Psicopatologia Geral Da Fenomenologia à Psicopatologia – a construção da clínica Prof. Octavio Domont de Serpa Jr. Diferentes usos da Psicopatologia Usos mais recentes: Descrição precisa de sintomas psiquiátricos → Psicopatologia Descritiva Psicopatologia como sintomatologia (semiologia/glossário) Psicopatologia sintomatológicacriteriológica (Kraus, 1994,2003) ou Psicopatologia da 3ª pessoa Representacionalista Objetividade espécies naturais Operacionalista fidedignidade (seleção de sintomas) Corpo Objetivo ou visto da perspectiva da 3a.pessoa (Körper) freqüentemente estático (corpo do cadáver anátomo-clínica) se dinâmico: movimentos, comportamentos; sem lugar para experiência ou ações atemporal, universal fragmentação, localizacionismo fragmento privilegiado: CÉREBRO (localizações cerebrais) Redescoberta do cérebro: versão intuitiva de um monismo fisicalista reducionista eliminativista Cérebros Adoecem? Ou quem adoece são organismos/sujeitos/pes soas com cérebro? caráter necessariamente corporal – situacional – ativo da constituição da experiência mental: mente e mundo emergem simultaneamente como resultado da interação recíproca entre organismo e meio. O corpo biológico, que habilita ou impossibilita pela sua estrutura, postura e capacidade motora é corpo que que molda a maneira pela qual percebemos e pensamos sobre o mundo “...o fato patológico só pode ser apreendido enquanto tal ao nível da totalidade orgânica [CORPO]; e, em se tratando de organismos humanos, ao nível da totalidade individual consciente (...) [EXPERIÊNCIA] Ser doente é, para o homem, viver uma vida diferente, mesmo no sentido biológico” [NARRATIVA] (Canguilhem, 1943) “Psicopatologia, cujo esforço é iluminar primariamente a qualidade das experiências subjetivas, seus significados pessoais e o padrão pelo qual elas estão situadas como partes de totalidades significativas (...) principalmente concernida com a corporificação e a intersubjetividade” (Stanghellini, 2004) Psicopatologia AntropológicaFenomenológica: Psicopatologia da 1ª e 2ª pessoa “fenômenos”, em vez de sintomas totalidade corporificada e enraizada (embodied e embedded) subjetividade/intersubjetividade modo particular de ser-no-mundo validade Fenomenologia no sentido filosófico continental padrão (Husserl, Heidegger, Merleau-Ponty, Jaspers): - estudo da experiência vivida e de como as coisas se manifestam na e através da experiência; - dimensão subjetiva dos transtornos mentais (≠ do sentido de fenomenologia no uso anglofônico) - compreensão da unidade da subjetividade e do seu desenvolvimento no tempo « world-shaping relation » entre um corpo vivido ou sujeito corporal e o mundo da experiência Fenomenologia de K. Jaspers Fatos particulares da vida psíquica → fenômenos vividos A fenomenologia apresenta estas vivências internas subjetivas dos pacientes, aquilo que existe e ocorre em suas consciências. “A fenomenologia, então, lida com o que é realmente experienciado. Ela vê os eventos psíquicos “como a partir do interior” e os traz para um entendimento imediato” (Jaspers, 1912). Método FenomenológicoExistencial de E. Minkowski Influência sucessiva de Bergson, Scheler, Husserl e Jaspers Ênfase na estrutura temporo-espacial que constitui o pano de fundo a que se liga toda significação Distúrbio gerador (perda do contato vital com a realidade) Forma de vida patológica: estrutura temporoespacial particular Daseinsanalyse de L. Binswanger Ligado a Husserl e Heidegger; diálogo com Freud Modo de considerar, interpretar e compreender os estados psíquicos mórbidos (ônticos) Recolher e caracterizar as expressões simbólicas que traduzem o mundo em que o enfermo vive e seu modo de ser neste mundo Examinar, registrar e descrever as alterações das estruturas totais ou parciais do ser-no-mundo dos enfermos: interpretação antropológica e existencial Loucura: fenômeno biográfico global Desenvolvimentos recentes: - Autismo revisitado: → Minkowski: perda do contato vital com a realidade → Binswanger: colapso na consistência da experiência natural → Blankenburg: perda da evidência natural - Esquizofrenia entendida como transtorno do senso comum (Stanghellini) ou da ipseidade/hiperreflexividade (Parnas, Bovet, Sass, Zahavi) EXPERIÊNCIA Corpo Vivido → Sujeito Experiencial • corporificado (embodied) e situado (embedded) • corpo vivido (Leib): perspectiva (auto-centralização) • ciclo ação/percepção (self agentivo) → esquema corporal: regula postura e movimento a serviço da ação intencional; consciência (awareness) corporal não-objetivante e préreflexiva. → experiência de propriedade (sense of ownership): sujeito do movimento; self ecológico; feedback sensorial multimodal (proprioceptivo, cinestésico, visual, auditivo), modulação eferencial → experiência de agentividade (sense of agency): autoria ou fonte do movimento; eferências (modelo interno) pré-reflexivo, recessivo, implícito, não temático, não conceitual experiência dos próprios estados mentais, sem reconhecimento ou reflexão → What is it like to be...? (Nagel, 1974) pura subjetividade, que se constitui na experiência: aspecto ou função do seu modo de doação da experiência → first-personal givenness totalidade da experiência singularidade da experiência EXPERIÊNCIA Corpo Vivido → Sujeito Narrativo Self extenso, Self autobiográfico, identidade reflexivo; intersubjetivo (depende da inserção em uma comunidade lingüística) reconhecimento da experiência (julgamento e atribuição); comunicação da experiência mediação entre o corpo vivido e o corpo objetivo (ipseidade e alteridade) → imagem do corpo (experiências, atitudes e crenças nos quais o objeto intencional é o próprio corpo) Self extenso, Self autobiográfico, identidade construído na e através da narrativa; construção aberta, sujeita a revisões organiza e dá sentido às experiências vividas singularmente → trajetória de vida, identidade depende de valores, ideais e objetivos ancorados em uma dada cultura Gallagher, 2000 objetividade identidade NARRATIVA intersubjetividade/subjetividade imagem do corpo imagem do corpo subjetividade/intersubjetividade EXPERIÊNCIA sense of agency/ownership esquema corporal corpo vivido Leib modelos funcionais corpo objeto – Körper CORPO anatomia/fisiologia objetividade identidade NARRATIVA intersubjetividade/subjetividade imagem do corpo imagem do corpo subjetividade/intersubjetividade EXPERIÊNCIA sense of agency/ownership esquema corporal corpo vivido – Leib corpo objeto - Körper CORPO anatomia/fisiologia