PCR MULTIPLEX PARA IDENTIFICAÇÃO DE STAPHYLOCOCCUS AUREUS ENTEROTOXIGÊNICOS Edna Froeder Arcuri1, Gilmara Benevenuto de Paula3, Maria de Fátima Borges2 , Fabíola Fonseca Ângelo4, Carla Christine Lange1, José Renaldi Feitosa Brito1 1 Pesquisador(a), Embrapa Gado de Leite, Juiz de Fora, MG; 2Pesquisadora, Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, CE; 3Estagiária Embrapa gado de Leite, Graduanda em Farmácia Bioquímica, UFJF; 3Estagiária Embrapa Gado de Leite, doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos, UFV. e-mail: [email protected] Introdução Staphylococcus aureus é ubíquo na natureza, sendo os humanos e os animais os seus reservatórios primários. O leite e produtos lácteos são considerados veículos comuns deste microrganismo, o que representa um problema de saúde pública, pois algumas estirpes de S. aureus podem produzir um ou mais tipos de enterotoxinas nestes alimentos, os quais depois de ingeridos poderão causar intoxicação estafilocócica. As enterotoxinas estafilocócicas são proteínas extracelulares, hidrossolúveis, resistentes à ação de enzimas proteolíticas do sistema digestivo e termoestáveis, sendo resistentes à pasteurização. Até o momento, já foram identificados 20 tipos de enterotoxinas, que são sorologicamente distintas, incluindo os tipos clássicos SEA, SEB, SEC1, 2, 3, SED e SEE e as novas enterotoxinas SEG, SEH, SEI, SEJ, SEK, SEL, SEM, SEN, SEO, SEP, SEQ, SER, e SEU, cujos genes correspondentes estão descritos na literatura (Blaiotta et al., 2004; Omoe et al., 2005). A detecção de enterotoxinas estafilocócicas no sobrenadante de culturas pelos métodos clássicos de imunodifusão, aglutinação e ELISA é demorado, nem sempre detecta concentrações baixas de toxinas e estão disponíveis comercialmente apenas kit/antisoros para SEA, SEB, SEC, SED e SEE. Testes experimentais foram desenvolvidos para algumas das novas toxinas (SEG, SEH e SEI) devido às dificuldades de purificação e a preparação dos anticorpos específicos (Cremonesi et al., 2005). A técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) tem se revelado uma alternativa rápida, sensível e específica na identificação de patógenos e seus genes de enterotoxinas (Munson et al., 1998; Rosec e Guiraud, 2002). A identificação de S. aureus por PCR é baseada na amplificação de um gene-alvo altamente conservado dentro da espécie, como por exemplo o gene femA (Mehrotra et al., 2000). Vários métodos de PCR multiplex, que amplificam simultaneamente mais de um gene na mesma reação, têm sido descritos na literatura para detecção de S. aureus enterotoxigênicos em leite e queijos (Tamarapu et al., 2001; Rosec e Guiraud, 2002; Najera-Sanchez et al., 2003; Cremonesi et al., 2005), mas freqüentemente estes métodos não são reprodutíveis, sendo necessário que cada laboratório padronize suas reações. Neste estudo estabaleceu-se um método de PCR multiplex para o gene femA, que identifica S. aureus e para os genes de enterotoxinas sea, seb, sec, sed, see, seg, seh, sei, sej e sel, para pesquisa de S. aureus enterotoxigênicos contaminantes de leite e derivados. Material e Métodos Este estudo foi realizado nos laboratórios de Microbiologia do Leite e de Genética Molecular da Embrapa Gado de Leite, Juiz de Fora, MG. Nove estirpes padrão, com genótipo conhecido foram utilizadas para padronização das reações PCR: S. aureus ATCC 19095 (sec, seh, seg, sei e sel), S. aureus ATCC 23235 (sed, seg, sei, sej), S. aureus ATCC 13565 (sea), S. aureus ATCC 14458 (seb), S. aureus ATCC 27664 (see), S. aureus 954776B (sea), S. aureus 91-2415D (seb), S. aureus 92-2221 (sed, sej) e S. aureus 95-2806 (seh). Além disso, estirpes de S. intermedius, S. haemolyticus e S. hyicus, pertencentes ao banco de culturas do Laboratório de Microbiologia do Leite foram utilizadas como controles negativos. O DNA celular foi extraído conforme descrito por Hesselbarth e Schwarz (1995) após cultivo em caldo infusão de cérebro e coração (Difco) com incubação a 35ºC por 18 horas. Para o gene femA, foram utilizados os primers descritos por Mehrotra et al. (2000); para o gene sel, foram utilizados os primers descritos por Cremonesi et al. (2005) e para os demais genes (sea a sej) foram utilizados os primers descritos por Rosec e Gigaud (2002). Cada amplificação foi conduzida em um volume de 50 µl contendo 1X PCR buffer, 2 mM de cada dNTPs, 1,5 mM de MgCl2, 2,0 U de enzima Ampliteq DNA polimerase, 40 pmol de cada primer para femA e seb, 20 pmol de cada primer para os demais genes (sea, sec, sed, see, seg, seh, sei, sej e sel), 100 ng de DNA bacteriano e água bi-destilada para completar o volume de 50 µl. Foram testadas várias misturas e concentrações dos primers para os diferentes genes. Todas as amplificações foram conduzidas em termociclador GeneAmp® PCR System 9700 (Applied Biosystems) programado para um ciclo inicial a 94ºC por 3 minutos, seguido de 35 ciclos (desnaturação a 94ºC/30seg. - anelamento a 57ºC/30 seg. - extensão a 72ºC/30seg.), com o término da reação a 72ºC/10 minutos. Os produtos de PCR foram analisados em gel de agarose a 1,8%, após coloração com brometo de etídio (0,5µg/ml). Resultados e Discussão Para definir as condições da reação de PCR e verificar a especificidade dos primers, cada par de primers foi testado separadamente usando as estirpes padrão. Na avaliação da especificidade dos primers para femA foram utilizadas estirpes de outras espécies de Staphylococcus (S. intermedius, S. hyicus, S. haemolyticus) como controles negativos. Para cada par de primers foi obtido apenas o produto de PCR de tamanho esperado, confirmando os dados de suas especificidades relatados por Mehrotra et al. (2000), Rosec e Gigaud (2002) e Cremonesi et al. (2005). A seguir foram otimizadas as condições da PCR e concentrações de primers na tentativa de combinar o maior número possível de pares de primers numa mesma reação, sem afetar a sua eficiência de amplificação. Após várias tentativas, amplificações eficientes e reproduzíveis foram obtidas com combinações de dois pares de primers por reação para: 1) sea e sed, 2) seb e sel, 3) sec e see, 4) seg e femA, 5) seh e sei. Os primers para sej não geraram nenhuma combinação, sendo uma PCR simples. Estes resultados estão de acordo com outros autores que também tiveram dificuldades em reproduzir amplificações de vários genes em uma única reação. Conclusão Neste estudo foram padronizadas cinco reações de PCR multiplex para identificação de S. aureus enterotoxigênicos. Estas reações serão utilizadas em estudos futuros de detecção de estafilococos enterotoxigênicos contaminantes de leite e derivados. Agradecimentos À Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG pelo apoio financeiro (CAG930/04). À Fundação Osvaldo Cruz/INCQS e ao Dr. Jean Philippe Rosec (Laboratoire Interrégional de la DGCCRF, France) pela doação das estirpes padrão de Staphylococcus enterotoxigênicos. Ao LABEX França por ter viabilizado a importação de algumas estirpes padrão. Referências 1.Blaiotta, G. et al. PCR detection of Staphylococcal enterotoxin genes in Staphylococcus spp. strains isolated from meat and dairy products. Evidence for new variants of seg and sel in S. aureus AB-08802. J. Applied Microbiol., v.97, p.719-730, 2004. 2. Cremonesi, P. et al. Development of a multiplex PCR assay for the identification of Staphylococcus aureus enterotoxigenic strains isolated from milk and dairy products. Mol. Cel. Probes, v.19, p. 299-305, 2005. 3. Hesselbarth, J.; Schwarz, S. Comparative ribotyping of Staphylococcus intermedius from dog, pigeons, horses and mink. Vet. Microbiol., v.45, p.11-17, 1995. 4. Mehrotra, M. et al. Multiplex PCR for detection of genes for Staphylococcus aureus enterotoxins, exfoliative toxins, toxic shock syndrome toxin 1, and methicillin resistance. J. Clin. Microbiol., v.38, n.3. p.1032-1035, 2000. 5. Munson, S. H. M. et al. Identification and characterization of staphylococcal enterotoxin type G and I from Staphylococcus aureus. Infect. Immun., v.66, p.3337-3348, 1998. 6. Najera-Sanchez, G. et al. Development of two multiplex Polymerase Chain Reactions for the detection of enterotoxigenic strains of Staphylococcus aureus isolated from food. J. Food Protec., v.66, p.1055-1062, 2003. 7. Omoe, K. et al. Comprehensive analysis of classical and newly described staphylococcal superantigenic toxin genes in Staphylococcus aureus isolates. FEMS Microbiol. Lett., v.246, p.191-198, 2005. 8. Omoe, K. et al. Detection of seg, seh, and sei genes in Staphylococcus aureus isolates and determination of the enterotoxin productivities of S. aureus isolates harboring seg, seh, or sei genes. J. Clin. Microbiol., v.40, n.3, p.857-862, 2002. 9. Rosec, J.P.; Guiraud, O. Staphylococcal enterotoxin genes of classical and new types detected by PCR in France. Int. J. Food Microbiol., v.77, p.61-70, 2002. 10. Tamarapu, S. et al. Development of a multiplex polymerase chain reaction for detection and differentiation of Staphylococcus aureus in dairy products. J. Food Prot., v.64, p.664668, 2001.