CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O
USO DE JOGOS E BRINCADEIRAS NO DESENVOLVIMENTO DA
APRENDIZAGEM A LUZ DAS IDEIAS DE BENJAMIM E VYGOTSKY 1
Marisvaldo Barreto dos Santos2
Joana D’Arc Costa3
RESUMO
Este artigo de caráter bibliográfico tem como objetivo apontar a influência da brincadeira e do jogo na
formação do comportamento social da criança nas primeiras séries escolares, a partir da teoria de
Vygotsky e de outros autores. Os principais elementos discutidos desta teoria são: a brincadeira como
atividade principal da criança na idade pré-escolar, o desenvolvimento da Zona de desenvolvimento
proximal por meio da brincadeira, a satisfação das necessidades da criança por meio do brincar, a
razão pela qual cada período do desenvolvimento pede brinquedos específicos, a formação social da
criança pré-escolar sob influência de jogos e do brinquedo na formação social da criança pré-escolar,
além da definição dos termos brinquedo, brincadeira e jogo e de uma abordagem das brincadeiras no
contexto escolar.
PALAVRAS-CHAVE: Jogo; Brinquedo; Criança; Conhecimento; Escola.
ABSTRACT
This bibliographical article aims to point out the influence of play and games in the formation of social
behavior of children in the early grades, from the theory of Vygotsky and other authors. The main
elements of this theory are discussed: play as a core activity of the child in preschool, the development
of the zone of proximal development through play, meeting the needs of children through play, the
reason why each period development calls for specific toys, the social formation of the preschool child
under the influence of games and toys in the social formation of the preschool child, in addition to the
definition of terms toy play and play and approach the games in the school context.
KEYWORDS: Game, Toy, Child; Knowledge; School.
1 INTRODUÇÃO
1
GT1 Educação de Crianças, Jovens e Adultos.
2
Graduando de Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Tiradentes - Aracaju / Sergipe. Estagiário do
Serviço Social da Indústria - SESI/Sergipe (2012-2013). Membro do Grupo de pesquisa Políticas Públicas,
Gestão Sócio Educacional e Formação de Professor, atuação na linha de Pesquisa Práticas Investigativas na
Educação Superior e na Educação Rural (GPGFOP/Unit/CNPq). E-mail: [email protected]
3
Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe (1982). Especialização em Alfabetização
- PUC/Minas.(1989) Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN.
Estatutária e pesquisadora da Sec. Municipal de Educação, estatutária da rede Estadual de ensino. Professora
Assistente III da Universidade Tiradentes. Tem experiência na área de Educação, atuando principalmente nos
seguintes temas:
Projeto de Interdisciplinaridade,
Sociologia e Política e Sociedade. E-mail:
[email protected]
Com o foco nas evidências sobre as contribuições que a brincadeira oferece ao
desenvolvimento infantil e a aprendizagem no contexto escolar, este estudo estará
principalmente focado nas características e influências do brincar sobre a criança.
Para perceber o quanto é importante o ato de brincar na construção e no
desenvolvimento do conhecimento de uma criança, é preciso observá-la brincando. É possível
aprender muito a partir desta observação e se formos atentos e sensíveis, poderemos verificar
os percursos caminhos que ela trilha ao aprender sem a interrupção direta de um adulto.
Brincando, a criança aprende a lidar com o mundo a sua volta, recria situações cotidianas,
forma sua personalidade e experimenta sentimentos básicos.
Para Vygotsky (2007), o desenvolvimento mental da criança é um processo em
construção e aquisição do controle ativo sobre funções que inicialmente são passivas. Desde
os primeiros dias, as atividades desenvolvidas pela criança adquirem um significado próprio
em um sistema de comportamento social e, sendo dirigidas a objetivos definidos, são
desviados através do reflexo do ambiente da criança. Daí que, de início, o caminho do objeto
até ela e vice-versa passa através de outra pessoa. Neste sentido, o processo de resolução de
problemas em conjunto com outrem não é diferenciado pela criança no que diz respeito aos
papéis desempenhados por ela e por quem a auxilia.
A aprendizagem, criando o que Vygotsky (2007) denominou de "zona de
desenvolvimento proximal", desperta vários processos internos capazes de operar somente
quando a criança interage com pessoas em seu ambiente, e quando em cooperação com seus
companheiros.
Estes processos, uma vez internalizados, tornam-se parte das aquisições de
desenvolvimento independentes da criança. Mais uma vez, portanto, sua concepção destaca o
valor do interlocutor, daquele que dialoga com a criança no seu desenvolvimento.
É preciso evidenciar que em todas as concepções teóricas sobre a educação e o
desenvolvimento da criança pequena e na bibliografia em geral, a brincadeira é vista como um
importante recurso no desenvolvimento integral e na construção de conhecimentos. A
brincadeira é a atividade que presente no mundo cotidiano de qualquer criança, independente
dos recursos disponíveis, do local onde vive, do grupo social e da cultura na qual esteja
inserida. Dentro dessa perspectiva, este artigo tem o real objetivo de refletir acerca do grande
valor do ato de brincar na construção do conhecimento, pois permite que a criança explore seu
mundo interior e descubra os elementos exteriores em si, pratique a socialização e adquira
qualidades imprescindíveis para seu desenvolvimento físico e mental.
2 DEFINIÇÃO DOS TERMOS BRINQUEDO, BRINCADEIRA E JOGO
Se pegarmos um dicionário da década de 60 certamente o significado das palavras
brinquedo, brincadeira e jogo estarão transidos de uma visão da época. Atualmente, podemos
observar que há uma clara diferença entre eles. No entanto, tanto jogo e brincadeira, podem
ser sinônimos de divertimento.
Com vista à necessidade de uma exposição conceitual, é preciso apresentar quais as
definições a respeito dos termos brinquedo, brincadeira e jogo, definidos no dicionário
Aurélio (2012):
"Brinquedo = objeto destinado a divertir uma criança".
"Brincadeira = ação de brincar, divertimento. / Gracejo, zombaria. / Festinha entre
amigos ou parentes. / Qualquer coisa que se faz por imprudência ou leviandade e
que custa mais do que se esperava: aquela brincadeira custou-me caro".
"Jogo = Ação de jogar; folguedo, brinco, divertimento". Seguem-se alguns
exemplos: "jogo de futebol; Jogos Olímpicos; jogo de damas; jogos de azar; jogo de
palavras; jogo de empurra".
Para caracterizar o objeto lúdico, cada idioma possui um termo específico, que
identifica e qualifica o material concreto utilizado na brincadeira infantil. O vocábulo
“brinquedo”, utilizado por nós brasileiros, é “toy” na língua inglesa, "jouet” na língua
francesa, “juguete” na língua espanhola e “giocatollo” na língua italiana, com clara distinção
semântica.
O brinquedo, segundo Vygotsky (2007), é o mundo ilusório e imaginário onde os
desejos não realizáveis podem ser realizados. É no brinquedo que a criança aprende a agir
numa esfera cognitiva em vez de uma esfera visual externa, dependendo das motivações e
tendências internas e não dos incentivos fornecidos pelos objetos externos. Numa situação
imaginária, a criança dirige seu comportamento pelo significado desta situação. Esta seria a
primeira manifestação de libertação da criança em relação às restrições situacionais. Assim,
podemos dizer que o brinquedo é um estágio entre as restrições puramente situacionais da
primeira infância e o pensamento adulto que, por sua vez, pode ser totalmente desprendido de
situações reais.
Walter Benjamin (2002) fez algumas importantes reflexões acerca do lúdico, levando
em consideração o seu aspecto cultural. Brinquedo e brincar, para ele, estão associados, e
documentam como o adulto se coloca em relação ao mundo infantil, pois os estudos de
Benjamin mostraram como, desde as origens, o brinquedo sempre foi um objeto criado pelo
adulto para a criança. Segundo ele, acreditava-se erroneamente que o conteúdo imaginário do
brinquedo é que determinava as brincadeiras infantis, quando na verdade quem faz isso é a
criança. Por esta razão, quanto mais atraentes forem os brinquedos, mais distantes estarão do
seu valor como instrumentos do brincar.
É através do ato de brincar que a criança vê e constrói o mundo, demonstra aquilo que
tem dificuldade de expor em palavras. Sua escolha é motivada por processos e desejos
intrínsecos, pelos seus problemas e ansiedades. É brincando que a criança aprende que,
quando se perde no jogo, o mundo não se acaba. Ainda assim é preciso considerar que o ato
de brincar permite que a criança se encontre com o mundo de corpo e alma. Percebe como ele
é e as contribuições elementares importantes para a sua vida, desde hábitos mais
insignificantes, até os fatores que determinam a cultura de seu tempo.
Para tanto, o termo brinquedo deve ser visto como o objeto base para a brincadeira, ou
seja, o objeto que desenrola, pela sua imagem, a atividade lúdica da criança. A brincadeira por
si deverá ser identificada como uma atividade não estruturada, que gera satisfação, que possui
um fim em si e que pode trazer regras perfeitamente enunciadas ou subentendidas. O jogo,
como objeto, será distinguido como algo que possui regras pré-estabelecidas e explícitas com
um fim lúdico, entretanto, como atividade será considerado sinônimo de brincadeira.
3 A INFLUÊNCIA DA BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL COM
FOCO NA ABORDAGEM HISTÓRICA DE WALTER BENJAMIN
A brincadeira é a atividade principal da infância. Isto se dá não meramente pela
frequência de uso que as crianças fazem do brincar, mas principalmente pela influência que
esta exerce no desenvolvimento infantil. Vygotsky (2007) ressalta que a brincadeira cria as
zonas de desenvolvimento proximal e que estas proporcionam saltos qualitativos no
desenvolvimento e na aprendizagem infantil. Leontiev (1994) amplia esta teoria afirmando
que durante a brincadeira ocorrem as mais importantes mudanças no desenvolvimento
psíquico infantil. Para estes autores a brincadeira é o percurso transitório para chegar a níveis
mais elevados de desenvolvimento.
Um outro autor que poderá contribuir para a discussão da brincadeira como algo
imbricado na cultura é o pensador Walter Benjamin. Em seu livro Reflexões sobre o
brinquedo, a criança e a educação (2002), ele analisa os processos de memória dos
brinquedos e do brincar. O autor realiza uma análise histórica apontando para a crescente
massificação própria da evolução industrial, que inscreve o brinquedo em uma dimensão
homogeneizante. A concepção de infância discutida por Benjamin em seus textos é contrária a
uma ideia de que a criança representa o adulto miniaturizado. Para ele, ela é capaz de incluir
lances de pureza e ingenuidade, sem eliminar a agressividade, resistência, perversidade,
humor, vontade de domínio e mando. As imagens de infância construídas pelo pensador são
afirmações de sua potencialidade como sujeitos da história. A criança é parte da humanidade,
fruto de sua tradição cultural, capaz de recriá-la. Para Benjamin, as crianças não falam só do
seu mundo a partir da sua ótica. A partir da apropriação que fazem no contato com o
brinquedo exprime e projeta imagens do tempo futuro.
Ao analisar os brinquedos, Benjamin pontua que através deles podemos compreender
como os adultos se colocam em relação ao mundo das crianças. As crianças respondem aos
brinquedos através do brincar, que dependendo do seu uso, pode propiciar uma mudança na
sua função. Desta forma, os brinquedos representam traços da cultura na qual se inscrevem.
Benjamin escreveu sobre os brinquedos e os livros infantis, onde registrou sua história e
configurações ao longo do desenvolvimento industrial e pós-industrial. O autor chama a
atenção para as transformações do brinquedo a partir da industrialização, que marcou o
distanciamento entre as crianças e seus pais que antes, produziam-nos juntos. Os brinquedos
nasceram nas oficinas de entalhadores de madeira. No decorrer do século XVIII, afloram as
fabricações especializadas nas indústrias. A partir da segunda metade do século XIX os
brinquedos vão tornando-se maiores, perdendo aos poucos o elemento discreto, minúsculo e
agradável. Quanto mais a industrialização avança, o brinquedo vai se impondo, tornando-se
cada vez mais estranho às crianças e aos pais. Assim, os adultos vão impondo a seu modo os
brinquedos às crianças, distanciando-as da riqueza de materiais que eram utilizados em um
tempo onde o processo de produção ligava pais e filhos.
Ainda chamando a atenção para os efeitos dos brinquedos “produzidos em série”
escreve: “[...] quanto mais atraentes (no sentido corrente) forem os brinquedos, mais distantes
estarão de seu valor como instrumentos de brincar” (BENJAMIN, 2002, p.70). O autor
discute também a contextualização das crianças, de seus brinquedos e de suas brincadeiras no
ambiente em que vivem:
[...] as crianças não constituem nenhuma comunidade isolada, mas sim uma parte do
povo e da classe de que provém. Da mesma forma seus brinquedos não dão
testemunho de uma vida autônoma e especial; são, isso sim, um mudo diálogo
simbólico entre ela e o povo. (BENJAMIN, 2002, p.70)
Se no início do século XX, Benjamin já trazia suas reflexões sobre os efeitos do
capitalismo e da industrialização nas brincadeiras das crianças, suas contribuições são
importantes ainda hoje, onde os efeitos deste capitalismo deixam marcas significativamente
mais amplas. Tanto Brougère quanto Benjamin, discutem a questão do brinquedo e do brincar
enquanto produções contextualizadas e historicamente construídas. Benjamin busca fazer um
resgate do brincar tecido por histórias e brinquedos feitos com arte, elaborados pelas mãos das
crianças e dos adultos que a cercam. Faz uma crítica ao distanciamento das formas primitivas
do brincar onde as crianças utilizavam materiais encontrados em seu próprio ambiente. Água,
terra, areia, folhas, pedras, papel, e outros tantos materiais eram utilizados pelas crianças no
exercício de sua invenção.
Brougère (1998), autor contemporâneo, discute questões atuais que se instalaram em
nossa sociedade e da qual não podemos fugir. A globalização, a mídia, o consumo, a
supervalorização do brinquedo que vem subtraindo o espaço do brincar, são questões pontuais
e que precisam ser discutidas por aqueles que educam. Não há como fugir de tais questões.
Porém o que podemos tentar fazer é um resgate da memória do brincar. Brincar este que pode
ser experimentado a partir de inúmeras possibilidades. Porém, jamais deverá ser apagado, pois
se constitui em memórias vivas de um povo, de uma cultura. O brincar é genuinamente uma
atividade infantil, portanto é através da aproximação da criança com seus pares e com a
cultura na qual está inserida, que a transmissão do brincar pode garantir seu lugar. Lugar que
não deve ir de encontro à sua pedagogização, mas caminhar para a riqueza de suas inúmeras
possibilidades de existência.
Fica claro a partir das reflexões trazidas pelos dois autores a relação entre o brinquedo, a
brincadeira e a cultura. Considerando o conceito de cultura enquanto um ato de criação, uma
teia de significados socialmente arranjados e estabelecida entre os homens, a brincadeira
constitui-se culturalmente. Assim, a cultura é produto humano ao mesmo tempo em que é
produtora do humano. O ser humano produz a cultura e esta possibilita a sua existência. As
demarcações da infância são culturais, portanto diferem-se nos mais diversos lugares.
O brincar é considerado uma atividade social e cultural, e este espaço deve ser
construído para e pela criança. O brincar não pode ser pensado nas instituições de educação
infantil como uma atividade de descanso entre uma atividade dirigida ou outra. É muito mais
do que isso. O brincar precisa estar integrado na proposta pedagógica da escola, ocupando um
lugar concomitante a outros, não estando desvinculado das demais atividades da instituição.
Dentro das instituições de educação infantil, a organização da rotina, o espaço, a forma como
são organizados os materiais educativos podem influenciar nas representações e maneiras
como adultos e crianças sentem, pensam e interagem neste espaço. Formas de socialização e
representação da cultura também podem ser concebidas nestes espaços.
Ao se analisar o que as políticas públicas têm sinalizado para o trabalho com a educação
infantil, constata-se que tanto as Diretrizes Curriculares o Referencial Curricular para
Educação Infantil (BRASIL, 1998), como as Diretrizes Curriculares para Educação Infantil
(BRASIL, 2009), assinalam a brincadeira como um dos eixos para o trabalho nesta etapa do
ensino. Nos fundamentos norteadores das Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil,
está previsto que as propostas pedagógicas das instituições devem incluir a ludicidade, a
criatividade e práticas de educação e cuidados, que possibilitem a integração entre os aspectos
físicos, emocionais, afetivos, cognitivo/linguísticos e sociais da criança. O Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil considera a brincadeira como uma linguagem
infantil e ressalta a importância do brincar tanto em situações formais quanto em informais.
Outro aspecto importante a ser examinado na brincadeira infantil e sua função no
desenvolvimento da criança é o conceito de “zona de desenvolvimento proximal”, ou “zona
de desenvolvimento imediato”, em Vygotsky (2007).
“O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança.
No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento
habitual de sua idade, além de seu comportamento diário: no
brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade.
(VYGOTSKY, 2007, p.122).
Para esse autor, o nível de desenvolvimento real refere-se a tudo aquilo que a criança
já tem consolidado em seu desenvolvimento, e que ela é capaz de realizar sozinha sem a
interferência de um adulto ou de uma criança mais experiente. Já a “zona de desenvolvimento
proximal” refere-se aos processos mentais que estão em construção na criança, ou que ainda
não amadureceram. A “zona de desenvolvimento proximal” é, pois, um domínio psicológico
em constantes transformações, aquilo que a criança é capaz de fazer com a ajuda de alguém
hoje, ela conseguirá fazer sozinha amanhã. É nesse sentido que a brincadeira pode ser
considerada um excelente recurso a ser usado quando a criança chega na escola, por ser parte
essencial de sua natureza, podendo favorecer tanto aqueles processos que estão em formação,
como outros que serão completados.
A partir do que foi discutido é possível compreender o papel da brincadeira nas
instituições de educação infantil e a importância em se oferecer às crianças a oportunidade de
conhecerem e reelaborarem as experiências do mundo em que vivem a partir das interações
com as experiências das outras crianças e também dos professores que interagem com elas.
Assim, a atividade de brincadeira constitui-se como uma mola propulsora do processo
de desenvolvimento desta criança, possibilitando também um importante intercâmbio social
para ela que anseia por conhecer o mundo e o faz a partir das interações com as diferentes
infâncias vividas pelo grupo de crianças com a qual convive e também nas interações com os
adultos.
4 A BRINCADEIRA NO CONTEXTO ESCOLAR
É histórica a valorização dada pelas escolas ao brincar. Valorizar neste sentido significa
cada vez mais levar o brinquedo para a sala de aula e também fornecer aos profissionais
conhecimentos para que possam entender o brincar, assim como utilizá-lo para que auxilie na
construção do aprendizado da criança. Para que isso aconteça, o adulto deve se tornar
presente e participar dos momentos lúdicos.
Os profissionais que atuam na educação de crianças deve saber que podemos sempre
desenvolver a motricidade, à atenção e a imaginação delas. Em qualquer época da vida de
crianças e adolescentes e porque não de adultos, as brincadeiras devem estar presentes.
Brincar não é coisa apenas de crianças pequenas, erra a escola ao subsidiar sua ação,
dividindo o mundo em lados opostos: de um lado o jogo da brincadeira, do sonho, da fantasia
e do outro: o mundo sério do trabalho e do estudo. Independente do tipo de vida que se leve,
todos adultos, jovens e crianças precisam da brincadeira e de alguma forma de jogo, sonho e
fantasia para viver.
Brincadeira e aprendizagem são consideradas ações com finalidades bastante
diferentes, no entanto podem dividir o mesmo espaço e tempo desde que a brincadeira seja
realizada de forma direcionada com foco na aprendizagem, afinal é através das brincadeiras
que a criança representa o discurso externo e o interioriza, construindo seu próprio
conhecimento. O adulto transmite à criança uma certa forma de ver as coisas.
Se quisermos que a criança aprenda a observar, se quisermos que ela realmente veja o
que olha, temos que escolher o momento certo para apresentar-lhe o objeto, motivá-la e dar-
lhe tempo suficiente para que sua percepção penetre no objeto. Teremos também que
respeitar o seu interesse.
Insistir quando a criança já está cansada é propiciar o aparecimento de certas reações
negativas. Aprender a ver é o primeiro passo para o processo de descoberta. É o adulto quem
proporciona oportunidades para à criança ver coisas interessantes, mas é indispensável que
respeitemos o momento de descoberta dela para que possa desenvolver a capacidade de
concentração.
Pode-se afirmar que o Brincar enquanto promotor da capacidade e potencialidade da
criança deve ocupar um lugar especial na prática pedagógica, tendo como espaço
privilegiado, a sala de aula. Nesse sentido, muito pode ser trabalhado a partir de jogos e
brincadeiras. Contar, ouvir histórias, dramatizar, jogar com regras, desenhar entre outras
atividades, constituem meios prazerosos de aprendizagem.
À medida que a criança interage com os objetos e com outras pessoas, construirá
relações e conhecimentos a respeito do mundo em que vive. Aos poucos, as escolas, a
família, em conjunto, deverão favorecer uma ação de liberdade para a criança, uma
sociabilização que se dará gradativamente, através das relações que ela irá estabelecer com
seus colegas, professores e outros pessoas.
Para que isso aconteça, a criança não deve sentir-se bloqueada, nem tão pouco oprimida
em seus sentimentos e desejos. Suas diferenças e experiências
individuais devem,
principalmente na escola, ter um espaço relevante sendo respeitadas nas relações com o
adulto e com outras crianças. Brincando em grupo as crianças envolvem-se em uma situação
imaginária onde cada um poderá exercer papéis diversos aos de sua realidade, além de que,
estarão necessariamente submetidas a regras de comportamento e atitude.
Santos (1997) diz que “brincar é a forma mais perfeita para perceber a criança e
estimular o que ela precisa aprender e se desenvolver. Se a escola não atua positivamente,
garantindo possibilidades para o desenvolvimento da brincadeira, ela ao contrário, age
negativamente impedindo que esta aconteça”.
Diante desta realidade, faz-se necessário apontar para o papel do professor na garantia e
enriquecimento da brincadeira como atividade social da infância. Considerando que a
brincadeira deva ocupar um espaço central na educação, o professor é figura fundamental
para que isso aconteça, criando os espaços, oferecendo material e partilhando das
brincadeiras.
Agindo desta maneira, o professor estará possibilitando às crianças uma forma de
assimilar à cultura e modos de vida adultos, de forma criativa, social e partilhada. Estará,
ainda, transmitindo valores e uma imagem da cultura como produção e não apenas consumo.
Devemos ter espírito aberto ao lúdico, reconhecer a sua importância enquanto fator de
desenvolvimento da criança. Seria importante termos na sala de aula um cantinho com alguns
brinquedos e materiais para brincadeiras. Na verdade qualquer sala de aula disponível é
apropriada para as crianças brincarem. Podemos ensinar as crianças também, a produzir
brinquedos. O que ocorre geralmente nas escolas é que o trabalho de construir brinquedos
com sucatas, fica restrito às aulas de arte, enquanto professores poderiam desenvolver
também este trabalho nas áreas de teatro, música, ciências etc, integrando aos conhecimentos
que são ministrados.
A tensão entre o desejo da criança e a realidade objetiva é que da origem ao lúdico
acionado pela imaginação. Assim podemos afirmar que as brincadeiras por abrir espaços para
o jogo da linguagem com a imaginação, se configura como possibilidade da criança forjar
novas formas conceber a realidade social e cultural em que vive, além de servir como base
para a construção de conhecimentos e valores. Isto faz com que o Brincar seja uma grande
fonte de desenvolvimento e aprendizagem.
Nesse sentido, vale relatar uma experiência vivida em uma turma de Educação Infantil
com crianças de 5 anos enquanto estagiário do Serviço Social da Indútria – SESI (2012 –
2013). Assim, com ênfase no artigo 4º das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil (2009), o planejamento escolar visualiza a criança como centro dele, propondo
atividades lúdicas direcionadas com uso de brinquedos e jogos.
Em uma determinada
execução de atividades, as crianças foram levadas para participarem de atividades lúdicas no
pátio da escola. A brincadeira foi a “amarelinha”, esta trouxe momentos de interações bem
significativas em que as crianças interagiam-se umas com as outras e nesta interação, os
colegas mais experientes, iam ensinando a brincadeira para os colegas menos experientes e
dentro de poucos dias todos já sabiam brincar de amarelinha.
A cada dia foi perceptível a necessidade de se investir cada vez mais no brincar, pois, o
ensino sistemático não é o único fator responsável por alargar os horizontes da zona de
desenvolvimento proximal da criança, o brinquedo também é uma importante fonte de
promoção deste desenvolvimento. Já em atividades com material concreto como os
“bloquinhos de montar”, ao observar o comportamento das crianças é bem notável a interação
entre elas e o brinquedo – conversam, riem, gritam... ou seja, a brincadeira infantil constiui-se
numa atividade em que as crianças, sozinhas ou em grupo, procuram compreender o mundo e
as ações humanas nas quais se inserem cotidianamente.
Na concepção de Vygotsky (2007), a criatividade entendida como um processo psíquico
se constrói na criança desde muito cedo e se desenvolve em conjunto com outras funções
superiores, como a imaginação, o pensamento, a memória e a brincadeira e mesmo o
brinquedo não sendo o aspecto predominante da infância, ele exerce uma enorme influência
no desenvolvimento infantil.
A relação da brincadeira e o desenvolvimento da criança permite que se conheça com
mais clareza importantes funções mentais, com o desenvolvimento do raciocínio da
linguagem. Vygotsky (2007) revela como o jogo infantil aproxima-se da arte, tendo em vista
necessidade da criança criar para si o mundo às avessas para melhor compreendê-lo, atitude
que também define a atividade artística.
Sendo a brincadeira resultado de aprendizagem, e dependendo de uma ação
educacional voltada para o sujeito social criança, devemos acreditar, que adotar jogos e
brincadeiras como metodologia curricular, possibilita à criança base para subjetividade e
compreensão da realidade concreta.
É preciso que nós professores nos coloquemos como participantes, acompanhando todo
o processo da atividade, mediando os conhecimentos através da brincadeira e do jogo, afim
de que estes possam ser reelaborados de forma rica e prazerosa. Se os estímulos estiverem
adequados ao estágio de desenvolvimento em que a criança se encontra, as experiências
vividas resultarão em aprendizagens ricas e duradouras.
No contexto escolar, propor brincadeiras como aprendizagem, aproxima-se do trabalho.
Evidencia-se que o brincar transformado em instrumento pedagógico na educação, vai
favorecer a formação da criança para cumprir seu papel social, e mais tarde de adulto. A
hora do intervalo é uma oportunidade para as crianças estabelecerem amizades através da
brincadeira livre. A brincadeira tem sido creditada como um papel central nas amizades. E a
amizade pode ser utilizada, posteriormente, como suporte para o ajustamento escolar em
habilidades comunicativas e sociais e nos trabalhos em classe.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em se tratando do desenvolvimento infantil, o brincar pode ser, sem sombra de
dúvidas utilizado como uma ferramenta para estimular déficits e dificuldades encontradas em
alguns aspectos desenvolvimentais da criança. Nesse sentido, os profissionais que lidam com
estas crianças devem estar atenciosos ao desenvolvimento global infantil e não se deterem a
aspectos isolados, pois todos os aspectos estão interligados e influenciam um ao outro.
No que diz respeito à aprendizagem, utilizar a brincadeira como um recurso é
aproveitar a motivação interna que as crianças têm para tal comportamento e tornar a
aprendizagem de conteúdos escolares mais atraentes. Entretanto, de acordo com as pesquisas
bibliográficas, o meio escolar ainda não está conseguindo utilizar o recurso da brincadeira
como um facilitador para a aprendizagem. Muitas dificuldades e barreiras ainda são
encontradas, tais como a falta de espaço, de recursos e principalmente, de qualificação
profissional.
Pode-se concluir que o reconhecimento da necessidade da introdução do brincar nas
escolas já existe, porém, além do reconhecimento é necessário a utilização prática do brincar
nestes espaços. A utilização do brincar como uma estratégia a mais para a aprendizagem trará
benefícios tanto para as crianças, que terão estratégias mais facilitadoras para a aprendizagem,
quanto para os professores, que poderão utilizar-se de mais um recurso metodológico para
atingirem seus objetivos escolares e a efetivação da aprendizagem significativa seja nas
classes de educação infantil ou fundamental.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo:
Duas Cidades, 2002. (Coleção Espírito Crítico)
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Resolução CNE/CEB 5/2009. Seção 1, p.
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Brasília, 2009.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 1995. Curricular Nacional
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FERREIRA, A. B. H., Dicionário Aurélio Escolar da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Editora Positivo, 2004.
LEONTIEV, A.N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. In: Vygotsky, L. S.;
Luria, A. R.; Leontiev, A. N. (Orgs.), Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São
Paulo: Moraes, 1994.
SANTOS, Marli, dos Pires, Santa- (Org) Brinquedoteca, o Lúdico em diferentes contextos.
Petrópolis, RJ, Vozes, 1997.
VYGOTSKY, L. S. O papel do brinquedo no desenvolvimento. 7ª Ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2007.
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construção do conhecimento na educação infantil: o uso de