hipertexto Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, setembro de 2007 – Ano 9 – Nº 58 Fernanda Fell/Hiper Set mostra seu vigor aos 20 anos Diogo Mainardi (foto), de Veja, o designer e curador de exposições Marcelo Dantas e os ex-alunos e ex-professores da Famecos, hoje diretores da Globo, Carlos Kober, do Domingão do Faustão, e Edson Erdmann, da novela Eterna Magia, entre os destaques Página 6 Jornalismo Gráfico da Famecos faturou cinco prêmios na mostra competitiva: Hipertexto com reportagem, Jornal da Manhã venceu dois, como Publicação Impressa e Cartoon de Fabiane Bento Alver, Ufa! como Projeto Experimental e Matheus Beck com Crônica Caos na saúde de Porto Alegre Vinícius Carvalho/ Hiper Esporte Eles jogam futebol com a imaginação Deficientes visuais se superam no futsal Fernando Corrêa/ Hiper Página 10 Karol Denardin/Hiper alerta Ambiente desorienta as abelhas Problemas causados pela monocultura e formicidas Greves, falta de repasse de verbas, hospitais lotados, pacientes pelos corredores. Na página 4 Página 8 2 abertura Porto Alegre, setembro de 2007 Editorial O futuro sem limites Por Lidiana de Moraes, editora A quantidade de trabalhos inscritos no 20º Set Universitário aumentou 41% comparados ao ano passado. O crescimento no número de participações é um sinal de que os futuros profissionais da comunicação estão preocupados com o desenvolvimento acadêmico e com a construção de um currículo bem fundamentado que abra as portas de um mercado que para muitos já está saturado. A preocupação destes estudantes é louvável e mostra que há o interesse de melhorar as condições da educação no país, mas as conseqüências de eventos como o Set vão além de horas complementares e premiações. A experiência adquirida durante pelo menos três dias respirando comunicação e a convivendo com pessoas com o mesmo interesse é espetacular. Abre uma nova fronteira de pensamento para que os alunos aprendam que não basta ser bom naquilo que se faz, é preciso ser o melhor. Ou, como disse o designer e curador de exposições, Marcello Dantas, durante o Debate RBS: “Você tem que ser o número 1, mas para ser o número 1, você tem que inventar a sua própria corrida”. Tomará que nos próximos anos aumente ainda mais o número de interessados nestas iniciativas. Deste modo os estudantes terão a oportunidade de criar e experimentar, sem limites, traçando o futuro da comunicação de forma promissora. Não se trata apenas de dar oportunidade aos estudantes, mas de permitir que eles mesmos criem seus ensejos. Elvo Clemente (1921-2007) Tibério VargasRamos, professor Conheci o irmão Elvo Clemente quando entrei no Curso de Jornalismo da Famecos, em 1968 e ele era vice-diretor. Quatro anos mais tarde, 23 anos de idade, recém formado e cabelos nos ombros, fui o primeiro assessor de imprensa da Universidade. O reitor era o irmão José Otão e seu chefe de gabinete, o irmão Elvo. Tornei-me seu colega e admirador. Nascido na Itália, batizado como Antônio João Silvestre Motin, entrou jovem na Congregação dos Irmãos Maristas. Sua vida foi dedicada ao magistério e à PUCRS. Doutor em Letras Clássicas, Elvo Clemente foi pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e de Extensão. Continuava em plena atividade como assessor especial da Reitoria e presidente da Academia Rio-Grandense de Letras. Acabara de finalizar dois livros de uma produção de mais de 30. Nos últimos nove anos, ao rece- ber a edição mensal do Hipertexto, [email protected] sempre me mandava um e-mail com elogios e incentivos. Fiel a uma longa amizade. Neste mês, sua mensagem não chegará pela Internet, mas em outro plano. No dia 19 de setembro, aos 86 anos, quando tomava o café da manhã para mais uma jornada de trabalho, seu coração parou. Quando encontrava com o irmão Elvo pelo campus, na frente da Faculdade de Letras ou no bar da Famecos, sempre costumava brincar: “eis a forma humana da Universidade”. Ele sorria, apertava os lábios e batia a mão direita para baixo, em seu gesto característico. Era mais do que uma saudação. Era como eu o via. Culto, religioso, simples, educado, elegante, afável, atencioso, prestativo, leal, inteligente e visionário. Foram quase quatro décadas de convivência. Sua morte o fez abandonar a forma humana para se tornar o espírito eterno da Universidade Católica gaúcha. Crise aérea: trégua ou solução? Por Yara Tropea Após dois meses da colisão do avião da TAM com o prédio da empresa de cargas da mesma companhia, a pergunta que continua no ar é: A crise aérea brasileira acabou? O acidente e o auge do caos fizeram com que o governo brasileiro empossasse Nelson Jobim como o novo ministro da Defesa. Nascido em Santa Maria, deputado federal constituinte pelo PMDB e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, ele situou-se no centro da crise e tomou medidas como estudo para a implantação de um novo aeroporto em São Paulo, a redistribuição dos vôos de Congonhas e a sugestão de redução no número de poltronas por avião. A entrada do novo ministro e as resoluções trouxeram esperança para os usuários dos aeroportos brasileiros. Experientes nas frustrações, os usuários se perguntam se as iniciativas vão resultar na solução do problema e quando isso acontecerá. Quase um mês antes do acidente em Congonhas, em 23 de junho, o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, que havia trocado o PDT pelo PT junto com o presidente regional do partido Sereno Chaise e Dilma Reitor: Ir. Joaquim Clotet Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira Roussef, considerava “tranqüilo” o tráfego aéreo. Mais precavido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu que o colapso ainda não acabou. Jobim faz coro: “Não está superado”. Após o acidente, no fim de julho, três diretores da Anac renunciaram e deixaram seus postos. “Já caminhamos para solucionar o problema da segurança, que era o primeiro objetivo de nossa administração. Agora temos que caminhar para o regime da pontualidade, o problema dos atrasos, que será resolvido com toda a reconstituição da malha aérea”, explica o ministro. Com o acidente, o foco da crise foi para Congonhas, mas o professor e vice-diretor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCRS, Hildebrando Hoffmann, enfatizar que as mudanças no maior aeroporto brasileiro em número de passageiros visam à segurança e não resolvem a dificuldade nacional. “A redução do número de vôos em Congonhas diminui enormemente o risco de acidentes, porém precisamos também de uma área de escape”. A área garante que, no caso de alguma pane, a aeronave tenha tempo de parar antes de colidir em construções que estejam próximas aos aeroportos, como aconteceu com o avião da TAM. “A crise aérea nacional só será solucionada com novos controladores de vôo”, lembra o professor Hoffmann. O conjunto de decisões de Jobim pode solucionar a tensão se ele não ceder às pressões externas, porém os resultados não serão imediatos. “Os resultados virão a curto, médio e longo prazos”, enfatiza Hoffmann. Esclarece que controladores de vôo demoram, pelo menos, três anos para serem formados. Lula assegura que o reforço será de 300 profissionais. Quanto à redução do número de poltronas, Hoffmann é enfático: “É como um bode que se coloca na sala para dispersar a atenção do principal, a crise”. Entre os passageiros, a principal conseqüência é o aumento do preço da passagem. “Depois do acidente os preços subiram muito. Antes eu ia de Porto Alegre a Campo Grande por R$ 350, hoje não gasto menos de 500. O jeito é viajar de ônibus”, conforma-se Maíra Fedatto, estudante de jornalismo com família em Mato Grosso do Sul. Hoffmann alerta os usuários: “O pessoal tem que tomar cuidado com o superfaturamento das passagens. As medidas contra o caos aéreo não implicam em dobro de custos, mas as empresas aproveitam para aumentar indevidamente os preços, usando-as como desculpa”. Um Fausto na Assembléia gaúcha Por Lidiana de Moraes Um dia ele fez parte da classe operária e, aos poucos, através de contatos políticos, foi subindo de cargo até chegar a ganhar R$15.000 por mês, quantia que boa parte da população brasileira precisa trabalhar mais de três anos, sem gastos, para acumular. Ubirajara Amaral Macalão começou a trabalhar no dia 29 de junho de 1978 como servente na Assembléia Legislativa. Três anos depois passou a integrar o Departamento de Serviços Administrativos. Em 1995, os rendimentos cresceram ainda mais com o exercício de funções gratifi- Hipertexto Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected] Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php hipertexto cadas, até que, no fim de 2004, com a indicação do PTB, foi promovido a diretor de Departamento, recebendo a tão sonhada quantia com cinco dígitos. A trajetória de Macalão poderia ser mais uma mostrando a garra do brasileiro para mudar de vida, mas a ganância degenerou sua história. Tornou-se o Doutor Fausto, de Goethe, que vendeu a alma para o diabo. Sua ação colocou o Rio Grande do Sul, que sempre se apresentou como diferente, na lista dos estados corruptos. Os altos rendimentos como funcionário da Assembléia despertaram em Ubirajara um desejo de ir além, conseguir mais. Com diversas oportunidades surgindo, parecia não haver razões para não incrementar a renda. Propina de R$3.000 ao mês para pagar as 50 parcelas da casa de praia, em Xangri-lá, onde foram enterrados os R$ 232,7 mil em selos, mais R$ 45 mil para não exigir da companhia de limpeza Silvestre o número de funcionários firmados em contrato. O caso dos selos é repleto de ironias que poderiam render boas piadas, caso não se tratasse de uma ocasião de desrespeito com os cidadãos. O presidente Frederico Antunes (PP), pelo menos, assegura: “A Casa não irá proteger ninguém”. Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000 Diretora da Famecos: Mágda Cunha Coordenadora/ Jornalismo: Cristiane Finger Produção dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia. Professores Responsáveis: Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo). ESTAGIÁRIOS: Gerente de produção: Thais Silveira Editoras: Ariane Xavier Borba Jorej e Lidiana de Moraes Editora de Fotografia: Fernanda Fell Editor de Arte: Bruno Gazola de Paoli Repórteres: Ariane Jorej, Bernhard Friedrich Schlee, Bruna Ostermann, Bruna Weis Scirea, Bruno Gazola de Paoli, Cássia Sírio de Oliveira, Camila Alves Schaedler, Camila Rinaldi, Clarissa Leite Caum, Fernando Rotta Weigert, Guilherme Zauith, Helena Wilhelm Eilers, Igor Elias Carrasco, Jamille Callai, Luciana Birck, Maurício Círio, Natasha Centenaro, Patrícia Lima, Rafael Lopes Codonho, Raiza Ismério Roznieski, Tatiana Feldens, Thiago Oliveira, Vinícius Roratto Carvalho, Yara Tropea. Repórteres Fotográficos: Andressa Vargas Griffante, Daniela Curtis do Lago, Fernanda Faria Correa, Fernando Sá Correa, Gabriel Pozzobom Silveira, Gabriela M de Oliveira, Ingrid Guerra , Jaqueline O. Sordi, Jessica Tarantino de Carvalho, Karoline Sara Danardi, Laís Cerutti Scortegagna, Lucas Soares Costanzi, Pedro de Oliveira, Raissa Genro, Tamara Carvalho, Vinicius Roratto Carvalho. hipertexto brasil 3 Porto Alegre, setembro de 2007 Fernanda Fell/Hiper STF abre processo contra 40 acusados no mensalão Dois ex-ministros, deputados e publicitários entre os réus Por Ariane Jorej Movimentos sociais se mobilizam na capital pela retomada da mineradora Contestada privatização da Vale Por Bruna Scirea e Natasha Centenaro Anular a privatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e retornar à situação anterior de estatal é o objetivo da campanha de mobilização que culminou com consulta popular informal, realizada na Semana da Pátria. Com o lema “Isso não Vale! Queremos participação no destino da nação”, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar e denunciar o leilão de privatização da companhia. A campanha contrária à privatização da maior produtora de minério de ferro e segunda mineradora em âmbito mundial é encabeçada por movimentos sociais, entre eles dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Atingidos por Barragens (MAB), Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Nacional dos Estudantes (UNE), Conlutas, Central dos Movimentos Populares, setores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outras entidades sociais e sindicais. A convocação da população para comparecer às urnas foi motivada pela alegação de irregularidades e fraudes cometidas na época do leilão em 1997, quando ocorreu a alienação da Companhia. A privatização da CVRD é encarada como um golpe para o país. Promovido no governo Fernando Henrique Cardoso, o Plano Nacional de Desestatização (PND) privatizou cerca de 70% das estatais brasileiras, entre elas, Embratel, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Eletrobrás, até incluir a Vale, a mais significativa economicamente para o Brasil. Foi criada na década de 1940, por Getúlio Vargas, com recursos do Tesouro e do governo norte-americano, interessado na entrada do Brasil da II Guerra ao lado dos Aliados. Desde então expande sua produção, exportação e comercialização, transformando-se na maior fornecedora de minério de ferro do mundo em 1970. Quando foi arrematada por R$ 3,3 bilhões, figurava como a primeira empresa no ranking nacional.. “A entrega do patrimônio sem consulta ou debate político tira do povo a única identidade brasileira que o mantém, o direito à democracia garantido pela Constituição”, argumenta o professor da PUCRS Pedrinho Guareschi, consultor do Secretariado de Justiça e Paz da Caritas Internationalis. 46 senadores livram Renan Por Lidiana de Moraes No dia 12 de setembro, o presidente do Senado, Renan Calheiros, foi absolvido das acusações de quebra de decoro parlamentar. No fim da sessão secreta, 40 votos o inocentaram, 35 senadores votaram a favor da cassação do mandato e seis se abstiveram. A votação colocou fim apenas a uma parte do escândalo que começou há quatro meses quando surgiram denúncias de que Calheiros usaria recursos do lobista Cláudio Gontijo, da construtora Mendes Júnior, para pagar pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha. Antes mesmo do início da votação, o clima no Plenário estava tenso. Uma liminar concedida na madrugada do dia 12, pelo ministro Ricardo Lewandowski e mantida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), permitiu que 13 deputados tivessem acesso à Assembléia. Mesmo com a permissão, houve brigas quando seguranças tentaram barrar a entrada na sessão. Para o vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT – AC) a medida do STF prejudicaria o sigilo da reunião. Apesar da absolvição, Renan ainda enfrenta outros processos no Conselho de Ética. As acusações de favorecer a empresa Schincariol no INSS, de compra de veículos de comunicação alagoanos por meio de laranjas e um suposto esquema de arrecadação de dinheiro em Ministérios comandados pelo PMDB, ainda podem custar o mandato a Calheiros. Todas as 40 pessoas denunciadas de participar do esquema de compra de votos em troca de apoio político, caso do mensalão, irão responder processos penais. Com a decisão, o Supremo Tribunal Federal(STF) encerrou a primeira parte do julgamento, que durou cinco dias. A denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, acusava 40 pessoas de envolvimento no esquema que financiava parlamentares da base aliada em troca de apoio político, conforme tornara público o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ)em 6 de junho de 2005. O escândalo foi considerado a maior crise política recente da história brasileira para o governo federal e o PT. Por unanimidade, o STF acolheu denúncia contra os últimos dois da lista de acusados: o publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, que responderão por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O STF também aceitou a denúncia contra Silvio Pereira por formação de quadrilha. Os 40 réus no caso do mensalão têm mais uma coisa com que se pre- ocupar. O procurador-geral da assegura ter novas provas que reforçam as acusações. Segundo ele, laudos periciais, que estavam em fase final de elaboração no momento em que a denúncia foi apresentada, estão prontos e serão incluídos no processo. Entre os novos documentos está um laudo que, no entendimento do procurador, “comprova a presença de dinheiro público fortalecendo o esquema”. A oposição vem criticando duramente o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que teve o escândalo como uma das marcas de sua primeira gestão, apesar disto não ter se refletido em sua reeleição. O jornalista e professor Roberto Ramos pondera que o mensalão não nasceu com o PT, com o seu governo. “Todavia, veio à tona e se materializou no governo Lula, como o maior e mais impactante processo de corrupção da história da República brasileira. O PT mostrou, no governo, as suas duas faces ambígüas. Na oposição, é o latifundiário da ética; na situação, é protagonista do mensalão. Portanto, a sua imagem política foi maculada, ainda que tenha vencido a eleição presidencial. Isso não apaga a sua ambigüidade histórica, ressalta o professor da Famecos. Recebida a denúncia, o caso agora entra em fase de instrução, quando acusação e defesa indicarão testemunhas e terão o direito a requerer perícias. O STF abriu processo por formação de quadrilha contra 24 acusados. A pena para esse crime varia de um a três anos e a prescrição ocorre após oito anos do início da ação. O prazo do processo poderá durar mais, dadas as peculiaridades. Para a jurista Diórgia Streit, não há como fazer previsões de sentença, pois o processo judicial brasileiro é extremamente demorado. Os denunciados Entre os acusados estão os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken, o então presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, e seus colegas do PT e partidos aliados do governo, Roberto Jefferson, Pedro Henry Neto, João Cláudio de Carvalho Genu, Bispo Rodrigues, Professor Luizinho e Costa Neto. Também os publicitários Marcos Valério e Duda Mendonça. 4 últimas recortes Thais Silveira e Jamille Callai Grenal na Fifa A passagem dos cinco dirigentes da Fifa por Porto Alegre fez nascer mais uma disputa entre Grêmio e Internacional. Os dois clubes prometeram reformulações para que seus estádios cumpram as exigências dos inspetores e possam receber as partidas da Copa do Mundo de 2014. O atual campeão do mundo, Internacional, planeja construir uma espécie de shopping, um estacionamento ao lado do Gigantinho, um hotel de luxo, centro de convenções e até um restaurante de vista panorâmica com a venda do Estádio dos Eucaliptos. Beira-Rio passará a ter capacidade para 60 mil pessoas. O Estádio Olímpico está fora da disputa, mas o Grêmio tem grandes chances com a construção da Arena. O projeto do novo estádio deverá ser construído até 2011, no bairro Humaitá. O clube definirá até outubro por uma das quatro propostas para a execução da obra. A área será de 33 hectares, quatro vezes maior que o Olímpico, e terá um orçamento de R$ 440 milhões . Porto Alegre, setembro de 2007 hipertexto Emergência para saúde Acordo prevê concurso público para contratar pessoal do Programa da Família Por Clarissa Leite Caum Dose extra de paciência foi preciso para os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) no final de agosto e início de setembro. As demissões ocasionadas pela mudança no contrato de prestação de serviços à prefeitura de Porto Alegre e a paralisação dos hospitais filantrópicos geram novos conflitos para médicos, enfermeiros e funcionários, e muitos prejuízos aos pacientes. Os problemas na assistência do SUS não são recentes, mas se agravaram a partir do término do contrato da prefeitura de Porto Alegre com a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs). A empresa terceirizava o Programa de Saúde da Família (PSF), que o Ministério da Saúde mudou para Estratégia de Saúde da Família, recebendo da prefeitura para organizar as contratações dos funcionários da saúde. A Faurgs encerrou sua participação no mês passado, devido à falta de pagamento pela prefeitura, de R$ 240 mil mensais. A quantia se refere às despesas de administração dos funcionários, e o valor não estava previsto no contrato, segundo o conselheiro do Sindicato Médico do RS (Simers), Sami El Jundi. As contratações de funcionários sempre foram repassadas às prefeituras que historicamente terceirizam esse tipo de estrutura, não realizando concurso público para esses cargos. A terceirização ocorre há 10 anos. A prefeitura teme que o governo federal retire a parcela de incentivo ao programa e tenha que arcar com o pagamento dos profissionais. Se o rompimento ocorrer e a prefeitura ficar sem dinheiro, será cobrada pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que a proíbe de se endividar. Prosseguindo com a terceirização, o município não se preocupa com a lei. Enquanto isso a União previa que as prefeituras passassem a absorver os profissionais. Isso não foi feito e as contratações continuaram terceirizadas. O secretário municipal da Saúde, Eliseu Santos, alega que o Ministério Público Federal recomendava, desde 2004, à prefeitura que não pagasse a taxa reclamada pela Faurgs. Os problemas jurídico-financeiros ocasionaram o fim do pagamento e conseqüente rompimento do contrato pela fundação. Para El Jundi, essa conta não prevista no orçamento fez com que a prefeitura tivesse, por recomendação do Tribunal de Contas, que abrir um novo processo que previsse todas as despesas necessárias. A partir disso, a prefeitura contatou uma nova entidade de intermediação dos contratos, o Instituto Sollus, de São Paulo, pouco conhecido. A problemática desse novo contrato era a falta de negociação entre médicos e empresa. Os funcionários mais antigos queriam contratos de 20 horas semanais, como na empresa antiga, mas a Sollus insistia em contrato de 40 horas. Os médicos mais antigos seriam os mais prejudicados por perderem privilégios. Com a proposta da prefeitura ao Simers de pagar R$ 6.500 para médicos, os profissionais retornaram ao trabalho. O salário básico ficou em R$ 5,5 mil. No final, houve acordo. Os funcionários aceitaram a contratação via Instituto Sollus, e a prefeitura se comprometeu de realizar concurso público a partir de 2008. Fotos Fernando Correa/ Hiper Mercado multimídia As plataformas digitais e a produção do conteúdo jornalístico na era tecnológica foram temas centrais dos debates do Seminário Internacional de Imprensa Multimídia. Promovido pela revista Imprensa, o evento ocorreu nos dias 3 e 4 de setembro na PUCRS. O mercado multimídia foi o assunto tratado pelo diretor de redação da Zero Hora, Marcelo Rech, e do editor-assistente do Correio Brasiliense, Carlos Alexandre de Souza. A multimídia não é nenhuma novidade na RBS, observou Rech, pois nos anos 60 jornalistas como Mendes Ribeiro e Cândido Norberto já convergiam informações para o rádio e TV. “A melhor definição para este novo modelo de redação é que todos fazem tudo para todos”, comentou. Um dos benefícios da consolidação do mercado multimídia, para Carlos Souza, é que jornais estão mais atentos à checagem da informação, mas o grande dilema é a falta de recursos: “poucas empresas têm os recursos financeiros necessários, já que a internet ainda garante pouco retorno”, acrescentou Souza. Outros painéis trataram do Second Life, a TV Digital e o papel das assessorias de imprensa na era da multimídia. Dornelles de Matos: defasagem Romualdo Pandolfo está há um ano na fila para transplante de pulmão El Jundi: denuncia terceirização Falta de funcionários nos hospitais prejudica atendimento à população Hospitais filantrópicos reclamam da tabela do SUS Os administradores dos hospitais filantrópicos, aqueles voltados ao atendimento pelo SUS de, no mínimo, 60%, reclamam que o custo de manutenção é muito maior do que o governo remunera. A defasagem atual é de 81,8%, ou seja, a cada R$ 100 gastos em atendimento, 55 são restituídos aos hospitais pelos governos federal e estadual. A receita destina menos que a metade do valor que deveria aos serviços de saúde. A tabela do SUS não foi reajustada da mesma forma que cresceu a inflação. Esta subiu 400%, enquanto o reajuste se deu por volta de 33,7%. O presidente do Sindicato dos Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Rio Grande do Sul (Sindiberf) e vice-presidente da Federação das Santas Casas, Julio F. Dornelles de Matos, argumentou que as filas hoje por atendimento são virtuais e não em hospitais como antigamente. “O paciente espera em casa, silenciosamente, e quando é chamado para o atendimento, ele pode já ter falecido”. Salientou que a demora no atendimento dos pacientes agrava o problemática do sistema de emergência: “O indivíduo que recebe atendimento em um hospital após longa espera, se tivesse tratado do problema desde o início, teria uma solução e um custo bem menor. Mas ele acaba entrando nas emergências com um grau de complexidade muito maior e um custo alto, em função do tempo que levou para acessar ao sistema”. hipertexto medicina 5 Porto Alegre, setembro de 2007 Justiça Federal obriga SUS a pagar cirurgias para mudanças de sexo Ação foi impetrada pelo Ministério Público e medicina gaúcha é pioneira na redesignação sexual Por Guilherme Zauith O Ministério da Saúde terá de incluir, na tabela de preços do Sistema Único de Saúde, a operação de mudança de sexo realizada em hospitais universitários do país. A decisão judicial, votada no Rio Grande do Sul, prevê que em caso de transexualidade, ou seja, o indivíduo que possui uma identidade de gênero oposta ao designado, o SUS deve “auxiliar” no processo operatório, não ficando definido em que níveis. O juiz da Justiça Federal Roger Raupp Rios, 39 anos, relator do processo no Tribunal Regional Federal da 4º região, em Porto Alegre, explica que o Ministério Público entrou com uma ação civil pública contra a União: “Foi pedido que fosse incluído na tabela procedimentos de cirurgia de transgenitalização em favor de transexuais pelo SUS”. De acordo com Roger Raupp, a determinação foi impetrada em 2001, mas a União sempre recorria. “Desta vez ganhamos por unanimidade e não houve contestação. Portanto, foi decidido que o Sistema Único pague uma parte do procedimento e a operação seja realizada em hospitais universitários”, assegura o jurista. O magistrado acentua que o direito à saúde é constitucional e não pode ser discriminado pela diferença sexual. “Qualquer pessoa que sofrer um acidente que seja necessário uma cirurgia de reconstituição genital, o SUS paga”. Com base neste argumento, Roger Raupp votou que “a transexualidade é um distúrbio de identidade sexual, no qual o individuo necessita alterar a designação, é um desejo e direito do paciente, que pode levar a casos mais graves como mutilação, ou até mesmo ao suicídio”. Grupo de apoio No Hospital de Clínicas de Porto Alegre, 16 pessoas, entre elas assistentes sociais, médicos, fonoaudiólogos, psiquiatras e psicólogos são chefiadas pelo urologista Walter Koff, 60 anos. Coordenador do Programa de Transtorno de Identidade de Gênero, Koff explica que o grupo formado no Hospital das Clínicas tem a finalidade de acompanhar o transexual antes, durante e depois da cirurgia de troca de sexo. “O paciente é acompanhado todo este tempo, porque existe um processo rigoroso, uma vez que a cirurgia é irreversível e eles têm de tomar hormônio para o resto da vida”. Walter Koff alega que a procura não aumentou depois da decisão judicial. Ele opera, em média, 30 pacientes por ano. De acordo com o médico, em clínicas particulares chega a custar R$ 20 mil, “agora a internação e o material custam R$ 2 mil”. A operação de resignação pode ser realizada tanto em homem como mulher. “A procura maior é de pessoas do sexo masculino que não aceitam o gênero, mas também há mulheres que sofrem de transexualismo e desejam realizar neofaloplastia (a transformação da vagina em pênis)”. Koff conta que já operou 80 pacientes desde 2001 e 60 aguardam na fila de espera. A primeira cirurgia moderna foi realizada 1951, na Alemanha, com um oficial da marinha sueca. “No Brasil, começou na década de 60 em São Paulo”, informa. A psicóloga do grupo, Jaqueline Salvador, explica que o transtorno da identidade de gênero inicia na infância. “Geralmente aos seis anos de idade o transexual começa a sentir aversão ao corpo. A partir daí, sofre com discriminação em casa, na escola, no trabalho”. A inserção na sociedade é o mais complicado e o grupo de apoio assiste nesse aspecto. “Eles dividem as experiências e sofrimentos nas sessões. A exclusão é um fato na vida do transexual, que acaba se isolando. Muitos fogem de casa, mas depois do acompanhamento do grupo e da cirurgia, normalmente a família passa a entender e a auto-estima do paciente melhora. Assim, é mais fácil trabalhar, estudar, namorar”, argumenta. Fotos Jaqueline Sordi/ Hiper Pacientes se encontram na sala de espera do Hospital de Clínicas para marcar a cirurgia de troca de sexo “Sempre me senti uma menina, o difícil é enfrentar o preconceito” A universitária de Farroupilha prefere não se identificar. Aos 20 anos, os cabelos loiros caem macios sobre os ombros estreitos. Veste um casaco rosa, calça jeans e sapato preto de bico fino. Colocou silicone no peito, operou o pomo de adão para afinar a voz. O rosto é fino e liso, a sobrancelha arqueada. As unhas são delicadamente vermelhas. Ela fará a necopovulvoplastia (cirurgia em que o pênis é transformado em vagina) no final do ano. “Sempre me senti menina. Quando criança gostava de boneca e maquiagem”, conta com orgulho. Reconhece que o precon- ceito é muito forte e a família não entendia. “Depois que minha mãe me levou ao psicólogo, na adolescência, ela entendeu. Hoje as pessoas aceitam. Trabalho, estudo, e estou feliz que vou operar”, desabafa. Acompanham a universitária duas mulheres que já fizeram a cirurgia de redesignação sexual. Márcia Beatriz e Marcela, ambas de 37 anos. Alta e loira, Márcia é natural de Ametista do Sul. Fez a cirurgia em 2001, mas colocou prótese mamária este ano e agora exibe seios fartos tapados apenas por uma fina camiseta amarela. “Nunca abandonei o grupo”, diz. Márcia considera importante a troca de experiências entre as mais velhas e as mais novas. “Nasci mulher, mas no corpo errado. Já tive namorados. Agora tenho um relacionamento estável e ano que vem quero casar de véu, grinalda e tudo”, revela com voz que ainda denuncia a masculinidade da qual quer se livrar. A bageense Marcela trabalha como relações-públicas e promotora cultural. Trocou de sexo em março. Sentada com a coluna ereta e as pernas cruzadas, fala com desenvoltura enquanto arruma o cabelo castanho escuro e curto. As orelhas sustentam grandes brincos de argola prata. “Sete dias após a cirurgia estava em casa, a recuperação foi perfeita”. Para Marcela, o preconceito é o maior sofrimento e conta que já tentou suicídio quatro vezes. “Hoje estou realizada, fiquei seis anos sem me olhar no espelho. É uma conquista. Sou casada há quatro anos e pretendo adotar uma criança”. E confessa, extasiada: “tomo anticoncepcional para ter seios pequenos, não ponho silicone por que odeio sutiã”. 6 sociedade Porto Alegre, setembro de 2007 hipertexto A diversidade marcou 20° Set na PUC Gabriel Pozzobom/Hiper Marcelo Dantas, designer e curador, participou do RBS Debates Camila Rinaldi e Igor Carrasco Alunos de Comunicação de diversas partes do país viver a experiência do 20º Set Universitário entre 17 a 19 de setembro na Famecos. Palestras, oficinas e uma mostra competitiva reuniu estudantes de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Cinema. A abertura do evento contou com a presença do colunista Diogo Mainardi, da revista Veja, discutindo a “relação incestuosa entre mídia e poder”. À noite, o RBS Debates reuniu o designer e curador de exposições Marcelo Dantas; a professora da PUCRS, Ana Carolina Escosteguy; o diretor de redação dos jornais RBS, Marcelo Rech e o publicitário Beto Callage que abordaram o tema “Comunicação pelos poros”. Uma edição especial do Sarau Elétrico, com Kátia Suman e os escritores Luís Augusto Fischer e Claudia Tajes marcou o encerramento no último dia do SET no auditório da Famecos. Na cerimônia, foram anunciados os vencedores da competição que contou com 853 trabalhos inscritos. Entre os ganhadores, Hipertexto esteve representado pela editora Lidiana de Moraes, primeiro lugar em reportagem com “Literatura atual relê os clássicos”, publicada na edição de junho. Assim se desfaz um mito: Diogo Mainardi Por Natasha Centenaro Segundo fontes astrológicas, ele é virginiano, nascido em 22 de setembro. Superorganizado, é uma pessoa sincera, mas tem um jeito sério demais. Seu maior problema é quando sua seriedade é confundida com frieza. No entanto, é só aparência e quem se deixa levar pelas aparências, se engana e muito. Ele também se emociona, ri, chora, sofre, ama e escova os dentes. Outro defeito de sua personalidade é que tem certa mania de analisar tudo o que acontece e quem está ao seu redor. Apesar de revelar todos esses traços de personalidade, ainda o consideram rude, rabugento, implicante e insuportável. Tudo por causa do seu trabalho, árduo, escrever o que bem entende e sobre quem define. Normalmente são personalidades ou fatos conhecidos do cenário político, econômico, casual. Mas ele também já falou de livros, música e filmes, aliás, ele já foi roteirista de cinema. Bom, livros, também já os fez. Todavia, desde uma recente safra de autores e cineastas, considera a cultura monótona e medíocre. Realmente, cultura não é mais seu alvo preferido. Não é passível de escândalos, corrupções, promiscuidades, polêmicas figuras, uma temática totalmente desinteressante. Ele acha que o voto não deveria ser obrigatório e não se considera responsável pelos políticos eleitos no Brasil por que ele não vota, disse “estar isento de votar no Brasil”. Mas foi para isso que ele aterrisou em Porto Alegre, falar sobre as “relações incestuosas entre a mídia e o poder”, muito mais atrativo que os últimos lançamentos do Caderno de Cultura. Falar o que ele pensa e retrata nas suas colunas semanais da Revista Veja e no programa dominical do canal por assinatura GNT, Manhattan Connection. Como já era esperado e anunciado, o colunista Diogo Mainardi estaria na cidade para palestrar na PUCRS, nada além disso. Nada de conversas com a imprensa e muito menos, com aprendizes de imprensa. Aí, entram as aparências. Serenamente, Diogo caminhava no saguão da Famecos. Diogo Mainardi, caminhando pela Famecos? Uma realidade improvável, que só quando foi vista e conferida se tornou realidade. Com uma paciência inimaginável, ele concedeu entrevistas, conversou com estudantes e professores e, o ápice da gentileza, aguardou o gravador dessa repórter em desespero funcionar. O momento da reflexão: ele é assim mesmo? E a polêmica, o deboche, a ironia? E para completar a cena idílica, ele pediu para escovar os dentes antes de uma entrevista. É sério? Não, só pode ser gozação. Chegou a hora da verdade, da revelação. Diogo Mainardi é gentil, paciente e, sem falsas impressões, bem educado. E a imagem de rude e implicante, cadê? Aqui, cabe um relevante parênteses, antes de qualquer processo contra minha pessoa por dizer esses impropérios, na palestra não foi bem assim. Durante uma hora e meia de profunda troca de elogios entre o palestrante e o mediador, renomado jornalista e professor da Famecos, Juremir Machado da Silva, seu aguçado e mordaz censo crítico ressurgiu das entranhas sensoriais e estratégicas desse provocador e instigante escritor. Mainardi voltou a ser Mainardi, odiado, rejeitado e repudiado, inclusive por um grupo de estudantes presente no Centro de Eventos. Aos gritos e com uma faixa em letras garrafais, eles acusavam: “Diogo Mainardi: o Traíra da América Latina”. Sem titubear, ele só respondeu: “Vou levar o cartaz para pendurar em minha casa.” Ainda bem, ele voltou a ser esse personagem tão verossímil que só ele sabe fazer. Se vira nos 20 O que se esperava da palestra “Se vira nos 20 – a TV ontem, hoje e amanhã” era o que se espera de qualquer palestra do SET Universitário, muita informação. É justo dizer que a palestra superou todas as expectativas dos presentes. Os ex-estudantes da Famecos, Carlos Kober e Edson Erdmann contaram como foi a criação do Set Universitário, em 1988. Erdmann e Kober levaram o público por um passeio por suas carreiras. Desde o começo na ProVídeo, atual Centro de Produção Multimídia, onde faziam programas para aulas de diversos cursos da PUC, até os dias atuais, com Kober na direção do “Domingão do Faustão”, e Erdmann dirigindo a novela “Eterna Magia”. O tema da palestra em geral foi, como não poderia deixar de ser, televisão. Ambos os palestrantes possuem um currículo invejável nesta mídia, tendo passagem pela RBS TV e TV Globo, além do tempo de Kober na TV Cultura.No final da conversa, os palestrantes deixaram ao público, formado em sua maioria por jovens em formação, uma pergunta: onde vocês estarão daqui a 20 anos? Com esta indagação terminou um ciclo de duas décadas, onde os ex-alunos da PUCRS, Carlos Kober e Edson Erdmann, passaram de meros estudantes improvisando com os recursos que possuíam, a referência internacional na área da televisão. Comunicação interativa No segundo dia do SET Universitário, um dos painéis tratou da “Convergência digital – o passado e o futuro da comunicação interativa”. Para falar sobre o tema foram convidados o diretor de conteúdo do IG, Caíque Severo, e a jornalista, professora do curso de jornalismo e do programa de pós-graduação em comunicação midiática da UFSM, Luciana Mielniczuk. O debate fora mediado pelo professor da Famecos, Eduardo Pellanda. Segundo Severo, é difícil ter uma real noção sobre a transformação pela qual a sociedade vem passando e sobre o futuro, pois as mudanças ocorrem rápido demais. Outra preocupação ou provocação, como definiu Luciana, foi com a formação dos alunos pelas universidades em tempos de intensa interatividade. A jornalista vê que o futuro da comunicação são os alunos que saem hoje das universidades e questiona o quanto está sendo investido para que estes possam sair capacitados para o mercado de trabalho da comunicação interativa. Fernanda Fell/Hiper Pequeno grupo compareceu só para vaiar o polêmico Diogo Mainardi hipertexto cultura 7 Porto Alegre, setembro de 2007 Qualidade consolida bom momento do teatro local Sucesso do Porto Alegre Em Cena comprova a força da dramaturgia, apesar das falhas estruturais (falta de palco, recursos limitados) Fotos Tamara Carvalho/Hiper Por Patrícia Lima A qualidade dos espetáculos produzidos e a resposta do público que prestigia com intensidade são as provas do momento positivo que se encontra o teatro no Rio Grande do Sul. “O Porto Alegre em Cena está aí para se fazer a comparação. Artisticamente, estamos bem, obrigado, com ótimos diretores, atores, novos e velhos dramaturgos e um time de técnicos de excelente qualidade”, afirma o ator da peça Homens de Perto, Artur José Pinto. Os caminhos da dramaturgia gaúcha contemporânea foram objetos de debate em um evento que reuniu, no mês de agosto, alguns dos principais representantes da dramaturgia gaúcha. O Seminário de Dramaturgia Contemporânea foi realizado no Teatro de Arena. A cada ano, algumas produções se destacam. Há grupos profissionais e alguns amadores que ainda mantém o desejo de pesquisa, investigação de linguagem, tentando dar consistência ao fazer teatral. “A grande maioria não tem subsídios para manter seus espetáculos por longo tempo em cartaz”, lastima Hermes Bernardi Jr., que atua na peça A Tempestade. De outra forma, com a velocidade das coisas e o instinto de sobrevivência falando mais alto, não permitem que pessoas se reúnam e aprofundem alguma linguagem, o que acaba por abortar bons projetos e a continuidade de pesquisas relevantes na área. Entre os problemas da classe teatral, é fácil apontar os principais: faltam salas de espetáculo, os recursos de patrocínio são poucos e os espaços de divulgação cultural reduzidos. O público que freqüenta as salas cresce, mas, como em todo o país, é pequeno se comparado à Argentina, por exemplo. Mais divulgação por parte da mídia é o que Renata Peppl, autora e atriz das peças Solteiríssima e Casa- Produções se destacam nos palcos díssima, também reivindica. Para ela, o teatro está cada vez melhor. Porém o sucesso e o público seriam maiores se houvesse mais apoio por parte da imprensa. Existem bons textos, apesar de poucas pessoas escreverem peças teatrais no Estado. A identidade do teatro também é regionalizada, buscando se aprimorar ainda mais para concorrer em festivais fora do Rio Grande do Sul. Renata, que concluiu o curso de Jornalismo na Famecos em julho passado, também lamenta o investimento reduzido dos brasileiros em cultura, tanto no teatro como em outras artes como cinema. Ela acredita que, muitas vezes, as pessoas não vão ao teatro até por medo de não entender a história e sentir-se ignorante. O valor dos ingressos também afasta o público das salas, segundo Bernardi Jr. O público local quer ingressos a preços populares quando se trata de artistas gaúchos em cena. O contrário acontece quando produções do eixo Rio-São Paulo desembarcam em Porto Alegre e ocupam os melhores teatros. Atendem uma classe que pode pagar para lotar as casas de espetáculos e, por vezes, vai ao teatro mais pelo status, procurando ser vista do que exatamente pelo espetáculo em si. Drama ou comédia A função do teatro é provocar uma reação em quem assiste. Emocionar. Ao fazer rir, o encenador toca nas referências do público acerca do tema apresentado e, de uma forma lúdica, posicionando-se artisticamente. Não tem como comparar os gêneros tragédia e comédia. Ambos são teatro. A diferença que deve ser feita é entre trabalhos bons e ruins. Muitas pessoas fazem comparações e reduzem a importância do gênero comédia, esquecendo suas origens. Textos cômicos foram escritos pelos mesmos dramaturgos clássicos que formaram a dramaturgia mundial. Aristófanes, Plauto, Sófocles, Molière, Maquiavel, Shakespeare, e tantos outros erigiram uma obra cheia de significados com seus textos cômicos. “No período do golpe militar muita gente se posicionou politicamente e tentou comunicar suas idéias por meio de textos cômicos cheios de sinais a serem decodificados. Ainda hoje tem muita gente que utiliza o humor para atingir o público com arte e bom gosto”, argumenta Artur Pinto. Falta de divulgação ainda prejudica o sucesso de público do teatro gaúcho As produções nos palcos do Estado investem na comédia e no drama Oprimido pela realidade, público quer ver comédia As pessoas machucadas pela realidade em que vivem preferem, na hora de lazer, desopilar, divertir-se, optando por programas que não provoquem mais dor. Por isso, o público “de televisão”, ou seja, o que não vai ao teatro habitualmente, prefere espetáculos em que possa rir. Os que estão acostumados com o teatro já entenderam que a emoção da obra teatral eleva a alma e produz o mesmo efeito de renovação na pessoa. Bernardi diz que há uma parcela do público que gosta de teatro bem feito, sendo comédia ou drama. É exigente. Outra parcela, bem maior, ainda faz papel do colonizado, prestigia o que vem de fora. O ator Hermes Bernardi Jr. sustenta que comédia também é drama. Os dois gêneros do drama são a tragédia e a comédia, que têm na estrutura os mesmos elementos: a situação inicial, o conflito e o desenlace, apresentados de forma diferenciada em um ou outro. No teatro contemporâneo, esses elementos não se apresentam necessariamente nesta ordem. A investigação permeia a construção, desconstrução e reconstrução. O que os diferencia é a via de comunicação com seus públicos, ou seja, a dor, o humor, a tristeza, a profundidade da abordagem dos temas. Existem ainda os dramas cômicos e as comédias dramáticas, que utilizam ambos intercaladamente a fim de uma determinada comunicação. Em se tratando de texto teatral, 8 natureza Porto Alegre, setembro de 2007 Abelhas perdem o rumo de casa hipertexto Fotos Karol Denardin/ Hiper Formicidas, radiação, monoculturas e raios ultravioleta desorientam e matam Por Tatiana Feldens “Adeus e obrigado pelos peixes!” Essa foi a mensagem deixada pelos golfinhos ao desaparecerem do planeta na comédia literária do inglês Douglas Adams. A obra, parte da série O Guia do Mochileiro das Galáxias, narra o desaparecimento súbito da espécie, que teria abandonado o planeta ao descobrir que ele seria destruído. Em proporções reduzidas, ainda que impressionantes, a vida imitou a arte no Brasil e no mundo. O desaparecimento das abelhas – fenômeno apelidado pelos norteamericanos de desordem de colapso de colônias, ou CCD – é motivo de preocupação principalmente entre apicultores do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. O fenômeno registrado particularmente no início deste ano pode causar graves desequilíbrios ambientais, uma vez que as abelhas são responsáveis por mais de 90% da polinização (fecundação das plantas através do transporte do grão de pólen) e, de forma direta ou indireta, por 65% dos alimentos consumidos pelos seres humanos. O engenheiro agrônomo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Aroni Satler conta que é comum as abelhas deixarem a colméia devido a um mau manejo ou por falta de comida. No entanto, ele ressalta que neste caso as abelhas estão morrendo intoxicadas por formicidas e venenos utilizados para matar pragas nas lavouras do sul do Brasil. “O que temos aí, e que é bem característico, são mortandades grandes, nos últimos anos, com agrotóxico”, diz. Segundo Satler, quando as abelhas são intoxicadas, a perda é total, tanto no caso da pequena propriedade como das empresas. “A abelha que é contaminada e não morre no campo, traz o produto para dentro da colméia, onde contamina as operárias que estão trabalhando junto”. Aroni alerta ainda para um possível aumento da intoxicação das abelhas com a expansão das culturas de girassol e canola para a produção de biocombustível. “Isso tem uma tendência a aumentar ainda mais, porque com os monocultivos destinados ao biodiesel, principalmente de girassol e de canola, são muito atrativas para as abelhas. Se não houver um bom controle disso, um trabalho de conscientização dos produtores e dos apicultores, esse prejuízo vai ficar maior ainda”, diz. Suspeitas Entre as possíveis causas do fenômeno, são citadas, além do uso indiscriminado de herbicidas, a radiação de telefones celulares e o uso de transgênicos, em especial os do milho Bt (com gene resistente a insetos; contém pedaços do DNA da bactéria Bacillus thuringiensis). Jair Barbosa Júnior, do Instituto de Estudos Socioeconômicos de Brasília, em entrevista à revista Carta Maior, confirma uma das possíveis causas. No Brasil, lembrou Barbosa, Apicultores denunciam o desaparecimento das abelhas de colméias do Rio Grande do Sul não há estudos aprofundados sobre o impacto das lavouras transgênicas no ecossistema. Outro provável motivo apontado pelo pesquisador é o aquecimento global. O sistema de orientação das abelhas funciona por meio dos olhos. As abelhas dependem da luz solar para encontrar o caminho de volta para as colméias. Assim, o aumento da incidência de raios ultravioletas poderia ser uma das causas do fenômeno. O jornal inglês The Independent publicou uma matéria afirmando que a radiação dos celulares poderia estar interferindo no sistema de navegação das abelhas, provocando a desorientação, que não conseguiriam mais voltar para suas colméias. O periódico também citou pesquisas alemãs que apontaram mudanças de comportamento dos insetos nas proximidades de linhas de transmissão de alta tensão. Alguns cientistas, por outro lado, minimizam o problema. O professor emérito de entomologia da Oregon State University, Michael Burgett, disse, ao jornal The New York Times, que as grandes baixas em abelhas em algumas regiões poderiam ser reflexo de picos populacionais superiores à taxa normal de mortalidade em décadas recentes. Segundo ele, no final dos anos 70 houve um fenômeno similar a este, que, na época, foi chamado de “doença do desaparecimento”. Não foi encontrada uma causa específica para o desaparecimento. O desaparecimento das abelhas começou a ser tema na mídia em 2006, nos Estados Unidos e no Canadá..A redução das colônias de abelhas no país vem ocorrendo, pelo menos, desde 1980. A morte repentina de abelhas também já foi registrada em países como Alemanha, Suíça, Espanha, Portugal, Itália e Grécia. A advertência de Einstein O físico Albert Einstein disse que se as abelhas desaparecessem, a humanidade seguiria o mesmo rumo em um período de quatro anos. A razão é muito simples: sem abelhas não há polinização, e sem polinização não há alimentos. Peruanos reconstroem região atingida pelo terremoto Eitan Abramovich/AFP Por Bruna Weis Scirea Quarta-feira, 15 de agosto, 18h40min. Habitantes da costa e da região noroeste do Peru voltavam para seus lares após mais um dia de trabalho. De repente tudo tremeu, a terra cedeu e casas e estradas desabaram. O país foi atingido por um terremoto de 8 graus na escala Richter. “A ajuda internacional foi rápida. Chegam aviões de vários países trazendo alimentos e ajuda profissional. Temos medo porque a terra ainda treme e, mesmo sendo em menor intensidade, há construções do século passado que continuam desmoronando”, relata Elsa de Leyton, 58 anos, duas semanas após o ocorrido. Moradora da cidade de Piúra, que se localiza a 1300 km ao norte 500 mortos nos escombros do epicentro do terremoto, afirma que o governo está cadastrando as pessoas afetadas para que possam fazer empréstimos sem pagar juros. A peruana, que é avó de uma brasileira, explicou no e-mail que enviou para a família no Brasil: “Nós como população e o governo percebemos que não estamos preparados para estas emergências, mesmo sendo o Peru um país que muito sofre com os abalos sísmicos”. “O Peru fica na costa oeste do continente sul americano onde é a margem de colisões de placas tectônicas”, explica o doutor em Geociências, Jorge Alberto Villwock, professor da PUCRS e diretor do Instituto de Meio Ambiente. “Estas colisões, no caso entre as placas da América do Sul e a Nazca, liberam uma grande quantidade de energia, que é manifestada na forma de vibrações sísmicas”, complementa Villwock. Os tremores menos intensos, reflexos dos grandes terremotos, podem ser notados em regiões distantes, como recentemente no Amazonas. No sul brasileiro, já foram sentidas pequenas vibrações decorrentes de um terremoto na Cordilheira dos Andes, há anos. O professor garante que as chances de acontecer abalos sísmicos no Brasil são bastante remotas pelo fato de estar situado no centro de uma placa tectônica, portanto não sujeito às oscilações. O geocientista relembra que, desta vez, o aquecimento global não é o vilão da história: os terremotos têm sua fonte de energia no interior da terra, diferentemente dos furacões, ligados à energia solar que, sendo superficial, relaciona-se com as mudanças climáticas. O abalo do dia 15 de agosto foi o pior desde 1970, quando o país foi atingido por avalanches de gelo e deslizamentos de terra ocasionados por um tremor. Naquele ano, 50 mil pessoas morreram. Desta vez, segundo autoridades do Peru, foram mais de 500 mortos e mil feridos, números que, apesar de menores em relação aos de 1970, carregam o mesmo sofrimento. Nas palavras de Elsa: “A vida continua e o desejo de todos os peruanos é que em poucos anos estejam restabelecidas as cidades e os povoados que desapareceram com o terremoto” O terremoto e suas conseqüências comoveram povos de várias regiões. O Brasil, por exemplo, enviou ajuda humanitária, alimentos não perecíveis, tendas e medicamentos. A ONU e a União européia arrecadaram e disponibilizaram milhões de dólares para as áreas afetadas. A memória histórica do país e dos habitantes, entretanto, só o Peru será capaz de recuperar. hipertexto memória 9 Porto Alegre, setembro de 2007 Tradição contestada provoca debate Manifesto Contra o Tradicionalismo quer revisar MTG Foto Raissa Genro /Hiper Luciana Birck O tradicionalismo gaúcho, representado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), foi criticado em manifesto liderado pelo professor de História Luiz Carlos Tau Golin, da Universidade de Passo Fundo. “Somos contra o MTG devido a sua ação de controle cultural, uso das verbas públicas, interferência nos currículos escolares, vigilância sobre os meios de comunicação, imposição manipulatória de uma idéia de ‘história’ que converteu em ‘heróis’ senhores de escravos”, protestam professores, estudantes que assinam o manifesto lançado em março passado. Ainda na véspera da Semana Farroupilha, o MCT provocou reações, como a do patrão do 35 CTG, Luiz Clóvis Fernandes, que diz ser lamentável o ato: “Tau Golin analisa a evolução dos tempos com os olhos de hoje, ele não se reporta ao passado para analisar os fatos na sua época, com as leis que existiam e com as necessidades que a época apresentava para que fossem julgadas”. Para eles, o MTG não é uma forma de cultura legítima, pois não representa a diversidade do povo do Rio Grande. Ele seria o principal instrumento de negação e destruição dos traços culturais e direitos fundamentais do povo riograndense. O patrão do 35 CTG rebate: “Tau Golin critica o MTG porque não teve a oportunidade de estar junto quando foi criado e nem teve a brilhante idéia que os outros tiveram. Ele é uma das pessoas que mais admira o movimento, só não quer admitir”. A declaração também aponta uma espécie de aliança entre MTG e ditadura militar no golpe de 1964. “Até pode ter havido um aproveitamento por parte do governo, assim Academia tem dificuldade em reconhecer como legítimo o culto ao gaúcho como aconteceu em outros lugares. Mas não concordo que o MTG tenha se juntado ao governo, porque o Tradicionalismo é um movimento cultural que tem o firme propósito de congregar o povo em benefício de uma cultura própria que forma seres humanos diferentes e independentes”, sustenta Fernandes. Fundado em 27 de novembro de 1967, o MTG surgiu como órgão orientador e coordenador das entidades tradicionalistas, para preservar, resgatar e desenvolver a cultura gaúcha. Os mais de 1.400 CTGs e piquetes filiados ao MTG devem seguir os regulamentos que incluem o comportamento da prenda e do peão nos concursos, a Carta de Princípios, entre outros. A revisão proposta pelos autores do manifesto sugere rever as normas e conceitos da cultura tradicionalista. Os manifestantes também reclamam da arrecadação das verbas públicas usadas no “imenso calendário de eventos, onde, nem sempre, se distingue a cultura do turismo e do lazer”. Pedem audiências públicas no Conselho de Cultura para debater a destinação dos recursos e também sugerem à Assembléia Legislativa a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). RBS: 50 anos em exposição Clarissa Leite Caum O estilo e o casamento entre conforto, criatividade e interatividade são marcas da exposição que celebra os 50 anos da Rede Brasil Sul (RBS). Na Usina do Gasômetro, estão expostos o passado e presente de uma empresa que há 50 anos faz parte da vida dos gaúchos e mais recentemente também dos catarinenses. A exposição destaca a maneira como as pessoas recebem, em casa, as notícias anunciadas pelo rádio, jornal e televisão. O público tem à disposição elementos que buscam reproduzir o ambiente doméstico e familiar dos ouvintes e telespectadores, como o sofá, a cama, o armário e a geladeira. Os principais momentos da história da comunicação no Brasil e o mundo são retratados no evento, que relembra notícias, telenovelas, programações de rádio e a história da Fundação Mauricio Sirotsky Sobrinho (FMSS). Os utensílios ultrapassados e as técnicas de transmissão de informação mexem com a memória de quem vai ao encontro das décadas contadas pelos veículos da RBS, a partir de 1957. Para orientar os visitantes, 54 facilitadores que, como o próprio nome diz são pessoas que dão informações e conduzem o público ao encontro das descobertas. O facilitador Jaques Machado explicou que o principal objetivo da promoção é comover o público. “A importância da exposição é justamente a emoção. Eu não posso generalizar, pois isso é muito relativo, mas vejo que as pessoas se fascinam com os objetos expostos, com os programas de rádio que ouvem”, comenta. Ele percebeu que alguns até choram ao relembrarem de épocas passadas. Cátia Silveira Krieger, que foi à exposição com o pai, Osvaldo, relatou que a visita foi essencial para conhecer a época e os costumes paternos. “Eu me encantei quando o vi sentado naquela cadeira, animado, ouvindo algumas programações do rádio. Só quem viveu aquela época pode sentir essa emoção”. Há também jornais dispostos numa mesa retangular, visíveis como uma imagem, onde o leitor pode acessar a capa do ano, mês e dia que escolher. Nela, são encontradas as manchetes do que foi notícia no passado, desde o surgimento da Zero Hora, em 1964. A interatividade é marca da exposição. O público toca, experimenta, ouve. A idéia da exposição partiu do diretor-presidente do grupo Nelson Sirotsky que, visitando o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, chamou Marcelo Dantas, seu criador, para ajudá-lo neste projeto aqui, no Rio Grande do Sul. No site www.noar50anosdevida. com.br os interessados encontram dicas de tudo que os aguardam, vídeos em geral e interatividade. Na entrada, um guia de exposição é destinado ao visitante, que toma conhecimento do que verá no interior da Usina. A exposição fica, na Usina, até 18 de novembro, de terça a domingo, das 9h às 21 horas e a entrada é franca. Lucas Constanzi/Hiper Em defesa da inclusão das culturas Trechos do manifesto • O MTG é doutrinador e usurpador do direito individual, impõe modelos de comportamento fora de seu espaço privado, se auto-elegendo como arquétipo de uma moralidade para toda a sociedade. • Somos contra o MTG, porque seu controle e patrulhamento vigora sobre a sociedade como um espectro opressivo, em muitos casos como uma maldição, como uma ameaça punitiva, desclassificativa daqueles que não ideologizam as pilchas ou não se enquadram nos modelos “humanos”, geralmente caricaturais, decretados pelo MTG. • Em defesa da cultura rio-grandense, postulamos pela instalação de uma CPI na Assembléia Legislativa, para investigar a transferência de verbas e infra-estruturas públicas para as atividades tradicionalistas, o que caracteriza flagrantemente uma usurpação do patrimônio público. • Alertamos e igualmente reivindicamos audiências públicas ao Conselho de Educação, para discutir a deturpação dos currículos e dos princípios de Educação Pública, em conseqüência da infestação, da usurpação e da distorção pedagógica representada pela invasão tradicionalista nas escolas de todo o Estado. Exposição da RBS na Usina do Gasômetro comove o público 10 esporte Porto Alegre, setembro de 2007 Eles jogam futsal com o subconsciente Fotos Vinícius Carvalho/Hiper A bola é igual à de futsal, com a única diferença de possuir um guizo para a orientação dos atletas, o que a deixa mais pesada do que o normal. Esse e outros detalhes constituem as regras do futebol de 5, adaptado para pessoas com deficiência visual. Poucos sabem, mas o Rio Grande do Sul tem uma tradição vitoriosa nesta modalidade. Atletas gaúchos têm participado de para competições nacionais e internacionais. Eles estavam presentes nos recentes Jogos Parapan-Americanos do Rio de Janeiro, quando a Seleção Brasileira de futebol de cegos conquistou a medalha de ouro em cima da Argentina, com o placar de 1 a 0. O artilheiro da competição foi o porto-alegrense de 18 anos, Ricardo Alves, o Ricardinho, com nove gols marcados. Em Porto Alegre, o time da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs) reúne atletas de diferentes idades, porém com algo em comum: a busca no esporte de uma qualidade de vida melhor, de forma autônoma e saudável. Nesta adaptação do futsal convencional, Fotos Pedro Revillion/Hiper existem três pessoas que enxergam normalmente e influenciam na partida. O goleiro (que além de defender, tem a função de orientar a defesa), o chamador (fica atrás da goleira do adversário com o objetivo de orientar o ataque do seu time), e o técnico (que só pode dar suas instruções para os jogadores que estiverem no meio da quadra). Para não atrapalhar a concentração dos atletas, as torcidas devem permanecer em silêncio durante as partidas, com exceção da hora do gol, quando podem gritar e comemorar a vontade. Ricardinho perdeu a visão aos oito anos e dois anos depois começou a jogar no Instituto Santa Luzia, escola da Capital para pessoas com deficiência visual. Com 15 anos, o garoto encontrou a Acergs e participou, desde então, de campeonatos pelo time gaúcho e pela seleção brasileira. Hoje ele é considerado o melhor jogador do mundo na categoria, mas, humilde, divide seu sucesso na Seleção Brasileira: “Sempre que faço gol, costumo dizer, que metade dele pertence a mim e a outra ao chamador do time. É ele quem diz para onde tenho que driblar e chutar”. Celso Roth, do Vasco da Gama O gaúcho Ricardinho, goleador da Seleção Brasileira de futebol para cegos, é considerado o “melhor do mundo” Presenciar um jogo desta modalidade impressiona. Eles jogam todos vendados, devido às diferenças de grau na deficiência visual de cada um. Porém, tal limitação não atrapalha a emoção das partidas, que têm um ritmo acelerado e competitivo. O estudante de educação física João César Nunes Tortorella foi por dois anos chamador e auxiliar técnico do time gaúcho. Ele afirma que construiu, ao longo deste período, uma amizade com Ricardinho e os outros atletas do time. “Aqui fiz muitas amizades, por isso, mesmo com a minha saída, procuro visitá-los e dar sempre o apoio que for preciso. Com eles aprendi a dar valor às coisas simples, as quais passam despercebidas pela maioria das pessoas.” O veterano do time, Pedro Beber, conhecido como Pedrão, tem uma história de garra e perseverança. Ele parou de enxergar aos 22 anos, pois sofre de glaucoma, doença que afeta a pressão dos olhos. Entrou em depressão, mas a superou quando encontrou no esporte a força para reerguer sua auto-estima. Além do futebol de 5, Pedrão disputou e venceu campeonatos em outras categorias, como goalball e 100 metros rasos. Agora, com 47 anos, orgulha-se de sua trajetória de vitórias e explica um pouco a emoção de competir. “Mesmo sem a visão, enxergo o gol, vejo quando driblo o zagueiro e chuto, vejo onde a bola entra”. Como teve visão normal por 22 anos, ele diz “enxergar com a ajuda do seu subconsciente”. Hoje, o atleta não encontra mais problemas por causa da cegueira. Ao contrário, depois que ficou cego, aprendeu a sentir novos prazeres e a apreciar novos cheiros e gostos, que nunca tinha reparado antes. Querência dos treinadores de futebol Por Thiago Oliveira Mano Menezes, do Grêmio Futebol de cegos começou nos anos 60 O futebol de cegos surgiu no Brasil na década de 60, e está se ampliando pelo cenário esportivo mundial. É daqui que saem as bolas oficiais para competição internacional, distribuídas gratuitamente para o mundo todo. São fabricadas por presidiários no programa “Pintando a liberdade”, do Ministério do Esporte. O próximo passo brasileiro são os Jogos Parapan-americanos de Pequim, em 2008, para o qual a Seleção Brasileira garantiu vaga com a vitória na competição deste ano. Atletas brasileiros com deficiência visual dão exemplos de superação, colocam a alma em quadra Por Maurício Círio hipertexto Quando se fala em treinadores de futebol, nomes gaúchos são lembrados instantaneamente. São vários os comandantes de destaque nascidos no Rio Grande do Sul. O legado que os técnicos de grande sucesso nas décadas de 70 e 80, como Ênio Andrade, três vezes campeão brasileiro, por Internacional, Grêmio e Coritiba, e Valdir Espinoza, campeão da Libertadores e mundial pelo Grêmio, em 83, deixaram é aproveitado por seguidores de uma escola de futebol única. Mas a que se deve tantos talentos surgirem no Estado gaúcho, tão criticado por abrigar o “futebol força e retranqueiro”? Apenas coincidência ou qualidade da terra? “Acho que a qualidade dos treinadores gaúchos está na disciplina tática. Os técnicos daqui estão mais para o estilo euro- peu do que para o jeito do Centro do país, que é muito ‘festeiro’”, analisa o apresentador e repórter da Rádio e TV Pampa, Marinho Saldanha. “Os técnicos do Rio Grande não aceitam indisciplina. Além de serem, sim, bons na parte técnica e tática”, comenta Gabriel Cardoso, da Rádio Bandeirantes. Ele ainda defende a tese de que os gaúchos são comandantes na acepção da palavra. Na Série A do Campeonato Brasileiro, na 22ª rodada, por exemplo, o Rio Grande do Sul conta com sete treinadores, dos 20 clubes que disputam o torneio, sendo o Estado que mais possui técnicos neste certame. Na Copa Libertadores da América, dos nove comandantes brasileiros que já dirigiram um time campeão, quatro eram cariocas, três eram gaúchos – Luís Felipe Scolari, Valdir Espinoza e Paulo César Carpeggiani – um era paulista e o outro era mi- neiro. Em nível de Seleção Brasileira, cinco gaúchos (Scolari, Cláudio Coutinho, João Saldanha, Sylvio Pirillo e o atual Dunga) já estiveram à frente da “Canarinha”, número inferior apenas ao de cariocas. Além disso, a representatividade dos números não é menor do que o sucesso dos técnicos gaúchos no futebol. Nomes como o de “Felipão”, multicampeão por Criciúma, Grêmio, Palmeiras e Cruzeiro e de grandes vitórias em Portugal, o de Adenor “Tite” Bacchi, campeão da Copa do Brasil pelo Grêmio em 2001 e com passagens por grandes clubes do Centro do país, são cada vez mais constantes. Renato “Gaúcho” Portaluppi, Paulo Bonamigo, Ivo Wortmann e Celso Roth também dão continuidade a um trabalho na escola gaúcha de futebol começado no final da década de 70 por Ênio e início da de 80, por Car- peggiani, campeão da Libertadores e do Mundo em 81 com o Flamengo, e Espinoza. O mais recente, Mano Menezes, também tem chamado a atenção da mídia nacional por ter levado o Tricolor gaúcho da Série B do Campeonato Brasileiro ao terceiro lugar na Série A e à final da Libertadores em aproximadamente dois anos de trabalho. O crescente apelo por comandantes gaúchos ficou caracterizado na convocação do técnico Dunga, escolhido em 24 de julho do ano passado. Após o fracasso de Carlos Alberto Parreira, carioca, na Copa do Mundo daquele ano, a Confederação Brasileira de Futebol deu uma ordem expressa a Carlos Caetano Bledorn Verri: recuperar a extinta motivação dos jogadores brasileiros. Algo que só o símbolo da raça e da vibração na conquista do Tetra em 94 poderia fazer. hipertexto mundo 11 Porto Alegre, setembro de 2007 Arquivo Pessoal CRÔNICAS DA CHINA O intercâmbio entre a PUCRS e a Universidade de Comunicação da China já promoveu a ida de brasileiros para estudar em Pequim. O aluno do curso de Jornalismo da Famecos Rafael Codonho morou por 11 meses na cidade de Pequim, de onde enviou alguns relatos ao Hipertexto. De volta a Porto Alegre, o repórter começa publicar aqui histórias da vida cotidiana naquele país. Nas noites de Pequim, a babel de estrangeiros “Chegamos a Xangai. hora de pousar para a fotografia. Sorria! Lá estou eu, em pé, de blusão preto” Rafael Codonho Pequim é uma cidade turística por sua história milenar, provocando curiosidade imediata de se conhecer. Em uma semana se busca no mapa o próximo destino. Não que a cidade seja desagradável, mas o espetacular vai da primeira impressão à rotina e cansa. É hora de conhecer Xangai, Xi’an (dos famosos guerreiros de Terracota), Hong Kong, Sichuan (terra dos ursos pandas), Yunnan (paraíso natural) ou dezenas de outras cidades. A capital chinesa é veloz, oferece oportunidades ótimas para estrangeiros e para quem busca o recesso. Dá para se levar uma vida de estrangeiro no país de Mao Tsé-Tung. Ao laowai (expressão pejorativa para designar estrangeiro, em especial os europeus: lao significa velho, wai, de fora) disposto a pagar caro e que não quer molhos, frituras e pimentas em excesso, a cidade oferece um roteiro gastronômico que deixaria um paulistano espantado. Salames, presuntos, bolachas brasileiras, vinhos e espumantes franceses e chilenos, chocolates belgas, artigos provenientes de todos os lados que possibilitam uma saída fácil para quem não está disposto a comer como os chineses. Assim, tem uma vida estrangeira mesmo que depois afirme ter morado no país onde se comem grilos e escorpiões. Para completar a vida laowai, vai-se ao bairro noturno Sanlitun. O olho fecha e abre de novo. Estranhamento ou motivo para celebração? Talvez os dois. Pode-se caminhar por vários minutos e a impressão de não estar na China continua. Nas mesmas portas fora dos bares, os estrangeiros se deliciam em bom inglês, tomam chopes alemães e fumam narguilé. Garçons se aproximam e com muita insistência oferecem um women’s club. Estrangeiros de meia-idade, chineses da high society se espalham por uma rua de bares com música ao vivo. Um pouco adiante, há um bar nigeriano de fachada especializado no que Al Pacino construiu seu império em Scarface. Espetinhos de carne de ovelha preparados por migrantes da província muçulmana de Xinjiang trazem recordações. Livrarias especializadas em best-sellers em inglês, lojas de DVD piratas e uma multidão de estrangeiros é abordada por moradores de rua, vistos diariamente no mesmo lugar. A deputada federal Manuela D’Ávila, a convite do Partido Comunista da China, esteve por 15 dias na China e declarou a revista Voto de agosto último: “Para não falar que não há pobreza, vi três mendigos em Shanghai. Os três estavam com obras de literatura nas mãos”. A deputada precisa andar uma vez no metrô de Pequim, descer em qualquer parada e observar se os mendigos que pedem esmolas lêem Gustave Flaubert ou George Orwell. Os bares agora ocupam a paisagem com danceterias, entre elas a moderna China Doll. Meninas aparentando 15 anos de idade, de pernas finas, saias curtíssimas, perucas e decotes chupam pirulitos, sentadas em bolas gigantes na entrada. Convidam o estrangeiro ao escape da realidade. Não se está na China mais. São dois andares, o primeiro com diversas mesas; o de cima, uma pista de dança com mais luzes do que o usual e uma ilha onde se preparam drinks caros. Um shooter, nome pomposo para designar uma pequena quantidade de bebida, uma espécie de cachaça, custou o equivalente a seis garrafas de cerveja. Danças sensuais A primeira vez que fui ao famoso bairro noturno optei pela danceteria Vics, avaliada como um must nos guias na internet. Na porta do local, uma Ferrari e uma BMW conversível atraíam a atenção. A entrada era 50 yuans (R$ 13). Havia dois ambientes principais, um destinado ao hiphop e outro à música eletrônica. O primeiro estava lotado e parecia ter recebido uma caravana de suecos. Um rapper contratado acompanhava as músicas. Empunhava um microfone e desfilava com os clichês que pedem o estilo: aquele característico caminhar com a perna esquerda pra um lado, a perna direita pro outro, barriga pra frente, inclinação corporal de 115 graus, simulando uma mancada. A patota sueca malandra formava pares com as adolescentes chinesas e subiam no palco, ensaiando danças sensuais. Um amigo iraniano encontrava a liberdade que não tinha no seu país. Vez ou outra aparecia na aula, já que dominava o idioma como poucos e usava isto como ferramenta para o que realmente gostava. Saía quase todos os dias e se apresentava como italiano para atrair as meninas, num profissionalismo invejável. Aos 18 anos se voltasse ao Irã seria obrigado a participar do treinamento militar e seguir a Lei Seca, aplicada no país. No dia-a-dia, nosso batalhão de amigos, todos estrangeiros, se reunia perto da faculdade. Mesas e cadeiras de plástico ao ar livre, chope chinês , espetinhos de ovelha apimentados e o refrão: “zai lai yige” (traz mais um). A “torre de Babel” só se desfazia quando havia comprometimento de se falar apenas uma língua. As rodadas iam e vinham e, no dia se- guinte, ninguém se lembrava quem tinha pago a conta. Do restaurante muçulmano, íamos a um bar instalado numa rua estreita e suja, onde habitavam os moradores antigos. Ao lado do Lele Bar, uma casa de massagem encerrava o expediente de madrugada. É certo que ninguém batia à porta na madrugada para fazer massagem. Mulheres com roupas incomuns, maquiagens exageradas davam boas-vindas lembrando a famosa Ópera de Pequim. No barzinho, os próprios donos serviam os clientes. As bebidas eram caras, mas o local bastante simples. Uma vez por semana todos os drinks custavam 10 yuans. Muitas das melhores lembranças que tenho remetem a esses encontros. Partíamos um a um sem perceber, rumando ao fim da noite que celebrava as boas amizades e momentos. Personagens curiosos circulavam por lá, inclusive um chinês, sempre de boné, que o francês Eric temia, devido a uma aventura de acompanhá-lo em trajeto etílico. O parisiense saiu cambaleando e toda vez que o chinês aparecia no bar, ele solicitava nossa proteção. Mais chineses chegam ao campus da PUCRS Rafael Codonho Tem tourada no Brasil”, perguntou a estudante chinesa Cristina (Zha Yingying), ao responder sobre o que conhecia do país. Estava em sala de aula esperando a professora chegar, acompanhada da colega Nelis (Shan Yijian), ambas comendo cachorro-quente que disseram ser “muito gostoso”. O que mais sabiam sobre o país em que haviam chegado há sete dias? “Futebol, samba, praias, mulheres bonitas, biquíni, produtos de couro e churrasco”, intercalava Nelis nas línguas de Eça de Queiroz e Lao She. O grupo de 18 chineses chegou a Porto Alegre no dia 29 de agosto. Conforme acordo firmado em 2005 e renovado em 2007, entre a PUCRS e a Universidade de Comunicação da China (CUC), a segunda turma de estudantes ficará 10 meses no Brasil. Neste semestre e no próximo, em 2008, eles estudarão nas Faculdades de Letras e de Comunicação Social. De acordo com o programa de estudos, está inclusa também uma aula de língua estrangeira. Em agosto de 2005, a primeira turma proveniente do país asiático estreou o intercâmbio. Por dois semestres freqüentaram aulas de português e disciplinas do Jornalismo. A segunda turma estudou Língua Portuguesa por dois anos na sede da CUC em Nanquim, no leste chinês, diferente da primeira, que permaneceu os dois primeiros anos em Macau, o terceiro em Porto Alegre e o último em Pequim, onde se graduaram. Alguns trabalham na China, outros em Angola. Ambas as turmas aprenderam o Português de Portugal, acrescentando essa dificuldade na chegada ao Brasil. “Nós não fomos a Portugal, porque o visto é muito difícil de tirar”, revelou Cristina. Ela avalia que a maior dificuldade do Português são os verbos e completa que no mandarim não há conjugação. Nestes primeiros dias em Porto Alegre, muitos sorrisos e poucas queixas. Entre estas, Cristina demonstrava insatisfação de ter apenas colegas chineses. A saudade de casa ainda é pequena, mas seus pais se preocupam com eles. Na cerimônia de recepção à nova turma, ocorrida em 31 de agosto, despertou atenção dos presentes os nomes. Cada estudante foi ao microfone se apresentar, dizendo o nome adotado. Entre nomes incomuns como Leven e Egéria, um dos três rapazes da turma se destacou: Lisinho (Li Nan). Li questionava onde ficavam as quadras de basquete da Universidade. Revelou que a intenção da escolha era se aproximar do nome chinês na sonoridade. “Se eu voltasse à China amanhã, a primeira coisa que eu faria seria comer huoguo (fondue chinês)”, brincou Lisinho. 12 ponto final Porto Alegre, julho-agosto de 2007 Lucas Constanzi/ Hiper Espetáculo no Centro de Eventos da PUCRS durante o festival de dança da cidade Os calos da dança Na comemoração dos dez anos do Porto Alegre em Dança, bailarinos questionam a promoção Gabriela Oliveira/Hiper por Camila Rinaldi Nos bastidores de um grande evento como o Porto Alegre em Dança, realizado de 31 de agosto a 9 de setembro, era evidente a ansiedade e a excitação no rosto dos bailarinos. Pessoas que ensaiaram o ano inteiro tiveram a oportunidade de mostrar em até seis minutos o motivo dos pés calejados. Mas nem tudo era o que parecia. A alegria com que deixavam o palco após a apresentação escondia uma preocupação: sobrará gás para mais um ano de dedicação sem reconhecimento? Existe muita reclamação por parte dos dançarinos gaúchos em relação à profissionalização desta arte. O Estado não possui uma companhia que absorva a demanda, pois não há uma sede que ofereça um salário aos seus bailarinos. Pelo contrário, quem mantém as escolas e academias são os próprios dançarinos. O POA em Dança é dado como o maior evento do gênero no Estado e alvo de criticas por professores, coreógrafos e diretores de centros e escolas. Para Paulo Guimarães, ex-bailarino da companhia Quasar e atual diretor do Centro de Pesquisa do Movimento (Meme), o festival é questionável: “Não sou contra o Porto Alegre em Dança, sou contra a estrutura dele, a forma como ele é abordado. Para mim é um caça níquel, pois não está promovendo a dança enquanto arte e educação”. O desabafo do bailarino vem em forma de repudio à maneira como é realizado o evento. Escolas e alunos hipertexto Ficam os troféus, faltam verbas Coreógrafos criticam que o uso do dinheiro dos eventos não é investido para a desenvolver da dança no Estado. Os troféus que uma academia leva para a estante ficam como mérito, mas não agregam valor ao esporte, já que o festival tem pouca projeção nacional. Para o diretor do Centro Meme, o valor das inscrições deve ser utilizado para a capacitação dos bailarinos e a criação de um público para a arte: “Os organizadores poderiam oferecer bolsas, fazer as apresentações a preços bem populares ou então gratuitos”, explica Paulo Guimarães. Nas bilheterias, os ingressos eram vendidos entre R$ 12 e R$ 15. Apesar de informados sobre as críticas, os promotores preferiram não se manifestar. Do jeito que as coisas estão o que vem acontecendo é uma deserção dos bailarinos gaúchos para outros locais do país e mesmo para o exterior. Um recente caso é o de Norton Ramos Fantinel, aluno da Escola de Ballet Vera Bublitz, que recebeu uma bolsa de aprofundamento e hoje dança na companhia americana Washington Ballet. A explicação para este fato vem da própria professora da Escola, Rosane Novoa Barbosa: “Um bailarino em Porto Alegre não tem como sobreviver da dança, eu já fui bailarina. É complicado porque não tem uma companhia estável que dê o valor ao bailarino, onde o bailarino possa se profissionalizar.” No Brasil, atualmente existem grandes companhias de dança que oferecem emprego a bailarinos pagando além de um cachê por apresentação, um salário condizente com o teto da categoria. Entre elas se destacam as companhias Quasar (GO), o Grupo Corpo (MG), Balé da Cidade de São Paulo (SP), Balé Stagium (SP), Cisne Negro Cia de Dança (SP), Deborah Colker (RJ) e o Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ). Este último é a única instituição cultural brasileira a manter simultaneamente um coro, uma orquestra sinfônica e uma companhia de balé. Tantos estados e cadê o Rio Grande do Sul? Porto Alegre tem bons bailarinos e capacidade de manter a sua própria companhia de dança. Enquanto os talentos gaúchos sobem em direção ao eixo Rio/São Paulo a dança por aqui desce. Os dados sobre as últimas participações no Em Dança comprovam. Na 9º edição, participaram 177 escolas, já neste ano, 120 grupos nacionais e três internacionais. Espaços para dançar, a província tem; bailarinos qualificados, também há; o que falta então para que os artistas divulguem seu trabalho durante o ano todo? Letícia já prevê o futuro: “O que se fala muito é criar uma companhia de dança aqui do Rio Grande do Sul, seria um começo”. Sem saber ela segue as palavras de um excelente bailarino: “Não tento dançar melhor do que ninguém. Tento apenas dançar melhor do que eu mesmo”, Mikhail Baryshnikov. Gabriela Oliveira/Hiper É preciso calejar os pés para chegar a um lugar de destaque devem pagar para participar. Em 2007, a aquisição de verba para a competição não contou com os recursos da LIC, Lei de Incentivo a Cultura, assim, o espetáculo foi realizado com a ajuda de patrocinadores, apoiadores e o dinheiro arrecadado com as inscrições. Entretanto, a premiação usufruiu da LIC em edições anteriores e carrega o peso de conseguir esse patrocínio e ainda cobrar valores que não condiziam com o formato do projeto. A estrutura do evento é a mesma com ou sem o auxilio das leis captadas. A bailarina Letícia Krenzinger, que dança há 20 anos, não vê uma evolução da dança na Capital, pelo contrário, além de pagar para participar dos festivais, ela acredita haver uma queda na qualidade das apresentações. “O festival está crescendo, mas a qualidade técnica dos bailarinos não acompanha”. Bem como nos esportes, o bailarino é um atleta. Os ensaios e a alimentação devem ser controlados e acompanhados por quem entenda do assunto. Mas para que isso ocorra se faz necessário investimento, não só físico como financeiro. Um bailarino clássico, por exemplo, tem gastos com ensaios e trajes – uma sapatilha de ponta chega a mais de 40 reais. Sem a ajuda de custo devida, eles tem que fazer escolhas, como trabalhar ou estudar em outras áreas, e a dedicação à dança diminui ou pára por completo. Mas há quem defenda o pagamento das inscrições. O professor de dança do Centro de Arte Aldo Gonçalves classifica o evento como competitivo, igual a outros pelo mundo: “As pessoas pagam inscrição e se preparam para uma competição”. Além de troféus e medalhas, recentemente existem os prêmios em dinheiro, que são dados aos trabalhos de maior destaque em 5 categorias: melhor bailarino e bailarina, melhor duo, conjunto e grupo. Norton se apresentou em Porto Alegre e segue para os Estados Unidos