Unidade 5 Direitos, cidadania e movimentos sociais Direitos, cidadania e movimentos sociais são temas frequentes nos pronunciamentos e conversas de empresários, governantes e políticos de diferentes partidos, estudantes, trabalhadores... O que esses temas significam para indivíduos pertencentes a grupos tão distintos? Na sociedade atual, os direitos básicos do cidadão devem ser garantidos pelo Estado. Na Antiguidade, alguns povos tiveram suas normas e leis registradas por escrito: No século XVIII a.C., as leis dos babilônios foram registradas no Código de Hamurabi, que reforçou o poder do Estado. No século VI a.C., as Leis de Clístenes definiram as instituições da democracia ateniense. 14 Capítulo Direitos e cidadania Capítulo 14 Coleção particular/Topham Picturepoint/TopFoto/Keystone Direitos e cidadania Os primeiros documentos que os asseguravam direitos humanos foram criados na Inglaterra: Magna Carta (1215-1225); Petition of Rights (1628); Bill of Rigths (1689); Parlamento inglês na época de Guilherme III, proclamado rei em 1689, depois de ter assinado a Bill of Rights. Ilustração de autoria desconhecida (s.d.). Act of Settlement (1707); Habeas Corpus Amendment Act (1769). 14 Capítulo Direitos e cidadania Direitos para todos Os documentos originados da Revolução Francesa (1789) e da independência dos Estados Unidos (1776) são a base da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, criada em 1948. Influenciada pelas atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, a declaração estendeu a liberdade e a igualdade de direitos nos campos econômico, social e cultural a todos os seres humanos. 14 Capítulo Direitos e cidadania Todos nascem livres e iguais... mas nem tanto Para o inglês Thomas Hobbes (1588-1679), os seres humanos são naturalmente iguais e lutam uns contra os outros pela defesa de interesses individuais. Hobbes acreditava que, para evitar a autodestruição, todos os membros da sociedade deveriam renunciar à liberdade e dar ao Estado o direito de agir em seu nome e coibir todos os excessos. 14 Capítulo Direitos e cidadania Segundo o inglês John Locke (1632-1704), somente os homens livres e iguais podem fazer um pacto com o objetivo de estabelecer uma sociedade política. Para ele, homens livres e iguais são aqueles que têm alguma propriedade a zelar. Para o francês Jean-Jacques Rosseau (1712-1778), a igualdade só tem sentido se for baseada na liberdade. Mas a igualdade só pode ser jurídica. 14 Capítulo Direitos e cidadania Como a sociedade capitalista funciona e se desenvolve movida pela desigualdade, a liberdade foi apregoada como o maior valor, deixando-se a igualdade de lado. Thinkstock/Getty Images No final do século XVIII e no século XIX, a igualdade propalada por muitos era uma grave ameaça aos privilégios sociais da burguesia e da aristocracia, que se mantinham no poder. 14 Capítulo Direitos e cidadania Segundo Karl Marx, a ideia de democracia passaria pelo critério da igualdade social, que só uma revolução social poderia tornar realidade. Para Émile Durkheim, a ideia de cidadania está vinculada à questão da coesão social estabelecida com base na solidariedade orgânica. Ao participar da solidariedade social, levando em conta as leis e a moral vigentes na sociedade, o indivíduo desenvolve plenamente sua cidadania. 14 Capítulo Direitos e cidadania Direitos civis, políticos e sociais Na década de 1960, o sociólogo inglês T. H. Marshall analisou a relação entre cidadania e direitos no contexto da história. Direitos civis Com a formulação dos direitos civis, nos séculos XVII e XVIII, procurava-se garantir a liberdade religiosa e de pensamento, o direito de ir e vir, o direito à propriedade, a liberdade contratual e a justiça. No entanto, a cidadania era restrita, pois esses direitos não se estendiam a todos. The Bridgeman Art Library/Keistone Direitos políticos 14 Capítulo Direitos e cidadania Envolvem os direitos eleitorais, de participar de associações políticas e de protestar. No século XVIII, movimentos populares começaram a reivindicar esses direitos, que só se efetivaram em alguns países no século XX, quando o direito de voto foi estendido às mulheres. Propaganda antissemita de candidato às eleições de 1889, na França. Exercício dos direitos políticos contra os direitos civis. 14 Capítulo Direitos e cidadania Gentilmente cedido por Radar Comunicação Direitos sociais No século XX, as pessoas passaram a ter direito a educação básica, programas habitacionais, assistência à saúde, transporte coletivo, sistema previdenciário, acesso ao sistema judiciário, etc. No século XXI, consolidam-se os direitos dos idosos, mulheres, crianças, etc. E aparecem outros, difusos, como os direitos dos animais ou da natureza em geral. Cartaz do Dia Internacional da Água, 2005. 14 Capítulo Direitos e cidadania Os direitos civis, políticos e sociais estão assentados no princípio da igualdade, mas não podem ser considerados universais, pois são vistos de modo diferente em cada Estado e em cada época. Cabe lembrar que há uma diversidade de sociedades nas quais os valores, os costumes e as regras sociais são distintos daquelas que predominam no Ocidente. Ser cidadão é ter a garantia de todos os direitos civis, políticos e sociais que asseguram a possibilidade de uma vida plena. Iugo Koyama/Editora Abril Cidadania hoje 14 Capítulo Direitos e cidadania Minas Gerais: manifestação pelas eleições diretas em 1984. A sociedade se mobiliza e exige o direito de participação política. A cidadania é construída em um processo de organização, participação e intervenção social de indivíduos ou de grupos sociais. 14 Capítulo Direitos e cidadania As duas cidadanias Thinkstock/Getty Images A análise da evolução da cidadania proposta por T. H. Marshall não é suficiente para explicar sua dinâmica na sociedade contemporânea. Como alternativa a essa classificação, podemos pensar em dois tipos de cidadania: 14 Capítulo Direitos e cidadania André Sarmento/Folha Imagem a cidadania formal é aquela que está nas leis, principalmente na constituição de cada país; Tribunal de Justiça, São Paulo, 2004. A cidadania formal estabelece a igualdade de todos perante a lei e garante ao indivíduo a possibilidade de lutar judicialmente por seus direitos. 14 Capítulo Direitos e cidadania Oscar Cabral/Editora Abril a cidadania real é a que vivemos no dia a dia e demonstra que não há igualdade fundamental entre os seres humanos. Moradores de rua em sepultamento de vítima da chacina da Candelária, no Rio de Janeiro, em 1993. Nem todos conseguem ter os direitos básicos garantidos, como o direito à vida e o direito de ir e vir. Maya Vidon/Epa/Corbis/Latin Stock França, 2007: ativistas denunciam a violação dos direitos humanos na base naval dos Estados Unidos em Guantánamo, Cuba. Manifestação organizada pela Anistia Internacional. 14 Capítulo Direitos e cidadania A defesa dos direitos humanos convive com sua violação. A coerência entre os princípios e a prática dos direitos humanos só será estabelecida se houver uma luta constante pela sua vigência. Direitos só se tornam efetivos quando são exigidos e vividos cotidianamente. Capítulo 14 Direitos e cidadania Exercícios 1. Leia o texto abaixo. Se estou certo ao afirmar que a cidadania tem sido uma instituição em desenvolvimento na Inglaterra, pelo menos desde a segunda metade do século XVII, então é claro que seu crescimento coincide com o desenvolvimento do capitalismo, que é o sistema não de igualdade, mas de desigualdade. T. H. Marshall. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. p. 76. 14 Capítulo Direitos e cidadania 2. Junte-se a um colega e respondam às questões abaixo, propostas por T. H. Marshall: a) Como é possível que o capitalismo e a cidadania cresçam e floresçam, lado a lado, no mesmo solo? b) O que fez o capitalismo e a cidadania se reconciliarem e se tornarem, ao menos por algum tempo, aliados em vez de antagonistas?