FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS Centro de Ciências e Tecnologia Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária Curso de Engenharia de Produção Pré-Cálculo e Geometria Analítica Resumo sobre Funções: Definições Básicas Profa. Valéria Iorio Uma função é uma regra que aceita certos elementos como valor de entrada e associa a cada um deles um único valor de saída. O valor de entrada é chamado de variável independente e o valor de saída é a variável dependente. Uma função pode ser descrita por palavras ou pode ser definida através de tabelas, gráficos ou fórmulas. O domínio de uma função é o conjunto de todos os valores de entrada, o contradomínio é um conjunto de valores possíveis para variável dependente e a imagem é o conjunto de valores que efetivamente são valores de saída associados a alguma entrada. Uma função definida através de uma tabela tem necessariamente um número finito de valores de entrada, já que não é possível fazer uma tabela infinita. Em Cálculo usamos a notação funcional: se F for uma função tendo como domínio certo conjunto de elementos A e como contradomínio determinado conjunto de elementos B, escrevemos F: A → B e se b∈B é o único elemento de B que está associado ao elemento a∈A, escrevemos F(a) = b. Exemplo 1: Considere a função F que associa a cada ser humano sua altura em metros. Neste caso seu domínio é o conjunto de todos os seres humanos. O contradomínio poderia ser o conjunto de todos os números maiores ou iguais a zero, mas a imagem é certamente bem menor: não existe um ser humano com 10 m de altura, por exemplo. Neste caso não é possível determinar exatamente a imagem desta função, que seria o conjunto formado por todas as alturas dos bilhões de pessoas na Terra. Em linguagem funcional, F: A → B, onde A = {todos os seres humanos}, B = [0,∞). Exemplo 2: A tabela a seguir representa o índice da Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) nos meses de março a agosto de 2013: Índice -1,87% -0,78% -4,30% -11,31% 1,64% 2,38% Meses Março Abril Maio Junho Julho Agosto Fonte: O Globo, 12/09/2013. Esses mesmo dados poderiam ter sido apresentados em forma de gráfico. Em notação funcional, se I é a função índice, A = {Março de 2013, Abril de 2013, Maio de 2013, Junho de 2013, Julho de 2013, Agosto de 2013}, B = ℝ e I: A → B. Neste caso a imagem é o conjunto de valores {-1,87; -0,78; -4,3; -11,31; 1,64; 2,38}. Estaremos particularmente interessados quando os valores de entrada e de saída forem números reais. Denotamos por ℝ o conjunto de todos os números reais. Alguns subconjuntos importantes de ℝ que vocês já conhecem são os números naturais ℕ = {1, 2, Funções Pré-Cálculo e Geometria Analítica 1 3, 4, …}, os números inteiros ℤ = {…, -4, -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3, …} e os números racionais ℚ = {m/n: m, n ∈ ℤ, n ≠ 0}. A representação de pontos no plano através de um par de coordenadas permite a representação de uma função, cujos valores de entrada e de saída são números reais, através de seu gráfico. O domínio da função é representado no eixo horizontal e seu contradomínio, no eixo vertical. Denotaremos os pontos no plano por ℝ2. Seja A um subconjunto dos números reais. Dada uma função F: A →ℝ, o gráfico de F é o conjunto de pontos {(x, y)∈ℝ2| y = F(x)}. Vocês aprenderão mais tarde como desenhar o gráfico de diversos tipos de função. Mas, enquanto isso, podemos desenhar o gráfico de uma função marcando diversos pontos e tentando intuir como ele continuaria. Exemplo 3: Vamos desenhar o gráfico da função F: ℝ → ℝ definida por F(x) = 2. Poderíamos fazer uma tabela, mas, neste caso, o valor de y é sempre o mesmo, y = 2. No gráfico a seguir, marcamos os pontos do gráfico correspondentes a x = -2, -1, 0, 1, 2 e depois vimos que o gráfico teria que ser uma reta horizontal. Exemplo 4: Vamos desenhar o gráfico da função F: ℝ → ℝ definida por F(x) = 2 – x. Primeiro, fazemos uma tabela de valores e colocamos esses pontos no gráfico. Note que, cada vez que aumentamos x de uma unidade, o valor da função diminui de uma unidade. O gráfico desta função é uma reta. y x y = F(x) 6 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 6 5 4 3 2 1 0 -1 -2 5 4 3 2 1 x −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 −1 −2 Exemplo 5: A função piso, denotada por piso(x) = x, associa a cada número real o maior inteiro igual a ele ou à sua esquerda na reta real, ou seja, x é o maior inteiro menor ou 2 Pré-Cálculo e Geometria Analítica Funções igual a x. Então, por exemplo, π = 3, −π = -4. Nesse caso podemos determinar exatamente a imagem desta função, que é o conjunto de todos os números inteiros. Então ⋅: ℝ → ℤ. Note que esta função é constante em intervalos do tipo [n, n + 1), onde n é inteiro: se n ≤ x < n, então x = n. Mas vimos no Exemplo 1 que o gráfico de uma função constante é uma reta horizontal, logo o gráfico desta função vai ter segmentos horizontais acima dos intervalos da forma [n, n + 1) com n inteiro. A figura a seguir mostra o gráfico desta função; a convenção é que os pontos brancos (que aparecem como pequenos círculos) não pertencem ao gráfico da função. y 4 3 2 1 x −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 −1 −2 −3 −4 Exemplo 6: Vamos considerar agora a função F: ℝ → ℝ definida por F(x) = x2. Como o quadrado de um número real é sempre maior ou igual a zero, e, reciprocamente, dado um número real maior ou igual a zero, ele é o quadrado de outro número real, a imagem desta função deve ser o intervalo [0, ∞). Vamos fazer uma tabela com os valores desta função, colocar os pontos no gráfico e tentar uni-los. Veremos mais tarde que este gráfico é uma parábola. x y = F(x) ±4 16 ±3 9 ±2 4 ±1 1 0 0 16 y 14 12 10 8 6 4 2 x −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 Note que o gráfico no Exemplo 6 é simétrico em relação ao eixo dos y. Isso ocorre porque a função satisfaz F(-x) = F(x). Funções com esta propriedade são importantes e recebem um nome especial. Seja F: ℝ → ℝ. Então F é uma função par quando F(-x) = F(x) para todo x∈ℝ e F é uma função ímpar quando F(-x) = -F(x) para todo x∈ℝ. Funções Pré-Cálculo e Geometria Analítica 3 A definição acima também pode ser feita para funções definidas em intervalos do tipo [−a, a], onde a é um número real positivo. Como vimos no Exemplo 6, os gráficos de funções pares são simétricos em relação ao eixo dos y. Os gráficos de funções ímpares também têm uma simetria, mas é em relação à origem. Exemplo 7: A função F: ℝ → ℝ definida por F(x) = x3 é uma função ímpar. Este gráfico é simétrico em relação à origem: a distância do ponto (−x, F(−x)) à origem é igual à distância do ponto (x, F(x)) à origem. 8 x y = F(x) -2 -8 -1 -1 0 0 1 1 2 8 y 6 4 2 x −2 −1 1 2 −2 −4 −6 −8 Como existe um único valor do contradomínio para cada valor do domínio, temos o seguinte resultado: Uma curva no plano é o gráfico de uma função real de variável real se e somente se cada reta vertical encontra a curva, no máximo, uma vez. Exemplo 8: Dos gráficos a seguir, apenas o segundo é o gráfico de uma função. y y y 4 4 4 3 3 3 2 2 2 1 1 1 x −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 x −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 x −4 −3 −2 −1 1 −1 −1 −1 −2 −2 −2 −3 −3 −3 −4 −4 −4 2 3 4 Quando a função é definida através de uma fórmula sem ser explicitado o conjunto de valores, a convenção é usar como domínio o maior conjunto de números reais para os quais a função faz sentido. Exemplo 9: Como a raiz quadrada de um número só é real se o número for maior ou igual a zero, a função f ( x ) = x tem como domínio o conjunto dos números reais maiores ou iguais a zero, ou seja, f : [0,∞) → ℝ. Veremos mais tarde que o gráfico desta função é a metade da parábola y2 = x, com y ≥ 0. Como o gráfico é parte de uma parábola, sabemos como ele continua, apesar de só mostrar parte do gráfico: a função vai assumindo valores cada vez maiores. A imagem desta função é o intervalo [0,∞). A figura a seguir mostra seu gráfico. 4 Pré-Cálculo e Geometria Analítica Funções y 3 2 1 x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Seja F: A → B uma função. F é dita injetora se F(x) = F(a) ⇒ x = a. F é dita sobrejetora se a imagem de F for igual a B. Se F for injetora e sobrejetora, ela é dita bijetora. Geometricamente, uma função é injetora se e somente se cada reta horizontal encontra o gráfico da função no máximo uma vez. No caso de uma função F: ℝ → ℝ, F é sobrejetora se e somente se cada reta horizontal encontra o gráfico no mínimo uma vez. Exemplo 10: Todos os gráficos a seguir são gráficos de funções da reta na reta. As funções em (a) e (f) não são injetoras, nem sobrejetoras; em (b) e (e) são bijetoras; em (c) é sobrejetora, mas não injetora; em (d) é injetora, mas não sobrejetora. y y y 4 4 4 3 3 3 2 2 2 1 1 1 x −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 x −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 −1 −1 −1 −2 −2 −3 −3 −3 −4 −4 −4 (b) 4 4 3 3 3 2 2 2 1 1 1 2 3 4 3 4 1 2 3 4 1 x −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 x −4 −3 −2 −1 −1 −1 −1 −2 −2 −2 −3 −3 −3 −4 −4 −4 (d) 2 y 4 −1 1 (c) y x −2 −2 −2 y −3 −3 −1 (a) −4 x −4 (e) (f) Dada uma função y = f (x), a taxa de variação média de y entre x = a e x = b é igual a ∆y f ( b ) − f ( a ) = . ∆x b−a Exemplo 11: A tabela a seguir mostra os lucros de uma companhia (em milhares de reais) na década de 2000 a 2009. Funções Pré-Cálculo e Geometria Analítica 5 Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Lucro 230 350 300 400 420 450 490 550 610 500 Então a taxa de variação média na década foi de (500 – 230)/(2009 – 2000) = 270/9 = 30 mil reais por ano. Note que a variação média de 2008 a 2009 foi negativa, -110 mil. A variação média foi negativa em outros períodos: por exemplo, de 2007 a 2009, a variação média foi -50/2 = -25 mil reais por ano. Exemplo 12: Considere a função F(x) = 25 − x 2 . Então a taxa de variação média no intervalo de 0 a 4 é [F(4) – F(0)]/(4 – 0) = (3 – 5)/4 = -0,5 e a taxa de variação média no intervalo [-4, 0] é [F(0) – F(-4)]/[0 – (-4)] = (5 – 3)/4 = 0,5. Note que o gráfico desta função é a parte superior da circunferência centrada na origem de raio 5: y = 25 − x 2 ⇔ y ≥ 0 e y 2 = 25 − x 2 ⇔ y ≥ 0 e x 2 + y 2 = 25 . Note que a taxa de variação média no intervalo [0, 4] é negativa porque a função diminuiu neste intervalo: a taxa de variação é a (yR – yQ)/(xR – xQ). Analogamente, a taxa de variação no intervalo [-4, 0] é positiva porque a função cresceu neste intervalo. Em módulo as duas taxas são iguais porque os dois triângulos na figura são congruentes. Note que a taxa de variação, em módulo, é o quociente dos catetos, ou seja, cateto vertical dividido pelo cateto horizontal. REFERÊNCIAS MacCALLUM, W.G. et al. Álgebra: forma e função. Rio de Janeiro: LTC, 2011. HUGHES-HALLETT, D. et al. Cálculo Aplicado, 4ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. 6 Pré-Cálculo e Geometria Analítica Funções