hipertexto
Sabrina Feijó/Hiper
Eles
são
demais
Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, junho de 2007 – Ano 9 – Nº 56
Super-heróis
encantam
a todos
Pág. 11
Sabrina Feijó/Hiper
Carbon Free
A convivência
possível da
economia
e ambiente
Ações ecológicas para compensar
os efeitos da poluição provocada
Página 3
“Só a juventude
pode mudar
a política
no Brasil”
Página 2
Nicolas Gambin/Hiper
Autores clássicos reaparecem como
personagens na literatura moderna
Professores de Letras analisam tendência na elaboração de obras de ficção
William Waack em Porto Alegre
Página 6
Jefferson Bernardes/Vipcomm
Esporte
Grêmio vence
o tira-teima
no Beira-Rio
O campeão da
Tríplice Coroa perde
para o vice da
Libertadores por 2 a 0
pelo Campeonato
Brasileiro
Página 9
Brasil participa
do Pan com
699 atletas
Página 8
2 opinião
Porto Alegre, junho de 2007
hipertexto
Editorial
Mensagem simples: preservar
Fala-se – e nós mesmos falamos
– tanto em violência, com relação a
medo e insegurança, mas pouco, ou
não o suficiente, sobre as pequenas
violências que cometemos no diaa-dia. Um papel de bala no chão,
uma embalagem plástica no lixo
orgânico, um chiclete no canteiro
do vizinho. Essas atitudes que parecem, a princípio, tão irrelevantes
e desimportantes são, na verdade,
maus tratos ao meio ambiente.
Neste mês, tivemos o Dia
Mundial do Meio Ambiente (5 de
junho) e muito se tratou sobre o
tema. No entanto, parece que o
assunto fica restrito às grandes
catástrofes. Não que nós não devamos nos importar e informar sobre
o aquecimento global ou o efeito
estufa. De forma alguma devemos
deixá-los de lado. Mas por que não
trazer mais vezes à tona a coleta
seletiva do lixo? Ou incentivar o
reaproveitamento de papel?
Tanto a mídia como o gover-
no externam mais preocupações
com as conseqüências de maiores
proporções, enquanto as pequenas
violências contra o ambiente continuam a passar despercebidas. O
fato de a dona Maria não separar lixo
orgânico e seco em
casa não vai se tornar manchete de
capa de um jornal,
porém educá-la
para realizar essa
tarefa pode ser
de grande ajuda.
Imprensa e governantes devem estar
atentos aos deveres sociais com os
quais podem contribuir. De um
lado, divulgando e instruindo, do
outro, educando e proporcionando
a estrutura. Por exemplo, reportagens relacionadas à economia
doméstica aliada a consciência
ambiental e programas de conscientização nas escolas públicas e
a organização de cooperativas para
reciclagem são medidas passíveis
de serem tomadas pela mídia e
governo respectivamente.
Pensando localmente, é absurdo que não haja
coleta seletiva em toda
Porto Alegre. Uma
capital com 1.360.590
habitantes (conforme
censo demográfico
do IBGE de 2000)
produz toneladas de
lixo por semana e não
dispõe de coleta seletiva em todos os bairros.
E quando um bairro
é privilegiado em contar com o
serviço, há moradores que não desempenham seu dever tão simples
de separar lixo seco e orgânico.
Por isso é preciso perceber o
que cada cidadão pode fazer para
contribuir para a complexa tarefa
de salvar o planeta. Uma só pessoa
não tem o poder de solucionar o
Dominique Wolton
defende a teoria
da coabitação
aquecimento global, mas pode
deixar o carro aos domingos em
casa para poluir menos a cidade.
Talvez não faça muita diferença,
mas seria um hábito saudável para
ela e para o ambiente que, a longo
prazo, contribui para a preservação do ambiente. Sozinhos, não
evitaremos grandes catástrofes,
mas juntando atitudes positivas
podemos construir esperanças de
solução destes problemas. Se não
é possível mudar o macro, que
trabalhemos para ajudar no micro
ambiente que nos cerca.
Esta é uma mensagem bastante
simples para um problema tão
difícil. Preservar o meio ambiente é uma tarefa diária e que não
exige conhecimentos científicos
ou experimentos em laboratórios.
Pequenas atitudes contribuem para
o todo. Fica a proposta de estender
o Dia Mundial do Meio Ambiente
a todos os dias do ano.
Brenda Parmeggiani, editora
Brenda Parmeggiani
Auditório da Famecos lotado
para palestras com personalidades
da área da Comunicação tem se tornado um hábito. E não foi diferente
em 28 de maio, quando o sociólogo
e pesquisador francês Dominique
Wolton esteve na faculdade. Mais de
300 alunos tomaram o salão, sentados nas poltronas e nos corredores,
de pé ou apertados na entrada.
Wolton tratou das tendências
da Comunicação, defendendo uma
teoria de negociação e coabitação.
“Comunicação é relação. O ato de
comunicar é principalmente cohabitar”, definiu.
O sociólogo vê na Comunicação
uma questão política e que, portanto,
não há democracia sem ela. Seduzir,
convencer e compartilhar apenas
não funciona: “É preciso aceitar que
podemos coabitar mesmo não concordando uns com os outros”.
Cabe aos jovens mudar o rumo da política nacional
Guilherme Zauith
O sóbrio jornalista engravatado
que apresenta o Jornal da Globo
estava despojado, solto. William
Waack começou macio na palestra
realizada no auditório da Faculdade
de Direito da UFRGS. Vestia jeans
e uma camisa azul. Ao brincar que
se sentia em um conclave, por estar
sentado na cadeira antiga do auditório, mostrava um pouco da ironia
que aumentaria. O jornalista crê
que a melhor maneira de quebrar a
incompreensão mútua é o diálogo.
Portanto, falava como pessoa e não
como apresentador e prestador de
serviço da Globo.
Há um grande nível de desigualdade no país, apesar da propaganda
contrária do Governo, disse William
Waack. “A burocracia travada no seu
pior sentido, apesar de ser um país
relativamente jovem. O Brasil envelhece mais depressa do que a minha
geração pensou que envelhecería-
mos”. Questionou a platéia sobre
o futuro e se ela o esperava? “Nós
sempre achamos que o futuro será
melhor. Falamos do país do futuro
há muitas gerações. Os argentinos
sempre olham para trás. Para eles, o
passado foi sempre melhor. Por isso,
fazemos piada”, completou.
Waack acredita que o país precisa
de reformas profundas. “Devemos
mudar as instituições políticas.”
Como repórter, aprendeu que o mais
importante é o que as pessoas têm na
cabeça e fazem da realidade. “Os fatos existem porque as pessoas fazem,
criam e interpretam suas versões e
agem de acordo com suas interpretações. A maneira como nós, no Brasil,
combinamos como devemos fazer as
coisas, está errada”, observou.
Memória limitada
“Quem aqui lembra em que deputado votou em outubro?” Poucas
mãos envergonhadas se manifestaram no ar, menos da metade. Waack
Mãos à obra
Nos minutos finais, Waack criticou a economia brasileira. Questionou como “defender um regime
capitalista mais aberto. Se funciona
assim tão bem para as empreiteiras,
com reservas de mercado estabelecidas, ausência de competição e
excesso de competição que funcione
a meu favor. O governo não deixa
que agências reguladoras tomem
Hipertexto
Jornal mensal da Faculdade de Comunicação
Social (Famecos) da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto
Alegre, RS, Brasil.
E-mail: [email protected]
Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php
Reitor: Ir. Joaquim Clotet
Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira
Nicolas Gambin/Hiper
insistiu: “Legal depois dizer que os
políticos são safados, corruptos,
vagabundos. Com que moral vocês
podem cobrar alguma coisa de alguém em Brasília?”.
Ele explica que a política, hoje,
deixou de ser um embate de idéias,
para ser acomodação de grupos de
interesses. “O presidente Lula acredita que estamos em um grande barco
eleitoral, contanto que cada um leve
uma parte e não encha o saco. Isso é
um grande cheque em branco para a
geração de vocês”, ponderou.
Waack conclamou jovens gaúchos a mudar o País e modo de pensar
conta disso, toda a ação política de
economia é eleitoral”. Sobre a arrecadação de impostos, é pessimista. “O
principal objetivo é a perpetuação
do mesmo grupo de interesse no
poder.” Entende que se a mudança
não começar pela política, não vamos chegar a lugar algum: “A única
possibilidade de fazer isso andar, é
abandonar a ilusão de que tem um
salvador da pátria. Se não entendermos que devemos mudar a maneira
como pensar, não estaremos em
situação diferente no final de 2008”.
Cético, deixou a a solução a cargo
dos jovens. “Vocês deverão começar
o processo e mudar a maneira como
pensam. Mão à obra”, conclamou.
Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000
Diretora da Famecos: Mágda Cunha
Coordenadora/ Jornalismo: Cristiane
Finger
Produção dos Laboratórios de Jornalismo
Gráfico e de Fotografia.
Professores Responsáveis:
Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação
e edição), Celso Schröder (arte e editoração
eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo).
ESTAGIÁRIOS:
Editores: Brenda Parmeggiani, Lidiana de
Moraes e Susy Sousa
Editores de Fotografia: Fernanda Fell
Editores de Arte: Brenda Parmeggiani, Juliana
Borba, Manuela Kanan e Sabrina Silveira
Repórteres: Bernardo Biavaschi, Brenda
Parmeggiani, Bruna Holler Petry, Cecília
Mombelli, Daniela da Silva Cenci, Fernando
Rotta Weigert, Giovanna Milani, Guilherme
Zauith, Laion Espíndula, Lidiana de Moraes,
Márcia Milani Soares, Maria José Mendes da
Silva, Mariana B. Soares, Patrícia Lima, Rafael
de Lemos Vigna, Sabrina P. Silveira, Susy Sousa, Tatiana Feldens, Thais Silveira e Vinícius
Roratto Carvalho
Repórteres Fotográficos: Carla Ruas,Caroline
Bicocchi, Fernanda Fell, Giovana Milani, Juliana Freitas, Luciana Nunes, Manuela Kanan,
Ricardo Romanoff, Sabrina Feijó, Taidje Gut,
Thiago Marques e Vinicius Carvalho
hipertexto
sociedade 3
Porto Alegre, junho de 2007
Fernanda Fel/Hiper
Carbon Free
Ambiente e economia
podem andar juntos
Empresas promovem ações ambientais para compensar
a emissão de carbono e outros poluentes na natureza
Mariana Bairle Soares
Os organizadores do Donna
Fashion Iguatemi, evento de moda
realizado, em Porto Alegre, em abril,
vão plantar 346 árvores, em outubro,
em áreas ciliares degradadas da Mata
Atlântica e também na região de
Porto Alegre. Embora pareça estranha essa informação, o compromisso foi assumido pela produção dos
desfiles na passarela do Shopping
Iguatemi e deverá ser, como foi
amplamente anunciado, o primeiro
evento de carbon free no Estado. O
carbon free é um certificado concedido a empresas ou organizações
que tomam iniciativas para reduzir
a emissão de carbono na atmosfera.
Este é o objetivo do compromisso
assumido pela produção do Donna
Fashion: plantar árvores para reduzir
o impacto do CO2 liberado pelas
ações do evento.
A comercialização de créditos
de carbono é um dos mecanismos
que permitem aliar desenvolvimento
econômico e meio ambiente. “As
empresas se deram conta de que é
possível obter lucro cuidando do
meio ambiente ao mesmo tempo,
o que foi uma grande quebra de
paradigma. Mas esse apoio não viria
simplesmente de forma voluntária
e altruísta. “Elas precisavam ter
algum retorno e a implantação dos
créditos de carbono veio ao encontro disso”, garante o geólogo e
professor da PUCRS, João Marcelo
Ketzer, doutor em Geociências pela
Universidade de Uppsala, na Suécia,
e pós-doutor pelo Instituto Francês
do Petróleo.
“Algumas empresas se deram
conta, até em razão do chamado
ecomarketing, que a questão ambiental também é importante do
ponto de vista da imagem corporativa, da credibilidade da empresa e
dos mercados que ela pode acessar”,
acrescenta o professor de Economia
e Meio Ambiente da PUCRS, Osmar
Tomaz de Souza. Contudo, ele pensa
que ainda há muito a ser feito por
parte das empresas.
As pesquisas sobre meio ambiente já chegam a 20 milhões de
anos e concentração de CO2 na atmosfera aumentou 31% nos últimos
250 anos. A queima de combustíveis
fósseis é responsável por três quartos das emissões, informa Souza. No
caso brasileiro, a preocupação com
as questões ambientais se deu, segundo ele, apenas na última década,
embora em outros países do mundo
já houvesse discussões a respeito
desde os anos 70.
O economista aponta que o
grande entrave da questão ambien-
tal é a disparidade entre o padrão
de consumo dos países ricos e dos
países pobres. Esse é um grande
problema, porque se os menos favorecidos tentassem acessar um padrão
equivalente ao dos Estados Unidos,
por exemplo, seria inviável ambientalmente. “O problema maior não é
temos muita gente no Planeta, mas
porque grande parte da população
não pode ter acesso às tecnologias
que gostaria. Não adianta acharmos
que cada chinês poderá ter um carro
e vários televisores, como os americanos, porque é impossível. A Terra
não comporta. Mas por que nem todos podem ter o padrão de consumo
americano não dá para renegar os
demais à pobreza e à miserabilidade.
É um tipo de solidariedade que tem
que ser global”, diz.
Um automóvel, por exemplo,
segundo João Marcelo Ketzer, emite
cerca de uma tonelada ao ano de
CO2. Um vôo internacional – distâncias mais longas -, por sua vez,
consome de duas a três toneladas de
CO2 por viagem. Um trecho menor,
dentro do mesmo país, emite cerca
de 300 quilos de CO2. Mas essas
emissões acontecem a todo tempo
– pelo simples fato de acender uma
lâmpada já se está aumentando a
quantidade de gases causadores de
efeito estufa na atmosfera.
Fotos Vinícius Carvalho/Hiper
Desfile Donna Fashion vai compensar poluição com plantação de árvores
Oportunidade para o Brasil
Especialistas alegam que negócios com créditos de carbono
podem ser uma oportunidade única
em termos de lucratividade aos
países em desenvolvimento que
implantam Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). O Brasil
tem potencial para movimentar US$
1,2 bilhão em créditos de carbono
em 2012, segundo cálculo do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), publicado
no Jornal do Comércio de 15-17 de
junho último.
O Brasil é o terceiro país do
mundo em quantidade de projetos
de MDLs. São 222 empreendimentos brasileiros registrados, diante de
636 da Índia e 483 da China. No
País, São Paulo é o campeão, com
25% dos projetos nacionais. Minas
Gerais vem a seguir com 14%, Rio
Grande do Sul e Mato Grosso, 9%
cada um e Paraná e Goiás, na ordem
de 6%. Dentre os 222 projetos nacionais, 134 estão ligados a geração
de energia, 37 relacionam-se à suinocultura e 25 a aterros sanitários.
O principal problema ainda é a falta
de informação e conhecimento por
parte das empresas de que podem se
beneficiar com ações ambientais.
Protocolo de Quioto quer melhorar o clima do planeta
O Protocolo de Quioto, firmado
em dezembro de 1997, visa melhorar o clima do planeta na próxima
década. A resolução determina que
países desenvolvidos reduzam em
5,2% a emissão de gases causadores
do efeito estufa em relação a 1990
(13,7 bilhões de toneladas de CO2
eram emitidos neste ano). Os países
têm até 2008 para implantar projetos
e tecnologias capazes de atingir esse
objetivo e até 2012 para comprovar
a redução. Isso significa que é esperada uma diminuição de, no mínimo,
714 milhões de toneladas de CO2
por ano.
O acordo estimula as nações a
cooperarem entre si através de algumas ações, destacando-se o incentivo econômico, com a viabilidade
de compra e venda de créditos de
carbono. Existem três instrumentos
para o cumprimento das metas: Implementação Conjunta, Mercado de
Emissões e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Os dois
primeiros são aplicados nos países
desenvolvidos, enquanto o terceiro
é restrito aos em desenvolvimento.
O mercado de carbono funciona
através da comercialização de certificados de emissões de gases em
bolsas e fundos e é regulamentado
pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A distinção entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento se justifica porque os mais
pobres ainda precisam crescer e a
emissão de gases muitas vezes é uma
conseqüência. “Não dá para exigir
da Índia, onde metade da população
é miserável, que reduza a emissão. O
mesmo com o Brasil. Seria penalizar
demais países que já são pobres e
precisam se desenvolver, os mais
ricos já emitiram muito na sua história”, explica o professor Osmar
Tomaz de Souza.
A operacionalização da emissão
de créditos de carbono se dá através
da elaboração de um projeto que
é analisado e, se comprovado que
ocorre a diminuição na emissão de
gases poluentes, a empresa passa a
adquirir o certificado, o qual poderá
ser comercializado posteriormente.
No Brasil, existe uma Comissão Interministerial de Mudança Global do
Clima, que atua juntamente a ONU
e intermedia esse processo.
A comercialização já ocorre na
Bolsa de Chicago, Canadá, República Tcheca, França, Alemanha, Japão,
Holanda, Noruega e Suécia. Cada
tonelada de CO2 corresponde a um
crédito de carbono. Mesmo outros
gases são convertidos para equivalência em carbono. O processo de
compra e venda se dá por meio de
projetos que podem estar ligados
a reflorestamentos, ao desenvol-
vimento de energias alternativas,
eficiência energética, controle de
emissões etc – quaisquer medidas
que comprovadamente reduzam a
emissão de poluentes.
Estima-se que esse mercado deva
movimentar 10 bilhões de dólares ao
ano. Os principais compradores
dos créditos de carbono são Japão,
Holanda, Reino Unido e União Européia, enquanto entre os principais
ofertantes de MDL inclui-se o Brasil,
com 13% do total de projetos em
esfera mundial, atrás apenas da Índia
(31%) e China (14%).
O geólogo João Marcelo Ketzer
garante que, cientificamente, o princípio da comercialização de créditos
de carbono pode ser aplicado com
eficiência. “O impacto das emissões
é global. Tanto faz onde elas são
produzidas ou mitigadas”, explica.
O problema é que o protocolo
possui metas pouco efetivas na taxa
de redução de CO2 prevista. “O
protocolo, assinado em 1997, prevê
diminuição de 5,2% das emissões em
relação a 1990, ou seja, os índices de
redução já estavam defasados”. Para
ele, é preciso desenvolver alternativas para a redução na emissão de
gases em curto espaço de tempo.
“Talvez os mecanismos do protocolo de Quioto não sejam suficientes
para atender essa demanda”, admite
o geólogo.
Existem pequenas medidas
que podem ser adotas em casa
e nas empresas que contribuem
para preservação ambiental. São a
separação e reciclagem do lixo, uso
racional da água, utilização de energias renováveis, troca de lâmpadas
incandescentes pelas fluorescentes,
evitar deixar ligados computadores,
lâmpadas ou demais equipamentos
desnecessárias durante a noite, entre
outras ações.
4 últimas
Porto Alegre, junho de 2007
recortes
Tatiana Feldens
Repórter: uma
profissão de risco
Fenaj denuncia
violência no Brasil
Pelo menos 59 jornalistas
foram mortos nos últimos meses,
segundo a World Association of
Newspapers (WAN), entidade que
representa 18 mil jornais no mundo inteiro. De acordo com a associação, jornalistas de vários países
enfrentam cenários perturbadores,
marcados por ataques, prisões e
assassinatos. Pelo o que se pode
ver, a impunidade ainda prevalece mundo afora, principalmente
nas Américas Central e Latina
e também no Iraque, devastado
pela guerra. Dos 59 profissionais
assassinados desde novembro
de 2006, 26 perderam a vida no
Iraque, dois no Brasil.
A Federação Nacional dos
Jornalistas (Fenaj) lançou, no início
do mês, relatório sobre violência
que atingiu a imprensa no Brasil.
A pesquisa registra 68 agressões
a profissionais e à imprensa e seis
casos sobre coberturas de risco,
arquivamento de processo e julgamentos relativos ao ano passado.
A violência contra a imprensa
atinge números preocupantes. Em
2006, quatro profissionais da área
foram assassinados, o dobro do
ano anterior. Houve, ainda, sete
atentados e sete casos de ameaças,
além do seqüestro da equipe da TV
Globo. O relatório define o Brasil
como local perigoso.
hipertexto
Estudantes da Famecos
dão show em Gramado
Por Ricardo Romanoff
Mais de 20 professores, alunos e
funcionários da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) ocuparam
estande de 80 metros quadrados, no
16º Festival Mundial de Publicidade
de Gramado, realizado de 13 a 15
de junho. O objetivo era aproximar
o curso de Publicidade e Propaganda (PP) dos participantes. Um
dos destaques foi o lançamento da
publicação Portfolio 2006, que reúne
as peças produzidas nas disciplinas
de PP.
As oficinas de Criação Publici-
tária, Cinema, Mídia Digital e Foto
Publicitária, dirigidas por docentes
da Famecos, tiveram grande procura,
as vagas esgotaram no primeiro dia
do festival.
Outra atividade que se tornou
uma atração do estande foi “Som da
Lata”, em que era possível conceber
uma trilha sonora de 30 segundos de
duração, mesmo sem conhecimentos técnicos de música.
Duas televisões de plasma fizeram parte da estrutura montada em
Gramado, apresentando 10 filmes
realizados pelos alunos do curso
superior de Tecnologia em Produ-
ção Audiovisual, Cinema e Vídeo
(Teccine) e 23 vídeos criados por
alunos de PP.
O curso de Jornalismo esteve
presente com a cobertura dos repórteres da Cyberfam e do Centro de
Produção Multimídia, que fizeram
entrevistas e reportagens. Uma equipe de alunos e professores produziu
duas edições de jornal sobre o festival que circulou pelas dependências
do Serra Park, local do evento. A
impressão do material se deu no estande, por meio de equipamentos da
parceria da Famecos com a empresa
HP, iniciado no ano passado.
Ricardo Romanoff/Hiper
Faltam recursos e liberdade na TVE
E, não é que a crise chegou ao Estado! Funcionários da Fundação
Cultural Piratini divulgaram manifesto público expressando sua preocupação com o futuro da TVE e da FM Cultura. Segundo o manifesto,
a emissora sofre com falta de pessoal, de combustível e com censura ao
exercício do jornalismo.
Exemplo denunciado: a cobertura envolvendo as acusações do vicegovernador Paulo Feijó sobre irregularidades na gestão de Fernando
Lemos na presidência do Banrisul. Do lado do denunciante, nenhuma
palavra foi dita. Já do acusado...muitas.
Acredite: continuamos bem vivos
Apesar destes indícios de cerceamento da liberdade de imprensa e
do aumento da concorrência das novas mídias, a circulação de jornais
no Brasil cresceu 6,5% em 2006. O aumento coloca os leitores brasileiros em segundo lugar, com 48 minutos diários de leitura de jornais,
perdendo apenas para os belgas, com 54 minutos por dia. Segundo dados
divulgados pela Associação Mundial de Jornais (WAN), o crescimento
nacional superou o índice mundial, que bateu os 2,3% de crescimento,
assim também como o da América do Sul, que cresceu 4,6%.
Alunos de PP da Famecos exibem talento em Festival de Publicidade na Serra, neste mês de junho
Fernanda Fell/Hiper
Surpreenda-se – Esta
foi a temática da 28ª Mostra de
Talentos em Relações Públicas,
realizada em 18 de junho, no espaço de exposições do prédio 41
do campus da PUCRS. Evento
semestral, apresentou trabalhos
de planejamento realizados por
alunos de RRPP para instituições
públicas e privadas.
Alunos do Jornalismo vão estudar em Portugal
Da Redação
Consciência
ambiental
Surfando
na rede
Os brasileiros estão entre
os que mais se preocupam com
o clima no mundo. Pesquisa de
opinião do Instituto para Mudança Ambiental da Universidade de
Oxford, no Reino Unido, aponta
que o público apreensivo com
assuntos como a emissão de gases
estufa triplicou nos últimos seis
meses. As mudanças climáticas
preocupam 16% dos entrevistados
de 47 países. Em 2006, o número
era apenas 7%.
O internauta brasileiro bateu
o recorde histórico de tempo de
acesso na Internet em abril de
2007. Ficou em média 21 horas
e 44 minutos navegando. Os 25
milhões de brasileiros que acessam
a internet de casa navegaram 49
minutos a mais do que em março
– aumento de 3,9%.
A primeira vez que o país chegou ao topo da lista foi em abril de
2005, com 15 horas e 14 minutos
online.
Seis alunos do curso de Jornalismo da Famecos vão cursar o segundo semestre em Portugal, como
resultado do convênio da PUCRS
com a Universidade Católica Portuguesa. As vagas foram oferecidas
em maio para os cursos de Comunicação Social e Letras.
O Programa de Mobilidade
Acadêmica, disponibilizado pela
Assessoria de Assuntos Internacionais da PUCRS, permite aos
estudantes cursarem um semestre
em instituições de vários países, pagando apenas a mensalidade daqui.
No caso da Católica Portuguesa,
a combinação é restrita à área de
comunicação social.
Depois do processo de seleção,
que inclui o coeficiente do histórico escolar, dinâmica em grupo e
uma redação – espécie de carta de
apresentação – os estudantes escolhem as disciplinas que poderão ser
aproveitadas no currículo escolar,
como eletivas ou obrigatórias. “Os
textos foram muito elogiados pelos
professores de lá”, comemora Cristiane Finger, coordenadora do curso
de Jornalismo. Aline Feijó Bianchini,
Ana Carolina Pan, Diego de Carli
Alves, Luiza Fedrizzi Machado, Luiz
D’Ávila Cabral e Tiara Vaz Ribeiro
são os selecionados para o desafio
no próximo semestre.
A Licenciatura em Comunicação
Social e Cultural habilita o formando
a trabalhar em rádio, jornal, televisão
e Internet, em atividades de publicidade, marketing e programações
culturais, como bibliotecas e museus. O curso pertence à Faculdade
de Ciências Humanas, junto com
Filosofia, Línguas Estrangeiras, Sociologia, Serviço Social e Relações
Internacionais.
A Universidade Católica Portuguesa foi criada em 1967, sob o
comando da Igreja Católica, com
campi em Beiras, Braga, Porto e
Lisboa, onde os alunos estudarão.
Entre as matérias selecionadas,
estão comunicação televisiva, comunicação radiofônica, aproveitadas
como projetos, jornalismo de investigação, geopolítica e geoestratégia,
antropologia filosófica e literatura
e mídia.
As aulas começarão no dia 13
de setembro e terminarão em 1º de
fevereiro. Por enquanto, os estudantes esperam toda a documentação
burocrática e organizam os preparativos. “Estamos vendo todos os
papéis para o visto”, comenta Diego.
Além disso, é preciso definir a hospedagem. “Ainda falta o lugar para
ficar, decidir se todos vão ficar juntos. Provavelmente vai ser na cidade
universitária”, planeja Aline.
hipertexto
economia 5
Porto Alegre, junho de 2007
Tecnopuc amplia os horizontes
Parque Tecnológico da PUCRS propõe o desenvolvimento da universidade e empresas na região
Maria José Mendes da Silva
O Parque Tecnológico (Tecnopuc) é a conseqüência da relação
entre a universidade e empresa,
formada nos corredores e salas
de aula da PUCRS. O objetivo do
projeto é aprimorar as atividades de
pesquisa, fazendo da universidade
uma referência nacional e trazendo
vantagem competitiva aos acadêmicos envolvidos. Essa demanda
empreendedora da sociedade buscou na PUCRS uma base para o seu
desenvolvimento e a resposta foi
positiva para ambos. Universidade
e empresas se complementaram e o
Tecnopuc teve êxito.
O diretor do Parque, professor
Roberto Moschetta, afirma que
uma universidade se mantém pela
relação entre ensino, extensão e
pesquisa. Na início do projeto, em
1998, a graduação e as atividades
complementares da PUCRS já estavam estruturadas, o próximo passo
para a busca de excelência para a
instituição seria o fortalecimento
da área de pesquisa que, de acordo,
com Moschetta, iria exigir maiores
investimentos.
Em dezembro de 1999, foi criada a Agência de Gestão Tecnológica
e de Propriedade Intelectual (AGT)
para proporcionar o crescimento das
relações institucionais da universidade com empresas. Com essa ligação,
surgiu a necessidade de aproximar os
empreendedores e a instituição. Para
sanar essa insuficiência, ambientes
acadêmicos foram transformados
em espaços empresariais.
O projeto ampliou as parcerias
com empresas ao longo dos últimos
anos. A área que integra o Parque
foi adquirida do Exército em 2001 e
suas antigas instalações reformadas,
adequando-as às necessidades das
modernas operações de pesquisa.
O Tecnopuc conta, hoje, com
38 empresas e entidades instaladas
– desde grandes empresas atuantes
no mercado mundial a pequenas
empresas que se desenvolvem através da Incubadora Tecnológica
Raiar – e mais de 2500 pessoas
envolvidas. “A missão e negócio
do empreendimento é formar um
habitat de pesquisa e inovação, de
interação entre a universidade e a
Empresas instaladas privadas
Agrodigital
4TI
AJE
Assespro
CEITEC
Compasso
Conex Security
Conectt
CPM
DBServer
Dell Computer
Embratec
Engeltec
FAJERS
GetNet
Hewlett & Packard
Innalogics
Inpar
KW Informática
Lifemed
Krieser
Microsoft
Mobisol
Netwall
Onbiz
Oz Engenharia
Perfecnet
PMI
Processor
PowerSysLab
empresa, desenvolvendo a economia
da região”, define Moschetta.
A capacidade científica e técnica
dos pesquisadores e seus laboratórios
é dividida nas áreas de Tecnologia da
Informação e Comunicação, Energia
e Física Aplicada e, ainda, Ciências
Biológicas, da Saúde e Biotecnologia. Segundo o professor Moschetta,
o Parque deve crescer ainda mais.
“Em breve começa a construção
de um prédio com projeção para
15 andares, que será a nova sede
Quantiza Systems
4G pesquisa & desen.
Radiopharmacus
Siemens
Sinq
Sistemática
Softmóvel
Softsul
Stefanini
Sthima
Telemon
Tlantic
Tron
WK Energia
Worbi
do Tecnopuc, e comportará mais
de 5000 pessoas”, assegura. Além
dessa perspectiva de crescimento,
Moschetta informa que será criado
o Centro de Produção Audiovisual
do Rio Grande do Sul em parceria
com o governo do Estado e o Fundacine (Fundação Cinema RS). O
projeto visa adequar parte da área
no campus de Viamão para a instalação de estúdios, podendo abrigar
empresas audiovisuais e expandindo
o horizonte do Tecnopuc.
públicas
Anprotec
– Associação Nacional
de Entidades
Promotoras
de Empreendimentos Inovadores
Cientec –
Fundação de
Ciência e Tecnologia
CNPq – Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Fa p e r g s –
Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do RGS
FIJO – Fundação Ir.José
Otão
FINEP – Financiadora de
Estudos e Projetos
Governo RS
MCT – Ministério da Ciência
e Tecnologia
PAT – Porto
Alegre Tecnópole
Prefeitura
POA
Procempa
– Cia Processamento de
Dados do Município de Porto Alegre
Sebrae – Serviço Brasileiro
de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas
6 cultura
Porto Alegre, junho de 2007
Literatura atual
relê clássicos
Fotos Sabrina Feijó/Hiper
A utilização do passado no presente
caracteriza os livros contemporâneos
por exemplo, é um material farto
que é reelaborado na literatura”. O
As prateleiras das livrarias estão diferencial está no talento inventivo
repletas de novas opções para os de cada escritor, como no caso de
habituais consumidores de literatura. Ítalo Calvino que utiliza elementos
A novidade, entretanto, é parcial. Os da mitologia oriental e das Mil e Uma
livros que mais se destacam trazem Noites, no livro Cidades Invisíveis. Até
histórias muito parecidas, abordando mesmo o escritor Jorge Luís Borges
temas e personagens semelhantes. dizia que estava tecendo sempre o
Entre as formas literárias recorren- mesmo texto. Há um ponto positivo
tes, as obras em série conquistam nessa reinvenção, como salienta Márfãs e geram lucro para as editoras. cia: “A vinculação com os clássicos
A dúvida quanto à capacidade da prova que a literatura continua viva
literatura inovar nas fórmulas se e os novos escritores também são
instala.
leitores da tradição”.
Apesar do sucesso recente das
O recontar de histórias gera o
coleções, esse não é um costume reaproveitamento de personagens. A
novo como explica a doutora em literatura está repleta de figuras marliteratura e professora da Faculdade cantes que reaparecem em obras que
de Letras da PUCRS, Sissa Jacoby. muitas vezes não tem ligação com a
“As obras literárias
anterior. Fausto é
têm sua origem no
um exemplo que
folhetim, com os
reencarnou inú“A vinculação com os
romances publimeras vezes pelas
clássicos prova que a
cados em pedaços
mãos de autores
nos jornais. Na literatura continua viva e como Goethe,
pós-modernidade,
Thomas Mann e
os novos escritores
continua a questão
Álvares de Azede prender o leitor
vedo.
também são leitores
com um personaOutro nome
da tradição”
gem envolvido em
que reutilizou
novas aventuras”.
suas criaturas foi
As obras em
Machado de Asséries conquistam
sis. Quincas Borba
fãs, mas também coletam críticos aparece no livro em que é protagoque seguem o pensamento do crítico nista e em Memórias Póstumas de Brás
literário Walter Benjamin: para ele, a Cubas. Aires intitula o Memorial de
arte ganha em quantidade, mas perde Aires e surge em Esaú e Jacó, história
em qualidade. A professora do Ins- em que Assis se inspirou na trama
tituto de Letras da UFRGS, Márcia dos irmãos presentes na Bíblia em
Ivana de Lima e Silva, acredita na Gênesis. “Mesmo na literatura, a
existência do diferencial na nova linguagem dos textos se repete, faliteratura: “É da quantidade que sai a zendo um jogo de personagens que
qualidade. Os grandes escritores atu- reaparecem em contextos de ação
ais conseguem dar um passo além, diferentes”, diz Márcia.
eles lêem a tradição e depois a trazem
Para Sissa Jacoby, a repetição de
para a contemporaneidade”.
personagens é usada para fazer uma
A literatura estaria ligada ao reflexão: “Essa retomada é uma
princípio em que tudo pode ser re- característica da literatura contemcriado. Um exemplo são os contos porânea que reflete sobre o passado
de fadas que fazem parte da cultura com uma intenção crítica”. Uma
popular desde a Idade Média, mas figura que faz parte da literatura
foram esquecidos por um tempo até em tempos diferentes é Sherlock
serem revisitados. “Eles começaram Holmes. A primeira menção ao
a serem retomados nos anos 60, 70 nome foi feita no conto A aparição de
e ascenderam na década de 90, com Senhora Veal, publicado em 1704 por
desenhos da Disney. Hoje, Harry Daniel Defoe. Em 1880, os nomes
Potter é um conto de fadas ampliado Sr. Watson e Sr. Sherlock inspiraram
que também tem elementos das his- Arthur Conan Doyle. Mais recentetórias de fantasia, detetives e mitos”, mente, em 1995, Jô Soares usou o
detetive em O Xangô de Baker Street,
conta a professora da PUC.
Márcia, professora da UFRGS, uma paródia entre a história e a liteconsidera discutível tentar delimitar ratura policial, na qual personagens
o que é original na literatura: “Às ficcionais interagem com pessoas
vezes a origem não está em Poe, ou reais, como Dom Pedro II, fazendo
em Conan Doyle, está antes, nos uma crítica à modernidade literária
gregos, até nas cavernas. A Bíblia, e histórica.
Por Lidiana de Moraes
Personagens criados por Conan Doyle transitam em romances de hoje
hipertexto
Autores se tornam
personagens
De construtores de histórias
a integrantes de outras narrativas. Assim alguns escritores são
imortalizados em histórias em que
passam a ser personagens. Está se
tornando comum, autores clássicos
serem homenageados, não com
biografias, mas como parte de um
enredo fictício.
Livros consagrados como A Última Quimera, de Ana Miranda, e Em
Liberdade, de Silviano Santiago, utilizam Augusto dos Anjos e Graciliano
Ramos como protagonistas de uma
trama. Na coleção O Bairro, Gonçalo
Tavares transformou pessoas como
Kafka, Brecht, Calvino e Fernando
Pessoa em vizinhos para que, em
cada livro, possa falar da trajetória
destes homens, misturando realidade e fantasia. A professora Márcia
Ivana Lima e Silva vê nestas obras
uma maneira de aproximar o leitor
do escritor: “Como coordenadora
dos arquivos literários de Guilhermino César e Caio Fernando de Abreu,
reconheço como genial a dimensão
humana do autor ao se aproximar
do leitor, que passa a vê-lo também
como um ser que tem conflitos e se
dedica à literatura com vontade”.
José de Alencar foi precursor da interatividade
A proximidade do leitor com a
obra literária cresce tanto que, para
muitos, acompanhar histórias não é
mais o suficiente. Juntando a vontade
de se envolver diretamente com as
tramas, com as facilidades proporcionadas pela internet, nasceram
as fanfictions, histórias publicadas na
web por fãs, não apenas de literatura,
como de filmes e séries de TV.
O bruxo criado por J.K. Rowling
não é campeão apenas na vendagem
de livros, é também o personagem
que inspira mais histórias. No Brasil,
o maior Fandom (nome dado aos
sites que reúnem as fanfictions) é o
Potterish.com, com mais de 11 mil
histórias e cerca de 40 mil membros.
Para o editor do Potterish, Marcelo
Neves, estas criações mostram a
influência dos livros: “As fanfics são a
prova que mais e mais pessoas estão
desenvolvendo o hábito da leitura e
escrita e também servem para amenizar a ansiedade dos fãs enquanto
esperam a continuação da saga”. A
professora Márcia Ivana elogia o
trabalho dos fãs: “As fanfictions têm
uma capacidade maravilhosa de imaginação e também são uma forma
do autor conhecer melhor o leitor”.
Existem exemplos na literatura em
que a opinião dos leitores ajudou a
mudar os rumos de um texto literário. O autor José de Alencar mudou
o desfecho de O Guarani por causa
da insatisfação do público que não
acreditava na relação de Ceci e Peri.
Atualmente uma obra consagrada,
como Harry Potter, não tem como
seguir os desejos dos leitores e a
trama fica a cargo da autora. “J.K.
Rowling sempre teve a história planejada e seguiu com ela até o fim”,
comenta Neves.
Mesmo que os escritores não
sigam à risca as vontades dos leitores,
o que não falta são estilos literários
para escolher. “O mercado editorial
nunca publicou tanto e está muito
democrático. Isso não significa que
a qualidade seja o parâmetro para
que aquele texto faça sucesso. Há o
trabalho da mídia e o interesse do
leitor que tem um pouco de medo de
experimentar o novo”, diz Márcia.
A reinvenção constante da literatura é uma de suas principais
característica e pode levar do novo ao
velho. “Muitas matérias da literatura
tradicional já estavam esquecidas
e por terem sido retomadas por
escritores contemporâneos faz com
que sejam discutidas de novo”, diz a
professora Sissa Jacoby.
Mais importante do que comparar a literatura do passado e do presente é saber aproveitar as diferenças,
como a professora Márcia destaca:
“É bom que as pessoas leiam escritores como Agatha Christie e Paulo
Coelho porque assim o leitor vai se
capacitando para uma leitura mais
aprofundada, até que ele comece nas
histórias em quadrinho e chegue a
Guimarães Rosa”. Apenas lendo é
possível pensar e entender a literatura em sua totalidade.
hipertexto
ensino 7
Porto Alegre, junho de 2007
Vinícius Carvalho/Hiper
Movimento estudantil 2007
A cara da juventude
não é mais pintada
Antigos líderes estudantis analisam os movimentos
articulados no País e denunciam a partidarização
Por Laion Espíndula
Tudo começou em 3 de maio,
quando um grupo de 150 estudantes
levou até a reitora da Universidade de
São Paulo (USP), Suely Vilela, uma
lista de reivindicações. No entanto,
ela havia viajado e não compareceu
à audiência marcada um mês antes.
Os alunos preferiram aguardar o
seu retorno acampados na Reitoria.
Os dias foram passando e pouco se
resolveu: a invasão só terminou no
fim de junho, 51 dias depois.
A manifestação teve como reivindicação principal a revogação
dos decretos do governador de São
Paulo, José Serra. De acordo com os
estudantes acampados, o governador tucano “ataca” a autonomia da
universidade pública. “Tais determinações agridem não só em relação
à gestão financeira, mas também no
que concerne a sua função máxima:
o ensino e a pesquisa autônomos,
livres de interesses mercadológicos
e meramente instrumentais”, a pauta
de 18 sugestões está escrita no Blog
da ocupação (http://ocupacaousp.
noblogs.org).
Muitos movimentos semelhantes ao da maior universidade do país
foram deflagrados nacionalmente.
Outras reitorias foram invadidas
em apoio aos estudantes da USP,
contrários à Reforma Universitária
e por exigências pontuais nas universidades. Tais articulações indicam
o ressurgimento do movimento
estudantil.
O ponto em comum entre os
movimentos é a crítica à Reforma
Universitária. Queixam-se, inclusive,
o Prouni. Entendem que em vez
de aplicar recursos nas federais, o
governo prefere comprar vagas nas
universidades particulares.
Porto Alegre viveu, nos dias 5 e
6 de junho o protesto de 300 estudantes. Eles passaram a noite com
colchões estendidos pelo térreo da
Reitoria da UFRGS. “Acredito que
foi muito válido o ato. Conseguimos
maior parte das reivindicações e
mobilizamos grande parte dos estudantes”, contabiliza Thales Speroni,
representante do DCE-UFRGS, ao
relacionar os pedidos aceitos pelo
reitor José Carlos Hennemann.
“Abriu precedentes para qualquer
ataque. Agora, os estudantes vão
saber o que fazer”, complementa.
Nem todos concordam que a
luta está de volta. “Se tomarmos
como referência o que se fazia 20
anos atrás, não sei se é possível dizer
que existe movimento estudantil
hoje”, observa Renato de Oliveira,
sociólogo e ex-líder estudantil. Para
ele, os estudantes estão organizados em “grupos razoavelmente
pequenos e exíguos, que não têm
uma identidade positiva. Os grupos
não se mobilizam por valores afirmativos”.
Partidarização
Para Fábio Brandt, estudante de
jornalismo da USP, a ocupação teve
dois momentos diferentes. “De 3
de maio até o dia 17, o movimento
estava ali para negociar. O outro é
do dia 17 em diante, com a greve
dos estudantes, dos funcionários e
dos professores”. Oliveira diz que,
na federal de São Paulo, isso aconteceria mesmo sem os decretos de
Serra. “Significa a tentativa de grupos políticos por um espaço numa
conjuntura complexa”, argumenta o
professor de Sociologia. “Pequenos
partidos aproveitam o momento
de instabilidade do país e se dizem
representantes das causas sociais”,
complementa.
A partidarização da atual luta
estudantil é a principal crítica ao
movimento. Quem pertence a ele diz
não haver a intervenção de partidos
nas decisões dos estudantes. “Apesar
da tentativa, o movimento não é e
não pode ser partidário”, afirma
com convicção Speroni.
Uma matéria do jornal Folha
de S. Paulo (caderno Cotidiano, de
27 de maio) relata que os protestos
não indicariam a articulação de um
partido político ou grupo ideológico. “Alunos do sucateado curso
de História ao lado de alunos do
rico curso de Economia. Atuantes
de centros acadêmicos ao lado de
curiosos que só agora sabem o que
significa autonomia universitária.
Estão todos lá”, escreve a Folha.
Brandt revela que os estudantes
integrantes de partidos políticos
sofrem críticas por parte dos sem
vínculos. “Eles estariam ali, segundo diversas falas nas plenárias, para
defender unicamente os interesses
de seus partidos e não da categoria
estudantes”, conta o estudante que
fez cobertura do protesto.
Renato de Oliveira é ainda mais
duro. Acredita que existe, hoje,
um fenômeno social, que não é
significativo, orientado por linhas
partidárias. “Os partidos, em sua
maioria, exploram esses grupos que
estão na marginalidade tentando
instrumentalizar jovens para atos
de resistência. São partidos que não
apresentam um projeto consistente
para o jovem”, comenta Oliveira.
Um ponto fraco dos atuais
movimentos, segundo o ex-líder
estudantil e ex-secretário de Ciência
e Tecnologia no governo Olívio
Dutra, é a falta de capacidade de
persuasão. “Na minha época, eram
idéias que possibilitavam o diálogo e não o enfrentamento com a
sociedade”, compara Renato de
Oliveira. Ressalta que há um vazio
Reitor da UFRGS negocia com os estudantes amotinados contra reformas
político no Brasil hoje, onde as
pessoas estão mais individualistas
e menos politizadas. O problema é
que esses grupos de resistência “são
livres atiradores. Estão na época dos
piratas, do saque; não do capitalismo
moderno”, enfatiza.
A crítica à iniciativa privada
dentro das instituições também é
bastante presente. Speroni acredita
que as parecerias entre universidades
e empresas prejudicam o ensino
público. “Essas parcerias criam
relações de dependência onde a
universidade deve cumprir uma
função.” Complementa que o papel
do ensino superior é de estimular
pesquisas voltadas ao desenvolvimento social. O professor Renato de
Oliveira defende a discussão sobre
a legitimidade, sendo este ponto
fundamental. “A forma de fazer
parceria com a sociedade é com as
empresas, que fazem girar a economia. A discussão é quais as parcerias
são lícitas”, pondera.
8
esporte
Porto Alegre, junho de 2007
hipertexto
O show do Pan vai começar
De 13 a 29 de julho, Rio de Janeiro receberá 5.500 atletas de 42 países
Antônio Cruz/ABR
Por Bernardo Biavaschi
A partir de 13 de julho, o Rio
de Janeiro sediará um dos maiores
eventos esportivos do mundo: os
Jogos Pan-Americanos. Ao todo,
cerca de 5.500 atletas de 42 países
participam da competição.
O Brasil será representado por
699 atletas, sendo 389 homens e
310 mulheres. Por ser o país-sede
dos Jogos terá atletas em todas as
modalidades.
Na disputa para receber a competição, o Rio teve como adversária a
cidade de San Antonio, nos Estados
Unidos. O projeto carioca para o
evento seduziu pela proposta de
integração ecológica e compromisso
social, recebendo 30 dos 51 votos
possíveis. Um dos fatos que ajudou
na escolha do Rio foi o projeto de
que todas as competições serão
realizadas num raio de 25 quilômetros, espalhadas por quatro pólos
na cidade.
O Comitê Organizador dos
Jogos Pan-Americanos Rio 2007
(CO-RIO) é o encarregado no Brasil
do evento. Desde 1998, quando a
cidade brasileira manifestou interesse, junto ao Comitê Olímpico
Brasileiro, de receber os jogos vem
trabalhando na organização.
O Rio de Janeiro se preparou
promovendo uma revolução urbanística que deve, segundo as fontes
oficiais, modificar a estrutura da
cidade. Dentre as obras em construção para o evento, a que mais se
destaca é o Estádio João Havelange,
com capacidade para 60 mil espectadores, já batizado pela população
como Engenhão. Nele serão realizadas as competições de atletismo
e futebol.
Muitas instalações desportivas
(como o mítico estádio Maracanã)
foram reformuladas e outras consVanderlei Akmeida/AFP
Cauê, o mascote dos jogos no
Rio de Janeiro/2007
As Olimpíadas
das Américas
Brasil disputa em todas as modalidades esportivas nos jogos Pan-Americanos, no Rio de Janeiro, em julho
truidas. Estas obras serão incorporadas ao patrimônio da cidade
e do país. As competições serão
disputadas em 15 pontos da cidade
maravilhosa que integram os quatro
pólos: Barra, Deodoro, Maracanã e
Pão de Açúcar. Locais conhecidos
da cidade também serão utilizados,
como a Sociedade Hípica Brasileira,
Marina da Glória e a Escola Naval. A
maioria das competições está próxima do local onde os atletas ficaram
hospedados, a Vila Pan-Americana,
construída na Barra da Tijuca, em
terreno de 420 mil metros quadrados. Os apartamentos têm de uma a
quatro suítes, e o tamanho das camas
levará em conta a estatura dos atletas. O restaurante terá capacidade
para atender a quatro mil pessoas.
Para garantir a segurança dos
atletas, foi criado o Centro de Inteligência dos Jogos Pan-Americanos
de 2007 (CIJ). Desde 30 de junho,
o CIJ monitora a cidade para dar segurança às competições. No CIJ trabalham representantes de 27 órgãos
de segurança dos governos federal,
estadual e municipal. Eles remetem
informações à Secretaria Nacional
de Segurança Pública (Senasp),
responsável pelo planejamento das
ações de combate à violência durante o Pan 2007. O CIJ monitora os
locais de competições 24 horas por
dia, atento a áreas de risco e pessoas
que possam representar algum perigo para o sucesso do evento. Para
coletar informações, 700 câmeras
foram espalhadas pela cidade do Rio
e 300 agentes trabalham de olho em
situações suspeitas.
Os Jogos Pan-Americanos são a
versão continental das Olimpíadas.
Acontece de quatro em quatro anos,
sempre um ano antes dos Jogos
Olímpicos. Para conhecer a história
dos Jogos Pan-Americanos é preciso
voltar às Olimpíadas de Los Angeles,
em 1932, quando alguns representantes de países latino-americanos
no Comitê Olímpico Internacional
(COI) propuseram a criação de uma
competição entre todos os países das
Américas, com o intuito de desenvolver o esporte na região.
Naquela época havia os Jogos
Centro-Americanos. Esta iniciativa
deu origem, em 1940, ao I Congresso Esportivo Pan-Americano, em
Buenos Aires, onde foi definido que
os primeiros Jogos seriam realizados
em 1942, na própria capital argentina, o que acabou não acontecendo
devido à II Guerra. Um segundo
congresso realizado em Londres, durante as Olimpíadas de 1948, confirmou Buenos Aires como a primeira
sede dos Jogos Pan-Americanos, que
ocorreram em 1951. A cada edição,
o Pan cresce de tamanho e importância. Em menos de meio século, o
evento dobrou em número de países,
atletas e modalidades, até tornar-se
uma das principais competições do
calendário esportivo mundial.
Brasil espera quebrar recorde de medalhas
Empurrados pela presença da
torcida e com representantes em
todas as competições, há expectativa
do Brasil conquistar um recorde de
152 medalhas, sendo 42 de ouro,
conforme previsão das confederações e de especialistas. A aposta na
melhor atuação do País na história
do evento, entretanto, representaria
ganho de somente uma posição no
quadro de medalhas se comparado
aos Jogos de Santo Domingo, em
2003, segundo projetaram técnicos,
ex-atletas e dirigentes. Com este
resultado, o país ficaria atrás de
Estados Unidos e Cuba na lista de
medalhas de 2003, passando a frente
apenas do Canadá.
A natação aposta nos atuais
recordistas sul-americanos para
superar as 21 medalhas conquistadas em 2003, quando três foram de
ouro. Maior ganhador de medalhas
de ouro para o Brasil na República
Dominicana, esteve cinco vezes
no alto do pódio, o judô considera
possível que todos os 14 atletas
voltem com medalha, com pelo menos cinco de ouro. No atletismo, as
provas de salto e corridas de fundo
e meio-fundo são as apostas para
bater as 16 medalhas de 2003. Entre
os esportes coletivos, que devem
atrair maior público durante o Pan,
a previsão é do vôlei reinar absoluto
com quatro medalhas de ouro: duas
na quadra do Maracanãzinho e duas
nas areias da praia de Copacabana.
Futebol, futsal, vela, tênis de mesa
e ginástica são outros esportes que
geram grandes expectativas de medalhas para o Brasil.
Além de celebrar o esporte,
os Jogos Pan-Americanos podem
favorecer o Rio de Janeiro em sua
pretensão de se tornar a primeira
cidade sul-americana a receber uma
Olimpíada. Depois do fracasso da
Rio 2004, quando ficou evidente
a falta de infra-estrutura da cidade
para sediar uma competição do
porte de uma olimpíada, a experiência e o legado adquiridos, além das
instalações que estão prontas ou em
andamento serão fundamentais para
esta conquista. O Rio é candidato
a sede pela terceira vez, concorreu
aos Jogos de 2004 e 2012, mas não
conseguiu entrar na fase final da
disputa.
hipertexto
esporte 9
Porto Alegre, junho de 2007
Grêmio adiou o tricampeonato
Nas partidas finais da Libertadores, tricolor gaúcho leva cinco a zero do Boca Juniors
Por Márcia Simões
Menos de dois anos após o retorno à primeira divisão, o Grêmio
voltou à elite da América, conquistando uma vaga para a final da Libertadores, contra o Boca Juniors. Mais
de 2.500 torcedores acompanharam
o time no primeiro jogo, em Buenos
Aires. Apesar da desvantagem de
três gols vinda da Bombonera, quase
47 mil gremistas lotaram o Olímpico
e viram o sonho do tri acabar.
Foi uma longa jornada até o
vice-campeonato. A queda para
a Segundona em 2004 e o início
de 2005 sem ao menos jogadores
suficientes para montar um time
deixavam a certeza de que a América
estava muito longe do alcance do
Grêmio. Com a chegada do técnico
Mano Menezes o cenário do clube
mudou. Sob seu comando, no dia 26
de novembro daquele ano, foi escrito
um dos mais incríveis episódios da
história tricolor: a batalha dos Afli-
tos. Com sete homens em campo
e dois pênaltis contra, o Grêmio
conquistou a série B e a volta à primeira divisão do futebol brasileiro.
Mesmo com a descrença de todos, o
time surpreendeu em 2006, ficou em
terceiro lugar no Brasileirão e obteve
uma vaga na Libertadores.
A chegada à final da competição
não veio ao natural. Da primeira fase
até a semifinal, jogos decisivos contra Cerro Porteño, São Paulo, Defensor e Santos foram verdadeiras
batalhas, onde a garra e superação se
sobrepuseram à técnica e qualidade
do elenco. Isso só serviu de motivação para o torcedor, que ao longo do
campeonato lotou o estádio e teve a
melhor média de público segundo a
Conmebol, 39.119 por partida.
No primeiro jogo da final, contra
o temido Boca Juniors, milhares de
tricolores invadiram a capital Argentina. De carro, ônibus ou avião,
a torcida pintou Buenos Aires de
azul, preto e branco. Antes de irem
Carla Ruas/Hiper
Grêmio chegou perto, mas perdeu na Bombonera e diante de sua torcida
para o bairro La Boca, enquanto
aguardavam a escolta policial, a
famosa avenida Nove de Julho foi
tomada por gremistas que cantavam, pulavam, agitavam bandeiras
e seguravam faixas de incentivo
ao time, recebendo o apoio dos
simpatizantes do River Plate e San
Lorenzo, principalmente. Mas a festa
teve um final amargo. Na imponente
Bombonera, posicionados no último
andar do estádio, os torcedores viram o Grêmio perder por 3 a 0.
Apesar de apoiarem durante os
90 minutos e deixarem o país afirmando terem fé na virada em Porto
Alegre, no fundo todos sabiam que a
missão era árdua. E foi. Nem mesmo
o imortal tricolor pode reverter a
vantagem da equipe Argentina.
Com o Olímpico lotado, o Grêmio entrou em campo buscando
os três gols que levariam a partida
para a prorrogação. O Boca Juniors
apostou na catimba e nos contraataques para garantir o título. Mas a
noite não era de nenhum dos clubes,
era de um jogador, era de Riquelme,
autor dos dois gols do jogo. Com o
placar adverso, nem mesmo o canto
da multidão fanática nas arquibancadas e cadeiras resistiu, e grande parte
dela deixou o local antes de o juiz
Oscar Ruiz encerrar a disputa.
Mesmo com a derrota e o fim
do sonho da conquista do tricampeonato da América, os jogadores
gremistas foram aplaudidos e cânticos de consolação foram entoados,
cantando o amor ao time e a esperança de que em 2008 a história seja
diferente.
Inter conquistou a Tríplice Coroa com goleada no Beira-Rio
Elson Sempé Pedroso / Hiper
Por Brenda Parmeggiani
No trajeto para o Beira-Rio,
buzinas, bandeiras e gritos. A má
fase do Inter em 2007 – eliminação
na primeira etapa da Libertadores,
fracasso no Gauchão e o mau início
no Brasileirão – e o resultado de 2 a
1 para o Pachuca, no México, não
afetaram os torcedores. 51 mil colorados foram ao verdadeiro reencontro com o time campeão mundial, a
final da Recopa Sul-Americana.
Até minutos antes da partida do
dia 7 de junho, o mistério: o capitão
Fernandão vinha realizando tratamento para estar em condições de
jogo. Outras dúvidas sobre a escalação da equipe também contribuíram
para a aura do momento: quem
o substituiria e quais novidades o
técnico Alexandre Gallo poderia
preparar para o jogo.
No estádio, o ambiente era de
festa. Às 19h, um expressivo número de colorados já tomava seus
lugares nas arquibancadas. Como
distração, a torcida pela definição do
Boca Juniors como finalista da Copa
Libertadores e, por conseqüência,
adversário do maior rival, o Grêmio. Cada gol da equipe argentina
esquentava o clima no Beira-Rio.
No entanto, o frio fez presença em
ambos os jogos. Em Buenos Aires,
a neblina atrasou e paralisou por
mais de uma vez o jogo entre Boca e
Cúcuta. Inter e Pachuca só poderiam
entrar em campo após o término da
semifinal da Libertadores, devido a
Edinho, um dos líderes do Inter na vitória por 4 a 0 contra o Pachuca, do México, capeão da Sul Americana
direitos de transmissão televisiva.
Assim, o início marcado para
21h45 foi adiado para 22h15.
Como se fossem simples turistas, os jogadores mexicanos dentro
de ternos impecáveis entraram no
gramado, tiraram fotos da torcida
colorada, apreciaram o estádio.
Parecia que tinham vindo a Porto
Alegre conhecer a casa do rival.
Somente alguns instantes antes
do começo, foi definida a escalação
do Inter. No placar, vieram os nomes. Fernandão não estava entre
eles. O capitão ficou no banco de
reservas como membro da comissão
técnica. Sem chances de atuar. A
boa notícia era que Alexandre Pato
estava recuperado.
Para os colorados, era como se
o tempo tivesse parado desde o dia
17 de dezembro, quando o Inter
derrotou o Barcelona de Ronaldinho
Gaúcho em Yokohama. A torcida
cantava. O Beira-Rio rugia. A noite
não foi só do torcedor. O atacante
Iarley, com a braçadeira de capitão,
destacou-se na partida. Além dele,
o meio-campista Pinga foi um dos
melhores em campo, fazendo com
que as comparações com Tinga
ressurgissem.
E a festa se concretizou. Dos
pés de Alex, Pinga, Pato e Mosquera
– contra –, veio a vitória. O Inter
goleou o Pachuca por 4 a 0, tirando
do time mexicano o único título da
temporada 2006 e 2007 que lhe faltava, até então tinha vencido todos
os torneios disputados.
Depois do jogo, finalmente a
comemoração. A entrega da taça
da Recopa tinha tudo para repetir a
grande festa da final da Libertadores
do ano passado. No entanto, cerca
de 200 torcedores, vindos da área
da torcida Popular, invadiram o
campo. O ato em si foi pacífico, mas
impediu que os jogadores fizessem
a volta olímpica. Iarley levantou
o troféu ao lado de Fernandão e
Clemer. E foi tudo. Em seguida,
os torcedores tomaram conta do
espaço e os jogadores tiveram de se
recolher ao vestiário.
O objetivo de 2006 fora alcançado: a tríplice coroa – Copa
Libertadores da América, Recopa
Sul-Americana e Mundial de Clubes
Fifa em uma mesma temporada. Assim, o Inter juntou-se ao São Paulo
como os únicos times brasileiros
tríplice coroados.
10 comunicação
Porto Alegre, junho de 2007
Entrevista/ José Carlos Torves
“TV pública não é do governo”
Thais Silveira
Em busca de uma televisão de
qualidade, que não valorize apenas
o comercial, voltada ao interesse
público, com maior participação da
sociedade na definição dos conteúdos. Esse é o desafio da TV Pública,
propiciar a participação da sociedade
na organização das questões abordadas e alcançar maior qualidade
e profissionalismo. A nova rede
está prevista para ir ao ar em 2 de
dezembro, mesma data do início da
transmissão do sinal da TV digital
aberta no País.
A TV pública é tema do livro do
ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, José
Carlos Torves, lançado em maio de
2007. O livro resulta da dissertação
de mestrado de Torves, concluída
recentemente no Programa de
Pós-Graduação da Famecos/PUCRS. Segundo Torves, três pontos
fundamentais estão praticamente
definidos para implementação da
TV Pública. São: o modelo de gestão (controlado por um conselho),
que deixe a TV financeiramente
independente do governo e a idéia
de unir a Radiobrás à Associação de
Comunicação Educativa Roquette
Pinto (Acerp), que administra as televisões educativas do Rio de Janeiro
e do Maranhão. Em entrevista exclusiva ao Hipertexto, Torves esclarece
questões da proposta, começando
pelos conceitos de TV pública, estatal e governamental.
– Qual a diferença entre TV
Pública e TV estatal ou governamental?
– TV estatal são estas que a
gente tem hoje. A maioria funciona
como governamentais, porque é
quase uma assessoria do governo.
O que diferencia a TV pública das
estatais ou governamentais é que
ela deve ter uma gestão feita pela
sociedade organizada, representada
no Conselho Deliberativo e este tem
instrumentos de interferir tanto no
conteúdo, quanto na produção do
que é veiculado.
– Como deve ser a programação de uma TV Pública?
– Entendo como TV Pública um
espaço de diversidade cultural intensa. Acho fundamental esta televisão
ser dirigida pela sociedade civil. Na
programação ver as prioridades da
sociedade e o que não está aparecendo na TV privada. Um conselho, que
teria os representantes do movimento sindical, do movimento negro,
dos gays, dos índios, dos sem-terra,
dos movimentos de bairro, indicaria quem seriam os diretores desta
televisão, que não seriam indicados
pelo governo.
– Pela proposta do governo
serão destinados R$ 350 milhões
por ano? É preciso todo este
dinheiro?
– É preciso muito mais do que
isso. Fazer televisão é caro. Conversando com Franklin Martins
(ministro da Secretaria de Comunicação ), meu amigo pessoal, falei de
algumas formas de sustentação desta
televisão. Poderia ser cobrada uma
taxa das emissoras privadas que têm
concessão pública e usam o espectro
magnético para transmitir. Outra
forma seria o governo aplicar 10%
da verba publicitária usada nas emissoras privadas para as TVs públicas.
Laurindo Leal Filho, professor da
USP, levantou a possibilidade de
se cobrar uma taxa, mas ninguém
agüenta mais pagar imposto. Temos
uma carga tributária muito alta, de
37,5%, o que seria inviável.
– Como tu imaginas que a TV
Pública será?
– Tenho pouca fé de que será
uma TV pública como deveria, a
exemplo da BBC (emissora pública
de rádio e televisão do Reino Unido,
com gestão própria, independente
do governo britânico) e também
de outros países que possuem TVs
públicas com modelo de gestão e
sustentação. Acho fundamental que
não se monte um monstro de cabide
de emprego. Claro que se deve ter
uma base de funcionários, mas que
seja sem indicação política.
– Qual a programação desta
televisão?
– Acho interessante se destinar
50% da programação para produções independentes. Isso resolveria
não só a questão da diversidade da
programação, mas também a questão
do mercado de trabalho. Um grupo
de estudantes poderia produzir um
documentário e teria espaço na televisão pública. O Brasil é um dos
poucos países onde quem veicula a
programação é quem a produz. Temos este mercado fechado por isso.
Na maioria dos países desenvolvidos
não é isso que acontece.
– Qual será a contribuição da
TV Digital?
– A TV Digital permite o seguinte: primeiro a convergência das mídias, ampliando o acesso às pessoas.
Hoje apenas 10% da população têm
acesso à web. Nós poderemos ter
mais de 50% dos brasileiros tendo
acesso a internet, participando de vídeo conferência, assistindo TV, ouvindo som, fazendo pesquisa, tudo
com a mesma tecnologia. Também
facilita a política de ter produtores
independentes. Com uma filmadora
digital, tu podes fazer a edição no teu
computador, com qualidade. A gente
quer a convergência das mídias para
se aproveitar todas as possibilidades
de áudio, vídeo, transmissão de dados e uso da internet.
Nicolas Gambin/Hiper
hipertexto
Dissertação
de mestrado
é publicada
Televisão Pública, o livro lançado por José Carlos Torves, resume
sua dissertação de mestrado no PósGraduação em Comunicação Social
da Famecos/PUCRS. Na obra, é
contada a historia da televisão e o
contexto político social do país em
que surgiu e se desenvolveu. Relata o
desenvolvimento da TV Pública no
mundo, caso da BBC de Londres e
as de outros países da Europa. Fala
das TVE do RS, do Rio de Janeiro
e de São Paulo, mostrando que, na
realidade, todas estas emissoras só
têm o dinheiro público, porque estão
a serviço do governo. Apresenta
com exemplos, situações claras em
governos de direita e esquerda.
Fechamento de
TV venezuelana
Torves faz a defesa de uma televisão pública, sem interferência do governo
– Como os políticos se posicionam sobre a TV Pública?
– A oposição é contra, mas os
parlamentares do governo defendem
com unhas e dentes. Na verdade, o
grande problema é que o governo
não diz como ela será. Sabe-se que
começará em dezembro, juntando
Radiobrás, de Brasília, com TVE
(RJ) e a sede será no Rio de Janeiro
e tem R$ 350 milhões para começar,
que é muito pouco.
– Qual tua opinião sobre
Hugo Chávez não ter renovado
a concessão da RCTV na Venezuela?
– Acho que foi um grande erro.
Se Chávez tivesse tomado o canal
na época do golpe, aí estaria certo.
Em qualquer país, se tu tens uma
televisão, com um grupo de pessoas dando um golpe de estado, tens
toda capacidade de fechar, que é
um atentado contra a democracia.
Agora, nesse momento, quando o
país vive na normalidade, cassar
uma concessão porque essa televisão
fala mal de ti, é tu calar a voz do
adversário. Acho que com a maioria
popular que Chavez tem, a sociedade
organizada como parece, com movimentos sociais organizados, haveria
formas de mobilizar a sociedade
para pressionar a empresa a mudar
seu comportamento editorial, e não,
simplesmente, cassar a concessão.
Isso não contribui para democracia,
para liberdade de expressão e de imprensa. Acho que foi um equívoco
político.
A RCTV (Radio Caracas Televisión) teve o sinal de transmissão cortado no dia 28 de maio. O presidente
da Venezuela, Hugo Chávez, já havia
anunciado que não renovaria a concessão do canal privado com maior
audiência naquele país. O presidente
acusou a emissora de envolvimento
em um golpe de estado contra ele,
em 2002. A decisão provocou polêmica e protestos contra ou a favor
da decisão. Manifestações estudantis
contrárias ao presidente começaram
desde o fechamento da RCTV, mas
Hugo Chávez declarou no dia 16
de junho que os protestos em seu
país são indícios de que se vive uma
“franca democracia”. Mesmo fora
do ar, a emissora continua produzindo programas que são transmitidos em praças ou na internet. Para
substituir a RCTV, o governo criou
a Televisora Venezuelana Social (Teves), definida como uma emissora
privada de “serviço público”.
Fórum defende a formação crítica do cidadão
Fórum Nacional de TVs Públicas, ocorrido no início de maio,
em Brasília, definiu os princípios
gerais do plano do governo. Os
participantes do Fórum disseram
que a TV Pública deve promover a
formação crítica do indivíduo para
o exercício da cidadania e da democracia. Precisa ser a expressão maior
das diversidades de gênero, étnicoracial, cultural e social brasileiras.
Propuseram que seja independente
e autônoma em relação a governos
e ao mercado, devendo seu financiamento ter origem em fontes múltiplas, com a participação significativa
de orçamentos públicos e de fundos
não-contingenciáveis. As diretrizes
de gestão, programação e a fiscalização da programação devem ficar
a cargo de órgão colegiado deliberativo, representativo da sociedade,
no qual o estado ou o governo não
devem ter maioria.
“O compromisso da TV Pública será de fomentar a produção
independente, ampliando a presença
desses conteúdos em sua grade de
programação, e contemplar a produção regional. A programação não
deve estar orientada estritamente
por critérios mercadológicos e, sim,
buscar o interesse do maior número
possível de telespectadores. O cine-
ma brasileiro será parceiro estratégico para a realização de sua missão e
enxerga-se como aliada na expansão
da sua produção e difusão”, diz a
Carta de Brasília..
O fórum teve a participação
de associações do campo público
de televisão brasileiro, como Associação Brasileira de Emissoras
Públicas, Educativas e Culturais
(Abepec), Associação Brasileira de
Canais Comunitários (ABCCom),
Associação Brasileira de Emissoras
Universitárias (ABTU) e Associação
Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas (Astral) e de organizações
da sociedade civil.
hipertexto
Cinema 11
Porto Alegre, junho de 2007
Super-heróis, superbilheterias
Por que as histórias animadas fazem tanto sucesso com o público dentro e fora dos cinemas
Sabrina Feijó / Hiper
Patrícia Lima
Quem nunca se imaginou vivendo uma situação perigosa em que
pudesse contar com a ajuda de um
super-herói? Nos cinemas isso quase
sempre é possível. Por essa e outras
razões, os grandes estúdios investem
fortunas em séries de Homem-Aranha, Superman, Batman e Shrek. O
público retribui disputando lugar
em filas para embarcar na fantasia
que só vive no cinema. Filmes de
super-heróis ou desenhos animados
fazem a cabeça de crianças e adultos,
mesmo conscientes de que tudo
não passa de uma engrenagem para
ganhar dinheiro.
Por que os super-heróis dominam as bilheterias? Simplesmente,
por que oferecem às platéias uma
fantasia que é vagamente baseada na
realidade e na ciência e transcende
seus limites, responde o professor
de Montagem Cinematográfica da
Famecos, Roberto Tietzmann. Ele
exemplifica com O Incrível Hulk:
“Se alguém receber tanta radiação
por estar próximo de uma explosão
atômica, não vai ficar super-forte, vai
morrer em poucos dias ou horas! A
fantasia da história permite brincar
com a seriedade da ciência”.
Para o jornalista especializado
em Produção Cinematográfica, com
Mestrado e Doutorado em Psicologia pela PUCRS, Michel Bruschi,
o cinema, bem como a literatura e
outras artes que lidam com a ficção,
tem como característica mostrar ao
espectador outros mundos além do
Adultos e crianças fazem fila para assistir ao fenômeno de bilheteria Shrek Terceiro, que quebrou recorde de público em estréia de desenho animado
que conhecemos como real. “São
estes mundos diferentes da ficção
que nos atraem, nos fazem imaginar outras realidades possíveis para
a nossa vida. Além disso, existem
algumas experiências e realidades
Frase
“Os Super-heróis mexem com o imaginário do espectador, com a
possibilidade de ter superpoderes, vivenciar o mito do herói, vencer as
batalhas e ser admirado pelos outros.”
Michel Bruschi
Animação surge no cinema mudo
A história dos filmes de animação surgiu no cinema mudo, em
1892, na França. Somente em 1917,
na Argentina, surgiu o primeiro longa-metragem, intitulado El Apóstol.
No Brasil, a história da animação
é recente. Sinfonia Amazônica, de
1953, foi o primeiro longa-metragem de animação. A partir da
década de 1960, a animação ganha
publicidade e surgem os primeiros
profissionais da área. Piconzé foi o
primeiro longa-metragem colorido,
estreando nos cinemas em 1972,
sendo considerado um marco na
história da animação brasileira.
Os primeiros grandes sucessos
de filmes animados surgiram nos
Estados Unidos, antes mesmo de
Hollywood, com o aparecimento de
Gato Félix, Betty Boop e Pica-Pau. A
era dourada de Hollywood começou
nos anos 30, com a ascensão da Walt
Disney, Warner Bros e MGM. A
partir de 1990, a tecnologia proporcionou inovações para os desenhos
animados. Novos e ousados estúdios
de animação, o retorno da Walt
Disney e a colaboração de Steven
Spielberg para a Warner Bros revitalizaram o cinema. Além da, ascensão
da animação digital e do surgimento
de Os Simpsons, South Park, Nickelodeon e Cartoon Network.
que são possíveis somente na tela do
cinema, e só lá podemos vivenciar e
nos identificar com um ogro ou um
super-herói”, conta Bruschi. Porém,
o chamado mundo real sempre será
o referencial. Se a ficção for muito
distante do mundo real, exigirá mais
do espectador para acreditar que
o que está vendo pode acontecer
também na realidade.
Campeões de bilheteria
O personagem mais famoso
e que mais influenciou os outros
super-heróis é o Super-Homem.
Criado em 1938, nos quadrinhos
norte-americanos, tornou-se um
fenômeno com cinco filmes, duas
séries de cinema, cinco séries de
televisão, seis séries de desenho animado, 11 periódicos, um programa
de rádio, um musical e uma série de
produtos vendidos com a sua marca,
desde brinquedos até alimentos. Batman veio logo após o Super-Homem
e seguiu o mesmo sucesso nas telas
e em produtos levando seu nome.
“Em poucos anos, Super-Homem
e Batman começaram a aparecer
em todos os meios que existiam,
de seriados de rádio a filmes, em
geral com grande sucesso”, relata
Tietzmann.
Há poucos meses, Homem-Aranha 3, da Columbia Pictures, bateu
a marca de US$ 800 milhões em
ingressos vendidos. Outro sucesso
nas bilheterias é o simpático Shrek
Terceiro, maior bilheteria de estréia
de um filme de animação.
Filmes, como Homem-Aranha
e Shrek, conseguem explorar os
mundos ficcionais, ser ainda mais
sedutores e, ainda, mantêm uma
proximidade com a realidade. Em
Homem-Aranha, os jovens podem
se identificar com Peter Park, por
ser um nerd, não popular na escola,
e é obrigado a enfrentar sua timidez
com as garotas. Todas essas situações estão próximas da realidade dos
jovens. Em Shrek Terceiro, o ogro
fica em estado de choque quando
recebe a notícia que será pai e não
sabe se dará conta dessa responsabilidade, assim como acontece com
muitos homens. Bruschi conta que
esses filmes usam o melhor do cinema: a possibilidade de viver fatos
que são possíveis só no mundo da
ficção, como ter super-poderes e
viver no meio de personagens de
contos de fadas, mas não deixam de
lado a realidade.
Para os próximos meses, estão
previstos os lançamentos de Os
Simpsons e a produção de He-Man.
A saga que vendeu muitas espadas de
plástico nos anos 80 será produzida
pela Warner. A Mattel, detentora dos
direitos dos personagens, pretende
relançar toda a linha de brinquedos,
de olho numa nova geração. Até a
irmã She-Ra, em breve deve ganhar
os próprios filmes. Outras estréias
que prometem esquentar as férias de
inverno da gurizada são: O Quarteto-Fantástico 2, que também saíram
dos quadrinhos, e Harry Potter e a
Ordem da Fênix, baseado no último livro da série, que consagrou o
inglês Daniel Radcliffe como bruxo
da Escola de Magia e Bruxaria de
Hogwarts.
Ficção quase real
A tecnologia promete influenciar
ainda mais o cinema, já que os filmes
de animação e de super-heróis, que
utilizam muitos efeitos especiais,
estão se tornando cada vez mais realísticos e semelhantes com o mundo
real. De acordo com Bruschi, a
tendência é que a sedução deles se
torne ainda maior, sendo mais fácil
do espectador acreditar que o que ele
vê na tela também pode acontecer
no mundo real. “Cada vez será mais
fácil do cinema criar o seu mundo
ficcional semelhante com a realidade”, relata Bruschi. O professor
Tietzmann diz que a tecnologia
deve estar a serviço de uma história
interessante e completa, “enquanto
personagens como super-heróis
refletirem alguma fantasia da sociedade haverá espaço para filmes
assim”, conclui.
12 ponto final
Porto Alegre, junho de 2007
hipertexto
Carol Bicocchi
Variedades
Circo invade
palco do teatro
Música se associa às práticas circenses
e encanta pela inovação e emoção
Por Bruna Holler Petry
Os animais não são de verdade,
o chão não é mais de pedrinhas, nem
o teto de lona. O circo não é mais o
mesmo, mas sua magia continua viva
e se confirma como testemunhou o
público que lotou o teatro São Pedro
no início de junho para ver o grupo
Tholl. Devido à grande procura, a
direção fez espetáculos extras na
semana seguinte.
O chamado “novo circo”, uma
adaptação da primeira forma de
expressão que se caracterizava pela
lona colorida e a montagem das
estruturas para o espetáculo, agora,
exige grandes produções e altos
investimentos. Os espetáculos são
glamurosos e mesclam técnicas
tradicionais circenses com música,
teatro e dança. O novo circo ganha
expressão com o grupo pelotense
Tholl. O espetáculo “Tholl, Imagem
e sonho” já lotou ginásios e teatros
do Brasil e, em breve, dará uma
volta pelo mundo, como revela João
Bachilli, diretor do espetáculo. “Já
estamos com contatos no Mercosul
e negociando com Orlando (EUA)
e Portugal”.
Bachilli trabalha com teatro há
26 anos e a idéia de dirigir o espetáculo foi uma junção de duas paixões:
circo e teatro. Para ele, a forma como
linguagem principal, junto com a
emoção, é um dos pontos positivos
do grupo, pois assim cada espectador
pode fazer sua própria leitura da
apresentação, através do imaginário
e da sensibilidade.
No palco, 17 atores fazem seus
malabarismos para contagiar o público com sua alegria. Miriam Torres,
24 anos, é uma das atrizes e conta
que o grupo mudou a sua vida. Para
ela, o Tholl trouxe muito mais que
uma profissão. Miriam sempre amou
teatro e circo, mas por ter corpo
acima do peso normal achava que
nunca poderia trabalhar. No entanto,
desde que entrou para o Tholl teve
a oportunidade de atuar na área que
sempre quis e hoje é muito feliz por
isso. “Eu sempre gostei de teatro
e de circo, mas achava que nunca
poderia trabalhar no circo por causa
da minha forma física. Hoje vejo que
estava errada e devo isso ao Tholl.
Agora, as pessoas me admiram pelo
que sou e não pela minha aparência.
Se estou gorda, não importa, elas
continuam elogiando meu trabalho
e dizem que estou linda. Sou grata
ao gruto e fico contente de poder
trabalhar no que realmente gosto”.
O produtor Paulo Martins é também um fã do grupo. Há três anos
e meio convivendo com os atores
e com a equipe técnica, ele conta
que gosta do trabalho do Cirque du
Soleil, conhecido grupo canadense
de novo circo. Mas, alega que Tholl
não imita o Cirque du Soleil e aponta
as diferenças existentes entre os dois.
“Todos somos apreciadores do Cirque de Soleil como fonte inspiradora. No entanto, eles compram peças
prontas, têm muito dinheiro, alta
tecnologia e contratam os melhores
acrobatas e bailarinos do mundo.
Nós formamos atores e montamos
nosso espetáculo. O Tholl é o sonho
de todo produtor, pude identificar
minha linha de trabalho e traçar o
meu perfil”, relata Martins.
Na Capital, o grupo se apresentou em 7, 8, 9 e 10 de junho e, devido
a grande demanda, os 17 bailarinos
subiram no palco mais duas vezes,
dias 11 e 12 de junho para levar,
novamente, emoção ao público.
Cirque du Soleil vem em setembro
O Cirque du Soleil é o mais
conhecido exemplo de novo circo.
Hoje é considerado a maior companhia de espetáculos de entretenimento do mundo e se destaca
pela beleza e pela superação das
habilidades físicas humanas. Eles
criaram espetáculos diversos para
apresentar. Dentre esses se destacam
Saltimbanco (que esteve no Brasil)
e Alegria que chega, em setembro,
ao País para uma turnê de 10 meses,
passando por seis capitais. O espetáculo Alegria já foi assistido por mais
de nove milhões de espectadores em
15 países. A turnê brasileira prevê
mais 250 apresentações.
A disputa pelos ingressos é sempre grande e os preços altos. Por isso
é preciso ficar atento para o início da
venda dos ingressos que, conforme
anunciado, deverá ser em julho. Os
bilhetes para a turnê brasileira, que
iniciará por Curitiba, em setembro e
terminará, em maio do próximo ano,
em Porto Alegre, variam de R$ 130
300, de acordo com o dia e a sessão
escolhida. A temporada em Porto
Alegre começará em 15 de maio de
2008 e os espetáculos serão no Barra
Shopping Sul, na Avenida Diário de
Notícias, n° 300, bairro Cristal.
Conceitos virtuais do circo em um palco de teatro marcam as apresentações do Tholl
O mundo mágico do grupo pelotense Tholl
Por Carol Bicocchi
É de encher os olhos, assim é o
espetáculo do grupo pelotense Tholl.
Como no circo, o público constata
ao entrar no mundo de “imagem e
sonho” que há uma grande fusão de
cores e formas, aliados à música, ao
humor.A interação com o público
estabelece uma atmosfera de alegria
e descontração.
Espetáculo para adultos e crianças, Tholl agrega números de acrobacias com tecidos, dança e teatro
combinados com músicas da moda,
performances com fogo, malabares
e pernas-de-pau, além de ricos e
pomposos figurinos e maquiagens
impecáveis.
Durante aproximadamente uma
hora e meia, o público pode conferir uma série de esquetes montadas
alheias umas às outras, nas quais
pouco ou nada se verbaliza, mas
muito se evidencia.
No mundo de Tholl é possível
“tirar sarro” da platéia sem pronunciar uma única palavra. Como no
circo tradicional, o palhaço, agora
um pouco descaracterizado, com
roupas e corpos femininos, faz todo
mundo cair na risada apenas na base
Performance moderna dos tradicionais perna-de-pau
da mímica.
Acrobacias que tiram o fôlego
da platéia, impressionando adultos
e crianças. Luzes dão o tom para
diferenciar cada momento. O que é
mais incrível: tudo parece ser, para
os jovens integrantes do grupo,
uma grande brincadeira. Eles pulam
corda, dançam, viram cambalhotas,
sobem no alto do teatro pendurados
em tecidos, brincam com fogo e se
divertem em meio à tensão que se
forma nos momentos mais perigosos. A palavra de ordem é diversão,
tanto para a platéia quanto para os
artistas.
Um ambiente de magia
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