Tathiana Mourão dos Anjos HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA EM MEDICINA FELINA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM CLÍNICA MÉDICA E CIRÚRGICA DE FELINOS Belo Horizonte 2012 Tathiana Mourão dos Anjos Aluna do Curso de Especialização “Lato Sensu” em Clínica Médica e Cirúrgica de Felinos Trabalho monográfico do Curso de Pós Graduação “Lato Sensu” em Clínica Médica e Cirúrgica de Felinos apresentado à UNIP como requisito parcial para obtenção de título de especialista em Clínica Médica e Cirúrgica de Felinos, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Cristina Nobre e Castro. Belo Horizonte 2012 HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA EM MEDICINA FELINA Elaborado por Tathiana Mourão dos Anjos Aluna do Curso de Especialização lato sensu em Clínica Médica e Cirúrgica de Felinos Foi analisado e aprovado com grau: ........................................ _______________________________________________________ Profª. _______________________________________________________ Prof. _______________________________________________________ Profª. Orientadora Dra. Maria Cristina Nobre e Castro Belo Horizonte, 07 de março de 2012. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO............................................................................................................ 1 2. REVISÃO DE LITERATURA...................................................................................... 2 2.1. HISTÓRICO................................................................................................................ 2 2.2. FISIOLOGIA............................................................................................................... 3 2.2.1. Mecanismos de Regulação da Pressão Arterial.................................................... 5 2.3. TIPOS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS)..................................... 16 2.3.1. Hipertensão Primária................................................................................................ 16 2.3.2. Hipertensão Secundária........................................................................................... 17 2.3.3. “Síndrome do Jaleco Branco’’................................................................................ 17 2.4. SINAIS CLÍNICOS DE HAS (LESÕES AOS ÓRGÃOS-ALVO - LOA)..................... 19 2.5. VALORES NORMAIS DE PRESSÃO ARTERIAL FELINA....................................... 24 2.6. MENSURAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL.............................................................. 26 2.7. MÉTODOS DE MENSURAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL..................................... 28 2.7.1. Pressão Invasiva....................................................................................................... 29 2.7.1.1. Cateterização Arterial............................................................................................... 29 2.7.2. Pressão Não Invasiva............................................................................................... 30 2.7.2.1. Método Oscilométrico.............................................................................................. 30 2.7.2.2. Método Doppler Vascular........................................................................................ 33 2.8. INDICAÇÕES PARA MENSURAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL........................... 37 2.9. TRATAMENTO........................................................................................................... 37 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 42 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 43 RESUMO A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é a elevação anormal e persistente da pressão arterial, sistólica (PAS) e/ou diastólica (PAD). É uma doença grave, “silenciosa”, que acarreta inúmeras alterações sistêmicas, em diferentes órgãos (órgãos-alvo), principalmente nos mais irrigados. É a doença cardiovascular mais importante do gato idoso, sendo a mais importante doença vascular felina. As principais lesões aparecem, em ordem de prevalência, nos olhos, rins, coração e cérebro. A doença renal crônica representa a maior causa de HAS em felinos, seguida pelo hipertireoidismo. acompanhamento de rotina Gatos e/ou sem hipertensos intervenção sem diagnóstico, adequada, sem geralmente apresentam-se para consulta, ainda assintomáticos, ou mais comumente, com sinais clínicos característicos da doença de base responsável pelo desenvolvimento da HAS. As principais queixas do proprietário são cegueira súbita, emagrecimento, poliúria, polidipsia, alterações de apetite e comportamento. A mensuração da PA é essencial para diagnosticar um paciente hipertenso, e tem se tornado imprescindível na rotina clínica devido a grande importância da HAS, sobretudo em medicina felina, por sua maior incidência. Somente com o diagnóstico precoce e tratamento da HAS é possível prevenir e/ou controlar as lesões aos órgãos-alvo. Com o intuito de melhor informar o (a) médico (a) veterinário (a) sobre hipertensão arterial sistêmica em medicina felina, propôs-se esta revisão. Palavras-chave: pressão arterial, gato, hipertensão, medicina felina. ABSTRACT Hypertension (HBP) is an abnormal and persistent elevation of blood pressure (SBP) and / or diastolic (DBP). It is a serious disease, "silent," causing many systemic changes in different organs (target organs), especially in the most irrigated. It is the most important cardiovascular disease in the old cat, also being the most important vascular feline disease. The main lesions appear in order of prevalence, eyes, kidneys, heart, brain. Chronic kidney disease is the major cause of hypertension in cats, followed by hyperthyroidism. Hypertensive cats undiagnosed without routine monitoring and / or without proper intervention often have to query, even asymptomatic, or more commonly, with characteristic clinical signs of the underlying disease responsible for the development of hypertension. The main complaints of the owner are sudden blindness, weight loss, polyuria, polydipsia, changes in appetite and behavior. BP measurement is essential to diagnose a patient with hypertension, and has become indispensable in clinical routine because of the importance of hypertension, especially in feline medicine, due to its incidence. Only with early diagnosis and treatment of hypertension can be prevented and / or control the damage to target organs. In order to better inform the (a) Medical (a) veterinary (a) on hypertension in feline medicine, it was proposed this revision. Key-words: blood pressure, cat, hypertension, feline medicine. 1 1. INTRODUÇÃO A pressão arterial (PA) é definida como a força exercida pelo sangue contra a superfície interna das artérias, impulsionada pelo batimento cardíaco. É determinada pelo débito cardíaco (DC) e pela resistência vascular periférica (RVP). Os mecanismos regulatórios da PA dependem de interações complexas entre os sistemas cardiovascular, neural e endócrino (GUYTON e HALL, 2006). A PA deve ser mantida dentro de um intervalo relativamente estreito de valores para garantir que os tecidos e órgãos vitais tenham uma perfusão adequada, de modo que recebam nutrientes e oxigênio, e eliminem os produtos tóxicos resultantes do metabolismo. Uma pressão adequada é também vital para manutenção da taxa de filtração glomerular, uma vez que os rins recebem aproximadamente 25% de sangue do débito cardíaco (EGNER et al., 2007). Nos últimos anos, a mensuração da PA vem ocupando lugar de destaque na medicina veterinária (HENIK et al., 2005), especialmente pela maior disponibilidade de aparelhos não invasivos, desenvolvidos especialmente para cães e gatos. A mensuração da PA é essencial para se avaliar o estado circulatório do paciente, assim como auxiliar no diagnóstico precoce de doenças que possam estar relacionadas ao desequilíbrio hemodinâmico do mesmo. Alterações de pressão arterial ocorrem com frequência em cães e gatos. Tanto a hipotensão quanto a hipertensão, devem o quanto antes ser diagnosticadas, devendo o paciente ser submetido, quando necessário, a tratamento imediato, sob pena de incorrer em danos irreversíveis, ou ainda, em óbito (EGNER et al., 2007). A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é a elevação anormal e persistente da pressão arterial (PA), sistólica (PAS) e/ou diastólica (PAD). É uma doença grave, “silenciosa”, que acarreta inúmeras alterações sistêmicas, em diferentes órgãos (“órgãos-alvo”), principalmente nos mais irrigados (BROWN et al., 2007). Tem-se destacado na clínica de pequenos animais, a importância da HAS, sobretudo em medicina felina, por sua maior incidência, tornando imprescindível a mensuração da pressão arterial na rotina clínica (HENIK et al., 2005; JEPSON et al., 2007; JEPSON, 2011; STEPIEN, 2011). A HAS é a doença cardiovascular mais importante do gato idoso, sendo a mais importante doença vascular felina (MAGGIO et al., 2000). Com o intuito de melhor informar o (a) médico (a) veterinário (a) sobre a hipertensão arterial sistêmica em medicina felina, propôs-se esta revisão. 2 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. HISTÓRICO A primeira medida experimental da pressão arterial foi feita, em 1711, pelo pesquisador Stephen Halles, na Inglaterra, em uma égua, imobilizada por um grande número de estudantes. Halles inseriu uma cânula na artéria carótida do animal, conectando-a a um tubo de vidro de três metros de altura. A coluna de sangue se elevou a dois metros e meio de altura acima do animal, tendo sido este, o primeiro registro de pressão arterial (RIBEIRO e PLAVNIK, 2007). A medida indireta da PA só se tornou possível a partir de 1880, quando o cientista Von Basch, na Alemanha, idealizou o primeiro aparelho, que nada mais era que uma bolsa de borracha cheia de água conectada a uma coluna de mercúrio com um manômetro. A pressão sistólica era obtida a partir da compressão da bolsa de borracha sobre a artéria até o desaparecimento do pulso. Em 1896, o médico italiano Scipione Riva-Rocci, em Turim, substituiu a bolsa por um manguito de borracha e a água pelo ar (RAMOS, 1998). Em 1905, o pesquisador russo Nikolai Korotkoff (figura 1) desenvolveu o método auscultatório dos sons produzidos durante a descompressão da artéria, através de medida indireta da PA, por meio de um esfigmomanômetro (RAMOS, 1998). Sons de Korotkoff Fases Qualidade dos Sons Base Teórica Som súbito, forte, bem definido, A pressão da bolsa se iguala à Fase I que aumenta em intensidade. PAS, ocorre passagem parcial da onda de pulso. Sucessão Fase II mais de suaves sons e soprosos, Decorre de mudança no calibre prolongados arterial (de estreito para mais (qualidade de sopro intermitente). largo) com criação de fluxo turbilhonado - o qual produz 3 vibração do sangue e da parede arterial - produzindo sopros. Desaparecimento Fase III dos sons À medida que a pressão na soprosos e surgimento de sons bolsa diminui, a artéria mais nítidos e intensos, que permanece aberta na sístole e aumentam em intensidade. permanece fechada na diástole (tardia). Os sons tornam-se abruptamente A pressão da bolsa encontra-se Fase IV mais suaves e abafados, são no nível da pressão diastólica menos claros. Fase V intra-arterial. Desaparecimento completo dos A sons. Figura 1. artéria permanece aberta durante todo o ciclo cardíaco. Sons de Korotkoff (modificado de http://vsites.unb.br/fs/enf/nipe/korotkovsom.html). 2.2. FISIOLOGIA A PA resulta de uma interação complexa entre o débito cardíaco (DC) e a resistência vascular periférica (RVP), onde PA = DC x RVP. A pressão arterial é medida em milímetros de mercúrio (mmHg) (EGNER et al., 2007). É produzida pelo batimento cardíaco, e seus valores podem flutuar constantemente de forma fisiológica, em torno de 10 a 15 mmHg (EGNER et al., 2007). A RVP é a principal determinante da variação da PA em descanso, enquanto o DC assume um papel mais importante durante o exercício (FOX et al., 1999). O diâmetro do vaso sanguíneo é um fator determinante da RVP (KITTLESON e KIENLE, 1998). A vasoconstrição resulta em um aumento da pós-carga e, consequentemente, da RVP. O DC ou, em outras palavras, o volume de sangue ejetado pelo coração por minuto, é igual à frequência cardíaca (FC) multiplicada pelo volume de ejeção (VE), onde DC = FC x VE. 4 O VE está relacionado com a pré-carga, pós-carga e contratilidade cardíaca (EGNER et al., 2007). Quanto maior a taxa de enchimento cardíaco, maior o VE. Da mesma maneira, quanto maior a força de contração, maior também será o VE. Qualquer aumento na FC, contratilidade ou pré-carga vão resultar num aumento do DC. A viscosidade do sangue também pode influenciar a RVP e deste modo a PA. A maior determinante da viscosidade sanguínea é o seu conteúdo em eritrócitos, ou seja, um hematócrito elevado resulta numa viscosidade elevada (FOX et al., 1999; EGNER et al., 2007). O sangue entra no átrio esquerdo a uma pressão arterial média (PAM) dificilmente mensurável menor que 14 mmHg. O sangue flui para o ventrículo durante a diástole. Imediatamente antes do final da diástole, o átrio contrai para deslocar o resto do sangue para o ventrículo. Somente durante a sístole um aumento da pressão ocorre; o sangue é então ejetado através da abertura da valva aórtica e vai para a grande circulação. Um pulso sistólico de PA é, portanto produzido em cada contração do coração. O volume de ejeção do ventrículo esquerdo, a velocidade de ejeção, e as propriedades elásticas da aorta desempenham um importante papel na determinação da PAS. A PAD é determinada pela duração da diástole, volume sanguíneo circulante e o grau de elasticidade arterial. A elasticidade arterial é um importante parâmetro da pressão diastólica. O sangue ejetado em cada sístole produz uma onda de pressão que promove a dilatação das artérias. Uma porção do sangue ejetado é armazenada nas artérias dilatadas. Quando as fibras elásticas relaxam, o sangue armazenado é novamente impelido para frente, criando uma pressão diastólica. Apesar de o volume sanguíneo diastólico ser uma variável teórica que não pode ser mensurada, esta deve ser considerada um determinante da PA (EGNER et al., 2007). Se não houvesse sangue no sistema arterial antes do ventrículo esquerdo ejetar uma quantidade de sangue, certamente a PA seria mais baixa do que se existisse um volume sanguíneo normal antes da ejeção (GUYTON e HALL, 2006; EGNER et al., 2007). A diferença entre os valores de PAS e PAD é chamada pressão de pulso (PP). Esta pode ser afetada pelo VE (quanto maior o VE, maior a quantidade de sangue bombeada para o sistema arterial e maior a pressão de pulso) e pela complacência arterial (quanto maior a complacência da árvore arterial, menor é o aumento na pressão por VE) (FOX et al., 1999). 5 A pressão arterial média (PAM) é representada pela pressão média ao longo da duração do volume de ejeção. É usada como um valor de aproximação da resistência arteriolar. A PAM é ligeiramente inferior ao valor intermediário entre a PAS e a PAD e pode ser calculada através da equação: PAM = PAD + 1/3 x (PAS – PAD) ou PAM = PAD + 1/3 x (PP). Figura 2. Curva de Pressão Arterial (modificado de Egner et al., 2007). A PAM é importante porque constitui a principal determinante da perfusão tecidual. De modo geral, é necessária uma PAM mínima de 70 mmHg para assegurar a perfusão tecidual (FOX et al., 1999; EGNER et al., 2007). 2.2.1. Mecanismos de Regulação da Pressão Arterial Existem complexos mecanismos de regulação que permitem adaptar a PA às necessidades fisiológicas de cada momento, assegurando assim os valores mais corretos para que o fluxo sanguíneo chegue a todos os locais do organismo. Basicamente, estes mecanismos modificam, de uma forma ou de outra, os dois parâmetros básicos que mantêm a pressão arterial, o débito cardíaco e/ou a resistência vascular periférica (figura 3). 6 Figura 3. Mecanismos envolvidos na regulação da pressão arterial e causas do desenvolvimento de hipertensão arterial sistêmica (modificado de CÔTE et al., 2011). Deste modo, a pressão arterial aumenta perante um aumento do débito cardíaco ou quando se produz uma vasoconstrição periférica (contração das pequenas artérias) e diminui quando o débito cardíaco diminui ou quando se produz uma vasodilatação periférica (dilatação das pequenas artérias). O sistema nervoso central (SNC) controla tanto a atividade do sistema nervoso autônomo (SNA) como a liberação de fatores hormonais circulantes, residindo este centro de controle circulatório na ponte da medula oblonga (GUYTON e HALL, 2006) (figura 4). O centro vasomotor recebe informação de fatores como a tensão na parede dos vasos e a pressão intravascular assim como a concentração de O2 e CO2 no sangue. Esta informação é transmitida via quimiorreceptores e barorreceptores (GUYTON e HALL, 2006; EGNER et al., 2007). 7 Figura 4. Localização do centro de controle circulatório na ponte da medula oblonga (GUYTON e HALL, 2006). A homeostase é mantida por mecanismos neurais e hormonais, de resposta imediata e tardia, para garantir uma perfusão ajustada para as necessidades do organismo em diferentes momentos (EGNER et al., 2007) (figura 5). Estes mecanismos neuro-hormonais controlam o sistema cardiovascular. Dependendo do metabolismo tecidual local, o suprimento sanguíneo para diferentes tecidos e órgãos é facilitado pela existência de mecanismos de auto-regulação em nível local (FOX et al.,1999). 8 Figura 5. Mecanismos neuro-humorais de controle de pressão arterial (modificado de www.google/imagens.com). Os mecanismos imediatos (segundos a minutos), como os barorreceptores (figura 6), os quimiorreceptores arteriais e a resposta isquêmica do SNC, são capazes de responder em questão de segundos a variações bruscas da hemodinâmica circulatória (GUYTON e HALL, 2006). Esses sistemas são também muito úteis em situações de emergência, como em uma hemorragia, por exemplo. Estes receptores periféricos (barorreceptores e quimiorreceptores) são responsáveis pelos reflexos cardiovasculares e pelo tônus de vasos sanguíneos. Estes processos servem para assegurar de forma imediata, alterações em curto prazo na pressão arterial, como por exemplo, devido a alterações posturais (EGNER et al., 2007). Os barorreceptores são terminações nervosas especialmente sensíveis às variações de pressão no interior da aorta e das artérias carótidas comuns (nos seios carotídeos). Localizam-se também nas veias cavas, veias pulmonares, átrios, ventrículos e pericárdio (GUYTON e HALL, 2006; EGNER et al., 2007) (figuras 6 e 7). 9 Figura 6. Localização dos barorreceptores (modificado de GUYTON e HALL, 2006). Figura 7. Localização dos barorreceptores (modificado de MURTAUGH, 2007). São receptores de estiramento que transmitem sinais sensoriais para o centro vasomotor do tronco cerebral em resposta a alterações na PA (FOX et al.,1999). Quando estes receptores detectam uma diminuição da PA há uma estimulação do sistema nervoso simpático, que não só provoca uma vasoconstrição direta, como estimula a glândula adrenal a liberar catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) (figuras 8 e 9), que por sua vez vão estimular indiretamente o músculo cardíaco e sistema vascular, através da ativação de quimiorreceptores, que também são ativados quando há redução na concentração de oxigênio, além da diminuição do volume de sangue circulante. A adrenalina aumenta a PA através da ativação de receptores α2-adrenérgicos (vasoconstrição) e receptores B1-adrenérgicos 10 cardíacos, com aumento da frequência cardíaca e da contratilidade miocárdica. A noradrenalina aumenta a PA principalmente pela ativação dos α-receptores (que resulta em vasoconstrição). Em resumo, os reflexos dos barorreceptores desencadeiam vasoconstrição, aumento da frequência cardíaca, aumento da contratilidade cardíaca e contração esplênica vascular com saída de sangue armazenado no baço e em outros órgãos abdominais. Todas essas repostas elevam a PA (GUYTON e HALL, 2006; EGNER et al., 2007). Figura 8. Ação das Catecolaminas (modificado de EGNER et al., 2007). Figura 9. Ação dos Barorreceptores e Catecolaminas (modificado de EGNER et al., 2007). 11 Os quimiorreceptores localizados na parede do arco aórtico e na bifurcação da artéria carótida comum respondem a alterações dos gases arteriais. Uma diminuição da pressão parcial de oxigênio (PaO2) e um aumento da pressão parcial de dióxido de carbono (PaCO2) vão conduzir a um aumento do tônus simpático, com a mesma cadeia de eventos descrita anteriormente, havendo subsequentemente uma elevação da PA (GUYTON e HALL, 2006; EGNER et al., 2007). Esses receptores exercem efeito cronotrópico positivo (aumento da frequência cardíaca) e efeito inotrópico positivo (aumento da força de contração). Comparativamente à ação dos barorreceptores, o reflexo quimiorreceptor é geralmente menos importante para o controle da PA (FOX et al., 1999). Em nível celular, o tônus vasomotor depende da disponibilidade de cálcio (Ca2+) citossólico para interagir com a miosina do músculo liso. O cálcio citossólico depende do fluxo de outros cátions, como o sódio (Na+), potássio (K+) e Magnésio (Mg+). Por exemplo, o aumento do sódio intracelular está associado a um aumento de cálcio citossólico (FOX et al.,1999). Em médio e longo prazo, a ação das propriedades mecânicas das paredes vasculares tem maior influência no controle da PA. Os vasos são capazes de acomodar seu diâmetro a situações de estiramento prolongado, e também ocorre a reabsorção de fluido do interstício para o interior dos capilares, em situações de hipotensão prolongada. Quando a resposta da regulação imediata é incapaz de normalizar a PA, o organismo lança mão de medidas adicionais. As principais medidas envolvem o rim, órgão encarregado de filtrar o sangue e, por isso, muito sensível a qualquer diminuição do fluxo sanguíneo que lhe chega. O rim é responsável pelo recebimento de 25% de sangue do débito cardíaco. Os elementos primários da regulação em médio prazo são a ativação do sistema renina angiotensina aldosterona (SRAA) e a liberação de prostaglandinas (GUYTON e HALL, 2006; EGNER et al., 2007). O SRAA (figura 10) desempenha um importante papel na homeostase cardiovascular. Em estados hipotensivos, ou se há redução do sangue circulante com diminuição da perfusão renal, as células justaglomerulares na parede da arteríola aferente secretam a enzima renina para a circulação, cuja função é hidrolisar o angiotensinogênio secretado em nível hepático, no decapeptídeo angiotensina I (AT I). Nos vasos pulmonares, a enzima conversora da angiotensina (ECA) catalisa a formação do octapeptídeo angiotensina II (AT II) a partir da AT I. A AT II influencia a PA através de vários órgãos. Como um potente vasoconstritor 12 arteriolar (os efeitos venoconstritores são mais suaves), a AT II aumenta a liberação adrenérgica de noradrenalina, com consequente vasoconstrição. Ao mesmo tempo em que contribui para o aumento da resistência vascular periférica (RVP), da póscarga e da pressão arterial, a AT II estimula o córtex adrenal a secretar o mineralocorticóide aldosterona, o qual promove retenção de sódio e água, aumentando o volume sanguíneo (pré-carga) (FOX et al., 1999; GUYTON e HALL, 2006; EGNER et al., 2007). A ECA (cininase II), além de participar da formação da AT II, também destrói a atividade vasodilatadora da bradicinina através da sua fragmentação em metabólitos inativos, prevenindo a vasodilatação (EGNER et al., 2007). Estes mecanismos produzem uma elevação terapêutica na pressão arterial quando há uma deficiência relativa ou absoluta, mas leva à hipertensão em várias doenças quando há falta de um mecanismo de feedback negativo. Figura 10. Sistema Renina Angiotensina Aldosterona (modificado de A. Rad, 2006 http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_renina-angiotensina). 13 Dois tipos básicos de SRAA podem ser descritos: SRAA circulante (no plasma) para regulação em médio prazo da pressão arterial e SRAA local (tecidual) para regulação em longo prazo (principalmente no cérebro, glândula adrenal, coração e vasos sanguíneos). Isto, entretanto, é fortemente espécie-dependente (EGNER et al., 2007). A ativação do SRAA estimula a atividade hipertensiva (aumenta o volume sanguíneo, induz vasoconstrição) e inibe os efeitos hipotensivos da bradicinina (vasodilatação). A prostaciclina (PGI2) é uma prostaglandina que desempenha também um importante papel na regulação da pressão arterial. É um mediador eicosanóide produzido pelas células endoteliais vasculares pela ação da COX2 sobre o ácido araquidônico. Este hormônio dilata os vasos sanguíneos e, devido ao seu efeito natriurético renal, diminui o volume vascular, resultando em diminuição da PA (EGNER et al., 2007). Todos estes mecanismos elencados previamente interagem entre si e constituem um complexo sistema de regulação da PA. Falhas nesse sistema podem originar desvios dos valores normais da PA, quer seja a sua persistente elevação (a hipertensão arterial) ou a sua considerável diminuição (a hipotensão arterial) (EGNER et al., 2007). Em longo prazo, isto é, após um intervalo de alguns dias, entra em ação a capacidade dos rins de controlar a excreção de sal e água. Essa capacidade baseiase no fato de que a pressão de perfusão renal exerce uma profunda influência sobre a excreção de sódio e água. Esse fenômeno, denominado natriurese pressórica, transforma o rim num poderoso agente efetor na regulação da PA. Quando a PA se eleva, a excreção renal de água e sódio aumenta, reduzindo o volume sanguíneo, provocando queda no DC, diminuindo a PA e trazendo de volta ao nível anterior à taxa de excreção renal de sódio (GUYTON e HALL, 2006). A regulação hormonal envolvida em longo prazo, que assegura um controle mais efetivo da PA, é ativada depois que já houve ação dos mecanismos de regulação imediata e de médio prazo (GUYTON e HALL, 2006). Estes hormônios servem para aumentar o volume sanguíneo e ativar mecanismos de contra-regulação. A sua função é ajustar a concentração urinária e a excreção de sódio (EGNER et al., 2007). Essa regulação é controlada pela ação de três hormônios: aldosterona, 14 hormônio antidiurético (ADH) ou arginino-vasopressina (AVP) e peptídeo natriurético atrial (PNA) (GUYTON e HALL, 2006). Além dos hormônios citados acima se destacam também os hormônios e autacóides vasoativos, como a angiotensina II e as catecolaminas (vasoconstritores); insulina, prostaciclina (PGI2), bradicinina e o óxido nítrico (vasodilatadores) (GUYTON e HALL, 2006). Esses compostos alteram a PA influenciando a resistência vascular periférica (vasodilatadores e vasoconstritores) ou o débito cardíaco e regulando a excreção renal de sódio (natriuréticos e anti-natriuréticos). De modo geral, os vasoconstritores, como as catecolaminas e a angiotensina II, funcionam como retentores de sódio (anti-natriuréticos), enquanto os vasodilatadores, como o fator (ou peptídeo) natriurético atrial e o óxido nítrico, atuam como espoliadores de sódio (natriuréticos). Por essa razão, é praticamente impossível obter um efeito puramente antinatriurético ou vasoconstritor mediante a administração exógena de compostos vasoativos ou da estimulação de sistemas que liberem esses compostos, como o sistema nervoso simpático e o sistema renina angiotensina aldosterona (GUYTON e HALL, 2006). A aldosterona é um hormônio mineralocorticóide secretado pelas glândulas adrenais, que promove a retenção renal de sódio, aumentando o volume sanguíneo e, consequentemente, a pressão arterial. O hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), o potássio e a angiotensina II estimulam a sua secreção (EGNER et al., 2007) (figura 11). O hormônio antidiurético é sintetizado no hipotálamo e secretado pela neurohipófise em resposta à hipovolemia, hiperosmolaridade e sede (figura 11). O resultado de sua secreção é o aumento do volume vascular e da vasoconstrição, o que irá acarretar em aumento da PA. A secreção deste hormônio é estimulada pela ativação do SRAA e inibida pela ativação do peptídeo natriurético atrial (PNA) (GUYTON e HALL, 2006; EGNER et al., 2007). 15 FIGURA 11. Ação Hormonal e excreção hídrica (modificado de GUYTON e HALL, 2007). O PNA é secretado pelos cardiomiócitos atriais e a distensão da parede atrial é o sinal para sua liberação quando há elevado débito cardíaco, estímulos simpáticos, fatores metabólicos e hipóxia (GUYTON e HAL, 2006). O hormônio endotelina-1 (vasoconstritor que age nos músculos lisos das artérias), estimula a liberação do PNA agindo diretamente no coração ou por estimular um aumento de volume circulante dentro do órgão. AT II, catecolaminas, acetilcolina, arginina, ADH, prostaglandinas, glicocorticóides e hormônios tireoidianos inibem a liberação de PNA. Os seus efeitos consistem em aumentar a taxa de filtração glomerular (TFG), aumentar a excreção de sódio e reduzir a sua reabsorção, diminuindo desta maneira, a pressão arterial. O aumento do volume plasmático (resultado final da ação do SRAA) eleva a PA. Uma vez que o PNA também inibe a síntese da aldosterona, do hormônio antidiurético e da renina, irá funcionar como antagonistas do SRAA (GUYTON e HALL, 2006; EGNER et al., 2007). 16 2.3. TIPOS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA 2.3.1. Hipertensão Primária É classificada como primária (ou idiopática), quando não há uma causa subjacente para a hipertensão (BROWN et al., 2007; ELLIOT e WATSON, 2008). A hipertensão primária é rara nas espécies canina e felina ao contrário do que ocorre na espécie humana, onde mais de 90% dos casos de hipertensão são primárias. Geralmente é diagnosticada por exclusão (ELLIOT et al., 2001; BROWN et al., 2007; EGNER et al., 2007). Embora a hipertensão secundária permaneça como o tipo mais comum de ocorrência na clínica de caninos e felinos, a hipertensão idiopática está se tornando mais frequente (SCULLY et al., 1983; SLAUGHTER et al., 1986; BOVEE et al., 1986; TIPPETT et al., 1987; LITTMAN et al., 1998; BOVEE et al., 1989) do que conhecida previamente, perfazendo aproximadamente 18 a 20% dos casos em felinos (MAGGIO et al., 2000; ELLIOT et al., 2001). A doença subclínica renal está presente com frequência em pessoas e animais com hipertensão, o que torna difícil estabelecer um diagnóstico válido de hipertensão primária ou secundária. Além disso, a presença da PA elevada de forma crônica sugere que um ou ambos os sistemas neuro-hormonais e renais responsáveis pela regulação da PA seja ou esteja anormal. O diagnóstico da hipertensão arterial idiopática é estabelecido quando mensurações confiáveis mostram uma elevação persistente da PA em simultâneo com o paciente sem sinais clínicos e hemograma, bioquímica sérica e urinálise normais. Infelizmente, o aumento da PA pode induzir a poliúria e, portanto, a presença de urina de baixa densidade específica em um paciente com pressão arterial elevada não estabelece que a doença renal esteja presente. Por outro lado, a presença de urina concentrada faz com que a doença renal seja menos provável. Desde que a doença renal subclínica ou outra condição conhecida por causar hipertensão secundária possa estar presente em animais com hipertensão primária, é recomendado que exames de diagnóstico, além de hemograma, bioquímica sérica e urinálise sejam considerados em animais afetados (BROWN et al, 2007). Dependendo do quadro clínico, estes testes podem incluir o exame de ultrasom renal, medição da taxa de filtração glomerular, avaliação quantitativa da proteinúria, determinação dos hormônios da tireóide (gato) e do cortisol sanguíneo 17 (cão). Além disso, testes adicionais incluem concentração sérica e urinária de aldosterona e catecolaminas, além de ecocardiografia cardíaca (BROWN et al, 2007). 2.3.2. Hipertensão Secundária É causada por determinadas doenças (ou fármacos) representando, praticamente, quase todos os casos de elevação da PA em pequenos animais (BROWN et al., 2007; ELLIOT e WATSON, 2008). Existem várias condições com potencial de causar hipertensão arterial em pequenos animais. A doença renal crônica seguida pelo hipertireoidismo representa a maior causa de HAS em felinos (KLEVANS et al., 1979; KOBAYASHI et al., 1990; LITTMAN, 1994; SANSOM et al., 1994; STILES et al., 1994; MAGGIO et al., 2000; SYME et al., 2002; CHETBOUL et al., 2003), variando entre 20 a 65% de prevalência (KOBAYASHI et al., 1990; STILES et al., 1994; e SYME et al., 2002). Outras doenças e medicações também têm sido descritas como causas de HAS como hiperaldosteronismo (FLOOD et al., 1999 e MAGGIO et al., 2000), hiperadrenocorticismo (HOENIG, 2002), anemia crônica (MORGAN, 1986), diabetes mellitus (LITTMAN, 1994; MAGGIO et al., 2000; CHETBOUL et al., 2003) e terapia com eritropoetina (COWGILL et al., 1998). 2.3.3. “Síndrome do Jaleco Branco” A síndrome do jaleco branco é uma pseudo-hipertensão. É a elevação transitória da pressão arterial devido à ação extremamente rápida de catecolaminas (figura 12) causada pela ansiedade e estresse durante o processo de mensuração da PA no consultório (EGNER et al., 2007). O efeito do jaleco branco ocorre em pessoas e animais. A simples visualização do médico pelo paciente e ou o simples fato de ir ao consultório pode causar excitação suficiente para elevar a PA (EGNER et al., 2007). Estudou-se através de telemetria o efeito do jaleco branco em gatos submetidos a uma simulação de visita ao consultório veterinario (BELEW et al., 1999). A PA dos gatos aumentou aproximadamente 30 mmHg durante o deslocamento de carro da residência do animal ao consultório veterinário, então normalizou quase que 18 completamente dentro de poucos minutos após a entrada dentro do consultório (˂ 10 mmHg). A PAS aumentou novamente (aproximadamente 30 mmHg) durante o exame clínico (especialmente quando foi feito o exame da cavidade oral e a mensuração da temperatura). Durante a mensuração da PA, não houve ou se houve, foi uma mudança mínima na PA dos gatos avaliados. Este efeito é mais pronunciado em gatos que foram induzidos experimentalmente à insuficiência renal crônica (EGNER et al., 2007). De forma súbita, altos ruídos podem levar a uma descarga de adrenalina e noradrenalina, causando uma mudança imediata da PA no paciente causada, por exemplo, por uma queda de chave no chão, uma porta batendo, vozes em tom alto, um veículo passando com uma sirene, luzes piscando, um cachorro latindo, um telefone tocando ou manipulação veterinária no paciente, além de paciente naturalmente agitado ou impaciente e um proprietário muito ansioso. A ação extremamente rápida de catecolaminas pode levar a grandes mudanças em uma ou mais leituras em uma série de mensurações da PA (EGNER et al., 2007). O aumento da pressão arterial ocorre, nessas situações, como consequência do estresse, devido a alterações no sistema nervoso autônomo, dos efeitos da excitação ou da ansiedade em maiores centros do sistema nervoso central. Figura 12. Elevação da pressão arterial gerada pelo estresse (modificado de www.google/imagens.com). Este tipo de hipertensão é evitado em condições que reduzam ou eliminem o estresse (por exemplo, alterando as condições de mensuração para reduzir a 19 ansiedade do animal ou a mensuração da PA na casa do animal). Aumento da pressão arterial induzida por ansiedade pode levar a um falso diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica. Infelizmente, os efeitos da ansiedade sobre a PA não são previsíveis. Alguns animais apresentam um aumento dramático na PA, enquanto outros não, e alguns animais podem ainda apresentar uma queda da PA como um resultado do processo de mensuração da PA (BELEW et al., 1999). O último efeito é presumivelmente devido à hiperatividade do sistema nervoso parassimpático. Quimby, Smith e Lunn (2011), estudaram os efeitos do estresse da visita ao consultório veterinário em 30 gatos saudáveis. Primeiramente foi mensurada a pressão arterial, pelo método doppler vascular, na própria residência do felino, e depois, o mesmo foi levado ao consultório veterinário, e após um período de aclimatação, a PA foi mensurada novamente. Alterações signfificativas foram observadas na pressão arterial, frequência cardíaca e frequência respiratória. Concluiu-se que alterações fisiológicas encontradas após exame físico, nem sempre são ocasionadas por doença, podendo muitas vezes ser geradas pelo estresse, como transporte e mudança de ambiente. 2.4. SINAIS CLÍNICOS DE HAS (LESÕES AOS ÓRGÃOS-ALVO - LOA) Brown et al. (2007) classificaram a pressão arterial de cães e gatos em 4 categorias, de acordo com o risco de desenvolvimento de lesão hipertensiva aos órgãos-alvo (LOA), estabelecendo, dessa forma, parâmetros para avaliação clínica (quadro 1). Quadro 1. Classificação da PA Segundo o Consenso “Diretrizes para a Identificação, Avaliação e Manejo da Hipertensão Arterial Sistêmica em Cães e Gatos”. Categoria de Risco PAS (mmHg) PAD (mmHg) Risco de LOA I ˂ 150 ˂ 95 Risco Mínimo II 150 - 159 95 -99 Risco Leve III 160 -179 100-119 Risco Moderado IV ≥ 180 ≥ 120 Risco Elevado Fonte: BROWN et al.(2007). 20 As principais lesões (denominadas de lesões aos órgãos-alvo - LOA) aparecem, em ordem de prevalência, nos olhos, rins, coração e cérebro (MAGGIO et al., 2000) Gatos hipertensos podem apresentar-se à consulta com sinais clínicos característicos da doença responsável pelo desenvolvimento de hipertensão. As queixas mais comuns do proprietário são perda de peso, aumento de ingestão de água e aumento da micção, assim como alterações do apetite e comportamento, além de cegueira. As lesões oculares (figura 12) são observadas em muitos gatos com hipertensão, e embora os índices de prevalência da injúria ocular variem, tem sido relatado serem bastante elevados, sendo observado em quase 100% dos casos (STILES et al., 1994; MAGGIO et al., 2000; CHETBOUL, 2003; SANSOM et al., 2004). O conjunto de sinais clínicos oculares presentes na hipertensão, comumente conhecidos como retinopatia hipertensiva (LITTMAN, 1994; MAGGIO et al., 2000) são descolamento exsudativo de retina (sinal clínico mais comum), edema multifocal de retina, tortuosidade vascular da retina, hemorragia de retina, hifema, degeneração retinal (sequela tardia), glaucoma secundário e cegueira súbita (LITTMAN, 1994; MAGGIO et al., 2000). Início agudo de cegueira e descolamento bilateral exsudativo da retina pode ser uma queixa de apresentação tanto em gatos como em cães (LITTMAN, 1994). O tratamento anti-hipertensivo precoce pode ser eficaz em uma minoria de pacientes, havendo o reposicionamento retiniano e a restauração da visão (MAGGIO et al., 2000). Lesão hipertensiva ocular foi relatada em valores sistólicos tão baixos como 168 mmHg (SANSOM et al., 2004) e o risco de ocorrência eleva substancialmente quando a PAS é superior a 180 mmHg (SANSOM et al., 1994; CHETBOUL et al., 2003). 21 FIGURA 12. Paciente hipertenso com descolamento de retina, hemorragia vítrea e cegueira (arquivo pessoal). As lesões renais mais presentes na hipertensão arterial são as alterações de função renal, caracterizada pelas insuficiências renais e a proteinúria. Gatos e cães hipertensos e nefropatas crônicos podem ou não ter azotemia (KOBAYASHI et al., 1990). A exposição do tecido renal durante muitos anos a altas pressões de perfusão leva uma parte dos pacientes a desenvolver uma fibrose crônica do parênquima renal, que culmina na perda irreversível de estruturas (figura 13) e comprometimento de funções deste órgão. Além disso, a microalbuminúria é um marcador de lesão ao órgão-alvo e a gravidade da albuminúria foi diretamente relacionada com o grau de aumento da PA em um estudo experimental de doença renal crônica (DRC) em gatos (MATHUR et al., 2002). A magnitude da proteinúria é um fator prognóstico negativo na progressão da doença renal crônica felina (ELLIOT e SYME, 2006; SYME et al. 2006; KING et al, 2006). A redução da proteinúria é talvez a evidência mais confiável de benefício em um animal tratado com agentes anti-hipertensivos, particularmente em gatos. Em pacientes azotêmicos, a lesão ao rim é mais provável quando a PAS estiver acima de 160 mmHg em cães e gatos. (MATHUR et al., 2004) embora uma relação linear possa existir entre injúria hipertensiva e pressão arterial em cães com doença renal crônica (FINCO, 2004). A hipertensão pode estar presente em qualquer estágio da DRC, e a concentração de creatinina sérica não é diretamente relacionada à pressão arterial (KOBAYASHI et al., 1990). Cães e gatos hipertensos com DRC podem ter pouca ou nenhuma azotemia (CORTADELLAS et al., 2006). 22 FIGURA 13. Imagem ultrassonográfica dos rins esquerdo e direito de um felino hipertenso demonstrando perda de definição córtico-medular e bordas irregulares característicos de um paciente doente renal crônico (arquivo pessoal). As alterações cardíacas em gatos, são bastante frequentes, ocorrendo em 4 de 5 gatos hipertensos (MAGGIO et al,, 2000; ELLIOTT et al., 2001 e CHETBOUL, 2003). Os sinais clínicos cardíacos observados são ritmo de galope, murmúrio sistólico e cardiomegalia, geralmente hipertrofia ventricular esquerda (HVE) (mas achados ecocardiográficos são variáveis) (HENIK, 1997; MAGGIO et al., 2000, ELLIOTT et al., 2001). Mais insidiosa, mas igualmente deletéria, é a hipertrofia cardíaca (figura 14), consequência da maior quantidade de trabalho mecânico realizado pelo coração quando a pressão arterial (pós-carga) está elevada. Essa hipertrofia acaba comprometendo a oxigenação do miocárdio e o próprio desempenho cardíaco, levando à insuficiência cardíaca. Embora a HVE não seja considerada um fator de risco para o tempo de sobrevida, a terapia anti-hipertensiva eficaz pode reduzir a prevalência de HVE em gatos acometidos (SNYDER et al., 2001) com insuficiência cardíaca e outras formas graves. As complicações são raras, mas podem oorrer em gatos com hipertensão não diagnosticada previamente. Inesperadamente pode haver o desenvolvimento de sinais de insuficiência cardíaca congestiva após receber fluidoterapia, por exemplo. Além disso, os gatos com hipertensão secundária devido a outras causas (por exemplo, DRC) podem morrer de complicações cardiovasculares (ELLIOTT et al., 2001) como é freqüentemente observado em pessoas hipertensas (ZANNAD et al., 2006). Epistaxe, presumivelmente devido à hipertensão induzida por alterações vasculares, tem sido associada com hipertensão arterial sistêmica (BROWN et al., 2007). 23 FIGURA 14. Paciente hipertenso com hipertireoidismo e cardiomiopatia hipertrófica (arquivo Pessoal). No sistema nervoso, é observada encefalopatia hipertensiva, depressão, apatia, convulsões, desmaios (KYLES, 1999; MAGGIO et al., 2000; BROWN et al, 2007). A encefalopatia hipertensiva (figura 15) tem sido relatada em cães e em gatos (LITTMANN, 1994; KYLES et al, 1999; MAGGIO et al., 2000; BROWN et al., 2007) e ocorre em pessoas, sendo muito bem descrita e caracterizada pelo edema de substância branca e lesões vasculares (SCHARTZ, 2002). Sinais neurológicos têm sido relatados em 29% (MAGGIO et al., 2000) a 46% de gatos hipertensos (LITTMANN, 1994) A encefalopatia hipertensiva ocorre após transplante renal em pessoas e pode ser uma causa de morte inexplicada em gatos nessas mesmas condições (TEJANI, 1983; MATHEUS e GREGORY, 1997; KYLES et al., 1999). Na sua fase inicial, a encefalopatia é sensível ao tratamento anti-hipertensivo (KYLES et al., 1999; MATHUR et al., 2002). A encefalopatia hipertensiva é mais provável de ocorrer em gatos com um aumento súbito da pressão arterial, que ultrapasse 180 mmHg (MATHUR et al., 2002; BROWN et al., 2007). Sinais clínicos observados são típicos de doença intracraniana e inclui letargia, convulsões, início agudo de alterações de comportamento, desorientação, pertubações de equilíbrio (por exemplo, sinais vestibulares, inclinação de cabeça e nistagmo), e defeitos neurológicos focais devido a derrame associado à isquemia (figura 15). Anormalidades do sistema nervoso central, incluindo hemorragia e infarto, que acompanham a hipertensão arterial crônica em pessoas (MANOLIO et al., 2003), também são observados em cães e gatos. 24 FIGURA 15. Paciente hipertenso com quadro neurológico (opstótono) (arquivo pessoal). FIGURA 16. Encefalopatia subaguda devido à hipertensão arterial sistêmica. Edema cerebral com expansão cranial do cerebelo nas figuras a e b comparado ao cérebro normal na figura c (modificado de CÔTÉ et al., 2011). 2.5. VALORES NORMAIS DE PRESSÃO ARTERIAL FELINA Vários estudos têm reportado valores de pressão arterial para cães e gatos normais (quadro 2). Esses valores variam de acordo com cada estudo, refletindo as diferenças nas populações avaliadas, nas técnicas de mensuração utilizadas e no manejo dos animais. Esta variabilidade enfatiza a importância da padronização das técnicas de mensuração de pressão arterial na medicina veterinária (BODEY et al., 1994; BODEY e SANSOM., 1998; LIN et al., 2006). 25 Quadro 2. Valores de Pressão Arterial de Felinos obtidos em Diferentes Estudos. Método de N°. de PAS PAD PAM Referência Mensuração Animais (mmHg) (mmHg) (mmHg) Bibliográfica Intra-Arterial 6 125 ± 11 105 ± 10 89 ± 9 Brown et al., 1997 Intra-Arterial 6 126 ± 9 106 ± 10 91 ± 11 Belew et al., 1999 Oscilometria 104 139 ± 27 99 ± 27 77 ± 25 Bodey et al., 1998 Oscilometria 60 115 ± 10 96 ± 12 74 ± 11 Mishina et al., 1998 Doppler 4 139 ± 8 - - Klevans et al., 1979 Doppler 33 118 ± 11 - - Kobayashi et al., 1990 Doppler 50 162 ± 19 - - Sparkes et al., 1999 Doppler 15 145.5 ±18.3 Doppler 53 133.6 ± 16 Nelson et al., 2002 - - Lin et al., 2006 Fonte: BROWN et al, 2007. Fatores fisiológicos adicionais afetam o que é considerada a pressão arterial normal. Cada batimento cardíaco produz uma onda distinta de pressão arterial, e a PA pode flutuar constantemente em valores de 10 a 15 mmHg. Os efeitos dessas flutuações sobre a precisão da mensuração podem ser minimizados por meio de medidas da PA em série (mínimo de 3 a 5 leituras separadas) (EGNER et al., 2007). 26 Os efeitos da idade não são tão claros em cães e gatos como é no homem. Em um estudo (SANSOM et al., 2004) foi observado o aumento contínuo da PA relacionado à idade dos gatos. Em outro trabalho (BODEY e SANSOM, 1998), também foi observado aumento da pressão arterial de acordo com o avançar da idade em uma população heterogênea de gatos, entretanto este aumento ocorreu nos gatos acima de 11 anos de idade. Carvalho (2009) também observou aumento significativo da PAS em função da idade dos gatos. Porém, este achado não é consistente em todas as pesquisas. Lawler et al. (1996) e Sparkes et al. (1999) não observaram efeito da idade em outro estudo de gatos saudáveis. Um aumento relativamente pequeno de 1,5 mmHg por ano foi observado para a pressão arterial média (PAM) em outro estudo em gatos aparentemente saudáveis (MISHINA et al., 1998). Brown, Langford e Tarver (1997) não observaram alteração nos valores de PA de acordo com a variação circadiana como visto em aguns trabalhos com cães. No entanto, Mishina, Watanabe e Watanabe (2006) observaram, por telemetria, valores de PA mais elevados quando os gatos estavam em atividade, e valores mais baixos quando dormiam, concluindo que provavelmente esses valores estivessem mais fortemente correlacionados com o nível de atividade e a interação com o meio ambiente em que vivem, do que com o ciclo circadiano, uma vez que gatos são animais crepusculares (dormindo tanto de dia quanto de noite). Apesar da maioria dos gatos avaliados por veterinários serem castrados, alguns autores (BODEY e SANSOM, 1998; MISHINA et al., 1998; CARVALHO, 2009), relatam não haver efeito do sexo sobre os valores da PA nestes gatos. Ao contrário do que ocorre em cães, não existem diferenças substanciais na PA em diferentes raças de gatos, provavelmente devido à menor heterogenicidade racial (BODEY e SANSOM, 1998; CHETBOUL, 2003; BROWN et al., 2007). Em um estudo de obesidade, não foram observadas alterações da PA em gatos obesos pelo método oscilométrico (BODEY e SANSOM, 1998; CARVALHO, 2009), não tendo sido avaliado pelo método doppler. 2.6. MENSURAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL Para registro e obtenção de valores confiáveis da PA, é recomendado que sempre o mesmo examinador realize as mensurações de PA. Deve ser seguido o 27 protocolo padrão criado pelo Consenso “Diretrizes para a Identificação, Avaliação e Manejo de Hipertensão Arterial Sistêmica em Cães e Gatos” do Colégio Americano de Medicina Veterinária Interna (ACVIM) e Sociedade Veterinária de Pressão Arterial (VBPS) escrito por Brown et al. (2007) que preconiza: Testar e calibrar o aparelho semestralmente e padronizar o procedimento. Ambiente deve ser isolado, calmo, afastado e preferencialmente o proprietário deve estar presente. O paciente não deve estar sob influência de sedativos e deve ser permitido ao mesmo que se acostume ao ambiente, por período mínimo de 5 a 10 minutos antes de iniciar a mensuração da PA. Deve estar calmo e imóvel. Deve ser gentilmente contido em posição confortável, limitando a distância da base do coração (átrio direito) ao manguito. A largura do manguito deve ser ± 40% da circunferência da extremidade do membro em cães e 30 a 40% em gatos. O tamanho deve ser anotado na ficha médica de registro, assim como o local onde será colocado, estando esta informação disponível em consultas futuras. Deve ser colocado na extremidade do membro ou na base da cauda, variando conforme o animal, a preferência do operador e a indicação do fabricante do aparelho. O mesmo indivíduo (veterinário), essencialmente treinado, deve ser responsável por todos os processos de mensuração, com base nas recomendações deste protocolo padrão. A primeira medida deve ser descartada e, pelo menos 3, de preferência 5 a 7 medidas consecutivas e consistentes (variação < 20% PAS) devem ser anotadas. O procedimento de mensuração deve ser repetido se necessário, alterando a localização e/ou manguito para obtenção de valores consistentes. Se ainda persistir dúvida, mensurar após 7 dias. Deve ser calculada a média aritmética dos valores obtidos. Fichas de registro devem ser padronizadas, incluindo informação quanto ao tamanho e local de colocação do manguito, valores obtidos, bom senso na exclusão de quaisquer valores, a média aritmética calculada e a interpretação dos resultados pelo (a) médico (a) veterinário (a). Quaisquer outras informações que forem consideradas pertinentes devem constar na ficha de registro do paciente. 28 2.7. MÉTODOS DE MENSURAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL Na medicina veterinária, ao contrário do que ocorre na medicina humana, as mensurações da pressão arterial ainda não são uma rotina apesar do diagnóstico e do manejo da hipertensão arterial sistêmica serem baseados na sua determinação. A PA pode ser avaliada tanto por métodos indiretos (não invasivos), quanto por métodos diretos (invasivos). Muito embora os métodos invasivos ofereçam vantagens como a representação consistente e precisa da pressão arterial sistêmica, sendo o método padrão-ouro, são, no entanto, raramente utilizados na prática, devido às dificuldades da técnica (PORCIELLO et al., 2004), que incluem sedação ou anestesia do paciente, fatores que, além de pouco práticos, podem reduzir artificialmente a pressão arterial (KITTLESON e OLIVER, 1983). Por tais motivos, os métodos invasivos de medida da pressão arterial são mais usados em pesquisas (CHALIFOUX et al., 1985). Os métodos não invasivos, contudo, são preferivelmente utilizados em situações clínicas, devido à maior praticidade de uso e à possibilidade de ser repetidos entre pequenos intervalos de tempo. Entretanto, as técnicas indiretas são menos precisas quando a pressão sanguínea é baixa, quando há vasoconstrição ou quando ocorre movimentação excessiva do animal (PODELL, 1992). Algumas classes de dispositivos não invasivos para mensurar a PA disponíveis atualmente são doppler vascular, oscilometria e fotopletismografia (JEPSON et al., 2005). O erro técnico, relacionado à inexperiência do operador, é a principal causa de resultados imprecisos obtidos por métodos indiretos. Portanto, para obtenção de resultados confiáveis, a pessoa que mensura a PA deve conhecer bem o método e o aparelho, dominar a técnica, saber escolher o manguito ideal para cada animal e principalmente, ser muito paciente e hábil para lidar com os animais, especialmente os felinos. Além disso, deve ser capaz de identificar valores elevados de PA relacionados ao estresse do paciente, para evitar um falso diagnóstico de hipertensão (“síndrome do jaleco branco”) (BROWN et al., 2007). Se o manguito escolhido for muito grande ou se o manguito for colocado muito proximal ao carpo (ou tarso), valores falsamente elevados poderão ser obtidos. De acordo com Jepson et al. (2005), a pressão arterial sistólica (PAS) foi mensurada em 100% das tentativas de uso do doppler em gatos conscientes 29 enquanto que a pressão arterial diastólica (PAD) só foi possível em apenas 51,4% das tentativas de uso do doppler. As médias obtidas de PAD por dois examinadores, nesse caso, foram estatisticamente diferentes entre si, o que implica que a PAD, obtida por meio do doppler, pode não ser confiável. Já com relação à mensuração desses parâmetros por meio do método oscilométrico, esses mesmos autores relatam maior dificuldade, uma vez que o animal teria de permanecer sem se mover durante todo o procedimento, o que nem sempre é possível. Ao comparar os resultados obtidos entre o doppler e o oscilométrico, os autores não encontraram diferença significativa entre as médias de leitura da PAS, porém, muito embora as médias de PA obtidas fossem comparáveis entre ambos os aparelhos, houve maior variação nos dados pontuais fornecidos pelo aparelho oscilométrico. Já com relação à PAD, o método oscilométrico mostrou-se estatisticamente superior. Os métodos não invasivos de avaliação da pressão arterial disponíveis atualmente, embora tenham seu uso já consagrado, ainda deixam muitas dúvidas quanto à sua acurácia e praticidade na rotina clínica (ACIERNO et al., 2010). Dessa maneira, é importante que possamos comparar e estabelecer métodos e aparelhos confiáveis que verdadeiramente nos auxiliem em um diagnóstico seguro e rápido da hipertensão arterial felina, enfermidade esta que vem assumindo grande importância na clínica felina. 2.7.1. Pressão Invasiva 2.7.1.1. Cateterização Arterial Após a obtenção do plano anestésico, o membro deve ser tricotomizado e após assepsia prévia, ser introduzido na artéria femoral um cateter, que deverá ser acoplado a um transdutor elétrico de pressão (figura 17) conectado ao monitor multiparâmetro (figura 18) através de um tubo extensor e uma torneira de três vias, posicionado entre a extensão e o transdutor. O transdutor de pressão deve ser posicionado à altura do coração do paciente e ser “zerado” (fechando o transdutor para o paciente e abrindo-o para o ar ambiente). Em seguida o transdutor é fechado para o ar ambiente e é aberta a comunicação para o paciente, iniciando-se os registros da PA invasiva (ARAÚJO, 1992). 30 São obtidos na tela do monitor um traçado contínuo da onda de pulso e os valores digitais das pressões arterial sistólica, média e diastólica (TRIM, 1994; NUNES, 2002). Todo o sistema compreendido entre paciente e transdutor deve ser preenchido com líquido (solução salina heparinizada) e estar isento de bolhas de ar (NUNES, 2002). A presença de bolhas de ar no sistema provoca uma diminuição na amplitude do pulso, interferindo nos valores de pressão obtidos (BODEY et al., 1994; TRIM, 1994). Para que a mensuração da pressão seja precisa, a interface entre o ar e a solução salina heparinizada deverá estar à altura do coração (TRIM, 1994). Figura 17. Transdutor elétrico de pressão invasiva (arquivo pessoal). Figura 18. Monitor multiparâmetro com módulo de pressão invasiva (arquivo pessoal). 2.7.2. Pressão Não Invasiva 2.7.2.1. Método Oscilométrico 31 Para mensuração pelo método oscilométrico, o gato deve ser posicionado no colo do proprietário ou em posição confortável. A largura do manguito (figuras 19 e 20) deve ser correspondente a 30% - 40% da circunferência do membro, colocado sobre o terço proximal do mesmo. FIGURA 19. Escolha do manguito ideal para mensuração da PA (arquivo pessoal). Figura 20. Diferentes tamanhos de manguito para mensuração de PA (modificado de www.petmap.com). 32 O membro deve estar posicionado ao nível do coração (figura 21). O manguito, então, é automaticamente inflado a uma pressão suprassistólica e, em seguida, desinflado automaticamente de modo progressivo. FIGURA 21. Correto posicionamento do animal e do manguito para mensuração indireta da PA pelo método oscilométrico (arquivo pessoal). As oscilações (ondas) da parede arterial emitidas pela pulsação sanguínea permite ao aparelho oscilométrico captar a oscilação máxima e determinar a pressão arterial média (PAM). Logo, por cálculo aritmético, o aparelho determina as PAS, PAD, além da FC (figura 22). 33 Figura 22. Legenda da obtenção dos valores da PAD, PAM, PAS e FC (arquivo pessoal). Para que nova mensuração possa ser realizada sem interferência, o manguito deve ser totalmente desinflado, a fim de normalizar mais rapidamente a estase venosa (HENIK, 1997; HENIK et al., 2005). 2.7.2.2. Método Doppler Vascular Para mensuração pelo método doppler vascular, o gato deve ser posicionado no colo do proprietário ou em posição confortável (figura 23). 34 Figura 23. Correto posicionamento do animal e do manguito para mensuração indireta da PA pelo método doppler vascular (arquivo pessoal). A largura do manguito deve ser correspondente a 30% - 40% da circunferência do membro, colocado sobre o terço proximal do mesmo. O membro deve estar posicionado ao nível do coração direito. O manguito deve ser conectado a um esfigmomanômetro aneróide (figura 24). O operador deve usar fone de ouvido (figura 25), conectado ao aparelho, para evitar ruídos gerados pelo mesmo no momento da colocação do gel no transdutor, minimizando dessa maneira o estresse do animal durante a mensuração da PA. O transdutor (geralmente de 8,2 MHz) (figura 25), conectado ao doppler vascular, é formado por cristais piezelétricos que emitem ondas de alta frequência, que são refletidas pelo movimento dos eritrócitos dentro do leito vascular, e transformadas em sinal sonoro. 35 Figura 24. Esfigmomanômetro Aneróide (arquivo pessoal). Figura 25. Material necessário para mensuração da PA pelo método doppler vascular (arquivo pessoal). 36 Caso a mensuração da PA seja realizada no membro anterior, álcool 70° e gel de ecografia devem ser aplicados sobre o pêlo da região palmar metacarpal próxima ao coxim, onde o pulso é palpável e sobre a superfície do transdutor, que será ali posicionado (figura 26). Não é necessário tricotomizar os pêlos dessa região. Figura 26. Correto posicionamento do transdutor do doppler vascular no membro do paciente (arquivo pessoal). Após obtenção dos sinais de pulso adequados, o manguito é então inflado até aproximadamente 30 mmHg superior à pressão necessária para se obliterar o sinal de pulso audível e, em seguida, a válvula do esfigmomanômetro deve ser aberta lentamente, sendo regulada manualmente para a liberação de ar na velocidade de 2 a 5 mmHg por segundo, para que o manguito desinfle lentamente. A PAS será determinada no momento em que o sinal de pulso se tornar audível novamente, e a PAD quando os sinais audíveis, abruptamente, diminuírem ou alterarem o timbre, tornando-se abafados. Entretanto, valores de PAD não são considerados, já que são bastante subjetivos quando obtidos pelo doppler vascular (HENIK et al., 2005). Tanto para mensuração da PA, pelo método oscilométrico, quanto pelo método doppler vascular, a primeira leitura e leituras discrepantes (variabilidade maior que 20% nos valores sistólicos) devem ser descartadas, e uma média aritmética das demais deverá ser realizada. O ideal é que se obtenham valores de PA, em pelo menos, 3 a 5 ciclos de repetições, com intervalo mínimo de 30 segundos entre cada ciclo (BROWN et al., 2007). 37 2.8. INDICAÇÕES PARA MENSURAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL A mensuração da PA é uma ferramenta importante, por muitas vezes indispensável. As indicações são diversas. Pode ser incorporada aos exames de rotina (check up geral, acompanhamento geriátrico, consultas de rotina) assim como para o diagnóstico, tratamento e o acompanhamento de determinadas doenças acompanhadas de alterações hemodinâmicas como doença renal crônica, hipertireoidismo, diabetes melittus, hiperadrenocorticismo, cardiopatia, além da hipertensão arterial sistêmica. Além disso, para monitoramento de pacientes anestesiados (pré, trans e pós cirúrgico) ou sob cuidados intensivos (choque, crise hipertensiva) (EGNER et al., 2007). O rastreio de rotina da PA permite uma avaliação do status circulatório individual de cada paciente (EGNER et al., 2007). No entanto, Brown et al. (2007) acreditam que um rastreio indeterminado em animais saudáveis possa incorrer no risco de um falso diagnóstico de hipertensão. Valores elevados de PA em animais saudáveis, particularmente nos jovens, devem ser assumidos como resultado de uma hipertensão de estresse, até nova avaliação. Além disso, os mesmos autores referem existir poucas evidências que suportem o diagnóstico e tratamento da hipertensão como um problema isolado. Assim sendo, não se recomenda o rastreio de rotina de hipertensão em todos os cães e gatos. Contudo, a mensuração periódica da PA, idealmente iniciada numa idade jovem, ajuda a determinar o perfil individual de PA característico de cada animal. Uma abordagem possível, adotada por alguns clínicos, é realizar um programa de rastreio que indique os valores de base em animais, através da mensuração da PA aos 2-3 anos, outra vez aos 4-6 anos, uma terceira vez aos 7-9 anos de idade e assim por diante, de modo a desenvolver valores de referência para o animal em questão (BROWN et al., 2007). 2.9. TRATAMENTO A normalização da PA e a reversibilidade das lesões orgânicas, quando possível, são os objetivos do tratamento (figuras 27 e 28). Este passa pelo controle da doença primária, mas muitas vezes é necessário efetuar um tratamento adicional com medicação anti-hipertensiva. Os valores persistentes de PAS e PAD, superiores a 160/100 mmHg, respectivamente, podem apresentar risco para o desenvolvimento 38 de lesões aos órgãos-alvo, principalmente nos mais irrigados, tais como olhos, rins, coração e cérebro (BROWN et al., 2007). No paciente com LOA e no doente renal crônico em estágios IRIS II, III e IV, esses valores já justificam o tratamento. Figura 27. Algoritmo demonstrando processo de decisão de tratamento de pacientes com hipertensão arterial sistêmica (modificado de BROWN et al., 2007). Nos gatos com risco Mínimo de LOA (PA menor que 150/95 mmHg), a terapia anti-hipertensiva ainda não é recomendada. Estes valores de PA representam o objetivo da terapia anti-hipertensiva para pacientes com hipertensão moderada a grave (BROWN et al, 2007). Há escassez de dados para apoiar intervenção terapêutica quando a PA é menor que 160/100 mmHg (Risco Leve de LOA - 150-159/95-99 mmHg). A terapia anti-hipertensiva ainda não é indicada nesta situação. Algumas pesquisas de cães e gatos normais apresentaram valores dentro ou próximo dessa faixa. Além disso, é provável que alguns animais nesta categoria exibam a hipertensão do jaleco branco (BROWN et al, 2007). 39 Para os gatos com Risco moderado de LOA (PA entre 160-179 /100-119 mmHg), a justificativa para o tratamento nesta categoria de risco é limitar LOA posterior, sabidamente naqueles animais com LOA pré-existente. Algumas alterações, como hipertrfofia ventricular esquerda (SNYDER et al., 2001) e encefalopatia hipertensiva (KYLES et al., 1999) podem resolver parcial ou totalmente com a terapia. Terapia anti-hipertensiva pode reduzir a incidência ou retardar o desenvolvimento de outras anomalias, tais como coroidopatia e encefalopatia hipertensiva (KYLES et al., 1999; MATHUR et al., 2002) e ainda pode retardar a progressão da doença renal crônica (BROWN et al., 2003). A maioria dos animais desta categoria, particularmente aqueles com LOA ou hipertensão secundária, são candidatos à terapia anti-hipertensiva. Outros animais sem LOA, particularmente aqueles com PA no limite inferior deste intervalo ou aqueles em que a hipertensão do jaleco branco não pode ser descartada como a única causa do aumento da PA, em geral, não necessitam de tratamento. Os dados permanecem incompletos para cães e gatos, e esta decisão requer a integração de todos os fatores relacionados ao paciente e o julgamento clínico. Para gatos com Grave Risco de LOA (PA ˃ 180/120 mmHg), a justificativa para o tratamento é o de limitar o grau de LOA, para os quais o risco é alto. Erro técnico ou extrema hipertensão do jaleco branco poderia produzir um aumento tão grande na PA em um cão ou em um gato normal, mas não de forma persistente. É recomendado mensurar a PA pelo menos em 2 momentos distintos para confirmar o grau de risco. A única exceção seria um paciente em que uma LOA potencialmente rapidamente progressiva, como coroidopatia ou encefalopatia hipertensiva, já esteja presente. Animais desta categoria de risco são candidatos à terapia anti-hipertensiva e manejo adequado de uma doença específica ou de quaisquer condições que possam causar hipertensão secundária (EGNER et al., 2007). Havendo valores persistentes de PA superiores a 180/120 mmHg, deve-se tratar todos os gatos com os bloqueadores de canais de cálcio (besilato de anlodipino - 0,625 mg/gato/VO/SID). Nos casos em que existam evidências de retinopatia hipertensiva ou lesões centrais, a terapia anti-hipertensiva já deve ser instituída na primeira avaliação (BARTGES e POLZIN, 2011). O monitoramento da PA deve ser semanal até que os valores atinjam níveis normais e, posteriormente, no intervalo de três a quatro meses (BARTGES e POLZIN, 2011). Os gatos respondem muito bem à monoterapia. O uso dos inibidores da ECA, tanto para o 40 controle da proteinúria no doente renal crônico, quanto para o controle da hipertensão arterial sistêmica, pode ocasionar o aumento discreto de 0,5 mg/dl nos níveis séricos de creatinina, no início da terapia, mas espera-se o retorno das concentrações iniciais em cinco a sete dias. Quando se observa o aumento repentino da concentração sérica de creatinina, esse fato pode estar relacionado ao efeito colateral do fármaco, enquanto que o aumento gradativo sugere a existência de comprometimento intrínseco da função renal (ELLIOT e WATSON, 2008). Caso o tratamento não seja efetivo com os bloqueadores de canais de cálcio e os inibidores da ECA, diuréticos, betabloqueadores e bloqueadores beta-adrenérgicos podem ser utilizados (quadro 3). Figura 28. Conduta recomendada para avaliação e tratamento da PA e identificação de LOA (modificado de BROWN et a., 2007). Para tratamento de emergência, os agentes com um rápido início de ação são indicados, incluindo agentes de uso parenteral como a hidralazina (0,2 mg/kg IV ou IM, repetida a cada 2 horas ou conforme necessário), enalaprilato (0,2 mg/kg IV, repetidos a cada 1 a 2 horas, se necessário), labetolol (0,25 mg/kg IV mais de 2 minutos, repetida até a dose total de 3,75 mg/kg, seguida por uma infusão constante de velocidade de 25 mg/kg/min) e esmolol (50-75 mg/ kg/min taxa constante 41 perfusão), bem como aqueles com rápido início de eficácia quando administrada por via oral (por exemplo, anlodipino 0,1-0,25 mg/kg a cada 24 horas). Se medicamentos parenterais forem usados, monitoramento contínuo da PA deve ser feito, se possível, por cateterismo arterial. Muitos veterinários preferem medicação oral (anlodipino), particularmente em gatos, pois em geral, diminui a PA em animais gravemente hipertensos independentemente da doença primária, e este agente têm risco limitado de causar hipotensão arterial. A PA e a lesão de órgão-alvo devem ser avaliadas com frequência (a cada 1-3 dias) e a dosagem do medicamento ou intervalo entre doses ajustados em conformidade. Uma vez que a PA ou lesão em órgão-alvo estabilizou em um nível adequado, o paciente deve ser mantido conforme as recomendações terapêuticas padrões. Estes pacientes devem ser cuidadosamente reavaliados antes da instituição da terapia anti-hipertensiva crônica (figura 30) (BROWN et al., 2007). Quadro 3. Agentes Hipertensivos Orais para Gatos. Classe Fármaco Dose Oral Usual Inibidor de ECA Benazepril 0.5 mg/kg/BID Inibidor de ECA Enalapril 0.5 mg/kg/SID Bloqueador Canal de Ca Anlodipino 0.1–0.25 mg/kg/SID (até > 0.5 mg/kg) Bloqueador-α1 Prazosina 0.25–0.5 mg/gato/SID Bloqueador-α1 Acepromazina 0.5–2 mg/kg/TID Bloqueador-α1 Fenoxibenzamina 2.5 mg/gato/TID-BID (0.5 mg/gato/SID) Vasodilatador direto Hidralazina 2.5 mg/gato/BID-SID Antagonista Aldosterona Espironolactona 1.0–2.0 mg/kg/BID β-Bloqueador Propranolol 2.5–5 mg/gato/TID β-Bloqueador Atenolol 6.25–12.5 mg/gato/BID Diurético Tiazídico Hidroclorotiazida 2–4 mg/kg/BID-SID Diurético de Alça Furosemida 1–4 mg/kg/TID-SID Fonte: Modificado de BROWN et al., 2007 42 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A hipertensão arterial pode ser secundária a diversas doenças sistêmicas e exames específicos devem ser realizados na tentativa de excluir as causas conhecidas desta condição. Nos casos idiopáticos, justifica-se o tratamento empírico. A mensuração da pressão arterial em cães e em gatos ainda não é uma técnica de auxílio diagnóstico praticada de forma rotineira entre os clínicos veterinários. Isso reflete a falha no reconhecimento da incidência e importância da hipertensão arterial sistêmica em pequenos animais. O diagnóstico da hipertensão é usualmente, tardio, sendo observadas alterações ocular, cardíaca, renal ou neurológica, algumas, já irreversíveis, como a cegueira. A medida de pressão sanguínea sistêmica realizada por aparelhos modernos e com recursos, que permitem uma medida exata, possibilita resultados confiantes e com precisão. A triagem e a identificação precoce da hipertensão são de extrema importância, uma vez que, é um processo destrutivo aos órgãos. Além disso, a mensuração da pressão arterial pode ser usada para triagem de novos pacientes, em casos de emergência, no paciente de terapia intensiva, animais sedados, além o próprio acompanhamento do paciente hipertenso. 43 4. 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