Titulo do trabalho: Organizações empresariais e o campo das políticas sociais Nome dos autores: Marcia Cristina Alves, Décio Soares Vicente e Murilo Cabral Nunes. Nome do orientador: Professora Dª Lúcia Helena Alves Müller E-mails: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] Filiação: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH). Av. Ipiranga, 6681, Prédio 5, Porto Alegre/RS. Resumo: Este trabalho faz parte da pesquisa realizada no período de 2004 a 2006, com o objetivo de compreender como vem se configurando o chamado “terceiro setor” como campo profissional. O estudo foi elaborado através de levantamento e sistematização de dados sobre a oferta de postos de trabalho neste novo campo de atuação (fontes: sites Rits, Ethos e Gife). O “terceiro setor” é formado principalmente por entidades privadas, como instituições filantrópicas tradicionais, movimentos sociais, organizações sem fins lucrativos (ONGs), sindicatos, fundações, associações de moradores, universidades, empresas, clubes de lazer, etc., porém é um novo campo de definição imprecisa, pois a caracterização, tanto teórica quanto empírica, é extremamente difícil, na medida em que se trata de um espaço social que está longe de ser homogêneo e no qual a disputa pela definição das fronteiras, dos princípios e valores que devem regê-lo e legitimá-lo encontra-se em pleno andamento (Bourdieu, 1989). Portanto, essa diversidade de instituições com diferentes visões e propostas de atuação que concorrem neste novo “setor” revelam claramente a existência de diferentes concepções acerca da natureza do referido campo. Assim, a disputa pela hegemonia nesse espaço social pode ser percebida na diversidade de posicionamentos que essas organizações assumem em relação a problemáticas políticas e sociais mais amplas. No Brasil, nas últimas décadas, vêm se destacando o envolvimento das organizações empresariais neste novo campo e, além de se tornarem uma fonte importante de investimentos, são também atores sociais muito ativos no espaço de discussão sobre políticas públicas, que reivindicam o reconhecimento de sua capacidade e de sua legitimidade para apresentar novas definições do que seria o “bem público”, além do reconhecimento de sua capacidade financeira, empreendedora e gerencial para a tarefa de criação e sustentação de alternativas concretas para alcançá-lo. Isso fica evidente pelo fato das organizações da sociedade civil que atuam no campo social estarem cada vez mais subordinadas a uma dinâmica que, em muitos aspectos, vêm assumindo as características de um mercado concorrencial. De acordo com as regras que atualmente regem a disputa no campo da ação social, as organizações são obrigadas a mostrarem-se eficientes no planejamento, captação e gerenciamento dos recursos que deverão financiar suas ações, comprovarem a sua eficiência e a sua eficácia e manterem sua visibilidade e credibilidade em relação a um público cada vez mais amplo, como condições determinantes para a sua sobrevivência como organizações. Neste sentido, com a participação das organizações empresariais dentro do campo chamado “terceiro setor”, percebe-se uma nova configuração desse campo como espaço de atuação social profissional, embora ele mantenha características típicas de engajamento político. Isso fica evidente no aparecimento de demandas por profissionais com perfis e perspectivas de carreiras até então inéditas e que combinam a formação técnica com uma bagagem importante de experiências práticas que tiveram, em sua origem, um caráter militante, missionário, caritativo, voluntário, etc. Além disso, o profissional recrutado deve possuir certas qualificações e competências características tanto das formas tradicionais, como das formas flexíveis do mercado de trabalho. Em suma, este trabalho apresenta uma análise descritiva das ofertas de trabalho que vêm sendo oferecidas aos profissionais de diversas áreas para atuar no chamado campo do “terceiro setor”. Trabalho dos Estagiários: A pesquisa sobre Organizações empresariais e o campo das políticas sociais foi realizada no período de 2004 a 2006 com o objetivo de compreender como vem se configurando o chamado “terceiro setor” como campo profissional. O estudo foi realizado no Núcleo de Estudos sobre Empresas e Organizações (NEEO), localizado na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH), na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) contando com um bolsista da PUCRS e um bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e alunos voluntários do curso de graduação em Ciências Sociais. O NEEO está sob a responsabilidade da Professora Drª. em Antropologia Lúcia Helena Alves Müller e desenvolve estudos com o objetivo principal de investigar as organizações empresariais que atuam na área social e a participação destas na formação de uma nova configuração das políticas sociais. O trabalho dos estagiários, Marcia Cristina Alves, Décio Soares Vicente e Murilo Cabral Nunes estiveram encarregados de realizarem o levantamento e sistematização de dados sobre a oferta de postos de trabalho sobre o “terceiro setor”. Esse levantamento de informações sobre as ofertas de trabalho no âmbito de organizações empresariais e não-governamentais que atuam na área social foi realizado em dois sites da internet que são referência para o “terceiro setor”: Rits1 – Rede de Informações para o Terceiro Setor e Gife2 – Grupos de Institutos, Fundações e Empresas. Esses dois sites são fontes importantes de divulgação de informações e de ofertas de oportunidades apresentadas por diversas instituições nacionais e internacionais. Os dados coletados nesses sites foram tabulados em arquivo digital, banco de dados no programa ACCESS. No cadastro, até o momento atual, constam 647 registros de oportunidades de trabalho, relativas ao período de março de 2004 a março de 2005. Essas informações foram selecionadas e classificadas nas categorias, como cargo, função, área de atuação, nível de escolaridade, formação, exigência e experiência (Chiavenato, 1997) que possibilitam perceber formação do chamado deste novo “setor”. Portanto, a consulta em internet teve o objetivo de mapear os espaços profissionais relativos aos anúncios sobre as ofertas de postos de trabalho criados pelas diversas organizações privadas que atuam na área social. Após a coleta dos dados, a equipe do núcleo de estudo preparou-se para a organização e descrição das informações. Para isso, foram revisadas as variáveis do banco de dados e construídas as categorias que agruparam as informações acumuladas no arquivo sobre as ofertas de trabalho no “terceiro setor”, conforme suas principais características. 1 2 Rits. Disponível em: < http://www.rits.org.br/>. Acessado dia 5 de agosto de 2006. Gife. Disponível em: < http://www.gife.org.br/>. Acessado dia 5 de agosto de 2006. Para a descrição desses dados partiu-se principalmente de uma bibliografia sobre qualificação e competência (Educação & Sociedade, 1998). Esses conceitos são instrumentos importantes usados na área de recursos humanos principalmente para se avaliar o grau de instrução, conhecimento e habilidades do ser humano necessários ao cumprimento de determinada função. Por serem dinâmicos, qualificação e competência, mudam com a própria fase do capitalismo e do mercado de trabalho. Nesse sentido, essa descrição indicará hipóteses sobre a configuração desse novo setor social, principalmente sobre como estão sendo definidas novas ocupações ou profissões que começam ser valorizadas nesse novo campo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, Maria Lígia. A sociologia das profissões: em torno de legitimidade de um objeto. In: Revista BIB de Ciências Sociais: Rio de Janeiro, n. 36, 2º semestre 1993, pp. 330. BOURDIEU, Pierre. Algumas propriedades dos campos. In: Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Editora Marco Zero Limitada, p. 89-94. CAPPELLIN, Paola et al. As organizações empresariais brasileiras e a responsabilidade social. 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