Título: O Papel das cooperativas de crédito como agentes do desenvolvimento local: uma análise da UFVCredi e da Unicred Autor: MACEDO, A. dos S.; PINHEIRO, S. F. de; SILVA, T. C. da Fonte: Coletânea de artigos apresentados no I Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo (EBPC). Brasília. 2010. 1 O Papel das cooperativas de crédito como agentes do desenvolvimento local: uma análise da UFVCredi e da Unicred Macedo, Alex dos Santos; PINHEIRO, Sara Ferreira de CAMPOS; SILVA, Telma Coelho da. Universidade Federal de Viçosa [email protected] [email protected] [email protected] Resumo Este artigo foi desenvolvido a partir do projeto de iniciação científica – a importância das cooperativas no desenvolvimento local – tendo o objetivo de compreender como a organização de pessoas em cooperativas de crédito – Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Servidores da Universidade Federal de Viçosa UFVCredi e Cooperativa de Crédito Mútuo dos Profissionais da Saúde de Viçosa e Região UNICRED - pode promover o desenvolvimento econômico e social de seus associados. As cooperativas de crédito são instituições financeiras, que agem como um intermediador financeiro, proporcionando serviços financeiros a custos inferiores do sistema tradicional e defende os interesses de seus associados na comunidade na qual estão inseridos, tendo como objetivo a prestação de serviços a seus associados, sendo-lhes assegurado o acesso aos instrumentos do mercado financeiro. Suas atividades de empréstimos são financiadas por depósitos de poupança feitos pelos membros da cooperativa que compartilha de um vínculo comum de associação, geralmente de natureza geográfica ou de natureza ocupacional. Sabe-se que a relação entre cooperativas de crédito e desenvolvimento local está associado ao fato delas facilitarem acesso ao crédito, geração de renda e de emprego para a comunidade local, ao concederem crédito, aplicação de ativos, podem contribuir para o aumento do consumo na região, fazendo com que a roda da economia gire. É importante ressaltar também que proporciona melhora na vida social dos envolvidos, uma vez que garante empoderamento, satisfação, participação e bem-estar social. Dessa forma este trabalho mostra como analisar o desenvolvimento em regiões onde há formas de cooperação, bem como o potencial que a cooperação possui de causar promoção humana em meio a uma situação de crise. A partir dos dados nota-se que, em ambas as instituições, através da união coletiva os indivíduos conquistaram uma melhoria econômica no sentido de ampliar a sua capacidade de aquisição de bens de consumo e bens de capital (produção), uma vez que muitos relatos convergiram nesta perspectiva. Palavras chaves: Cooperativismo, Cooperativas de crédito e Desenvolvimento Local 1 – Introdução Este artigo estrutura-se a partir da necessidade de esclarecer o grau de influência da cooperativa na vida de pessoas que se encontram excluídas da sociedade por falta de respostas das políticas nacionais ao acirramento do 2 desemprego e da crise social no plano local. Neste sentido as pessoas vêem-se obrigadas a se organizar coletivamente em cooperativas para buscar meios de agregar valor à produção, elevar a produtividade, aumentar o volume produzido e possibilitar uma melhor distribuição de renda. Ao analisar uma sociedade – onde indivíduos compartilham interesses, obedecem a normas, estabelecem relações, praticam costumes semelhantes, promovendo laços culturais – observa-se que ela possui uma característica básica, que é a necessidade de crescimento, de mudança. Nessa perspectiva, nem todas as sociedades conseguem atingir esse objetivo, pois possuem altos índices de desemprego, proporcionando baixo poder de aquisição, renda mínima familiar ínfima e condições subumanas de vida, gerando exclusão social e imensa insatisfação por parte das pessoas. Diante dessa situação se faz necessário programar medidas que promovam o desenvolvimento local. Segundo (Cragnolio, 2000 apud Tenório 2007. p. 90) desenvolvimento local é: é um processo de desenvolvimento centrado num território concreto em que os protagonistas são uma pluralidade de atores que ocupam determinadas posições no espaço social e que estabelecem relações em função de metas e projetos comuns. Estes atores se vinculam de acordo com o sistema de ação local; podem ser individuais ou coletivos; agrupam-se, segundo provenham do Estado ou do setor não governamental, em atores públicos e atores de sociedade civil; também podem ser distinguidos, de acordo com o âmbito de ação, em atores econômicos, atores sociais, atores políticos e governamentais e podem ser também atores institucionais ou interinstitucionais. Pode-se caracterizar, portanto, a possibilidade de cooperação como uma forma de desenvolver projetos e unir pessoas em prol de alcançar o progresso da região. A cooperação tem o poder de mobilizar os indivíduos no intuito de buscar estratégias de sobrevivência, bem como melhores condições de trabalho e de renda a fim de inserir o indivíduo no mercado de trabalho. Esse tema possui grande relevância uma vez que trata de realidade enfrentada por muitas pessoas que sonham com um mundo mais justo. Segundo Tenório (2007) o desenvolvimento local pressupõe a reciprocidade, a solidariedade em benefício do bem estar socioeconômico, político, cultural e ambiental do local. Neste sentido, a organização de pessoas em cooperativas proporciona desenvolvimento local e inclusão social, promovendo mudanças sociais econômicas, políticas e culturais? Para tanto, foram escolhidas duas instituições como objeto de estudo, a UFVCredi – Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Servidores da Universidade Federal de Viçosa e a Unicred Viçosa - Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Profissionais da Área de Saúde de Viçosa e Região. 2 – Referencial Teórico O referencial teórico é responsável por sustentar a pesquisa científica. Assim, o estudo da literatura contribui para as construções teóricas, comparações e validação do trabalho. A presente revisão envolve a consulta a artigos, teses, livros 3 didáticos e dissertações, que abordam os temas: cooperativismo, cooperativa de crédito, intermediários financeiros e desenvolvimento local. Segundo Santos (2009) as cooperativas de crédito são consideradas instituições financeiras, pois são intermediadoras de crédito, elas facilitam e desburocratizam o acesso ao crédito a grupos com recursos menores, que individualmente não conseguiriam determinadas vantagens. Suas atividades de empréstimos são financiadas por depósitos de poupança feitos pelos membros da cooperativa que compartilham de um vínculo comum de associação, geralmente de natureza geográfica ou de natureza ocupacional. O objetivo dessas cooperativas de crédito, no entendimento de Shardong (2002), sempre foi promover a captação de recursos financeiros para financiar as atividades econômicas dos cooperados, a administração das suas poupanças e a prestação dos serviços de natureza bancária por eles demandados. Dessa forma, o cooperativismo evoluiu e conquistou um espaço próprio, definido por uma nova forma de pensar o homem, o trabalho e o desenvolvimento social. Por unir as pessoas através da ajuda mútua, assumindo uma forma igualitária e social, o cooperativismo é aceito por todos os governos e reconhecido como fórmula democrática para a solução de problemas sócio-econômicos. Diante do exposto, ao analisar a importância das cooperativas, é necessário compreender o seu significado, de acordo com a lei 5764-71, as cooperativas “são sociedade de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados.” A instituição cooperativa tem uma característica própria e se fundamenta nos valores humanos e dignidade pessoal. É um instrumento que busca a solução de problemas que, de maneira individual, apresentam dificuldades a serem resolvidas. Objetiva viabilizar o cooperado economicamente através de programas de prestação de serviços, desenvolvimento cultural e profissional solidificados numa estrutura administrativa eficiente, qualificada, confiável e respeitável, em busca de resultados. Inseridas no meio econômico financeiro do país desde 1902, as cooperativas de crédito se apresentam com singular importância para a sociedade brasileira, na medida em que promovem a aplicação de recursos privados e públicos, assumindo os correspondentes riscos em favor da própria comunidade onde se desenvolvem. Neste sentido, sobre o pensamento de Saunders (2000) elas agem como intermediador financeiro, reduzindo custos de monitoramento, custo de liquidez, risco de variação de preço, custo de informação, custos de transação e intermediação de prazos. Os principais serviços financeiros que as cooperativas de crédito oferecem aos associados são: concessão de crédito, captação de depósitos, prestação de serviços de cobrança, de custódia, de recebimentos e pagamentos por conta de terceiros sob convênio com instituições financeiras públicas e privadas e de correspondentes no País, além de outras operações específicas e atribuições estabelecidas na legislação em vigor. (SEBRAE, 2009, p 106). Percebe-se o papel das cooperativas de crédito na Resolução 3859/10, do Conselho Monetário Nacional, que dispõe sobre a constituição e o funcionamento de cooperativas de crédito, em seu Art. 35 ressalta, dentre outras, as seguintes operações e atividades: I - captar, somente de associados, depósitos sem emissão de certificado; obter empréstimos ou repasses de instituições financeiras nacionais ou estrangeiras, 4 inclusive por meio de depósitos interfinanceiros; receber recursos oriundos de fundos oficiais e, em caráter eventual, recursos isentos de remuneração ou a taxas favorecidas, de qualquer entidade, na forma de doações, empréstimos ou repasses; II - conceder créditos e prestar garantias, somente a associados, inclusive em operações realizadas ao amparo da regulamentação do crédito rural em favor de associados produtores rurais; III - aplicar recursos no mercado financeiro, inclusive em depósitos à vista e depósitos interfinanceiros, observadas eventuais restrições legais e regulamentares específicas de cada aplicação; e IV - proceder à contratação de serviços com o objetivo de viabilizar a compensação de cheques e as transferências de recursos no sistema financeiro, de prover necessidades de funcionamento da instituição ou de complementar os serviços prestados pela cooperativa aos associados. Desde o seu surgimento as cooperativas de crédito passaram por várias mudanças a fim de se adequarem as normas e legislações impostas pelo governo. Atualmente são reguladas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil (BACEN). As atividades supracitadas só podem ser realizadas com seus associados, em virtude de sua natureza jurídica. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (2009) a maior parte dos seus recursos tende a ficar no próprio município, contribuindo para o seu desenvolvimento. Nota-se que em razão do baixo custo operacional e apesar da natureza empresarial, as cooperativas de crédito podem fornecer aos seus associados empréstimos com juros menores que os praticados pelos bancos locais e remunerar suas aplicações com taxas superiores as dos mercados. Dessa forma, ao que tudo indica, as cooperativas de crédito contribuem para o desenvolvimento local, agindo em prol do melhoramento de vida das pessoas da região onde atuam. Para tal, exercem o papel de intermediador financeiro. Os intermediários financeiros captam recursos junto aos agentes econômicos superavitários mediante uma taxa de captação e os emprestam aos agentes econômicos deficitários mediante outras taxas, que deve cobrir o custo de captação, os gastos de intermediação, o risco e os tributos e, ainda, gerar resultado para a atividade de intermediação. (CLEMENTE; KÜHL, p. 01) Para o Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (2009) as cooperativas de crédito promovem a aplicação de recursos e tomada de empréstimos com taxas diferenciadas dos bancos da praça, visto que o baixo custo operacional, devido a sua reduzida estrutura física e de pessoal, podem fornecer empréstimos com juros menores que os praticados pelos bancos locais e, ainda, remunerar as aplicações de seus associados com taxas superiores às do mercado. Nas cidades médias e pequenas que dispõem de uma ou mais cooperativas de crédito bem estruturadas, a formação das taxas de captação e empréstimo é feita pela cooperativa, forçando os bancos comerciais concorrentes a acompanhá-la. Nas grandes cidades e capitais, esse fenômeno pode ser verificado nos bairros onde há ocorrência de cooperativas de crédito, principalmente daquelas de comerciantes. Além do mais, as cooperativas de crédito promovem a irrigação da economia local, ou seja, só podem operar com seus associados, a maior parte dos seus recursos tende a ficar no próprio município, contribuindo para o seu desenvolvimento. Já os bancos comerciais, os correspondentes bancários e os bancos postais retiram recursos da comunidade, captando as poupanças locais e aplicando-as nas praças que oferecem maiores possibilidades de lucro. 5 Assim, segundo Tânia Fischer (2002) existem dois sentidos e significados para o desenvolvimento local, segundo ela estão orientados para competição e para a cooperação. O primeiro está relacionado à economia, visto que contempla: “recursos humanos qualificados; relações econômicas entre produtores e clientes; circulação de informações entre agentes; instituições e indivíduos; existência de uma estrutura institucional desenvolvida; construção de uma identidade sociocultural facilitadora de confiança”. Enquanto o segundo aborda o desenvolvimento local direcionado à cooperação, há uma orientação para os seguintes itens: “inspira-se nos valores da qualidade e cidadania, isto é, na inclusão plena de setores marginalizados na produção e no usufruto dos resultados, não rejeitando a idéia de desenvolvimento econômico, mas impondo-lhes limites e subordinando-a aos imperativos não econômicos; privilegia a escala local, tanto no objeto quanto na ação social; salientam as formas de produção não capitalistas e estratégias econômicas autônomas, com tecnologias apropriadas”. (Fischer, 2002, p. 21-22 apud Tenório, 2007, p. 88-89). Para que a cooperativa de crédito possa realmente ter um papel de intermediador financeiro, é preciso que a mesma profissionalize sua gestão. Pois adotando boas práticas de governança, a organização tende a conseguir o sucesso, principalmente no que se refere a segurança e o retorno dos associados, proporcionando assim uma melhora no desenvolvimento da localidade. Segundo Amodeo (2006) o perigo está em acreditar que uma adequada gestão empresarial pode substituir ou prescindir de uma adequada gestão social para obter a tão almejada competitividade. Do mesmo modo, ênfase exclusiva na gestão social ou política das cooperativas, sem uma clara preocupação com os aspectos empresariais, econômicos e financeiros, também não fará das cooperativas a ferramenta de desenvolvimento almejada, logo os mesmos devem caminhar lado a lado. Dentro desta lógica, Bialoskorski Neto (2006) defende que para as funções sociais serem exercidas, tem-se que co-operar a organização cooperativa de modo economicamente eficiente, isto é, se não existir eficiência econômica também não existira geração de renda e, portanto, não haverá prestação de serviços e distribuição de renda. Então, para alcançar a eficácia social, a cooperativa deve apresentar a eficiência econômica. Esses pressupostos implicam crescimento econômico em gestão especializada e em posicionamento de mercado da organização cooperativa de acordo com a lógica da economia. Segundo Tenório (2007) as cooperativas podem articular a gestão empresarial com a gestão social no sentido de promover o desenvolvimento local, tendo um processo de articulação, coordenação e inserção dos empreendimentos empresariais associativos e individuais, comunitários, urbanos e rurais, tendo como base uma nova dinâmica de integração socioeconômica, de reconstrução do tecido social, de geração de renda”. O setor cooperativista é de singular importância para a sociedade, na medida em que promove a aplicação de recursos privados e assume os correspondentes riscos em favor da própria comunidade onde se desenvolve. Por representar iniciativas dos próprios cidadãos, contribui de forma relevante para o desenvolvimento local sustentável, especialmente nos aspectos de formação de poupança e de financiamento de iniciativas empresariais que trazem benefícios evidentes em termos de geração de empregos e de distribuição de renda. Ele ocupa com bastante eficiência, espaços deixados pelas instituições bancárias, como resposta ao fenômeno mundial da concentração, reflexo da forte concorrência no 6 setor financeiro. As cooperativas estão conseguindo manter os empregos nas pequenas comunidades e ofertar serviços mais adequados às necessidades locais. Os processos de desenvolvimento local supõem esforços articulados de atores estatais e da sociedade, dispostos a levar adiante projetos que surjam da negociação de interesses, inclusive divergentes e em conflito. A lógica do desenvolvimento local, portanto, necessita do surgimento e fortalecimento de atores inscritos em seus territórios e com a capacidade de iniciativa e propostas socioeconômicas que promovam as potencialidades locais, apostando em uma melhoria integral da qualidade de vida da população. De acordo com a doutrina cooperativista, o crédito cooperativo não deve ser considerado um fim, mas um meio através do qual são atendidas as necessidades do homem enquanto membro da comunidade. Uma das prioridades do crédito cooperativo é garantir a melhoria da qualidade de vida das pessoas, proporcionando o progresso familiar. Sua essência inclui uma sólida e ativa participação de cada associado, o que permite a consolidação de uma estrutura descentralizada, possibilitando uma atuação democrática dos cooperados. 3 – Metodologia Inicialmente, a metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, com a finalidade de conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre o assunto, buscando informações e dados disponíveis em publicações como livros, teses e artigos. Outro método foi a pesquisa documental, visando o levantamento de informações dos produtos e projetos oferecidos aos associados na promoção do desenvolvimento econômico e social. Nesse sentido, foi aplicada uma entrevista estruturada de caráter de coleta de informações junto ao membro representante de cada uma das organizações, visando avaliar a eficiência dos produtos e projetos das cooperativas supracitadas. Dessa forma, foi feita uma relação lógica e fixa de perguntas, de ordem e redação invariável, para ambas as instituições. Foram aplicadas pessoalmente, permitindo capturar informações, dentre outras questões, a respeito do quadro social, da capitalização dos recursos, das linhas de crédito de maior relevância para os associados, dos possíveis projetos vinculados a essas linhas de crédito, bem como dos projetos sociais, a integração da cooperativa com a população de Viçosa, o grau de participação dos associados na tomada de decisão segundo a visão da diretoria e a utilização do FATES - Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social. Logo após para verificar e analisar a eficiência desses produtos e projetos junto ao quadro social utilizou-se o método de Survey, no qual os dados foram coletados através de questionários semi-estruturados. Foi utilizada como amostra, associados das duas cooperativas – UFVCredi e UNICRED.A amostragem da população foi de 10% do total de associados de cada organização. Tal amostragem foi aleatória simples, onde a seleção de um membro da população não interferiu na probabilidade de seleção de outro membro, onde todos tiveram chances iguais de participarem. Os questionários foram analisados por seleção, onde foi feito o exame detalhado dos dados coletados. Sendo submetido, portanto, a uma verificação crítica e minuciosa. Em seguida foi realizada a decodificação, uma técnica operacional utilizada para categorizar os dados que se relacionam. Seguindo-se à tabulação, onde os 7 dados foram dispostos em tabelas, possibilitando maior possibilidade de verificação das interrelações entre eles. 3.1. As Cooperativas Atualmente a Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Servidores da Universidade Federal de Viços – UFVCredi conta com cerca de 2100 associados, a instituição oferece os seguintes produtos: cheque especial; empréstimo longo prazo; empréstimo pessoal; desconto de cheque; antecipação salarial, 13º salário e férias; adiantamento IRRF; financiamento de IPVA e IPTU; aplicações financeiras e cartão de crédito e débito. A linha de crédito principal em termos de importância, ou seja, a que traz mais retorno financeiro para a cooperativa é o empréstimo de longo prazo, que é o crédito pessoal. Foi criada para financiar atividades diversas dos associados não tendo um objetivo único; Já a Cooperativa de Crédito Mútuo dos Profissionais de Saúde de Viçosa e Região Unicred surgiu do almejo comum entre alguns médicos em formar um grupo que tivesse as mesmas idéias e juntos conseguissem um fortalecimento para a classe. Daí surgiu à idéia de uma cooperativa, símbolo de união e trabalho em comum. Neste sentido, a cooperativa foi fundada em 3 de Dezembro de 1993, sobre a razão social de cooperativa de economia e crédito mútuo dos médicos de viçosa. Hoje a Unicred Viçosa recebe todos os profissionais de saúde da região. Atualmente conta com cerca de 850 associados. Os seus principais produtos e serviços são: empréstimo – cheque especial; crédito pessoal; financiamento de veículos, equipamentos de informática e profissionais, imobiliários e de impostos; serviços – atendimento personalizado; baixo custo de tarifas em conta corrente; cartão de crédito e débito; conta salário; convênios com empresas; crédito da produção profissional (honorários) dos diversos convênios; etc. A cooperativa acredita que ao oferecer créditos aos associados, contribui para agregação de valor sobre a renda, uma vez que, permite investimentos para melhorar o serviço profissional, Ambas exercem grande importância na vida dessas pessoas, visto que cobram taxa de juros menores sobre os seus produtos em relação às outras instituições financeiras e, é claro, estão presentes nos momentos de maiores necessidades. Por esses motivos, foram escolhidas como foco para avaliação dos impactos no desenvolvimento de seus associados. 4 – Resultados e Discussões A fim de conhecer o grau de influência que as cooperativas exercem na vida das pessoas envolvidas, fez-se necessário questionar, qual a importância perante os associados. Na UFVCredi, 62% destacaram que a cooperativa possui grandes vantagens e facilita a vida financeira, financiando o consumo, tendo maior agilidade na negociação de empréstimos, no acesso a recursos sem burocracia, possuindo taxas de juros menores, auxiliando nos problemas emergenciais. Já 12% acreditam que é muito melhor ser sócio do que apenas cliente, pois a cooperativa ajuda os funcionários, procura sempre o melhor para os mesmos, fortalecendo o trabalho das pessoas, através dos laços de confiabilidade, respeito e amizade, 8,8 % dos 8 entrevistados acreditam que a instituição, é importante devido aos serviços que ela oferece. Nesse sentido 3,3% dos entrevistados acreditam que a cooperativa é importante devido à orientação que lhes proporcionaram, uma vez que, alguns dos entrevistados se sentiam explorados pelos bancos e a cooperativa foi um norte para a vida financeira, ajudando no momento de imprevistos. E 3,9% acham que a cooperativa tem como objetivo reverter o dinheiro em benefício do associado, fazendo com que o associado participe das sobras, 4,2% ressaltaram que é importante, mas não souberam explicar o motivo. E o restante, 5,8% entendem que a cooperativa não interfere em nada, apenas utilizam como serviços bancários normais, não tendo assim grande importância. Já na UNICRED, destaca-se que os associados vêm à cooperativa como um facilitador nas transações bancárias, fortalecedor da profissão, “facilidade para aquisição de crédito urgente, poupar tempo em fila de banco” e “a experiência de praticar a união coletiva”. De acordo com um dos princípios da doutrina cooperativista, gestão democrática pelos membros, as cooperativas são organizações democráticas controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões, procurou-se saber a relação que o cooperado possui com a cooperativa enquanto dono-usuário dos seus serviços. Na UFVCredi, dividiu-se muito a opinião entre os entrevistados, sendo que 50,36%se sentem como tal, disseram que “o cooperado é dono”, “gestão democrática”, “foi fundada por nós”, “o cooperado contribui com a cooperativa”, “tratamento de dono”, “o cooperado contribui com a cooperativa, com o capital”, “posso exigir atendimento correspondentes às necessidades”, “sim, pago pra mim associar e tenho total liberdade de expor a situação financeira e tem a Assembléia; eles não fazem nada por conta própria”. Já 46,35% não acreditam que são donos-usuários, pois se sentem à vontade mas apenas como usuário, pois o fato de ter facilidades nos empréstimos, de possuir vantagens, ter flexibilidade e liberdade nas movimentações somente não faz com que eles se sintam donos do empreendimento. Acreditam que na prática são só donos na divisão das sobras, outros relataram que os diretores se sentem os donos da mesma, fazendo com que o cooperado não tenha liberdade na cooperativa, existindo portanto limites, pois muitas vezes eles não conseguem o que desejam. Os demais 3,28% se sentem em partes dono-usuário, justifica-se pela não participação ativa na cooperativa resolvendo apenas questões rotineiras Gráfico 1 – Relação dono-usuário UFVCredi Fonte: Dados da Pesquisa 9 Agora na UNICRED, ao perguntar o associado se ele sente como donousuário da cooperativa, 81,25% responderam que sim. Devido à participação nas assembléias e pela atenção que é oferecida para os associados, fazendo com que se sintam mais próximos da organização. Outros pontos destacados é a importância do bom atendimento, do clima de amizade, da facilidade de acesso aos gerentes e pelo propósito do cooperativismo, o que faz com que o associado se sinta a vontade na instituição. No entanto, 12,5% responderam que não se sente dono-usuário da cooperativa, por não querer sentir dono, e porque as decisões da cooperativa, não são apenas em favorecimento deles, mas sim de todos. E o restante 6,25% se sentem parcialmente donos-usuários. Gráfico 2 – Relação dono-usuário UNICRED Fonte: Dados da Pesquisa No intuito de se conhecer o aspecto econômico-financeiro dos cooperados da UFVCredi, buscou informações a respeito das linhas de crédito oferecidas pela cooperativa, bem como das suas transações com a instituição. Nesse sentido, foi perguntado inicialmente a respeito da última vez que houve necessidade por parte do associado em utilizar tais linhas de crédito. Grande parte dos entrevistados, 65,93%, precisou de recursos da cooperativa nos últimos sei meses. Denotando a importância da instituição para ajudar resolver problemas financeiros diários que venham a surgir na vida dessas pessoas. Já 16,85% dos membros têm mais de um ano que utilizaram, onde fizeram algum investimento ou compraram algum bem de notável relevância. Outros 10,26% utilizaram há mais ou menos um ano e uma pequena parcela dos associados, 6,69%, nunca precisaram fazer uso de empréstimos e só recebem seus salários através da cooperativa ou a usam para poupar. Nessa perspectiva, procurou-se saber também qual a importância desses créditos na vida dos cooperados. Por que essas pessoas viram a necessidade de fazer uso dos recursos da cooperativa. As respostas foram variadas, mas convergiram no sentido de que os ajudam a conseguirem algo almejado ou resolver de alguma forma questões econômicas que os incomodavam. Foram apresentadas questões como regularizar as contas, auxílio aos estudos de membros da família do cooperado, construir e reformar a casa, ajudar resolver problemas de saúde, comprar carro e moto, comprar terreno, suprir as necessidades e complementar o orçamento familiar 10 Em relação à UNICRED, 68,75% precisaram de recursos nos últimos seis meses, 12,50% há um ano e mais de um ano e 6,25% nunca solicitaram auxílio financeiro da instituição. Continuando a investigação, foi questionado aos associados se esse crédito proporcionou alguma melhoria na sua renda, se houve algum incremento. A maioria dos entrevistados relatou que houve uma melhoria de vida devida ao melhoramento da renda, 69,14%. Justificando que esses créditos ajudaram a resolver diversos problemas em âmbito sócio-econômico, cultural, educacional e de saúde. Saindo de uma possível situação de caos, chegando a uma situação de mais conforto, alcançando até mesmo uma vida mais tranqüila. Dessa forma, segundo os cooperados, a cooperativa por meio de suas linhas de crédito, ajuda demais, o terreno valorizou, alivia muito a questão financeira, “através dela que coloco a mercadoria e vendo”, “a educação da minha filha, sem isso não conseguiria bancar os estudos dela”, “não precisei gastar o valor bruto da minha renda”, “financiei os estudos dos meus filhos”, “hoje não pago aluguel, tenho o imóvel”, após investir na construção conseguiu alugar o imóvel, “antes tinha acesso mais difícil aos materiais pra construção e a cooperativa faz este intermédio na compra”, conseguiu fazer curso a distância, “agregou valor, não sendo necessário recorrer aos outros bancos”, “o objetivo da cooperativa é esse”. Fica claro quão grande é a importância da cooperativa de crédito na vida das pessoas envolvidas com ela direta e indiretamente. Melhorando suas vidas de forma significativa. Em uma porcentagem menor, alguns associados acham que esse recursos solicitados à cooperativa, não proporcionou nenhuma mudança na renda. Apenas ajudou a saldar compromissos, algo momentâneo. Vêem a organização como uma fonte de pagar contas e cobrir despesas. Segundo o relato de um associado, o recurso utilizado não incrementou a renda, mas resolveu. Com intuito de verificar se o quadro social recebe orientação financeira por parte das cooperativas, foi questionado se existe alguma orientação por parte da mesma sobre a melhor forma de utilizar o recurso pretendido. Outra vez as respostas se dividiram, 48,89% falaram que não, que a cooperativa não interfere nesse tipo de operação, que muitas pessoas quando solicitam um empréstimo já sabem para quê precisam e quanto precisam. Algumas pessoas manifestaram gostar desse comportamento por parte da organização, pois, segundo os associados, fazer esse tipo de transação é algo muito pessoal e não cabe interferência de terceiros. Já 47,41% relataram que a instituição orienta o cooperado quando precisa fazer o empréstimo, que os atendentes os ajudam a decidir qual a melhor forma de realizar tal operação. Muitos disseram que aprovam essa atitude da cooperativa, acham importante, se sentem mais seguros ao fazer o empréstimo. 11 Gráfico 3 – Orientação Financeira UFVCredi Fonte: Dados da Pesquisa Já na UNICRED, 69% dos entrevistados disseram que recebe alguma orientação quando solicitam algum empréstimo e 39% ressaltaram que não há esta orientação. Veja o gráfico abaixo: Gráfico 4 – Orientação Financeira UNICRED Fonte: Dados da Pesquisa 6) Conclusão A partir destes dados nota-se que, em ambas as instituições, através da união coletiva os indivíduos conquistaram uma melhoria econômica no sentido de ampliar a sua capacidade de aquisição de bens de consumo e bens de capital (produção), uma vez que muitos relatos convergiram nesta perspectiva. Isso se deve muito ao fato das cooperativas possuírem linhas de crédito diferenciadas das outras instituições financeiras, pois atendem especificamente as necessidades dos seus cooperados. No âmbito sociocultural, no que tange as relações das pessoas entre si e seus interesses, os dados supracitados revelam que há um melhoramento da vida das pessoas através da ação coletiva, pois fortalece os laços de amizade, respeito, costumes e valores de união, transmitindo confiabilidade, além do fato, delas serem 12 mais respeitadas enquanto cooperados a ser simplesmente mais um cliente de outra instituição financeira (banco). Diante dessa abordagem, percebe-se a relevância das instituições financeiras para a sociedade, principalmente as cooperativas de crédito que promovem a aplicação de recursos privados em favor de seus associados e da comunidade na qual está inserida. Uma vez que elas atuam como intermediador financeiro, interligando a população com serviços bancários mais acessíveis, tendo menores taxas de juros, atendimento personalizado e linhas de créditos condizentes com a realidade dos associados. Para que ela promova tais benefícios, é preciso contar com uma gestão profissionalizada, que atenda a eficiência econômica e as questões sociais da comunidade. Com uma gestão executiva, que priorize a eficiência econômica e uma gestão social que leve em consideração as necessidades dos associados, poderá promover um desenvolvimento local sustentável, se as mesmas estiverem caminhando lado a lado. Para que as cooperativas promovam o desenvolvimento local, entendido como melhoria qualitativa e quantitativa das condições de vida, caracterizado a partir das perspectivas teóricas que o enfatizam como processo, onde os indivíduos se posicionam como sujeitos e não como objeto das políticas e das ações é essencial que se realize uma gestão eficiente, combinando a gestão empresarial com a gestão social. No caso específico das cooperativas de crédito, esses são os fatores a serem observados para que não acabem transformando somente num banco comercial de pequeno porte, sem significativo aporte à vida dos seus associados e da comunidade onde estão inseridos. As cooperativas de crédito apesar de sua natureza empresarial apresentam características que conduzem a conjunto de atributos (valores) de responsabilidade social, e, portanto, podem contribuir para um desenvolvimento sustentável da comunidade. Além do mais devem protagonistas na elaboração e implementação de políticas de interesse público. Cabe a elas relevante papel no desenvolvimento econômico e social do município, como órgãos agregadores do empresariado local. 7 – Referenciais Bibliográficos • AMODEO, Nora Beatriz Presno; ALIMONDA, Héctor. (Orgs). Ruralidades: capacitação e desenvolvimento. Viçosa: Ed. UFV/CPDA, 2006. 214p; • BIALOSKORSKI NETO, Sigismundo. Aspectos econômicos das cooperativas. 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