The Phenomenological Mind cap.7 The Embodied Mind The brain-in-a-vat experiment: cérebro em uma cuba mantido vivo por nutrição artificial e informado por eletrodos que aportam informações sobre o mundo Dennett (1981): versão deste experimento de pensamento → cérebro sem corpo; implante em um novo corpo, também conectado a um computador que roda um programa que é a cópia funcional do cérebro Moral da estória: não só o corpo é desnecessário para a experiência e cognição, como o próprio cérebro pode ser substituído por um software rodando em um hardware adequado → perspectiva funcionalista Concepção descorporificada da mente e concepção cerebralizada (corticalizada) da mente 2 questões em jogo: a) questão de princípio: a noção de um cérebro descorporificado é inteligível? b) independentemente da resposta à a), a cognição humana é de fato descorporificada? Pode-se responder negativamente a segunda pergunta sem precisar demonstrar que o experimento de de pensamento do cérebro-emuma-cuba não faz sentido É pura e simplesmente um fato empírico que somos corporificados, que nossas percepções e ações dependem do fato de possuirmos um corpo, e que nossa cognição é modelada pela nossa existência corporal Porém, o próprio experimento do cérebro-emuma-cuba demonstra que que percepção e ação requerem algum tipo de corporificação, na medida em que o experimento requer que o cérebro receba o que o corpo normalmente provê Para o cérebro existir fenomenologicamente na cuba, e não só fisicamente, é preciso replicar os sistemas corporais que sustentam habitualmente a nossa existência Cognição não é só corporificada, ela também é situada, e é situada porque é corporificada Postura ereta é um fato biológico da nossa espécie, que acontece concomitantemente com outros fatos biológicos, com consequências concernentes às nossas potencialidades perceptivas e de ação e, consequentemente, cognitivas: - estruturas esqueléticas e anatômicas e Umwelt - Ontogênese da postura ereta; postura ereta, vigília e consciência; ampliação do campo de visão; redefinição do espaço de ação; substituição do olfato pela visão - Postura ereta e intersubjetividade; liberação das mãos e desenvolvimento do cérebro Controle da ação e do movimento não se dá exclusivamente em nível cerebral, mas também no nível dos músculos, tendões, articulações O corpo biológico (que ele habilita ou impossibilita pela sua estrutura, postura e capacidade motora) é o corpo que que molda a maneira pela qual percebemos e pensamos sobre o mundo Robótica e Corpos Biológicos Rodney Brooks (MIT): estratégias top down não funcionam em I.A. → desenvolvimento de robôs bottom up (máquinas sensório-motoras simples, biologicamente inspiradas, pragmaticamente ordenadas) que se locomovem em ambientes usando informação obtida, em tempo real, do próprio ambiente Robôs physically groundeds: máquinas perceptivas enativas que apreendem o mundo nos termos dos projetos a serem realizados Brooks, entretanto, inverte a equação e concebe o corpo humano como um robô (tradição filosófica do homem-máquina: Descartes, La Mettrie, Hodgson, Huxley) Concepção alternativa para o conceito de cognição corporificada: - Fenomenologia de Husserl, Merleau-Ponty, Sartre, Michel Henry - Clark, Varela, Thompson etc Investigação Fenomenológica do Corpo não é a análise de um objeto entre outros corpo considerado como princípio constitutivo ou transcendental → condição de possibilidade da experiência profundamente implicado na nossa relação com o mundo, com os outros e consigo mesmo rejeição do dualismo cartesiano, sem implicar em um materialismo cartesiano a noção de corporificação, de mente corporificada, visa re-situar as noções comuns de mente e corpo, que são derivações ou abstrações da primeira Merleau-Ponty: natureza ambígua do corpo; a existência corporal é uma terceira categoria para além do meramente fisiológico e do meramente psicológico O corpo vivido não é nem espírito, nem natureza, nem alma nem corpo, nem interior nem exterior, nem sujeito nem objeto O corpo não é meramente um objeto de experiência; é também um princípio de experiência A investigação do corpo como objeto não é exaustiva → não deixar que a compreensão do corpo vivido seja determinada por uma perspectiva externa que tem sua origem no estudo anatômico do cadáver (Sartre) Contribuição Fenomenológica para a solução do problema mente-corpo não toma a forma de uma teoria metafísica da causalidade mental nem consiste em uma explicação de como o corpo interage com a mente Ela procura entender como a nossa corporificação forma e influencia a nossa experiência de si, do outro e do mundo Assim procedendo ela questiona e repensa algumas distinções que definem o problema mente-corpo A primeira e mais básica distinção fenomenológica é aquela entre corpo objetivo (Körper) e corpo subjetivo ou vivido (Leib) → distinção fenomenológica, não ontológica Esta distinção falta na tradição cartesiana O corpo objetivo é um corpo percebido, observado Mas a única maneira de fazer estas observações é se formos um corpo vivo, subjetivo sensorio-motor, experiencial Uma descrição do corpo vivido é uma descrição a partir da perspectiva fenomenológica: ela versa sobre como o corpo aparece na experiência e sobre como o corpo estrutura a experiência O corpo não é uma tela entre eu e o mundo, mas sim o que modela a nossa forma primearia de ser-no-mundo O corpo já se dá no-mundo e o mundo é dado como corporalmente revelado. Por isso não podem ser examinados de forma dissociada O corpo é operativo em toda percepção e ação; é o nosso ponto de vista e ponto de partida Os sensos postural e posicional do corpo – onde e como o corpo está – tendem a permanecer no pano de fundo da minha consciência (awareness); são tácitos, recessivos Este senso de corporificação não é simplesmente espacial: também é qualitativo, valorativo, afetivo O corpo está integrado com o mundo: não só em um ambiente físico, mas em relação com circunstâncias que são corporalmente significativas. As possibilidades que o meu corpo capacita definem o ambiente como um mundo de provimentos (affordances) O ambiente (interno e externo) não é só o lugar onde desempenhamos as ações; ele também regula direta e indiretamente o corpo O corpo não é definido como estático: não só pode expandir capacidades sensório-motoras como pode incorporar órgãos artificiais e partes do ambiente, em um processo de aquisição de perícia desenvolvido no tempo Extensão das capacidades corporais por meio de extensões artificiais Experimento de Bach-y-Rita: Tactile Vision Sensory Substitution O corpo vivido tem obviamente uma base fisiológica → lesões cerebrais podem produzir formas de auto-alienação corporal: anosognosia; heminegligência; Uso heurístico destas alterações patológicas para o estudo da subjetividade corporificada Como o corpo define o espaço da experiência Mesmo fazendo ciência partimos de uma perspectiva corporificada da qual não se pode escapar completamente Ponto zero da definido pelo corpo perceptivo: embora o corpo objetivo possa receber uma posição neste espaço perspectivado, o corpo subjetivo não pode 3 tipos de quadros de referência espacial Espaço alocêntrico: puramente objetivo; definido em termos de latitude e longitude; pontos cardeais; GPS Espaço egocêntrico: espaço pespectival de percepção e ação definidos com relação ao corpo perceptivo e agente; percepção e ação são calibrados neste espaço, chamado também de espaço vivido Espacialidade de situação: quadro de referência espacial inato, absoluto, não perspectivado; nem alocêntrico nem egocêntrico, mas um quadro de referência que se aplica ao corpo vivido como percebedor e ator Esta última é estreitamente ligada transparência experiencial do corpo à Eu posso me aproximar ou me afastar de qualquer objeto no mundo mas o meu o corpo sempre permanece “aqui” como a minha perspectiva sobre o mundo Embora eu não acesso observacional ao meu corpo em ação, eu tenho consciência (awareness) não observacional proprioceptiva e cinestésica do meu corpo em ação O quadro de referência espacial da consciência (awareness) proprioceptiva não é egocêntrica nem alocêntrica; ela pressupõe uma consciência (awareness) do corpo em um quadro de referência espacial implícito O quadro de referência proprioceptivo é a base corporificada necessária para o quadro de referência egocêntrica O Corpo como experiencialmente transparente Temos uma consciência (awareness) préreflexiva do nosso corpo em termos muito gerais O corpo vivido é invisivelmente presente porque é mais existencialmente vivido do que conhecido O foco intencional é a tarefa a ser desempenhada, o projeto a ser realizado ou o objeto ou evento do mundo relevante para a ação, não o nosso movimento corporal Quando eu executo movimentos, mesmo que certos detalhes dos processos de controle permaneçam não conscientes, os movimentos não são não conscientes, mecânicos, involuntários; eles são parte da intncionalidade funcionante e são imediata e preflexivamente sentidos Patologias que envolvem processos do esquema corporal (caso IW – perda da propriocepção) Aspectos da corporificação que dependem do esquema corporal: capacidades corporificadas para ação correlatas dos provimentos (affordances) do mundo → “Eu posso” (Husserl) Forma de saber, ou saber fazer, não conceitual, pré-linguístico Body image: sistema de experiências, atitudes e crenças nos quais o objeto intencional é o próprio corpo; afetado por fatores culturais e interpessoais Body schema: sistema de processos quaseautomáticos que regulam postura e movimento em serviço da ação intencional; consciência (awareness) corporal não-objetivante e préreflexiva