33), para o termo estratégia de pesquisa percebe-se a falta de elementos epistêmicos e, demasiada, de elementos técnicos desvalorizando um aspecto importante da pesquisa científica: os fundamentos epistemológicos. Solis (2000, p. 153), tal como Valles (1997), percebendo a importância dos fundamentos epistemológicos explica que todo questionamento metodológico é, fundamentalmente, epistemológico embora não se restrinja somente ao campo epistemológico. 1.1 Problema de pesquisa Diante da fragilidade exposta anteriormente através das críticas realizadas pelos próprios estudiosos das organizações e, além disso, devido à escassez de trabalhos de ordem epistemológica e metodológica na área de estudos organizacionais, é que se insere a justificativa da relevância deste estudo que pretende responder ao seguinte problema de pesquisa: quais as possibilidades de confluência paradigmática entre as estratégias de pesquisa empíricas em estudos organizacionais? 1.2 Objetivos do estudo Para alcançar a resposta desta pergunta de pesquisa delimitou-se o seguinte objetivo geral: Identificar as possibilidades de confluência paradigmática entre as estratégias de pesquisa empíricas utilizadas em estudos organizacionais. Para alcançar a resposta à pergunta de pesquisa e do objetivo geral elaborou-se os objetivos específicos abaixo: 18 • Descrever as estratégias de pesquisa empíricas utilizadas em estudos organizacionais • Descrever os principais paradigmas utilizados em estudos organizacionais • Discutir as questões práticas atuais que possam gerar confluência entre os paradigmas e estratégias de pesquisa • Posicionar as estratégias de pesquisa de acordo com as questões práticas selecionadas e aos paradigmas. 1.3 Metodologia Para que os objetivos pudessem ser alcançados foi utilizada a estratégia de pesquisa bibliográfica que se tornou, em nossos dias, ciência independente (FONSECA, 1986, p.10). Esta estratégia de pesquisa permite controlar o conhecimento disperso (MACEDO, 1994) a fim de alcançar determinados objetivos. Cabe esclarecer que para que fosse possível identificar as possibilidades de confluência paradigmática entre as estratégias de pesquisa empíricas utilizadas em estudos organizacionais, buscou-se como principal referencial teórico a visão dos autores Lincoln e Guba (1994, 2006) pela sua contribuição intelectual significativa nos campo dos estudos organizacionais e por sua proposta de confluência paradigmática e epistemológica. Devido ao fato de que a estratégia de pesquisa adotada foi a bibliográfica operacionalizou-se a alocação das estratégias através da definição de algumas questões práticas propostas por Guba e Lincon (2006). Apesar da terminologia “questões práticas” parecer subjetiva, mantém-se este termo nesta pesquisa pois esta foi a terminologia utilizada pelos autores Guba e Lincoln (2006). As questões práticas são questões atuais propostas por Guba e Lincoln na obra The Landscape of qualitative research. O desenvolvimento destas 19 questões ocorreu da seguinte forma: na primeira edição do livro os autores apresentaram suas posições quanto aos paradigmas (positivismo, póspositivismo, teoria crítica e construtivismo) e quanto a algumas questões que, na época, acreditavam ser as mais fundamentais para diferenciar os quatro paradigmas. As questões práticas nesta época eram: objetivo investigativo; natureza do conhecimento; acúmulo de conhecimento; bondade ou critérios de qualidade; valores; ética; voz; treinamento; acomodação; hegemonia. Após a publicação do livro diversos autores como John Heron e Peter Reason, discutiram as questões e fizeram algumas sugestões dentre as quais a inclusão de um novo paradigma – participativo - aceito pelos autores Guba e Lincoln (2006). Os autores reformularam as questões e, na nova edição do livro, buscaram se concentrar no que, para os autores, são as sete questões mais importantes da atualidade: axiologia; acomodação e comensurabilidade; ação; controle; fundamentos da verdade e do conhecimento; validade; voz, reflexividade e representação textual pós-moderna. Guba e Lincoln (2006) acreditam que estas são as questões mais controversas, porém as com maior poder de criação de um espaço intelectual, teórico e prático, que gere diálogo, consenso e confluência. Então, as sete questões apresentadas acima serão a base na qual será realizada a vinculação paradigmática entre as estratégias de pesquisa. As estratégias de pesquisa empíricas analisadas neste estudo são as seguintes: 1) estratégia de pesquisa de estudo de caso, 2) estratégia de pesquisa etnográfica, 3) estratégia de pesquisa historiográfica, 4) estratégia de pesquisa-ação participante 5) estratégia de pesquisa grounded theory, 6) estratégia de pesquisa survey e 7) estratégia de pesquisa experimental. Verifica-se acima que delimitamos neste estudo o uso de estratégias empíricas, ou seja, o uso de estratégias que utilizam dados primários, aqueles que foram coletados pela primeira vez pelo pesquisador. A escolha de 20 estratégias empíricas deu-se pelo fato de facilitar a alocação das estratégias aos objetivos pretendidos, além disso, notou-se a inexistência de literatura suficiente sobre algumas estratégias de pesquisa como a documental e bibliométrica. Ressalta-se, então, que este estudo propõe uma reflexão acerca de questões epistemológicas das estratégias de pesquisa utilizadas em estudos organizacionais com a intenção de contribuir para a discussão ainda incipiente nesta área. Para tanto, no capítulo 2, a seguir, foi preciso descrever as estratégias de pesquisas empíricas já apresentadas nesta introdução para então, no capítulo 3, descrever os paradigmas utilizados em estudos organizacionais apresentando os paradigmas pós-modernos utilizados neste estudo para análise posterior. No capítulo 4 dá-se início à apresentação das questões práticas que podem gerar diálogo e serem discutidas a fim de contribuir para uma maior reflexão. No capitulo 5 torna-se possível realizar o posicionamento das estratégias empíricas quanto as questões práticas explanadas e quanto aos paradigmas pós-modernos. Para ao final chegar a algumas conclusões acerca do que foi discutido. 21 2 AS ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EMPÍRICAS UTILIZADAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS Neste estudo utiliza-se o termo estratégia de pesquisa para definir todo o pacote de concepções, práticas e habilidades que o pesquisador emprega para movimentar-se do paradigma ao mundo empírico (DENZIN e LINCOLN, 1994). Valles (1997) compartilha da mesma concepção denominando de estratégia de pesquisa a passagem, sem dissociação, dos elementos metodológicoepistêmicos para elementos metodológico-técnicos, sendo que existe uma maior predominância das estratégias de pesquisa nos elementos metodológicoepistêmicos. Cabe então fazer uma breve descrição das estratégias de pesquisa empíricas utilizadas em estudos organizacionais e analisadas neste estudo. 2.1 A estratégia de estudo de caso A estratégia de estudo de caso é adotada por diversas áreas de conhecimento como a psicologia, a psicanálise, a sociologia, a ciência política, o direito, dentre outras, mas também é apenas uma das maneiras de se fazer pesquisa em ciências sociais. O estudo de caso, na concepção de Yin (2005, p.19), é muito utilizado como estratégia de pesquisa quando se colocam questões do tipo “como” e “por que”. Quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e também quando o foco se encontra em fenômenos inseridos em algum contexto da vida real. Godoy (2006, p. 122) explica que estudos de casos adotam um enfoque indutivo no processo de coleta e análise de dados. Os pesquisadores tentam obter suas informações a partir das percepções dos autores locais, colocando “em suspenso” suas pré-concepções sobre o tema que está sendo estudado. 22 Um estudo de caso é uma investigação empírica de “um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto na vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. (YIN, 2005). Além disso Cervo e Bervian (1996) explicam que o estudo de caso serve para examinar diversos aspectos existentes em determinado indivíduo, família, grupo ou comunidade. Stake (2000) distingue três tipos de estudo de caso a partir de suas finalidades: intrínseco, instrumental e coletivo. O estudo de caso intrínseco busca-se melhor compreensão de um caso apenas pelo interesse despertado por aquele caso particular. Já no estudo de caso instrumental, ao contrário, o interesse do caso se deve ao fato de que ele poderá facilitar a compreensão de algo maior. No estudo de caso coletivo o pesquisador estuda conjuntamente alguns casos para investigar um determinado fenômeno. Fachin (2006) complementa explicando que o número de casos pode ser diminuído a um componente ou envolver numerosos elementos como grupos, subgrupos, organizações, comunidades, instituições e outros. Triviños (1992) constata que estudo de caso é uma categoria de pesquisa onde o objeto é uma unidade que será analisada em profundidade. Sendo que nos estudos de caso qualitativos, onde nem as hipóteses nem os esquemas de inquisição estão previamente estabelecidos, a complexidade do exame vai aumentando à medida que o assunto vai se aprofundando. Pozzebon e Freitas (1998, p.144) destacam a forte importância que o estudo de caso pode vir a desempenhar já que refere-se na área de sistemas de informação, sobretudo se buscarmos maior rigor na sua aplicação e complementam referindo-se estudo de caso como exame do mundo real como ele existe em seu ambiente natural. Mesmo sendo de caráter qualitativo, conforme já mencionado, o estudo de caso pode comportar dados quantitativos para aclarar algum aspecto de questão investigada (GODOY, 2005). Para Merriam (1998) os estudos de caso normalmente são qualitativos, mas, podem ser, também, quantitativos e testar teorias 23 Godoy (2005) ainda ressalta a importância de que, quando há análise quantitativa, geralmente o tratamento estatístico não é sofisticado. É também característica do estudo de caso a heurística, ajudando o pesquisador na compreensão e descoberta de novos significados para aquilo que está sendo estudado. O pesquisador que opta por este tipo de metodologia deve estar atento para o aparecimento de novos significados, explica Godoy (2005 p. 26). No entendimento de Yin (2003) o estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão definidos de forma clara. Além dessas contribuições Yin (2003) explica que a investigação de estudo de caso enfrenta uma situação única, em que existirá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados, e como resultado baseia-se em várias fontes de evidências, com os dados convergindo em triângulo e como outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise dos dados. Stake (2000) alerta para o fato de que nem tudo pode ser considerado um estudo de caso, pois um caso é uma unidade específica, um sistema delimitado cujas partes são integradas. Alves-Mazzotti (2006) confirma este fato quando explica que o grande problema dos trabalhos apresentados como estudos de caso é o fato de que eles não se caracterizam como um caso. Esta afirmação, reflete a visão de muitos pesquisadores que entendem, equivocadamente, que o estudo de caso representa uma pesquisa fácil. Essa afirmação simplifica a complexidade existente nesta estratégia de pesquisa, e o conseqüente rigor necessário para sua realização. Apesar do estudo de caso ser muito utilizado em estudos exploratórios e descritivos, Stake (2000) alerta para o fato de que nem tudo pode ser considerado um estudo de caso, pois um caso é uma unidade específica, um sistema delimitado cujas partes são integradas. Lüdke e André (1986) explanam várias características dos estudos de caso que resumidamente são: visar à descoberta, enfatizar a interpretação em 24 contexto, buscar retratar a realidade de forma completa e profunda, usar uma variedade de fontes de informação, revelar experiências vicárias e permitir generalizações naturalística e procurar representar diferentes e, muitas vezes, conflitantes pontos de vistas presentes em determinada situação social. Esta estratégia de pesquisa permite uma investigação que preserva as características holísticas e significativas dos eventos da vida real (YIN, 2005, p.21). “O estudo de caso é um estudo de caso” seja ele o mais simples e específico ou o mais complexo e abstrato, ele pode ser parecido a outros, entretanto ao mesmo tempo ele é distinto, pois tem um interesse único, próprio (LÜDKE e ANDRÉ, 1986). O estudo de caso contribui de forma inigualável para compreensão que temos dos fenômenos sociais, individuais, organizacionais, sociais e políticos. (Yin, 2005, p. 19). O desenvolvimento de um estudo de caso é caracterizado por Nisbet e Watt (apud LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 21) pelo desenrolar de três fases: a primeira aberta ou exploratória, inicial e se desenvolverá nas fases seguintes, a segunda mais sistemática, pois é onde ocorre a coleta de dados e a terceira etapa consiste na análise e interpretação dos dados e a conseqüente elaboração do relatório. A investigação em um estudo de caso enfrenta uma situação tecnicamente única que haverá muito mais variáveis de interesse do que ponto de dados, e como resultado baseia-se em várias fontes de evidências e também beneficiando-se desenvolvimento previamente realizado de proposições teóricas para encaminhar a coleta e análise de dados (YIN, 2005, p. 33) , para ser realizado, Yin (2005) define algumas etapas que podem ser seguidas: a) formulação do problema, b) definição da unidade-caso; c) determinação do número de casos; d) coleta de dados; e) avaliação e análise dos dados; f) preparação do relatório. 25 2.2 A estratégia de pesquisa etnográfica Antes de explicitar o surgimento da etnografia dentro dos estudos organizacionais é válido esclarecer, mesmo que de forma simplificada, o significado de antropologia. Sendo assim, definimos a antropologia como a ciência que estuda o homem de todos os tipos e tempos (CAVEDON, 1999, p.2). É comum associarmos a pesquisa etnográfica com a antropologia, onde ela tem sido tradicionalmente empregada em estudos com populações primitivas e minorias culturais. Hoje ela é utilizada também na exploração de temáticas associadas a outras áreas do conhecimento, como, por exemplo, a educação, a psicologia social e a administração de empresas (GODOY, 1995a). O termo cultura está associado ao conceito de antropologia gerando um contorno a mais neste contexto, dado que a cultura é o maior diferencial existente entre os homens e os outros animais do planeta. Atualmente utilizase a expressão Antropologia Social como sinônima de Antropologia Cultural e de Etnologia. E por meio do método típico de pesquisa da antropologia, a etnografia, busca-se interpretar e dar significado à cultura. Patton (1990, p. 67) é claro quando explana que o foco da pesquisa etnográfica está na seguinte questão: o que é ou qual é a cultura deste grupo de pessoas? Godoy (1995) explica que a estratégia possibilita uma interpretação da cultura de um grupo a partir da investigação de como seu sistema de significados culturais está organizado e de como influencia o comportamento grupal. Nisto consiste a familiarização do pesquisador com a cultura estudada por meio da observação participante e de uma longa interação social com o grupo (MASCARENHAS, 2002) demonstrando que a idéia de cultura é central na etnografia (PATTON, 1990, p. 67). O método etnográfico, explica Vergara (2005, p. 72), é originado no campo da antropologia e consiste na inserção do pesquisador no ambiente, no 26 dia a dia do grupo investigado. Na antropologia as primeiras experiências através desta estratégia foram realizadas por Bronislaw Malinowski entre 1914 e 1918 (ANDION, SERVA, 2006), considerado o grande sistematizador da etnografia como um método de pesquisa. Seus estudos da vida social e da cultura nas ilhas Trobriand resultaram na obra clássica “Argonautas do Pacífico Ocidental” em 1922, considerada uma referência fundamental para a definição do que seria o método etnográfico. Malinowiski propunha a busca da visão de dentro, através do convívio íntimo e intenso do antropólogo com a cultura investigada (ROCHA, BARROS e PEREIRA, 2005). Dentro do campo etnográfico existem três correntes antropológicas distintas. A primeira corrente seria voltada para a perspectiva de conversão, de viver como vivem os nativos. Dentro desta perspectiva o precursor é Malinowski. (VERGARA, 2005). A segunda abordagem antropológica tem como precursor Clifford Geertz. Esta abordagem é conhecida como abordagem interpretativa, ou perspectiva interpretativa, que ao invés de viver como vivem os nativos, possui a visão de viver com o nativo. Nesta perspectiva a participação do etnógrafo pode ser aberta ou não na vida diária das pessoas investigadas e o traço marcante da etnografia é a investigação realizada por dentro da realidade do grupo (VERGARA, 2005). A terceira abordagem seria uma continuidade da perspectiva interpretativa (VERGARA, 2005, p. 72): a abordagem pós-moderna. Porém, na perspectiva pós-moderna, ainda existe uma imprecisão e falta de consenso sobre o próprio conceito de pós-modernidade identificado por Macagnan (2005, p. 13) e por Cavedon e Lengler (2005, p. 50). O surgimento da etnografia e de tantos outros métodos do conhecimento científico tiveram a sua origem na Europa no século XIX (CÁCERES, 1998), especificadamente na França e na Inglaterra. A etnografia originou-se das ciências humanas, da disciplina Antropologia e, no contexto da antropologia, a etnografia é considerada clássica e de importância central, já que, no campo 27 antropológico, é considerado o método típico de pesquisa (CAVEDON, 1999) e uma marca do conhecimento da antropologia (ROCHA, BARROS, PEREIRA, 2005, p. 124). Em muitos sentidos esta estratégia é considerada a forma mais básica de investigação social, pois se assemelha notavelmente aos modos rotineiros que damos sentido ao mundo e a nossa vida diária (HAMMERSLEY e ATKINSON, 1994). A etnografia, nas últimas décadas, tem sido utilizada como forma de se realizar a investigação social ainda que exista escassez de literatura acerca das formas de utilização desta estratégia. Essa ausência de conselhos pode ser traduzida por pesquisadores de uma forma errônea, causando a impressão de que para conduzir um estudo etnográfico não é necessário preparação ou conhecimento prévio (HAMMERSLEY e ATKINSON, 1994). Para tanto, por ser a etnografia um método de pesquisa ou um conjunto de métodos, e por ser sua principal característica a presença do investigador no campo, o investigador social, incluindo-se deste modo o etnógrafo, passa a ser um observador participante. Hammersley e Atkinson (1994, p. 15) explicam que a crescente utilização da estratégia etnográfica deve-se à desilusão provocada pelos métodos quantitativos de pesquisa que dominaram por muito tempo a maior parte dos estudos sociais e no Brasil, o uso da etnografia nos estudos organizacionais ainda é recente, sendo utilizado em sua maioria para analisar a cultura e consumo (VIEIRA, TIBOLA, 2005). Dados mais atuais, levantados por Barros, Rocha e Pereira (2005, p. 129 e 130), revelam que na área de marketing, nos Estados Unidos, alguns estudiosos utilizaram a estratégia etnográfica para conhecerer as dimensões culturais presentes nas ideologias e práticas de consumo. Dessa forma, complementam Barros, Rocha e Pereira (2005, p. 139), o estudo etnográfico permite conhecer as formas pelas quais os grupos sociais atribuem significados ao mundo do consumo e seus infindáveis produtos e serviços. No campo do estudo das organizações, os primeiros trabalhos acadêmicos influenciados pela antropologia ocorreram nos anos 20. As 28 primeiras experiências foram os experimentos da fábrica de Hawthorne, realizados com o objetivo de testar princípios da escola de administração científica. Como resultados destes estudos constataram a existência da organização social dos grupos de trabalho, que foram parcialmente estruturados a partir de conceitos e técnicas da antropologia, conforme explica Vergara (2005). De volta ao Brasil, alguns trabalhos foram publicados nos ENANPADs e discutiram o relacionamento entre a antropologia e o marketing, demonstrando o interesse da academia pela estratégia de pesquisa etnográfica. Rocha, Barros e Pereira (2005) vão além da definição etnográfica considerada comum para os antropólogos. Para os autores, a etnografia é muito mais do que uma metodologia de pesquisa ou de uma técnica de coleta de dados, trata-se de um eixo fundador da disciplina antropológica, ou seja, seu espírito. Pois toda a pesquisa antropológica traz em si, mesmo sem ser explicitado, uma perspectiva acerca da natureza humana e das possibilidades de conhecê-la. As maiorias das investigações etnográficas se preocupam mais por desenvolver teorias a partir de dados de campo que em verificar hipóteses já existentes, e uma série de atores, especialmente Glaser e Strauss (1965), tem chamado a atenção sobre as vantagens que implica desenvolver teorias mediante o registro sistemático da informação de campo em lugar de confiar na “teorização de poltrona” (HAMMERSLEY, ATKINSON ,1994, p.41). A estratégia de pesquisa etnográfica além desta, possui outros aspectos que valem ser destacados aqui para melhor compreensão da estratégia: a) uma forte ênfase em explorar a natureza de um fenômeno social particular, em vez de partir para um teste de hipóteses a respeito, b) uma tendência em trabalhar primeiro com dados que ainda não tenham sido codificados no momento da coleta de dados em termos de um conjunto fechado de categorias analíticas, c) a investigação detalhada de um pequeno número de casos, ou de apenas um caso, d) uma análise de dados que envolvem interpretação explícita dos significados e das funções das ações humanas, na qual o produto assume 29 a forma de descrições e explicações verbais (HAMMERSLEY , ATKINSON, 1994). Outro traço marcante da pesquisa etnográfica é a investigação por dentro da realidade de um grupo, sendo o conhecimento cientifico gerado a partir do ponto de vista do outro (ROCHA, BARROS, PEREIRA 2005). Hammersley e Atkinson (1994) entendem então o termo etnografia como uma referência a um método concreto ou a um conjunto de métodos. Sua principal característica seria que o etnógrafo participa, abertamente ou de maneira encoberta, na vida diária das pessoas durante um período de tempo, observando o que acontece, escutando o que se disse,fazendo perguntas; de fato, fazendo arrecadação de qualquer dado disponível que sirva para arremessar um pouco de luz sobre o tema em que se centra a investigação. Ou seja, pesquisador e pesquisados compartilham situações que permitem ao pesquisador elaborar uma descrição densa, revelam Cavedon e Lengler (2005). O fazer etnografia implica em ir ao campo com uma bagagem teórica, entretanto totalmente desprovido de preconceitos vivendo a realidade da comunidade investigada através da observação participante com todos os sentidos à flor da pele (CAVEDON, 2001). Desta experiência tudo é relatado, em detalhes, no diário de campo ou registro de campo, local onde são anotados minuciosamente todos os acontecimentos. O que antes era novo e estranho passa a ser familiar e conhecido. Nestes momentos o investigador se afasta para fazer o relatório de pesquisa. Cavedon (2001) explica que neste momento passam inúmeras imagens na mente do pesquisador, e muitas vezes são melhor entendidas do que as palavras. O trabalho etnográfico busca ler nas entrelinhas, ou seja, busca construir interpretações. Porém estas interpretações não são definitivas, são sempre provisórias, passíveis de questionamentos e de reconstruções (PEDRO JR, 2005, p. 157). Mas Cáceres (1998) afirma que através de um conhecimento aprofundado de um pequeno universo, é possível obter amplas interpretações das estruturas conceituais que criam os valores presentes na vida dos atores investigados. Desta forma, Cáceres (1998, p. 349) vê a etnografia como uma 30 intenção de trabalho de campo indispensável, e este fato é que determinará a qualidade central da diversidade dos enfoques que dela fluem. Contribuindo com as afirmações de que as interpretações do estudo etnográfico não são definitivas (PEDRO JR, 2005). Hammersley e Atkinson (1994) consideram as fronteiras da etnografia pouco nítidas. Sendo assim, a postura da etnografia pressupõe, nela própria, uma concepção da realidade onde o real não se encontra pré-definido. A noção de definição da situação impõe a idéia de que são os próprios atores que definem a situação na qual se encontram e, ao fazerem isso, estão construindo a situação coletivamente (ROCHA, BARROS; PEREIRA, 2005). São os próprios sujeitos sociais que interpretam em primeira mão a sua cultura. Nota-se que a construção da estratégia etnográfica é realizada in loco. Partindo do encontro e da relação entre pesquisador e pesquisado a etnografia vai estabelecendo relações que possibilitam compreender, da melhor forma possível, a complexidade de determinados fenômenos sociais (ANDION, SERVA, 2006). Não existe unilateralidade na relação entre o pesquisador e pesquisado. Ao contrário, a relação é constantemente negociada na etnografia. Desta forma, a etnografia se configura na comunicação, e temos que aprender a nos relacionar, a respeitar, inclusive a amarmos, e a compreender (CÁCERES, 1998) e Cáceres (1998) complementa o fato de que o etnógrafo requer tempo para sua formação, e só melhorará tecnicamente com o passar dos anos, por meio da experiência. O investigador é o centro de tudo e sua formação depende do todo, a diferença entre um novato e um experiente é enorme e muitas vezes definitiva, pois a percepção é o coração do trabalho etnográfico. 31 2.3 A estratégia de pesquisa historiográfica A estratégia historiográfica será analisada no estudo de forma geral, ou seja, abrangendo a historia oral, de vida e temática. Esta estratégia é apresentada por Meihy (2002) como uma das alternativas disponíveis para o estudo da sociedade, realizada através de depoimentos gravados e transcritos, Ichikawa e Santos (2006,) nos revela que a historia oral surgiu no Brasil em 1975 e conforme Fenelon (1996) nos últimos anos vem crescendo no Brasil, o interesse de pesquisadores ligados as diversas áreas das ciências humanas pela História Oral, ou, pela realização de trabalhos que utilizam fontes orais. A estratégia de pesquisa historia oral, atingiu o meio acadêmico a partir da década de 90, de acordo com Ferreira (2005). A história oral originou-se da Psicologia, da Sociologia e da Antropologia (CÁCERES, 1998) e não da História, como seria uma escolha oportuna. Porém, vale ressaltar que a condução da estratégia por um psicólogo será diferente do modo de conduzir de um sociólogo ou de um antropólogo (COLE e KNOWLES, 2001). Nas organizações, explica Freitas (2002), a história oral ainda é pouco utilizada no estudo. Tal fato pode estar relacionado ao entendimento equivocado de que a história oral é o estudo sobre fatos passados. Concorda dessa forma com Ichikawa e Santos (2006,), que explanam, o mesmo entendimento, equivocado, de estudos sobre fatos passados, já acontecidos e analisados muitas vezes dentro de uma cronologia insípida. A História, de forma geral, sempre foi relegada pelos estudiosos das organizações. É possível afirmar que a pesquisa qualitativa em Administração poderia ser ainda mais enriquecida por meio da adoção da história oral. A pesquisa organizacional pode valer-se da abordagem historiográfica como método, especialmente o enfoque da nova História (CURADO, 2001). 32 Um motivo que se destaca como gerador da pouca utilização da história oral é o fato da Administração ser uma disciplina voltada para o futuro e presente, e não para o passado, e,de um modo geral, a história oral gera pouco interesse por parte dos pesquisadores que não buscam compreender e analisar historicamente o contexto vivido pela organização (ICHIKAWA e SANTOS, 2003). Outro fator explicitado por Freitas (2002) para a falta de interesse em utilizar a história oral seria a falta de discussão epistemológica da estratégia por parte dos oralistas. Fato que também não pode deixar de ser citado neste momento é o discurso, já encontrado em outras estratégias de pesquisa, diante da forte influência positivista existente na academia. Desse modo presidindo a resistência ao uso de uma estratégia qualitativa. Porém, buscando desfazer o equívoco de que a história oral seria entendida como estudo sobre fatos passados. Ichikawa e Santos (2003) explicam que, na verdade, a história oral é uma história do tempo presente. Sendo assim, a história oral tem uma percepção do passado como algo que tem continuidade no hoje e cujo processo histórico não está acabado. Tampouco a história oral é uma autobiografia, mesmo que compartilhe com a autobiografia sua forma narrativa, o ponto de vista na primeira pessoa e as subjetividade (BECKER, 1992). Mas Alberti (2004) lembra que a história oral não é um fim em si mesma, e sim um meio de conhecimento. Seu emprego só se justifica no contexto de uma investigação científica, o que pressupõe sua articulação com um projeto de pesquisa previamente definido. Assim, antes mesmo de se pensar em história oral, é preciso haver questões, perguntas, que justifiquem o desenvolvimento de uma investigação. Freitas (2002) explica que a estratégia de história oral possui abrangência multidisciplinar e tem sido utilizada por diversas áreas das ciências humanas, como História, Sociologia, Antropologia, Linguística e Psicologia. Porém, apesar da utilização da estratégia de pesquisa de história oral ser utilizada por estas disciplinas, no ponto de vista teórico e metodológico ainda há muito espaço para contribuir (FREITAS, 2002). 33 Ichikawa e Santos (2006) conceitualizam a história oral como uma metodologia de pesquisa que visa ao estudo e ao registro de acontecimentos, histórias de vida, trajetórias de organizações, enfim, de temas históricos contemporâneos que permitam acessar pessoas que ainda estejam vivas. Sua principal técnica de coleta de dados é a entrevista de história oral, que obtém depoimentos dos entrevistados envolvidos no assunto do estudo que está sendo feito, realizando assim, de acordo com Lang (1996) um processo de conversação entre o pesquisador e o narrador. Alberti (2004) reforça a idéia de que a história oral privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, como forma de se aproximar do objeto de estudo. Ou seja, a história oral, para Meihy (2002), esta destinada também ao recolhimento de testemunhos, promovendo a análise de processos sociais facilitando o conhecimento. Através da história oral, Freitas (2002) relata a possibilidade de interpretar e realizar reflexões a respeito do tema abordado na entrevista através do registro oral dos próprios protagonistas e Alberti (2004, p. 31) compreende que a aplicação da história oral depende intrinsecamente do tipo de questão colocada ao objeto de estudo. A história oral pode se distinguir em história oral Temática e História de vida. História oral temática não exige um depoimento sobre a totalidade da vida do indivíduo. A história oral temática tem características bem diferentes da história de vida. Na medida em que se revelam aspectos úteis na historia pessoal do individuo, para a elaboração do trabalho de pesquisa, é que surgem os interesses por determinados tópicos ou aspectos da historia pessoal do narrador (MEIHY, 2002). Lozano (1998) expõe ambas distinções da história oral como partes de técnicas de investigação. A história oral temática não é o mesmo que história de vida. A história oral de vida é a descrição da vida de um individuo através do tempo. Freitas (2002) diferencia as duas: a história de vida pode ser considerada um relato autobiográfico que se faz do passado, realizado pelo próprio individuo sobre sua própria história de vida, abrangendo a totalidade da 34 vida do narrador, ou ainda, para Alberti (2004) incluindo a história desde a infância. Becker (1992) vai mais além e explica a diferença entre a história de vida e a autobiografia, contradizendo Freitas (2002) que diz história oral de vida como um relato autobiográfico. Para Becker (1992), na autobiografia o leitor possui a plena consciência de que o autor está nos contando apenas uma parte da história, uma parte selecionada, de modo que ele pudesse apresentar o retrato que ele gostaria que o público tivesse dele. Ou seja, o que foi ignorado, o trivial ou até mesmo o desagradável para o autor, poderia ser de interesse dos leitores, mas não do autor. Já na história de vida, todo o contexto é abrangente, nenhum fato é desconsiderado. Freitas (2002, p.21) explica que a historia oral temática pode ser realizada com um grupo de pessoas, sobre um assunto especifico, e não sobre a vida inteira do narrador (história de vida). A história oral temática parte de um assunto especifico, segundo Meihy (2002), comprometendo-se dessa forma ao esclarecimento de um determinado evento ocorrido na vida do entrevistado ao entrevistador. Alberti (2004) salienta a necessidade da interação adequada das questões colocadas ao objeto de estudo ao emprego de uma estratégia qualitativa de investigação e que a realização de entrevistas de história oral constitua efetivamente caminho adequado diante das perguntas realizadas em uma entrevista. 2.4 A estratégia de pesquisa-ação Neste estudo consideraremos que toda a pesquisa ação engloba a pesquisa participante e suas variedades. Relacionada com a pesquisa participante, a pesquisa-ação (participativa), conforme Eden e Huxham (2001, p. 96) têm como principal característica distintiva a combinação do principio da central de pesquisa “participativa" ou “colaborativa”, a noção de que alguns membros das organizações estudadas devem participar ativamente do projeto de pesquisa, 35 em vez de apenas serem sujeitos, com o princípio central da pesquisa-ação, de que deve haver uma intenção para realizar ação. Isso sugere um relacionamento de dupla direção; o pesquisador torna-se envolvido e contribui para o homem do mundo da práxis, e este se torna envolvido e contribui diretamente para o desenvolvimento da pesquisa. Normalmente surge em situações onde as pessoas querem fazer mudanças cuidadosamente – ou seja, depois de uma reflexão crítica. Aparece quando as pessoas querem pensar “realisticamente” sobre como, na prática, as coisas podem ser mudadas (KEMMIS, MACTAGGART, 2000). A pesquisa ação é um método de pesquisa que visa à resolução de problemas por meio de ações definidas por pesquisadores e sujeitos envolvidos com a situação sob investigação, sugere Vergara (2005). Busca através do comprometimento e envolvimento direto de todos os níveis organizacionais, soluções criativas adaptadas a partir de teorias construídas e consolidadas na prática das organizações. Métodos participativos, como a pesquisa-ação, promovem a capacitação tecnológica dos participantes, permitindo um crescimento do senso crítico e da capacidade de solucionar problemas (MACKE, 2002). Para Soriano (2004) o fundamento básico deste método consiste na participação tanto dos pesquisadores como da população, num plano de igualdade, como agentes de mudança, fazendo um confronto permanente do modelo teórico e metodológico com a prática, de modo adequálo à realidade que se quer transformar e para que possa orientar as estratégias e os programas de ação. Macke (2002) reforça a pesquisa-ação como uma estratégia de condução de pesquisa qualitativa voltada para a busca de solução coletiva a determinada situação-problema, dentro de um processo de mudança planejada De acordo com Eden e Huxham (2002), a pesquisa-ação tornou-se entre os pesquisadores envolvidos no estudo das organizações, como um paradigma assumido, usado para justificar a validade de vários resultados de pesquisa. Às vezes, o termo é usado livremente para cobrir uma variedade de abordagens. 36 São várias as terminologias aliadas à pesquisa ação. Macke (2006, p. 209) nos apresenta expressões como “pesquisa participante” (participatory research), “pesquisa-ação participante” (participatory action research) e “ciência da ação” (action science). Para o Kemmis e Mactaggart (2000), essa estratégia de pesquisa é uma filosofia de pesquisa social que é freqüentemente associada à transformação social, uma vez que envolve aspectos como análise de problemas sociais a partir da comunidade e orientação para a ação coletiva. É estratégia de pesquisa reflexiva, no sentido de engajamento dos participantes em um processo colaborativo de transformação social, no qual eles aprendem e mudam suas formas de engajamento. Pesquisas conduzidas nestas perspectivas adotam uma visão emancipatória, focada no desejo compartilhado de transformação social, ou a mudança planejada proposta nessa estratégia de pesquisa conforme explicado por Macke (2002). Eden e Huxham (2001) reforçam a idéia de que não se pode considerar qualquer projeto de pesquisa, que interesse à organização, como uma pesquisa-ação. Para isso, a pesquisa deve satisfazer às características que faça tornar uma pesquisa rigorosa. Para realizar uma pesquisa com esse tipo de estratégia, segundo Macke (2002, p. 3), é preciso ter objetivos claramente definidos. A participação é fruto do processo de pesquisa-ação e um indício de que a pesquisa está sendo conduzida da maneira correta. A linguagem deve ser comum entre todas as pessoas envolvidas. 2.5 A estratégia de pesquisa grounded theory Com origens na sociologia Bandeira-de-Mello e Cunha (2006, p.241) afirmam que a grounded theory apresenta-se como uma escolha atraente para pesquisas sobre fenômenos organizacionais. Vergara (2005, p.101) expõe a grounded theory como uma metodologia que desenvolve uma teoria sobre a 37 realidade que se está investigando a partir de dados coletados pelo pesquisador, sem considerar hipóteses preconcebidas. A grounded theory está sendo utilizada no Brasil sob o incentivo dos autores Bandeira-de-Mello e Cunha, é uma estratégia de pesquisa ainda recente nos estudos das organizações, tal como a historiografia. Conhecida também como teoria embasada ou teoria fundamentada tem suas raízes no interacionismo simbólico, que segundo Ichikawa e Santos (2001, p.05) parte do princípio de que todas as teorias são construções simbólicas da realidade, criando uma concepção abstrata dos fenômenos do mundo empírico, através do uso de símbolos. A grounded theory aceita as considerações ontológicas e epistemológicas do subjetivismo, de acordo com as explicações Morgan e Smircich (1980). Para Ichikawa e Santos (2001), essa estratégia de pesquisa assume caráter qualitativo e, durante muito tempo, ela foi aplicada preponderantemente em pesquisas na área de saúde; mas, atualmente, sua possibilidade de utilização foi ampliada para outras áreas no âmbito das ciências humanas. A metodologia das pesquisas que seguem essa estratégia tende a ir além da descrição (VERGARA, 2005), exigindo do pesquisador a tarefa de interpretar os dados, identificar os conceitos e categorias e gerar uma teoria, fundamentando sua teoria dessa maneira, e não através da literatura existente (BANDEIRA-DE-MELO 2003, P.02). Nota-se então, conforme Bandeira-de-Mello (2003, p. 02) que grounded theory é um método interpretativista de pesquisa que busca explicar os fatos reais através dos significados atribuídos pelos envolvidos às suas experiências, pois, conforme a teoria emerge do trabalho já realizado, Ichikawa e Santos (2001, p.06) explicam que ela aponta para os próximos passos a serem pesquisados. Ou seja, o pesquisador é direcionado pelos pontos de pesquisa definidos inicialmente e pelas lacunas que emergem na teoria que ele está gerando. 38 Podemos considerar a existência de duas vertentes da grounded theory. A primeira linha seria a do autor Glaser que dá ênfase à característica emergente do método e aos processos indutivos desenvolvidos pioneiramente pelo Departamento de Sociologia da Universidade de Columbia nos anos 50 e 60. A outra linha – considerada por Glaser a antítese de Grounded Theory, pois, segundo o autor permite a influência de pré concepções do pesquisador – foi desenvolvida por Strauss e consolidada por Strauss e Corbin (1998). Após o lançamento de The Discovery of grounded theory, publicações subseqüentes de Glaser e de Strauss, sozinhos ou como autores, começaram a refletir e revelar importantes diferenças de como eles entendiam e aplicavam a grounded theory. Na obra de Strauss e Corbin (2008), agora publicada em português, os autores procuram operacionalizar os procedimentos e técnicas da grounded theory detalhadamente. O livro deu acesso a diversos pesquisadores e tornou a expressão grounded theory mais concreta e acessível; ao mesmo tempo em que criou uma grande polêmica com o outro “pai” da grounded theory ,ou seja, Glaser O resultado disso possibilitou, nos dias atuais, ao menos duas diferenças metodológicas derivadas do trabalho original, cada uma com suas características e seus próprios pressupostos epistemológicos (ICHIKAWA e SANTOS, 2001) A obra de Strauss e Corbin (2008) se propõe a apresentar técnicas e procedimentos de análise capazes de propiciar ao pesquisador o desenvolvimento de uma teoria que envolva os critérios para realizar uma “adequada ciência”. Os dois autores começaram a discordar sobre alguns pontos de vista e como explica Ichikawa e Santos (2001) em relação a grounded theory pode-se 39 afirmar que existem atualmente muitas versões sobre ela e, o que distingue as várias versões são às posições epistemológicas dos pesquisadores. Na visão de Ichikawa e Santos (2001) para Strauss o conhecimento prévio é um meio indispensável para dar sentido aos dados empíricos. Glaser, ao contrário, propõe uma abordagem que despreza qualquer teoria ou conhecimento anterior ao trabalho de campo. O argumento principal de Glaser é que o conhecimento prévio irá, sempre, de uma forma ou de outra, influenciar a maneira como se vê o mundo. É importante que o pesquisador use toda literatura que seja relevante, contudo colocam uma ressalva: se resguardando contra a possibilidade de se identificar com alguma delas em especial (STRAUSS e CORBIN, 1998). A resposta de Glaser a esse detalhamento metodológico proposto por Strauss e Corbin (1990) foi o polêmico Basics of Grounded Theory Analisy, publicado em 1992, no qual esse autor apresenta críticas ao livro de Strauss e Corbin (1990), assim como a outros trabalhos conduzidos por Strauss desde The discovery of grounded theory. Assim na visão de Ichikawa e Santos (2001) para Glaser, o modelo de coleta de dados apresentado por Strauss e Corbin (1998) é como uma “camisa de força”, na qual os dados têm que se encaixar. O que ocorre, é que os dados deixam de falar por si. Conseqüentemente, não há geração e descoberta da teoria que, para Glaser, consistia na essência da grounded theory. Por isso, para Glaser o trabalho de Strauss e Corbin (1998) deixa de ser grounded theory., e passa a ser apenas um método verificacional, não orientado para a descoberta de teoria, mas para a descrição da realidade. Outro aspecto que Ichikawa e Santos (2001) revelam a respeito das diferenças entre os dois autores é referente ao problema de pesquisa. Para Strauss e Corbin (1990) a pergunta de pesquisa é uma declaração que identifica o fenômeno a ser estudado. Para Glaser, ao contrário, a pergunta de pesquisa não deve ser uma declaração que identifica o fenômeno. 40 Além destes já explanados existem outros pontos que evidenciam a discordância entre os autores, como o procedimento de análise de dados. Glaser discorda dessa forma de conduzir a pesquisa. Para ele o pesquisador deve conceitualizar os dados apenas quando há um padrão de incidentes similares. Na opinião de Ichikawa e Santos (2001) Glaser parece estar mais comprometido com princípios e práticas comumente associados com o que o pode ser amplamente descrito como paradigma qualitativo. Strauss também está comprometido em oferecer alguns importantes insights a partir da realidade cultural dos participantes. Contudo, parece estar mais preocupado em produzir uma descrição detalhada dessa realidade cultural. Outra visão da grounded theory é a de Charmaz (2000). A autora traz um enfoque mais contrutivista da grounded theory e foi aceita por diversos pesquisadores. Bandeira-de-Mello e Cunha (2006) explicam que a grounded theory determinada por Charmaz (2000) assume múltiplas realidades, reconhece a mútua criação de conhecimento pelos sujeitos e pesquisadores, e focaliza-se na interpretação dos significados atribuídos pelos sujeitos e pesquisadores. Além disso, Charmaz (2000) enfatiza a compreensão em lugar da previsão e a realidade em lugar da verdade absoluta. 2.6 A estratégia de pesquisa survey As surveys são freqüentemente utilizadas nas ciências sociais (TREZ, MATOS, 2006, p.01) e permitem descobrir informações, determinadas características sobre alguma população, isto é, descobrir a distribuição de certos traços e atributos, explica Babbie (1999 p.97). May (2004, p.111) exemplifica com uma pesquisa survey que aborda questões, perguntando sobre o comportamento eleitoral, por exemplo, e procuram explicar como as atitudes ou intenções das pessoas estão ligadas ao seu histórico pessoal ou a 41 outra variável explicativa. May (2004, p. 111) nos revela ainda que a origem da pesquisa survey está na tradição positivista, embora descrevê-la como “positivista” seja claramente um excesso de exemplificação nos dias de hoje. Hair Jr et al (2005) definem a pesquisa do tipo survey como um procedimento para coleta de dados primários a partir de indivíduos. Estes dados podem ser crenças, opiniões, atitudes, estilo de vida e também podem ser informações sobre a experiência do individuo, gênero, idade, escolaridade. Alem disso podem ser as características de uma empresa, ou o que for do maior interesse para o pesquisador. Como características de uma pesquisa survey, May (2004, p.112) cita o interesse de produzir descrições quantitativas de uma população; e o uso de um instrumento predefinido. Freitas (2000, p.105) descreve a pesquisa survey como a aquisição de dados ou informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas. Grupo que pode representar uma população-alvo. A aquisição dos dados de uma pesquisa survey normalmente se dá por meio de um instrumento de pesquisa, questionários preenchidos pelos pesquisados, explanam Trez e Matos (2006, p.01). Os dados conquistados na pesquisa devem ser analisados por meio de ferramental estatístico para a obtenção das informações desejadas, devendo-se, para tanto, considerar o tipo de análise estatística aplicável às variáveis em estudo (MAY, 2004, p.109). Para Babbie (1999, p.83) o formato desse tipo de pesquisa permite elaboração clara e rigorosa de um modelo lógico clarificando o sistema determinístico de causa e efeito, permitindo também o desenvolvimento de testes formais. May (2004, p.112) complementa que além dos testes uma boa pesquisa survey segue um processo comum no desenvolvimento de sua teoria, permitindo a formulação de uma hipótese, ou das hipóteses. As surveys são muito apropriadas para coletar dados de grandes amostras (HAIR Jr et al, 2005) 42 2.6 A estratégia de pesquisa experimental Varias são as ciências que utilizam a estratégia experimental como pesquisa de campo (FACHIN, 2001). Para Gelman (1971) a pesquisa experimental é notável por suas contribuições ao desenvolvimento das ciências físicas e biológicas, mas pouca utilidade vinha oferecendo ao cientista social. Porem a pesquisa experimental ainda é muito utilizada em estudos organizacionais por ser pesquisa com características quantitativas. Para os adeptos deste tipo de pesquisa a verdade só será considerada se os resultados forem confiáveis, ou seja, tanto a coleta como análise devem ser feitas de forma objetiva e criteriosa (BARBETTA, 2003). Historicamente o método experimental passou a ser conhecido como pesquisa quantitativa. Na visão de Appolinário (2004) a experimentação é utilizada para testar hipóteses e oferecer respostas a problemas específicos, pode ser feita em laboratório (experimentação laboratorial) e também pode ser utilizada para realizar comparações (experimento comparativo). Em um design experimental é preciso escolher a pergunta de pesquisa e elencar as hipóteses a serem testadas. O design da pesquisa deve ser o mais adequado para testar as hipóteses e as opções (amostra, mensuração, tratamento estatístico) devem se adequar às necessidades do pesquisador (BLACK, 1999, p. 59). As hipóteses no entender de Soriano (2004) devem se sustentar tanto em conhecimentos teóricos (caso existam) quanto em informação empírica. Elas resgatam a concepção da realidade expressa na teoria e nos orientam na apropriação do objeto de estudo. O método experimental é aquele em que as variáveis são manipuladas de maneira preestabelecida e seus efeitos são controlados e conhecidos pelo pesquisador para observação do estudo (FACHIN, 2006). O pesquisador 43 experimental precisa ter o controle das variáveis de estudo para garantir a validade do que será observado (BLACK, 1999). E normalmente os dados são tratados através de análise estatística. As variáveis são definidas como característica, atributo, propriedade ou qualidade que a) pode existir ou estar ausentes nos indivíduos, b) pode apresentar-se em diferentes modalidades e c) em graus ou medidas distintas ao longo de um continuum (SORIANO, 2004). Barbetta (2005) explica que embora as técnicas estatísticas sejam utilizadas basicamente na etapa de análise dos dados, ela pode ser aplicada a diversas etapas da pesquisa interagindo com a metodologia. A estratégia experimental tem sido utilizada como base para o progresso do conhecimento nas áreas consideradas científicas, pois esta estratégia de pesquisa de coleta de dados, visa obter respostas claras e diferenciadas em função de uma hipótese que pode envolver relações de causa e efeito (FACHIN, 2005). 44 3. DESCRIÇÃO DOS PARADIGMAS E SUA RELAÇÂO COM AS QUESTÕES PRÁTICAS As questões práticas são enfrentadas por todos os paradigmas e não são as únicas, porém são algumas das questões consideradas críticas e passíveis de discussão e diálogo. Entretanto, primeiramente serão explicitados os conceitos relativos aos paradigmas. As questões práticas modificam de acordo com os paradigmas, por isso, é importante descrever os paradigmas, pois eles têm ligação intrínseca com as questões selecionadas para análise. No caso deste estudo, os paradigmas que possuem ligação intrínseca com as questões selecionadas são os paradigmas propostos por Lincoln e Guba (1994, 2006): Positivismo, Pós-positivismo, Teoria Crítica e outros, Construtivismo e Participativo. A definição do significado de paradigma e sua evolução seguem desde definições simplificadas até explicações mais elaboradas. Porém, a grande parte dos paradigmas utilizados em ciências sociais embasa-se em dicotomias, ou seja, em visões de mundo comumente conhecidas como positivismo e fenomenologia, ou quantitativo e qualitativo. Porém a partir da década de 80 nota-se uma mudança de visão paradigmática, confirmando aquilo que Demo (1987) já havia relatado “nas ciências sociais, as visões não são definitivas, porém estão em passagem ou transição, admitindo sempre aperfeiçoamentos e superações”. Cabe então retomar este termo bastante difundido, mas ainda com muito a ser refletido e, neste capítulo, se descreve o significado deste termo para definir o que será considerado um paradigma dentro deste estudo. Buscou-se iniciar a questão a partir de Kuhn (2003). Apesar do conceito ter sido exposto a uma ampla variedade de interpretações Kuhn tem grande influência na discussão paradigmática até os dias de hoje. Para Kuhn (2003) o conhecimento científico desenvolve-se através da contestação de observações ou do ajustamento de teorias, essas contestações 45 e ajustamentos são partes comuns da pesquisa normal da ciência. O autor explica o significado de “ciência normal”. Na sua visão a ciência normal seria a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas. Essas realizações são reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade científica específica proporcionando os fundamentos para sua prática posterior (KUHN, 2003, p.29). Kuhn utiliza o termo paradigma em lugar de teoria para denominar o que é rejeitado e substituído durante as revoluções científicas (FEITOSA, 1993). A originalidade de Kuhn consistiu em detectar, sob os pressupostos ou postulados, um fundo coletivo de evidências escondidas e imperativas, que denominou os paradigmas, e em sustentar que as grandes transformações na história das ciências eram constituídas por revoluções paradigmáticas (MORIN, 2002, p. 259) Um paradigma é a unidade mais geral de consenso dentro de uma ciência e serve para diferenciar uma comunidade científica de outra, definindo e inter-relacionando as teorias, os métodos e instrumentos (KUHN, 2003). Para o autor, então, os paradigmas são as visões de mundo que orientam as pesquisas científicas. Boeira e Vieira (2006) desaconselham a utilização da noção de paradigma determinada por Kuhn em estudos organizacionais. E expõem que a noção de paradigma determinada por Morin (2003), explicada a seguir, ultrapassa a de Kuhn, englobando-a. O sentido do termo grego paradigma oscila em Platão em torno da exemplificação do modelo ou da regra. Para Aristóteles, o paradigma é o argumento que, baseado em um exemplo, destina-se a ser generalizado (MORIN, 2002, p. 258, grifo do autor). Morin (2002, p. 261) ainda relata que um paradigma contém, para todos os discursos que se realizam sob seu domínio, os conceitos fundamentais ou as categorias mestras de inteligibilidade. 46 Guba e Lincoln (1994) definem paradigma como um sistema de crenças básicas sobre a natureza da realidade (ontologia), sobre a relação entre o investigador e o investigado (epistemologia) e sobre o modo que podemos obter o conhecimento desta realidade (metodologia). Não se trata, portanto de um aspecto apenas metodológico, os três componentes principais de qualquer paradigma (ontologia, epistemologia e metodologia) estão inter relacionados. Deste modo a crença básica que o pesquisador assume em um campo ontológico deve ser coerente com a escolha nos campos epistemológico e metodológico (VALLES, 2000), ou seja, a escolha do método de pesquisa depende de uma postura filosófica sobre a possibilidade de investigar a realidade (ROESCH, 1999). Assim, os indivíduos conhecem, pensam e agem conforme os paradigmas neles inscritos culturalmente. Os sistemas de idéias são radicalmente organizados em virtude dos paradigmas (MORIN, 2002). No entanto, em um dado momento, podem coexistir diferentes concepções de mundo, de natureza e de conhecimento (ANDERY et al, 1996). O paradigma é uma teoria ampliada, formada por leis, conceitos, modelos, analogias, valores e regras para avaliação de teorias e formulação de problemas, entre outros aspectos. Os paradigmas servem como norteadores da atividade de pesquisa, pois instituem teorias (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSNAJDER, 1999). Os paradigmas são um conjunto de referenciais que orientam a compreensão que se tem acerca de determinado fenômeno (APPOLINÁRIO, 2005). Eles filtram a percepção da pessoa e podem ser tão poderosos que até determinam o que será real para a pessoa (DUARTE Jr, 2004, p.2). Além disso, os paradigmas estabelecem uma espécie de crença dogmática quase igual à fé religiosa. Os autores que tiveram grande destaque e contribuição na área de paradigmas em estudos organizacionais foram Burrel e Morgan (1979), e Morgan (2005), sendo este um dos autores mais citados. Morgan (2005) 47 propôs um modelo de paradigma, ou seja, uma base ontológica e epistemológica que, segundo Burrel e Morgan (1979) fundamentariam as teorias organizacionais modernas. Muitos pesquisadores utilizaram os quatro paradigmas para analisar a produção científica, e utilizaram os autores como embasadores de estudos. De forma didática, Burrell e Morgan (1979) apresentaram à academia de Administração norte-americana um modelo de categorização dos campos paradigmáticos. Os autores sobrepunham dois eixos: um representaria os pressupostos metateóricos sobre a natureza da ciência, opondo a ciência “objetivista” à ciência “subjetivista”, enquanto o outro simbolizaria as premissas metateóricas sobre a natureza da sociedade, contrastando uma sociologia da “regulação” a uma sociologia da “mudança radical” (CALDAS, 2005). Cada um dos quatro paradigmas – funcionalista, interpretativista, humanista radical e estruturalista radical – reflete uma rede de escolas de pensamento relacionadas, diferenciadas na abordagem e na perspectiva, mas compartilhando suposições comuns fundamentais sobre a natureza da realidade de que tratam (MORGAN, 2005) O paradigma funcionalista é baseado na suposição de que a sociedade tem existência concreta e real, e um caráter sistêmico orientado para produzir um sistema social ordenado e regulado. A perspectiva funcionalista é primordialmente reguladora e prática em sua orientação básica, e está preocupada em atender a sociedade de maneira a gerar conhecimento empírico útil. Já o paradigma interpretativista é baseado na visão de que o mundo social possui uma situação ontológica duvidosa e o que se passa como realidade social não existe em qualquer sentido concreto, mas é um produto da experiência subjetiva e intersubjetiva dos indivíduos. A sociedade é entendida a partir do ponto de vista do participante em ação, em vez do observador. O paradigma humanista radical enfatiza como a realidade é socialmente construída e sustentada, mas vincula sua análise ao interesse no que puder ser 48 escrito como patologia da consciência, por meio da qual os seres humanos aprisionados nos limites de realidade que eles mesmos criam e sustentam (MORGAN, 2005). Enfim a realidade definida pelo paradigma estruturalista radical, assim como a do humanista radical, é baseada na visão da sociedade como uma força potencialmente dominante. No entanto, é ligada a uma concepção materialista do mundo social, definido por estruturas sólidas, concretas e ontologicamente reais. A realidade é vista como existindo por sua própria conta independente do modo como é percebida e reafirmada pelas pessoas em suas atividades diárias (MORGAN, 2005). O argumento de Morgan (2005) baseia-se no fato de que a realidade paradigmática, inconsciente e indiscutida, bem como a aceitação quase hegemônica do paradigma funcionalista, estaria aprisionando e limitando o desenvolvimento do campo, e seria sua missão “libertá-lo” e expandir seus limites (CALDAS, 2005). A intenção de Morgan (2005) seria de, em primeiro lugar, sugerir que o campo cresceria em reflexividade e riqueza se os distintos paradigmas pudessem se reconhecer e eventualmente dialogar no processo de desenvolvimento científico e, em segundo lugar, desvendar caminhos metateóricos pouco explorados e promissores, além do funcionalismo dominante, especialmente os referenciais críticos e interpretativos (CALDAS, 2005) Lewis e Grimes (2005) também fizeram sua contribuição na discussão paradigmática com um guia útil de modelos, distinguindo três abordagens: 1) revisões multiparadigmáticas; 2) pesquisa multiparadigmática; e 3) construção multiparadigmática de teorias. Os autores utilizam o termo “multiparadigmáticas” para denotar perspectivas paradigmáticas distintas, e “metaparadigmática” para uma visão 49 mais holística, que vai além das distinções paradigmáticas revelando assim as disparidades e complementaridades. Mesmo Morgan (2005) utilizou perspectivas paradigmáticas consideradas opostas ou em disputa, porém visando conceber um diálogo entre os paradigmas propostos tal como Lewis e Grimes (2005). Então, as tentativas de classificação de paradigmas como já explicitadas anteriormente normalmente se referem a paradigmas opostos como positivismo e fenomenologia (ROESCH, 1999), ou racionalista e interpretativo (VALLES, 2000), objetivismo e subjetivismo (DAVILA, 1999), ou até mesmo a visão de Trivinõs (1987) que buscou traçar as características e idéias básicas de três correntes epistemológicas: o positivismo, a fenomenologia e o marxismo. Todas estas visões paradigmáticas elencadas são de extremos, normalmente opostos, com visões de mundo diferenciadas. Essa dicotomia entre quantitativo e qualitativo se expressa de forma freqüente em ciências sociais, sendo que o quantitativo seria referente a números, exterior, explicação, fato, e qualitativo seria referente a palavras, interior, compreensão (DAVILA, 1999). González Rey (2005) explica que o pensamento ocidental tem se inclinado em dicotomias, a partir das quais temos concebido o mundo como externo e independente em relação a nós, como se não fossemos parte dele e como se não estivéssemos implicados em seu próprio funcionamento. Evidenciando a preocupante hegemonia do funcionalismo na teoria organizacional que se faz e se reproduz no Brasil. Em uma linha de pensamento semelhante Deshaies (1992) explica que existem duas grandes formas de raciocínio, o que se poderia denominar de paradigma, que decorrem em escolhas no plano dos métodos. Desta forma, se o investigador tiver uma visão de mundo voltada para dedução, para o lógico, o concebido e o geral, fará escolhas diferentes daquela que possui uma forma de raciocinar voltada para indução, para o intuitivo, o percebido e o particular. Os 50 “hábitos de espírito” impregnam secretamente a utilização dos métodos (DESHAIES, 1992). Boeira e Vieira (2006) explicam que, de modo geral, considera-se que a filosofia positivista teria sido afirmada como paradigma desde meados do século XIX, fundamentando o desenvolvimento de pesquisas quantitativas e experimentais, enquanto a filosofia fenomenológica como um “novo paradigma” ou método de pesquisa nas ciências sociais. A crise dos paradigmas caracterizou-se por ser o momento em que foram colocados em questão os aspectos da ciência dominante na década de 60: o positivismo. Em conseqüência disso, pois até então a ciência era inabalável, surgiram diversas reações que foram desde o relativismo radical, até a busca de uma ciência voltada para a transformação social (ALVESMAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1999, p. 129). No entender de Triviños (1987, p. 31) o declínio do positivismo, além de outros fatores, ocorreu pelo fato de que a investigação tornou-se algo mecânico “sem sentido, opaca, estéril”. Em meio a essa confusão começaram a surgir modelos diferentes do positivismo, que foram denominados por Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1999) como os “paradigmas qualitativos” e, além deste, três paradigmas sugiram como sucessores do positivismo: o construtivismo social, o pós-positivismo e a teoria crítica. Boaventura Santos (2003) reconhece que estamos vivendo um período de revolução científica e Caldas (2005) aponta que estamos promovendo a diversidade paradigmática na direção de outros referenciais. Neste ambiente novas reflexões surgem, mais do que a oposição quantitativo/qualitativo, inicia-se uma distinção ontológica entre qualidade e quantidade, porém, ambas em relação dialética, pois é possível a transformação de uma em outra (DAVILA, 1999). Boeira e Vieira (2006) buscam introduzir a noção de Grande Paradigma do Ocidente (GPO), proposta por Edgar Morin. Segundo Morin, o Grande 51 Paradigma do Ocidente pode ser considerado, de fato, um paradigma, na medida em que determina os conceitos soberanos e prescreve a disjunção - a separação ou desunião - como sendo a relação lógica fundamental. A obra de Morin é admirável, extensa e complexa, revelando inegavelmente um espírito criativo, instigante, sensível, compassivo com as grandes questões planetárias, às vezes até mesmo marginal e difícil de ser avaliada de forma sistemática, e tem constituído uma semente inspiradora de vários núcleos de pesquisa e de pensadores em vários países, principalmente de língua latina (VASCONCELOS, 2002). Dessa forma, e retomando Kuhn, Boeira e Vieira (2006) explicam que as transformações do conceito de paradigma sugeridas por Kuhn, em direção à idéia de matriz disciplinar, o tornam menos e não mais atrativo para as ciências sociais – especialmente para o campo dos estudos organizacionais. Pois, além deste campo abrigar inúmeras disputas de natureza teórica e epistemológica, Kuhn acabou seguindo uma trajetória de estreitamento e normalização graduais do seu próprio conceito de paradigma Reconhece-se então que vários paradigmas podem coexistir, dispondo para isso de espaços diferenciados, ainda que mantenham relações conflitantes e permaneçam cegos uns em relação aos outros. De certa forma, a concepção de Morin transcende e engloba a noção de Kuhn, ao mesmo tempo em que a critica como confusa e limitada (BOEIRA; VIEIRA , 2006, p.40). Diferentes paradigmas podem e têm utilizado metodologias qualitativas. Isto não quer dizer, porém, que não se possa, no interior desses paradigmas, distinguir pesquisas cuja ênfase recai sobre a compreensão das intenções e dos significados dos atos humanos, de outras que não têm essa preocupação (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2004). O surgimento desses paradigmas, mesmo gerando alguns equívocos em relação a seus conceitos, fez também surgir um diálogo entre eles, trazendo benefícios à ciência e tornando o panorama de pesquisa atual extremamente complexo. 52 As perspectivas multiparadigmáticas oferecem a possibilidade de criar novos insights porque partem de diferentes bases ontológicas e epistemológicas, o que implica a possibilidade de vislumbrar diferentes facetas do fenômeno organizacional e produzir diferenças marcantes e informações sobre visões teóricas ou fenômenos em estudo (GIOIA; PITRE, 1990). Bericat (1998) ressalta que a ciência social, desde a sua origem, é multiparadigmática. Para o autor, existem vários modos de se perceber e conceber a realidade social, fornecendo ao pesquisador várias possibilidades de investigação da realidade. A distinção quantitativa/qualitativa é uma oposição binária que esconde uma distinção mais complexa, não dicotômica e não hierárquica (STABLEIN, 2001) e o lugar fundamental, e ideal da investigação social está na tensão entre o qualitativo e o quantitativo (ADORNO, 1979). Então, a existência desta dicotomia permite aos investigadores sociais repensar suas noções paradigmáticas, e, quem sabe, aprender novas formas de ver o mundo. Os diversos paradigmas estão começando a se misturar de tal forma que dois teóricos, que antes viveriam em eterno conflito, agora podem “dar a impressão que um está prestando informações aos argumentos do outro” (LINCOLN; GUBA, 2006, p. 170) No início Guba e Lincoln (1994) focaram na disputa entre vários paradigmas de pesquisa pela legitimidade e pela hegemonia intelectual e paradigmática. disputavam Os paradigmas legitimidade com pós-modernos, paradigmas que positivista foram e discutidos, pós-positivista geralmente aceitos. Porém durante o período entre a publicação do Handbook of qualitative research e The Landscape of qualitative research: theories and issues ocorreram mudanças substanciais no panorama da investigação científica social. 53 No que diz respeito à legitimidade, Denzin e Lincoln (2006) observaram que os pesquisadores que se interessavam sobre paradigmas e epistemologia tinham grande curiosidade em ontologias e epistemologias diferentes daquelas que ofereciam um amparo à ciência social convencional. Os pesquisadores com experiência na ciência social quantitativa tinham interesse em aprender um pouco mais sobre as abordagens qualitativas, devido ao crescimento deste tipo de pesquisa. Para Denzin e Lincoln (2006) o aumento de pesquisadores atentos na investigação de novos paradigmas vem crescendo e, na opinião dos autores, não existem dúvidas de que a legitimidade dos paradigmas pós-modernos está bem estabelecida e no mínimo, iguala-se a legitimidade dos paradigmas aceitos e convencionais (DENZIN; LINCOLN, 2006). Apesar da afirmação otimista dos autores Denzin e Lincoln (2006) este estudo buscou o referencial paradigmático pós-moderno proposto por Lincoln e Guba (2006). Porém, apesar de estar-se vivenciando em estudos organizacionais uma dominação positivista, torna-se importante optar por um referencial paradigmático pós-moderno, pois a intenção é a busca de um momento de reflexão e de uma explicação paradigmática que abarque mais do que simples dicotomias quali-quantitativas. Portanto se afirmarmos que são os paradigmas que estão em disputa é menos útil do que provar onde e como os paradigmas demonstram confluência e onde e como demonstram diferenças (LINCOLN; GUBA, 2006, p. 170). Os paradigmas analisados neste estudo são aqueles propostos pelos autores Lincoln e Guba (2006): positivismo, pós-positivismo, teoria crítica, construtivismo e participativo, considerados paradigmas pós-modernistas. Também Creswell (2003) propõe, como paradigmas alternativos, construtivismo, participativo, porém considerou-se a visão de Lincoln e Guba (2006) mais abrangente. 54 Na visão dos autores Denzin e Lincoln (2006b, p. 34) estes paradigmas são um conjunto de crenças básicas que orientam a ação, ou seja, os paradigmas são uma rede que contém premissas epistemológicas, ontológicas e metodológicas do pesquisador. O pós-modernismo, na definição de May (2004) é a crença de que o conhecimento é tanto local como contingente, e que não há padrões além dos contextos particulares por meio dos quais podemos julgar a sua verdade ou falsidade. Refere-se a uma perspectiva cultural ou um movimento, uma epistemologia. Como já explicado, este estudo se embasa nos paradigmas pósmodernos propostos por Lincoln e Guba (2006) para os autores os paradigmas possuem imbricação com as questões, e assim sendo, são fonte de reflexão Axiologia Questão para todos os paradigmas. Positivismo Póspositivismo O saber proposicional a respeito do mundo é, por si só, uma finalidade, possui valor intrínseco Teoria Crítica e outros Construtivismo Participativo O saber prático sobre como prosperar em uma cultura, com um O saber transacional, equilíbrio proposicional, revela um valor entre a instrumental como meio para a autonomia, emancipação social,a qual, sendo a por si mesma uma finalidade, cooperação possui valor intrínseco ea hierarquia é, por si só, uma finalidade, possui valor intrínseco. Ontologia Realismo ingênuorealidade “real” mas inteligível Epistemologia Dualista/ objetivista; descobertas verdadeiras Metodologia 55 Experimental/ manipuladora; verificação de hipóteses, métodos quantitivos Realismo Realidade Realismo históricocríticoparticipativa realidade virtual realidade “real”, influenciada por Relativismo – - realidade mas apenas valores sociais, local e subjetivaimperfeitament objetiva, copolíticos realidades econômicos, especificamente criada pela ee probabilisticam construídas mente e por étnicos, de ente inteligível gênero um dado (apreensível) cristalizados ao cosmos. longo do tempo. Subjetividad e crítica na transação participativa com o Objetivista/ cosmos, dualista epistemolomodificada; Transacional/ Transacional/ gia tradição crítica/ subjetivista; subjetivista; ampliada comunidade; descobertas descobertas para descobertas valores criadas experimenta provavelmente ção verdadeiras. proposital e conhecimen to descobertas co-criadas. Participação Experimental política e modificada/ investigaçã manipuladora; o de ação multiplismo Dialógica/dialéti Hermenêutica/ colaborativa crítico, ca dialética uso da falsificação de linguagem e hipóteses, pode métodos incluir métodos baseados qualitativos no contexto Quadro 2 : Os paradigmas pós-modernos Fonte: Lincoln e Guba (2006, p. 173) No paradigma positivista o mundo social existe externamente ao homem, e suas propriedades, devem ser medidas através de métodos objetivos (ROESCH, 1999). Este paradigma, ainda dominante em ciências sociais, tem como aspecto central determinada concepção do método 56 científico, seguindo o modelo das ciências naturais método, neste caso, quer dizer verificação de teorias (HAMMERSLEY; ATKINSON , 1994). Os paradigmas positivista e pós-positivista funcionam a partir de uma ontologia realista e crítico-realista e de epistemologias objetivas dependendo de metodologias experimentais, ou quase-experimentais (DENZIN; LINCOLN, 2006). Percebe-se a predominância deste paradigma nos estudos organizacionais quando Dalmoro, Faller e Wittmann (2006) analisaram 835 trabalhos publicados no ENANPAD 2006, e, a média geral indicou o paradigma positivista como dominante, inclusive nas áreas mais tradicionais. Porém, apesar de ser o paradigma dominante para muitos, o enfoque positivista é considerado como uma visão artificial e limitada para o contexto sociológico. Suas raízes são plantadas no modelo das ciências naturais de cunho cartesiano (HAMMERSLEY; ATKINSON, 1994). Complementando o exposto acima para Rocha e Ceretta (1998) o positivismo admite que o espírito humano é capaz de atingir verdades positivas ou de ordem experimental, mas não resolve as questões metafísicas, não verificadas pela observação e experiência. Os paradigmas positivista e pós-positivista funcionam a partir de uma ontologia realista (positivismo) e crítico-realista (pós-positivismo) e de epistemologias objetivas. Além disso, dependem de metodologias experimentais, ou quase experimentais, de levantamentos e rigorosamente definidas (DENZIN; LINCOLN, 2006b). O pós-positivismo também é reconhecido como positivismo lógico, pois prega a necessidade da junção da lógica-matemática com o empirismo, para compreender-se. O propósito do pós-positivismo para Appolinário (2004, p. 159) é a verificabilidade, pois para que uma proposição seja considerada verdadeira, deve ser logicamente coerente e ser suscetível de verificação empírica. 57 Diferentemente dos paradigmas positivistas, o paradigma da teoria crítica, na opinião de Vieira e Caldas (2007), ainda gera muita confusão devido ao desconhecimento da sua origem e de seus fundamentos teóricos, os autores explicam que a teoria crítica tem por base a seguinte questão é impossível mostrar as coisas como realmente são, senão a partir da perspectiva de como elas deveriam ser (grifo dos autores). A teoria crítica não admite a neutralidade positivista, sua visão é subjetiva e a realidade é enxergada através de valores sociais, políticos, econômicos (LINCOLN ; GUBA, 2006). Já o construtivismo supõe uma ontologia relativista, ou seja, acredita na existência de realidades múltiplas, de epistemologia subjetiva. Termos como credibilidade, confiança e confirmação substituem os critérios positivistas de validade interna e externa e objetividade (DENZIN; LINCOLN, 2006b). Já o construtivismo supõe uma ontologia relativista, ou seja, acredita na existência de realidades múltiplas, de epistemologai subjetiva. Termos como credibilidade, confiança e confirmação substituem os critérios positivistas de validade interna e externa e objetividade (DENZIN; LINCOLN, 2006b). Para Freitag (1995) o construtivismo parte do pressuposto epistemológico de que os pensamentos não tem fronteiras: ele se constrói, se desconstrói, se reconstrói. O paradigma participativo foi incluído nos paradigmas pós-modernos analisados. Este paradigma foi proposto por Heron e Reason (apud LINCOLN; GUBA, 2006) e tem uma suposição pós-positiva, pós-moderna e criticalista, este paradigma foi acrescido como mais uma possibilidade paradigmática qualitativa, em conjunto com o paradigma construtivista e teoria crítica pelos autores Lincoln e Guba (2006). Os paradigmas expostos acima (positivismo, pós-positivismo, teoria critica e participativo) serão os paradigmas analisados. As questões práticas têm relação intrínseca com os paradigmas pós-modernos, e as estratégias de 58 pesquisa serão posicionadas de acordo com as questões práticas e, consequentemente com os paradigmas. No próximo capítulo serão discutidas as questões práticas que serão analisadas neste estudo. 59 4 DISCUSSÃO DAS QUESTÕES PRÁTICAS SELECIONADAS Ressalta-se a importância de discutir as questões práticas propostas por Lincoln e Guba (2006). As questões práticas, para os autores, são as questões mais críticas enfrentadas por todos os paradigmas. Cada paradigma (positivismo, pós-positivismo, teoria crítica, construtivismo e participativo) assume uma postura diferenciada diante das questões práticas. Apesar de serem as questões mais polêmicas, podem ser fonte de estímulo para “criar o espaço intelectual, teórico e prático para que ocorra o diálogo, o consenso e a confluência” (LINCOLN; GUBA, p. 171). Estas questões propostas por Lincoln e Guba (2006) - axiologia; acomodação e comensurabilidade; ação; controle; fundamentos da verdade; validade e; voz, reflexividade e representação pós-moderna - são explicadas neste capítulo, pois serão a base teórica operacional para a análise das estratégias de pesquisa, quando, no próximo capítulo, as estratégias serão posicionadas de acordo com as questões práticas explicadas aqui.. As questões são enfrentadas por todos os paradigmas e se modificam. Cabe salientar que estas não são as únicas questões existentes, porém, são algumas das consideradas críticas e passíveis de discussão e diálogo. Convém explicar o desenvolvimento do quadro 2, na visão dos autores Lincoln e Guba (2006). Inicialmente Guba e Lincoln (1994) na primeira edição do livro The landscape of qualitative research discutiram a natureza axiomática - verdadeira por si mesma - dos paradigmas (antes foram considerados apenas quatro paradigmas positivismo, pós-positivismo, teoria crítica e construtivismo), e também discutiram as questões que acreditaram serem as mais fundamentais para a diferenciação dos paradigmas. As questões examinadas foram aquelas que, na opinião dos autores, geravam mais controvérsias. Na época foram estas as questões examinadas: objetivo investigativo, natureza do conhecimento, o modo como o 60 conhecimento se acumula, a bondade ou critérios de qualidade, os valores, a ética, a voz, o treinamento, a acomodação e a hegemonia. Entretanto, desde a publicação de Guba e Lincoln (1994), houve diversos pesquisadores interessados naquilo que foi discutido através das questões e dos paradigmas e, então, os autores Heron (1996) e Heron e Reason (1997) reescreveram as questões e incluíram um novo paradigma: participativo, aceito por Lincoln e Guba (2006). O objetivo atual dos autores é ampliar ainda mais a discussão acerca dos paradigmas e das questões práticas com base no que Heron e Reason (1997) acrescentaram e, também, na reformulação das questões práticas. Às questões foram acrescentadas às sugestões de Heron e Reason (1997) que também propuseram, na escolha dos autores Lincoln e Guba (2006) o que seria o mais importante a ser discutido na atualidade. Uma questão importante, nesse caso, pode ser aquela que possa ser amplamente debatida, contestada ou que exponha uma nova consciência. Na reformulação das questões práticas foram englobadas novas questões e, apesar dos autores considerarem estas, e as questões anteriores, as mais controversas, também crêem que elas acrescentam um espaço intelectual para ocorrer o diálogo, o consenso e a confluência. Existe então, a partir destas questões, um grande potencial para a incorporação de múltiplas perspectivas. È necessário deixar claro que neste estudo faremos a análise das estratégias de pesquisas empíricas diante das questões práticas mais atuais, reformuladas pelos autores Lincoln e Guba (2006) desde a publicação da primeira edição do livro (axiologia; acomodação e comensurabilidade; ação; controle; fundamentos da verdade; validade, voz, reflexividade e representação pós-moderna) por serem as questões mais críticas enfrentadas por todos os paradigmas A escolha destas questões mais atuais se deu pelo fato de que, além delas ainda não terem sido discutidas, são questões que geram contribuição reflexiva, lembrando que cada paradigma assume uma postura 61 diferente nesses tópicos, e neste estudo as questões mais atuais serão analisadas no próximo capítulo. No quadro 2 apresenta-se as questões de Guba e Lincoln (1994) juntamente com as questões práticas mais atuais de acordo com os cinco paradigmas pós-modernos propostos por Lincoln e Guba (2006). Os paradigmas identificados pelos autores foram: positivismo; pós-positivismo; teoria crítica e outras; construtivismo e participativo já explicados Bondade ou critérios de qualidade Acúmulo de conhecimento Natureza do conhecimento Questão anteriormente. Positivismo Póspositivismo Teoria Crítica e outros Construtivismo Participativo Epistemologia ampliada: priReconstruções mazia da Insights individuais que subjetividade estruturais/ se fundem em crítica; saber Históricos torno de um prático; consenso conhecimento vivo. Em Acréscimo- “blocos de comunidades Reconstruções Revisionismo de construção” que se somam mais informadas investigação ao “edifício do histórico; e sofisticadas; conhecimento”; generalização implantadas experiência generalizações e vínculos de por similaridade. em vicária. causa e efeito. comunidades de prática Congruência do saber experimental, Situacionalidade presentacional histórica, proposicional Pontos de referência desgaste da e prático; convencionais do ”rigor”; Fidedignidade e ignorância e dos conduz à ação validade interna e externa, autenticidade equívocos; a fim de confiabilidade e objetividade. estímulo para transformar o ação. mundo a serviço da prosperidade humana. Verificação das Hipóteses nãohipóteses falsificadas que estabelecisão fatos ou das como leis prováveis fatos ou leis Ética Inclinação extrínseca para fraude Postura do investigador Cientista desinteressado como um informante dos “Intelectual tomadores transformativo” de como um decisões, defensor e dos ativista elaboradores de políticas e dos agentes de mudanças. Treinamento 62 Técnico e quantitativo, teorias substantivas Técnico, quantitativo e qualitativo, teorias substantivas. Inclinação moral intrínseca para a revelação Inclinação do processo intrínseco para a revelação Participante apaixonado como um facilitador da reconstrução multivocal Ressocialização, qualitativo e quantitativo; história, valores de altruísmo e de capacitação. Manifesto da voz primária por meio da ação autoreflexiva consciente; vozes secundárias na teoria elucidativa, na narrativa, no movimento, na música, na dança e em outras formas de apresentação. Copesquisadores são iniciados no processo de investigação pelo facilitador/pesquisador e aprendem pelo envolvimento ativo nesse processo; facilitador/pesquisador exige uma competência emocional, uma personalidade democrática e habilidades. Comensurável a todas as formas positivistas Incomensurável com as formas positivistas; comensurabilidade parcial com as abordagens construtivista, criticalista e participativa, especialmente à medida que estas fundem-se em abordagens liberacionistas fora do Ocidente. Ação O saber proposicional a respeito do mundo é, por si só, uma finalidade, possui valor intrínseco. O saber prático sobre como prosperar em uma cultura, O saber transacional, com um proposicional, revela um valor equilíbrio instrumental como meio para a entre a emancipação social, a qual, sendo autonomia, a por si mesma uma finalidade, cooperação e possui valor intrínseco. a hierarquia são, por si só, uma finalidade, possui valor intrínseco. Não é responsabilidade do pesquisador, enxergada como “defesa” ou subjetividade, e, por isso, considerada uma ameaça à validade e à objetividade. Controle Acomodação e comensurabilidade Axiologia 63 Encontra-se exclusivamente no pesquisador Encontrada especialmente na forma de capacitação, previsão e esperança de emancipação; o objetivo final é a transformação social, particularmente em direção a maior eqüidade e justiça. Geralmente encontra-se no “intelectual transformativo”; novas construções, o controle volta à comunidade. Entrelaçamento com a validade; a investigação muitas vezes mostra-se incompleta sem ação por parte dos participantes; a formulação construtivista determina que seja feito um treinamento em ação política caso os participantes não entendam os sistemas políticos. Compartilhado Compartilhado entre o em níveis investigador e variados os participantes Voz, reflexividade, representações textuais pós-modernas. Ampliação das considerações sobre a validade (critérios da bondade) Relação com os fundamentos da verdade e do conhecimento 64 Fundacionalista Construções positivistas tradicionais da validade; rigor, validade interna, validade externa, confiabilidade, objetividade. Fundacionalista dentro da crítica social Antifundacionalista Não – fundacionalista Estímulo para ação (ver acima), transformação social, eqüidade, justiça social. Construções ampliadas da validade: a)validade cristalina (Richardson); b)critérios de autenticidade (Guba e Lincoln); validades catalíticas, rizomáticas, voluptuosas (Lather); critérios relacionais e centralizados na ética (Lincoln); e)determinações de validade centralizadas na comunidade. Veja “ação” acima Mistura de Mistura de vozes; vozes, em que representação as vozes dos textual participantes às raramente vezes são Voz do pesquisador, Mistura de discutida, dominantes; principalmente a reflexividade vozes entre o porém, reflexividade pode ser considerada um pesquisador e problemática; séria e problema na objetividade; os participantes reflexividade problemática; representação textual nãodepende da representação problemática e, de certa subjetividade textual e forma, chavão. crítica e da ampliação da autoconsciênquestão. cia. As práticas de representação textual podem ser problemáticas, ou seja, “fórmulas de ficção”, ou “regimes de verdade” não-examinados. Quadro 2: As questões práticas Fonte: Lincoln e Guba (2006, p.174). 65 No quadro 2 se vê todas as questões práticas, porém, apenas as questões mais atuais serão expostas neste capítulo, pois elas serão base para análise posterior, na qual resultará no posicionamento paradigmático das estratégias de pesquisa empíricas. Cabe então explicar as questões mais atuais, que poderão gerar uma oportunidade de diálogo, no próximo capítulo. 4.1 As questões práticas selecionadas para este estudo A primeira questão é a axiologia. Lincoln e Guba (2006) explicam que esta questão prática se mistura com as crenças básicas dos paradigmas, no caso: ontologia, epistemologia e metodologia. O único motivo que fez os autores manterem a axiologia como uma questão prática é o fato desta interessar-se pela “religião”. Para os autores a questão da axiologia é um local onde o espiritual encontra a investigação social. Lincon e Guba (2006) também explicam que a axiologia se junta ao processo de investigação nos seguintes sentidos: na escolha do problema; na escolha do esquema teórico; na escolha dos principais métodos de coleta e análise de dados; na escolha do contexto, no tratamento dos valores que já residem dentro do contexto e na escolha do formato de apresentação das descobertas. Alguns destes sentidos serão analisados nas questões posteriores. E todos esses sentidos confluem com a escolha paradigmática do pesquisador. Por este motivo à questão da axiologia é explicada em conjunto com os paradigmas, pelo fato de concordar que a axiologia não deveria ser uma questão prática, mas um dos itens das crenças básicas dos paradigmas. A segunda questão refere-se à acomodação e comensurabilidade. Em estudos realizados a partir de 1981, a visão dos autores Lincon e Guba (2006) quanto a comensurabilidade em nível paradigmático não era considerada possível. Para os referidos autores existir comensurabilidade entre os 66 paradigmas positivista e pós-positivista, com os outros paradigmas - teoria crítica, construtivismo e participativo - era considerado inviável, porém, dentro dos paradigmas, comensurabilidade. nas A estratégias de comensurabilidade, pesquisas neste poderiam estudo, ocorrer significa a possibilidade de existir a prática simultânea de diferentes paradigmas, ou diferentes metodologias. Com a reformulação deste pensamento – de ser impossível existir comensurabilidade paradigmática - os autores passam a admitir alguma comensurabilidade, todavia de forma bastante cautelosa, pois, caso os paradigmas possuam axiomas em comum, podem ser comensuráveis por seguirem a mesma tendência e, desse modo, conseguem ajustar-se confortavelmente. Porém, os paradigmas entram em confronto quando existem axiomas contraditórios e mutuamente exclusivos. A pergunta chave para esta questão é: os paradigmas são comensuráveis? Existe a possibilidade de misturar elementos de um paradigma com os elementos de outro, de forma que alguém possa envolver-se em uma pesquisa que represente o que há de melhor nestas duas visões de mundo? Apesar dos autores Lincoln e Guba (2006) não explicarem a questão da acomodação através dos estudos percebe-se que a acomodação seria o fato de não existir comensurabilidade, ou seja, de um paradigma não intervir em outro, e por este motivo permaneceria em estado de acomodação. A terceira questão prática é o apelo à ação. O apelo à ação é uma das questões que Lincoln e Guba (2006) acreditam existir grande controvérsia paradigmática, e também uma diferença muito evidente entre os paradigmas positivistas e pós-positivistas, e os outros paradigmas. Os pesquisadores adeptos do positivismo vêem o apelo à ação como uma ameaça à objetividade e aos resultados da pesquisa, que podem, a partir do apelo à ação, ficarem contaminados. Existe então um apelo fraco à ação neste paradigma positivista. 67 A questão do apelo à ação pode ser relacionada tanto a transformação interna, quanto à transformação social. A mudança em direção à ação, na visão de alguns teóricos, surgiu para responder ao vasto não aproveitamento das descobertas realizadas em pesquisas. O controle do estudo é a quarta questão prática a ser analisada. Quem inicia o controle? Quem determina os problemas mais importantes? Quem determina o que compõem as descobertas? Quem determina o modo como os dados serão coletados? Quem determina de que forma as descobertas serão tornadas públicas, ou se é que serão? Quem determina quais são as representações que serão feitas dos participantes da pesquisa? Ou seja, a questão do controle está muito ligada à outra questão prática: a questão da voz, da reflexividade e a questões que envolvem a representação textual pósmoderna. A quinta questão prática refere-se aos fundamentos da verdade e do conhecimento nos paradigmas. Os autores Lincoln e Guba (2006) explicam esta questão com base no fundacionalismo, antifundacionalismo e não-fundacionalismo. Na visão de Godoi, Bandeira-de-Mello e Silva (2006) o fundacionalismo (ou tradição fundacional da filosofia ocidental) é um período que tem a concepção de que o conhecimento só pode ser considerado verdadeiro se tiver um fundamento absoluto. O segundo período considerado antifundacional (ou relativismo) o conceito de interpretação foi redefinido e o movimento antifundacional não estava em busca da verdade manipulando objetos, nem em obter ou adquirir conhecimento de modo instrumental (GODOI, BANDEIRA-DE-MELLO e SILVA, 2006). Para Lincoln e Guba (2006) o antifundacionalismo é um termo utilizado para designar a recusa em adotar qualquer padrão invariável fundacionalista) pelo qual a verdade pode ser conhecida universalmente. (ou 68 Os fundacionalistas afirmam que os fenômenos reais implicam certos critérios definitivos para testar a sua veracidade, já os não-fundacionalistas afirmam que estes critérios não existem de forma definitiva, somente podemos concordar por um determinado tempo e sob certas condições com alguns destes critérios. Os critérios fundacionalistas são descobertos, e os nãofundacionalsitas são negociados (LINCOLN;GUBA, 2006). A sexta questão atenta para ampliação das considerações sobre a validade. Esta é uma questão que rende diálogos muito férteis. A validade não é como a objetividade, existem razões fundamentais teóricas, filosóficas e pragmáticas que englobam esta questão. A questão da validade, até mesmo nos paradigmas mais atuais, não é uma questão descartada, e é fonte de preocupação por parte destes pesquisadores. Provavelmente a preocupação com a validade é uma herança do positivismo, porém cada paradigma tem seus critérios de legitimação dos dados. No positivismo, Cooper e Schindler (2003) explicam que a validade busca garantir a objetividade de um estudo quantitativo, a validade então é a confiança que se pode tirar das conclusões de uma análise. Uma das questões que envolvem a validade, e que vamos considerar neste estudo, é a combinação entre método e interpretação. Lincoln e Guba (2006) acreditam que a questão da validade em ciências sociais ocorra nesta fronteira entre método e interpretação. A sétima questão é a voz, reflexividade e representação textual pósmoderna. A voz tem significado muitas coisas para diferentes pesquisadores. Os pesquisadores, à medida que adquiriram uma maior consciência das realidades abstratas criadas por seus textos, também passaram a se conscientizar de que os leitores “escutavam” seus informantes, permitindo que esses leitores ouvissem as palavras exatas como sinais paralingüísticos, lapsos, pausas e interrupções dos informantes. 69 A voz na visão de Hertz (1997 apud LINCOLN; GUBA, 2006) tem múltiplas dimensões. A primeira dimensão é a voz do autor. A segunda dimensão é a voz dos entrevistados, de alguém dentro de um texto. A terceira dimensão ocorre quando o eu é o sujeito da investigação. A voz, na visão de Lincoln e Guba (2006), atualmente pode significar não apenas a presença do pesquisador (a voz do pesquisador), mas também a oportunidade dos participantes da pesquisa falarem por si mesmos. A reflexividade é o processo de reflexão crítica sobre o eu na função de pesquisador, sobre o ser humano como instrumento. É um experimentar consciente do eu no papel de investigador e de entrevistado, daquele que vem a conhecer o eu dentro dos processos da pesquisa propriamente dita (LINCOLN; GUBA, 1994, 2006). A reflexividade obriga a nos desfazermos, não apenas quanto ao problema de pesquisa que escolhemos e daqueles que participam da pesquisa, mas a nós mesmos e às múltiplas identidades que representam o eu mutável no cenário da pesquisa. As representações textuais pós-modernas possuem duas vertentes inerentes e que necessitam de alerta. Primeiro é o fato do método de pesquisa levar o pesquisador a acreditar que o mundo é bem mais simples do que realmente é e, segundo, que os textos possam reinscrever formas duradouras de opressão histórica. Existe então uma crise. Essa crise criou duas vertentes, a primeira é a que informa que o mundo é de uma maneira, enquanto pode ser de outra, ou de várias outras maneiras. A segunda é a crise de representação, que serve para silenciar aqueles cujas vidas são apropriadas pelas ciências sociais. E que podem servir para recriar este mundo, e não outro talvez mais complexo. No próximo capítulo aponta-se um possível posicionamento das estratégias de pesquisa empíricas de acordo com as questões práticas explicitadas acima. 70 5 POSICIONAMENTO DAS ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EMPÍRICAS QUANTO AS QUESTÕES PRÁTICAS SELECIONADAS E UMA POSSÍVEL VINCULAÇÃO PARADIGMÁTICA Após a descrição das questões práticas selecionadas torna-se possível apontar um provável posicionamento das estratégias de pesquisa, pois a intenção deste estudo é gerar discussão e reflexão diante das estratégias de pesquisa empíricas utilizadas em estudos organizacionais, dentro destas questões. É importante ressaltar que se torna inviável dissociar as questões práticas dos paradigmas, pois cada paradigma assume uma postura diante das questões práticas. Incluir o posicionamento das estratégias de pesquisa dentro deste contexto sem comentar a questão paradigmática seria um tanto negligente, já que uma questão não se dissocia do paradigma, mas sim o complementa. Além disso, cabe explicar que se buscou na literatura consultada justificar o posicionamento de cada estratégia de pesquisa ao paradigma. Após esta justificativa teórica demonstrada em forma de texto, repete-se parte do quadro do capítulo anterior, porém, somente com as questões práticas a serem analisadas. A análise foi feita justificando teoricamente o posicionamento através das estratégias de pesquisa empíricas tendo como base o significado dos paradigmas e das questões práticas propostas por Lincoln e Guba (2006) e Questão já explicitadas anteriormente. Positivismo Póspositivismo Teoria Crítica e outros Construtivismo Participativo Comensurável a todas as formas positivistas Incomensurável com as formas positivistas; comensurabilidade parcial com as abordagens construtivista, criticalista e participativa, especialmente à medida que estas fundem-se em abordagens liberacionistas fora do Ocidente Ação O saber proposicional a respeito do mundo é, por si só, uma finalidade, possui valor intrínseco. O saber prático sobre como prosperar em uma cultura, O saber transacional, com um proposicional, revela um valor equilíbrio instrumental como meio para a entre a emancipação social, a qual, sendo autonomia, a por si mesma uma finalidade, cooperação e possui valor intrínseco. a hierarquia são, por si só, uma finalidade, possui valor intrínseco. Não é responsabilidade do pesquisador, enxergada como “defesa” ou subjetividade, e, por isso, considerada uma ameaça à validade e à objetividade. Controle Acomodação e comensurabilidade Axiologia 71 Encontra-se exclusivamente no pesquisador Encontrada especialmente na forma de capacitação, previsão e esperança de emancipação; o objetivo final é a transformação social, particularmente em direção a maior eqüidade e justiça. Geralmente encontra-se no “intelectual transformativo”; novas construções, o controle volta à comunidade. Entrelaçamento com a validade; a investigação muitas vezes mostra-se incompleta sem ação por parte dos participantes; a formulação construtivista determina que seja feito um treinamento em ação política caso os participantes não entendam os sistemas políticos. Compartilhado Compartilhado entre o em níveis investigador e variados os participantes Voz, reflexividade, representações textuais pós-modernas. Ampliação das considerações sobre a validade (critérios da bondade) Relação com os fundamentos da verdade e do conhecimento 72 Fundacionalista Construções positivistas tradicionais da validade; rigor, validade interna, validade externa, confiabilidade, objetividade. Fundacionalista dentro da crítica social Antifundacionalista Não – fundacionalista Estímulo para ação (ver acima), transformação social, eqüidade, justiça social. Construções ampliadas da validade: a)validade cristalina (Richardson); b)critérios de autenticidade (Guba e Lincoln); validades catalíticas, rizomáticas, voluptuosas (Lather); critérios relacionais e centralizados na ética (Lincoln); e)determinações de validade centralizadas na comunidade. Veja “ação” acima Mistura de Mistura de vozes; vozes, em que representação as vozes dos textual participantes às raramente vezes são Voz do pesquisador, Mistura de discutida, dominantes; principalmente a reflexividade vozes entre o porém, reflexividade pode ser considerada um pesquisador e problemática; séria e problema na objetividade; os participantes reflexividade problemática; representação textual nãodepende da representação problemática e, de certa subjetividade textual e forma, chavão. crítica e da ampliação da autoconsciênquestão. cia. As práticas de representação textual podem ser problemáticas, ou seja, “fórmulas de ficção”, ou “regimes de verdade” não-examinados. Quadro 3: As questões práticas atuais selecionadas para este estudo Fonte: Lincoln e Guba (2006, p.174). 73 Como já explicitadas anteriormente, estas questões são aquelas que ainda não foram discutidas pelos pesquisadores e são as questões mais controversas na visão de Lincoln e Guba (2006), porém, e, inclusive, por serem as mais críticas, são as que têm grande poder de contribuição para gerar reflexão. A questão da axiologia não será analisada neste capítulo por ser fortemente confundida com a vinculação paradigmática, este ponto foi explicado no capitulo anterior, sob a justificativa dos próprios autores Lincoln e Guba (2006). Desta forma, a questão da axiologia será retomada no próximo capítulo. 5.1 A questão da “Acomodação e Comensurabilidade” O estudo de caso é tradicionalmente utilizado em pesquisa qualitativa, é também conhecida como a principal estratégia de pesquisa utilizada em estudos qualitativos (GODOI; BALSINI, 2006). Porém, em estudos organizacionais, esta estratégia também é muito utilizada como forma de estudo de caso quantitativo apesar de sempre predominar o uso do tipo qualitativo. Mariz et al. (2004) associam este fato à grande versatilidade desta estratégia, expondo que isso contribuiu para disseminação do seu uso em estudos organizacionais. Neste estudo utilizaremos para análise a estratégia de estudo de caso qualitativo, e a estratégia de estudo de caso quantitativo separadamente. Ainda Mariz et al (2004) confirmam o fato de existir a possível comensurabilidade entre métodos (de coleta e análise) admitida pelos autores Lincoln e Guba (1994, 2006). Grande parte de artigos que utilizaram o estudo de caso quantitativo e qualitativo fez uso de mais de um método de coleta de 74 dados, sendo que os dois métodos de coleta de dados mais utilizados foram a entrevista e o questionário. De todas as estratégias utilizadas em estudos organizacionais, além do estudo de caso ser o mais comumente utilizado, é uma estratégia que perpassa o campo qualitativo e o quantitativo, por ser utilizado nestas duas formas. Diante dos paradigmas apresentados, apesar da estratégia de estudo de caso perpassar o campo qualitativo e o quantitativo (ou vice-versa), não é possível considerar uma comensurabilidade do estudo de caso entre todos os paradigmas. Na literatura consultada inexiste uma ligação do estudo de caso com a transformação social, confirmando a incomensurabilidade desta estratégia com o paradigma participativo. Apesar desta estratégia ser inerentemente qualitativa sua intenção não é a transformação social, ou intervenção. Godoy (2006) explica que os estudos de caso adotam um enfoque indutivo no processo de coleta e análise de dados. Os pesquisadores tentam obter suas informações a partir das percepções dos autores locais, colocando “em suspenso” suas pré-concepções sobre o tema que está sendo estudado, porém verifica-se que pode ocorrer comensurabilidade quando Godoy (1995) esclarece que ainda que os estudos de caso sejam essencialmente qualitativos, podem comportar dados quantitativos para aclarar algum aspecto de questão investigada. Devido à vasta comensurabilidade entre a estratégia de pesquisa de estudo de caso aos paradigmas, podemos considerar esta estratégia com pouca acomodação, pois ela transita entre os diversos paradigmas de pesquisa, com exceção do participativo,sendo assim uma estratégia de grande “movimento”. No caso da estratégia etnográfica e da estratégia historiográfica torna-se quase inaceitável uma comensurabilidade entre estas estratégias e os paradigmas positivista e pós-positivista, devido ao fato de serem estratégias 75 intrinsecamente qualitativas e interpretativas e que não utilizam métodos de coleta e análise de dados de cunho quantitativo. As questões axiomáticas destas duas estratégias entram em desarmonia quando se força existir uma comensurabilidade entre o paradigma positivista e pós-positivista. Parece poder existir comensurabilidade dentre estas duas estratégias e os paradigmas teoria crítica, construtivismo e participativo, inclusive no que tange aos métodos de coleta e análise de dados qualitativos. Porém, não existirá comensurabilidade entre paradigmas quantitativos e métodos de coleta e análise de dados quantitativos. Alberti (2004) explica que é necessário o uso de metodologias qualitativas e que a entrevista é o caminho apropriado para este tipo de investigação, na prática, este argumento foi comprovado através do estudo de Godoi e Balsini (2006) quando analisaram artigos das principais revistas científicas brasileiras que utilizaram estratégias de pesquisa qualitativas, o resultado foi expressivo: 56,6% dos artigos analisados utilizaram a entrevista como método de coleta de dados. Devido à ausência de comensurabilidade entre paradigmas quantitativos e qualitativos nas estratégias de pesquisa etnográfica e historiográfica considera-se estas duas estratégias em estado de maior acomodação paradigmática, ou seja, existe uma maior dificuldade de transição entre os paradigmas. A pesquisa-ação é uma estratégia que, tal como o estudo de caso, poderá ser comensurável com alguns paradigmas. Inclusive existem autores como Yin (2003, 2005) e Éden e Huxham (1996, 2001) que consideram a pesquisa-ação como uma variação do estudo de caso, e por este motivo, todas as características do estudo de caso também seriam da estratégia de pesquisa-ação. Porém, tem-se uma consideração diferente neste estudo, já que o estudo de caso se diferencia da pesquisa-ação pelo fato de não se preocupar em intervir na organização, ou no “caso” a ser analisado. Macke (2006) compartilha da mesma idéia. 76 Thiollent (1999, 2005) afirma que a pesquisa-ação não é um estudo de caso, mas, assim como o estudo de caso, também pode fazer uso de métodos de coleta e análise de dados qualitativas e quantitativas. A estratégia de pesquisa-ação pode ser comensurável aos paradigmas teoria crítica, construtivismo, participativo e ao pós-positivismo, pois existe confluência quanto ao uso de métodos de coleta ou análise quantitativos, mas não devido ao pensamento paradigmático desta estratégia. A estratégia de pesquisa grounded theory será analisada diante de duas vertentes. A primeira a grounded theory de Glaser e Strauss (1965), que englobaremos aqui como sendo também a visão de Strauss e Corbin (1998, 2008). E a segunda a grounded theory de Charmaz (1994). Na estratégia de pesquisa da grounded theory nota-se alguns procedimentos considerados de análise positivista e construtivista, no entanto estes procedimentos são de origem paradigmática e também de origem metodológica (como fazer) durante o processo de coleta de dados. Explicam Strauss e Corbin (2008) que não se pode ir a campo com posições paradigmáticas pré-determinadas (apesar dos autores saberem que isso influencia a coleta de dados), pois os dados coletados emergem inicialmente de forma qualitativa para, então, decidir qual será a melhor forma de continuar a coleta, e isso dependerá do que for o mais apropriado naquele momento, ou seja, poderá ser uma coleta de dados através de questionários ou entrevistas. Charmaz (2000) explica que a coleta de dados na estratégia da grounded theory parte-se de casos individuais para desenvolver de forma progressiva categorias conceituais que expliquem e compreendam os dados de forma que identifiquem relações entre eles. Percebe-se que a visão de Charmaz (2000) demonstra um pensamento mais qualitativo e construtivista do que a visão de Strauss e Corbin (2008). 77 As pesquisas do tipo survey e experimentais são comensuráveis somente aos paradigmas positivistas (positivismo e pós-positivismo). Não existe participação destas duas estratégias de pesquisa perante formas qualitativas de pesquisa nem no modo de enxergar a realidade, nem na forma de se coletar e analisar os dados. Percebe-se, então, uma incomensurabilidade das estratégias survey e experimental em relação a outros paradigmas considerados mais qualitativos, que existe uma grande acomodação, ou seja, ausência de movimentação entre os paradigmas. 5.2 A questão da “Ação”. A ação, ou apelo à ação é uma das questões mais controversas entre os paradigmas e, conseqüentemente, entre as estratégias de pesquisa. O apelo à ação se refere tanto à possibilidade de transformação social quanto à influência que pode existir entre o pesquisador e o pesquisado. Na estratégia de estudo de caso podemos notar um apelo à ação fraco. A estratégia de estudo de caso não tem a intenção de realizar uma mudança social em todos os seus aspectos, porém pode abarcar este tipo de pesquisa, apesar de em estudos organizacionais não existir esta intenção. Como esta estratégia perpassa por quase todo o caminho paradigmático possível neste estudo, não podemos desconsiderar a possibilidade de existir estudos de caso com a intenção de realizar mudanças sociais, mesmo que sejam apenas em forma de estímulo de mudança, mas não de realização. Devido à comensurabilidade do estudo de caso entre paradigmas qualitativos e quantitativos, já explicados na questão prática anterior, caso o pesquisador realize um estudo de caso sob o paradigma positivista ou póspositivista ele negará o apelo à ação, pois ele busca se defender daquilo que 78 pode ser subjetivo ou transformador. Entretanto, se o pesquisador utilizar paradigmas qualitativos (teoria crítica, construtivismo) poderá ser constatado um espírito transformador, porém sem intervenção social. A estratégia historiográfica possui uma questão que depende da visão do pesquisador. Thompson (2002) explica que a história oral não é necessariamente um instrumento de mudança, pois isso dependerá da forma que for utilizada. Na visão de Meihy (2002), a “necessidade” da história oral fundamenta-se no sentido de participação social e, por este motivo, tem ligações com a cidadania. Dado o exposto, percebe-se que ao mesmo tempo em que o apelo à ação está, em parte, nas mãos do pesquisador, alguns autores consideram na estratégia historiográfica o dever de ter experiência de participação social. Constata-se também que, na estratégia historiográfica, existe uma relação forte entre pesquisador e pesquisado, por este motivo o principal método de coleta de dados desta estratégia é a entrevista (ICHIKAWA; SANTOS, 2006) e isto já é uma característica de estratégias que advém de paradigmas qualitativos. A historiografia não tem intenção de excluir a subjetividade, pois na produção do conhecimento, na visão de Freitas (2002), fatores como a subjetividade são inevitáveis e, sendo assim a história oral tem adquirido novo status devido aos novos significados atribuídos ao depoimento e à história de vida. A estratégia de pesquisa etnográfica tem um forte apelo à ação. Isto talvez seja característico de estratégias inerentemente qualitativas que constroem um longo trabalho de campo, que não negam a subjetividade e que, através dos pesquisados (participantes da pesquisa) e com a ajuda do pesquisador, podem representar as intenções de uma comunidade e até mesmo realizar mudanças sociais. A construção da etnografia, conforme explanam Andion e Serva (2006), é feita in loco, a partir do encontro e da relação entre pesquisador e pesquisado, não há, portanto, unilateralidade na relação entre pesquisador e pesquisado, ao contrário, essa relação parece ser constantemente negociada 79 na etnografia. Estas idéias de Andion e Serva (2006) confirmam a influência existente entre pesquisador e pesquisado e também a impossibilidade de existir etnografia sem esta relação. A pesquisa-ação é a estratégia de pesquisa que possui maior apelo à ação, pois como explana Demo (2004b), a pesquisa participante produz conhecimento politicamente engajado. Kemmis e McTaggart (2000) complementam explicando que a pesquisa-ação participante é uma estratégia de pesquisa reflexiva, no sentido de engajamento dos participantes em um processo colaborativo de transformação social, no qual eles aprendem e mudam suas formas de engajamento, adotam uma visão emancipatória, focada no desejo compartilhado de transformação social. A pesquisa ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2005). Existe na pesquisaação a preocupação em pesquisar, mas ao mesmo tempo, em intervir. Precede também na pesquisa-ação a existência de preocupação em retornar à comunidade ou a organização na qual se está pesquisando. Isso é uma característica da pesquisa-ação. No entender de Éden e Huxham (2001) esta estratégia resulta do envolvimento do pesquisador com os membros de uma organização em volta de um assunto que é de interesse para os pesquisados, e no qual existe intenção de agir e intervir. A estratégia grounded theory, tal como o estudo de caso, não busca nenhum tipo de transformação social, porém existe grande interação entre pesquisador e o ato da pesquisa de campo (CHARMAZ, 2000). Strauss e Corbin (2008) consideram a relação existente entre o pesquisador e os dados, e não a relação entre o pesquisador e os pesquisados. Além disso, na visão de Strauss e Corbin (2008) e de Glaser e Strauss (1965), o pesquisador deveria ser neutro, mesmo sabendo que a neutralidade é inalcançável, neste caso. Já 80 para Charmaz (2000), a realidade dos sujeitos, para a grounded theory só existe à medida que ambos, pesquisador e sujeito, a enxergam. As estratégias de pesquisa survey e experimental, como já explicitado na questão anterior, têm um fraco apelo à ação, até mesmo pela objetividade imposta e inerente a estas estratégias. Babbie (1999) explica que na estratégia de pesquisa survey existe a elaboração clara e rigorosa de um modelo lógico, que posteriormente será testado. Nestas estratégias onde reina a objetividade não existe interação entre pesquisador e pesquisado, a interação praticamente inexiste e o pesquisador faz questão de que não ocorra para não influenciar na objetividade dos resultados. Este fato já explica a falta de apelo à ação. 5.3 A questão do “Controle” O controle é também uma questão controversa. E que, no entender de Lincoln e Guba (1994, 2006), está muito ligada à questão da “voz, reflexividade e representação textual pós-moderna”, que será vista mais adiante. Nas pesquisas consideradas tradicionais, a pesquisa fica sempre a cargo dos pesquisadores, pois somente esses possuiriam capacidade de formular os problemas ou de resolvê-los. Desse modo, os resultados da pesquisa ficam reservados aos pesquisadores e a população acaba por desconhecer os resultados e menos ainda a discuti-los (BOTERF, 1999). Logicamente que a questão do controle para o paradigma positivista e pós-positivista é uma preocupação constante, pois está totalmente nas mãos do pesquisador (ou pensa-se que está). Então nas estratégias de estudo de caso (aquelas que advêm de paradigmas positivistas: os estudos de caso quantitativos) o controle encontra-se exclusivamente no pesquisador, pois é ele quem determina os problemas importantes, que determina o que fará parte das descobertas e o modo como os dados serão coletados. 81 Trez e Matos (2006) explicam que, na maioria dos casos, as pesquisas surveys são conduzidas por meio de questionários respondidos pelos pesquisados, e o mesmo ocorre nas pesquisas experimentais. O questionário já é, por si só, um método de coleta de dados que não permite interação entre pesquisador e pesquisado. Freitas (2000) explica que as principais características do método de pesquisa survey são o interesse em produzir descrições quantitativas de uma população; e fazer uso de um instrumento predefinido. Tal como explicado anteriormente, e o mesmo ocorre com a estratégia experimental. A decisão do que será pesquisado e quais as características que serão descritas são definidos anteriormente. Na estratégia experimental os critérios da pesquisa derivam das pressuposições do pesquisador e das teorias, e têm a necessidade de operacionalizar conceitos de tal modo que eles possam ser medidos, pois acredita-se que a mensuração contribuirá para futuras comparações visando a objetividade (TRIPODI; FELLIN; MEYER, 1981). Por este motivo a estratégia experimental é a estratégia que possui maior exigência de controle por parte do pesquisador. Complementando com a explicação de Black (1999) que ressalta que o pesquisador, em estudos experimentais, precisa construir o estudo de tal forma que isole as variáveis que não são de interesse da pesquisa, pois elas precisam ser controladas para não influenciarem nos resultados. As estratégias de pesquisa historiográficas e etnográficas têm a questão do controle de forma compartilhada entre o pesquisador e os participantes da pesquisa. A rigor são os próprios sujeitos sociais que interpretam em primeira mão a sua cultura ou sua história. O controle não se encontra somente nas mãos do pesquisador. O mesmo ocorre na estratégia de grounded theory. Porém, na visão de Strauss e Corbin (2008) existe uma maior preocupação quanto ao controle, até mesmo por sua visão paradigmática mais positivista. Strauss e Corbin (2008) explicam que “é a análise que conduz a coleta de dados” esse é o processo que se faz para proceder a grounded theory. Porém, 82 todo o processo, inclusive a decisão de se retornar ou não a campo, é uma decisão do pesquisador baseada nos dados analisados. Charmaz (2000) considera que na grounded theory o controle não é compartilhado totalmente com os pesquisados, mas devido à forte interação existente entre o pesquisador e pesquisado, seria impossível afirmar que o controle encontra-se totalmente a cargo do pesquisador, pois confirma-se uma certa relação de dependência entre pesquisador e pesquisado. A pesquisa-ação é a estratégia que tem o controle “compartilhado em níveis variados”, pois neste caso o controle tem a intenção de promover a emancipação, capacitação, é claro, dependendo do propósito da pesquisa. Demo (2004) defende a idéia de que a pesquisa participante torna-se mais complexa e complicada, quando se exige dela a dimensão completa, ou seja, que produza, ao mesmo tempo, conhecimento e participação. Repara-se que o controle, do mesmo modo que é preocupante para as estratégias mais positivistas (experimental, survey e estudo de caso quantitativo) porque está totalmente no dominio do pesquisador, também se torna ponto de preocupação, por exemplo, para a estratégia de pesquisa-ação, pois, ao invés do controle estar na posse do pesquisador, passa a se encontrar nas mãos dos pesquisados. 5.4 A questão dos “Fundamentos da Verdade do Conhecimento” A questão dos fundamentos da verdade e do conhecimento será explicada com base nos conceitos de fundacionalismo, fundacionalismo dentro da crítica social, antifundacionalismo e não-fundacionalismo. As estratégias de pesquisa de estudo de caso quantitativo, estratégia de pesquisa survey e estratégia de pesquisa experimental enquadram-se nos critérios do fundacionalismo, que são considerados positivistas ou pós- 83 positivistas. Os fundacionalistas se fundamentam na dominação do objeto e na manipulação dele, acreditando que, para existir o conhecimento, e este ser considerado verdadeiro, e existir um fundamento absoluto (GODOI, BANDEIRA-DE-MELLO; SILVA, 2006) Babbie (1999) explica que as surveys são frequentemente realizadas para permitir enunciados descritivos, sobre alguma população, isto é, descobrir a distribuição de certos traços e atributos. Nestes, o pesquisador não se preocupa com o porquê da distribuição observada existir, mas com o que ela é. Já a estratégia de pesquisa grounded theory de Strauss e Corbin (2008) é considerada fundacionalista, por manter-se no paradigma pós-positivista, por basear-se em uma metodologia objetificadora na visão de Godoi, Bandeira-deMello e Silva (2006) . Porém, a estratégia da grounded theory na visão de Charmaz (2000) é provavelmente antifundacionalista, pois busca interpretações de modo diferente dos fundacionalistas, interpretações a partir de padrões que podem ser modificados, e não de verdades absolutas e invariáveis. A grounded theory é uma estratégia que visa desenvolver uma teoria sobre a realidade que se está investigando a partir de dados coletados pelo pesquisador, sem considerar hipóteses preconcebidas. Conhecida também como teoria embasada, teoria fundamentada (VERGARA, 2005). Bandeira-de-Mello (2003) explica que a estratégia da grounded theory adota as considerações ontológicas e epistemológicas do subjetivismo, conforme definições de Morgan e Smircich (1980). Vergara explica que esta estratégia visa ir além da descrição, exigindo do pesquisador a tarefa de interpretar os dados, identificar os conceitos e categorias e gerar uma teoria. Sendo assim, é uma estratégia “interpretativista de pesquisa que busca explicar a realidade a partir dos significados atribuídos pelos envolvidos às suas experiências” (BANDEIRA-DE-MELLO, 2003). Percebe-se então que os fundamentos da verdade da grounded theory podem ser considerados antifundacionalistas. 84 As estratégias historiográfica e etnográfica buscam interpretações diferenciadas daquelas que pregam o fundacionalismo, onde a verdade é absoluta. Podemos situá-las também no antifundacionalismo em conjunto com a grounded theory (Glaser). Pois a construção do conhecimento em etnografia é feita in loco, a partir do encontro e da relação entre pesquisador e pesquisado (ANDION e SERVA, 2006). A pesquisa-ação, por seu caráter emancipatório, considerou-se nãofundacionalista e antifundacionalista. Os critérios para o estabelecimento de uma verdade são descobertos, mas também negociados entre o pesquisador e pesquisados. Gianotten e Wit (1999) explicam que a pesquisa participante se situa entre as correntes das ciências sociais que rejeitam a chamada neutralidade científica e partem do princípio de que a investigação deve servir a determinados fatores sociais, buscando uma resposta coerente que permita, por um lado, socializar o conhecimento e por outro, democratizar os processos de investigação e educação. A estratégia de estudo de caso qualitativo pode confluir entre o fundacionalismo dentro da crítica social e antifundacionalismo. Alguns estudos de caso são quali-quantitativos, ou qualitativos sem grande profundidade, apenas buscando a descrição. Então, nestes casos, estariam situados no paradigma da teoria crítica (fundacionalista dentro da crítica social). E, em outra perspectiva, podem ser antifundacionalistas, quando são essencialmente qualitativos, desde a escolha do paradigma até os métodos de coleta e análise de dados. Na estratégia de pesquisa etnográfica, como já foi explicado anteriormente, não existe unilateralidade na relação entre o pesquisador e pesquisado. Ao contrário, a relação é constantemente negociada na etnografia. Desta forma, a etnografia se configura na comunicação, e temos que aprender a nos relacionar, a respeitar, inclusive a amarmos, e a compreender (CÁCERES, 1998, p. 347). Concordando com este tipo de validação, Rocha, Barros e Pereira (2005, p. 123) consideram a investigação realizada por dentro da realidade do grupo estudado,um traço deveras importante na investigação 85 etnográfica. Neste caso, o conhecimento científico seria gerado do ponto de vista do outro. Se o conhecimento é gerado do ponto de vista do outro podemos situar esta estratégia no que Lincoln e Guba (2006) consideraram antifundacionalismo. 5.5 A questão da “Ampliação das Considerações sobre a Validade” As considerações sobre a validade ocorrem em dois pontos distintos. O primeiro é o rigor defendido pelos positivistas na qual a validade depende da objetividade dos resultados. E o segundo é o conjunto de verdades que ocorrem no contexto entre o que foi pesquisado e a sua interpretação. A validação no caso da etnografia e em todas as estratégias (até mesmo as quantitativas) situa-se na interpretação. Nas estratégias qualitativas, como estudo de caso qualitativo, historiografia, etnografia e pesquisa-ação justificase a questão da validade diante do segundo ponto demonstrado acima, na questão da interpretação. Apesar de que, para Stake (2000), o questionamento da validade em pesquisas qualitativas não tem sentido e na visão de Lang (1996), além da comprovação da veracidade não ser primordial, identificar e qualificar as diferentes versões sobre fatos ou processos irá piorar sua riqueza, mais do que verificar a veracidade do relato (no caso da estratégia historiográfica). Ocorre então que, para uma interpretação ser válida deveria realmente demonstrar a realidade daqueles que foram pesquisados. Desta forma a validação se completa se houver troca de informações entre o pesquisador e o pesquisado. É preciso existir um retorno ao campo, para encontrar novamente aqueles pesquisados visando confirmar o que foi interpretado. Godoy (2006) explana que, para uma pesquisa qualitativa ser internamente válida, suas conclusões devem estar apoiadas nos dados. A validade interna é julgada considerando-se até que ponto a descrição oferecida pelo pesquisador está de acordo, ou seja, representa os dados coletados. 86 Sabe-se que a constatação de Godoy (2006) é bastante subjetiva e ressalta-se que não pode ser esquecido, no contexto da interpretação, a experiência e qualidades do pesquisador. Na maior parte das estratégias de pesquisa qualitativas leva-se em conta esta constatação. Alguns autores comentam que o pesquisador precisa ter habilidade para realizar entrevista, como no caso da estratégia historiográfica e também precisam ter algumas qualidades como resistir à tentação de discordar ou de lhe impor suas próprias idéias, pois caso ele nao tenha experiência poderá obter informações que, ou são inúteis, ou enganosas (THOMPSON, 2002). Essas qualidades garantiriam a validade dos dados coletados. Cáceres (1998, p. 350) explica que o etnógrafo requer tempo para sua formação, e só melhorará tecnicamente com o passar dos anos, por meio da experiência. Na opinião de Cáceres (1998), o investigador é o centro de tudo e sua formação depende do todo, a diferença entre um novato e um experiente é enorme e muitas vezes definitiva, pois a percepção é o coração do trabalho etnográfico. Outro ponto não pode ser ignorado (CAVEDON, 1999) pelo etnógrafo: a sensibilidade, a empatia que deve estabelecer-se entre pesquisador e pesquisados. A riqueza ou pobreza dos dados coletados sofre uma influência muito grande desses aspectos tipicamente humanos. Além disso, a qualidade dos dados está profundamente relacionada com a capacidade do etnógrafo de ouvir e compreender o outro com base na emoção. O reconhecimento e a validade dos resultados da estratégia etnográfica ainda possuem um papel incerto e muitas vezes questionado. Para Hammersley e Atkinson (1994) a prova crucial para a veracidade das informações na etnografia está fundamentada nos próprios atores (os pesquisados), cujas crenças e comportamentos se pretendem conhecer. Se os atores reconhecem a validez das descrições realizadas pelo etnógrafo, a veracidade estaria comprovada. Sendo assim, o propósito da validade na etnografia está inserido no estabelecimento de uma ligação de veracidade entre o objeto de estudo e o investigador etnográfico. 87 Peirano (1995 apud CAVEDON, 1999) considera uma boa etnografia aquela cuja riqueza permita uma reanálise dos dados iniciais. Andion e Serva (2006) explicam que, na etnografia, esta relação, entre o objeto e o investigador, é constantemente negociada. Então, as estratégias de pesquisa-ação, historiográfica, etnográfica e estudo de caso qualitativo possuem validade voltada para interpretação dos dados coletados e esta interpretação é realizada, no entender de Andion e Serva (2006), no contexto da relação entre pesquisador e pesquisado. Na estratégia de pesquisa historiográfica a evidência pode ser constatada através da comparação ao material de outras fontes (THOMPSON, 2002; LANG, 1996). No entender de Thiollent (2005), um grande desafio metodológico da estratégia de pesquisa-ação consiste em fundamentar a inserção da pesquisa ação dentro de uma perspectiva de investigação científica, concebida de modo aberto e na qual “ciência” não seja sinônimo de “positivismo”, “funcionalismo” ou de outros “rótulos”. Eden e Huxham (2001) também explicam esta dificuldade que consideram ocorrer pela falta de replicabilidade decorrente da falta de rigor. Porém, Demo (2004) contradiz esta abordagem explicando que a estratégia de pesquisa-ação não despreza a metodologia científica em nenhum momento no sentido dos “rigores metódicos, controle intersubjetivo, discutibilidade aberta e irrestrita”. No caso da pesquisa-ação, a validade contém uma ligação com a questão do “apelo à ação” na sugestão de Lincoln e Guba (2006) (ver quadro 2). Na questão do apelo à ação a estratégia de pesquisa-ação situou-se no paradigma participativo por ser a estratégia que possui maior apelo à ação, ou seja, maior movimentação do mundo acadêmico para a sociedade, exatamente por esta ser uma estratégia que busca também a intervenção. 88 As estratégias historiográfica e etnográfica, por serem estratégias que também utilizam a interpretação como forma de validação, podem perpassar todo o campo dos paradigmas qualitativos. As construções da validade para estas duas estratégias são centradas nos pesquisados e na experiência do pesquisador. Por isto percebe-se que estas estratégias podem se permitir participar dos paradigmas construtivista e teoria crítica. Nas estratégias qualitativas, além da interpretação, a experiência do pesquisador é um critério muito importante para considerar a validade da pesquisa. Nas estratégias inerentemente quantitativas, como a pesquisa survey, a estratégia de estudo de caso quantitativo, e a estratégia de pesquisa experimental a validação ocorre de forma objetiva, através da comprovação de hipóteses pré-definidas, com a realização de estatísticas descritivas ou inferenciais, cálculos matemáticos, métodos de coleta de dados pré-definidos, (como questionários) buscando, desta forma, controlar o ambiente para que ele não influencie nos dados. Freitas (2000) e Babbie (1999) explicam que os dados obtidos com a realização da estratégia survey devem ser analisados por meio de ferramental estatístico para a obtenção das informações desejadas, devendo-se, para tanto, considerar o tipo de análise estatística aplicável às variáveis em estudo, permitindo, assim, o desenvolvimento e teste rigorosos. A testagem, como forma de validação da estratégia survey, também é compartilhada por May (2004), que ainda salienta que a abordagem rigorosa da estratégia survey visa retirar qualquer viés, tanto quanto possível, e produzir resultados que sejam replicáveis seguindo-se os mesmo métodos. Sem contar a questão da generalização dos dados, que na visão de Godoy (2006) tem sido a regra orientadora das pesquisas desenvolvidas nas tradições do método quantitativo. 89 Ichikawa e Santos (2001), tal como apresentado nas outras estratégias qualitativas, também ressaltam a importância da sensibilidade do pesquisador como um instrumento de validade, quando explanam que, para comparar grupos e gerar teoria, o pesquisador deve utilizar a sua sensibilidade teórica (theoretical sensivity). Essa sensibilidade tende a aumentar com a experiência do pesquisador. Strauss e Corbin (1998 apud BANDEIRA-DE-MELLO e CUNHA, 2006) propõem que uma teoria substantiva deve ter algumas características, dentre elas: coerência com a realidade dos indivíduos e grau de generalização para explicar variações da ocorrência do fenômeno. Essas duas características também não deixam de ser formas de validar a teoria substantiva obtida. Bandeira-de-Mello e Cunha (2003) explicam que, de forma diferente de outros métodos subjetivistas, os procedimentos de análise do método grounded theory tem a intenção de tornar os resultados os mais objetivos possíveis, “tanto do ponto de vista teórico, para que tenham possibilidade de generalização do fenômeno explicado, como do ponto de vista metodológico, para que possam sofrer posterior escrutínio público sobre o processo de pesquisa utilizado”. Na opinião do autor isto não significa estar compartilhando do positivismo, pois, o que deve ser contestado é o processo de pesquisa e o nível de fundamentação empírica e não se os resultados são a única explicação da realidade. 5.6 A questão da “Voz, Reflexividade e Representações textuais pósmodernas”. À questão da voz é preciso esclarecer o fato de que todo o tipo de estratégia de pesquisa, sejam estas quantitativas ou qualitativas, possuem, ao menos, a voz do pesquisador. Mesmo que, em estratégias quantitativas, a voz talvez seja mais sutilmente notada do que o texto, ainda assim ela existe. 90 Na estratégia de pesquisa etnográfica a voz dos pesquisados tende a ter maior amplitude do que a voz do pesquisador. Percebe-se que os pesquisados notam a disseminação de sua voz quando Cavedon (1999) expõe a seguinte colocação: ao contrário do que muitos pesquisadores pensam, os informantes, ao terem consciência da diferença de mundo que os separa, tendem a usar esse último como um meio através do qual suas reivindicações possam vir a ser encaminhadas. A reflexividade na estratégia etnográfica e historiográfica é uma questão que se parece com o conceito do paradigma fenomenológico no qual deve-se, ao menos tentar nos abstermos de todos os nossos conceitos e de todos os nossos pré-conceitos diante da realidade, para que possamos enxergar a realidade nos olhos do outro. Diante disso, pode-se verificar que nestas duas estratégias de pesquisa a reflexividade pré-dispõe que o pesquisador esqueça de si mesmo. Os textos ou diários de campo do etnógrafo e do historiador são as vozes dos pesquisados e o pesquisador procura descrever com detalhes as vozes dos pesquisados. A investigação é feita dentro da realidade de um grupo, sendo o conhecimento científico gerado a partir do ponto de vista do outro (ROCHA, BARROS; PEREIRA, 2005). No mesmo sentido, Cáceres (1998, p. 351) considerou o trabalho etnográfico como fenomenológico, mas configurado hermeneuticamente. Hammersley e Atkinson (1994) explicam que o trabalho do diário de campo, realizado pelo etnógrafo, assume a forma de descrições e explicações verbais (HAMMERSLEY; ATKINSON, 1994) e Cáceres (1998, p. 351) sugere o uso de tecnologias que propiciem um melhor registro de campo, dentre eles a fotografia , o vídeo e o gravador. O fazer etnografia implica em ir a campo com uma bagagem teórica, entretanto totalmente desprovido de preconceitos vivendo a realidade da comunidade investigada através da observação participante com todos os sentidos à flor da pele (CAVEDON, 2001, p. 2). Desta experiência, tudo é 91 relatado, em detalhes, no diário de campo ou registro de campo, local onde são anotados minuciosamente todos os acontecimentos. Em princípio a etnografia é um ofício de descrição. “Descrição densa” no explanar de Cavedon (2001). Para tanto a etnografia tem se utilizado de outros instrumentos para coletar dados, e também para melhor apresentar seus resultados. Além da observação participante e das entrevistas o uso da tecnologia em etnografia já foi citado por Cáceres em 1998, mas também está sendo utilizado na academia, como relata Cavedon em 2001 (p. 1) com o uso da antropologia visual. Thiollent (2005) explica que os pesquisados, na estratégia de pesquisaação, têm algo a “dizer” e a “fazer”. Não é apenas um simples levantamento de dados ou de relatórios. Com a pesquisa-ação os pesquisadores pretendem desempenhar um papel ativo. Então se nota que, nesta constatação de Thiollent (2005), na pesquisa-ação a voz é tanto do pesquisador quanto do pesquisado, existindo uma mistura de vozes entre eles. A reflexividade é considerada problemática, pois o envolvimento com o grupo, ou organização estudada, é muito forte e isso possibilita uma dificuldade, devido ao excesso de envolvimento, que também pode ser maléfico. Porém, ao mesmo tempo em que isso ocorre (e deve ocorrer na pesquisa-ação) o pesquisador e o pesquisado realizam o seu movimento em busca da mudança (intervenção). Kemmis e McTaggart (2000) expõem que a estratégia de pesquisa-ação envolve a busca do ponto de vista de cada participante. Ela é, portanto, uma estratégia de pesquisa reflexiva, no sentido de engajamento dos participantes em um processo colaborativo de transformação social. Na estratégia historiográfica as histórias pessoais ganham alcance social na medida da inscrição de cada pessoa nos grupos mais amplos que as explicam (MEIHY, 2002). Assim percebe-se que a voz dos participantes da estratégia historiográfica emergem de forma mais ampla do que a história 92 individual, na qual normalmente é realizada. A voz dos participantes, nesta estratégia, tende a ser mais alta do que a do próprio pesquisador. Devido à estratégia historiográfica ter servido como um meio para recriar a história de grupos sociais marginalizadas como os negros, as mulheres e os trabalhadores (FERREIRA, 2005) acredita-se que exista uma reflexividade mais forte por parte do pesquisador no que se refere ao ser humano como instrumento que pode ser mutável no campo da pesquisa. Essa reflexividade pode ser visível quando o próprio pesquisador se comove diante do pesquisado e passa a refletir sobre sua própria condição e sobre a condição do outro. Na estratégia historiográfica as representações textuais podem ocorrer desde a forma de gravações e transcrições literais de entrevistas até fotos, cartas, diários e filmes (FREITAS, 2002). Na estratégia de estudo de caso qualitativo os pesquisadores tentam obter suas informações a partir das percepções dos autores locais, colocando “em suspenso” suas pré-concepções sobre o tema que está sendo estudado (GODOY, 2006) O objetivo então é ouvir a voz daqueles que estão sendo pesquisados, e não a voz do pesquisador. O mesmo não ocorre no caso dos estudos de caso quantitativos, no qual o pesquisador, por estar no controle, assume a voz principal. Por este motivo ocorre pouca reflexividade, ou seja, percebe-se uma relação insuficiente entre o pesquisador ou entre o pesquisado, para ser considerada reflexividade. Na estratégia da grounded theory, apesar do pesquisador se manter no controle da pesquisa, a voz que emerge é a voz tanto dos pesquisados quanto do pesquisador. Essa é a visão de Strauss e Corbin (2008) e Charmaz (2000) que ainda afima que (apud BANDEIRA-DE-MELLO; CUNHA, 2006, p. 255), “o pesquisador compõe a estória. Ela reflete o observador bem como os observados”. A reflexividade ocorre pelo mesmo motivo que a voz, já explicado anteriormente, mas não no sentido do pesquisador abster-se de seus conceitos 93 para tal. Quanto às representações textuais podem ocorrer de forma que “o leitor transcenda às complexidades de uma teoria e entre no mundo dos sujeitos, enxergue o mundo pelos olhos deles” ou também de forma mais estruturada, sob a forma de proposições (BANDEIRA-DE-MELLO; CUNHA, 2003, p. 264). As estratégias de pesquisa survey e experimental adotam a voz do pesquisador como voz principal de suas pesquisas. Mesmo quando se busca identificar percepções, são as percepções pré-determinadas pelos pesquisadores. As representações textuais ocorrem em foram de gráficos, tabelas planilhas, formas utilizadas constantemente em estudos de paradigmas positivistas. Após justificar teoricamente a alocação das estratégias de pesquisa, temos o resultado do posicionamento das estratégias de acordo com o paradigma e a questão prática analisada. A alocação da estratégia em cada paradigma resultou da análise dos dados teóricos descritos neste capítulo e da definição tanto dos paradigmas – positivismo, pós-positivismo, teoria crítica, construtivismo e participativo – quanto da questão prática analisada. Após a análise, foi possível elaborar um posicionamento das estratégias com base na Acomodação e comensurabilidade Questão justificativa teórica. Positivismo Póspositivismo Estudo de caso quantitativo Survey Experimental Grounded Theory (Strauss e Corbin) Teoria Crítica E outros Construtivismo Participativo Estudo de caso qualitativo Grounded Theory (Charmaz) Historiográfica Etnografia Pesquisa-ação Survey Experimental Estudo de caso quantitativo Grounded Theory (Strauss e Corbin) Estudo de caso qualitativo Etnografia Relação com os fundamentos da verdade e do conhecimento Estudo de caso quantitativo Survey Experimental Grounded Theory (Strauss e Corbin) Ampliação das considerações sobre a validade (critérios da bondade) Estudo de caso quantitativo Survey Experimental Grounded Theory (Strauss e Corbin) Estudo de caso quantitativo. Survey Experimental Grounded Theory (Srauss e Corbin) Voz, reflexividade, representações textuais pós-modernas. Controle Ação 94 Estudo de caso quantitativo Survey Experimental Grounded Theory (Strauss e Corbin) Estudo de caso qualitativo Estudo de caso qualitativo Historiográfica Etnografia Estudo de caso qualitativo Grounded Theory (Charmaz) Pesquisa-ação Historiográfica Historiográfica Etnografia Grounded Theory (Charmaz) Pesquisaação Grounded Theory (Charmaz) Historiográfica Etnografia Estudo de caso qualitativo Pesquisaação Historiográfica Etnografia Grounded Theory (Charmaz) Pesquisaação Historiográfica Etnográfica Grounded Theory (Charmaz) Pesquisa-ação Pesquisaação Quadro 4: Resultados do posicionamento das estratégias de pesquisa quanto às questões práticas selecionadas. Fonte: Dados teóricos Após a explanação do posicionamento das estratégias de pesquisa empíricas utilizadas nos estudos organizacionais foi elaborado o quadro 5 para 95 auxiliar a representação dos paradigmas às estratégias de pesquisa. Mesmo sabendo da impossibilidade de dissociar as questões dos paradigmas, e por este motivo a vinculação paradigmática já estaria esclarecida no conjunto da análise das questões práticas anteriores, através da vinculação paradigmática do quadro 5 se pode analisar também a questão da axiologia. Esta questão prática será analisada juntamente com a vinculação paradigmática, até mesmo porque na visão de Lincoln e Guba (2006) a axiologia deveria estar no mesmo grupo das “crenças básicas“ (em conjunto com o que se visualiza no quadro 4). Tanto a vinculação proposta aqui, quanto o posicionamento das estratégias de pesquisa às questões, não são determinações definitivas. Este não é o intuito do estudo. Como já explicado anteriormente a intenção é gerar um diálogo e reflexão. Através do posicionamento das questões práticas selecionadas já se torna possível ter uma idéia da vinculação paradigmática das estratégias de Ontologia Questão pesquisa empíricas demonstradas no quadro abaixo. Positivismo Póspositivismo Realismo ingênuorealidade “real” mas inteligível Realismo críticorealidade “real”, mas apenas imperfeitament ee probabilisticam ente inteligível (aprensível) Teoria Crítica e outros Construtivismo Participativo Realismo Realidade históricorealidade virtual participativa influenciada por Relativismo – - realidade subjetivavalores sociais, local e políticos realidades objetiva, coespecificamente criada pela econômicos, étnicos, de construídas mente e por gênero um dado cosmos. cristalizados ao longo do tempo. Estratégias de pesquisa Metodologia Epistemologia 96 Dualista/ objetivista; descobertas verdadeiras Experimental/ manipuladora; verificação de hipóteses, métodos quantitivos Estudo de caso quantitativo Experimental Survey Objetivista/ dualista modificada; tradição crítica/ comunidade; descobertas provavelmente verdadeiras. Transacional/ subjetivista; descobertas valores Experimental modificada/ manipuladora; multiplismo Dialógica/dialécrítico, tica falsificação de hipóteses, pode incluir métodos qualitativos Estudo de caso quantitativo Grounded theory (Strauss e Corbin) Survey Etnografia Historiografia Subjetividad e crítica na transação participativa com o cosmos, epistemologia ampliada para experimenta ção proposital e conhecimen to descobertas co-criadas. Participação política e investigação de ação colaborativa uso da linguagem e métodos baseados no contexto Transacional/ subjetivista; descobertas criadas Hermenêutica /dialética Etnografia Grounded theory (Charmaz) Pesquisa-ação Historiografia Etnografia Pesquisaação Quadro 5: Resultado da vinculação paradigmática das estratégias empíricas utilizadas em estudos organizacionais Fonte: Dados teóricos No quadro 5 se aponta uma provável vinculação paradigmática das estratégias de pesquisa empíricas analisadas. Este resultado advém da análise realizada através das questões práticas selecionadas e justificadas teoricamente. A estratégia de estudo de caso foi a que apresentou maior confluência entre os paradigmas analisados, sendo possível à utilização desta estratégia nos paradigmas positivista, pós-positivista, teoria crítica e construtivismo. Porém cabe ressaltar que o estudo de caso é uma estratégia, a princípio, 97 qualitativa, e uma de suas características no entender de Merriam (1998) é a heurística. Na estratégia etnográfica notou-se ligação entre os paradigmas considerados qualitativos, ou seja, e possível haver confluência entre a teoria crítica, construtivismo e participativo. Cáceres (1998, p. 351) considera a estratégia etnográfica muito parecida com a fenomenologia. Para o autor o trabalho etnográfico segue sendo fenomenológico, mas se configura hermeneuticamente. Já Hammersley e Atkinson (1994, p. 17) consideram que a estratégia etnográfica tem tendência naturalística. À estratégia de pesquisa historiográfica vinculou-se os paradigmas teoria crítica e construtivismo. Ferreira e Amado (2005), consideram a parte central desta estratégia o subjetivo da experiência humana e explicam que esta estrategia é capaz apenas d e suscitar, jamais de solucionar, questões. Por este motivo ela é considerada muitas vezes uma pesquisa de segunda classe, pois vai contra os princípios do quantitativismo. A grounded theory, apesar de ter suas origens no interacionismo simbólico (BANDEIRA-DE-MELLO e CUNHA, 2006), que segundo Schawndt (1994) situa-se no paradigma interpretativista. Na grounded theory proposta por Strauss e Corbin (2008) considerou-se uma associação ao paradigma póspositivista nas questões práticas analisadas O interacionismo simbólico, na visão de Mendonça (2001), refere-se ao caráter interpretativo peculiar dos seres humanos e, através da visão de Charmaz (2000), foi possível associar a grounded theory ao paradigma qualitativo construtivista. Na estratégia de pesquisa-ação, considerou se uma confluência entre os paradigmas construtivista e participativo. Pois a pesquisa-ação, na visão de Macke (2006), é definida como uma estratégia de condução de pesquisa qualitativa voltada para a busca de solução coletiva a determinada situaçãoproblema, dentro de um processo de mudança planejada. Então, repara-se 98 nesta definição que a pesquisa-ação tem forte ligação com a pesquisa qualitativa e com a mudança. As estratégias de pesquisa experimental e survey confluíram apenas entre os paradigmas quantitativos, positivismo e pós-positivismo, não se verificou possibilidade de confluência com os paradigmas qualitativos. As surveys têm sua origem na tradição positivista (MAY, 2004). No próximo capítulo, as conclusões do estudo. 99 CONCLUSÕES Para tornar este estudo possível foi necessário descrever as estratégias de pesquisa empíricas utilizadas em estudos organizacionais. Notou-se que, nesta etapa, na bibliografia consultada sobre as estratégias, existia um grande excesso de autores que se limitam a conceituar a estratégia e demonstrar algumas formas de “como fazer” a utilização desta estratégia em campo. A discussão epistemológica das estratégias de pesquisada analisadas, por parte dos autores consultados, é ainda incipiente, demonstrando a existência de um grande campo a ser estudado. A abordagem de análise baseada na concepção de paradigmas invadiu os estudos organizacionais e continua exercendo influência, tanto na legitimação de determinados conteúdos e perspectivas, como na própria institucionalização desta área de conhecimento (CABRAL, 1998). Portanto, foi preciso reconhecer os paradigmas utilizados em estudos organizacionais. Neste ponto da pesquisa já foi possível constatar o que permeou o trabalho até o seu final. A constatação, ou pelo menos, o discurso mais comum dentro da área de estudo dos paradigmas utilizados em estudos organizacionais, embasa-se na dicotomia entre o qualitativo e o quantitativo, ou,na visão de Carrieri e Luz (1998), entre o positivismo e o anti-positivismo. Apesar do embate existente entre os métodos qualitativos e quantitativos, Monteiro et al (2005) ressaltam que ambos são válidos para analisar os fenômenos típicos da administração, e este fato também é constatado em estudos organizacionais. Porém, este é um dos motivos que impede uma maior confluência entre a maior parte das estratégias analisadas pois, muitos paradigmas possuem axiomas incompatíveis com outros. Soriano (2004) explica que o estudioso da realidade social recebe da sociedade em que vive (e da instituição ou do grupo em que trabalha) certos condicionamentos político-ideológicos que determinam as características da 100 sua própria prática profissional. Esses condicionamentos se refletem na escolha dos problemas a pesquisar, na elaboração do seu marco teórico e na determinação dos métodos e técnicas utilizados, bem como na análise e na interpretação dos resultados e no tipo de soluções que se apresentam. Se analisarmos o pensamento de Soriano (2004) se percebe que em estudos organizacionais aprendemos a ser positivistas. E, por isso, existe uma dificuldade em pensarmos de forma diferente, ou de nos permitirmos fazer pesquisas de maneiras diferentes. Apesar de a tendência atual estar voltada para o uso de estratégias qualitativas de investigação (HAMMERSLEY e ATKINSON, 1994, p. 15), existe ainda uma hegemonia positivista muito forte em estudos organizacionais. A hegemonia é tão aparente que até mesmo para se utilizar estratégias qualitativas de investigação os pesquisadores sentem a obrigação de empregarem os mesmos critérios de cientificidade do positivismo (buscando formas de rigor, validade). Este fato também foi percebido neste estudo no momento da análise das estratégias qualitativas, principalmente na questão da validade. O objetivo geral deste estudo foi de identificar as possibilidades de confluência paradigmática entre as estratégias de pesquisa empíricas utilizadas em estudos organizacionais. Observou-se nos resultados da vinculação das estratégias às questões práticas, e também, na vinculação aos paradigmas, que existem poucas possibilidades de confluência paradigmática entre as estratégias de pesquisa. A estratégia de pesquisa de estudo de caso teve o maior poder de confluência entre os paradigmas analisados. A análise das questões práticas pré-definiu a vinculação paradigmática final. Portanto, percebeu-se que a estratégia de estudo de caso teve maior confluência porque, apesar desta estratégia ser inerentemente qualitativa, em estudos organizacionais ela é também utilizada sob os preceitos do paradigma positivista. Percebe-se aqui que, além desta estratégia de pesquisa ser a mais utilizada em estudos organizacionais, adquiriu um formato diferente daquele para o qual ela foi 101 criada. Ou seja, com o “uso” no estudo das organizações ela foi adaptada aos objetivos dos pesquisadores. Este fato gera alguma esperança de confluência paradigmática futura entre outras estratégias de pesquisa que ainda são pouco utilizadas. Não que a utilização desta estratégia (ou de outra) seja considerada certa ou errada de acordo com suas origens, pois sabemos que neste campo existem muitas críticas. A criação, por parte dos pesquisadores das organizações, de formas autênticas de se pesquisar envolve a interdisciplinaridade e objetivos dos pesquisadores diante de seus problemas, e o estudo de caso é um bom exemplo de que este desenvolvimento é possível. Entretanto, os autores Lincoln e Guba (2006) ainda têm esperanças de que os adeptos ao positivismo e aos novos paradigmas possam solucionar as suas diferenças, de modo que todos os cientistas sociais trabalhem dentro de um discurso comum. Portanto, após realizar uma reflexão acerca do posicionamento e vinculação paradigmática das estratégias de pesquisa, percebeu-se pouca confluência entre os paradigmas, ou, ao menos, uma confluência menor do que a esperada. 102 REFERÊNCIAS ANDERY, Maria A. et al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 6 ed. Rio de janeiro: Espaço e Tempo: São Paulo: EDUC, 1996. ADORNO, Theodor W. Epistemologia y ciências sociales. Madrid: Ediciones Cátedra, 2001. ALBERTI, V. Manual de história oral. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. ALVES-MAZZOTTI, Alda. Judith. e GEWANDSZNAJDER, F. Os Métodos nas Ciências Sociais e Naturais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Thompson, 1999. ALVES-MAZZOTTI, Alda. Judith.; GEWANDSZNAJER, F. 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