Red Econolatin www.econolatin.com Expertos Económicos de Universidades Latinoamericanas BRASIL Junho 2013 Profa. Anita Kon PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PROGRAMA DE ESTUDOS PÓSGRADUADOS EM ECONOMIA POLÍTICA. 1. SITUACIÓN ECONÓMICA ACTIVIDAD ECONÓMICA A indústria brasileira de máquinas teve uma retração no primeiro trimestre de 2013 de 11,5% em relação ao mesmo período de 2012, o que retrata a pouca expansão do investimento em capital físico do país a conjuntura. O desânimo de investidores é vis co uma das grandes barreiras à recuperação da economia. As atividades nos setores de comércio e serviços também tem mostrado perda de fôlego, mas a indústria é o que mais preocupa e as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto para 2013 tem sido revistas de 3,3% para 3,1% neste ano. No entanto ocorreu no trimestre uma forte expansão da safra agrícola, como fator excepcional. No entanto o varejo de produtos alimentícios mostrou queda no trimestre, tendo em vista os preços altos de alimentos que inibiram o consumo das famílias. Também o comércio geral do setor de produtos eletrônicos, equipamentos de informática e comunicação mostrou retração no trimestre (de 5,2%), no entanto, o setor de tecidos, vestuário e calçados mostrou uma alta mensal em março, de 3,9%, motivado pelas liquidações sazonais. Apesar deste desempenho negativo no trimestre, o comércio acumulou ganhos de 6,8% no acumulado de 12 meses encerrados em março. Os consumidores estão empenhados em pagar suas dívidas e diminuiu (6,4%) consideravelmente o número de inadimplentes no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2012, ao mesmo tempo em que caiu (2,1%) o número de consumidores que ingressaram na lista de inadimplentes. Esses movimentos aconteceram em cenário de inflação em alta, queda da atividade do comércio e menor oferta de crédito, associados ao fraco crescimento econômico. SECTOR EXTERIOR A balança comercial paulista serve como termômetro da situação industrial do país, tanto na exportação, desde que este Estado ainda é o centro industrial nacional e no que se refere à importação o Estado é a sede de muitas importadoras. Na conjuntura, as importações de produtos acabados aumentaram consideravelmente, mais do que as exportações, tendo em vista o aumento da renda no país sem aumento correspondente dos investimentos e da produção. O congestionamento da infraestrutura, como dos portos acabou diminuindo a competitividade. Por outro lado, o câmbio valorizado no trimestre influenciou o aumento dos importados e São Paulo é o Estado mais penalizado por esta valorização, influindo na baixa competitividade das exportações de forma mais contundente do que a referência tecnológica ou com a qualidade da mão de obra. No entanto, em junho, o dólar voltou a se valorizar, influenciando na compra destes importados. As dificuldades com o setor externo brasileiro também surgem com a diminuição de entrada de turistas em relação os gastos de turistas brasileiros no exterior (15% a mais). A venda de petróleo brasileiro ao exterior caíram consideravelmente, mas o mau momento da balança comercial brasileira, que acumula um resultado negativo recorde de US$ 6 bilhões até abril, teve como causa ainda as quedas de exportações da metalurgia, um dos principais setores da pauta industrial, cujas vendas externas mais caíram em abril: 18%. Os especialistas consideram que o alto preço dos produtos siderúrgicos brasileiros, que representam metade das exportações da metalurgia, e a agressividade da indústria chinesa são as principais razões para a situação desfavorável. Estes produtos brasileiros sofre concorrência da China, cujo avanço fez os preços internacionais desabarem. No primeiro trimestre, a produção chinesa de aço bruto aumentou 10%, puxando a mundial, que cresceu pouco mais de 2%. No mesmo período, a brasileira caiu 4%. Por outro lado, a capacidade ociosa da indústria no mundo, próxima a 25%, tornou ainda maior a disputa entre as siderúrgicas. Os empresários acreditam que a desvantagem brasileira resulta da combinação de alta carga tributária, câmbio desfavorável e infraestrutura deficiente, mas também devido à menor produtividade das siderurgias brasileiras. SECTOR PÚBLICO Y POLÍTICA FISCAL Os resultados das Contas Nacionais recentemente publicados mostram que o setor público brasileiro como um todo economizou menos no primeiro trimestre do ano para pagar os juros da dívida, o equivalente a 2,72% do Produto Interno Bruto, para uma meta anual de 3,1%. Nos Estados e municípios, no trimestre, a economia teve queda de 19,7% ante 2012. Em março, a redução dos gastos foi de 27%. No entanto, enquanto o Banco Central elevou juros para esfriar a economia e conter a inflação, os Ministérios da Fazenda e do Planejamento anunciaram mais gastos públicos para estimular o consumo e o investimento e as metas para as contas do Tesouro Nacional anunciadas em maio sinalizaram despesas recordes, que podem aumentar ainda mais até o final do ano. O Ministro da Fazenda considera que a alta dos preços está concentrada em alimentação e serviços e, portanto não estaria ligada ao gasto público. A expansão do gasto público tem sido apontada pelo BC como um dos motivos para a alta da inflação, pois se o governo eleva salários, benefícios, compras e obras, a demanda por bens e serviços cresce mais rapidamente que a oferta e pressiona os preços. As metas fiscais anunciadas em maio no entanto, apontam para um superávit de 2,3% do PIB, considerando que governos regionais pouparão 1% do PIB, o que não acontece desde 2008 e nos últimos 12 meses, os superávits estaduais e municipais ficaram em 0,4% do PIB. Este aumento das despesas federais resultou na queda de 40% da economia do governo federal para o pagamento dos juros da dívida pública, no primeiro quadrimestre de 2013 ante o ano de 2012. Embora de janeiro a abril de 2013, a receita total subiu 4,9% em relação a igual período de 2012, o crescimento dos gastos foi de 13,4%. EMPLEO Os reajustes salariais concedidos em 2013 em média conseguiram ganhos reais de 1,4% (acima da inflação), a partir de acordos salariais de janeiro a abril. Porém esta média de ganho real foi menor que o resultado do primeiro semestre de 2012 (de 2,23% na média), mas vem num momento em que economistas e o governo têm se declarado preocupados com a inflação. A taxa de desocupação do país está em um de seus níveis mais baixos (5,7%) e dessa forma os trabalhadores têm mais força de negociação para obter aumentos reais. No entanto, isto provoca aumento de custo para as empresas e parte dele repassado aos preços. Para alguns consultores, o rendimento médio real dos trabalhadores deve cair neste ano tendo em vista o menor ganho do salário mínimo, incide utilizado para reajustar categorias menos organizadas e não formalizadas. O aumento real do mínimo neste ano foi de 2,7%, ante 7,5% no ano passado. O número de empregos formais criados em abril foi apenas 0,45% superior ao registrado no mês anterior e a comparação com o mesmo período de 2012, houve queda de 10%, enquanto no acumulado do ano, a economia brasileira gerou 1,39% empregos formais a mais que no mesmo período de 2012. O setor de serviços foi o líder na criação de empregos formais, particularmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Porém houve crescimento dos ocupados em nível inferior ao da população em idade ativa pela primeira vez desde janeiro de 2011, o que significa que o aumento de vagas não foi suficiente nem sequer para cobrir o crescimento vegetativo do total de pessoas que já têm idade para trabalhar. POLÍTICA MONETARIA E INFLACIÓN Em abril, a inflação ficou acima do esperado e reforçou a percepção de economistas de que, mesmo com a atividade econômica fraca, os preços têm resistido a cair. Nos últimos 12 meses terminados em abril, a inflação oficial ficou em 6,49%, muito próxima do teto da meta oficial (6,5%). A queda nos preços dos alimentos foi e bebidas menor do que o esperado e surpreendeu os analistas, pois esperava-se que com a redução de tributos que incidem sobre a cesta básica, realizada pelo governo federal, o grupo alimentício teria forte desaceleração. No entanto, os preços de remédios, foram reajustados com a permissão do governo e subiram mais do que o esperado em abril, também contribuindo para o resultado geral. Face ao aumento da inflação, apesar do fraco resultado do PIB do primeiro trimestre deste ano, o Banco Central aumentou a taxa de juros oficial Selic de 7,5% para 8% ao ano, em decisão unânime do Comitê de Política Monetária. O Banco Central avalia que a alta de 0,50 ponto "contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”. A expectativa dos diretores do BC é que os índices de inflação irão recuar mais a partir do segundo semestre, fechando o ano em 5,5%, mas no curtíssimo prazo pretendem preciso coordenar as expectativas dos agentes econômicos, ou seja, fazer empresários e investidores acreditarem que a inflação não sairá de controle, para que a alta de preços não entre em um ciclo que se autoalimenta. Outro foco de atenção é a taxa cambial, que voltou a subir nos últimos dias de maio, o que pode gerar pressão inflacionária. MERCADOS FINANCIEROS Algumas comunicações de Bancos Centrais mundiais tem provocado volatilidade aos mercados financeiros de câmbio, juros e bolsas de valores, devido à instabilidade das economias em todo mundo, que ainda reflete a enorme crise financeira de 2008. A preocupação dos investidores globais é captar exatamente quando e com qual intensidade começará a redução do atual programa de ajuda à economia dos países europeus e do Quantitative Easing dos Estados Unidos, que injeta mensalmente US$ 85 bilhões na compra de títulos lastreados em hipotecas. No mercado financeiro brasileiro, como no resto do mundo os especialistas estão preocupados em captar o real significado das comunicações, principalmente do FED (que afetam as bolsas de valores mundiais e a cotação do dólar), que podem alterar significativamente o rendimento dos portfólios. No Brasil, um discurso do presidente do Banco Central, feito no Rio de Janeiro no XV Seminário Anual de Metas para a Inflação em maio, informava a preocupação do Banco com a inflação. Bastou este sinal de continuidade do ciclo para os juros dispararem no mercado futuro. Desde a crise financeira de 2008, que provocou uma parada súbita nas linhas de crédito internacionais, a dívida externa brasileira aumentou 60%, impulsionada pelo endividamento das empresas e a dívida das instituições financeiras no exterior praticamente dobrou desde dezembro de 2008 até maio de 2013, enquanto as empresas não financeiras aumentaram sua exposição em moeda estrangeira em 72%. Para tentar refrear o fluxo de recursos estrangeiros que entrava no país e valorizava o real em relação ao dólar, o governo impôs IOF de 6% na compra de títulos públicos por estrangeiros. Isto criou uma situação de abundância de recursos e juros mais baixos no exterior, as empresas aumentaram sua dívida lá fora. No interior do país no primeiro trimestre de 2013 o crédito imobiliário cresce 16% em relação ao mesmo período de 2012. O valor inclui tanto empréstimos a pessoas físicas quanto a construtoras. Os depósitos da poupança habitacional, cujos recursos são direcionados ao financiamento imobiliário, superaram os saques, de janeiro a março, em R$ 7,26 bilhões, valor quase três vezes maior que o do mesmo período do ano passado (R$ 1,9 bilhão). TIPO DE CAMBIO Em maio declarações do Ministro da Fazenda informaram que o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para estrangeiros que aplicam em renda fixa no Brasil seria zerado e que a medida é de longo prazo, e não tem como objetivo derrubar a cotação do dólar, que subiu 7% só em maio. Após esta medida que zerou o IOF, houve uma trajetória de apreciação global do dólar, com a perspectiva de redução do programa de compra de ativos do Fed. Esta apreciação foi revertida no início de junho, após dados aquém do esperado sobre o mercado de trabalho americano e dessa forma, o dólar caiu ante a maior parte de seus pares, e recuou 0,37% frente ao Real, cotado a R$ 2,123 para venda. No entanto, essa queda ficou abaixo da média geral verificada no mercado cambial internacional, onde a moeda americana teve perdas ao redor de 1,2%. Confirmando uma volatilidade, na mesma semana o dólar fechou em alta frente ao real por apenas um dia, chegando a ultrapassar o patamar de R$ 2,15, nível que colocou em alerta o mercado sobre a possibilidade de intervenção do Banco Central, o que não ocorreu. A alta ocorreu devido à possibilidade de rebaixamento do rating do país no mercado mundial., porem o fortalecimento do dólar perdeu força no mesmo dia sob influência de operações pontuais de entrada de dólares e da melhora nos mercados internacionais. Mas as expectativas de uma possível redução do estímulo do Fed têm motivado amplo fortalecimento do dólar nos mercados globais, uma vez que ela poderia reduzir a liquidez internacional. Apesar disto, os economistas estimam que a taxa de juros Selic fique em 8,75% tanto no final de 2013 quanto de 2014 e preveem que o dólar fechará este ano em um nível mais alto. 2. PERSPECTIVAS ECONÓMICAS As projeções de inflação para 2013 e 2013 são de 5,80% e diante da recente alta do dólar frente ao real os economistas elevaram pela quinta vez seguida a projeção sobre o câmbio no final deste ano, com o dólar a R$ 2,10, ante R$ 2,05. Em relação ao Produto Interno Bruto, as perspectivas para este ano foram reduzidas para 2,5% e para 2014, a projeção foi cortada a 3,20%, ante 3,40%m diante da fraca recuperação da indústria, abaixo da esperada. Com relação à produção industrial, que participa com 25% do PIB, a perspectiva de crescimento neste ano foi elevada a 2,53%, contra 2,50% em pesquisa anterior e para 2014, a projeção foi mantida em expansão de 3%. As perspectivas para o desempenho da produção de bens de capital (máquinas e equipamentos) são positivas, o que sinaliza retomada dos investimentos. O saldo da Balança comercial projetado para 2013 também foi diminuído em relação a estimativa anterior, situando-se agora em superávit de US$ 7,35 bilhões e para 2014, a projeção é de US$ 10 bilhões. A queda acelerada do saldo comercial foi mais intensa que o esperado e dessa forma os analistas elevaram suas projeções para o déficit do país em suas transações com o resto do mundo. Este déficit mais elevado pode significar menos moeda forte à disposição e, portanto justifica as projeções de elevação da cotação do dólar, o que pode pressionar a inflação e comprometer a incipiente recuperação do crescimento econômico. Com relação ao ritmo dos juros, as perspectivas são de que o Banco Central continuará com o aumento contra a inflação e os negócios no mercado de juros futuros já apontavam no final de maio para elevação da taxa em junho. 3. SITUACIÓN POLÍTICA Com a economia mais fraca e conflitos na base aliada do governo no Congresso e se elevam dificuldades da Presidente para garantir a reeleição em 2014, para a qual vem se empenhando. Diante disso o governo vem adotando um tom ainda mais conservador na política econômica e promessas de maior interlocução com os partidos que a apoiam. Parte da mudança política do governo federal passa por aumentar o ritmo de liberação de emendas parlamentares, negociar previamente com as e ampliar a dose de atenção com os aliados, repartindo parte do capital político. As mudanças, no entanto, ainda não foram suficientes para agradar ao mercado financeiro. E mais uma notícia negativa surgiu com a agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixando a perspectiva da nota da dívida brasileira para "negativa", citando preocupações com o afrouxamento fiscal, entre outros motivos. Esse rebaixamento foi um sinal de alerta para o governo de que a opção pela política econômica heterodoxa não deu certo e em clima de pré-eleição presidencial deve passar pelo ajuste fiscal. Alguns cientistas políticos chamam a atenção para as críticas dentro do próprio governo ao excesso de intervencionismo e estímulos setoriais seguidos, que estariam deixando empresários em compasso de espera para investir, na expectativa de também serem beneficiados. No entanto, apesar deste cenário desfavorável ao governo ainda existe favoritismo pela candidata Dilma.