hipertexto Sabrina Feijó/Hiper Eles são demais Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, junho de 2007 – Ano 9 – Nº 56 Super-heróis encantam a todos Pág. 11 Sabrina Feijó/Hiper Carbon Free A convivência possível da economia e ambiente Ações ecológicas para compensar os efeitos da poluição provocada Página 3 “Só a juventude pode mudar a política no Brasil” Página 2 Nicolas Gambin/Hiper Autores clássicos reaparecem como personagens na literatura moderna Professores de Letras analisam tendência na elaboração de obras de ficção William Waack em Porto Alegre Página 6 Jefferson Bernardes/Vipcomm Esporte Grêmio vence o tira-teima no Beira-Rio O campeão da Tríplice Coroa perde para o vice da Libertadores por 2 a 0 pelo Campeonato Brasileiro Página 9 Brasil participa do Pan com 699 atletas Página 8 2 opinião Porto Alegre, junho de 2007 hipertexto Editorial Mensagem simples: preservar Fala-se – e nós mesmos falamos – tanto em violência, com relação a medo e insegurança, mas pouco, ou não o suficiente, sobre as pequenas violências que cometemos no diaa-dia. Um papel de bala no chão, uma embalagem plástica no lixo orgânico, um chiclete no canteiro do vizinho. Essas atitudes que parecem, a princípio, tão irrelevantes e desimportantes são, na verdade, maus tratos ao meio ambiente. Neste mês, tivemos o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) e muito se tratou sobre o tema. No entanto, parece que o assunto fica restrito às grandes catástrofes. Não que nós não devamos nos importar e informar sobre o aquecimento global ou o efeito estufa. De forma alguma devemos deixá-los de lado. Mas por que não trazer mais vezes à tona a coleta seletiva do lixo? Ou incentivar o reaproveitamento de papel? Tanto a mídia como o gover- no externam mais preocupações com as conseqüências de maiores proporções, enquanto as pequenas violências contra o ambiente continuam a passar despercebidas. O fato de a dona Maria não separar lixo orgânico e seco em casa não vai se tornar manchete de capa de um jornal, porém educá-la para realizar essa tarefa pode ser de grande ajuda. Imprensa e governantes devem estar atentos aos deveres sociais com os quais podem contribuir. De um lado, divulgando e instruindo, do outro, educando e proporcionando a estrutura. Por exemplo, reportagens relacionadas à economia doméstica aliada a consciência ambiental e programas de conscientização nas escolas públicas e a organização de cooperativas para reciclagem são medidas passíveis de serem tomadas pela mídia e governo respectivamente. Pensando localmente, é absurdo que não haja coleta seletiva em toda Porto Alegre. Uma capital com 1.360.590 habitantes (conforme censo demográfico do IBGE de 2000) produz toneladas de lixo por semana e não dispõe de coleta seletiva em todos os bairros. E quando um bairro é privilegiado em contar com o serviço, há moradores que não desempenham seu dever tão simples de separar lixo seco e orgânico. Por isso é preciso perceber o que cada cidadão pode fazer para contribuir para a complexa tarefa de salvar o planeta. Uma só pessoa não tem o poder de solucionar o Dominique Wolton defende a teoria da coabitação aquecimento global, mas pode deixar o carro aos domingos em casa para poluir menos a cidade. Talvez não faça muita diferença, mas seria um hábito saudável para ela e para o ambiente que, a longo prazo, contribui para a preservação do ambiente. Sozinhos, não evitaremos grandes catástrofes, mas juntando atitudes positivas podemos construir esperanças de solução destes problemas. Se não é possível mudar o macro, que trabalhemos para ajudar no micro ambiente que nos cerca. Esta é uma mensagem bastante simples para um problema tão difícil. Preservar o meio ambiente é uma tarefa diária e que não exige conhecimentos científicos ou experimentos em laboratórios. Pequenas atitudes contribuem para o todo. Fica a proposta de estender o Dia Mundial do Meio Ambiente a todos os dias do ano. Brenda Parmeggiani, editora Brenda Parmeggiani Auditório da Famecos lotado para palestras com personalidades da área da Comunicação tem se tornado um hábito. E não foi diferente em 28 de maio, quando o sociólogo e pesquisador francês Dominique Wolton esteve na faculdade. Mais de 300 alunos tomaram o salão, sentados nas poltronas e nos corredores, de pé ou apertados na entrada. Wolton tratou das tendências da Comunicação, defendendo uma teoria de negociação e coabitação. “Comunicação é relação. O ato de comunicar é principalmente cohabitar”, definiu. O sociólogo vê na Comunicação uma questão política e que, portanto, não há democracia sem ela. Seduzir, convencer e compartilhar apenas não funciona: “É preciso aceitar que podemos coabitar mesmo não concordando uns com os outros”. Cabe aos jovens mudar o rumo da política nacional Guilherme Zauith O sóbrio jornalista engravatado que apresenta o Jornal da Globo estava despojado, solto. William Waack começou macio na palestra realizada no auditório da Faculdade de Direito da UFRGS. Vestia jeans e uma camisa azul. Ao brincar que se sentia em um conclave, por estar sentado na cadeira antiga do auditório, mostrava um pouco da ironia que aumentaria. O jornalista crê que a melhor maneira de quebrar a incompreensão mútua é o diálogo. Portanto, falava como pessoa e não como apresentador e prestador de serviço da Globo. Há um grande nível de desigualdade no país, apesar da propaganda contrária do Governo, disse William Waack. “A burocracia travada no seu pior sentido, apesar de ser um país relativamente jovem. O Brasil envelhece mais depressa do que a minha geração pensou que envelhecería- mos”. Questionou a platéia sobre o futuro e se ela o esperava? “Nós sempre achamos que o futuro será melhor. Falamos do país do futuro há muitas gerações. Os argentinos sempre olham para trás. Para eles, o passado foi sempre melhor. Por isso, fazemos piada”, completou. Waack acredita que o país precisa de reformas profundas. “Devemos mudar as instituições políticas.” Como repórter, aprendeu que o mais importante é o que as pessoas têm na cabeça e fazem da realidade. “Os fatos existem porque as pessoas fazem, criam e interpretam suas versões e agem de acordo com suas interpretações. A maneira como nós, no Brasil, combinamos como devemos fazer as coisas, está errada”, observou. Memória limitada “Quem aqui lembra em que deputado votou em outubro?” Poucas mãos envergonhadas se manifestaram no ar, menos da metade. Waack Mãos à obra Nos minutos finais, Waack criticou a economia brasileira. Questionou como “defender um regime capitalista mais aberto. Se funciona assim tão bem para as empreiteiras, com reservas de mercado estabelecidas, ausência de competição e excesso de competição que funcione a meu favor. O governo não deixa que agências reguladoras tomem Hipertexto Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected] Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php Reitor: Ir. Joaquim Clotet Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira Nicolas Gambin/Hiper insistiu: “Legal depois dizer que os políticos são safados, corruptos, vagabundos. Com que moral vocês podem cobrar alguma coisa de alguém em Brasília?”. Ele explica que a política, hoje, deixou de ser um embate de idéias, para ser acomodação de grupos de interesses. “O presidente Lula acredita que estamos em um grande barco eleitoral, contanto que cada um leve uma parte e não encha o saco. Isso é um grande cheque em branco para a geração de vocês”, ponderou. Waack conclamou jovens gaúchos a mudar o País e modo de pensar conta disso, toda a ação política de economia é eleitoral”. Sobre a arrecadação de impostos, é pessimista. “O principal objetivo é a perpetuação do mesmo grupo de interesse no poder.” Entende que se a mudança não começar pela política, não vamos chegar a lugar algum: “A única possibilidade de fazer isso andar, é abandonar a ilusão de que tem um salvador da pátria. Se não entendermos que devemos mudar a maneira como pensar, não estaremos em situação diferente no final de 2008”. Cético, deixou a a solução a cargo dos jovens. “Vocês deverão começar o processo e mudar a maneira como pensam. Mão à obra”, conclamou. Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000 Diretora da Famecos: Mágda Cunha Coordenadora/ Jornalismo: Cristiane Finger Produção dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia. Professores Responsáveis: Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo). ESTAGIÁRIOS: Editores: Brenda Parmeggiani, Lidiana de Moraes e Susy Sousa Editores de Fotografia: Fernanda Fell Editores de Arte: Brenda Parmeggiani, Juliana Borba, Manuela Kanan e Sabrina Silveira Repórteres: Bernardo Biavaschi, Brenda Parmeggiani, Bruna Holler Petry, Cecília Mombelli, Daniela da Silva Cenci, Fernando Rotta Weigert, Giovanna Milani, Guilherme Zauith, Laion Espíndula, Lidiana de Moraes, Márcia Milani Soares, Maria José Mendes da Silva, Mariana B. Soares, Patrícia Lima, Rafael de Lemos Vigna, Sabrina P. Silveira, Susy Sousa, Tatiana Feldens, Thais Silveira e Vinícius Roratto Carvalho Repórteres Fotográficos: Carla Ruas,Caroline Bicocchi, Fernanda Fell, Giovana Milani, Juliana Freitas, Luciana Nunes, Manuela Kanan, Ricardo Romanoff, Sabrina Feijó, Taidje Gut, Thiago Marques e Vinicius Carvalho hipertexto sociedade 3 Porto Alegre, junho de 2007 Fernanda Fel/Hiper Carbon Free Ambiente e economia podem andar juntos Empresas promovem ações ambientais para compensar a emissão de carbono e outros poluentes na natureza Mariana Bairle Soares Os organizadores do Donna Fashion Iguatemi, evento de moda realizado, em Porto Alegre, em abril, vão plantar 346 árvores, em outubro, em áreas ciliares degradadas da Mata Atlântica e também na região de Porto Alegre. Embora pareça estranha essa informação, o compromisso foi assumido pela produção dos desfiles na passarela do Shopping Iguatemi e deverá ser, como foi amplamente anunciado, o primeiro evento de carbon free no Estado. O carbon free é um certificado concedido a empresas ou organizações que tomam iniciativas para reduzir a emissão de carbono na atmosfera. Este é o objetivo do compromisso assumido pela produção do Donna Fashion: plantar árvores para reduzir o impacto do CO2 liberado pelas ações do evento. A comercialização de créditos de carbono é um dos mecanismos que permitem aliar desenvolvimento econômico e meio ambiente. “As empresas se deram conta de que é possível obter lucro cuidando do meio ambiente ao mesmo tempo, o que foi uma grande quebra de paradigma. Mas esse apoio não viria simplesmente de forma voluntária e altruísta. “Elas precisavam ter algum retorno e a implantação dos créditos de carbono veio ao encontro disso”, garante o geólogo e professor da PUCRS, João Marcelo Ketzer, doutor em Geociências pela Universidade de Uppsala, na Suécia, e pós-doutor pelo Instituto Francês do Petróleo. “Algumas empresas se deram conta, até em razão do chamado ecomarketing, que a questão ambiental também é importante do ponto de vista da imagem corporativa, da credibilidade da empresa e dos mercados que ela pode acessar”, acrescenta o professor de Economia e Meio Ambiente da PUCRS, Osmar Tomaz de Souza. Contudo, ele pensa que ainda há muito a ser feito por parte das empresas. As pesquisas sobre meio ambiente já chegam a 20 milhões de anos e concentração de CO2 na atmosfera aumentou 31% nos últimos 250 anos. A queima de combustíveis fósseis é responsável por três quartos das emissões, informa Souza. No caso brasileiro, a preocupação com as questões ambientais se deu, segundo ele, apenas na última década, embora em outros países do mundo já houvesse discussões a respeito desde os anos 70. O economista aponta que o grande entrave da questão ambien- tal é a disparidade entre o padrão de consumo dos países ricos e dos países pobres. Esse é um grande problema, porque se os menos favorecidos tentassem acessar um padrão equivalente ao dos Estados Unidos, por exemplo, seria inviável ambientalmente. “O problema maior não é temos muita gente no Planeta, mas porque grande parte da população não pode ter acesso às tecnologias que gostaria. Não adianta acharmos que cada chinês poderá ter um carro e vários televisores, como os americanos, porque é impossível. A Terra não comporta. Mas por que nem todos podem ter o padrão de consumo americano não dá para renegar os demais à pobreza e à miserabilidade. É um tipo de solidariedade que tem que ser global”, diz. Um automóvel, por exemplo, segundo João Marcelo Ketzer, emite cerca de uma tonelada ao ano de CO2. Um vôo internacional – distâncias mais longas -, por sua vez, consome de duas a três toneladas de CO2 por viagem. Um trecho menor, dentro do mesmo país, emite cerca de 300 quilos de CO2. Mas essas emissões acontecem a todo tempo – pelo simples fato de acender uma lâmpada já se está aumentando a quantidade de gases causadores de efeito estufa na atmosfera. Fotos Vinícius Carvalho/Hiper Desfile Donna Fashion vai compensar poluição com plantação de árvores Oportunidade para o Brasil Especialistas alegam que negócios com créditos de carbono podem ser uma oportunidade única em termos de lucratividade aos países em desenvolvimento que implantam Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). O Brasil tem potencial para movimentar US$ 1,2 bilhão em créditos de carbono em 2012, segundo cálculo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), publicado no Jornal do Comércio de 15-17 de junho último. O Brasil é o terceiro país do mundo em quantidade de projetos de MDLs. São 222 empreendimentos brasileiros registrados, diante de 636 da Índia e 483 da China. No País, São Paulo é o campeão, com 25% dos projetos nacionais. Minas Gerais vem a seguir com 14%, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, 9% cada um e Paraná e Goiás, na ordem de 6%. Dentre os 222 projetos nacionais, 134 estão ligados a geração de energia, 37 relacionam-se à suinocultura e 25 a aterros sanitários. O principal problema ainda é a falta de informação e conhecimento por parte das empresas de que podem se beneficiar com ações ambientais. Protocolo de Quioto quer melhorar o clima do planeta O Protocolo de Quioto, firmado em dezembro de 1997, visa melhorar o clima do planeta na próxima década. A resolução determina que países desenvolvidos reduzam em 5,2% a emissão de gases causadores do efeito estufa em relação a 1990 (13,7 bilhões de toneladas de CO2 eram emitidos neste ano). Os países têm até 2008 para implantar projetos e tecnologias capazes de atingir esse objetivo e até 2012 para comprovar a redução. Isso significa que é esperada uma diminuição de, no mínimo, 714 milhões de toneladas de CO2 por ano. O acordo estimula as nações a cooperarem entre si através de algumas ações, destacando-se o incentivo econômico, com a viabilidade de compra e venda de créditos de carbono. Existem três instrumentos para o cumprimento das metas: Implementação Conjunta, Mercado de Emissões e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Os dois primeiros são aplicados nos países desenvolvidos, enquanto o terceiro é restrito aos em desenvolvimento. O mercado de carbono funciona através da comercialização de certificados de emissões de gases em bolsas e fundos e é regulamentado pela Organização das Nações Unidas (ONU). A distinção entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento se justifica porque os mais pobres ainda precisam crescer e a emissão de gases muitas vezes é uma conseqüência. “Não dá para exigir da Índia, onde metade da população é miserável, que reduza a emissão. O mesmo com o Brasil. Seria penalizar demais países que já são pobres e precisam se desenvolver, os mais ricos já emitiram muito na sua história”, explica o professor Osmar Tomaz de Souza. A operacionalização da emissão de créditos de carbono se dá através da elaboração de um projeto que é analisado e, se comprovado que ocorre a diminuição na emissão de gases poluentes, a empresa passa a adquirir o certificado, o qual poderá ser comercializado posteriormente. No Brasil, existe uma Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, que atua juntamente a ONU e intermedia esse processo. A comercialização já ocorre na Bolsa de Chicago, Canadá, República Tcheca, França, Alemanha, Japão, Holanda, Noruega e Suécia. Cada tonelada de CO2 corresponde a um crédito de carbono. Mesmo outros gases são convertidos para equivalência em carbono. O processo de compra e venda se dá por meio de projetos que podem estar ligados a reflorestamentos, ao desenvol- vimento de energias alternativas, eficiência energética, controle de emissões etc – quaisquer medidas que comprovadamente reduzam a emissão de poluentes. Estima-se que esse mercado deva movimentar 10 bilhões de dólares ao ano. Os principais compradores dos créditos de carbono são Japão, Holanda, Reino Unido e União Européia, enquanto entre os principais ofertantes de MDL inclui-se o Brasil, com 13% do total de projetos em esfera mundial, atrás apenas da Índia (31%) e China (14%). O geólogo João Marcelo Ketzer garante que, cientificamente, o princípio da comercialização de créditos de carbono pode ser aplicado com eficiência. “O impacto das emissões é global. Tanto faz onde elas são produzidas ou mitigadas”, explica. O problema é que o protocolo possui metas pouco efetivas na taxa de redução de CO2 prevista. “O protocolo, assinado em 1997, prevê diminuição de 5,2% das emissões em relação a 1990, ou seja, os índices de redução já estavam defasados”. Para ele, é preciso desenvolver alternativas para a redução na emissão de gases em curto espaço de tempo. “Talvez os mecanismos do protocolo de Quioto não sejam suficientes para atender essa demanda”, admite o geólogo. Existem pequenas medidas que podem ser adotas em casa e nas empresas que contribuem para preservação ambiental. São a separação e reciclagem do lixo, uso racional da água, utilização de energias renováveis, troca de lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes, evitar deixar ligados computadores, lâmpadas ou demais equipamentos desnecessárias durante a noite, entre outras ações. 4 últimas Porto Alegre, junho de 2007 recortes Tatiana Feldens Repórter: uma profissão de risco Fenaj denuncia violência no Brasil Pelo menos 59 jornalistas foram mortos nos últimos meses, segundo a World Association of Newspapers (WAN), entidade que representa 18 mil jornais no mundo inteiro. De acordo com a associação, jornalistas de vários países enfrentam cenários perturbadores, marcados por ataques, prisões e assassinatos. Pelo o que se pode ver, a impunidade ainda prevalece mundo afora, principalmente nas Américas Central e Latina e também no Iraque, devastado pela guerra. Dos 59 profissionais assassinados desde novembro de 2006, 26 perderam a vida no Iraque, dois no Brasil. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) lançou, no início do mês, relatório sobre violência que atingiu a imprensa no Brasil. A pesquisa registra 68 agressões a profissionais e à imprensa e seis casos sobre coberturas de risco, arquivamento de processo e julgamentos relativos ao ano passado. A violência contra a imprensa atinge números preocupantes. Em 2006, quatro profissionais da área foram assassinados, o dobro do ano anterior. Houve, ainda, sete atentados e sete casos de ameaças, além do seqüestro da equipe da TV Globo. O relatório define o Brasil como local perigoso. hipertexto Estudantes da Famecos dão show em Gramado Por Ricardo Romanoff Mais de 20 professores, alunos e funcionários da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) ocuparam estande de 80 metros quadrados, no 16º Festival Mundial de Publicidade de Gramado, realizado de 13 a 15 de junho. O objetivo era aproximar o curso de Publicidade e Propaganda (PP) dos participantes. Um dos destaques foi o lançamento da publicação Portfolio 2006, que reúne as peças produzidas nas disciplinas de PP. As oficinas de Criação Publici- tária, Cinema, Mídia Digital e Foto Publicitária, dirigidas por docentes da Famecos, tiveram grande procura, as vagas esgotaram no primeiro dia do festival. Outra atividade que se tornou uma atração do estande foi “Som da Lata”, em que era possível conceber uma trilha sonora de 30 segundos de duração, mesmo sem conhecimentos técnicos de música. Duas televisões de plasma fizeram parte da estrutura montada em Gramado, apresentando 10 filmes realizados pelos alunos do curso superior de Tecnologia em Produ- ção Audiovisual, Cinema e Vídeo (Teccine) e 23 vídeos criados por alunos de PP. O curso de Jornalismo esteve presente com a cobertura dos repórteres da Cyberfam e do Centro de Produção Multimídia, que fizeram entrevistas e reportagens. Uma equipe de alunos e professores produziu duas edições de jornal sobre o festival que circulou pelas dependências do Serra Park, local do evento. A impressão do material se deu no estande, por meio de equipamentos da parceria da Famecos com a empresa HP, iniciado no ano passado. Ricardo Romanoff/Hiper Faltam recursos e liberdade na TVE E, não é que a crise chegou ao Estado! Funcionários da Fundação Cultural Piratini divulgaram manifesto público expressando sua preocupação com o futuro da TVE e da FM Cultura. Segundo o manifesto, a emissora sofre com falta de pessoal, de combustível e com censura ao exercício do jornalismo. Exemplo denunciado: a cobertura envolvendo as acusações do vicegovernador Paulo Feijó sobre irregularidades na gestão de Fernando Lemos na presidência do Banrisul. Do lado do denunciante, nenhuma palavra foi dita. Já do acusado...muitas. Acredite: continuamos bem vivos Apesar destes indícios de cerceamento da liberdade de imprensa e do aumento da concorrência das novas mídias, a circulação de jornais no Brasil cresceu 6,5% em 2006. O aumento coloca os leitores brasileiros em segundo lugar, com 48 minutos diários de leitura de jornais, perdendo apenas para os belgas, com 54 minutos por dia. Segundo dados divulgados pela Associação Mundial de Jornais (WAN), o crescimento nacional superou o índice mundial, que bateu os 2,3% de crescimento, assim também como o da América do Sul, que cresceu 4,6%. Alunos de PP da Famecos exibem talento em Festival de Publicidade na Serra, neste mês de junho Fernanda Fell/Hiper Surpreenda-se – Esta foi a temática da 28ª Mostra de Talentos em Relações Públicas, realizada em 18 de junho, no espaço de exposições do prédio 41 do campus da PUCRS. Evento semestral, apresentou trabalhos de planejamento realizados por alunos de RRPP para instituições públicas e privadas. Alunos do Jornalismo vão estudar em Portugal Da Redação Consciência ambiental Surfando na rede Os brasileiros estão entre os que mais se preocupam com o clima no mundo. Pesquisa de opinião do Instituto para Mudança Ambiental da Universidade de Oxford, no Reino Unido, aponta que o público apreensivo com assuntos como a emissão de gases estufa triplicou nos últimos seis meses. As mudanças climáticas preocupam 16% dos entrevistados de 47 países. Em 2006, o número era apenas 7%. O internauta brasileiro bateu o recorde histórico de tempo de acesso na Internet em abril de 2007. Ficou em média 21 horas e 44 minutos navegando. Os 25 milhões de brasileiros que acessam a internet de casa navegaram 49 minutos a mais do que em março – aumento de 3,9%. A primeira vez que o país chegou ao topo da lista foi em abril de 2005, com 15 horas e 14 minutos online. Seis alunos do curso de Jornalismo da Famecos vão cursar o segundo semestre em Portugal, como resultado do convênio da PUCRS com a Universidade Católica Portuguesa. As vagas foram oferecidas em maio para os cursos de Comunicação Social e Letras. O Programa de Mobilidade Acadêmica, disponibilizado pela Assessoria de Assuntos Internacionais da PUCRS, permite aos estudantes cursarem um semestre em instituições de vários países, pagando apenas a mensalidade daqui. No caso da Católica Portuguesa, a combinação é restrita à área de comunicação social. Depois do processo de seleção, que inclui o coeficiente do histórico escolar, dinâmica em grupo e uma redação – espécie de carta de apresentação – os estudantes escolhem as disciplinas que poderão ser aproveitadas no currículo escolar, como eletivas ou obrigatórias. “Os textos foram muito elogiados pelos professores de lá”, comemora Cristiane Finger, coordenadora do curso de Jornalismo. Aline Feijó Bianchini, Ana Carolina Pan, Diego de Carli Alves, Luiza Fedrizzi Machado, Luiz D’Ávila Cabral e Tiara Vaz Ribeiro são os selecionados para o desafio no próximo semestre. A Licenciatura em Comunicação Social e Cultural habilita o formando a trabalhar em rádio, jornal, televisão e Internet, em atividades de publicidade, marketing e programações culturais, como bibliotecas e museus. O curso pertence à Faculdade de Ciências Humanas, junto com Filosofia, Línguas Estrangeiras, Sociologia, Serviço Social e Relações Internacionais. A Universidade Católica Portuguesa foi criada em 1967, sob o comando da Igreja Católica, com campi em Beiras, Braga, Porto e Lisboa, onde os alunos estudarão. Entre as matérias selecionadas, estão comunicação televisiva, comunicação radiofônica, aproveitadas como projetos, jornalismo de investigação, geopolítica e geoestratégia, antropologia filosófica e literatura e mídia. As aulas começarão no dia 13 de setembro e terminarão em 1º de fevereiro. Por enquanto, os estudantes esperam toda a documentação burocrática e organizam os preparativos. “Estamos vendo todos os papéis para o visto”, comenta Diego. Além disso, é preciso definir a hospedagem. “Ainda falta o lugar para ficar, decidir se todos vão ficar juntos. Provavelmente vai ser na cidade universitária”, planeja Aline. hipertexto economia 5 Porto Alegre, junho de 2007 Tecnopuc amplia os horizontes Parque Tecnológico da PUCRS propõe o desenvolvimento da universidade e empresas na região Maria José Mendes da Silva O Parque Tecnológico (Tecnopuc) é a conseqüência da relação entre a universidade e empresa, formada nos corredores e salas de aula da PUCRS. O objetivo do projeto é aprimorar as atividades de pesquisa, fazendo da universidade uma referência nacional e trazendo vantagem competitiva aos acadêmicos envolvidos. Essa demanda empreendedora da sociedade buscou na PUCRS uma base para o seu desenvolvimento e a resposta foi positiva para ambos. Universidade e empresas se complementaram e o Tecnopuc teve êxito. O diretor do Parque, professor Roberto Moschetta, afirma que uma universidade se mantém pela relação entre ensino, extensão e pesquisa. Na início do projeto, em 1998, a graduação e as atividades complementares da PUCRS já estavam estruturadas, o próximo passo para a busca de excelência para a instituição seria o fortalecimento da área de pesquisa que, de acordo, com Moschetta, iria exigir maiores investimentos. Em dezembro de 1999, foi criada a Agência de Gestão Tecnológica e de Propriedade Intelectual (AGT) para proporcionar o crescimento das relações institucionais da universidade com empresas. Com essa ligação, surgiu a necessidade de aproximar os empreendedores e a instituição. Para sanar essa insuficiência, ambientes acadêmicos foram transformados em espaços empresariais. O projeto ampliou as parcerias com empresas ao longo dos últimos anos. A área que integra o Parque foi adquirida do Exército em 2001 e suas antigas instalações reformadas, adequando-as às necessidades das modernas operações de pesquisa. O Tecnopuc conta, hoje, com 38 empresas e entidades instaladas – desde grandes empresas atuantes no mercado mundial a pequenas empresas que se desenvolvem através da Incubadora Tecnológica Raiar – e mais de 2500 pessoas envolvidas. “A missão e negócio do empreendimento é formar um habitat de pesquisa e inovação, de interação entre a universidade e a Empresas instaladas privadas Agrodigital 4TI AJE Assespro CEITEC Compasso Conex Security Conectt CPM DBServer Dell Computer Embratec Engeltec FAJERS GetNet Hewlett & Packard Innalogics Inpar KW Informática Lifemed Krieser Microsoft Mobisol Netwall Onbiz Oz Engenharia Perfecnet PMI Processor PowerSysLab empresa, desenvolvendo a economia da região”, define Moschetta. A capacidade científica e técnica dos pesquisadores e seus laboratórios é dividida nas áreas de Tecnologia da Informação e Comunicação, Energia e Física Aplicada e, ainda, Ciências Biológicas, da Saúde e Biotecnologia. Segundo o professor Moschetta, o Parque deve crescer ainda mais. “Em breve começa a construção de um prédio com projeção para 15 andares, que será a nova sede Quantiza Systems 4G pesquisa & desen. Radiopharmacus Siemens Sinq Sistemática Softmóvel Softsul Stefanini Sthima Telemon Tlantic Tron WK Energia Worbi do Tecnopuc, e comportará mais de 5000 pessoas”, assegura. Além dessa perspectiva de crescimento, Moschetta informa que será criado o Centro de Produção Audiovisual do Rio Grande do Sul em parceria com o governo do Estado e o Fundacine (Fundação Cinema RS). O projeto visa adequar parte da área no campus de Viamão para a instalação de estúdios, podendo abrigar empresas audiovisuais e expandindo o horizonte do Tecnopuc. públicas Anprotec – Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores Cientec – Fundação de Ciência e Tecnologia CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Fa p e r g s – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do RGS FIJO – Fundação Ir.José Otão FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos Governo RS MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia PAT – Porto Alegre Tecnópole Prefeitura POA Procempa – Cia Processamento de Dados do Município de Porto Alegre Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas 6 cultura Porto Alegre, junho de 2007 Literatura atual relê clássicos Fotos Sabrina Feijó/Hiper A utilização do passado no presente caracteriza os livros contemporâneos por exemplo, é um material farto que é reelaborado na literatura”. O As prateleiras das livrarias estão diferencial está no talento inventivo repletas de novas opções para os de cada escritor, como no caso de habituais consumidores de literatura. Ítalo Calvino que utiliza elementos A novidade, entretanto, é parcial. Os da mitologia oriental e das Mil e Uma livros que mais se destacam trazem Noites, no livro Cidades Invisíveis. Até histórias muito parecidas, abordando mesmo o escritor Jorge Luís Borges temas e personagens semelhantes. dizia que estava tecendo sempre o Entre as formas literárias recorren- mesmo texto. Há um ponto positivo tes, as obras em série conquistam nessa reinvenção, como salienta Márfãs e geram lucro para as editoras. cia: “A vinculação com os clássicos A dúvida quanto à capacidade da prova que a literatura continua viva literatura inovar nas fórmulas se e os novos escritores também são instala. leitores da tradição”. Apesar do sucesso recente das O recontar de histórias gera o coleções, esse não é um costume reaproveitamento de personagens. A novo como explica a doutora em literatura está repleta de figuras marliteratura e professora da Faculdade cantes que reaparecem em obras que de Letras da PUCRS, Sissa Jacoby. muitas vezes não tem ligação com a “As obras literárias anterior. Fausto é têm sua origem no um exemplo que folhetim, com os reencarnou inú“A vinculação com os romances publimeras vezes pelas clássicos prova que a cados em pedaços mãos de autores nos jornais. Na literatura continua viva e como Goethe, pós-modernidade, Thomas Mann e os novos escritores continua a questão Álvares de Azede prender o leitor vedo. também são leitores com um personaOutro nome da tradição” gem envolvido em que reutilizou novas aventuras”. suas criaturas foi As obras em Machado de Asséries conquistam sis. Quincas Borba fãs, mas também coletam críticos aparece no livro em que é protagoque seguem o pensamento do crítico nista e em Memórias Póstumas de Brás literário Walter Benjamin: para ele, a Cubas. Aires intitula o Memorial de arte ganha em quantidade, mas perde Aires e surge em Esaú e Jacó, história em qualidade. A professora do Ins- em que Assis se inspirou na trama tituto de Letras da UFRGS, Márcia dos irmãos presentes na Bíblia em Ivana de Lima e Silva, acredita na Gênesis. “Mesmo na literatura, a existência do diferencial na nova linguagem dos textos se repete, faliteratura: “É da quantidade que sai a zendo um jogo de personagens que qualidade. Os grandes escritores atu- reaparecem em contextos de ação ais conseguem dar um passo além, diferentes”, diz Márcia. eles lêem a tradição e depois a trazem Para Sissa Jacoby, a repetição de para a contemporaneidade”. personagens é usada para fazer uma A literatura estaria ligada ao reflexão: “Essa retomada é uma princípio em que tudo pode ser re- característica da literatura contemcriado. Um exemplo são os contos porânea que reflete sobre o passado de fadas que fazem parte da cultura com uma intenção crítica”. Uma popular desde a Idade Média, mas figura que faz parte da literatura foram esquecidos por um tempo até em tempos diferentes é Sherlock serem revisitados. “Eles começaram Holmes. A primeira menção ao a serem retomados nos anos 60, 70 nome foi feita no conto A aparição de e ascenderam na década de 90, com Senhora Veal, publicado em 1704 por desenhos da Disney. Hoje, Harry Daniel Defoe. Em 1880, os nomes Potter é um conto de fadas ampliado Sr. Watson e Sr. Sherlock inspiraram que também tem elementos das his- Arthur Conan Doyle. Mais recentetórias de fantasia, detetives e mitos”, mente, em 1995, Jô Soares usou o detetive em O Xangô de Baker Street, conta a professora da PUC. Márcia, professora da UFRGS, uma paródia entre a história e a liteconsidera discutível tentar delimitar ratura policial, na qual personagens o que é original na literatura: “Às ficcionais interagem com pessoas vezes a origem não está em Poe, ou reais, como Dom Pedro II, fazendo em Conan Doyle, está antes, nos uma crítica à modernidade literária gregos, até nas cavernas. A Bíblia, e histórica. Por Lidiana de Moraes Personagens criados por Conan Doyle transitam em romances de hoje hipertexto Autores se tornam personagens De construtores de histórias a integrantes de outras narrativas. Assim alguns escritores são imortalizados em histórias em que passam a ser personagens. Está se tornando comum, autores clássicos serem homenageados, não com biografias, mas como parte de um enredo fictício. Livros consagrados como A Última Quimera, de Ana Miranda, e Em Liberdade, de Silviano Santiago, utilizam Augusto dos Anjos e Graciliano Ramos como protagonistas de uma trama. Na coleção O Bairro, Gonçalo Tavares transformou pessoas como Kafka, Brecht, Calvino e Fernando Pessoa em vizinhos para que, em cada livro, possa falar da trajetória destes homens, misturando realidade e fantasia. A professora Márcia Ivana Lima e Silva vê nestas obras uma maneira de aproximar o leitor do escritor: “Como coordenadora dos arquivos literários de Guilhermino César e Caio Fernando de Abreu, reconheço como genial a dimensão humana do autor ao se aproximar do leitor, que passa a vê-lo também como um ser que tem conflitos e se dedica à literatura com vontade”. José de Alencar foi precursor da interatividade A proximidade do leitor com a obra literária cresce tanto que, para muitos, acompanhar histórias não é mais o suficiente. Juntando a vontade de se envolver diretamente com as tramas, com as facilidades proporcionadas pela internet, nasceram as fanfictions, histórias publicadas na web por fãs, não apenas de literatura, como de filmes e séries de TV. O bruxo criado por J.K. Rowling não é campeão apenas na vendagem de livros, é também o personagem que inspira mais histórias. No Brasil, o maior Fandom (nome dado aos sites que reúnem as fanfictions) é o Potterish.com, com mais de 11 mil histórias e cerca de 40 mil membros. Para o editor do Potterish, Marcelo Neves, estas criações mostram a influência dos livros: “As fanfics são a prova que mais e mais pessoas estão desenvolvendo o hábito da leitura e escrita e também servem para amenizar a ansiedade dos fãs enquanto esperam a continuação da saga”. A professora Márcia Ivana elogia o trabalho dos fãs: “As fanfictions têm uma capacidade maravilhosa de imaginação e também são uma forma do autor conhecer melhor o leitor”. Existem exemplos na literatura em que a opinião dos leitores ajudou a mudar os rumos de um texto literário. O autor José de Alencar mudou o desfecho de O Guarani por causa da insatisfação do público que não acreditava na relação de Ceci e Peri. Atualmente uma obra consagrada, como Harry Potter, não tem como seguir os desejos dos leitores e a trama fica a cargo da autora. “J.K. Rowling sempre teve a história planejada e seguiu com ela até o fim”, comenta Neves. Mesmo que os escritores não sigam à risca as vontades dos leitores, o que não falta são estilos literários para escolher. “O mercado editorial nunca publicou tanto e está muito democrático. Isso não significa que a qualidade seja o parâmetro para que aquele texto faça sucesso. Há o trabalho da mídia e o interesse do leitor que tem um pouco de medo de experimentar o novo”, diz Márcia. A reinvenção constante da literatura é uma de suas principais característica e pode levar do novo ao velho. “Muitas matérias da literatura tradicional já estavam esquecidas e por terem sido retomadas por escritores contemporâneos faz com que sejam discutidas de novo”, diz a professora Sissa Jacoby. Mais importante do que comparar a literatura do passado e do presente é saber aproveitar as diferenças, como a professora Márcia destaca: “É bom que as pessoas leiam escritores como Agatha Christie e Paulo Coelho porque assim o leitor vai se capacitando para uma leitura mais aprofundada, até que ele comece nas histórias em quadrinho e chegue a Guimarães Rosa”. Apenas lendo é possível pensar e entender a literatura em sua totalidade. hipertexto ensino 7 Porto Alegre, junho de 2007 Vinícius Carvalho/Hiper Movimento estudantil 2007 A cara da juventude não é mais pintada Antigos líderes estudantis analisam os movimentos articulados no País e denunciam a partidarização Por Laion Espíndula Tudo começou em 3 de maio, quando um grupo de 150 estudantes levou até a reitora da Universidade de São Paulo (USP), Suely Vilela, uma lista de reivindicações. No entanto, ela havia viajado e não compareceu à audiência marcada um mês antes. Os alunos preferiram aguardar o seu retorno acampados na Reitoria. Os dias foram passando e pouco se resolveu: a invasão só terminou no fim de junho, 51 dias depois. A manifestação teve como reivindicação principal a revogação dos decretos do governador de São Paulo, José Serra. De acordo com os estudantes acampados, o governador tucano “ataca” a autonomia da universidade pública. “Tais determinações agridem não só em relação à gestão financeira, mas também no que concerne a sua função máxima: o ensino e a pesquisa autônomos, livres de interesses mercadológicos e meramente instrumentais”, a pauta de 18 sugestões está escrita no Blog da ocupação (http://ocupacaousp. noblogs.org). Muitos movimentos semelhantes ao da maior universidade do país foram deflagrados nacionalmente. Outras reitorias foram invadidas em apoio aos estudantes da USP, contrários à Reforma Universitária e por exigências pontuais nas universidades. Tais articulações indicam o ressurgimento do movimento estudantil. O ponto em comum entre os movimentos é a crítica à Reforma Universitária. Queixam-se, inclusive, o Prouni. Entendem que em vez de aplicar recursos nas federais, o governo prefere comprar vagas nas universidades particulares. Porto Alegre viveu, nos dias 5 e 6 de junho o protesto de 300 estudantes. Eles passaram a noite com colchões estendidos pelo térreo da Reitoria da UFRGS. “Acredito que foi muito válido o ato. Conseguimos maior parte das reivindicações e mobilizamos grande parte dos estudantes”, contabiliza Thales Speroni, representante do DCE-UFRGS, ao relacionar os pedidos aceitos pelo reitor José Carlos Hennemann. “Abriu precedentes para qualquer ataque. Agora, os estudantes vão saber o que fazer”, complementa. Nem todos concordam que a luta está de volta. “Se tomarmos como referência o que se fazia 20 anos atrás, não sei se é possível dizer que existe movimento estudantil hoje”, observa Renato de Oliveira, sociólogo e ex-líder estudantil. Para ele, os estudantes estão organizados em “grupos razoavelmente pequenos e exíguos, que não têm uma identidade positiva. Os grupos não se mobilizam por valores afirmativos”. Partidarização Para Fábio Brandt, estudante de jornalismo da USP, a ocupação teve dois momentos diferentes. “De 3 de maio até o dia 17, o movimento estava ali para negociar. O outro é do dia 17 em diante, com a greve dos estudantes, dos funcionários e dos professores”. Oliveira diz que, na federal de São Paulo, isso aconteceria mesmo sem os decretos de Serra. “Significa a tentativa de grupos políticos por um espaço numa conjuntura complexa”, argumenta o professor de Sociologia. “Pequenos partidos aproveitam o momento de instabilidade do país e se dizem representantes das causas sociais”, complementa. A partidarização da atual luta estudantil é a principal crítica ao movimento. Quem pertence a ele diz não haver a intervenção de partidos nas decisões dos estudantes. “Apesar da tentativa, o movimento não é e não pode ser partidário”, afirma com convicção Speroni. Uma matéria do jornal Folha de S. Paulo (caderno Cotidiano, de 27 de maio) relata que os protestos não indicariam a articulação de um partido político ou grupo ideológico. “Alunos do sucateado curso de História ao lado de alunos do rico curso de Economia. Atuantes de centros acadêmicos ao lado de curiosos que só agora sabem o que significa autonomia universitária. Estão todos lá”, escreve a Folha. Brandt revela que os estudantes integrantes de partidos políticos sofrem críticas por parte dos sem vínculos. “Eles estariam ali, segundo diversas falas nas plenárias, para defender unicamente os interesses de seus partidos e não da categoria estudantes”, conta o estudante que fez cobertura do protesto. Renato de Oliveira é ainda mais duro. Acredita que existe, hoje, um fenômeno social, que não é significativo, orientado por linhas partidárias. “Os partidos, em sua maioria, exploram esses grupos que estão na marginalidade tentando instrumentalizar jovens para atos de resistência. São partidos que não apresentam um projeto consistente para o jovem”, comenta Oliveira. Um ponto fraco dos atuais movimentos, segundo o ex-líder estudantil e ex-secretário de Ciência e Tecnologia no governo Olívio Dutra, é a falta de capacidade de persuasão. “Na minha época, eram idéias que possibilitavam o diálogo e não o enfrentamento com a sociedade”, compara Renato de Oliveira. Ressalta que há um vazio Reitor da UFRGS negocia com os estudantes amotinados contra reformas político no Brasil hoje, onde as pessoas estão mais individualistas e menos politizadas. O problema é que esses grupos de resistência “são livres atiradores. Estão na época dos piratas, do saque; não do capitalismo moderno”, enfatiza. A crítica à iniciativa privada dentro das instituições também é bastante presente. Speroni acredita que as parecerias entre universidades e empresas prejudicam o ensino público. “Essas parcerias criam relações de dependência onde a universidade deve cumprir uma função.” Complementa que o papel do ensino superior é de estimular pesquisas voltadas ao desenvolvimento social. O professor Renato de Oliveira defende a discussão sobre a legitimidade, sendo este ponto fundamental. “A forma de fazer parceria com a sociedade é com as empresas, que fazem girar a economia. A discussão é quais as parcerias são lícitas”, pondera. 8 esporte Porto Alegre, junho de 2007 hipertexto O show do Pan vai começar De 13 a 29 de julho, Rio de Janeiro receberá 5.500 atletas de 42 países Antônio Cruz/ABR Por Bernardo Biavaschi A partir de 13 de julho, o Rio de Janeiro sediará um dos maiores eventos esportivos do mundo: os Jogos Pan-Americanos. Ao todo, cerca de 5.500 atletas de 42 países participam da competição. O Brasil será representado por 699 atletas, sendo 389 homens e 310 mulheres. Por ser o país-sede dos Jogos terá atletas em todas as modalidades. Na disputa para receber a competição, o Rio teve como adversária a cidade de San Antonio, nos Estados Unidos. O projeto carioca para o evento seduziu pela proposta de integração ecológica e compromisso social, recebendo 30 dos 51 votos possíveis. Um dos fatos que ajudou na escolha do Rio foi o projeto de que todas as competições serão realizadas num raio de 25 quilômetros, espalhadas por quatro pólos na cidade. O Comitê Organizador dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007 (CO-RIO) é o encarregado no Brasil do evento. Desde 1998, quando a cidade brasileira manifestou interesse, junto ao Comitê Olímpico Brasileiro, de receber os jogos vem trabalhando na organização. O Rio de Janeiro se preparou promovendo uma revolução urbanística que deve, segundo as fontes oficiais, modificar a estrutura da cidade. Dentre as obras em construção para o evento, a que mais se destaca é o Estádio João Havelange, com capacidade para 60 mil espectadores, já batizado pela população como Engenhão. Nele serão realizadas as competições de atletismo e futebol. Muitas instalações desportivas (como o mítico estádio Maracanã) foram reformuladas e outras consVanderlei Akmeida/AFP Cauê, o mascote dos jogos no Rio de Janeiro/2007 As Olimpíadas das Américas Brasil disputa em todas as modalidades esportivas nos jogos Pan-Americanos, no Rio de Janeiro, em julho truidas. Estas obras serão incorporadas ao patrimônio da cidade e do país. As competições serão disputadas em 15 pontos da cidade maravilhosa que integram os quatro pólos: Barra, Deodoro, Maracanã e Pão de Açúcar. Locais conhecidos da cidade também serão utilizados, como a Sociedade Hípica Brasileira, Marina da Glória e a Escola Naval. A maioria das competições está próxima do local onde os atletas ficaram hospedados, a Vila Pan-Americana, construída na Barra da Tijuca, em terreno de 420 mil metros quadrados. Os apartamentos têm de uma a quatro suítes, e o tamanho das camas levará em conta a estatura dos atletas. O restaurante terá capacidade para atender a quatro mil pessoas. Para garantir a segurança dos atletas, foi criado o Centro de Inteligência dos Jogos Pan-Americanos de 2007 (CIJ). Desde 30 de junho, o CIJ monitora a cidade para dar segurança às competições. No CIJ trabalham representantes de 27 órgãos de segurança dos governos federal, estadual e municipal. Eles remetem informações à Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), responsável pelo planejamento das ações de combate à violência durante o Pan 2007. O CIJ monitora os locais de competições 24 horas por dia, atento a áreas de risco e pessoas que possam representar algum perigo para o sucesso do evento. Para coletar informações, 700 câmeras foram espalhadas pela cidade do Rio e 300 agentes trabalham de olho em situações suspeitas. Os Jogos Pan-Americanos são a versão continental das Olimpíadas. Acontece de quatro em quatro anos, sempre um ano antes dos Jogos Olímpicos. Para conhecer a história dos Jogos Pan-Americanos é preciso voltar às Olimpíadas de Los Angeles, em 1932, quando alguns representantes de países latino-americanos no Comitê Olímpico Internacional (COI) propuseram a criação de uma competição entre todos os países das Américas, com o intuito de desenvolver o esporte na região. Naquela época havia os Jogos Centro-Americanos. Esta iniciativa deu origem, em 1940, ao I Congresso Esportivo Pan-Americano, em Buenos Aires, onde foi definido que os primeiros Jogos seriam realizados em 1942, na própria capital argentina, o que acabou não acontecendo devido à II Guerra. Um segundo congresso realizado em Londres, durante as Olimpíadas de 1948, confirmou Buenos Aires como a primeira sede dos Jogos Pan-Americanos, que ocorreram em 1951. A cada edição, o Pan cresce de tamanho e importância. Em menos de meio século, o evento dobrou em número de países, atletas e modalidades, até tornar-se uma das principais competições do calendário esportivo mundial. Brasil espera quebrar recorde de medalhas Empurrados pela presença da torcida e com representantes em todas as competições, há expectativa do Brasil conquistar um recorde de 152 medalhas, sendo 42 de ouro, conforme previsão das confederações e de especialistas. A aposta na melhor atuação do País na história do evento, entretanto, representaria ganho de somente uma posição no quadro de medalhas se comparado aos Jogos de Santo Domingo, em 2003, segundo projetaram técnicos, ex-atletas e dirigentes. Com este resultado, o país ficaria atrás de Estados Unidos e Cuba na lista de medalhas de 2003, passando a frente apenas do Canadá. A natação aposta nos atuais recordistas sul-americanos para superar as 21 medalhas conquistadas em 2003, quando três foram de ouro. Maior ganhador de medalhas de ouro para o Brasil na República Dominicana, esteve cinco vezes no alto do pódio, o judô considera possível que todos os 14 atletas voltem com medalha, com pelo menos cinco de ouro. No atletismo, as provas de salto e corridas de fundo e meio-fundo são as apostas para bater as 16 medalhas de 2003. Entre os esportes coletivos, que devem atrair maior público durante o Pan, a previsão é do vôlei reinar absoluto com quatro medalhas de ouro: duas na quadra do Maracanãzinho e duas nas areias da praia de Copacabana. Futebol, futsal, vela, tênis de mesa e ginástica são outros esportes que geram grandes expectativas de medalhas para o Brasil. Além de celebrar o esporte, os Jogos Pan-Americanos podem favorecer o Rio de Janeiro em sua pretensão de se tornar a primeira cidade sul-americana a receber uma Olimpíada. Depois do fracasso da Rio 2004, quando ficou evidente a falta de infra-estrutura da cidade para sediar uma competição do porte de uma olimpíada, a experiência e o legado adquiridos, além das instalações que estão prontas ou em andamento serão fundamentais para esta conquista. O Rio é candidato a sede pela terceira vez, concorreu aos Jogos de 2004 e 2012, mas não conseguiu entrar na fase final da disputa. hipertexto esporte 9 Porto Alegre, junho de 2007 Grêmio adiou o tricampeonato Nas partidas finais da Libertadores, tricolor gaúcho leva cinco a zero do Boca Juniors Por Márcia Simões Menos de dois anos após o retorno à primeira divisão, o Grêmio voltou à elite da América, conquistando uma vaga para a final da Libertadores, contra o Boca Juniors. Mais de 2.500 torcedores acompanharam o time no primeiro jogo, em Buenos Aires. Apesar da desvantagem de três gols vinda da Bombonera, quase 47 mil gremistas lotaram o Olímpico e viram o sonho do tri acabar. Foi uma longa jornada até o vice-campeonato. A queda para a Segundona em 2004 e o início de 2005 sem ao menos jogadores suficientes para montar um time deixavam a certeza de que a América estava muito longe do alcance do Grêmio. Com a chegada do técnico Mano Menezes o cenário do clube mudou. Sob seu comando, no dia 26 de novembro daquele ano, foi escrito um dos mais incríveis episódios da história tricolor: a batalha dos Afli- tos. Com sete homens em campo e dois pênaltis contra, o Grêmio conquistou a série B e a volta à primeira divisão do futebol brasileiro. Mesmo com a descrença de todos, o time surpreendeu em 2006, ficou em terceiro lugar no Brasileirão e obteve uma vaga na Libertadores. A chegada à final da competição não veio ao natural. Da primeira fase até a semifinal, jogos decisivos contra Cerro Porteño, São Paulo, Defensor e Santos foram verdadeiras batalhas, onde a garra e superação se sobrepuseram à técnica e qualidade do elenco. Isso só serviu de motivação para o torcedor, que ao longo do campeonato lotou o estádio e teve a melhor média de público segundo a Conmebol, 39.119 por partida. No primeiro jogo da final, contra o temido Boca Juniors, milhares de tricolores invadiram a capital Argentina. De carro, ônibus ou avião, a torcida pintou Buenos Aires de azul, preto e branco. Antes de irem Carla Ruas/Hiper Grêmio chegou perto, mas perdeu na Bombonera e diante de sua torcida para o bairro La Boca, enquanto aguardavam a escolta policial, a famosa avenida Nove de Julho foi tomada por gremistas que cantavam, pulavam, agitavam bandeiras e seguravam faixas de incentivo ao time, recebendo o apoio dos simpatizantes do River Plate e San Lorenzo, principalmente. Mas a festa teve um final amargo. Na imponente Bombonera, posicionados no último andar do estádio, os torcedores viram o Grêmio perder por 3 a 0. Apesar de apoiarem durante os 90 minutos e deixarem o país afirmando terem fé na virada em Porto Alegre, no fundo todos sabiam que a missão era árdua. E foi. Nem mesmo o imortal tricolor pode reverter a vantagem da equipe Argentina. Com o Olímpico lotado, o Grêmio entrou em campo buscando os três gols que levariam a partida para a prorrogação. O Boca Juniors apostou na catimba e nos contraataques para garantir o título. Mas a noite não era de nenhum dos clubes, era de um jogador, era de Riquelme, autor dos dois gols do jogo. Com o placar adverso, nem mesmo o canto da multidão fanática nas arquibancadas e cadeiras resistiu, e grande parte dela deixou o local antes de o juiz Oscar Ruiz encerrar a disputa. Mesmo com a derrota e o fim do sonho da conquista do tricampeonato da América, os jogadores gremistas foram aplaudidos e cânticos de consolação foram entoados, cantando o amor ao time e a esperança de que em 2008 a história seja diferente. Inter conquistou a Tríplice Coroa com goleada no Beira-Rio Elson Sempé Pedroso / Hiper Por Brenda Parmeggiani No trajeto para o Beira-Rio, buzinas, bandeiras e gritos. A má fase do Inter em 2007 – eliminação na primeira etapa da Libertadores, fracasso no Gauchão e o mau início no Brasileirão – e o resultado de 2 a 1 para o Pachuca, no México, não afetaram os torcedores. 51 mil colorados foram ao verdadeiro reencontro com o time campeão mundial, a final da Recopa Sul-Americana. Até minutos antes da partida do dia 7 de junho, o mistério: o capitão Fernandão vinha realizando tratamento para estar em condições de jogo. Outras dúvidas sobre a escalação da equipe também contribuíram para a aura do momento: quem o substituiria e quais novidades o técnico Alexandre Gallo poderia preparar para o jogo. No estádio, o ambiente era de festa. Às 19h, um expressivo número de colorados já tomava seus lugares nas arquibancadas. Como distração, a torcida pela definição do Boca Juniors como finalista da Copa Libertadores e, por conseqüência, adversário do maior rival, o Grêmio. Cada gol da equipe argentina esquentava o clima no Beira-Rio. No entanto, o frio fez presença em ambos os jogos. Em Buenos Aires, a neblina atrasou e paralisou por mais de uma vez o jogo entre Boca e Cúcuta. Inter e Pachuca só poderiam entrar em campo após o término da semifinal da Libertadores, devido a Edinho, um dos líderes do Inter na vitória por 4 a 0 contra o Pachuca, do México, capeão da Sul Americana direitos de transmissão televisiva. Assim, o início marcado para 21h45 foi adiado para 22h15. Como se fossem simples turistas, os jogadores mexicanos dentro de ternos impecáveis entraram no gramado, tiraram fotos da torcida colorada, apreciaram o estádio. Parecia que tinham vindo a Porto Alegre conhecer a casa do rival. Somente alguns instantes antes do começo, foi definida a escalação do Inter. No placar, vieram os nomes. Fernandão não estava entre eles. O capitão ficou no banco de reservas como membro da comissão técnica. Sem chances de atuar. A boa notícia era que Alexandre Pato estava recuperado. Para os colorados, era como se o tempo tivesse parado desde o dia 17 de dezembro, quando o Inter derrotou o Barcelona de Ronaldinho Gaúcho em Yokohama. A torcida cantava. O Beira-Rio rugia. A noite não foi só do torcedor. O atacante Iarley, com a braçadeira de capitão, destacou-se na partida. Além dele, o meio-campista Pinga foi um dos melhores em campo, fazendo com que as comparações com Tinga ressurgissem. E a festa se concretizou. Dos pés de Alex, Pinga, Pato e Mosquera – contra –, veio a vitória. O Inter goleou o Pachuca por 4 a 0, tirando do time mexicano o único título da temporada 2006 e 2007 que lhe faltava, até então tinha vencido todos os torneios disputados. Depois do jogo, finalmente a comemoração. A entrega da taça da Recopa tinha tudo para repetir a grande festa da final da Libertadores do ano passado. No entanto, cerca de 200 torcedores, vindos da área da torcida Popular, invadiram o campo. O ato em si foi pacífico, mas impediu que os jogadores fizessem a volta olímpica. Iarley levantou o troféu ao lado de Fernandão e Clemer. E foi tudo. Em seguida, os torcedores tomaram conta do espaço e os jogadores tiveram de se recolher ao vestiário. O objetivo de 2006 fora alcançado: a tríplice coroa – Copa Libertadores da América, Recopa Sul-Americana e Mundial de Clubes Fifa em uma mesma temporada. Assim, o Inter juntou-se ao São Paulo como os únicos times brasileiros tríplice coroados. 10 comunicação Porto Alegre, junho de 2007 Entrevista/ José Carlos Torves “TV pública não é do governo” Thais Silveira Em busca de uma televisão de qualidade, que não valorize apenas o comercial, voltada ao interesse público, com maior participação da sociedade na definição dos conteúdos. Esse é o desafio da TV Pública, propiciar a participação da sociedade na organização das questões abordadas e alcançar maior qualidade e profissionalismo. A nova rede está prevista para ir ao ar em 2 de dezembro, mesma data do início da transmissão do sinal da TV digital aberta no País. A TV pública é tema do livro do ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, José Carlos Torves, lançado em maio de 2007. O livro resulta da dissertação de mestrado de Torves, concluída recentemente no Programa de Pós-Graduação da Famecos/PUCRS. Segundo Torves, três pontos fundamentais estão praticamente definidos para implementação da TV Pública. São: o modelo de gestão (controlado por um conselho), que deixe a TV financeiramente independente do governo e a idéia de unir a Radiobrás à Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), que administra as televisões educativas do Rio de Janeiro e do Maranhão. Em entrevista exclusiva ao Hipertexto, Torves esclarece questões da proposta, começando pelos conceitos de TV pública, estatal e governamental. – Qual a diferença entre TV Pública e TV estatal ou governamental? – TV estatal são estas que a gente tem hoje. A maioria funciona como governamentais, porque é quase uma assessoria do governo. O que diferencia a TV pública das estatais ou governamentais é que ela deve ter uma gestão feita pela sociedade organizada, representada no Conselho Deliberativo e este tem instrumentos de interferir tanto no conteúdo, quanto na produção do que é veiculado. – Como deve ser a programação de uma TV Pública? – Entendo como TV Pública um espaço de diversidade cultural intensa. Acho fundamental esta televisão ser dirigida pela sociedade civil. Na programação ver as prioridades da sociedade e o que não está aparecendo na TV privada. Um conselho, que teria os representantes do movimento sindical, do movimento negro, dos gays, dos índios, dos sem-terra, dos movimentos de bairro, indicaria quem seriam os diretores desta televisão, que não seriam indicados pelo governo. – Pela proposta do governo serão destinados R$ 350 milhões por ano? É preciso todo este dinheiro? – É preciso muito mais do que isso. Fazer televisão é caro. Conversando com Franklin Martins (ministro da Secretaria de Comunicação ), meu amigo pessoal, falei de algumas formas de sustentação desta televisão. Poderia ser cobrada uma taxa das emissoras privadas que têm concessão pública e usam o espectro magnético para transmitir. Outra forma seria o governo aplicar 10% da verba publicitária usada nas emissoras privadas para as TVs públicas. Laurindo Leal Filho, professor da USP, levantou a possibilidade de se cobrar uma taxa, mas ninguém agüenta mais pagar imposto. Temos uma carga tributária muito alta, de 37,5%, o que seria inviável. – Como tu imaginas que a TV Pública será? – Tenho pouca fé de que será uma TV pública como deveria, a exemplo da BBC (emissora pública de rádio e televisão do Reino Unido, com gestão própria, independente do governo britânico) e também de outros países que possuem TVs públicas com modelo de gestão e sustentação. Acho fundamental que não se monte um monstro de cabide de emprego. Claro que se deve ter uma base de funcionários, mas que seja sem indicação política. – Qual a programação desta televisão? – Acho interessante se destinar 50% da programação para produções independentes. Isso resolveria não só a questão da diversidade da programação, mas também a questão do mercado de trabalho. Um grupo de estudantes poderia produzir um documentário e teria espaço na televisão pública. O Brasil é um dos poucos países onde quem veicula a programação é quem a produz. Temos este mercado fechado por isso. Na maioria dos países desenvolvidos não é isso que acontece. – Qual será a contribuição da TV Digital? – A TV Digital permite o seguinte: primeiro a convergência das mídias, ampliando o acesso às pessoas. Hoje apenas 10% da população têm acesso à web. Nós poderemos ter mais de 50% dos brasileiros tendo acesso a internet, participando de vídeo conferência, assistindo TV, ouvindo som, fazendo pesquisa, tudo com a mesma tecnologia. Também facilita a política de ter produtores independentes. Com uma filmadora digital, tu podes fazer a edição no teu computador, com qualidade. A gente quer a convergência das mídias para se aproveitar todas as possibilidades de áudio, vídeo, transmissão de dados e uso da internet. Nicolas Gambin/Hiper hipertexto Dissertação de mestrado é publicada Televisão Pública, o livro lançado por José Carlos Torves, resume sua dissertação de mestrado no PósGraduação em Comunicação Social da Famecos/PUCRS. Na obra, é contada a historia da televisão e o contexto político social do país em que surgiu e se desenvolveu. Relata o desenvolvimento da TV Pública no mundo, caso da BBC de Londres e as de outros países da Europa. Fala das TVE do RS, do Rio de Janeiro e de São Paulo, mostrando que, na realidade, todas estas emissoras só têm o dinheiro público, porque estão a serviço do governo. Apresenta com exemplos, situações claras em governos de direita e esquerda. Fechamento de TV venezuelana Torves faz a defesa de uma televisão pública, sem interferência do governo – Como os políticos se posicionam sobre a TV Pública? – A oposição é contra, mas os parlamentares do governo defendem com unhas e dentes. Na verdade, o grande problema é que o governo não diz como ela será. Sabe-se que começará em dezembro, juntando Radiobrás, de Brasília, com TVE (RJ) e a sede será no Rio de Janeiro e tem R$ 350 milhões para começar, que é muito pouco. – Qual tua opinião sobre Hugo Chávez não ter renovado a concessão da RCTV na Venezuela? – Acho que foi um grande erro. Se Chávez tivesse tomado o canal na época do golpe, aí estaria certo. Em qualquer país, se tu tens uma televisão, com um grupo de pessoas dando um golpe de estado, tens toda capacidade de fechar, que é um atentado contra a democracia. Agora, nesse momento, quando o país vive na normalidade, cassar uma concessão porque essa televisão fala mal de ti, é tu calar a voz do adversário. Acho que com a maioria popular que Chavez tem, a sociedade organizada como parece, com movimentos sociais organizados, haveria formas de mobilizar a sociedade para pressionar a empresa a mudar seu comportamento editorial, e não, simplesmente, cassar a concessão. Isso não contribui para democracia, para liberdade de expressão e de imprensa. Acho que foi um equívoco político. A RCTV (Radio Caracas Televisión) teve o sinal de transmissão cortado no dia 28 de maio. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, já havia anunciado que não renovaria a concessão do canal privado com maior audiência naquele país. O presidente acusou a emissora de envolvimento em um golpe de estado contra ele, em 2002. A decisão provocou polêmica e protestos contra ou a favor da decisão. Manifestações estudantis contrárias ao presidente começaram desde o fechamento da RCTV, mas Hugo Chávez declarou no dia 16 de junho que os protestos em seu país são indícios de que se vive uma “franca democracia”. Mesmo fora do ar, a emissora continua produzindo programas que são transmitidos em praças ou na internet. Para substituir a RCTV, o governo criou a Televisora Venezuelana Social (Teves), definida como uma emissora privada de “serviço público”. Fórum defende a formação crítica do cidadão Fórum Nacional de TVs Públicas, ocorrido no início de maio, em Brasília, definiu os princípios gerais do plano do governo. Os participantes do Fórum disseram que a TV Pública deve promover a formação crítica do indivíduo para o exercício da cidadania e da democracia. Precisa ser a expressão maior das diversidades de gênero, étnicoracial, cultural e social brasileiras. Propuseram que seja independente e autônoma em relação a governos e ao mercado, devendo seu financiamento ter origem em fontes múltiplas, com a participação significativa de orçamentos públicos e de fundos não-contingenciáveis. As diretrizes de gestão, programação e a fiscalização da programação devem ficar a cargo de órgão colegiado deliberativo, representativo da sociedade, no qual o estado ou o governo não devem ter maioria. “O compromisso da TV Pública será de fomentar a produção independente, ampliando a presença desses conteúdos em sua grade de programação, e contemplar a produção regional. A programação não deve estar orientada estritamente por critérios mercadológicos e, sim, buscar o interesse do maior número possível de telespectadores. O cine- ma brasileiro será parceiro estratégico para a realização de sua missão e enxerga-se como aliada na expansão da sua produção e difusão”, diz a Carta de Brasília.. O fórum teve a participação de associações do campo público de televisão brasileiro, como Associação Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec), Associação Brasileira de Canais Comunitários (ABCCom), Associação Brasileira de Emissoras Universitárias (ABTU) e Associação Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas (Astral) e de organizações da sociedade civil. hipertexto Cinema 11 Porto Alegre, junho de 2007 Super-heróis, superbilheterias Por que as histórias animadas fazem tanto sucesso com o público dentro e fora dos cinemas Sabrina Feijó / Hiper Patrícia Lima Quem nunca se imaginou vivendo uma situação perigosa em que pudesse contar com a ajuda de um super-herói? Nos cinemas isso quase sempre é possível. Por essa e outras razões, os grandes estúdios investem fortunas em séries de Homem-Aranha, Superman, Batman e Shrek. O público retribui disputando lugar em filas para embarcar na fantasia que só vive no cinema. Filmes de super-heróis ou desenhos animados fazem a cabeça de crianças e adultos, mesmo conscientes de que tudo não passa de uma engrenagem para ganhar dinheiro. Por que os super-heróis dominam as bilheterias? Simplesmente, por que oferecem às platéias uma fantasia que é vagamente baseada na realidade e na ciência e transcende seus limites, responde o professor de Montagem Cinematográfica da Famecos, Roberto Tietzmann. Ele exemplifica com O Incrível Hulk: “Se alguém receber tanta radiação por estar próximo de uma explosão atômica, não vai ficar super-forte, vai morrer em poucos dias ou horas! A fantasia da história permite brincar com a seriedade da ciência”. Para o jornalista especializado em Produção Cinematográfica, com Mestrado e Doutorado em Psicologia pela PUCRS, Michel Bruschi, o cinema, bem como a literatura e outras artes que lidam com a ficção, tem como característica mostrar ao espectador outros mundos além do Adultos e crianças fazem fila para assistir ao fenômeno de bilheteria Shrek Terceiro, que quebrou recorde de público em estréia de desenho animado que conhecemos como real. “São estes mundos diferentes da ficção que nos atraem, nos fazem imaginar outras realidades possíveis para a nossa vida. Além disso, existem algumas experiências e realidades Frase “Os Super-heróis mexem com o imaginário do espectador, com a possibilidade de ter superpoderes, vivenciar o mito do herói, vencer as batalhas e ser admirado pelos outros.” Michel Bruschi Animação surge no cinema mudo A história dos filmes de animação surgiu no cinema mudo, em 1892, na França. Somente em 1917, na Argentina, surgiu o primeiro longa-metragem, intitulado El Apóstol. No Brasil, a história da animação é recente. Sinfonia Amazônica, de 1953, foi o primeiro longa-metragem de animação. A partir da década de 1960, a animação ganha publicidade e surgem os primeiros profissionais da área. Piconzé foi o primeiro longa-metragem colorido, estreando nos cinemas em 1972, sendo considerado um marco na história da animação brasileira. Os primeiros grandes sucessos de filmes animados surgiram nos Estados Unidos, antes mesmo de Hollywood, com o aparecimento de Gato Félix, Betty Boop e Pica-Pau. A era dourada de Hollywood começou nos anos 30, com a ascensão da Walt Disney, Warner Bros e MGM. A partir de 1990, a tecnologia proporcionou inovações para os desenhos animados. Novos e ousados estúdios de animação, o retorno da Walt Disney e a colaboração de Steven Spielberg para a Warner Bros revitalizaram o cinema. Além da, ascensão da animação digital e do surgimento de Os Simpsons, South Park, Nickelodeon e Cartoon Network. que são possíveis somente na tela do cinema, e só lá podemos vivenciar e nos identificar com um ogro ou um super-herói”, conta Bruschi. Porém, o chamado mundo real sempre será o referencial. Se a ficção for muito distante do mundo real, exigirá mais do espectador para acreditar que o que está vendo pode acontecer também na realidade. Campeões de bilheteria O personagem mais famoso e que mais influenciou os outros super-heróis é o Super-Homem. Criado em 1938, nos quadrinhos norte-americanos, tornou-se um fenômeno com cinco filmes, duas séries de cinema, cinco séries de televisão, seis séries de desenho animado, 11 periódicos, um programa de rádio, um musical e uma série de produtos vendidos com a sua marca, desde brinquedos até alimentos. Batman veio logo após o Super-Homem e seguiu o mesmo sucesso nas telas e em produtos levando seu nome. “Em poucos anos, Super-Homem e Batman começaram a aparecer em todos os meios que existiam, de seriados de rádio a filmes, em geral com grande sucesso”, relata Tietzmann. Há poucos meses, Homem-Aranha 3, da Columbia Pictures, bateu a marca de US$ 800 milhões em ingressos vendidos. Outro sucesso nas bilheterias é o simpático Shrek Terceiro, maior bilheteria de estréia de um filme de animação. Filmes, como Homem-Aranha e Shrek, conseguem explorar os mundos ficcionais, ser ainda mais sedutores e, ainda, mantêm uma proximidade com a realidade. Em Homem-Aranha, os jovens podem se identificar com Peter Park, por ser um nerd, não popular na escola, e é obrigado a enfrentar sua timidez com as garotas. Todas essas situações estão próximas da realidade dos jovens. Em Shrek Terceiro, o ogro fica em estado de choque quando recebe a notícia que será pai e não sabe se dará conta dessa responsabilidade, assim como acontece com muitos homens. Bruschi conta que esses filmes usam o melhor do cinema: a possibilidade de viver fatos que são possíveis só no mundo da ficção, como ter super-poderes e viver no meio de personagens de contos de fadas, mas não deixam de lado a realidade. Para os próximos meses, estão previstos os lançamentos de Os Simpsons e a produção de He-Man. A saga que vendeu muitas espadas de plástico nos anos 80 será produzida pela Warner. A Mattel, detentora dos direitos dos personagens, pretende relançar toda a linha de brinquedos, de olho numa nova geração. Até a irmã She-Ra, em breve deve ganhar os próprios filmes. Outras estréias que prometem esquentar as férias de inverno da gurizada são: O Quarteto-Fantástico 2, que também saíram dos quadrinhos, e Harry Potter e a Ordem da Fênix, baseado no último livro da série, que consagrou o inglês Daniel Radcliffe como bruxo da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Ficção quase real A tecnologia promete influenciar ainda mais o cinema, já que os filmes de animação e de super-heróis, que utilizam muitos efeitos especiais, estão se tornando cada vez mais realísticos e semelhantes com o mundo real. De acordo com Bruschi, a tendência é que a sedução deles se torne ainda maior, sendo mais fácil do espectador acreditar que o que ele vê na tela também pode acontecer no mundo real. “Cada vez será mais fácil do cinema criar o seu mundo ficcional semelhante com a realidade”, relata Bruschi. O professor Tietzmann diz que a tecnologia deve estar a serviço de uma história interessante e completa, “enquanto personagens como super-heróis refletirem alguma fantasia da sociedade haverá espaço para filmes assim”, conclui. 12 ponto final Porto Alegre, junho de 2007 hipertexto Carol Bicocchi Variedades Circo invade palco do teatro Música se associa às práticas circenses e encanta pela inovação e emoção Por Bruna Holler Petry Os animais não são de verdade, o chão não é mais de pedrinhas, nem o teto de lona. O circo não é mais o mesmo, mas sua magia continua viva e se confirma como testemunhou o público que lotou o teatro São Pedro no início de junho para ver o grupo Tholl. Devido à grande procura, a direção fez espetáculos extras na semana seguinte. O chamado “novo circo”, uma adaptação da primeira forma de expressão que se caracterizava pela lona colorida e a montagem das estruturas para o espetáculo, agora, exige grandes produções e altos investimentos. Os espetáculos são glamurosos e mesclam técnicas tradicionais circenses com música, teatro e dança. O novo circo ganha expressão com o grupo pelotense Tholl. O espetáculo “Tholl, Imagem e sonho” já lotou ginásios e teatros do Brasil e, em breve, dará uma volta pelo mundo, como revela João Bachilli, diretor do espetáculo. “Já estamos com contatos no Mercosul e negociando com Orlando (EUA) e Portugal”. Bachilli trabalha com teatro há 26 anos e a idéia de dirigir o espetáculo foi uma junção de duas paixões: circo e teatro. Para ele, a forma como linguagem principal, junto com a emoção, é um dos pontos positivos do grupo, pois assim cada espectador pode fazer sua própria leitura da apresentação, através do imaginário e da sensibilidade. No palco, 17 atores fazem seus malabarismos para contagiar o público com sua alegria. Miriam Torres, 24 anos, é uma das atrizes e conta que o grupo mudou a sua vida. Para ela, o Tholl trouxe muito mais que uma profissão. Miriam sempre amou teatro e circo, mas por ter corpo acima do peso normal achava que nunca poderia trabalhar. No entanto, desde que entrou para o Tholl teve a oportunidade de atuar na área que sempre quis e hoje é muito feliz por isso. “Eu sempre gostei de teatro e de circo, mas achava que nunca poderia trabalhar no circo por causa da minha forma física. Hoje vejo que estava errada e devo isso ao Tholl. Agora, as pessoas me admiram pelo que sou e não pela minha aparência. Se estou gorda, não importa, elas continuam elogiando meu trabalho e dizem que estou linda. Sou grata ao gruto e fico contente de poder trabalhar no que realmente gosto”. O produtor Paulo Martins é também um fã do grupo. Há três anos e meio convivendo com os atores e com a equipe técnica, ele conta que gosta do trabalho do Cirque du Soleil, conhecido grupo canadense de novo circo. Mas, alega que Tholl não imita o Cirque du Soleil e aponta as diferenças existentes entre os dois. “Todos somos apreciadores do Cirque de Soleil como fonte inspiradora. No entanto, eles compram peças prontas, têm muito dinheiro, alta tecnologia e contratam os melhores acrobatas e bailarinos do mundo. Nós formamos atores e montamos nosso espetáculo. O Tholl é o sonho de todo produtor, pude identificar minha linha de trabalho e traçar o meu perfil”, relata Martins. Na Capital, o grupo se apresentou em 7, 8, 9 e 10 de junho e, devido a grande demanda, os 17 bailarinos subiram no palco mais duas vezes, dias 11 e 12 de junho para levar, novamente, emoção ao público. Cirque du Soleil vem em setembro O Cirque du Soleil é o mais conhecido exemplo de novo circo. Hoje é considerado a maior companhia de espetáculos de entretenimento do mundo e se destaca pela beleza e pela superação das habilidades físicas humanas. Eles criaram espetáculos diversos para apresentar. Dentre esses se destacam Saltimbanco (que esteve no Brasil) e Alegria que chega, em setembro, ao País para uma turnê de 10 meses, passando por seis capitais. O espetáculo Alegria já foi assistido por mais de nove milhões de espectadores em 15 países. A turnê brasileira prevê mais 250 apresentações. A disputa pelos ingressos é sempre grande e os preços altos. Por isso é preciso ficar atento para o início da venda dos ingressos que, conforme anunciado, deverá ser em julho. Os bilhetes para a turnê brasileira, que iniciará por Curitiba, em setembro e terminará, em maio do próximo ano, em Porto Alegre, variam de R$ 130 300, de acordo com o dia e a sessão escolhida. A temporada em Porto Alegre começará em 15 de maio de 2008 e os espetáculos serão no Barra Shopping Sul, na Avenida Diário de Notícias, n° 300, bairro Cristal. Conceitos virtuais do circo em um palco de teatro marcam as apresentações do Tholl O mundo mágico do grupo pelotense Tholl Por Carol Bicocchi É de encher os olhos, assim é o espetáculo do grupo pelotense Tholl. Como no circo, o público constata ao entrar no mundo de “imagem e sonho” que há uma grande fusão de cores e formas, aliados à música, ao humor.A interação com o público estabelece uma atmosfera de alegria e descontração. Espetáculo para adultos e crianças, Tholl agrega números de acrobacias com tecidos, dança e teatro combinados com músicas da moda, performances com fogo, malabares e pernas-de-pau, além de ricos e pomposos figurinos e maquiagens impecáveis. Durante aproximadamente uma hora e meia, o público pode conferir uma série de esquetes montadas alheias umas às outras, nas quais pouco ou nada se verbaliza, mas muito se evidencia. No mundo de Tholl é possível “tirar sarro” da platéia sem pronunciar uma única palavra. Como no circo tradicional, o palhaço, agora um pouco descaracterizado, com roupas e corpos femininos, faz todo mundo cair na risada apenas na base Performance moderna dos tradicionais perna-de-pau da mímica. Acrobacias que tiram o fôlego da platéia, impressionando adultos e crianças. Luzes dão o tom para diferenciar cada momento. O que é mais incrível: tudo parece ser, para os jovens integrantes do grupo, uma grande brincadeira. Eles pulam corda, dançam, viram cambalhotas, sobem no alto do teatro pendurados em tecidos, brincam com fogo e se divertem em meio à tensão que se forma nos momentos mais perigosos. A palavra de ordem é diversão, tanto para a platéia quanto para os artistas. Um ambiente de magia