Prospecção e Análise Técnica da Jazida de Calcário Renaux com o Objetivo de Desenvolver Calcita #200 para Aplicação em Massas de Monoporosa Nilson Schwartz da Silvaa*, Moishés Luiz da Silvaa* T-cota Engenharia e Minerais Industriais Ltda., Rua Coronel Izidoro, 1022, CEP 88.200- 000 Tijucas - SC, Brasil *e-mail: nilson@t-cota. com.br, [email protected] a Resumo: Estudo feito pela T-cota demonstrou a importância da composição química do calcário calcítico (calcita) sobre a estabilidade dimensional de revestimentos cerâmicos esmaltados (monoporosas). Mostrou também sua influência sobre a cor e a resistência mecânica. A conclusão do estudo especificou composição química de calcita indicada para uso nesses revestimentos. A partir das especificações técnicas e econômicas da calcita que atende a indústria de monoporosa de Santa Catarina, a T-cota pesquisou e desenvolveu um mineral industrial regional.O presente artigo mostra o trabalho de desenvolvimento da calcita Botuverá. Relata os resultados da prospecção da ocorrência mineral, a formulação do mineral industrial e o seu comportamento em massa de monoporosa típica. Ele reflete o compromisso da T-cota na busca de minerais industriais regionais de qualidade. Palavras-chave: calcários industriais, mineração, pesquisa mineral, matérias-primas, laboratório de análise. 1. Introdução Santa Catarina é o maior produtor nacional de revestimentos cerâmicos esmaltados para aplicação em paredes de cozinhas e banheiros, denominados, comercialmente por monoporosa. A monoporosa destaca-se dos demais revestimentos para parede devido à sua excelente conformidade dimensional e qualidade da superfície esmaltada, requisitos de produto controlados, respectivamente, pela composição química e granulométrica da calcita utilizada. Composição química e granulometria controlam também a cor e a resistência mecânica do produto acabado. Com o objetivo de desenvolver calcita para o atendimento da demanda da indústria catarinense, a T-cota prospectou calcários calcíticos na Jazida Renaux, em Brusque, SC, de direito minerário da empresa Calcário Botuverá. O resultado do trabalho foi o desenvolvimento e a produção de calcita #200, que vem sendo usada pelos principais fabricantes de monoporosa do Estado. Estima-se que a área cubada contenha, pelo menos, 100.000 t de calcita que cumpram as especificações técnicas para uso em massas de monoporosa. 3. Resultados Os resultados da prospecção e análise técnica do calcário das duas bancadas foram medidos de duas maneiras, em duas etapas: 1.Análise química das amostras e da mistura das amostras que atendem aos requisitos da massa – Mix Botuverá; 2.Teste do Mix Botuverá em massa padrão de m onoporosa. 2. Prospecção da Área Com base na experiência da Mineração Calcário Botuverá sobre a extração de calcário da jazida Renaux, foram definidas duas bancadas para início da prospecção da área. A bancada 1 compreende a área de maior concentração de calcário calcítico da jazida. Esta bancada de cor acinzentada mede cerca 40 m de altura por 150 × 50 m de base e é bastante homogênea. O corpo do mineral mergulha com inclinação cerca de 20° (Figura 1). A bancada 2 compreende uma larga faixa que corta toda extensão da mina, desde o pátio principal até as bancadas mais altas, e mede, aproximadamente, 50 m de alura; apresenta cor acinzentada como a 1; sua inclinação é também de 20° (Figura 2). Por conta do mergulho do corpo, todos os furos de sondagem respeitaram o critério de 15 a 20° de inclinação, contrária à orientação do mineral, conforme setas na Figura 2. De cada furo de 9 m de profundidade foram coletadas 3 amostras. As amostras foram extraídas com a ajuda de um equipamento de perfuração denominado “rock drill” (Figura 3). Cerâmica Industrial, 15 (3) Maio/Junho, 2010 Figura 1. Bancada 1 39 4. Análise Química As amostras coletadas foram quarteadas para análise. As Tabelas 1 e 2 expressam os resultados das análises químicas das bancadas. A Tabela 3 define a calcita que representa o compromisso entre o melhor aproveitamento econômico da jazida e o atendimento aos requisitos de produto. O calcário das duas bancadas analisadas apresenta alto teor de CaO e baixos de MgO e Fe2O3. A composição química destes materiais atende aos requisitos técnicos de massas de monoporosa. Figura 2. Bancada 2 Encontraram-se poucas contaminações nas bancadas. Por exemplo: a amostra de 0 a 3 m do furo 03 da bancada 1 não é calcita, e todas as amostras do furo 07 da bancada 2 apresentaram teor de Fe2O3 mais alto que o das calcitas tipicamente utilizadas pela indústria. Com base nos resultados das análises químicas, misturara-se todas as amostras – excluindo as com teor de CaO menor que 48% ou Fe2O3 maior que 1,0%. A mistura – Mix Botuverá – foi testada em massa padrão de monoporosa em substituição a uma calcita tipicamente utilizada pela indústria. Figura 3. Perfuração com equipamento “rock drill” respeitando inclinação do corpo. Tabela1. Bancada 1. Amostras/óxidos (%) Calcita padrão 1 Calcário padrão 2 Calcário padrão 3 Calcário de minas Botuverá F-1 - 0 a 3 m Botuverá F-1 - 3 a 6 m Botuverá F-1 - 6 a 9 m Botuverá F-2 - 0 a 3 m Botuverá F-2 - 3 a 6 m Botuverá F-2 - 6 a 9 m Botuverá F-3 - 3 a 6 m Botuverá F-3 - 3 a 9 m Botuverá F-4 - 0 a 3 m Botuverá F-4 - 3 a 6 m Botuverá F-4 - 6 a 9 m Botuverá F-5 - 0 a 3 m Botuverá F-5 - 3 a 6 m Botuverá F-5 - 6 a 9 m Botuverá F-6 - 0 a 3 m Botuverá F-6 - 3 a 6 m Botuverá F-6 - 6 a 9 m Média Amplitude Menor Maior 40 SiO2 5,67 10,85 10,94 2,25 2,38 2,18 2,68 3,06 3,78 3,09 4,02 4,61 4,14 5,73 4,76 2,80 3,38 4,55 4,88 4,83 3,78 3,80 3,54 2,18 5,70 Al2O3 1,12 2,58 1,93 0,16 0,52 0,37 0,69 0,78 1,25 0,74 0,98 1,48 1,34 1,93 2,55 0,79 1,02 1,70 1,88 1,75 1,37 1,24 2,16 0,37 2,55 Fe2O3 0,47 1,67 0,76 0,15 0,28 0,46 0,40 0,35 0,45 0,33 0,93 0,74 0,40 0,55 0,71 0,39 0,36 0,52 0,54 0,64 0,66 0,51 0,64 0,28 0,93 CaO 46,44 41,45 41,51 52,47 52,36 51,11 51,77 51,30 48,22 51,71 48,61 48,66 50,97 47,95 48,00 52,26 51,07 49,43 49,57 49,05 51,07 50,18 4,46 47,95 52,36 K2O 0,17 0,59 0,01 0,07 0,17 0,14 0,21 0,20 0,36 0,22 0,26 0,38 0,32 0,53 0,65 0,21 0,28 0,40 0,47 0,48 0,40 0,33 0,51 0,13 0,65 TiO2 0,06 0,28 0,08 0,01 0,03 0,02 0,04 0,05 0,06 0,03 0,13 0,09 0,04 0,05 0,08 0,03 0,03 0,05 0,05 0,04 0,04 0,05 0,11 0,02 0,13 MgO 5,20 4,23 5,48 0,69 0,82 2,38 0,69 0,54 0,42 0,38 1,36 0,62 0,19 0,35 2,73 0,36 0,58 0,34 0,15 0,19 0,17 0,72 2,58 0,15 2,73 P2O5 0,04 0,10 0,00 0,35 0,01 0,01 0,03 0,02 0,02 0,02 0,04 0,05 0,04 0,06 0,00 0,03 0,03 0,05 0,06 0,04 0,04 0,03 0,06 0,00 0,06 PF 39,15 35,69 36,58 41,43 41,03 39,06 41,31 37,46 38,75 40,93 38,45 39,58 39,15 38,59 34,43 39,79 40,90 39,45 37,66 38,25 39,46 39,07 6,88 34,43 41,31 Cerâmica Industrial, 15 (3) Maio/Junho, 2010 Tabela 2. Bancada 2. Amostras/óxidos (%) SiO2 Calcita padrão 1 Calcário padrão 2 Calcário padrão 3 Calcário de minas Botuverá F-7 - 0 a 3 m Botuverá F-7 - 3 a 6 m Botuverá F-7 - 6 a 9 m Botuverá F-8 - 0 a 3 m Botuverá F-8 - 3 a 6 m Botuverá F-8 - 6 a 9 m Botuverá F-9 - 0 a 3 m Botuverá F-9 - 3 a 6 m Botuverá F-9 - 6 a 9 m Média Amplitude Menor Maior 5,67 10,85 10,94 2,25 5,64 5,95 5,24 2,32 2,66 3,99 2,77 3,54 3,95 4,00 3,63 2,31 5,95 Al2O3 Fe2O3 1,12 2,58 1,93 0,16 3,81 2,65 4,40 0,47 0,69 1,23 0,79 1,18 1,38 1,84 3,93 0,46 4,40 0,47 1,67 0,76 0,15 1,49 1,15 1,32 0,23 0,28 0,42 0,27 0,35 0,48 0,66 1,26 0,22 1,48 CaO K2O 46,44 41,45 41,51 52,47 47,74 47,22 48,34 52,91 52,38 50,43 52,23 50,63 50,66 50,28 5,68 47,22 52,91 TiO2 0,17 0,59 0,01 0,07 0,75 0,54 0,84 0,16 0,20 0,37 0,21 0,31 0,35 0,41 0,68 0,15 0,84 0,06 0,28 0,08 0,01 0,16 0,10 0,16 0,03 0,03 0,04 0,02 0,03 0,07 0,07 0,14 0,02 0,20 MgO 5,20 4,23 5,48 0,69 2,45 0,21 2,43 0,40 0,35 0,42 0,36 0,33 0,30 0,80 2,23 0,21 2,45 P2O5 PF 0,04 0,10 0,00 0,35 0,00 0,06 0,00 0,03 0,02 0,05 0,02 0,03 0,05 0,03 0,06 0,06 0,00 39,15 35,69 36,58 41,43 36,37 37,22 35,38 41,61 41,79 39,37 40,82 40,36 39,74 39,18 6,40 35,37 41,78 Tabela 3. Composição química do Mix Botuverá. Óxidos (%) Mix Botuverá SiO2 3,299 Al2O3 2,021 Fe2O3 1,004 CaO 50,692 Na2O 0,04 K2O MnO 0,446 0,006 TiO2 0,182 MgO 0,967 P2O5 0,082 5. Avaliação do Comportamento Tecnológico da Calcita Mix Botuverá em Massa Típica de Monoporosa O comportamento tecnológico de massa típica de monoporosa com Calcita Mix Botuverá foi avaliado comparativamente ao da mesma massa com calcita típica utilizada pela indústria para verificar o atendimento do Mix Botuverá às especificações de massa (Tabela 4). 5.1. Propriedades tecnológicas pré-queima Expansão de prensagem de corpo de prova verde e retração de secagem, densidade aparente e resistência mecânica à flexão de corpos de prova secos (Figura 4) (Tabela 5). Tabela 4. Fórmulas e parâmetros de processo. Matéria-prima Argila Caulim Calcita padrão Mix Botuvera Filito Soma Resíduo #325 (%) Umidade (%) Press. Esp. (kgf.cm–2) Ciclo queima (minutos) Calcita típica 38 31 16 Mix Botuverá 38 31 16 15 100 15 100 5,0 - 6,0 6,5 280 38 5,0 - 6,0 6,5 280 38 Figura 4. Curvas de defloculação. 5.2. Diagramas de queima (Tabelas 6-8) Tabela 6. Retração linear. Massa Calcita típica Mix Botuvera 1080 0,47 0,41 Temperatura (°C) 1100 1120 1140 0,53 0,75 1,09 0,43 0,49 0,61 1160 1,48 0,77 Temperatura (°C) 1100 1120 1140 18,02 17,72 16,6 18,07 18,28 17,81 1160 15,53 17,52 ∆RL 0,56 0,18 Tabela 7. Absorção de água. Tabela 5. Características técnicas da placa prensada seca. Dapseco (g.cm ) RMFseco (kgf.cm–2) –2 Calcita típica 1,966 37,11 Cerâmica Industrial, 15 (3) Maio/Junho, 2010 Mix Botuverá 1,948 37,78 Massa Calcita típica Mix Botuvera 1080 18,34 18,43 ∆AA 1,42 0,26 41 Tabela 8. Densidade aparente. Massa Calcita típica Mix Botuvera 1080 1,763 1,749 Temperatura (°C) 1100 1120 1140 1,774 1,785 1,805 1,753 1,753 1,761 1160 1,838 1,775 5.3. Propriedades tecnológicas pós-queima (Tabelas 9-10) Tabela 9. Resistência mecânica à flexão, perda ao fogo e expansão por umidade RMF Q. 1140 ºC (kgf.cm–2) Perda ao fogo - 1140 ºC (%) Expansão por umidade (%) Calcita típica 304,47 11,61 0,015 Mix Botuverá 278,14 11,8 0,013 Tabela 10. Cor. Coordenadas Colorimétricas Calcita típica Mix Botuvera L* 78,09 77,41 a* 7,17 8,18 b* 19,46 19,09 ∆E 0,88 6. Observações Sobre as propriedades tecnológicas pré-queima: a substituição da calcita típica pelo Mix Botuverá não alterou as propriedades préqueima da massa em estudo. 42 Sobre o comportamento na queima: a massa com Mix Botuverá melhorou significativamente a estabilidade dimensional do produto. Sobre a resistência mecânica à flexão da massa queimada: embora a resistência da massa ‘Mix Botuverá’ seja inferior a da massa ‘Calcita típica’, o valor de resistência da massa Mix Botuverá ainda é muito superior ao valor mínimo de 150 kgf.cm–2 prescrito pela norma ISO13006 para placas de espessura superior a 7,5 mm. Sobre a defloculação das massas: barbotinas preparadas com Mix Botuverá e calcita típica apresentaram comportamento na defloculação parecidos, destacando-se menor quantidade de defloculante necessário ao alcance de mínima viscosidade quando se emprega Mix Botuverá; Sobre a cor das massas: a massa com Mix Botuverá apresentou cor branca, similar à típica, que cumpre os requisitos de cor da monoporosa. 7. Conclusões A calcita Mix Botuverá é indicada para uso em massas de monoporosa brancas, para produção de produtos de grandes formatos e regularidade dimensional, devido à sua composição química, rica em CaO, e baixo Fe2O3 e MgO. A grande capacidade do minerador de produzi-la com granulometria controlada em #200, e a capacidade da T-cota em controlar as propriedades físicas e químicas, conferem à Calcita Botuverá grande destaque para uso em composições de monoporosa às fábricas Catarinenses. Cerâmica Industrial, 15 (3) Maio/Junho, 2010