1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE” LÚDICO: UM AGENTE TRANSFORMADOR DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL MARCELE COSTA FIGUEIREDO ORIENTADORA: PROFª. FABIANE MUNIZ RIO DE JANEIRO JANEIRO/2007 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE” LÚDICO: UM AGENTE TRANSFORMADOR DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL MARCELE COSTA FIGUEIREDO Apresentação de monografia ao Conjunto Universitário Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicopedagogia. RIO DE JANEIRO JANEIRO/2007 3 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado condições de alcançar essa vitória. A professora Fabiane Muniz pela orientação e pelas palavras que me conduziram para a concretização desse trabalho. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha família e aos meus amigos que muito me ajudaram nessa conquista. 5 EPÍGRAFE A escola "Escola é... o lugar onde se faz amigos Não se trata só de prédios, salas, quadros Programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente... Gente que trabalha que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente, O aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor Na medida em que cada um se comporte como Colega, amigo, irmão. Nada de ilha cercada de gente por todos os lados. Nada de conviver com pessoas e depois descobrir Que não tem amizade a ninguém. Nada de ser como o tijolo que forma a parede. Indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar É também criar laços de amizade, É criar ambiente de camaradagem, É conviver, é se amarrar nela! Ora, é lógico... Numa escola assim vai ser fácil Estudar, trabalhar, crescer Fazer amigos educar-se, ser feliz." (Paulo Freire) "Não se pode ensinar alguma coisa a alguém, pode-se, apenas auxiliar por si mesmo." (Galileu Galilei) 6 RESUMO O trabalho com a Educação Infantil requer do professor um desafio: a busca da qualidade dos profissionais envolvidos com a criança e a constatação do que o brinquedo e o brincar são ferramentas de grandes utilidades no desenvolvimento da criança. É importante ressaltar os jogos pedagógicos que contribuem com os professores no processo ensinoaprendizagem, pois é através deles que unimos o ato de ensinar ao prazer do brincar. A ludicidade tem conquistado um espaço no panorama da educação infantil. O brinquedo é a essência da infância e seu uso permite um trabalho pedagógico, que possibilita a produção do conhecimento e também a estimulação da afetividade na criança. A brincadeira é, assim, um espaço de aprendizagem, onde a criança ultrapassa o comportamento cotidiano habitual de sua idade, onde ela age como se fosse maior do que é representando simbolicamente o que mais tarde realizará. Brincando a criança desenvolve a percepção, a memória, a inteligência, a experimentação e a convivência com o outro. Portanto o brinquedo contribui para a formação intelectual sem arrastar a criança para um intelectualismo rígido e doloroso. Brincar é coisa séria. Após essa explanação, verificamos que brincar, com nossas crianças é muito mais sério que imaginávamos. Precisamos garantir as nossas crianças o direito de brincar, de vivenciar o seu próprio desenvolvimento. Neste trabalho podemos concluir que devemos aproveitar a grande oportunidade que temos de observar as crianças, quando estão brincando, pois certamente estão se desenvolvendo, aprendendo a lidar com suas próprias emoções e com o mundo em que vivemos. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I O conceito da aprendizagem 11 CAPÍTULO II O lúdico e a Educação 16 CAPÍTULO III Ensinar e aprender brincando 23 CAPÍTULO IV Jogos e brincadeiras na Educação Infantil 30 CONCLUSÃO 38 BIBLIOGRAFIA 40 ÍNDICE 41 ANEXOS 42 FOLHA DE AVALIAÇÃO 43 8 INTRODUÇÃO O objetivo que orienta este estudo é apresentar a importância do brincar na Educação Infantil. O interesse pela pesquisa originou-se do fato de observar a dificuldade que nós educadores, possuímos em reconhecer que o brincar pode, e é um grande aliado no processo ensino-aprendizagem. É no momento da brincadeira que as crianças ficam mais espontâneas para demonstrar suas emoções. Para aproveitar esta espontaneidade, o educador precisa valorizar o brincar “lúdico” na Educação Infantil, pois nesta fase as crianças se sentem mais motivadas em aprender, quando estão brincando. O trabalho com a Educação Infantil requer do professor um desafio: a busca da qualidade dos profissionais envolvidos com a criança e a constatação do que o brinquedo e o brincar são ferramentas de grandes utilidades no desenvolvimento da criança. Percebendo que os adultos ao falarem em brincar e brinquedos, possuem uma visão de que a brincadeira o lúdico é algo “fora” da escola, e é por esse motivo que resolvi investir na pesquisa com o tema: O lúdico e a aprendizagem. Buscando então compreender a brincadeira como uma atividade cultural que desempenha um papel importante no desenvolvimento e na aprendizagem, a perspectiva histórico-cultural foi que nos forneceu os subsídios necessários à devida compreensão, pois é esta que, considerando o meio e a cultura e as interações sociais, vê a criança como sujeito social e histórico que constrói e se constrói na cultura. 9 Neste sentido, a brincadeira assume o papel de promover o desenvolvimento e o aprendizado infantil, uma vez que quando a criança brinca é levada a assumir um comportamento mais avançado do que o assumido nas atividades da vida real; e também devido à necessidade de representações de uma dada realidade que não pode se fazer presente, a brincadeira irá colaborar para que a criança aprenda a separar objeto e significado, o que a ajudará em situações que envolvam somente o concreto. O estudo terá como base a aprendizagem, onde estaremos reconhecendo de que forma a aprendizagem ocorre e como ela é assimilada pelos educandos neste período da Educação Infantil. Logo após entraremos no “lúdico”, universo esse ainda desconhecido no ambiente escolar. A proposta é apresentar aos educadores que é possível ensinar e aprender brincando. Já o terceiro momento apresentará a valorização do brincar, relacionando-o com a aprendizagem. Reconhecendo a postura do professor da Educação Infantil, diante do ato de brincar. Apontando novos caminhos para se obter um olhar diferenciado sobre os brinquedos e brincadeiras, enfocando o estímulo que isso representa na aprendizagem e no processo de socialização da criança e suas implicações para o desenvolvimento infantil. O último capítulo será dedicado para a apresentação de diversos exemplos de jogos e brincadeiras que podem e devem ser utilizados e explorados pelos educadores da Educação Infantil, no desenvolvimento diário de suas aulas. Concluindo, a pesquisa visa reconhecer que a brincadeira é uma atividade essencial na Educação Infantil, onde a criança pode expressar suas 10 idéias, sentimentos e conflitos, mostrando ao educador e aos seus colegas como é o seu mundo, o seu dia-a-dia. A brincadeira é para a criança, a mais valiosa oportunidade de aprender a viver com pessoas muitos diferentes entre si, de compartilhar idéias, regras, objetos e brinquedos superando progressivamente o seu egocentrismo característico; de solucionar os conflitos que surgem, tornando-a autônoma; de experimentar papéis, desenvolvendo as bases se suas personalidades. A toda criança deve ser assegurada o direito de brincar, pois que tal ato constitui-se em requisitos para bem crescer e desenvolver-se como pessoa. A escola, espaço privilegiado de vida e aprendizagem deve criar condições para o aluno realizar a atividade lúdica livremente e, ao mesmo tempo, poder empregá-la como estratégia de ensino-aprendizagem. 11 CAPÍTULO I O CONCEITO DA APRENDIZAGEM Aprendizagem pode ser conceituada como uma mudança relativamente permanente no comportamento e se manifesta como uma forma de adaptação ao ambiente. No caso das crianças particularmente dos bebês, um importante elemento condicionador da aprendizagem é a sua maturação. Apenas para citar exemplo, não existem estímulos que façam uma criança falar até que suas cordas vocais estejam prontas e seu cérebro tenha amadurecido o suficiente para atribuir significados aos sons. Para Celso Antunes (2003), “a maturação, portanto não depende da aprendizagem, mas representa condição necessária para que a aprendizagem aconteça”. De acordo com Elisabete da Assunção (2003) “a aprendizagem e o resultado é o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo já maduro, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função de experiência”. É comum as pessoas restringirem o conceito de aprendizagem somente aos fenômenos que ocorrem na escola, como resultado ao ensino. Entretanto, o termo tem um sentido mais amplo: abrange os hábitos que formamos os aspectos de nossa vida afetiva de valores culturais. Enfim, a aprendizagem se refere os aspectos funcionais e resulta de toda estimulação ambiental recebida pelo indivíduo no decorrer da vida. “A aprendizagem e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia da vida da criança”. (Vygotsky, 1991, p. 95) O processo de aprendizagem sofre interferências de vários fatores: intelectual, psicomotor, físico, social, mas é do fator emocional que depende grande parte da Educação Infantil. 12 Para que a aprendizagem provoque uma efetiva mudança de comportamento e amplie cada vez mais o potencial do educando, é necessário que ele perceba a relação entre o que está aprendendo e sua vida. O educando precisa ser capaz de reconhecer as situações em que aplicará o novo conhecimento ou habilidade. Tanto quanto possível, aquilo que é aprendido precisa ser significativo para ele. Para Piaget (1994), “é por meio da experiência que se constrói o conhecimento”. Esta teoria ofereceu aos educadores importantes princípios para orientar sua prática. Piaget mostra que o sujeito humano estabelece desde o nascimento uma relação de interação com meio. É na relação da criança com o mundo físico e social que promove o seu desenvolvimento cognitivo. Kishimoto (1996), também afirma quando fala que o desenvolvimento, intelectual não consiste em acumular informações, mas sim, em reestruturar as informações anteriores, quando estas entram num novo sistema de relações. O conhecimento é adquirido por um processo de natureza assimiladora e não simplesmente registradora. 1.1. Aprendizagem por meio da ludicidade Segundo Célestin Freinet, citado em (Sampaio, 1989), A aprendizagem se dá pelo tateio experimental; a criança não aprende sozinha, ela precisa da intervenção do professor (mediador) para aproximá-la dos conhecimentos da comunidade, pois ela poderá transformá-la e assim modificar a sociedade que vive... Ao final da cada encontro, socializar o que foi aprendido. (Sampaio, 1989) O professor é o orientador pedagógico, são o provocador das intenções do sujeito com o mundo físico e social, oportunizando-lhe vivências e situações de troca, propiciando, assim maior autonomia e cooperação, aspectos básicos para a formação de um verdadeiro cidadão. 13 Uma aprendizagem mecânica, que não vai além a simples retenção, não tem significado para o aluno. Para ser significativa é necessário que a aprendizagem envolva raciocínio, análise, imaginação e o relacionamento entre idéias, coisas e acontecimentos. Educadores devem adotar em sua prática pedagógica o ato de brincar como uma ferramenta fundamental no processo ensino-aprendizagem, proporcionando aos alunos uma aula dinâmica e acima de tudo interessante. De acordo com Piaget (1994), A brincadeira é assim um espaço de aprendizagem, onde a criança ultrapassa comportamento cotidiano de aprendizagem, onde a criança ultrapassa comportamento cotidiano habitual da sua idade, onde ela age como se fosse maior do que é, representando simbolicamente o que mais tarde realizará, aprende a se subordinar as regras das situações que constrói, renunciando à ação impulsiva. (Piaget, 1994) Para Piaget (1994), Os jogos não são apenas de forma de entretenimento para eliminar energia das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual, os jogos tornam-se mais significativos à medida que a criança se desenvolve, pois a partir da livre manipulação de materiais variados, ela passa a reconstruir objetos, reinventar as coisas, obtendo assim adaptação, que deve ser realizada na infância que, é uma síntese progressiva da assimilação com a acomodação. (Piaget, 1994) É importante ressaltar os jogos pedagógicos que contribuem com os professores no processo ensino-aprendizagem, pois é através deles que unimos o ato de ensinar ao prazer do brincar. Através do jogo a criança vai além de suas expectativas, ela ultrapassa o abstrato e conquista a visão do real. Uma aula auxiliada ao jogo vai ter um valor duplicado para o aluno, pois despertará uma vontade maior de aprender. No momento em que a criança está envolvida com o jogo, o professor deve estar direcionado a entender quais são os conteúdos que ali estão sendo assimilados, enquanto a criança brinca, ela se desprende do 14 compromisso de aprender e isso possibilita à criança uma aprendizagem significativa. 1.2. Família, escola e aprendizagem É a família quem primeiro proporciona experiências educacionais à criança, no sentido de orientá-la e dirigi-la. Tais experiências resumem-se num treino que, algumas vezes é realizado no nível consciente, mas que, na maior parte das vezes acontece sem que os pais tenham consciência de que estão tentando influir sobre o comportamento dos filhos. Como afirma Lidgren (1977, p 74) “este tipo de aprendizagem e ensino em diferentes níveis de consciência dá se durante todo o tempo, dentro ou fora da escola”. Os educadores e pais estão sempre ensinando simultaneamente em diferentes níveis de consciência, e as crianças estão sempre aprendendo em diferentes níveis. As coisas ensinadas ou aprendidas conscientemente podem ou não ser importantes e podem ou não fixar-se. Ainda segundo Lidgren (1977) “o que é ensinando e aprendido inconscientemente tem mais probabilidade de permanecer”. No exemplo citado por ele, um educando pode esquecer muitas das noções que aprendeu com alguns educadores, mas lembra o tipo de pessoas que eram e as atitudes que tinham em relação a ele. Na família ocorre o mesmo, a criança retém definitivamente os sentimentos que seus pais têm em relação a ela é a vida em geral. Esses sentimentos serão a base para o conceito que ela formará de si própria “auto conceito” e do mundo. Uma criança que é desprezada aprende e desprezar-se uma criança que é amada e aceita, tenderá a desenvolver atitudes positivas para a formação do seu auto-conceito. 15 Na escola, o educador deve estar sempre atento às etapas do desenvolvimento do educando, colocando-se na posição de facilitador da aprendizagem e calculando seu trabalho no respeito mútuo, na confiança e no afeto. É de suma importância, portanto, que nós educadores conheçamos o processo da aprendizagem e estejamos interessados nos educando0s como, seres humanos, em desenvolvimento. Quando o educador respeita a dignidade do educando e trata-o com compreensão e ajuda construtiva, ele desenvolve na criança a capacidade de procurar dentro de si mesma as respostas para os seus problemas, tornando-a responsável e, consequentemente, agente do seu próprio processo de aprendizagem. Como afirma Celso Antunes (2003) “os estímulos funcionam como alimentos: pais e professores devem administrá-los com serenidade e quando houver vontade da criança em recebê-los”. 16 CAPÍTULO II O LÚDICO E A EDUCAÇÃO A ludicidade tem conquistado um espaço no panorama da educação infantil. O brinquedo é a essência da infância e seu uso permite um trabalho pedagógico, que possibilita a produção do conhecimento e também a estimulação da afetividade na criança. A palavra lúdico vem do latim ludus e significa brincar. Neste brincar estão incluídos os jogos, brinquedos e divertimentos e é relativa também à conduta daquele que joga que brinca e que se diverte. Por sua vez, a função educativa do jogo oportuniza a aprendizagem do indivíduo, seu saber, seu conhecimento e sua compreensão de mundo. Como destaca Wajskop (1997) A brincadeira é uma atividade dominante na infância, e permite que a criança experimente diversos papéis, desenvolva sua imaginação, levante hipóteses na tentativa de compreender os problemas de sua realidade, elabore regras de organização e convivência com os seus pares. (Wajskop, 1997) Enfim, ao, brincar a criança vai construindo a consciência da realidade e vislumbrando uma possibilidade de modificá-la. Em razão da importância da brincadeira na infância, o educador deve garantir dentro de seu planejamento diário um espaço para a brincadeira, principalmente a brincadeira livre, ou seja, aquela em que a criança escolhe o tema, os papéis, os objetos e os seus parceiros. A brincadeira dirigida também é importante, mas não se pode pensar em brincadeira apenas como recurso didático, como ocorre em muitas instituições, correndo-se o risco de perder toda a sua riqueza e importância na formação da criança. É importante perceber o significado do brincar para a criança. Na sociedade em que vivemos os brinquedos estão cada vez mais sofisticado e 17 visam muito mais a satisfação do mundo adulto do que das necessidades infantis. São necessários que se conheçam as necessidades do desenvolvimento infantil para proporcionar as oportunidades de que tanto as crianças precisam. O brinquedo é parte integrante da vida da criança. Ao brincar organiza seu pensamento, faz uso da linguagem e da sua criatividade. Ela pode vir a ser professor, simplesmente ao enfileirar as cadeiras de sua sala de visitas; pode transformar-se em padeiro e imaginar-se fazendo e vendendo pão; a partir do ato de misturar areia com água, de transformar papéis picados em cédulas que serão pagamento do pão e assim por diante. Mais importante do que o brinquedo propriamente dito, é o que ele revela e como é explorado pela criança. Para Vygotsky (1988), Pela análise sócio-histórica, a brincadeira é entendida como atividade social da criança, cuja natureza e origem específica são elementos fundamentais para a construção de sua personalidade e compreensão da realidade na qual se insere. (Vygotsky, 1988) Em toda brincadeira infantil estão presentes três características: A imaginação, a imitação e a regra. Cada uma delas pode aparecer de forma mais evidente em outro tipo de brincadeira, tendo em vista a idade e a função específica que desempenham, junto às crianças. A brincadeira é importante para que as crianças se descubram capazes, importantes, autoconfiantes e seguras. A partir daí, ela se sentirá autônoma e começará a crer que seu saber e seu fazer são verdadeiros e ela crescerá na consciência de si mesma e de suas possibilidades. A brincadeira muitas vezes é vista como se existisse apenas “fora” da escola. Porém inspirada pelas crianças que amam brincar, e no que brincam, vivem e constroem suas relações. 18 Viver o lúdico é viver o momento, o presente o agora. A atividade lúdica tem um poder muito grande de fascinar aqueles que com ela se envolvem, sendo desligada de “interesses” e praticada dentro dos limites espaciais e temporais próprios; é definida basicamente pela alegria, pelo prazer de sua vivência, e provoca evasão da vida real. De maneira nenhuma seria uma forma de contribuir para a alunação, é uma alternativa para a denúncia da realidade tal que se apresenta. É preciso levar em conta que, só aprendemos aquelas coisas que nos dão prazer, e que a partir da sua vivência que surgem à disciplina e vontade de aprender. O lúdico é imprescindível para o pensamento lógico, autonomia moral e linguagem socializada. Despertar, criar, resgatar, abrir novos caminhos através da brincadeira é uma postura inovadora, que não permite que os profissionais se acomodem, rompendo com paradigmas ultrapassados, valorizando o brincar, o prazer fazendo da quebra de regras em novo jogo, permitindo o raciocínio e a participação do aluno, apresentando jogos recreativos e brincadeiras criativas adaptando a todas as idades, a partir dos diferentes graus de dificuldades. Nesse sentido, a escola deve estar preparada para a elaboração de um currículo em que a proposta esteja voltada a promover atividades que visam o desenvolvimento cognitivo, físico, psicológico e emocional da criança. Brincando, a criança cria, recria, interpreta. E, dentro desse processo, ela estimula suas estruturas mentais. ... A brincadeira é, assim, um espaço de aprendizagem, onde a criança ultrapassa o comportamento cotidiano habitual de sua idade, onde ela age, como se fosse maior do que é representando simbolicamente o que mais tarde realizará. Um espaço onde, embora aparente fizer o que mais gosta, aprende a se reconstruir, renunciando a ação impulsiva. A sujeição a essas regras é uma das fontes e prazer do brinquedo, é ela que fornece a estrutura para aquisições que, no futuro serão base das realizações e da moralidade da criança. (Vygotsky, 1991, p.105) 19 2.1. Significado do jogo simbólico Diferentes teóricos analisaram o papel do jogo simbólico, dentre eles Piaget e Vygotsky. Vygotsky considera que brincando a criança é capaz de satisfazer as suas necessidades e estruturar-se à medida que ocorrem transformações em sua consciência. Através da imaginação a criança se liberta de sentimentos que a oprimem, de limites convenções e exigências impostas pelo mundo que a rodeia. Não só a criança lida diretamente com os objetos e situações adquirem significados e sentidos próprios, constituindo-se assim o jogosimbólico, fundamental para a formação do EU psicológico e social do sujeito. No brinquedo o pensamento está separado dos objetos e a ação surge das idéias e não das coisas: um pedaço da madeira torna-se um boneco e um cabo de vassoura torna-se um cavalo. A ação regida por regras começa a ser determinadas pelas idéias e não pelos objetos. Isso representa uma tamanha inversão da relação da criança com a situação concreta, real e imediata, que é difícil subestimar seu pleno significado. (Vygotsky, 1988, p.111) Piaget, (1975) também atribui grande importância ao jogo simbólico. Segundo este autor, a partir mais ou menos de um ano e meio a dois anos, a criança começa a realizar representações, isto é a criança reelabora através da rememoração de fatos ocorridos, situações que vivenciou. Se algo, por exemplo, “marcou” a criança, ela reelaborará esta situação jogando simbolicamente, expressando, assim suas emoções e sentimentos. A fantasia é fundamental na vida das crianças, especialmente quando estão no período da Educação Infantil, porque sua relação com a realidade ainda está sendo construída, através do jogo do faz-de-conta a criança tem acesso ao símbolo, ou seja, às representações mentais de suas ações. Através da inteligência, a criança encontra recursos para adaptar-se ao mundo fisicamente e psicologicamente. Para isto, a criança necessita 20 superar conflitos, problemas, buscando meios para resolvê-los. Brincando, toda essa atividade tende a realizar-se com prazer, possibilitando a constituição de conhecimentos. 2.2. O papel do brinquedo na escola Brincar é uma experiência fundamental para qualquer idade, especialmente para as crianças com idades entre 3 e 6 anos, que brincam para viver, interagem com o real, descobrem o mundo que as cerca, se organizam, se socializam. Desta forma, o brincar e o brinquedo já não são mais, na escola, aquelas atividades utilizadas pelo professor para recrear as crianças, como uma atividade em si mesma. Quanto mais rica for a experiência pela criança, maior será o material disponível e acessível a sua imaginação, daí a necessidade do professor em ampliar, cada vez mais, as vivências da criança com o ambiente físico, com brinquedos, brincadeiras e com outras crianças. A ludicidade deve permear o espaço escolar a fim de transformá-lo num espaço de descobertas de imaginação, de criatividade, enfim, num lugar onde as crianças sintam prazer pelo ato de conhecer. O aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento, que de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. (Vygotsky, 1987, p. 101) 2.3. A criança e a imaginação A ação na fantasia da criança, conduz seu comportamento à medida que percebe objetos e/ou situações e o significado desses objetos e situações. É interessante a contradição que surge entre a situação criada pela imaginação da criança, no momento em que brinca, e as situações/objetos 21 reais, presentes no seu dia-a-dia. A criança atribui outros significados aos objetos com os quais brinca, com o propósito de favorecer suas necessidades e desejos, de forma imediata. Assim, vai revivendo suas experiências, contribuindo e relembrando conhecimentos a cerca do mundo e de outro com quem se relaciona. O brincar e o brinquedo criam na criança uma nova forma de desejo. Ensinam-na desejar, relacionando seus desejos a um fictício, ao seu papel no jogo e suas regras. Desta maneira, as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo; aquisições que, no futuro, tornar-se ao seu nível básico de ação e moralidade. (Vygotsky, 1989, p. 114) 2.4. O papel da ludicidade no desenvolvimento das crianças A capacidade de brincar possibilita às crianças um espaço para resolução dos problemas que a rodeiam. O ato de brincar ocupa relevante papel na constituição do pensamento infantil. A criança, através da brincadeira, reproduz o discurso externo e o internaliza, construindo seu próprio pensamento. A linguagem tem importante papel no desenvolvimento cognitivo da criança na medida em que sistematiza suas experiências e ainda colabora na organização dos processos em andamento. A ludicidade e a aprendizagem não podem ser consideradas como ações com objetivos distintos. O jogo e a brincadeira são por si só uma situação de aprendizagem. As regras e a imaginação favorecem a criança comportamento além dos habituais. É inegável que o jogo e a brincadeira levam a criança a agir como se fosse maior que a realidade, e isso contribuem especialmente para seu desenvolvimento. E seus jogos as reproduzem muitas situações vividas em suas cotidianas e essas representações do cotidiano se dão através da combinação entre experiências passadas e “novos” possibilidades de 22 interpretação e representação do real, de acordo com suas afeições, necessidades desejos e paixões. Brincar é uma forma de atividade social infantil, cujo aspecto imaginativo e diverso do significado cotidiano da vida, fornece oportunidade educativa para as crianças. “O brincar tem um lugar e um tempo para dominar o que está fora, é preciso fazer coisas, não só pensar ou desejar, e fazer coisas que levam tempo”. “Brincar é fazer”. (Winnicott,1975, p. 63) À medida que a criança utiliza-se da brincadeira, do lúdico, ela interage com o outro com o objeto e consigo mesma e com o meio desenvolvendo a linguagem, função esta que organiza todos os processos mentais da criança, dando forma ao pensamento. 23 CAPÍTULO III ENSINAR E APRENDER BRINCANDO De acordo com Kramer (1992), construir uma proposta pedagógica para a Educação Infantil implica em optar por uma organização que garanta o desenvolvimento integral da criança, levando em conta que ela é um ser social e histórico, marcado por sua cultura, que possibilita que progressivamente, ela possa ampliar e adquirir conhecimentos que auxilia de maneira positiva a formação de sua identidade e autonomia, numa atitude de cooperação e respeito a si própria e ao outro; que propicie o desenvolvimento de sua criatividade. Enfim, uma proposta que contribua para a formação da cidadania. A Educação Infantil como função pedagógica favorece a construção de conhecimentos sobre o mundo físico e social por parte da criança e que confere ao professor o dever de ampliar o conhecimento da criança, possibilitando a construção do novo. A função pedagógica traz claro em si a concepção de criança inserida no meio social desde o seu nascimento e, portanto, considera-a um ser social que se modifica e é modificado pelo meio na medida em que interage com outros sujeitos que compõem a sua sociedade. È por essa Educação Infantil de qualidade que lutamos e que acreditamos ser possível construir. A Educação Infantil assume um caráter totalmente diferenciado das demais funções: será entendida como uma atividade social da criança. Podemos chegar a essa conclusão por aceitarmos que a criança, inserida num contexto social, é um ser histórico que desenvolve por meio das interações que estabelecem seu meio. Dessa forma, a brincadeira da criança torna-se um meio para ela recriar as experiências sócio-culturais dos adultos. 24 É interessante destacar que para o teórico Vygotsky (1984), o brincar infantil, propiciando situações de interação entre criança - criança e criança -brinquedo, cria na mesma um espaço de elaboração de significados e conceitos, mediados pela linguagem, sobre o mundo em que vive. Notável também em seus estudos e é a grande ênfase dada à questão das interações entre os sujeitos. Em todos os momentos da vida, seja nas relações entre desenvolvimento e aprendizagem, pensamento e linguagem, interação é ponto crucial para o desenvolvimento global do indivíduo enquanto sujeito sóciohistórico. Nesse sentido, brincadeira se torna grande fonte de aprendizado, na qual as crianças interagindo entre si ou com os adultos experimentam novas situações. É interessante ressaltar que para os teóricos Piaget, Vygotsky e Gardner o importante é valorizar, priorizar a interação. Sendo, portanto, brincadeira propiciadora de espaços tão riquíssimos de experimentação e construção de novos conhecimentos principalmente brincadeiras de faz-deconta por constituir-se em "possibilidades" para a criança para a criança viver situações cotidianas, se torna local privilegiado para as interpretações e compreensões desta a respeito do mundo que a cerca. Vygotsky (1989, p. 109), ainda afirma que é enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma criança. É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não por incentivos fornecidos por objetos externos. Sendo encarada neste sentido, a brincadeira assume grande valor educativo, pois dá margem à construção do conhecimento por parte da criança, à medida que se desenvolve e conhece o mundo no qual está inserida. Nessa perspectiva, a brincadeira promove um espaço em que a criança vai reconhecendo a sua cultura, bem como estabelecendo um intercâmbio cultural com as demais crianças que constituem o seu grupo escolar. Tal situação permite a criança uma confrontação constante com a sua realidade e 25 consequentemente, construções de hipóteses, fato que contribui sobremaneira para o seu desenvolvimento psicossocial. O brinquedo é parte integrante da vida da criança. Ao brincar organiza seu pensamento, faz uso da linguagem e da sua criatividade. Ela pode vir a ser professor, simplesmente ao enfileirar as cadeiras de sua sala de visitas. Para Vygotsky (1989), pela análise sócio-histórica, a brincadeira é entendida como atividade social da criança cuja natureza e origem específica são elementos fundamentais para a construção de sua personalidade e compreensão da realidade na qual se insere. Em toda brincadeira infantil estão presentes três características: a imaginação, a imitação e a regra. Cada uma delas pode aparecer de forma mais evidente em um outro tipo de brincadeira, tendo em vista, a idade e a função específica que desempenham, junto às crianças. A brincadeira é importante para as crianças se descubram capazes, importantes, autoconfiantes e seguras. A partir daí, ela se sentira autônoma e começará a crer que seu saber e seu fazer são verdadeiro e ela crescerá na consciência de si mesma e de suas possibilidades. É preciso levar em conta que, só aprendemos aquelas coisas que nos dão prazer, e que a partir de sua vivência que surgem à disciplina e vontade de aprender. O lúdico é imprescindível para o pensamento lógico, autonomia moral e linguagem socializada. Despertar, criar, resgatar, abrir novos caminhos através da brincadeira é uma postura inovadora que não permite que os profissionais se acomodem, rompendo com paradigmas ultrapassados, valorizando o brincar, o prazer fazendo da quebra de regras em novo jogo, permitindo o raciocínio e a participação do aluno, apresentando jogos recreativos e brincadeiras criativas adaptando a todas as idades, a partir dos diferentes graus de dificuldades. 26 Kishimoto (1997) diz que a brincadeira é a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica, é o lúdico em ação. Já o brinquedo supõe uma relação intima com a criança e uma indeterminação quanto ao uso, portanto, sem regras fixas, sendo suporte da brincadeira, pode ser entendido segundo material, cultural ou técnica. Afonso Júnior (2004) fala da importância dos jogos na criança tem que ser enfatizada, ressaltando as palavras citadas pode-se perceber o quanto o jogo "lúdico" pode auxiliar no processo de ensino-aprendizagem. Através do jogo o professor possibi8litará o aluno expor suas limitações e emoções. É necessário compreender que a brincadeira é uma forma criativa de promover atividades visando o desenvolvimento cognitivo, físico, psicológico e emocional da criança. Já se descartou a idéia de que o brincar é um passatempo ou distração sem importância. Brincando, a criança cria, recria, interpreta. E dentro desse processo, ela estimula suas estruturas mentais. 3.1. Brincadeira é coisa séria A brincadeira e o jogo são processos que envolvem o indivíduo e sua cultura adquirindo especialidades de acordo com cada grupo. Elas têm um significado cultural muito marcante, pois é através do brincar que a criança vai reconhecer e se constituir como pertencente ao grupo, ou seja, o jogo e a brincadeira são meios para a construção de sua identidade cultural. Um jogo ou brincadeira da qual participem mais de uma pessoa sempre implica troca, partilha, confrontos e negociações. A afetividade envolvida nesta ação pode adquirir nuances variada, traduzindo-se alternância de momentos harmônicos e desarmônicos. Conforme nos coloca Winnicott (1975, p. 63) "para controlar o que está fora, há que fazer coisas, não simplesmente pensar e desejar, e fazer coisas, tomam tempo. Brincar é fazer." 27 A criança brinca para reconhecer-se a si própria e aos outros em suas relações recíprocas, para aprender e as normas sociais de comportamento, os hábitos determinados pela cultura; para conhecer os objetos em seu contexto, ou seja, o uso cultural dos objetos; para desenvolver a linguagem e a narrativa; para trabalhar com o imaginário; para conhecer os eventos e os fenômenos que ocorrem a sua volta. "Brincar é fonte de lazer, mas é, simultaneamente, fonte de conhecimento; é esta dupla natureza que nos leva a considerar o brincar parte integrante da atividade educativa." (Elvira Cristina) Brincar é, portanto, atividade que tem grande ocorrência na infância, devido à sua funcionalidade no processo de desenvolvimento e aprendizagem do ser humano. Brincar é uma atividade universal, encontrada nos vários grupos humanos, em diferentes períodos históricos e estágios de desenvolvimento econômico evidentemente, as várias modalidades lúdicas, não existem, em todas as épocas e também não permanecem imutáveis através dos tempos. Como toda atividade humana, o brincar se constitui na interação de vários fatores que marcam determinado momento histórico sendo transformado pela própria ação dos indivíduos e por suas produções cultural e econômica. Enquanto ações humanas, o jogo e a brincadeira são também situações de construção de significados, de indagação e a transformação do próprio significado. Longe de promover uma conquista cognitiva, estas atividades envolvem emoções, afetividade, estabelecimento e ruptura de laços e compreensão da dinâmica interna que perpassa a ligação entre as pessoas. Brincar é essencial à saúde física, emocional de todo o ser humano. Brincar é coisa séria, porque com a brincadeira a criança se reequilibra, recicla suas emoções e sacia sua necessidade de conhecer e reinventar a realidade. 28 Para Vygotsky (1991), pelo uso do brinquedo a criança aprende a agir de forma cognitiva; os objetos têm um aspecto motivador para as ações da criança, desde a mais tenra idade. A percepção é um motivo para a criança agir. Mais tarde, a ação começa a se desvincular da percepção: o pensamento começa a se separar do que a criança imagina ser o objeto e do que o objeto é realmente a criança vai fantasiando o que ela gostaria que determinado objeto fosse. Essa transição é gradual no desenvolvimento de cada uma. É importante notar também que, no brinquedo, a criança transforma as regras em desejos seu. Segundo Piaget (1972), o brinquedo estimula a representação da realidade; ao representá-la ela estará vivendo algo ou alguma situação remota ou irreal naquele momento. Um exemplo é o fato de que, ao brincar de casinha, ao representar o papai, a mamãe, a filhinha e, ao conversar com o seu coleguinha e com sua boneca, vai reproduzir diálogos que presenciou, vai repetir o modo pelo quais os adultos ali representados a tratam e como conversam com ela. Brincar é uma linguagem, é a nossa primeira forma de cultura. A cultura que pertence a todos e que nos faz participar de idéias e objetos comuns. "Quando a criança brinca, joga e finge, está criando um outro mundo, mais rico e mais belo, mais cheio de possibilidades e invenções do que o mundo onde, de fato, vive." (Marilena Chauí) As crianças brincam porque gostam de brincar. Gostam de brincar porque a brincadeira é o melhor instrumento para a satisfação das necessidades que vão surgindo no convívio diário com a realidade. Quando consideramos o jogo instrumento de ensino, também é possível classificá-lo em dois blocos; o jogo desencadeador de aprendizagem e o jogo de aplicação. Quem vai diferenciar estes dois tipos de jogos não é o brinquedo, não é o jogo, e sim a forma como ele será utilizado em sala de aula. Para sermos mais precisos, é a postura do professor, a dinâmica criada e o 29 objetivo estabelecido para determinado jogo que vão colocá-los numa ou noutra classificação. Segundo Vygotsky (1991), através do brinquedo, a criança estabelece reações com a vida real. Ela vai experimentar sensações que já conhece e vai desenvolvendo regras de comportamento que imagina serem corretas. O jogo, para acriança da Educação Infantil, tem por finalidade a participação. Isso poderá acontecer através de um conjunto de procedimentos articulados de acordo com regras socialmente estabelecidas. O conjunto destas regras e o seu grau de complexidade estabelecem certos padrões, que, como desencadeador, nos permitem sua utilização com maior ou menos grau de liberdade. Ao tornamos o jogo como ferramentas de ensino ele passa a ter novas dimensões, e é isto que nos obriga a classificá-lo considerando o papel que pode ou não, ser jogo no ensino. Ele pode ser tão marcante quanto uma resolução de uma lista de expressões numéricas: perde a ludicidade. No entanto, resolver uma expressão numérica também pode ser lúdico, dependendo da forma como é conduzido o trabalho. O jogo deve ser jogo do conhecimento, e isto é sinônimo de movimento do conceito e de desenvolvimento. A partir de suas observações, o educador terá condições de programar atividades pedagógicas que desenvolvam os conceitos que as crianças já estão constituindo e que sejam adequadas às possibilidades reais de interação e compreensão que elas apresentam em determinado estágio de seu desenvolvimento. Dessa forma, a ação do educador deve ser antes de tudo, refletida, planejada e, uma vez executada avaliada. 30 CAPÍTULO IV JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL O jogo e a brincadeira são para a criança um meio privilegiado de inserção na realidade obrigando-a, até certo ponto a refletir, ordenar, destruir e reconstruir o mundo a sua maneira. O brinquedo não é um mero passatempo para a criança, ele serve como estímulo para ser espírito e fantasia. Nele a criança encontra um meio de preparação para a vida futura, experimentando desta forma coisas novas e assim, vai ampliando seu contato com o mundo o que a cerca. O brinquedo, além de dar prazer, desenvolve a inteligência e a motricidade de aprender a realidade, prepara para uma atividade produtiva inicialmente para si, depois para a sociedade, seu falar que torna a criança mais calma e observadora. Segundo Winnicott (1975 p. 73) “O brincar tem um lugar e um tempo... Para dominar o que está fora, é preciso fazer coisas, não só pensar ou desejar, e faze coisas leva tempo”. A criança tem papel fundamental na utilização do brinquedo, pois é quem reorganiza e transforma o mundo das coisas e das pessoas. O brinquedo infantil é o processo de produção da criança, é um estar fazendo enquanto sujeito desta ação que transcenderá os resultados simples que provoca no brincar para que as relações mais complexas do mundo organizado das coisas e das pessoas. Brincando a criança desenvolve a percepção, a memória, a inteligência, a experimentação e a convivência com o outro. Portanto, o brinquedo contribui para a formação intelectual sem arrastar a criança para um intelectualismo rígido e doloroso. 31 4.1. Brinquedos tradicionais Costuma-se pensar que a origem dos brinquedos e brincadeiras estão relacionados na realidade lúdica das crianças contemporâneas, onde os brinquedos são projetados para atender às necessidades eminentemente infantis. Tentar buscar a origem dos brinquedos e brincadeiras tradicionais é ao mesmo tempo, mergulhar nas raízes históricas da humanidade ou de um povo. Kischimoto (1996), salienta que Considerando como parte da cultura popular, o jogo tradicional guarda a produção espiritual de um povo, certo período histórico. Essa cultura não oficial, desenvolvida especialmente de modo oral, não fica cristalizada. Está sempre em transformação, incorporando criações anônimas das gerações que vão se sucedendo. (Kischimoto, 1996, p. 24) É impossível definir com precisão a origem dos brinquedos e brincadeiras tradicionais, mas sabe-se que estes representam o principal mecanismo de interação social. Porém as brincadeiras não se limitem apenas ao caráter sociliador, mas também sinalizaram para as relações de trabalho da sociedade da época. 4.1.1. Brinquedos tradicionais no âmbito escolar As brincadeiras podem ser de diversos tipos: espelho, pintura de rosto, fantasias, máscaras e sucatas, para os brinquedos de faz-de-conta; casinha, médico, polícia e ladrão etc. O professor ainda pode pesquisar propor e resgatar jogos de regras e jogos tradicionais: futebol, amarelinha etc. Devemos priorizar a Educação Infantil, investindo e valorizando a cultura infantil, pois é na idade de 0 a 6 anos que as crianças estão receptivas aos brinquedos e brincadeiras tradicionais, pois ainda não estão empregadas pelos valores capitalistas que a sociedade impõe aos brinquedos modernos. 32 As brincadeiras são atividades espontâneas que não devem sofrer intervenção dos adultos. Na Educação infantil, as brincadeiras e os brinquedos tradicionais podem ser introduzidos de forma sutil. Para tal, sempre que for possível, o educador deve participar do recreio. 4.1.2. Brinquedos educativos Com a expansão de novos ideais de ensino, crescem as experiências que introduzem os brinquedos nas atividades escolares, surgindo assim os brinquedos educativos como um fio condutor do educar, brincando. O brinquedo e a brincadeira têm como componente importante e necessário o processo do pensar que gera ação e produz sentindo, não só para a criança, mas para todo ser humano. Os blocos de construção são bastante utilizados como brinquedos principalmente na Educação Infantil, por serem altamente atrativos e apresentam cores, formas e tamanho variados, possibilitando assim sua utilização de formas diferentes e com criatividade, o que vem dar vazão a criatividade das crianças. Além disto, os blocos de construção possibilitam o conhecimento de formas geométricas, desenvolvimento do pensamento abstrato, exploração de tamanhos, formas, espaços, semelhanças e diferenças, podendo ser trabalhado diversos conceitos matemáticos, partindo da manipulação desses objetos. Segundo Piaget (1975), A numeração, por exemplo, é uma estrutura da assimilação do real que, como diversas outras, irá funcionar com a prioridade de compreensão da realidade (tempo, espaço etc.). A criança passa grande parte da infância (até os 11 anos ou mais 12 anos) construindo as estruturas de assimilação da realidade. (Piaget, 1975) De acordo com Piaget (1975), 33 Na tentativa que a criança faz de assimilar uma realidade e não possuindo ainda estruturas mentais plenamente desenvolvidos, ela aplica os esquemas que dispõe, reconstruindo esse universo próximo, com o qual convive. (Piaget, 1975) Na atividade de jogos a inteligência sob todos os aspectos, é altamente estimulada e a própria linguagem torna-se mais rica pela aquisição de novas formas de expressão. Jogos não são apenas de forma de entretenimento para eliminar energias das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual, os jogos tornam-se mais significativos à medida que a criança se desenvolve, pois a partir da livre manipulação de materiais variados, ela passa a reconstruir objetos, reinventar as coisas, obtendo assim adaptação que deve ser realizada na infância, que é uma síntese progressiva da assimilação e acomodação. (Piaget, 1995) Pela observação dos jogos o adulto tem condições de conhecer melhor a criança e o seu comportamento, pois é na brincadeira que a criança desenvolver seu lado emocional, afetivo bem como algumas áreas do domínio cognitivo. 4.2. Brinquedos cantados Os brinquedos cantados devem unir música, letra e movimentação: • A canoa virou; • Capelinha de melão; • Atirei o pau no gato; • Cai, cai balão; • Escravos de Jô; • Cabeça, ombro, joelho e pé; Por exemplo, nesta cantiga citada, cuja letra é: Cabeça, ombro, joelho e pé, Joelho e pé, Joelho e pé, 34 Cabeça, ombro, joelho e pé, Olhos, ouvidos, boca e nariz, Cabeça, ombro, joelho e pé. Atchim! Poderemos além de trabalhar o esquema corporal fazer à localização das diferentes partes do corpo, a coordenação motora, a orientação temporal (ritmo); também poderíamos explorar a função das diferentes partes do corpo, os órgãos dos sentidos. 4.2.1. Verso musicado Versinhos musicados, além de favorecerem a linguagem oral, pois podemos explorar som final igual, também podemos aliar outros aspectos como orientação espacial esquema corporal, linguagem, coordenação motora. É muito importante que as atividades sejam exploradas de diversas formas, mas que não se deixe perder o sentido lúdico da atividade. Eu tenho Eu tenho dois olhinhos, Que servem para olhar, Eu tenho dois ouvidos que servem para escutar; Também, tenho uma boca. Que sente o paladar, Com ela eu posso rir E posso até cantar! 4.2.2. Brincadeiras de roda A brincadeira de roda leva as crianças a mexerem o corpo, a representarem as situações sugeridas pela letra. Podemos desenvolver as 35 áreas afetivas, social e a cognitiva, principalmente no que se diz a respeito à linguagem. Podemos trabalhar a linguagem escrita, a linguagem oral e corporal. Nesta última estrofe, a criança vai ao centro da roda, diz um verso e volta para o seu lugar. A brincadeira se repete enquanto houver interesse. Ciranda, cirandinha Ciranda, cirandinha, Vamos todos cirandar! Vamos dar a meia volta Volta e meia vamos dar! O anel que tu me deste Era vidro e se quebrou O amor que tu me tinhas Era pouco e se acabou E por isso dona ( ) Faz favor de entrar na roda, Diga um verso bem bonito, Diga adeus e vá-se embora! As crianças irão exercitar a linguagem oral ao recitar os versos quando solicitadas, e também a memorização. 4.3. Sugestões de jogos para serem aplicados na Educação Infantil Nesta parte iremos demonstrar três sugestões de jogos: 1º Gestos obrigatórios: Objetivo: criatividade. Concentração, coordenação, atenção, integração e 36 Formação: A turma ficará disposta em círculo. Desenvolvimento: Todos os alunos deverão ficar em círculo, atrás um do outro. Ao sinal do professor e já com direção determinada, começam a andar em círculo e o primeiro começará a fazer gestos. Estes gestos deverão ser seguidos por todos. A pessoa que errar, passará para frente e fará o mesmo. 2º Mímica: Objetivo: Desenvolver mensagens de gestos, comunicação, socialização, raciocínio, construção de idéias e criatividade. Formação: A equipe deverá ser dividida em dois grupos. Desenvolvimento: Por um sorteio, uma equipe, ao sinal do professor irá começar. Ela se une e bola uma palavra. Depois de treinada, eles passam para a outra equipe por meio de gestos, somente. Se a outra equipe acertar marca-se um ponto para ela. Se errar não se marca nada. Depois é a vez de outro grupo fazer o mesmo. Quem acertar mais, vencerá. 3º Como sou dançando? Objetivo: Desenvolver memorização, criatividade, percepção corporal, coordenação motora fina, ritmo, desinibição e espírito de integração. Formação: Os alunos ficaram livres. Material: Som e CD. Desenvolvimento: O professor colocará músicas de diferentes ritmos para que os alunos andem dançando. Ao tempo, deverão observar o seu próprio desempenho. Ao terminar, cada aluno deverá desenhar como se viu dançando e qual parte do seu corpo não foi usada. Muitos outros jogos e brincadeiras podem ser trabalhados com a criança no nosso dia-a-dia. O mais importante é que o professor, sempre que possível, faça desse momento, um momento de prazer, onde todos possam 37 além de ser divertir aprender, assimilar conhecimento, pois educar exige de todos nós compromisso, responsabilidade e, sobretudo, amor. 38 CONCLUSÃO Ao optar por trabalhar com a questão da brincadeira, o olhar dirigiuse para as brincadeiras efetuadas pelas crianças e educadores na educação Infantil, no sentido de demonstrar que estas são construções e interpretações que as crianças fazem em relação ao mundo que as cercam, sendo influenciadas pelo contexto sócio-cultural em que estão inseridas. O brincar da criança está ainda comprometido com suas emoções, com as imagens assimiladas do mundo e com a curiosidade face ao desconhecido. Portanto, ao transformar os objetos numa criação própria, a criança estará traduzindo o sentimento de sua vida. É uma construção fora de si, mas que, ao mesmo tempo, reflete uma edificação interna que torna a criança o próprio sujeito da ação. À medida que a criança manipula os objetos empregados nas brincadeiras, vai adquirindo, também, a capacidade de manobrar os dados da realidade e, em conseqüência começa a se fortalecer dentro dela um sentimento de poder, de domínio das coisas do mundo. A brincadeira representa uma parte do universo que a criança passa a explorar para compreender e, assim, dar outro significado ao que está sendo percebido. Ela dá à criança possibilidades de reinventar o mundo; brincando a criança organiza e transforma o mundo das coisas e das pessoas. Percebe-se ainda que através da análise se comprove a hipótese de que a brincadeira influencia positivamente no desenvolvimento infantil. O trabalho possibilitou uma apreensão cada vez maior do objeto de estudo; uma vez que foi possível praticar um olhar crítico sobre a realidade concreta. Em segundo lugar, apesar de sua simplicidade, ele vem contemplar e explorar um assunto ainda pouco no campo educacional. Consideramos até mesmo que ele seja inovador no sentido de estar contribuindo para uma 39 mudança de olhar sobre a brincadeira da criança, dando subsídios para o professor da Educação Infantil utilizá-la com êxito no processo ensinoaprendizagem. A busca do fazer pedagógico contextualizado com as necessidades concretas da criança é o caminho a ser trilhado por nós educadores. Temos várias possibilidades de intervenção que favorecem o ato de ensinar, partindo de uma participação crítica de nossos, e de uma reflexão de nossa prática. Mediar conflitos, causar desequilibro diante dos conhecimentos de nossos educandos, instigarem a criatividade, fazer pulsar o novo com referência do passado, enfim contribuir coma construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Nesta perspectiva, espera-se que este trabalho possa contribuir para a prática dos profissionais envolvidos com o trabalho na Educação Infantil se aprofundando nas reflexões acerca do papel importante que este espaço deve assumir. Brincar é coisa séria. Após essa explanação verificamos que brincar, com nossas crianças é muito mais sério do que imaginávamos. Precisamos respeitar e garantir às nossas crianças o direito de brincar, de vivenciar o seu próprio desenvolvimento. Conclui-se devemos aproveitar a grande oportunidade que temos de observar as crianças, quando estão brincando, pois certamente estão se desenvolvendo, aprendendo a lidar com suas próprias emoções e com o mundo em que vivemos. Cada oportunidade dessas, com certeza são únicas e inéditas. Um espetáculo original e ímpar de crescimento, de convivência. 40 BIBLIOGRAFIA ANTUNES, Celso. A construção do afeto. São Paulo: Augustus, 2003. JOSÉ, Elisabete da Assunção e COELHO, Maria Teresa. Problemas de Aprendizagem. Série Educação, São Paulo: Ática, 2003. JÚNIOR, Afonso. Aprendizagem por meio da ludicidade. Rio de Janeiro: Sprint, 2005. KISHIMOTO, Tizuko Morchidal. (org.) Jogos, brinquedos, brincadeiras e a educação. São Paulo: Cortez, 1996. LINDGREN, Henry Clay. Psicologia na sala de aula: o aluno e o processo de aprendizagem. 2 vols., Rio de Janeiro: Livros Técnicos, 1977. MARANHÃO, Diva. Ensinar Brincando. Rio de Janeiro: Wak, 2003. PIAGET, Jean S. INHELDER, Burbel. A psicologia da criança. 13ª ed., Rio de Janeiro: Bertrand, 1994. PIAGET, Jean. A Formação do Símbolo na criança: Imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. ____________. Psicologia e Pedagogia. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. SAMPAIO, Rosa Maria. Whitaker, Freinet: Evolução histórica e atualidades. São Paulo: Scipione, 1989. VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984. __________________________. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. Rio de Janeiro: Scipione, 1988. __________________________. O papel do brinquedo no desenvolvimento Infantil: A formação Social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991. __________________________. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987. WAJSKOP, Gisela. Brincar na Pré-Escola. 2ª ed., São Paulo: Cortez, 1997. WINNICOTT. D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975. 41 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 EPÍGRAFE 05 RESUMO 06 INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I O conceito da aprendizagem 1.1. Aprendizagem por meio da ludicidade 1.2. Família, escola e aprendizagem 11 12 14 CAPÍTULO II O lúdico e a Educação 2.1. Significado do jogo simbólico 2.2. Papel do brinquedo na escola 2.3. A criança e a imaginação 2.4. O papel da ludicidade no desenvolvimento das crianças 16 19 20 20 21 CAPÍTULO III Ensinar e aprender brincando 3.1. Brincadeira é coisa séria 23 26 CAPÍTULO IV Jogos e brincadeiras na Educação Infantil 4.1. Brinquedos tradicionais 4.1.1. Brinquedos tradicionais no âmbito escolar 4.1.2. Brinquedos educativos 4.2. Brinquedos cantados 4.2.1. Verso musicado 4.2.2. Brincadeiras de roda 4.3. Sugestões de jogos para serem aplicados na Educação Infantil 30 31 31 32 33 34 34 35 CONCLUSÃO 38 BIBLIOGRAFIA 40 ANEXOS 42 FOLHA DE AVALIAÇÃO 43 42 ANEXOS 43 FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas Pós-Graduação “Latu Sensu” Título da Monografia LÚDICO: UM AGENTE TRANSFORMADOR DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL Data da Entrega: ___________________________ Avaliado por: ______________________________Grau: ________________ Rio de Janeiro, ______ de ______________________ de ________ _______________________________________________________________ Coordenação do Curso