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COTAS SOCIAIS E COTAS RACIAIS: o respaldo no ordenamento pátrio
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Atualmente, vem-se discutindo no cenário político, na sociedade como um todo, bem assim
na órbita jurídica, quanto à viabilidade e os limites do desenvolvimento, pelo Poder Público,
de programas e projetos, cujos objetivos sejam a inclusão social de minorias, em relação às
quais hajam alguns tipos de discriminação social, ou desvantagem decorrente de
discriminação histórica na sociedade que acarreta, no presente, desigualdade social. Ora, o
que importa é garantir a diminuição das desigualdades sociais no país - seja em decorrência
do precário nível da escola pública, no ensino médio; seja pela dívida, de mais de quinhentos
anos, para com os negros.
Nessa polêmica, não se leva em consideração que o Brasil é um verdadeiro continente, onde
existem desigualdades tanto sociais quanto raciais: a região norte/nordeste é desigual em
relação ao sul/sudeste sob o prisma socioeconômico; assim como, por exemplo, o estado da
Bahia tem uma história diferente do estado de Santa Catarina, sob a ótica da colonização e de
desenvolvimento/crescimento. Portanto, a implantação de cotas sociais e/ou de cotas raciais
irá contribui, decisivamente, para que o crescimento econômico sustentável resulte em
ampliação do acesso aos serviços sociais e ao mercado de trabalho de segmentos
populacionais empobrecidos e historicamente discriminados em nosso país. Assim, abaixo
essa dicotomia cotas sociais versus contas raciais: elas podem coexistir a depender das
especificidades regionais e históricas.
De pronto, cabe esclarecer o significado de “minorias”, a partir de Carmem Lúcia Antunes
Rocha (1996, p.87): “Não se toma a expressão minoria no sentido quantitativo, senão que no
de qualificação jurídica dos grupos contemplados ou aceitos com um cabedal menor de
direitos, efetivamente assegurados, que outros, que detêm o poder. [...] em termos de direitos
efetivamente havidos e respeitados numa sociedade, a minoria, na prática dos direitos, nem
sempre significa menor número de pessoas”.
As chamadas ações afirmativas nos últimos anos vêm sendo debatidas no âmbito do direito
brasileiro, especialmente em razão da implementação do sistema de reservas de vagas nas
universidades ou, simplesmente, cotas raciais, inicialmente; e logo depois, a referida
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Professor Doutor Luiz Carlos dos Santos, publicado no site www.lcsantos.pro.br
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dicotomia raciais versus sociais, em universidades. É certo, contudo, que o estabelecimento e
a implantação de políticas afirmativas no Direito Brasileiro é anterior à discussão atual. Por
exemplo, cotas para mulheres em candidaturas para cargos públicos eletivos e para deficientes
físicos em concurso público já têm previsão legislativa e aplicação prática há mais de uma
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década.
Segundo Joaquim B. Barbosa (2001, p.41), ações afirmativas são “políticas e mecanismos de
inclusão, concebidas por entidades públicas, privadas e por órgãos dotados de competência
jurisdicional, com vistas à concretização de um objetivo constitucional universalmente
reconhecido - o da efetiva igualdade de oportunidades a que todos os seres humanos têm
direito”.
Entenda-se que as ações afirmativas surgiram como uma forma de promover a igualdade entre
grupos historicamente preteridos ou discriminados em uma sociedade. Portanto, sua
finalidade primordial, mais do que prevenir, é coibir e punir atos discriminatórios; é gerar
condições para que as conseqüências sociais concretas da discriminação passada ou presente
sejam progressivamente amenizadas, até que se alcance o objetivo maior de promoção da
efetiva
igualdade,
obedecidos
os
princípios
constitucionais
da
razoabilidade
e
proporcionalidade.
Esta busca de igualdade se refere primordialmente às condições e oportunidades de acesso à
educação e ao mercado de trabalho, o que importa dizer, à inexistência de discriminação na
contratação e remuneração dos indivíduos, bem como no acesso aos níveis mais elevados de
ensino.
Ressalte-se que, a adoção de cotas, ainda que não constitua consenso entre os diversos
envolvidos na discussão, não pode ser reputada inconstitucional. Ao preconizar a igualdade
perante a lei, já se está admitindo que a lei estabeleça diferenças que, por vezes apenas serão
aplicáveis a alguns.
Saliente-se, também, que a igualdade de condições, pressupõe igualdade de oportunidades;
que por sua vez, demanda a utilização de meios excepcionais de auxílio a determinados atores
sociais objetivando proporcionar-lhes a igualdade preconizada na Constituição, conforme
texto de opinião postado ontem (05/09/1010), neste sítio eletrônico.
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Convém registrar que a exigência do mérito não é suprimida com a adoção do sistema de
reservas ou cotas; alterando-se, tão-somente, os critérios de julgamento de determinados
grupos de candidatos, com a finalidade de propiciar a possibilidade de acesso aos níveis mais
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altos do ensino a todos; mitigando as dificuldades daqueles que historicamente estiveram
alijados do processo educacional acadêmico por razões de natureza econômica e social.
É necessário entender, que as políticas compensatórias, ações afirmativas ou simplesmente,
discriminação positiva objetivam reparar, por exemplo, os danos causados por situações como
a escravidão e a segregação de indivíduos que possuem sua origem no processo de
miscigenação brasileira; resultando em uma população heterogênea, tanto no aspecto físico,
quanto na órbita social e, conseqüentemente, gerando um flagrante abismo entre os
descendentes de populações predominantemente originárias dos povos livres que povoaram o
território brasileiro e daqueles que descenderam da sociedade rural e escravocrata, a qual
dominou grande parte história colonial.
O que se deve perquirir é a equalização das oportunidades. Na verdade um dos muitos
caminhos que se pode adotar na busca de uma sociedade melhor, justa, igualitária e,
principalmente, pacífica, nunca perdendo de vista que os investimentos no potencial humano
e na educação apenas rendem frutos após muitos anos. Reafirme-se, a dicotomia cotas sociais
versus cotas raciais não resolverá as disparidades socioeconômicas e étinco-raciais.
Enfim, se o objetivo da Carta Magna de 1988 é buscar a igualdade sem qualquer distinção,
não se pode considerar inconstitucional uma medida que tem por fulcro oportunizar aos
negros, pardos, índios, os socioeconomicamente desfavorecidos; e, por que não dizer - à
parcela mais pobre da população brasileira -, o acesso à educação superior, único meio que
possibilita o crescimento do cidadão e do país.
Referências: GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ação Afirmativa & Princípio Constitucional
da Igualdade: O Direito como Instrumento de Transformação Social. A Experiência dos
EUA. Rio de Janeiro, São Paulo: Renovar, 2001; ROCHA, Carmem Lúcia Antunes. Ação
Afirmativa - O Conteúdo Democrático do Princípio da Igualdade Jurídica. Revista
Trimestral de Direito Público, nº 15, 1996, 85-99. SANTOS, Luiz Carlos dos. A Ação
Afirmativa no Brasil sob a Ótica da Constitucionalidade. Disponível em:
<www.lcsantos.pro.br>. Acesso em: 06 set. 2010.
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Professor Doutor Luiz Carlos dos Santos, publicado no site www.lcsantos.pro.br
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