Jornal da Seção Sindical dos Docentes da UFRJ/Andes-SN Mala Direta Postal 9912224255/2008/DR/RJ/50 Adufrj-SSind Co rreios Devolução Garantida Correios Ano X no 651 Progressões múltiplas no CAp O pedido de progressão múltipla para quatro professores do Colégio de Aplicação foi aceito pelo Consuni realizado em 11 de março. Os processos, que chegaram ao plenário do colegiado em grau de recurso, após recusa da Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD), foram respaldados por depoimento do próreitor de Pessoal, Luiz Afonso. De acordo com ele, não existe na lei que impôs a nova carreira aos docentes do colégio (lei nº 11.784) nenhum obstáculo à progressão múltipla daquele grupo de docentes. A deliberação do Consuni segue requerimento administrativo da AdufrjSSind, que recorreu contra a decisão da CPPD. Página 4 Entrevista: Stédile fala sobre parceria entre MST e UFRJ Página 5 Opinião “Pelas cotas inclusivas de acesso ao ensino superior público” Páginas 6 e 7 www.adufrj.org.br 16 de março de 2010 Consuni vai discutir cotas para o próximo vestibular da UFRJ Página 4 2 16 de março 2010 www.adufrj.org.br Anote Movimento Professores da UnB retomam greve por 26,05% MPOG ameaça cortar índice de parte da categoria, na próxima folha de pagamento No último dia 9, os professores da Universidade de Brasília (UnB) votaram pela retomada da greve pela manutenção e estabilização da parcela referente à Unidade de Referência de Preços (URP) nos salários. A URP representa 26,05% da remuneração e tem relação com as perdas salariais causadas por um plano antiinflacionário do governo no fim da década de 80. Foram 154 votos pela paralisação das atividades contra seis e apenas uma abstenção. O movimento grevista – que dá continuidade a uma paralisação ocorrida no final do ano passado pelo mesmo motivo – é uma resposta à ameaça do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) de cortar o índice, na folha de pagamento de março, de todos os servidores que não foram beneficiados pela reclamação trabalhista original e pelas liminares posteriores (concedidas em 2005 pelo Supremo Tribunal Federal, no qual ainda tramitam as ações). Em nota divulgada na página eletrônica da Seção Sindical dos Docentes da UnB (www.adunb.org.br), as comissões de mobilização e de comunicação e estratégia da greve exigem o pagamento integral dos salários: “Não aceitaremos que nos imponham a lógica perversa do ‘dividir para reinar’. Não aceitaremos qualquer solução que quebre a isonomia salarial na UnB. Não aceitaremos que alguns docentes recebam seu salário integral e outros não. Não aceitaremos que os servidores técnico-administrativos tenham seus salários cortados. A UnB é obra de todos nós!”, diz um trecho. Cinema & Política Assessoria/ADUnB Votação maciça confirmou a greve Haverá nova assembleia para decidir os próximos passos do movimento neste dia 16, pela manhã Haverá nova assembleia para decidir os próximos passos do movimento neste dia 16, pela manhã. Também nesta data, ocorre uma reunião dos grevistas com a bancada do Distrito Federal na Câmara. Sintfub consegue decisão favorável no TRF O sindicato local dos técnico-adminis- trativos (Sintfub) entrou com uma petição no Tribunal Regional Federal, requerendo mais um amparo judicial para garantir o pagamento da URP à categoria. O MPOG havia afirmado que os técnico-administrativos da UnB não teriam direito ao recebimento da parcela, pois não possuíam liminar que os protegesse. No dia 11, os servidores obtiveram decisão favorável da desembargadora Neuza Alves, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, que reforça a determinação do pagamento do índice até o desfecho final do processo no STF. O Sintfub está com indicativo de greve para este dia 16, quando realiza uma Assembleia Geral. Com informações do site da Adunb-SSind Agenda Sindical 19 e 20/3 - Reunião do Grupo de Trabalho Política Educacional (GTPE) do Andes-SN Brasília (DF) 27 e 28/3 - Reunião da Coordenação Nacional da Conlutas Rio de Janeiro (RJ) – em São Cristóvão, no Teatro Mario Lago, do Colégio Pedro II 27/3 - Reunião do GT de Saúde da Conlutas Rio de Janeiro (RJ) – em São Cristóvão, durante a reunião da Coordenação Nacional. O Centro Cultural da Justiça Federal recebe o evento “Cinema & Política: mostra e seminário”, de 16 a 21 de março, sempre a partir das 15h. O Centro fica na Av. Rio Branco, 241, no Centro do Rio, Programação dos primeiros dias: Dia 16 – terça-feira Cinema e ditadura 15h. Madres de Plaza de Mayo: Memória, Verdade, Justiça Carlos Pronzato (2009) Idioma esp. - legenda port. - classificação indicativa 12 anos 17h. Condor Roberto Mader (2007) Idioma ing., esp. - legenda port. classificação indicativa 12 anos 19h. Mesa redonda - Golpe de Estado e processos revolucionários Mediador: Jorge Vasconcellos (Gama Filho; UFF) Debatedores: Roberto Mader (Cineasta) Carlos Eugênio Paz (Escritor e ex-dirigente da ALN) Dia 17 – quarta-feira Cinema e Processos Revolucionários 15h. Marighella: retrato falado do guerrilheiro Silvio Tendler (2001) Idioma port. - sem legendas classificação indicativa 12 anos 17h. Carabina M2 Una Arma Americana: Che na Bolívia Carlos Pronzato (2007) Idioma esp. - legenda port. - classificação indicativa 12 anos Dia 18 – quinta-feira Cinema e Libertação Nacional 15h. A Las Cinco en Punto José Pedro Charlo (2004) Idioma esp. - legenda esp. classificação indicativa 12 anos 17h. Salvador Allende Patricio Guzmán (2004) Idioma esp. - legenda port. classificação indicativa 12 anos 19h. Mesa redonda Fim da Ditadura: abertura e esquecimento Mediador: Juan David Posada (UniverCidade) Debatedores: Daniel Aarão Reis (UFF) Dênis de Moraes (UFF) Dia 19 – sexta-feira Cinema e Movimento Sindical 15h. Braços Cruzados, Máquinas Paradas Roberto Gervitz (1978) Idioma port. - sem legenda classificação indicativa 12 anos 17h. Volta Redonda: o Memorial da Greve Eduardo Coutinho, Sérgio Goldemberg (1989) Idioma port. - sem legenda - classificação indicativa 12 anos SEÇÃO SINDICAL DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO DO SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR Sede e Redação: Prédio do CT - bloco D - sala 200 Cidade Universitária CEP: 21949-900 Rio de Janeiro-RJ Caixa Postal 68531 CEP: 21941-972 Tel: 2230-2389, 3884-0701 e 2260-6368 Diretoria da Adufrj-SSind Presidente: Luis Eduardo Acosta Acosta 1ª Vice-Presidente: Maria Cristina Miranda da Silva 2º Vice-Presidente: Salatiel Menezes dos Santos 1º Secretário: Eduardo Granja Coutinho 1ª Secretária: Sandra Martins de Souza 1ª Tesoureira: Maria Mello de Malta CONSELHO DE REPRESENTANTES DA ADUFRJ-SSIND Instituto de Química: Marylena Barreiros Salazar (titular); Escola de Serviço Social: Cleusa dos Santos (titular); Sara Granemann (titular); Edição e reportagem: Ana Manuella Soares Reportagem: Kelvin Melo de Carvalho Diagramação: Douglas Pereira Estagiária: Dally Velloso Lemos Schwarz Tiragem: 8.000 E-mails: [email protected] e [email protected] Redação: [email protected] Diretoria: [email protected] Conselho de Representantes: [email protected] Página eletrônica: http://www.adufrj.org.br www.adufrj.org.br/observatorio Os artigos assinados não expressam necessariamente a opinião da Diretoria. 16 de março 2010 3 www.adufrj.org.br Colegiados Pró-reitora de Graduação informa sobre Enem e Sisu durante reunião do CEG Em sessão do Conselho de Ensino de Graduação (CEG), no dia 10 de março, a pró-reitora Belkis Valdman informou que houve, na semana anterior, em Brasília, uma reunião entre o Ministério da Educação (MEC) e diversas universidades do país a respeito do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para surpresa de muitos conselheiros, as observações dos representantes das instituições sobre o Sisu foram muito favoráveis e não havia qualquer posicionamento do ministério a respeito de possíveis mudanças nesse modelo de seleção de vestibular. Na mesma reunião, as universidades do Norte e Nordeste apontaram que a procura de vagas nesse ano teria sido majoritariamente da própria região, enquanto que no Sul houve mais demanda externa. Segundo Belkis, a UFRJ foi muito elogiada na reunião por ter conseguido manter seu calendário ajustado, apesar de todas as confusões de datas no ano passado. O MEC também informou que, em abril, fará uma nova chamada para as universidades que necessitarem preencher as vagas do segundo semestre, com o aproveitamento do Enem de 2009. E, como aconteceu no ano passado, o Enem de 2010 será somente nos meses de outubro/ novembro, com adiamento da proposta de Anote Universidade das Quebradas: ainda dá tempo O projeto de extensão gratuito promovido pelo Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) da UFRJ e voltado para produtores, ativistas e/ou artistas de todas as “quebradas” tem por objetivo empatar o jogo político cultural que põe as favelas e as áreas periféricas de um lado e os centros acadêmicos de outro. As inscrições foram prorrogadas para o dia 19/03, no site do PACC: www.pacc.ufrj.br/ uni_quebradas. Arte sobre foto de Marco Fernandes - CoordCOM/UFRJ MEC não deve mudar sistema de seleção do vestibular Uma possível intervenção no modelo de trote universitário ficou como sugestão de pauta da próxima sessão do CEG, neste dia 17 dois exames anuais. O ministério convocou uma nova reunião em Brasília, junto das universidades, para o dia 24 de março, com a finalidade de discutir a metodologia de avaliação do Enem e do Sisu. Bacharelados interdisciplinares Belkis divulgou, ainda, que foi criado um grupo de trabalho das universidades para elaborar, junto ao MEC, propostas de critérios para o reconhecimento dos polêmicos bacharelados interdisciplinares (a UFRJ criou recentemente um BI na área das Ciências Matemáticas e da Terra). A próxima reunião acontecerá na Universidade Federal do ABC, em São Paulo. Novas propostas de trote serão discutidas Uma possível intervenção no modelo de trote universitário ficou como sugestão de pauta da próxima sessão do CEG, neste dia 17, em função de violentos acontecimentos nos eventos desse tipo, em outras instituições. Os representantes discentes, no entanto, já fizeram questão de reafirmar a importância de o DCE e de os centros acadêmicos participarem desse debate. O conselheiro estudantil Vitor Mariano chegou a afirmar que a eventual interferência não tinha legitimidade, uma vez que o CEG não vivenciava o acolhimento dos calouros. O conselheiro também disse que o DCE estaria disposto a conversar tal proposta com outros setores da universidade, mas deixou claro que a entidade representativa não iria se submeter a decisões estipuladas somente pelo colegiado. Segundo ele, o movimento estudantil e os demais estudantes se viam capazes e responsáveis pelo trote universitário e desconhecia histórico de recepção violenta aos calouros na instituição. A pró-reitora e os demais conselheiros não se opuseram à proposta de uma discussão conjunta. Repúdio ao senador Demóstenes Torres A declaração de um senador do DEM, durante audiência pública no STF, em 3 de março, gerou a carta de repúdio do Conselho Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, reproduzida a seguir: “Nós, Conselheiras e Conselheiros do - CNPIR vimos através desta, repudiar a opinião expressada pelo excelentíssimo senador da república sr. Demóstenes Torres, Presidente da Comissão de Constituição Justiça e Cidadania do Senado Federal, no seu pronunciamento durante a Audiência Pública no Supremo Tribunal F deral do Brasil (STF), no dia 03 de Março de 2010, que analisava o recurso instituído pelo Partido Democratas contra as Cotas para Negros na Universidade de Brasília. Na oportunidade o mesmo afirmou que: as mulheres negras não foram vítimas dos abusos sexuais, dos estupros cometidos pelos Senhores de Escravos e, que houve sim consentimento por parte destas mulheres. Na sua opinião: Tudo era consensual!. O excelentíssimo senador da república Demóstenes Torres, continua sua fala descartando a possibilidade da violência física e sexual vivida por negras africanas neste período supracitado. Relembranos a frase: Estupra, mas não mata!!!. O excelentíssimo senador Demóstenes aprofunda mais ainda seu discurso machista e racista, quando afirma que as mulheres negras usam de um discurso vitimizado ao afirmarem que são as vítimas diretas dos maus tratos e discriminações no que se refere ao atendimento destas na saúde pública. Que as pesquisas apresentadas para justificar a necessidade de políticas públicas específicas, são duvidosas e que nem sempre são confiáveis, pois podem ser burladas e conter números falsos. Enquanto o estado brasileiro reconhece a situação de violência física e sexual sofrida pelas mulheres brasileiras, criando meca- nismos de proteção como a Lei Maria da Penha, quando neste ano comemoramos 100 anos do Dia Internacional da Mulher, o excelentíssimo senador, vem na contramão da história e dos fatos expressando o mais refinado preconceito, machismo e racismo incrustado na sociedade brasileira. Por isso, vimos através desta carta ao Povo Brasileiro repudiar a atitude do excelentíssimo senador Demóstenes Torres. Ao tempo em que resgatamos a dignidade das mulheres negras e indígenas, que durante a formação desta grande nação, foram SIM abusadas, foram SIM estupradas, foram SIM torturadas, foram SIM violentadas em seu físico e sua dignidade. Aos filhos dos seus algozes, o leite do seu peito, aos seus filhos, o chicote. Não nos curvaremos ao discurso machista e racista do Senador! É inaceitável, que o pensamento dos Senhores de Engenho se expresse em atitudes no Parlamento Brasileiro. Brasília, 05 de Março de 2010.” Resenha Mais de 70% dos pobres são mulheres A Anistia Internacional do Uruguai aproveitou o mês dedicado às lutas das mulheres de todo o mundo para apresentar, no dia 11, na Biblioteca Nacional, em Montevidéu, o relatório “A armadilha do gênero - Mulheres, violência e pobreza”. Segundo informações do relatório “A armadilha do gênero”, dados da Organização das Nações Unidas (ONU) revelam que mais de 70% das pessoas que vivem em situação de pobreza são mulheres. “Por que mais de dois terços das pessoas pobres do mundo são mulheres, se estas constituem somente a metade da população mundial?”, questiona. A resposta é encontrada no próprio relatório: discriminação (Agência Adital, 11/03). Comunicadores articulam rede de apoio à Reforma Agrária Jornalistas promoveram em São Paulo uma reunião para articulação da rede de comunicadores em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais. O encontro, mediado por João Pedro Stédile (da coordenação do MST), contou com Paulo Henrique Amorim (blog Conversa Afiada) e com o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Augusto Camargo. A proposta é que a rede de comunicadores em apoio à reforma agrária tenha caráter nacional (Portal Vermelho, 12/03). Comunidade luta contra remoção por causa das Olimpíadas O anúncio de que a cidade do Rio de Janeiro irá sediar os Jogos Olímpicos de 2016 gerou alegria para muitos, mas também trouxe preocupação para algumas comunidades cariocas. Moradores da comunidade da Vila Autódromo, localizada na Barra da Tijuca, por exemplo, já sentem os efeitos causados pelos Jogos. Isso porque o projeto apresentado pela prefeitura da cidade ao Comitê Olímpico Internacional (COI) prevê a construção de equipamentos destinados ao evento justamente onde está a comunidade. De acordo com Altair Guimarães, presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo, o diálogo com a prefeitura está “muito difícil”. (Estadão, 10/03). 4 16 de março 2010 www.adufrj.org.br Colegiados Consuni vai discutir cotas para o vestibular da UFRJ Proposta de conselheiro é implantar o acesso diferenciado já no próximo concurso Uma proposta do professor Marcelo Paixão (representante dos Adjuntos do CCJE no Consuni), na sessão de 11 de março, pode voltar a abrir o debate sobre políticas de ações afirmativas dentro da UFRJ – em abril de 2004, o Conselho de Ensino de Graduação iniciou uma discussão, que não avançou, acerca da adoção de uma reserva de 20% das vagas oferecidas no vestibular da instituição para estudantes oriundos da rede pública do ensino médio. Pela proposição do conselheiro do CCJE, a UFRJ passaria a adotar, já a partir do próximo vestibular para todos os seus cursos de graduação, o “sistema diferenciado de ingresso para alunos e alunas elegíveis para gozar dos benefícios do sistema”. A escolha dos estudantes candidatos ao acesso diferenciado (provenientes de escolas públicas, ou negros, ou indígenas ou outros grupos), bem como os percentuais, seriam discutidos em debates organizados pelo próprio Consuni. O reitor Aloisio Teixeira solicitou o envio da proposição para as comissões internas do colegiado (tanto para a Comissão de Ensino e Títulos como para a Comissão de Desenvolvimento) com o objetivo de elaborar um parecer até a sessão marcada para 25 de março. Se aprovado pelo colegiado o texto original, haveria um mês para o planejamento dos debates, outros dois meses para a realização dos eventos e mais um mês para a votação no Consuni do sistema a ser adotado no vestibular. De acordo com o professor Marcelo Paixão, este é um debate da “mais importante magnitude” e sustentou que, entre as maiores universidades federais, a UFRJ está na contramão das recentes deliberações favoráveis às ações afirmativas. Edital Proinfra 01/2009 O Consuni aprovou a proposta da UFRJ para a chamada pública do Proinfra 01/2009, programa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) voltado para implantação e melhoria de infraestrutura de pesquisa nas universidades públicas. A universidade concorre a R$ 18 milhões a serem distribuídos por 10 subprojetos (limites impostos pelo edital). Os resultados preliminares serão divulgados no fim de maio pelo MCT. Relator deste processo pela Comissão de Desenvolvimento do colegiado, o decano Alcino Câmara chamou a atenção dos conselheiros para a ausência de subprojetos das áreas de humanidades ou artes. “Nos quatro anos anteriores, elas apresentaram. Estamos convocando estas áreas para que se organizem neste sentido”, disse. O decano recomendou ainda que, numa próxima análise sobre o assunto, o relatório completo da comissão responsável por organizar a proposta da UFRJ quanto ao Proinfra seja enviado ao Consuni: “Não sabemos qual foi o percentual de cada corte (no orçamento dos subprojetos). Sabemos que houve cortes e por que foram feitos. A memória desses processos é sempre bem vinda”, disse. A pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa, Ângela Üller esclareceu que é um processo sempre penoso cortar projetos, mas lembrou que a PR-2 atua basicamente como uma secretaria da comissão sistematizadora da proposta da UFRJ: “Não somos parte da decisão”, afirmou. A dirigente também lamentou a falta de subprojetos das áreas de humanidades e artes. Conselheiro ainda vê erros em critérios da Cotav O diretor da Escola Politécnica e representante dos ex-alunos no Consuni, Ericksson Almendra, observou que foi corrigida a fórmula principal a ser utilizada pela Comissão Temporária de Alocação de Vagas Docentes (Cotav), reconvocada recentemente pelos colegiados acadêmicos CEG e CEPG. O problema é que algumas variáveis da fórmula, consideradas ruins pelo professor, foram mantidas. Entre elas, um dito “fator de mobilidade”, que seria a relação entre formandos e ingressantes. De acordo com Ericksson, justamente os cursos que expandiram as vagas serão prejudicadas nessa conta. Outra preocupação dele é que algumas unidades mais reconhecidas pela atuação na pesquisa e na pós-graduação, mas com “extraordinária dedicação à graduação” (citou a Coppe), estariam classificadas junto a outras sem esse perfil e também seriam prejudicadas: “Estimulando que professores dessas unidades não deem aulas na graduação, temos um processo de distribuição de vagas que vai contra políticas desta universidade”, afirmou. Pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa e presidente do CEPG, Ângela Üller, lembrou que as planilhas de dados a serem usadas na distribuição de vagas serão Progressões múltiplas no CAp Requerimento da Adufrj-SSind foi atendido pelo colegiado O pedido de progressão múltipla para quatro professores do Colégio de Aplicação foi aceito pelo colegiado. Os processos, que chegaram ao plenário do Consuni em grau de recurso, após recusa da Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD), foram respaldados por depoimento do pró-reitor de Pessoal, Luiz Afonso. De acordo com ele, não existe na lei que impôs a nova carreira aos docentes do colégio (lei nº 11.784) nenhum obstáculo à progressão múltipla daquele grupo de docentes. A deliberação do Consuni segue requerimento administrativo da Adufrj-SSind, que recorreu contra a decisão da CPPD. Vice-diretora do CAp, Miriam Abduche Kaiuca observou que haja talvez mais dois ou três professores na unidade em condições de solicitar a progressão múltipla para um correto enquadramento na nova carreira (Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico). Os professores que tiverem a possibilidade de progressão por tempo de serviço poderão fazer a sua reivindicação a partir do mês de abril. A Comissão de Legislação e Normas do colegiado ficou encarregada, ainda, de produzir um texto de resolução que contemple essa deliberação, com o objetivo de orientar a CPPD em casos semelhantes. Biblioteca Nacional Inaugura Rede de Memória Viva Atenção conferidas pelas unidades. No caso de professores responsáveis pelas disciplinas em outras unidades, essa carga deverá ser considerada, havendo a concordância entre as partes envolvidas: “Com um entendimento maior sobre esses números e essas fórmulas, acho que isso vai contemplar as várias unidades, embora o processo seja extremamente complicado”, disse a dirigente. Ranking das piores empresas de ônibus inclui Breda Rio Representante dos Associados do CCS, Diana Maul chamou a atenção para um ranking das empresas de ônibus da cidade, divulgado no dia 10 pela Prefeitura do Rio. A Breda Rio, que serve o Fundão com a linha 485 (Penha-Ipanema), foi considerada a pior, com base em reclamações de passageiros de novembro último até janeiro. A professora espera que, com esta notícia, haja uma melhoria do serviço oferecido. Solidariedade ao Haiti Os representantes discentes frisaram a necessidade de manter a solidariedade ao Haiti. Rafael Pereira Nunes lembrou que a Conlutas continua sua campanha de arrecadação financeira em apoio às organizações de trabalhadores daquele país, arrasado recentemente por terremotos. Também sugeriu a possibilidade de criação de convênios com as universidades brasileiras para os estudantes haitianos continuarem seus estudos. Heber Bispo observou que um grande número de centros acadêmicos prepara uma recepção aos calouros próHaiti, em 31 de março, cujas informações serão mais detalhadas na próxima sessão do colegiado, prevista para o dia 25. Hino da UFRJ Decano do Centro de Letras e Artes, Léo Soares informou que o concurso para escolha de um hino para a UFRJ está bem encaminhado. A letra já foi selecionada, mas o resultado só poderá ser comunicado no próximo dia 17, pelas normas do edital. As inscrições para a segunda etapa do Concurso (escolha da composição musical baseada na letra vencedora) serão realizadas no período de 5 de abril a 5 de junho de 2010. Mais informações podem ser encontradas na página eletrônica do CLA: www.cla.ufrj.br. Como iniciativa da Fundação Biblioteca Nacional, o projeto Rede da Memória Virtual Brasileira, desenvolvido em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia, pretende apoiar a automação e disponibilização, em meio eletrônico, dos acervos de bibliotecas participantes, para inventário e disseminação da memória brasileira armazenada nas diversas coleções espalhadas pelo país. Mais informações em www.bndigital.bn.br/redememoria. 16 de março 2010 5 www.adufrj.org.br Entrevista “O nosso objetivo é universalizar o acesso à universidade pública” Integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile esteve no Rio de Janeiro para dar aulas no curso de extensão “Teorias Sociais e Produção do Conhecimento”, coordenado na UFRJ pela Escola de Serviço Social e pelo Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos. Stédile falou à reportagem da Adufrj-SSind sobre a importância dessa parceria entre o MST e a universidade, já em sua terceira edição, voltada para militantes de todos os movimentos sociais. Jornal da Adufrj – Qual o significado deste curso com a UFRJ? Criamos essa parceria com a UFRJ para atender a uma necessidade que os nossos dirigentes tinham, pois a maioria deles não tinha uma escolarização formal, até a graduação. Mas, por suas responsabilidades políticas e sociais, eles precisavam dominar categorias científicas que os ajudassem a entender a sociedade. No diálogo com os professores daqui, nós construímos um currículo que se adequasse a essa necessidade. JAD – Como isso funciona? Identificamos dentro da universidade brasileira quais eram os grupos de professores, ou cursos, que já tinham uma trajetória e uma espécie de compromisso com a classe trabalhadora. Por outro lado, nessa construção da parceria, incluímos o método da alternância que, para nós, é fundamental. O sujeito vem, estuda um mês, dois meses, depois volta pra sua realidade. Isso permite que ele não se afaste do seu local de militância, do seu local de vivência e o força a estar sempre estudando. Ao longo de dois anos e meio, você vai ter que se programar não só para lutar, não só para fazer militância, mas para incorporar no seu cotidiano tempos de dedicação de estudo. Esses cursos são ainda restritos. Porque o nosso objetivo é universalizar o acesso à universidade pública. Oxalá, no futuro, nós não precisemos mais de recursos especiais para a militância dos movimentos sociais. Mas de qualquer maneira, ficará como um legado essa experiência positiva do método da luta classista. Para o jovem do meio rural, não tem outra saída. JAD – Mas o que representa o fato de o curso chegar à terceira edição? Eu acho que como todo o processo coletivo de conhecimento, está em permanente evolução. A gente percebe um amadurecimento de parte a parte, na construção do currículo, de ir ajustando melhor as necessida- Kelvin Melo des e do aprofundamento em determinados temas. Então eu acho que o terceiro foi melhor que o segundo e certamente vai trazer elementos para, daqui um ano, fazer a quarta turma melhor que essa. Nós deveríamos evoluir no futuro para ter turmas inclusive maiores, porque o esforço é muito grande, os temas são bons, os professores são bons... Agora a limitação das turmas maiores é da própria universidade, porque não tem sala adequada, não tem material adequado. JAD – Talvez neste sentido começou a tramitar nos colegiados superiores da UFRJ a proposta de um curso regular de graduação para assentados da reforma agrária... Sim, nós estamos acompanhando. Como eu disse em outras oportunidades, o movimento vai evoluindo nas suas necessidades. Então, há dez anos, quando nós começamos essas parcerias com as universidades, nós centrávamos mais na formação de professores. A maior parte dos cursos era de Pedagogia e fomos fazendo uma revolução dentro da própria Pedagogia. Hoje, nós construímos uma pedagogia da terra, ou seja, cursos específicos para professoras que vão trabalhar no meio rural. Nós evoluímos para essa necessidade de ter também graduados em Serviço Social. Temos acompanhado que os cursos de Serviço Social têm uma orientação de formar verdadeiros militantes sociais, verdadeiros organizadores do povo, com uma visão crítica da sociedade. Isso é importante para nós, porque nós não queremos diploma, nós queremos conhecimento que tenha utilidade para analisar a realidade, interpretar e resolver os problemas, nas várias áreas da sociedade. JAD - Em 2003, você concedeu entrevista dizendo que com a eleição de Lula havia a chance de derrotar o latifúndio. Agora, no último ano do mandato do presidente, qual a avaliação que você faz do trabalho do governo nessa área? O governo Lula é um governo de composição, não é um governo de esquerda, nem da classe trabalhadora. Dentro dele tem a burguesia, tem até a burguesia internacional, representada pelo (Henrique) Meirelles, que controla o Banco Central; tem gente de esquerda, como o Paulo Vannuchi (da Secretaria Especial dos Direitos Humanos). Evidentemente nós achávamos, e é essa a autocrítica que fazemos, que a simples eleição do Lula, por ele ser um candidato popular, por ter sido eleito pelo voto dos mais pobres, que esse fato detonaria um processo de reação no movimento de massas no Brasil. E que um governo popular com reações de massas criaria as condições objetivas para a reforma agrária. Mas nós nos enganamos. Os setores de direita que estão no governo, como é o ministro da Agricultura (Reinhold Stephanes), priorizaram o agronegócio. O Ministério do Desenvolvimento Agrário, dado a setores de esquerda do PT, acabou sendo um ministério que faz apenas uma política de compensação social. Reconhecem o direito dos trabalhadores, mas fazendo a conta-gotas, ou seja, não é uma política de Estado de reformar a estrutura de propriedade da terra. Infelizmente, com essa abundância de capital sobrando no mundo em sua forma financeira, nos últimos 4 anos o Brasil sofreu uma verdadeira ofensiva de capital internacional, que veio investir na agricultura brasileira como nunca havia feito antes. O capital internacional já tomou conta das sementes e de todo o setor de fertilizantes. JAD - No momento mais imediato, temos as eleições se aproximando. O MST tende a apoiar algumas candidaturas ou uma candidatura em especial? A tradição da nossa militância é sempre votar na esquerda, tendo como referência quais os candidatos que apoiam a reforma agrária e querem mudança. Então em cada estado, cada assentamento, as pessoas fazem o debate e tomam uma decisão. Não há na tradição do MST uma decisão do tipo: ‘Agora a direção nacional decide: vote em fulano’. Isso seria uma estupidez, porque é um direito da pessoa votar em quem ela quer, de acordo com sua consciência. O papel do MST é fazer um debate político. E o que eu sinto dos debates políticos é que há uma unidade já construída nos movimentos sociais do campo de que todos somos contra o Serra. JAD - Para quem vai ler essa entrevista pela primeira vez, qual a importância em linhas gerais da luta pela reforma agrária e contra o agronegócio? São duas proposta de organização da produção agrícola e da organização da sociedade no campo. O agronegócio quer expulsar o povo do campo e implanta grandes fazendas altamente modernizadas, que vão utilizar apenas máquinas e veneno, porque o veneno substitui mão de obra. Como nós dizemos na Via Campesina, é uma agricultura sem agricultores, com consequências para toda a sociedade. Porque expulsa o povo do interior para as cidades, contamina o meio ambiente... A monocultura é a destruição da biodiversidade vegetal e animal. Esses problemas meteorológicos, a causa esta lá no campo. Por que há um desequilíbrio dos ciclos das chuvas? É por que lá no campo não há mais a biodiversidade que os regula. E o mais grave para a população da cidade é que o agronegócio só consegue produzir com o veneno. E o veneno acaba com a terra, acaba com a água e vai para o seu estômago, e no seu estômago ele vai virar câncer. É claro que a Anvisa diz: ‘não, o limite desse veneno aqui ainda não faz mal à saúde’. Mas se você todo dia come isso... os médicos todos estão alertando. Vão lá no Instituto Nacional do Câncer, que é aqui no Rio de Janeiro e perguntem para os cientistas qual a causa principal do aumento do câncer no Brasil. Eles vão dizer que é o alimento. Tem saída isso? É claro que tem. A proposta da Reforma Agrária. Então, a reforma agrária não é só distribuir terras para quem quer trabalhar na terra. A reforma agrária é reestruturar, nessa etapa do capitalismo, a agricultura. Então você tem que garantir o direito ao acesso a terra, para que as pessoas fiquem lá no interior, você tem que priorizar o uso dessa terra para a produção de alimentos, e alimentos sadios. E para produzir alimentos sadios, você tem que praticar uma agricultura diversificada, ou seja, numa mesma área você deve ter milho, abóbora, feijão, mandioca, porque essa diversidade garante ao alimento ser sadio. E, ao mesmo tempo, amplia a renda do agricultor. Nós estamos perdendo agora, como eu disse, por conta da correlação de forças do capital internacional, que se aliou com o agronegócio. Eles vêm com muito dinheiro e vão comprando tudo. Mas quem está nos ajudando agora é a natureza. Porque as contradições que esse capitalismo predador está causando na natureza, a natureza está se vingando. Está se vingando no desequilíbrio ambiental, está se vingando na saúde publica, no câncer. Nós acreditamos que esses fenômenos vão gerar a contradição que leve as pessoas a se conscientizarem e algum dia elas vão dizer: os sem terra tinham razão. www.adufrj.org.br Opinião Leandro Nogueira* Pelas cotas inclusivas de acesso ao ensino superior público “ Capturada pelas teses raciais de docentes militantes no movimento negro e sem qualquer consulta às bases do movimento docente, a Plenária do 29º Congresso do Andes-SN, realizado em Belém-PA, de 26/1 a 1/2, aprovou uma posição favorável ao sistema de cotas como “política transitória” para a universalização do acesso e permanência à educação superior. Sem que o amplo debate e uma nova deliberação acerca de um tema tão expressivo estivessem oficialmente inscritos nesse novo encontro da categoria, diferente do que ocorreu por exemplo, nos trabalhos antecedentes ao 26º Congresso realizado em 2007, em Campina Grande-PB, a pauta das cotas entrou no 29º Congresso, durante a Plenária de Instalação, graças à resiliência dos militantes do movimento negro e à concomitante pusilanimidade da Mesa Diretora e da própria Diretoria do Andes-SN. A partir desse ponto, segundo matéria publicada no Informe Andes Online nº 118, “as discussões que antecederam à votação se revelaram uma das mais polêmicas do evento”. Ao cabo dessa impostura, 125 delegados votaram favoráveis às cotas, 85 foram contrários e 13 se abstiveram, em uma decisão reacionária, que a ser mantida cancela a luta histórica pela universidade pública para todos, gratuita, e de qualidade socialmente referenciada. Dúvidas à parte, no Informe Andes Online nº 119, após o resultado dessa votação, consta a matéria na qual o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso, Waldir Bertúilio, membro do Grupo de Trabalho sobre Etnia, Gênero e Classe – decidiu chutar de vez o pau da barraca até então sustentada pelo Andes-SN, classificando a universalização que propõe escola para todos, como falaciosa e sobretudo insultosa, “porque sabemos que, no capitalismo, não há nenhuma possibilidade desse modelo vigorar”, e... “o negro não quer construir um projeto de luta para entrar na universidade daqui a 50, 100, 200 anos”, justificou. Além da pregação do atalho das cotas raciais para chegarmos mais rapidamente ao socialismo, o Prof. Bertúilio ainda “passou o pito” na meritocracia, segundo ele outra falácia veemente dos opositores das cotas raciais, além de vociferar contra os “valores de uma esquerda ortodoxa, fundamentalista e reducionista”, que no seu entender despreza o racismo como “um importante instrumento de construção e manutenção das desigualdades”. Tirante o absurdo de que os delegados Suspensas desde 1978 pela Suprema Corte americana, as ações afirmativas colheram resultados que têm sido objeto de numerosas análises, muitas das quais contestando a eficácia de sua aplicação como políticas públicas “ 6 16 de março 2010 em congressos do Andes-SN e votantes contra as cotas raciais, sejam apologistas da meritocracia, princípio jamais defendido pelo movimento docente, soa como no mínimo patética, a denúncia de que esse mesmo movimento despreze o racismo nos termos aludidos pelo docente da UFMT. Acaso o GT sobre Etnia, Gênero e Classe não vinha incluindo o racismo em seus debates? A Diretoria do Andes-SN vinha desprezando as contribuições desse GT acerca do racismo? O movimento docente estaria desconsiderando Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro, que jamais deixaram de relatar em seus trabalhos a histórica opressão racial vivida pelo negro brasileiro? E o que dizer sobre o pensamento de um autor como Immanuel Wallerstein, que em Capitalismo histórico & Civilização capitalista (Contraponto, 2001), reafirma o racismo, e também o sexismo, como ideologias abrangentes que justificam a desigualdade, sendo fundamentalmente opressivas e estruturadas para que vítimas sejam jogadas contra vítimas. Como as respostas dessas questões parecem mais do que óbvias, o que sobra no discurso do docente da UFMT é a clara influência das afirmações promotoras do chamado racismo compensatório, que alguns até entendem como compreensível, considerada a histórica opressão sofrida pela população negra. O problema é que o racismo sempre desemboca na exclusão e no já mencionado jogo de vítima contra vítima, entre outros efeitos deletérios, seja ele de que tipo for. Na posição favorável ao sistema de cotas, o Andes-SN transmuta-se numa entidade não mais defensora da universidade pública para todos – são excluídos os não-cotistas - racialmente referenciada e, como miséria pouca é bobagem, fautora do mercado de ensino superior privado - hoje detentor de três quartos de todas as matrículas no país - , o único caminho restante para os excluídos que persistirem com os seus projetos de educação superior. Esses descalabros não foram de fato medidos pelo movimento docente, que ao acatar teses exclusivas, parece também ter perdido qualquer referência histórica, tanto de suas lutas, como dos diversos aspectos envolvendo a aprovação das cotas raciais. Com efeito, o movimento negro tem pregado a defesa das cotas raciais, inspirado no exemplo das ações afirmativas americanas instituídas nos anos 60, como forma de acesso da população negra à universidade pública, em um passo rumo à construção de uma sociedade mais igualitária, leia-se socialista. Esclareça-se de antemão, que desde o século XIX, a população negra dos Estados Unidos iniciou o seu acesso ao ensino superior através das Historically Black Colleges and Universities (HBCUs), sendo a primeira delas, a Wilburforce University, de Wilburforce, Ohio, fundada em 1856, antes mesmo da Guerra Civil Americana e da própria abolição da escravidão naquele país. As HBCUs totalizam hoje cerca de 105 instituições, entre públicas e privadas, oferecendo 27 cursos de doutorado e 52 de mestrado. Além disso, as ações afirmativas nos Estados Unidos jamais se restringiram às universidades, mas abrangeram medidas governamentais de combate ao secular segregacionismo contra a população negra, num momento histórico em que o país vivenciava o auge de seus conflitos raciais, incluindo a integração forçada também nas escolas e nos locais de trabalho, além de ter varrido da legislação medidas legais que proibiam o casamento inter-racial, entre outros dispositivos separatistas. Determinou-se então, que órgãos de governo, firmas, escolas e universidades deveriam reservar vagas ou abri-las de forma proporcional ao peso dos negros no total da população americana, configurando-se as ações afirmativas como políticas públicas de largo alcance social para o cumprimento dos dispositivos previstos na Lei dos Direitos Civis. No caso do ensino superior, as ações afirmativas também incluíram dispositivos para a inserção dos mais brilhantes estudantes negros, nas mesmas universidades frequentadas por estudantes brancos, inclusive no circuito Ivy League, a associação elitista de oito universidades localizadas no Nordeste dos Estados Unidos, fundadas antes mesmo da independência daquele país e incubadoras das principais lideranças políticas americanas. Porém, as ações afirmativas não fizeram dos Estados Unidos um país socialista. Mesmo a simples palavra “socialista” ainda é um anátema naquele país, vide a análise dos recentes debates referentes à reforma da sistema de saúde americano. Ademais, até hoje nenhum país que experimentou o socialismo real adotou políticas de ações afirmativas nos moldes implementados pelos Estados Unidos, muito menos como medidas voltadas apenas para o acesso ao ensino superior. Suspensas desde 1978 pela Suprema Corte americana, as ações afirmativas colheram resultados que têm sido objeto de numerosas análises, muitas das quais contestando a eficácia de sua aplicação como políticas públicas. Mas um olhar compreensivo do ponto de vista histórico, reconheceria a amplitude e o escopo das políticas de ações afirmativas, seu caráter inegavelmente demo- 16 de março 2010 7 www.adufrj.org.br “ Mas não necessitamos do tempo maior do que o destinado a uma única geração, para que essa realidade possa ser superada em favor de uma sociedade mais igualitária, e graças aos deuses da diversidade, cada vez mais miscigenada “ cratizante e, evidentemente, o real efeito de cancelamento da secular jurisprudência segregacionista nos Estados Unidos. Com efeito a redução significativa das tensões raciais, contribuiu entre outros aspectos para a instauração de um contexto que posteriormente viabilizou a histórica eleição de Barack Obama à presidência daquele país, ele próprio egresso de Harvard e tributário dessas políticas públicas. Já no caso brasileiro, o movimento negro reduziu o escopo das políticas de ação afirmativa, ao demandar exclusividade para o acesso à educação superior pública, baseado em argumentos raciais, descartando o papel da educação básica como parte obrigatória da solução dessa questão e finalmente valendo-se de um percentual de cotas, cuja forma suprime o debate sobre a expansão do ensino superior público e os respectivos desdobramentos que poderiam contribuir para a redução das desigualdades sociais existentes no país. Destaque-se de imediato que “raça” é um conceito socialmente construído, sem qualquer apoio bológico e sobretudo rejeitado pela genética moderna. É fato que o conceito social de raça não deixou de enraizar formas concretas de racismo no Brasil, apesar da inexistência de legislação segregacionista, de tal sorte que ainda hoje é precária a inserção social das etnias afrodescendentes (negros e pardos) e indígenas, ainda que estas representem praticamente 52% de toda a população brasileira (IBGE-PNAD, 2009). Mas se nos Estados Unidos o segregacionismo constituiu uma realidade legal, cerceadora dos direitos civis e estimuladora de organizações com extremado racismo - o típico padrão anglo-saxônico de hostilidade racial - , o preconceito de cor dos brancos brasileiros, não obstante a violência opressiva contra a população negra, ainda assim não impediu a conjunção inter-racial na população brasileira, sendo desenvolvida paradoxalmente, como escreveu Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro (Companhia das Letras, 2006), uma ideologia integracionista encorajadora do caldeamento étnico. Embora esse integracionismo não tenha logrado uma “democracia racial”, dois importantes desdobramentos parecem ter decorrido de sua processualidade histórica. No primeiro deles o país viu crescer a sua população mulata, pardos para o IBGE, na proporção que afirma como majoritária, e de forma igualmente crescente, a constituição mestiça da maior parte do povo brasileiro; no segundo desdobramento, plausiva decorrência do caldeamento étnico, deu-se a predominância de um arraigado preconceito de classe entre os brasileiros, superior ao preconceito de raça ou de cor, de tal sorte que as inaceitáveis distâncias sociais no Brasil, opõem ricos e pobres muito mais do que brancos e negros. Na educação isso não acarretou apenas o escasso acesso da população negra ao ensino superior público, o que já não seria pouco, mas excluiu a maioria da população brasileira, constituída por pardos, negros e indígenas, no resultado culminante da profunda desigualdade social, estruturada na sonegação oficial da universalização do acesso à educação pública básica, em regime de tempo integral e com qualidade socialmente referenciada. Apenas se reafirma aqui a hedionda qualidade da educação pública básica no Brasil, atestada por sucessivos relatórios nacionais e internacionais, provenientes de entes públicos ou organismos multilaterais, que abatida pelo exíguo financiamento do ensino público, torna-se fautora da política de Estado que decreta a proporção de apenas um estudante em cada quatro, com direito à matrícula no ensino superior público. Isso em meio ao quadro com 10 milhões de jovens entre 15 e 17 anos, que em 2008, segundo o INEP, contabilizava apenas 4 milhões de matrículas na educação básica, sendo três milhões no Ensino Médio e um milhão ainda no Ensino Fundamental. Anote-se ainda, que menos da metade dos estudantes do Ensino Médio conseguia concluir os seus cursos, perfazendo então um quantitativo insuficiente mesmo para o preenchimento de todas as vagas no ensino superior, somadas as ofertas públicas e privadas, estimadas à época em dois milhões e meio, aproximadamente. A dramaticidade desse quadro é ampliada, ao se comprovar nos dados da PNAD (IBGE, 2009), que a maioria dos estudantes pobres, cerca de 92%, está matriculada na rede pública de ensino. Dentro desse percentual, 95% dos estudantes pobres são negros e respectivamente 94% e 86,6% de seus colegas são pardos e brancos. Para as pesquisadoras Celia Kertenetzky e Marina Águas, do Centro de Estudos sobre Desigualdade e Desenvolvimento da Universidade Federal Fluminense, na eventual aprovação de políticas afirmativas de acesso ao ensino superior público baseadas em cotas sociais para estudantes egressos de escolas de ensino médio da rede pública, os maiores beneficiados seriam os estudantes negros e pardos, respectivamente, tornando-se ociosas as teses em favor das cotas raciais. Ainda assim, a adoção das cotas sociais com base na proposta de reserva de 50% das vagas para os estudantes egressos de escolas de ensino médio, esbarra igualmente nos graves problemas já mencionados nas linhas anteriores desse texto, já que não contribui para a resolução do grave problema da falta de qualidade da educação pública básica, confirma a tese da exclusão legal dos não-cotistas na escassez de vagas na universidade pública, não sendo igualmente de caráter transitório, já que o ensino superior público irá operar como permanente sistema tapaburaco da crônica fragilidade da educação básica pública. Por último, na exclusão dos não-cotistas, também as cotas sociais empoderam o mercado do ensino superior privado, legitimando medidas como o ProUni. Cabe entretanto pontuar, que se a tese das cotas sociais comporta dados que confirmam o predomínio do arraigado preconceito de classe entre os brasileiros, sua eventual implementação porém, necessita ocorrer como parte integrante de políticas públicas de ações afirmativas de redução das desigualdades sociais e promoção da democracia, integradas nesse sentido, de forma simultânea ao processo de universalização da escola pública para todos, de tempo integral e qualidade socialmente referenciada, com percentual determinado para a ampliação de novas vagas nas universidades públicas, destinadas ao acesso restrito dos estudantes classificados como cotistas. E os estudantes cotistas, além do concurso na “faixa própria” das novas vagas, poderiam ainda disputar simultaneamente as vagas hoje existentes, o que promoveria a elevação das chances de ingresso de novos cotistas. Quanto ao propalado percentual de 50%, eventual aproximação da representatividade demográfica de negros, pardos e indígenas, sua adoção poderia entretanto estar sujeita a revisões, uma vez que somente no Estado de São Paulo, 89% dos estudantes concluem o Ensino Médio em escolas públicas. Observadas essas condições preliminares, tais políticas públicas constituiriam de fato medidas inclusivas visando o resgate da educação pública brasileira, poderiam contribuir para a redução das desigualdades sociais e afirmação da democracia, cumprindo ainda o papel transitório de tratar desigualmente os desiguais, além de premeditarem a sua mais do que necessária integração à luta pela cidadania, sem o apelo à qualquer forma de racismo ou às recorrentes soluções de afogadilho. É óbvio que a eventual aceitação de um repto nos termos de cotas inclusivas, remete imediatamente à questão da luta pelos necessários recursos ao efetivo financiamento dessas políticas públicas. Nesse ponto é importante relembrar que os investimentos em educação no Brasil, historicamente mal têm alcançado o nível de 4% do PIB ao ano, valor bem abaixo do mínimo de 6% recomendados pela Unicef. Como se isso não bastasse, essa exíguo financiamento também não está livre do extraordinário quadro de corrupção institucional do país, que como sabemos todos, tem tomado de assalto até mesmo o Planalto Central. Além disso, o BID estimava em 2008, que o quadro de crescente violência social estaria nos custando algo em torno de 10,5% do PIB, vitimando principalmente os jovens pobres entre 16 e 24 anos, em sua maioria negros e pardos. Concomitantemente, o governo federal tem empregado verbas públicas para o financiamento de programas como o ProUni, com a clara finalidade de estimular o mercado do ensino superior privado. Descartada portanto a estéril discussão sobre a existência desses recursos, o fato é que o prazo de ação e resgate dessa enorme dívida social, infelizmente já se esgotou para diversas gerações passadas. Mas não necessitamos do tempo maior do que o destinado a uma única geração, para que essa realidade possa ser superada em favor de uma sociedade mais igualitária, e graças aos deuses da diversidade, cada vez mais miscigenada. *Professor da EEFD/UFRJ 8 16 de março 2010 www.adufrj.org.br Movimento Entidades encaminham documento à CPI da Dívida No texto, reivindicam novas investigações e punições dos culpados pelas dívidas do país Representantes das entidades que compõem a Auditoria Cidadã da Dívida, entre elas o Andes-SN, estão se reunindo com os deputados membros da Comissão Parlamentar de Inquérito - CPI da Dívida Pública para encaminhar a cada um deles cópias do documento produzido por elas com as principais investigações realizadas até o momento e com as demandas da sociedade brasileira em relação aos trabalhos da CPI. No documento, cuja íntegra pode ser conferida em www.divida-auditoriacidada. org.br, as entidades reivindicam que, diante dos gravíssimos fatos apurados pela CPI, a Câmara dos Deputados envie todas as análises e documentos para o Ministério Público (MP), aprofunde as investigações, quantifique as perdas decorrentes do processo de endividamento para o devido ressarcimento aos cofres públicos e promova a apuração de responsabilidades pelos danos ao patrimônio público. No dia 4 de março, os representantes se reuniram com o sub-relator da Dívida Interna, deputado Eduardo Valverde (PTRO) que, a exemplo dos outros dois subrelatores Jô Morais (PC do B-MG), da Dívida Externa, e Márcio Reinaldo (PP-MG), da Dívida de Estados e Municípios, entregará seu parecer ao relator-geral da CPI, deputado Pedro Novais (PMDB-MA), nos próximos dias, para conclusão dos trabalhos da Comissão. Os representantes das entidades relataram ao deputado Valverde como a dívida afeta seriamente as suas respectivas áreas de atuação, como por exemplo no caso dos servidores públicos (que lutam contra o Projeto de Lei que congela o salário dos servidores por 10 anos) e dos servidores do setor da Educação (que resistem contra a precarização das universidades e demais escolas públicas). “O documento entregue ao deputado demonstra a ilegitimidade da dívida e a sangria que ela representa para o país”, afirmou o integrante do Comando Nacional de Mobilização do Andes-SN, Luiz Henrique Schuch, que participou da reunião. Audiência Pública No dia 24/2, a CPI da Dívida realizou, para esclarecimentos internos, Audiência Pública com a professora de Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Maria de Lourdes Mollo, com o secretário de Macroavaliação Governamental do Tribunal de Contas da União (TCU), Maurício de Albuquerque, e com a diretora do Departamento Jurídico da Confederação Nacional de Municípios, Helena Garrido. A professora da UnB refutou a premissa neoliberal, tão alardeada pelo governo Lula, de que os juros devem ser altos para combater a inflação. Segundo ela, as altas Os representantes das entidades relataram ao deputado Valverde como a dívida afeta seriamente as suas respectivas áreas de atuação, como por exemplo no caso dos servidores públicos (que lutam contra o Projeto de Lei que congela o salário dos servidores por 10 anos) taxas de juros deprimem o investimento, o que deprime a oferta futura de produtos, causando inflação. Além do mais, ela avalia que boa parte da atual inflação é causada pelo aumento de preços administrados justamente pelo governo. Para Maria de Lourdes, a forma correta de combater a inflação é controlar os preços administrados e as margens de lucro das empresas, e estimular a oferta de produtos, por meio do aumento do investimento. Para isso, defende a superação da visão neoliberal, que prega a liberdade para o mercado. “Temos de devolver ao Estado democrático e ao Legislativo o direito constituído de buscar os seus objetivos por meio de políticas ativas”, afirmou. O representante do TCU apresentou Fotos: Dally Schwarz Vida no Campus Ventania causa danos na UFRJ Todos os campi da UFRJ passaram por dificuldades com a ventania do dia 14. De acordo com o prefeito universitário Helio de Mattos, os reparos começaram no dia seguinte bem cedo: ”Galhos quebraram telhados, folhas obstruíram as calhas de água causando alagamentos, todos os prédios sofreram estragos de alguma maneira, porém o CCMN foi o que sofreu mais danos”. Diversas árvores caíram inclusive no estacionamento (foto) do Centro de Tecnologia (CT). O Centro de Ciências da Saúde (CCS) também ficou sem luz devido à tempestade. A prefeitura entrou em contato com a Light, que enviou duas equipes para o conserto necessário. A luz voltou por volta de 10h30. análises feitas pelo órgão, especialmente em contratos com o Banco Mundial e BID, apontado ilegalidades no endividamento, tais como empréstimos externos feitos sem a autorização do Senado, erros no estoque de dívidas, dentre outros. Ele afirmou também que o Poder Executivo não tem cumprido suas obrigações no que se refere à transparência do endividamento, tendo em vista que até o momento não foi implantado o sistema de controle previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. De acordo com o representante do CMN do Andes-SN, Francisco Jacob Paiva da Silva, o auditor defendeu que, para solucionar o problema da Dívida Pública, além da auditoria nas contas, é necessário estabelecer um teto de endividamento para a União, assim como já ocorre para estados e municípios. Já a representante da Confederação Nacional de Municípios propôs uma auditoria das dívidas dos cidades com o governo federal. Segundo ela, as dívidas estão superfaturadas, porque ignoram os créditos das prefeituras com a Previdência Social. “A dívida das prefeituras com o governo federal está calculada em R$ 22 bilhões, mas conforme os cálculos da CNM deve ser reduzida para R$ 8,3 bilhões”, explicou outra representante do comando de mobilização do Andes-SN na audiência, Mariza de Oliveira Pinheiro. Com informações da Auditoria Cidadã da Dívida