Análise de Custos e Benefícios da Aplicação de Tarifas Horárias em Baixa Tensão Davi R. V. Leite e Marco A. G. Oliveira Abstract— This paper aims to set the power demand reduction needed to become feasible the meter roll out on the low voltage level in Brazil. Using some theory of regulatory impact analysis and cost-benefit analysis, it is built two scenarios and a target of power demand reduction is calculated for two distribution companies. The results indicate that the best scenario for a company is economically unfeasible for another. It represents the dilemma between modernity and affordability of electricity tariffs faced by regulatory bodies daily. Keywords— análise custo benefício, análise limiar, eficiência energética, tarifa horária. I. INTRODUÇÃO R ECENTEMENTE a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL aprovou a aplicação de tarifação horária para unidades consumidoras conectadas em baixa tensão (Grupo B), chamada de “tarifa branca”. A nova modalidade tarifária, publicada através da publicação da Resolução Normativa nº 464/2011, será aplicada a partir de 2012 e terá três postos tarifários: fora de ponta, com custo equivalente a 55% da tarifa convencional; intermediário, equivalente a 3 vezes o valor da tarifa fora de ponta; e ponta, cujo valor será 5 vezes maior que a tarifa fora de ponta. [1] Entretanto, a definição resumiu-se a estabelecer a forma de cálculo das tarifas, faltando ainda definir os critérios comerciais de migração (quem poderia optar pela nova tarifa, o prazo para atendimento, tempo mínimo de permanência, etc). Além disso, os sistemas de medição atualmente instalados no Grupo B devem ser trocados para efetiva aplicação da tarifa branca, uma vez que os atuais são incapazes de diferenciar o consumo em postos tarifários. Dessa forma, por traz dessa decisão da ANEEL está a necessidade de atualização do parque de medição no Brasil, o que, obviamente, tem custos. Por outro lado, a aplicação da tarifa branca incentivará consumidores conectados na baixa tensão a alterar seus hábitos de consumo de modo a utilizar menos energia elétrica durante o horário de pico. Este efeito, tecnicamente chamado de “modulação de carga”, faz com que o sistema elétrico seja utilizado de modo mais eficiente e que haja uma postergação da necessidade de expandi-lo, contribuindo para a almejada modicidade tarifária. Assim, o ato de aplicar tarifas horárias traz consigo os custos de implantação de sistemas de medição mais modernos Davi Rabelo Viana Leite é especialista em relação da ANEEL e aluno do mestrado acadêmico do Departamento de Energia Elétrica da Universidade de Brasília (UnB), Brasília, Brasil, [email protected] Marco Aurélio Gonçalves de Oliveira é professor do Departamento de Energia Elétrica da Universidade de Brasília (UnB), Brasília, Brasil, [email protected] e os benefícios associados à modulação de carga. À luz da análise de projetos de eficiência energética, a avaliação da relação custo-benefício é bastante complexa, uma vez que os ganhos monetários advindos da decisão da ANEEL são de difícil estimativa. Para contornar esta dificuldade, propõe-se o uso de um dos métodos de análise sugeridos na Circular A-4 do governo dos Estados Unidos. O documento visa orientar as agências reguladoras do país na realização de análise de impacto regulatório de seus atos. Uma das orientações da Circular refere-se a casos quando uma variável importante é difícil de ser quantificada. Nestes casos, é recomendada uma análise limiar, que consiste em responder o quão grande deve ser o benefício não quantificado para que o projeto avaliado seja viável. [2] II. METODOLOGIA DE CÁLCULO No caso da aplicação de tarifação horária em baixa tensão, há certa facilidade em estimar os custos, que se resumem à instalação do equipamento de medição capaz de registrar o consumo em postos tarifários e ao acréscimo no gasto com a atividade de leitura. Os benefícios diretos são a redução do consumo de energia elétrica e a diminuição da demanda máxima do sistema. Além desses, há ganhos ambientais, redução de perdas técnicas e comerciais e maior confiabilidade do sistema elétrico. A quantificação monetária desses benefícios indiretos envolve um alto grau de complexidade e incerteza, o que pode tornar as estimativas eivadas de imprecisão. Por isso, neste estudo, os efeitos monetários dos benefícios indiretos serão desprezados. Ou seja, serão considerados como benefícios apenas a redução de consumo e a diminuição da demanda máxima do sistema. Seguindo a proposição da Circular A-4, todos os custos serão monetizados, assim como o benefício devido à redução de consumo. Posteriormente, será estimado o quão grande deve ser o valor do benefício associado à diminuição da demanda máxima para que o Valor Presente Líquido (VPL) seja nulo. Ou seja, encontrar-se-á o ponto que torna o valor presente dos benefícios igual ao valor presente dos custos. Ou ainda: (2) Considerando que “VPDemanda” é o Valor Presente de uma série de ganhos anuais (“Demanda”), pode-se considerar: (3) Como “Demanda” é invariável, reescreve-se (3): exemplo o subgrupo B1 (Residencial), é feita uma ponderação do custo marginal dos consumidores-tipo Residencial pela carga máxima registrada. O resultado representa o custo para atender um kilowatt adicional para o subgrupo B1 (denominado “R$ExpansãoB1” em (7)). Dessa linha de raciocínio, pode-se escrever: (4) O benefício de redução de demanda ocorre uma única vez, quando o consumidor passa a ser estimulado economicamente a evitar o consumo no horário de ponta. Mesmo que todos os usuários manifestem interesse em migrar para a tarifação horária, há a limitação logística da distribuidora que impediria a migração simultânea de todos. Assim, adota-se a premissa que a troca de medidores impõe que a migração dar-se-á ao longo de 10 anos (“n” igual a 10 em (4)), propiciando uma redução uniforme da demanda de pico. Neste estudo, a taxa adotada para transformar os valores em Valor Presente será o WACC líquido (Weighted Average Cost of Capital – Custo Médio Ponderado do Capital, em tradução) do terceiro ciclo de revisões tarifárias para distribuidoras de energia elétrica: 7,50%. Daí: (5) (7) Em (7), “DemandaB1” representa o benefício monetário anual auferido pela diminuição da carga do subgrupo B1. Já o termo “kWB1” é a variável que se pretende calcular com a metodologia deste trabalho. Significa a diminuição da demanda do subgrupo B1 durante o período de carga máxima da distribuidora. É possível adotar a premissa de que o benefício que deve ser alcançado por cada subgrupo seja proporcional à sua parcela de responsabilidade pela demanda máxima. Na forma de equação, isto significa que: (8) Na equação acima, “kWB1Máximo” é a demanda do subgrupo B1 durante a carga máxima do Grupo B, esta última representada pelo termo “kWMáximo”. Igualando-se (7) e (8) e substituindo o termo “Demanda” pelo valor obtido em (6): Aplicando-se (5) e (4) em (2), obtém-se a equação que define o ganho anual em função das demais variáveis: (6) A equação (6) define o ganho anual em dinheiro. Entretanto, falta ainda transformar este resultado em termos de redução da demanda máxima. A tarifa branca será aplicada com o intuito de diminuir a carga da distribuidora, e assim, aliviar o sistema elétrico para postergar investimentos. Cada kilowatt de capacidade da rede que passa a ficar ocioso é utilizado para atender o crescimento vegetativo da carga nos anos seguintes, não sendo necessário expandir a rede para isso. Assim, ao invés de realizar obras em expansão, aplicam-se tarifas horárias para aliviar as redes existentes e utilizar essa capacidade que ficou ociosa no atendimento do crescimento natural da carga. Daí, cada kilowatt que passa a ficar ocioso significa um kilowatt a menos em obras, e pode ser valorado pelo custo da obra evitada. Em cada ciclo de revisão tarifária, a ANEEL calcula o valor que a distribuidora deve investir para atender um kilowatt a mais (custo marginal) de cada “consumidor-tipo”. Estes são definidos como o consumidor que representa um grupo de usuários de uma mesma classe com semelhanças no formato da curva de carga. [3] Neste trabalho, adota-se que o custo de expansão da rede para cada subgrupo é a média dos custos dos consumidorestipo ponderada pela carga máxima desses. Tomando-se como (9) Analogamente, encontram-se as reduções em B2 e B3: (10) (11) Por meio de (9), (10) e (11) obtém-se a demanda que cada subgrupo deve reduzir para que o benefício da redução da demanda de pico compense o gasto de instalação dos medidores capazes de aplicar a tarifa branca. Em alguns casos, a demanda que deve ser retirada da ponta pode exigir uma alteração tão radical dos hábitos de consumo dos usuários conectados em baixa tensão que seja inatingível. Assim, não é suficiente calcular o quanto deve ser esta redução. Deve-se também analisar se a redução é possível de ser alcançada por cada subgrupo. III. APLICAÇÃO DA METODOLOGIA A. Cenários: Dois possíveis cenários de aplicação da nova modalidade foram montados para o estudo em tela, que se diferenciam entre si quanto à quantidade de unidades consumidoras que seriam contempladas com o medidor eletrônico. São eles: Optantes: recebem o novo medidor apenas os consumidores que manifestarem vontade de serem faturados pela tarifa branca. Todos: todos os consumidores do Grupo B, exceto o subgrupo B4 (Iluminação Pública), receberiam o medidor capaz de aplicar a tarifação horária, independentemente de exercerem a opção por esse tipo de faturamento. Em cada cenário, o custo é proporcional à quantidade de equipamentos de medição instalados. Já o benefício varia com base na quantidade de usuários com potencial de alterar os hábitos de consumo. Isso porque nem todos os usuários alterarão seus hábitos de consumo, mesmo recebendo os incentivos tarifários. B. Distribuidoras estudadas: Apesar das regras tarifárias publicadas pela ANEEL terem valia em todo o território nacional, a aplicação de tarifas horárias pode não ser igualmente benéfica em todas as regiões do país. Em regiões mais frias, há uma tendência de uso de chuveiro elétrico nos horários de pico, o que piora o fator de carga. Já em regiões de temperaturas mais elevadas, ocorre uso intenso de aparelhos de ar-condicionado ao longo do dia (fora de ponta) e menor uso de chuveiros elétricos. Ao aplicar a metodologia aqui proposta em diferentes distribuidoras, pode-se inferir como cada região reagiria à tarifação horária. A escolha das concessionárias considerou, além da atualidade dos dados, a localização geográfica. Neste momento inicial, as distribuidoras escolhidas foram: Companhia de Eletricidade do Estado do Ceará – Coelce: atende a todo o estado do Ceará (aproximadamente 149 mil km²), totalizando 2,95 milhões de consumidores. [4] Companhia Paranaense de Energia – Copel: responsável pela distribuição de energia elétrica no estado do Paraná, em cerca de 195 mil km². Atende a mais de 10 milhões de habitantes em 393 municípios. [5] A quantidade de unidades consumidoras dos subgrupos B1, B2 e B3 (que estão sujeitos à aplicação da tarifa branca) no final de 2010 está mostrada a seguir. TABELA I QUANTIDADE DE CONSUMIDORES B1, B2 E B3 DAS DISTRIBUIDORAS ESCOLHIDAS (2010) SUBGRUPO B1 RESIDENCIAL BAIXA RENDA COELCE 1.704.403 COPEL 704.893 B1 RESID. NÃO BAIXA RENDA 621.415 2.261.232 B2 RURAL 324.498 359.043 B3 DEMAIS CLASSES 192.996 406.605 C. Estimativa dos custos Todos os cenários envolvem a substituição do medidor atualmente instalado antes do fim da sua vida útil. Após esta troca, a atividade de leitura in loco será mantida. Entretanto, o leiturista registrará três valores referentes ao consumo (um para cada posto tarifário), ao invés de apenas um valor acumulado durante o mês. Assim, o custo referente à implantação de medição eletrônica e tarifação horária resume- se às despesas de substituição do medidor (“VPInst”) e despesas adicionais de leitura após a instalação (“VPLeitura”). Custo de Instalação (VPInst) O equipamento de medição capaz de diferenciar o consumo em postos tarifários diferencia-se do medidor atualmente utilizado pela adição de um relógio interno e alguns registradores. Adota-se a premissa que um sistema de medição com estas características tem preço estimado em R$ 80,00. Quando da instalação de um medidor comum, é reconhecido cerca de R$ 25,00 como custo de mão de obra de troca e componentes menores (porcas, parafusos, etc), além do valor do medidor. Os cenários deste estudo apresentam substituição de medidor em grandes quantidades, mas em escalas diferentes. Assim, é adequado considerar um valor menor ao que é atualmente reconhecido em trocas individuais. Nos cenários Todos, onde a escala de substituição é maior, o valor da mão de obra e componentes menores será considerado em R$ 10,00, enquanto que no cenário Optantes o valor será R$ 15,00. Tais despesas serão adicionadas ao custo do medidor para obter o valor unitário de cada substituição. No cenário Todos, a quantidade de medidores que seriam trocados é igual a quantidade de consumidores das classes B1, B2 e B3, desconsiderando os de baixa renda. Já no cenário Optantes, a quantidade deve ser estimada. Para tanto, utilizase o resultado da Pesquisa de Posses e Hábitos (PPH) promovida antes de cada ciclo de revisões tarifárias. A pesquisa questiona aos usuários se haveria alteração de hábitos caso fosse dado um desconto de 10% ou de 20% para o período fora de ponta. Apesar de o desconto ser maior na tarifa branca, o que, em tese, aumentaria a adesão, considerarse-á que optariam pela tarifa branca aqueles que declararam “Com certeza alteraria” ou “Poderia alterar para um desconto maior” na PPH. Como não houve previsão para a tarifa baixa renda branca, considera-se que nenhum usuário com este benefício fará opção pela modalidade tarifária. A PPH para o terceiro ciclo das distribuidoras estudadas já foi realizada, e, com base nos resultados, é possível estimar a adesão à tarifa branca. [9] TABELA II PERCENTUAL DE CONSUMIDORES QUE FARIAM ADESÃO À TARIFA BRANCA SUBGRUPO B1 RESID. NÃO BAIXA RENDA COELCE 34% COPEL 75% B2 RURAL 21% 57% B3 DEMAIS CLASSES 29% 26% Nota-se uma adesão bem maior na Copel em relação à Coelce. Possivelmente, isto se deve ao fato desta última ter um percentual maior de consumidores de baixa renda. Como estes usuários têm um desconto na tarifa, pode-se inferir que são menos sensíveis a incentivos tarifários para alterar hábitos. Considerando que a instalação de medidores ocorreria em dez anos, ou um décimo a cada ano, e com base nas premissas anteriormente descritas, obtém-se o seguinte custo de instalação para as distribuidoras: TABELA III CÁLCULO DO VALOR PRESENTE DO CUSTO DE INSTALAÇÃO DOS MEDIDORES PARA A DISTRIBUIDORA COELCE [R$ MILHÕES] CENÁRIO TODOS COELCE R$ 175,650 COPEL R$ 230,537 OPTANTES R$ 21,871 R$ 130,828 Custo Adicional de Leitura (VPLeitura) Além do custo de instalação, há a despesa adicional devido a maior complexidade da atividade de leitura, conforme anteriormente explicado. Estima-se que o custo da leitura em consumidores da tarifa branca corresponderá ao dobro do valor atualmente gasto para ler um usuário comum. Uma parte deste gasto já iria ocorrer de qualquer forma, uma vez que o usuário deveria ser lido independentemente da sua opção pela tarifa branca. Logo, apenas o acréscimo deve ser atribuído à instalação do novo medidor. No segundo ciclo, a ANEEL reconheceu um valor a ser remunerado pelas tarifas de distribuição para a realização das leituras in loco das unidades consumidoras. Neste cálculo, foram considerados o custo de mão de obra na área de atuação da distribuidora, a produtividade do leiturista e padrões de eficiência. [6], [7] Dividindo-se o valor reconhecido para leitura pela quantidade de usuários, obtém-se o custo médio por unidade consumidora. Como este valor refere-se ao ano da revisão tarifária, o custo foi atualizado para novembro de 2011 pelo Índice Geral de Preços de Mercado – IGPM, publicado pela Fundação Getúlio Vargas. TABELA IV CÁLCULO DO CUSTO ADICIONAL COM LEITURA EM CONSUMIDORES FATURADOS ATRAVÉS DA TARIFA BRANCA D. Estimativa do benefício Redução de Consumo (VPCons) Quanto altera os hábitos de consumo em resposta a incentivos tarifários de modo a evitar consumo de eletricidade do horário de ponta, o consumidor tem uma tendência natural a reduzir seu consumo total. Estima-se que esta redução corresponde a 1% (um por cento) do consumo. Este consumo evitado reflete em menor compra de energia elétrica pela distribuidora, e provoca uma redução de gasto. Para monetizar o consumo evitado, utilizou-se o valor de compra da energia pela distribuidora no segundo ciclo de revisões tarifárias. Um valor médio de compra da energia pela distribuidora foi calculado neste ciclo, considerando as compras realizadas em leilões A-5, A-3 e A-1, Proinfa e contratos bilaterais. No caso da Coelce, na segunda revisão tarifária, o custo médio reconhecido foi R$ 101,96/MWh, e para Copel, R$ 80,89/MWh. [6],[7] Assim, a economia anual por subgrupo em cada distribuidora seria: TABELA VI CÁLCULO DA ECONOMIA POR SUBGRUPO DEVIDO A MODULAÇÃO DE CARGA INCENTIVADA ATRAVÉS DA TARIFA BRANCA - COELCE COELCE PARÂMETRO B1 NÃO BR B2 CONSUMO ANUAL MÉDIO [KWH] 2.360 REDUÇÃO ESTIMADA (1%) [KWH] ECONOMIA PARÂMETRO COELCE [6] CUSTO MÉDIO POR CONSUMIDOR COPEL [7] R$ 6,69 R$ 6,10 IGPM ACUMULADO [8] 16,35% 16,57% CUSTO ADICIONAL ANUAL ESTIMADO PARA LEITURA DE CONSUMI. COM TARIFA BRANCA R$ 7,79 R$ 7,11 LIDO NO ANO DA REVISÃO ANUAL [R$ MIL] A partir da tabela acima, quando da migração de um usuário, a Coelce gastaria R$7,79 a mais por ano para realizar a leitura, enquanto que a atividade na Copel custaria R$12,08 além do gasto atual. O dispêndio adicional total é proporcional aos consumidores contemplados com o novo medidor. A variável “VPLeitura” é dada pelo valor presente deste gasto no horizonte de estudo (13 anos) a uma taxa de 7,5% ao ano. Em cada cenário, o resultado obtido de “VPLeitura” foi: TABELA V CÁLCULO DO VALOR PRESENTE DO CUSTO ASSOCIADO AO AUMENTO DA COMPLEXIDADE DA ATIVIDADE DE LEITURA EM CADA CENÁRIO (VPLEITURA) [MILHÕES] CENÁRIO TODOS COELCE R$ 102,523 COPEL R$ 122,940 OPTANTES R$ 12,094 R$ 66,096 COPEL B3 B1 NÃO BR B2 B3 1.933 5.756 2.289 4.255 7.926 23,60 19,33 57,56 22,89 42,55 79,26 R$ 508,4 R$ 134,3 R$ 328,5 R$ 3.140 R$ 704,4 R$ 677,8 Unindo-se os subgrupos em seus respectivos cenários, o valor presente deste benefício (VPCons) seria: TABELA VII CÁLCULO DO VALOR PRESENTE BENEFÍCIO DE REDUÇÃO DE CONSUMO DEVIDO A MODULAÇÃO DE CARGA (VPCONS) [R$ MILHÕES] CENÁRIO TODOS COELCE R$ 4,497 COPEL R$ 26,397 OPTANTES R$ 4,497 R$ 26,397 Nota-se que o valor para os cenários Todos e Optantes é igual. Isto ocorre porque em ambos cenários a quantidade de usuários que migram para a tarifa branca, e consequentemente modulam carga e reduzem consumo, é igual. E. Custo de expansão evitada O valor monetário da demanda retirada da ponta é definida como a ponderação dos custos de expansão de cada “consumidor-tipo” pela carga máxima, determinado na campanha de medidas ocorrida antes de cada revisão tarifária. Para a Coelce, esses dados estão disponíveis em [9], e para a Copel os dados foram atualizados de [10]. Com base nessas referências, sendo os da Copel ainda preliminares, foi possível obter o custo marginal para cada consumidor-tipo. Após as ponderações pelas cargas máximas, obtiveram-se os seguintes valores do custo de expansão para cada subgrupo: TABELA VIII CUSTO MARGINAL DE EXPANSÃO PARA CADA SUBGRUPO PARÂMETRO R$EXPANSÃOB1 COELCE R$ 465,83 / KW COPEL R$ 365,29 / KW R$EXPANSÃOB2 R$ 583,06 / KW R$ 299,19 / KW R$EXPANSÃOB3 R$ 320,48 / KW R$ 201,38 / KW IV. RESULTADOS PARA A COELCE A partir dos valores calculados para “VPInst”, “VPLeitura” e “VPCons” é possível obter o quanto deve ser a redução de demanda na baixa tensão para viabilizar a aplicação da tarifa branca em cada cenário na Coelce. Fazendo a proporção da demanda que deve ser reduzida em relação à contribuição de cada subgrupo para a demanda máxima da distribuidora, encontra-se o quanto cada subgrupo deve reduzir, conforme explicitado na tabela a seguir. TABELA IX REDUÇÃO DE DEMANDA NECESSÁRIA PARA VIABILIZAR A APLICAÇÃO DA TARIFA BRANCA EM CADA CENÁRIO DA COELCE CONTRIBUIÇÃO SUBGRUPO PARA A DEMANDA MÁXIMA [9] DEMANDA A SER REDUZIDA NO CENÁRIO DEMANDA A SER REDUZIDA NO CENÁRIO OPTANTES 4.540 KW B1 RESID. 49,3% TODOS 42.165 KW B2 RURAL 13,3% 9.128 KW 983 KW 37,4% 46.515 KW 5.008 KW 801,55 MW 97.808 KW 10.531 KW B3 DEMAIS CLASSES TOTAL O fator de carga da curva é 0,725, considerado alto. Possivelmente isto decorre do alto nível de consumo de arcondicionado durante o dia (fora de pico) e do pouco uso de chuveiros elétricos no início da noite (horário de ponta). Pela curva de carga, a demanda fora de ponta é da ordem de 706MW, enquanto que no horário de pico é 13,5% maior: 801MW. O potencial de redução da aplicação da tarifação horária é a diferença (95MW), já que uma redução acima deste valor apenas transferiria o horário da demanda máxima. O cenário Todos exige uma redução de quase 98MW para ser viabilizado, maior que o potencial de redução. Assim, a adoção deste cenário traria mais custos do que ganhos. Por outro lado, o cenário Optantes requer uma redução factível, da ordem de 10,5MW. Esta diminuição não exigiria uma alteração radical dos hábitos dos consumidores, e é alcançável com a atual configuração da tarifa branca. V. RESULTADOS PARA A COPEL Na Copel, a demanda a ser reduzida em cada cenário seria: TABELA X REDUÇÃO DE DEMANDA NECESSÁRIA PARA VIABILIZAR A APLICAÇÃO DA TARIFA BRANCA EM CADA CENÁRIO DA COPEL CONTRIBUIÇÃO DEMANDA A SER REDUZIDA NO CENÁRIO PARA A DEMANDA MÁXIMA [9] DEMANDA A SER REDUZIDA NO CENÁRIO TODOS [KW] B1 RESID. 71,8% 95.236 OPTANTES [KW] 50.400 B2 RURAL 13,8% 22.386 11.847 14,4% 34.556 18.287 2.224 MW 152,2 MW 80,5 MW SUBGRUPO B3 DEMAIS CLASSES TOTAL Para verificar a alcançabilidade de cada redução acima calculada, passa-se à análise da curva de carga: Para verificar se a redução é possível na Coelce, é válido estudar a curva de carga da distribuidora no dia em que foi registrada a demanda máxima antes da terceira revisão tarifária, onde as barras em vermelho representam a demanda no horário de ponta, as azuis escuras a demanda durante o posto intermediário e as azuis claras durante fora de ponta: Figura 2. Curva de carga dos subgrupos B1, B2 e B3 da Copel no dia de demanda máxima. Figura 1. Curva de carga dos subgrupos B1, B2 e B3 da Coelce no dia de demanda máxima. Na Copel, a demanda máxima é fortemente influenciada pelos consumidores residenciais. A consequência é um aumento de quase 900MW (mais que a carga da Coelce) em um período de duas horas e meia. Consequentemente, o fator de carga apresentado pelos subgrupos B1, B2 e B3 juntos é baixo: 0,424. Há na distribuidora um bom potencial de redução da demanda de pico. Apesar de o montante necessário para viabilizar ser grande representa menos de 7% da carga máxima. Ou seja, para bancar a substituição de todos os medidores na Copel, é suficiente que a tarifa branca provoque uma modulação de carga relativamente pequena. Pela metodologia aqui considerada, esta modulação deveria ser realizada principalmente pelo usuário residencial. O lucro do cenário Optantes é quase certo pela pouca redução de demanda necessária para viabilizá-lo. Mas também os ganhos de escala do cenário são reduzidos. A distribuidora seria obrigada a lidar com duas tecnologias de medição. No cenário Todos, todo o parque de medidores seria modernizado. Isto facilita a disseminação de sistemas dotados de inteligência e telecomunicações, viabilizando soluções avançadas de automação. Com isso, seria facilitada a implantação de sistemas autorrecuperáveis (self-healing), a detecção de falhas e furtos seria mais rápida e precisa e serviços adicionais poderiam ser ofertados. Ou seja, acredita-se que a substituição de todos os medidores viabiliza o aperfeiçoamento do serviço prestado pela distribuidora em benefício de toda a sociedade. Os benefícios do cenário Todos são consideravelmente superiores, e, por isso, é o melhor para o caso da Copel. VI. CONCLUSÃO Os resultados mostram o quão difícil é estabelecer regulamentos em um país diversificado como o Brasil. A ANEEL é um ente regulador federal e, como tal, suas normas devem ser aplicadas uniformemente em todo o país. Contudo, a melhor solução para a Copel é economicamente inviável para a Coelce, impondo um dilema ao regulador. Se o regulador estabelecer a substituição de todos os medidores dos consumidores sujeitos à aplicação da tarifa branca, provocará ganhos e avanços aos serviços prestados pela Copel, e, ao mesmo tempo, prejuízos aos usuários da Coelce. Por outro lado, se determinar a substituição do equipamento de medição apenas daqueles que manifestarem intenção em migrar para tarifa branca não provocará perdas aos consumidores cearenses. Mas isto implica em postergar a imprescindível modernização nos serviços de distribuição. Este é um exemplo prático do dilema modernidade versus modicidade enfrentado pelo regulador cotidianamente. O estudo aqui mostrado desconsiderou efeitos econômicos de benefícios importantes (ambientais, melhoria da continuidade e redução das perdas). Entretanto, muito embora isso tenha simplificado o estudo, ganhos não podem ser desprezados em uma análise de custos e benefícios. A substituição massiva de medidores é um grande passo na implementação das redes inteligentes. Todavia, o uso das redes inteligentes no Brasil é recente, de modo que a tecnologia utilizada ainda está sendo adaptada às necessidades específicas da realidade brasileira. Um regulamento da ANEEL visando estabelecer padrões e a abrangência de uso dos medidores pode interromper o processo de pleno desenvolvimento da tecnologia. É preciso que o regulador aguarde resultados concretos de projetos pilotos em andamento antes de tomar alguma decisão. Assim, por questão de prudência e para evitar efeitos tarifários indesejados, o regulador deve adotar uma postura mais prudente, e determinar a substituição dos medidores apenas daqueles consumidores que migrarem para a tarifa branca. Ressalte-se que este posicionamento não deve ser um absoluto e definitivo, cabendo às distribuidoras reconhecer quando a substituição massiva é viável e desejável, promovendo por conta própria a substituição. Por fim, é importante que continue se acompanhando o desenvolvimento dos pilotos desenvolvidos na realidade nacional, e procurar monetizar os benefícios não considerados neste estudo. REFERÊNCIAS Brasil, Submódulo 7.3 – Tarifas de Aplicação. Módulo 7: Estrutura Tarifária das Concessionárias de Distribuição – Procedimentos de Regulação Tarifária – PRORET, ANEEL, 2011. Disponível em http://www.aneel.gov.br/cedoc/aren2011464_3.pdf. [Acesso em 21/12/2011]. [2] Estados Unidos, Circular A-4, White House, 2003. Disponível em http://www.whitehouse.gov/omb/circulars_a004_a-4/. [Acesso em 17/05/2011]. [3] Brasil, Nota Técnica nº 126/2010-SRD/SRE/ANEEL. ANEEL, 2010. [4] https:www.Coelce.com.br/sobreCoelce/conheça.aspx. [Acesso em 16/11/2011]. [5] http://www.copel.com/hpcopel/root/nivel2.jsp?endereco=%2Fhpcopel %2Facopel%2Fpagcopel2.nsf%2Fdocs%2F016A1AD199308E810325 740B005C032C [Acesso em 26/01/2012]. [6] Brasil, Consulta Pública nº 010/2009 – Modelo de Empresa de Referência. ANEEL, 2009. Disponível em http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/consulta_publica/consulta.cfm?ano =2009&idArea=14 [Acesso em 04/12/2011]. [7] Brasil, Consulta Pública nº 026/2009: Nota Técnica nº 184/2009SRE/ANEEL. ANEEL, 2009. Disponível em: http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/consulta_publica/consulta.cfm?ano =2009&idArea=14 [Acesso em 21/01/2012]. [8] http://www.portalbrasil.net/igpm.htm [Acesso em 21/12/2011]. [9] Brasil, Processo nº 48500.007120/2010-11 – Revisão Tarifária/TUSD 2011 – Estrutura Vertical – Coelce. ANEEL, 2010. [10] Brasil, ANEEL, 2009. Disponível em: http://www.aneel.gov.br/arquivos/PDF/SaidaTardist_NT01412008SRD ANEEL_COPEL.pdf [Acesso em 26/01/2012]. [1] Davi Rabelo Viana Leite formou-se Engenheiro Eletricista pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, em 2006. Desde 2007 é servidor da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL e atua em assuntos relacionados à implantação de redes inteligentes no Brasil e na edição de regulamentos técnicos de distribuição de energia elétrica. Atualmente é aluno do programa de Mestrado Acadêmico da UnB. Marco Aurélio Gonçalves Oliveira possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade de Brasília (1982), mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Pierre et Marie Curie - Paris VI (1989) e doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade Pierre et Marie Curie - Paris VI (1994). Atualmente é professor (Classe Professor Associado II) da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de Engenharia Elétrica, com ênfase em produção e gestão do uso e da qualidade da energia elétrica, atuando principalmente nos seguintes temas: fontes alternativas e renováveis de energia; fornecimento de energia elétrica; conservação de energia, gerenciamento do consumo e eficiência energética; e qualidade da energia elétrica.