Seleção e organização dosconteúdos curriculares Capítulo 6 Seleção e organização dos conteúdos curriculares 1. A importância é um conceitoamplo de conteúdo,que não se idenüficaapenascom a simplesaquisiçãode informação.É por meio dos conteúdosque transmitimos e assimilamosconhecimentos,mas é também por meio do conteúdo que praticamosas operaçõescognitivas,desenvolvemoshábitose habüdadese trabalhamosas atitudes. Por outro lado, ïbrra e seus colaboradoresafirmam que "os conteúdossãovistoscomo um meio parl:e-concretizaçãodaaprendiztgem.Envolvembasicamente: - ds5snyelvimentode processosmentais; tr1t1Ínentoda informação"2. Nessamesmaobra, em reltçío ao conteúdo,Ttrrra resumeda seguinteforma as duas posiçõesmarcantesencontradasentre os autores: do conteúdo O movimentoda EscolaNova,em oposiçãoà escolatradicional, valorizoumais os métodose as técnicasde ensino,em detrimento do conteúdoa ser ensinado.Mas os conteúdossão importantesà medidaque constituema tessiturubísicasobrea qual o alunoconstrói e reestruturao conhecimento. A humanidadepossui um saber acumuladodurante séculos. Essesaberapresentauma naturezt dinàrnica,, porque estáem contínua expansãoe atualização,renovando-seconstantemente. A escola, como instituiçãosociale agênciaformadora,é o centro da educação sistemática,e tem como função básicaa transmissãosistematizadado conhecimentouniversal.AIémdisso,é precisoimprimir no coüdianodascriançase jovensa vivênciade valoresessenãiaispara a sobrevivênciadacomunidade, comoa cooperação,a iustiça,o respeito ao próximo, avtlonzação do trab,alhoetc. É atravésdo conteúclo e das experiênciasde aprendizagenÌque a escola transmitede forma sistematizada o conhecimento,e tambémtrabalha, naprâtica cotidianade salade aula,os valorestidos como deseiáveis na Íormação das novasgerações. Assimsendo,de acordo com WalterGarcia,conteúdoé ,.rudo aquilo que é passívelde integrar um programaeducativocom vistas :ì formaçãodas novasgerações.Um conteúdopode referir-sea colrhecimentos, atitudes,hábitosetc."l. Comopodemosverificar,esse I walter D. cârcia, <trg., Educaçôio: aisão teórica e pútiu 127 pedagSgica, p. t6l -"pa1a uns autores,conteúdosdizem respeito à organizaçãodo conhecimentoem si, sobre tbase de suaspróprias regrasinternas de unidade. -PaÍ outros autores,conteúdossão as experiênciaseducativas, no campodo conhecimento,devidamenteselecionadase organizadaspelaescola"3. Já o professor Claudino Piletü, no seu EvroDidãtica geral, tenta conciliar essasduas posições.Ele diz que o conteúdoé importante porque "aaptenüzagem só se dá em cima de um determinadoconteúdo. Quemaprende,aprendealgumacoisa. (...) Convémlembrar que o conteúdonão abrangeapenasaorganízaçãodo conhecimento, mas tambémas experiênciaseducativasno campo desseconhecimento, devidamente selecionadase organizadas pela escola. Assim, ttnÍo a organizaçíodo conhecimentocomo as experiências e.ducativas são importantes.Um refere-semais às informações,aos dados, aos fatos, aos conceitos,aos princípios e às generaliztções acumuladaspela experiênciado homeme que serãotransmitidasao aluno. O outro aspectorefere-semais às experiênciasque o próprio 2C. M. Turra et alli, Planqjamento de ensino e awllaçiio, p. 102. 3ldem, ibidem,p. 103. tz8 c"pírulo6 Seleçãoe organizaçãodos conteúdoscurriculares r29 i. aluno poderáüvenciar em torno dessesconhecimentos(...). Esse conteúdo não se esgotaapenascom informaçõesa respeito de tal realidade.Abrangetambémas experiências,as atitudese os valores envolüdosnessarealidade.(...) Convémlembrar que a aprendizagem não é apenasum processode aquisiçãode novasinformações. É, antesde maisnada,um processode aquisiçãode novosmodosde perceber,ser,pensare agit"4. Isto posto, podemosdizer que, a nosso ver, o conteúdoé o conhecimentosistematizadoe organizadode modo dinâmico,sob a forma de experiênciaseducativas.É sobre ele que se apoia aprãtica das operaçõesmentais.Além disso, o conteúdoé o ponto de partida tanto parl L aquisição de informações,conceitose princípios úteis como prÍ^ o desenvolvimentode hábitos, habilidadese atitudes.Daí suaimportância. Portanto,é a;lr:avés do desenvolümentodos conteúdosprogramáticos que atingimosos obieüvospropostospara o processoinstrucional. Aliás, existeuma relação biunívocaentre a definição dos objetivôsinstrucionaise a seleçãodos conteúdos.Isto se explica pelo fato de o obietivo instrucional ter duas dimensões:o aspecto colrrportantental e o aspectode conteúdo. Assim,quando o obietivo instrucional estáformulado de forma clara e precisa,ele ajuda a selecionaros conteúdosmaisúteise relevantes. Por outro lado, os conteúdos curriculares constituem uma fonte importante paÍa a escolhados obietivosinstrucionais,auxiliandona suadefinição. fundamentaisa seremdesenvolvidos.O guia curricular oficial é, em geral,elaboradoa nívelde sistemaoficial de ensinoe visadar uma unidade ao trabalho dos professoresde uma determinada rede de escolasde um estadoou município. b) Program.apessoal de cada professor - Ê,o plano de ensino de cada professor,que pode ser anual, mensal ou semanal.Esse plano operacionalizaas diretrizes curriculares do sistema de ensino e especificaos obietivose conteúdosda açío educativa, de acordo com as reaiscondiçõesde cadaclasse,isto é, de acordo com o nívelde desenvolümentoe as aprendiz gensanteriores dos alunos. Existem duas modalidadesde organizaçãodo conteúdo, de acordo com o seu nívelde operacionahzação: Há algunsanos os programasoficiais eram mais detalhadose minuciososnas suasorientações. Atualmente,os guiascurriculares elaboradospelo sistemasão mais flexíveis,apresentandoapenasos conceitosbásicose as habilidadesfundamentaisa serem desenvolvidosao longo do curso. "O professordispõe,nos dias que correm, de uma significativa margemde flexibilidadeptamontar o'programa' queirá desenvolver com seusalunos.Evidentemente, uma sériede condiçõespropicia esta ampla faixa de moümentação.O professor tem liberdade para selecionaros conteúdosque scjamos mais adequadosa seu grupo. Da mesma liberdade pode se valer para organizá-los.No entanto,simultaneamente a todaestaüberdadede ação,surgea responsabilidadedo professorna nìontagemdestesconteúdos.Cabe-lhe decidir sobre a qualidadee a quantidadede informaçõesque serão trabalhadascom o aluno."5Para selecionare organizaros conteúdosa serem transmitidos,o professorprecisa dominar a estruturade sua disciplinae conheceras necessidades e interesses de seusalunos,atravésdas manifestações do ambienteonde vivem. Ao selecionaros conteúdosa seremensinados, o professordeve basear-se nos seguintescritérios: a) Programa escolar oJì.cial- É o guia quetr,àça,enlinbas gerais os fins e os conteúdosda ação educativaptra um determinado grau de ensino,definindo os conceitosbásicose as habüdades |. Validade- [svs haveruma relação clara e nítida entre os objetivosa serematingidoscom o ensinoe os conteúdostrabalhados. Isto quer dizer que os conteúdosdevemestaradequadose üncu- 4 Claudino Pilenl, Di&ítica s C. M. Turra et alii, obra citada, p. lO2 2. Cntérios para a seleção de conteúdos geral, p. )O-2 130 Capítulo6 lados aos obietivos estabelecidospara o processode ensino e aptenüzagem.Ponanto, em primeiro lugar, os conteúdos são váfidosquando estãointer-relacionadoscom os obietivoseducacionaispropostos. Em segundolugar,os conteúdossãoválidosquandohâuma*ualizaçãodos conhecimentosdo ponto de vistacienúfico.O conhecimento humanoamplia-secadavezmais e a ciênciarevisaconstantementesuasgeneralizações e teorias.Assim,o educadorprecisafazeraiustesna sua programação,incorporandoos conhecimentosmais atualizadosda ciência. 2. Utilidadc - O critério de utilidadeestápresentequandohá possibilidade de aplicar o conhecimentoadquirido em situações novas.Os conteúdoscurriculares são consideradosúteis quando estão adequadosàs exigênciase condiçõesdo meio em que os alunos vivem, satisfazendosuas necessidadese expectativas,e quando têm valor prático para eles,ajudando-osna vida cotidiana a solucionarseusproblemase a enfrentaras situaçõesnovas. Seleção e orgutiztçïto dos conteúrdoscurriculares l:ì l dos selecionados, suprimindoitensou acrescentando novostópicos,a fim de aiustá-losou adaptá-losàs reaiscondições,necessidadese interessesdo grupo de alunos. para selecionaro conteúdo Além dessescritériosmencionados, programáticoé precisolevarem contao tempodisponível. outro aspectoque gostaríamosde lembrar é que deveser dada ao aluno a possibilidadede elaboraçãopessoaldo conteúdotrabalhado. Isto quer dizer que o aluno deveoperar intelectualmente o conteúdo aprendido, fazendoassociaçõese comparações,relacionando e integrandoos novoselementosaosiâ assimilados,pesquisandoe organizandonovasinformações,selecionandoalternaÍivase avaliandoideias.É assimque o aluno estarâconstruindo, ou melhor dizendo,reconstruindoo conhecimento. 3. A organização do conteúdo 3. SigniJìcação - Um conteúdo será significativoe interessante paÍL o aluno quando estiverrelacionadoàs experiênciaspor ele vivenciadas.Por isso, o professordeveprocurar relacionar,sempre que possível,os novosconhecimentos, a serem adquiridos pelos alunos,com suasexperiênciase conhecimentosanteriores, fazendouma ponte paralryar o iá conhecidoao novo e ao desconhecido. É estaltgaçãodo conhecidoe üvenciadoao desconhecido e novo que torna o conteúdosignificativoe interessante. Os conteúdos devem apresentaruma sequência.Devem também se reforçar mutuamente. Isto é conseguido através da organizaçío do conteúdo. A ordenação dos conteúdos é feita em dois planos: 4. Adequação ao níuel de desenuoluinrcnto do aluno - O conteúdo selecionadodeverespeitaro grau de maturidadeintelectualdo aluno e estzr adequadoao nível de suasestruturascognitivas.Os conteúdosa serem assimiladosdevemcorresponderàs aprendizagensessenciaise deseiáveis,contribuindo para o desenvolvimento daspotencialidadesdo aluno, de acordo com suafaseevoluüvae com os interessesque o impelemà açío. Para exemplificar, vamos transcrever uma citação de ï$er: "Quando examinamos a relação entre as experiências proporcionadas na Geografia da quinta série com as da Geogrúia da sexta série, èstamos considerando a organizaçío vertical, mas quando examinamos as relações entre as experiênciasem Geografiada quinta série e História da mesma série, estamos considerando a organizaçío horizontal de experiências de aprenüzagem. Ambas essasmodalidades de relações são importantes para determinar os efeitos cumulativos das experiências educacionais. Se as experiências proporcionadas na sexta série em Geografia partirem coerentemente das expe- 5. Flexibilidade - O critério de flexibilidade estarâsendo atendido quando houver possibilidadede fazeralteraçõesnos conteú- a) No plano temporal, dispondo os conteúdos ao longo das séries.É a organízação vertical do currículo. b) No plano de uma mesma série, fazendo a relação de uma área com a outra. É a organização honzontal do currículo. r32 Capítulo6 riências oferecidas na quinta série, haverá mais profundidade e amplitudeno desenvolümentode conceitosgeográficos,habilidades etc. Seas experiênciasde Geografiada quinta série forem bem relacionadas com as experiênciasde História da mesma série, ela^s poderãoreforçar-seumasà-soutras,promover uma maior significação e unidadede visão,constituindoassimum programaeducacional mais efrctz;ao passoque, se as experiênciasestiveremem conflito, poderãoanular-semutuamente, ou, se não têm nenhumaconeisoladasque não xão visível,o estudantedesenvolverâxprendizagens se relacionamentre si de maneiraefetivaquandoa pessoaas apbca na suavida cotidiana"6. Há três critérios orientadoresbásicosna organizaçãodos conteúdos:a continuidade, a sequência e a in tegração.A continuida de e a sequência estãorelacionadasà ordcnaçãovertical. A continuidaderefere-seao tratamentode um conteúrkrrepetidasvezesem diferentesfasesde um curso. A sequênciaestárelacionadacom a A secluênciafaz com que os tópicos continuidade,masa transcende. de trm conteúdopartanlsemprcd<lsanteriores,aprofunsucessivos A irttegração,por sua dando-ose ampliando-osprogressivamente. vez,estâl:gadaà ordenaçãohorizontale se refereao relacionamento entre as diversasáreasdo currículo,visandogarantira unidade do conhecimento. que necessitam Alémdessescritérios,há dois princípiosbásic<ls ser consideradosna ordenaçãodos conteúdos:o lógico e o psicol.ógico. Ordenarconteúdosde acordo com o princípio lógico é estatzriscomosãovistaspor um belecerrelaçõesentreseuselementos, especialistana maté.ria.Por outro litdo, organizaros conteúdos segundoo princípio psicológico é indicar as relações,tais como podemaparecerao aluno."Há, sem dúvida,muitoscasosem que uma organizaçãológica,isto é, uma organizaçíoque tem significado e relevância para um especialistana matériz, é também uma organizaçíopsicológicaapropúada,isto é, pode ser um esquema 6 Ralph w. Tyler, Princípios btísicos de cturículo e ensino, p. 77. r i:l : e organização dosconteúdos curriculares Seleção 133 de desenvolvimentoem relações que talvez seiam significativas paÍa o próprio aluno.Por outro lado, hâtocasiõesem que se pode fazer wa nítida diferenciaçãoentre as conexõespercebidaspelo especialistae os desenvolvimentosque são significativosp rL o estudante"T. Os critérios e os princípios de organizaçíosão formas de estabelecerligaçõesentre os conteúdos,visandoconseguiruma ordenação efetiva.Mas, na organizaçíodos conteúdos,devemostambém considerar os elementosestruturaisdessaordenação.No nível de sala de aula, que é o nível mais operacionalde organização,ïfler afirma que há basicamentetrês tipos de estruturasde organização: a [ição,o tópico e a unidade. Historicamente,a estruturade uso mais difundido foi a "lição". Em cada üa, abçlo eÍatratadacomo uma unidadedistinta,e os planos de liçõesp ra o mesmodia ficavammais ou menosseparad<ls dasliçõesque eram planejadaspara diasseguintes. Uma segundaestruturacomum é o "tópico", que pode durar vários dias ou vânassemanas. E, finalmentc,um terceiro tipo de organiz.açã<l estrutural, cada vezmais utilizadoem s'alade aula, recebecomunÌenteo nonrede unidade. Em geral, a unidadeinclui experiênciasque abrangem váriasseman'.$e é organizadaem torno de problemasou de projetos importantesdos alunos. Com relação à organizaçío dos conteúdos,o professor deve considerartarnbéma estruturada disciplina,paÍaque o alunopossa ter uma visãoglobal do campo de conhecimentoestudadoe p rI que possater acessoàs icleiasmaissignificativas e relevantes da discipüna, sistematizanclo-as e aplicanclo-a-s em áreas correlatas. A estruturabásicade uma disciplinaé um sistemade relaçõesque formaum todo coerente,harmônicoe integrado.Paraqueos alunos possamapreendera estruturabásicade uma disciplina,o professor deveconsideraros seguintespressupostos: "-a abrangênciade ideias fundamentaistorna a disciplina mais compreensível; 7Idem,ibidem,p. 90. t34 Capítulo 6 - 2 goloç^ção d^ informação dentro de um referencial significativo torna o conteútdomenos sujeito ao esquecimento; - 2 si5tsrnatizaçãodas ideias essenciaisfavorecea adequadatransferência da aprendizagem; - o relacionamento d<ls conhecimentos anteriores com as novas aquisiçõesdiminui a distância entre o conhccimento avançadoe o conheciment<lelementar"s. Portanto, ao organizar os conteúdos para clcsenvolvê-losna sala cle aula, cabe ao profcssor: - considerar o nível de desenvolümento dos ,alunos,levando em conta suas estruturas cognitivase as aprendizagensanteriores; - partir dc situações-problemavinculadas à rcalidade clo aluno; - fazeÍ a relaçío dos novos conteúdos transmitidos com os conheciment<lse as experiênciasanteriores dos alunos; - sistemalizaÍ a-sideias principais, dando condições para que os zútrnospossam orgtnizar e aplicar <lsc<lnhccimentos,a^ssimilados. Seleçãoe organizaçãodos conteúdoscurriculares r35 Ele classificou as tendências pedagógicas em liberais eprogres' sistas. O critério adotado para essa classificação foi a posição que essastendênciasadotam em relação aos condicionantessociopolíticos da escola. Sua classifictção é a seguinte: A) Pedagogialiberal (É uma manifestaçãoda doutrina liberal, que defende a predominância da liberdade e dos interessesindividuais na sociedade.) As tendências<IaPedzgogialiberal são: l. tradicional; 2. renovada-progressista (Escola Nova) ; 3. renovada não diretiva; 4. tecnicista. B) Pedagogiaprogressista Designa "as tendênciasque, partindo de uma análise cúica das realidades sociais, sustentam implicitamente ãs finalidades sociopolíücas da educação". As tendências da Pedagogiaprogressista são: 4. O desenvolvimento dos conteúdos concepções pedagógicas € as l. libertadora; 2.lsberútrta:l' O professorJosé Carlos Libâneo, no livro de sua autoria intitularJoDernocratização da escola públicct: a Pedagogia Crítico-Social dos Contetídos, anabsa vânas tendênci:t^sou propostas didático-pedagógicas,indicando seus pressuposrose ftrnclamentosfilosóficos, bem como as práticas educativasa elas relacionadas.Cadaproposta pedagógicabaseia-senuma determinada concepção de ensino-aprendizageme da interaçáo profcssor-aluno. õ C. M. l'urra ct alii, obr:r citâdâ, p. l08. 3. cúico-social dos conteúdos. O professor Libâneo analisa e caracteriza cada uma dessastendências a partir do enfoque de seis aspectos:papel da escola, conteúdos de ensino, métodos, relacionamentoprofessor-aluno,pressupostos de aprendizagem e manifestações na prática escolar. Apresentamosa seguir um breve resumo, em forma de quadro, da caractenzação que o professor Libâneo apresenta dessastendências, no que se refere aos dois aspectos que nos interessam mais diretamente neste capítulo: conteúdos de ensino e métodos. cARAcïTRrzAçÃo nm rrnnÊncHsDApBDAGocn unnRme Tendências EscolaTradicional Aspectos "Sãoos conhecimentos e valoressociaisacumulados pelasgcraçôes'.rdultas e reparsados ao alunocomo yerdades. 0s conteúdos são seplradosdl experiência do alunoe dasrcdidadei sociiús,r,alendopelovalor intelectual." 0s programas sãodadosnumaprogrc;são lógica,semlevir em contaas srracterísticasde cadaidade. Conteúdos de ensino Exola Nova ( Renovada-prcgressista) "Sãoestabelecidos emfunção queo suieito deexperiências vivencia frentea desâfios co8nitivos e situações problemáticas. Dá-se, ponanto, maiorvaloraos proceisos menuise habilidades cogniürnas doque a conteúdos organizados raiionalmente." Renovadanãodiretiva Tecnicista Fstatendêncir enfatiza "Sãoiníormações, os processos dedesenvolümentoprincípios científicos, leis dasrelaçõce da etc.,criUbelecidos e comunicação, tornando ordcnados numasequôncia secundária a transmissão de lógicae psicológica por conteúdos. (...). especialiías O mateÍial instrucional encontrd-se sistemati7jdo nosmanuais, nosliwos diúíticos, nosmódulos de ensino, nosdispositivos audiovisuds etc." ã\ 'r Sintetizadaa partir dc: J. C. Libâneo,Democratização da escolaptíblica: a PedagogiaCrítico-social dos Conteúdos, p. 23-32. o\ .".,=€*ffi|lll a DAPEDAGOGH PROGRESSTSTA'o DAsrTNDÊNc|Ás cAnAcïtRrzaçÃo (ì Èl Tendências Asp€ctos Contcúdos deensino Tendênciallberradora Tendêacialibertária "valorizaa educação nãoformal." aparecem sobâ forma 0s conteúdos geradores" e são de"tema.s da daproblemaização extraídos pnática deüdadosalunos. 0s textos deleiturasãoredi$dospelos púpriosalunos coma aiudâdo professor. 0s conteúdos sãoosqueresulumde ncessidades e interesses manifestos pelogrupo,podcndo ounãoseras mâlériÀs dcestudo. éo Aformadetnbalhoeducâtivo "grupodediscussão", a quemcâbe a aprendizagem, definindo autogerir e a dinâmica das o conteúdo atiüdâdes. Métodosde ensino fo ldem, ibidem,p.32-44. grupale na naúvência Baseiam-se formadeautogestão. "0s alunos têmliberdade de trabalhar ou não,ficandoo interesse pedagógco nadçendência desuas ncressidader oudasdogrupo." Tendência"crítico-socialdos conteúdos" "Sãoosconteúdos culturais queseconstituír.rm em universais domínios deconhecimenlo relâtivâmente autônomos, pelahumanidade, mas incorporados permanentemente faceàs reavaliados são realidades sociais." 0s conteúdos realidades exteriores aoaluno,que devem serassimilados, mases6o ligadosìrsrealidades sociais. 0s devem serbemensinados conteúdos à sua e devemrelâcionar-se humana e social. sig,niÍicação paíir deensino devem 0s mâodos darclação direuentrea experiência defora. doalunoe o sabertrazido '0 trabalho relaciona a docente púticavividapclosalunos comos proposlos peloprofessor." conteúdos entrea Há,poíanto,umaligação dodunoe a oiplicação erperiência dadapeloproÍersor. m È) N Èl v> ô tD q, ô Ft ã .J, '.,).) { 138 Capítulo6 Seleção e otgutização dos conteúdos curriculares r39 .ï't, Í, ff A chamadaPedagogia Crítico-Social dos Conteúdosé uma proposta pedagógicadefendida,entre outros, pelos professoresJosé CarlosLibâneoe Cipriano CarlosLuckesi,que se inspiraramem autoresestrangeiros,como GeorgeSnyders,e se basearamnos estudos e pesquisasde educadoresbrasileiros,como DermevalSaviani, GuiomarNamode Mello e Carlos,{bertoCury. A educaçãopara essesautoresé concebidacomo um processo mediador daprâtica social global. Assim, ela estâinserida no contexto de uma sociedadeconcreta,historicamentesituada. O ensinoé a transmissãointencionale sistemáticade conteúdos culturais e científicos,que constituemum patrimônio coletivoda sociedade.Essesconteúdos são selecionadostendo em ústa seu valor formaüvoe instrumentale sua ligaçãocom a realidadesocial. A função da escola,em geral, e da escolapública, em especial, é propiciar a difusãodos conhecimentose sua reelaboraçãocríüca, visandoa melhoria da qualidadede úda das camadaspopulares. O professorLibâneotentaelaborarum modelopedagógicomais adequado paÍa a clientela que frequenta nossasescolasno atual momento histórico e contexto sociopolítico. Mas ele não nega e nem acreditana rupturatotal com a escolaexistente:seu modeloé decorrentede uma síntesesuperadorada escolaatual,e essasuperação será"conseguidapela difusão do saber e do saber-fazercríticos,isto é, pelademocratizaçáo do conhecimento. P^Ía esseeducador, a escoladevegarantir a transmissãodo conteúdoescolar,pois é um instrumentalbásico,principalmenteparaos alunosprovenientesda^sclassespopulares. De acordo com a PedagogiaCúüco-Socialdos Conteúdos,a aquisiçãoe a reelaboruçíodo conhecimentosão decorrentesdo intercâmbio que se estabelecena interaçãodo aluno com o meio (natural,social e cultural), e o professoré o elementomediador desseintercâmbio.Por isso, o papel do professoré ftlndamental, emborao aluno tenhaparticipaçãoativano processoensino-aprendizagem.CitandoSnyders,Libâneoafirma que o professor"é aquele guia que tem autoridade para guiar", pata orientar, para abnr perspectivasapaÍÍiÍ dos conteúdose das experiênciasvividas,para propor métodosde estudoe exigir o esforçodo aluno,incentivando sua participação.Assim,o professor,além de estarcompromeüdo com seu trabalho e de ter uma atitude críüca diante de sua prâtica pedagógicaem sala de aula, deve ter também um bom preparo e dominaro seuconteúdoe as formasde transmiti-lo. Conclusão Ao longo destelivro temos procurado mostrar que a Didâtica, sendoo estudosistematizadodo ensino, nío é um edifício pronto e um arcabouçoem processo acabado.Ao contrário,assemelha-sea permanentede construção.Nosdois primeiroscapítulos,vimosque, ao longo dos anos,váriasforam as contribuiçõesde filósofos,educadores e psicólogos para a construção e aperfeiçoamentoda Didâtica.Nestecapítulo,apresentamosuma classificaçíodas várias correntes pedagógicas,mostrando mais uma vez como a Díd6'üca, (que é ateorÌada instruçãoe do ensino)estáconstantemente sendo repensadae reelaborada. Tentamosmostrar tambémque a forma de selecionaqorganizar e desenvolveros conteúdosdo ensino dependeda concepçío de educaçãordotada. Verificamos,assim, que toda prâtica didático-pedagógicrtem pressupostosteóricosimplícitos. Resumo 1. 0 conteúdo-serve dt' lrnse prìrrì rt at;uisiçrio de inlbrmtrçries. r'otrr.t'itos. prinr.ípios (. parrì o dest'nvolvilrrcnkr dt hribiÍos, htllilidrrdt's t' ttiludes. lì rrtrnvd'sdos <:oIrÍeúdoscurrit'ulures t;tte nk'rrtrçlìnros os objt'Íivos eslnllt'le'r'idosl)urrt o l)r'(r('('ssoeducu<:ionttl. 2. A st'lt çrio dos <'onleúdos progrnnrritieos devc lrtsetrr-se rlori s('grrinlt's <'ritórios: vnlidtrde. utilidade. significnção. adet;rtttção ao nível dt'destxrvolvirnt'nlo tlo nlrttro. llexibilidadt't'acleqtttrçrio tro (ernpo disponível. Ald'nr disso, dt'vt'st'r dadu ao trlutxr l possibilidtde dt' elaboraçrio pessoal clo colrteútlo trturslnitido. ;renttitindo-lht' ('ornl)trrrr. organiztr. a;rli<'rrr t' avnlitr inforrtttrçõt's. . r'oncci(os e prinr'í;rios, ntun l)ro('esso erxrstrrtrÍedt'recons(rução do colrhe<'inrenlo. iì.  organização dos conleridos se <'onslitui t'trr duas lbrrrras dt' ordt'ntrção: t) r'er(i<'ll - i' a orgattização st't;ut'trcinl dos cotrít'ridos tro longo dt' vtirias sóries: b) horizontal * i' o rt laciontrrnerrÍo dos <'onlt'riclosdetr(ro dt' urrra lnt'srna s('rie. 140 Capítulo 6 A ,rgtr'izaçti' dos co'rt'úd's d*vt orielrrur-st ;ror trôs criÍó_ ri's: eorrli'uidade, seq-rrô'r.iac i'(egraçtìo. l)e'e. ta,irbe,ri. faurar-se (,rn dois prirrr.ípios bási<:os:o lógico e o psir:ológi<.o. Arividodes l ' A portir do que,vocêleu nestecopíturoe de pesquisosque deveró tozer em outroslivros,elobore,por escrito,com suosprópriosporovros, um conceitoporo o expressõo,,conteúdos de ensino,,. 2. Relocioneos critériosusodosporo o seleçõode conteúdosprogromóticos,explicondo,por escrito,codo um deles. 3. Foço um resumodo itemsobreorgonizoçõodo conteúdoopresentodo nestecopítulo,destocondoos ospectoifundomento'rs J"it! úpi.o. Trabalho em grupo I ' Foçoumo pesguisosobreo pedogogiocrítico-socioldos conteúdos e os tendêncios libertodoroe libertórioe expliqueos diferençosenhe essostendêncios. 2. Escolhoumo ofirmoçõo,dentreos duosopresentodos oboixo, onolisondoo por escrito. "o trobolhodocentenõo se reduzò puro tronsmissõo de conhecimentos,n-emò crençono suogproprioçõoespontôneopelo oluno, nem ò mero formoçõo político. É um processosimultôneode tronsmissõo/ossimiloçõo otivo,em que o professorintervémtrozendoum conhe_ cimentosistemotizodo e em que o oluno é copoz de reeloboró-locriticomentecom os recursosque troz poro o situoçõode oprendizogem. Processo esse,cuio ponto de portidoe ponto de chegoio é o protico sociol;.supõe*e, um trobolho competenledo pãf.ssor, seio no .oí, domíniodo motério, sejo no domíniometodológico,'oÍim de que o hobolho docentetenho efeitosformotivosdurodoïro., t"rÃJ, á, ,ro relevôncioporo o tronsÍormoçõo do mundosociol.,,l", I t t ldc m , ib i d e m , p . 1 3 6 - 7 Seleçãoe organizaçãodos conteúdos curriculares t4l "O trabalhoformativo,portanto,supõeelementospedagógico-didáticoscomo fatoresespecíficos do ensino,sempresocialmente contextualizados; supõeo professoratuandocomo mediadorentre o aluno e as matérias,entre um sujeitomotivadoe interessadono sabere os conteúdosculturaisvivos,problematizados no confronto com a realidadesocial." I ei tura co rltp lerne n tar Escola e democracia Os conteúdossão fundanrentais. Sernconteúdosrelevatrtes, conteúdossignificativos,a aprendizagemdeixa de existir. Ela se transfonÌìanum arremedo. lila se transfornìanunÌa farsa. Parece-me,pois, fundanrentalque se entenda isso e que, no interi<lrda escola,nós zrtuenros segundocssarnáxima:a prioridade aos conteúdosé a única forma de lutar contra a farsado ensino. Por que os conteúdossão prioritários?Justalnenteporque o domínio da cultura constitui itìstrunìentoindispensávelp^r.à.à participaçãollolítica das massas.Se os membros da^scanrada-s populares não dominanr os conteúdos culturais, eles não podenr fazerv.aleros seusinteresses,porque ficam desarnrados contra os dominadores,que se servenrexatamentedessesconteúdosculturais para legitinrar e consolidar a sua dominação. Eu cosíumo, às vezes, enunciar isso da seguinteforma: o donrinado não se liberta se ele não vier a dominar aquilo que os donìinantesdominanr.Iìntão,dontinar o que os donrinantesdominarné condiçãode libertação. Nessesentido, eu posso ser profundanrentepolíüco na minha açío pedagógica, nresmo que não fale diretamente de política. Isso porque, ao veicular os conteúdos da própria cultura burguesa e ao instrumentalizar os elementos das camadasp<lpularcspara assimilar essescontcúdos, estou criando condições para que eles façam valer os seus interesses.íì nessesentido, então, que politicanrentese fortalecem.Não adianta nada eu ficar sempre repetindo o refrão de que a sociedadeé dividida em dua-sclassesfundamentais,burguesia e proletariado,que a burguesiaexplora o proletariadoe que quem é proleúrio está sendo explorado, se o que está sendo explorado não assimila os instrunÌentos atravésdos quais ele possase organizar para se libertar dessaexploração. Associadaà prioridade do conteúdo,me parecefundamentalque o professor esteiaatentopara a importânciada disciplina.Ou seja,sem disciplinaesses conteúdosrelevantesnão são assinrilados.Então,eu acho que nós conseguiría- r2 lclem, ibitlenr, p. t.3.1-4 T 142 CaÍrítulo (r mos fazer uma profunda reforma na escola, a partir de seu interior, se pa-ssássemosa atuar segundoessespressupostos,mantivéssemos uma preocupação constantecom o conteúdo e desenvolvêssemos aquelasfórnrulas disciplinares, aquelesprocedimentos que garatrtissenlque essesconteúdos fossem realmcnte assimilados.Por exemplo,o problema dos elementosdas camada-s populares nas salas de aula implica redobrados esforços por parte dos responsáveis pelo ensino e, maiSdiretamente,por parte dos professores.O que ocorre, üa de regra, é que dada^sas condições de trabalho e dado o próprio modelo que impregna a atividade cle ensino, trazendo eúgência^se expectativaspara professorese alunos- o próprio professortendea dedicar-seaos alunosque têm mais faci[dade para aprender, deixando à margem aquelesque apresentam maiorcs diÍìculdades.Iì é assirnque nós acabamos,como professores,no interior da salade aula, reforçandoa discriminaçãoe sendopoliticamentereacionários. (Adaptado clc Dermeval Saviani, f.r'cola e denutcnrcia, p. 66-7.) Atividade sobre a leitura complementar Leia o texto complementar, resumindo, com was próprías palauras, a ideia principal que o autor quis transmitir. t Capítulo 7 Escolha dos procedimentos de ensino e organização das experiência^s de apfendizagem 1. Critérios ensino básicos para a escolha dos métodos de no presentee nos próximoscapítulos,esgoNão pretendemos, tar a discussãosobreos métodosde ensinoexistentes.O que pretendemos é oferecer ao leitor, que certamenteserá um futuro professor, ou entío jâ é um professor no exercício de suasfunções,um referencial básico para a aná[se e escolha de procedimentosde ensino.Combasena escolhafeita, ele poderá organízarseusprocedimentosde ensinoe as experiênciasde aprendizagemde seusalunos de forma que melhor se aiustemaos objetivospropostospilra o processoinstrucional. Consideramosprocedimentosde ensinoas "ações,processosou comportamentosplanejadospelo professor,para colocar o aluno .emcontatodireto com coisas,fatosou fenômenosque lhes possibilitem modificar sua conduta,em função dos obietivospreüstos"l. Portanto,os procedimentosde ensino dizem respeitoàs formas de intenenção na salade aula. Como a aprenüzagemé um processo dinâmico, ela só ocorre quando o aluno realizaalgum tipo de ativi- I C. M. Turra et alii, I'hnQantento de ensino e autlittçiìo, p. 126.