Revista Iberoamericana de Arritmología – ria
Artículo Original
DOI: 10.5031/v5i1.RIA10245
Efeitos da frequência ventilatória sobre os índices da
variabilidade da frequência cardíaca
Jonathan Barth1; Fabrício B. Del Vecchio2
1: Graduando em Educação Física – Universidade Federal de Pelotas - UFPEL
2: Doutor em Ciências do Esporte – Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
RESUMO
frequência (BF) foram encontradas diferenças
estatísticas relacionadas ao ritmo e ao momento,
porém não foram encontradas alterações em
banda de muito baixa frequência (MBF).
Registraram-se alterações na potência total (P.T)
e na razão entre as bandas de frequência (BF/AF)
tanto ao se considerar ritmo, quanto momento.
Conclusões:
Alterações
na
FV
afetam
significativamente a média da frequência
cardíaca, e altera índices da VFC, tanto do
domínio do tempo, quanto do domínio da
frequência.
Introdução e objetivos: O objetivo deste
estudo foi mensurar os efeitos do ritmo
ventilatório na regulação do tônus simpático,
avaliada a partir de variáveis referentes à
variabilidade da frequência cardíaca (VFC).
Métodos: Foram envolvidos no estudo 15
voluntários fisicamente ativos, estudantes de
Educação Física, os quais realizaram três
intervenções, organizadas de maneira aleatória,
com frequência ventilatória (FV) a 6, 15 e 24
ciclos por minuto (cpm). Registraram-se as
medidas de VFC e da frequência cardíaca antes,
durante e após a intervenção com diferentes FV.
A análise dos dados contou com estatística
descritiva e ANOVA de dois caminhos com
medidas repetidas. Resultados: Encontraram-se
diferenças significativas na frequência cardíaca
média à medida que os ciclos ventilatórios
aumentaram, indo de 66,20 ± 6,77 bpm em 6 cpm
à 83,20 ± 10,90 bpm em 24 com (p < 0,001). A
média dos intervalos R-R diminuiu quando o
número de ciclos ventilatórios aumentou (relação
inversão), com diferença significativa durante a
fase de intervenção quando comparado o valor
em frequência ventilatório baixa e normal com o
valor encontrado em frequência ventilatória
elevada (respectivamente 914,35 ± 102,69 ms;
882,35 ± 151,01 ms e 731,88 ± 97,66 ms; p <
0,001). Índices no domínio do tempo (pNN50 e
rMSSD) também sofreram decréscimo à medida
que os ciclos ventilatórios aumentaram (p <
0,001). Em banda de alta frequência (AF) e baixa
Effects of ventilatory rate on indices of
heart rate variability
ABSTRACT
Introduction and objetives: The aim of
this study was to measure the effects of
ventilation rate in the regulation of sympathetic
tone, assessed from variables related to heart rate
variability (HRV). Methods: 15 physically active
volunteers who were physical education students
were enrolled in the study and underwent three
interventions, arranged randomly, with ventilatory
frequency (VF) of 6, 15 and 24 cycles per minute
(cpm). The measures of HRV and heart rate were
recorded before, during and after intervention with
different VF. Data analysis included descriptive
statistics and ANOVA two-way. Results:
Significant differences were found in average
heart rate as the ventilation cycles increased,
varying from 66.20 ± 6.77 bpm at 6 cpm to 83.20
± 10.90 bpm at 24cpm (p < 0.001). The mean R-R
interval decreased when the number of ventilation
cycles increased (ratio inversion), with a
significant difference during the intervention phase
when comparing the value at low and normal
Jonathan Barth
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modulam o comportamento cardíaco, elenca-se a
respiração, especialmente por meio de alterações
na frequência ventilatória, FV9. O controle da FV é
feito através de centro respiratório no bulbo, a
partir de neurônios dorsais e ventrais, além do
centro pneumotáxico, que se encarrega do
controle da frequência ventilatória e da
profundidade do ciclo respiratório10. Este controle
pode gerar FV de 5-6 cpm à 30-40 cpm,
respectivamente conhecidas como limites de
bradipneia e taquipneia10.
A tendência é que, com a redução da
frequência ventilatória para 6 cpm (bradpneia), os
intervalos R-R aumentem, não sendo esperado
haver diferença entre respiração controlada (15
cpm) e respiração espontânea; porém, com
aumento dos ciclos respiratórios para nível
considerado alto (24 cpm) haveria ação inversa,
11
causando redução dos intervalos R-R . Com
efeito,
estudos
demonstram
que
ciclos
respiratórios baixos (6 cpm) melhoram a
sensibilidade dos barorreceptores, causando
redução da resposta quimiorreceptora12-13, o que
implicaria no melhor entendimento de alterações
cardiovasculares, podendo ser utilizada como
ferramenta
para
identificar
hiperatividade
simpática, assim como condições de saúde e
doença associadas.
Adicionalmente,
existe
uma
gama
razoável de estudos que relacionam o controle da
frequência ventilatória com alterações no intervalo
R-R e frequência cardíaca11-14-15, os quais, por
vezes, são contraditórios. Porém, investigações
que analisam os demais índices da VFC
referentes à alteração do ciclo ventilatório não
foram localizadas. Com isto, o objetivo deste
trabalho foi mensurar os efeitos do ritmo
ventilatório na regulação do tônus simpático, a
partir de variáveis da variabilidade da frequência
cardíaca.
respiratory frequency with the value found in high
frequency ventilation (respectively 914.35 ±
102.69 ms, 882.35 ± 151.01 ms and 731.88 ±
97.66 ms, p < 0.001). Time domain indices
(pNN50 and rMSSD) also suffered declines as the
ventilation cycles increased (p < 0.001). In the
high frequency (HF) and low frequency (LF)
bands significant differences related to rhythm
and time were found, but there were no changes
in the very low frequency (VLF) band. Still, we
recorded changes in total power (TP) and in the
ratio between frequency bands (LF / HF) both
when
considering
pace,
or
moment.
Conclusions: Changes in VF significantly affect
the average heart rate, and alters HRV indices,
both in the time and frequency domains.
INTRODUÇÃO
A variação no tempo de execução dos
ciclos cardíacos, representada pelos intervalos RR, é denominada Variabilidade da Frequência
Cardíaca, VFC1, e tais oscilações explicitam a
adaptação do Sistema Nervoso Autônomo (SNA)
aos múltiplos estímulos fisiológicos e ambientais23
, os quais elevam a FC e causam redução na
VFC. Este controle se dá pela relação direta das
vias simpáticas e parassimpáticas, que formulam
respostas à adequação da FC a diferentes
situações e necessidades. Assim, a FC aumenta
em resposta à maior ativação da via simpática e
menor ação parassimpática (inibição vagal), e
diminui frente ao aumento da atividade
parassimpática, como reflexo da atuação vagal1-3.
Por representar método não invasivo de
análise
dos
impulsos
autonômicos,
e
considerando a baixa complexidade para sua
coleta, a VFC vem sendo utilizada com frequência
no estudo de diferentes patologias2, sendo
considerada indicador prévio de riscos à saúde e
4utilizada para avaliar as adaptações ao exercício
5
. Assim, VFC alta representa boa adaptação do
SNA, com funcionamento adequado dos
mecanismos autonômicos, e o contrário se faz
presente quando há VFC baixa, o que tende a
representar
comprometimento
de
funções
6-7-8
fisiológicas . Dentre os diversos fatores que
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MATERIAIS E MÉTODOS
Tipo de estudo, caracterização das variáveis e
amostra
Este estudo é caracterizado como
experimental, contrabalanceado e com medidas
repetidas. As variáveis dependentes são
derivadas da VFC e as variáveis independentes
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são ritmo da frequência ventilatória e momento de
análise, pré-intervenção, intervenção e pósintervenção.
A amostra envolveu 15 universitários,
estudantes do curso de Educação Física, e foram
elencados os seguintes critérios de inclusão: 1)
ser do sexo masculino, 2) ter entre 18 e 28 anos;
3) não estar utilizando qualquer tipo de
medicação; 4) não ser fumante, ou dependente
químico; 5) não possuir problemas respiratórios
ou cardíacos medicamente diagnosticados, e; 6)
ser considerado fisicamente ativo, acumulando
150 minutos de atividade física em intensidade
16
moderada por semana . Previamente à coleta de
dados, os indivíduos responderam a anamnese e
assinaram termo de consentimento livre e
esclarecido (Projeto aprovado no Comitê de ética
em pesquisa local, 453.760/2013).
bebidas alcoólicas nas 24 horas anteriores aos
testes; e 3) praticar exercício físico nas 12h que
17
antecedessem aos teste . Adicionalmente, todas
as coletas ocorreram em período vespertino,
entre 18 e 21h.
Intervenções e Procedimentos
Foram realizadas três intervenções,
aleatoriamente ordenadas, com vistas à
mensuração dos efeitos de diferentes ciclos
respiratórios na VFC. Para isto, empregaram-se
três FV controladas: 1) ventilação em bradipneia,
com 6 cpm11-13; 2) ventilação em ritmo
considerado normal, a 15 cpm12-13; e 3) ventilação
em taquipneia, com 24 cpm11.
Inicialmente,
cumpriram-se 10 min em repouso total (posição
corporal sentada) antes de cada teste, e só então
foi
colocada
a
cinta
torácica
do
cardiofrequencímetro
(Polar™,
modelo
RS800CX). Logo após, os participantes
respiraram de maneira espontânea por cinco
minutos para, em seguida, realizarem protocolo
de intervenção sorteado. Por fim, permaneceram
novamente cinco minutos em respiração
espontânea (figura 1).
Delineamento Experimental
Os sujeitos compareceram ao laboratório
em visita única, previamente agendada, sendo
que os mesmos não puderam: 1) ingerir cafeína
nas 3h que precederam aos testes; 2) consumir
Figura 1. Delineamento experimental do estudo.
Coleta e Registro dos Dados
registrados em monitor de pulso (Polar™, modelo
RS800CX, Polar Electro OY, Finland). A
frequência de registro da VFC no monitor de
pulso foi contínua, e depurada com emprego do
Os sinais referentes à atividade cardíaca
foram captados por cinta torácica Wear Link™, e
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nas três frequências ventilatórias (6, 15 e 24 cpm)
para frequência cardíaca média (FCMED,
respectivamente 67 ± 8,52 bpm, 67,13 ± 8,34
bpm e 65,73 ± 8,34 bpm) e para frequência
cardíaca máxima (FCMÁX, respectivamente 86 ±
8,65 bpm, 90 ± 9,23 bpm e 87,13 ± 11,42 bpm).
Na
amostra
em
questão
foram
encontradas diferenças de FCMED quando se
consideram ritmos aplicados (F = 11,09; p <
0,001) e momentos (F = 21,13; p < 0,001). As
diferenças significativas ocorrem entre a
respiração lenta (6 cpm) e normal (15 cpm) em
comparação à respiração rápida (24 cpm),
durante a fase de intervenção com médias de
66,20 ± 6,77 bpm, 69,93 ± 12,45 bpm e 83,20 ±
10,90 bpm, respectivamente. Na FV rápida, o
valor médio durante a intervenção (83,20 ± 10,90
bpm) foi estatisticamente superior ao encontrado
durante a fase de pré-intervenção (65,73 ± 8,34
bpm; p < 0,001) e pós-intervenção (69,80 ± 8,06
bpm; p < 0,001).
Na FCMÁX se registraram diferenças
referentes ao ritmo (F = 4,68; p < 0,05) e
momento (F= 10,92; p < 0,001). Durante a
intervenção, o valor na respiração elevada (97,53
± 9,02 bpm) foi estatisticamente superior ao das
ventilações consideradas normal (87,93 ± 11,34
bpm) e baixa (87,73 ± 8,84 bpm). Este valor
também foi superior ao do momento préintervenção para o mesmo ritmo (87,13 ± 11,42
bpm); porém, não houve diferença em relação ao
momento pós-intervenção (94,80 ± 10,05 bpm)
Alterações no Domínio do Tempo da VFC
Observaram-se diferenças quanto ao
ritmo (F = 11,24; p < 0,001), e ao momento (F =
19,08; p < 0,001) para a média dos intervalos RR. Na fase de intervenção, a média dos intervalos
R-R na taxa de 6 cpm e 15 cpm foi de 914,35 ±
102,69
ms
e
882,35
±
151,01
ms,
respectivamente,
resultado
estatisticamente
superior (p < 0,05) aos 731,88 ± 97,66 ms
referentes à taxa de 24 cpm, sendo que nesta FV
elevada, as médias dos momentos préintervenção (927,27 ± 127,83 ms) e pósintervenção (871,06 ± 112,84 ms) foram
superiores à registrada no momento da
intervenção (731,88 ± 97,66 ms, figura 2).
Quanto aos índices que representam a
atividade parassimpática (pNN50 e rMSSD),
comando LAP do mesmo. Após as coletas, as
informações foram transferidas para computador
portátil, utilizando o programa Polar Pro Trainer
5™ (Polar Electro OY, Finland). As análises da
VFC e seus domínios ocorreram em software
específico (Kubios HR 2.0, University of Kuopio,
Finland). Para o controle dos ciclos respiratórios,
foi empregado software metrônomo (Metronome
Plus Second Edition 2.0.0.5).
Tratamento dos dados da VFC
A VFC foi analisada com a utilização de
método linear sobre o domínio do tempo, na qual
se obtem a raiz quadrada da média do quadrado
das diferenças entre intervalos R-R normais
adjacentes, em um intervalo de tempo, expresso
em ms (rMSSD), assim como a porcentagem de
intervalos R-R com diferenciação de duração
maior que 50ms quando comparados aos
intervalos adjacentes (pNN50), e a média dos
intervalos R-R (R-R Médio). Outro método de
análise empregado envolveu o domínio da
frequência, a partir da utilização da transformada
rápida de Fourier (FFT), da qual se extraíram os
componentes de muito baixa frequência (MBF; <
0,04 Hz), baixa frequência (BF; 0,04 – 0,15 Hz),
alta frequência (AF; 0,15 – 0,40 Hz), assim como
a razão BF/AF e a partir da soma de AF e BF,
quando é adquirida a Potência Total, P.T8-18-19.
Análise Estatística
Contou-se com estatística descritiva
(média e desvio padrão) para apresentação dos
dados. Foi conduzida análise de variância de dois
caminhos com medidas repetidas (momento).
Para comparação entre procedimentos adotados,
realizou-se teste de esfericidade de Mauchly e
correção
de
Greenhouse-Geisser
quando
necessária. Para diferenças com valores de F
estatisticamente significantes, empregou-se posthoc de Bonferroni para localização das mesmas.
Adotou-se 5% como nível de significância
estatística.
RESULTADOS
Respostas da Frequência Cardíaca
Indica-se
ausência
de
diferenças
estatísticas entre os momentos pré-intervenção
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encontrou-se decréscimo gerado com o aumento
do ritmo ventilatório. Durante o momento de
intervenção, o pNN50 sofreu redução significativa
tendo seus índices reduzidos de 38,31 ± 12,71 %
para 21,59 ± 21,65 % quando se comparam 6
cpm e 24 cpm (p < 0,001), havendo diferença
também entre 15 cpm e 24 cpm, respectivamente
34,40 ± 23,05 % e 21,59 ± 21,65 % (p < 0,05). Na
frequência ventilatória lenta (6 cpm), o índice no
momento da intervenção (38,31 ± 12,71%) é
estatisticamente superior ao índice nos momentos
pré-intervenção (21,74 ± 12,18%) e pósintervenção (17,54 ± 10,18%, com p < 0,001).
Enquanto na frequência normal (15 cpm) o índice
no momento da intervenção (34,40 ± 23,05%) é
estatisticamente diferente apenas do momento
pós-intervenção (22,12 ± 11,95%, p < 0,05).
Efeito semelhante foi gerado sobre
rMSSD, com diferença estatística quando se
comparam os índices em 24 cpm (78,15 ± 27,85
ms) com os índices em 15 cpm (61,60 ± 34,89
ms, p < 0,05) e 6 cpm (40,51 ± 19,46 ms, p <
0,001) durante a fase de intervenção. Em 6 cpm,
o índice encontrado na fase de intervenção (78,15
± 27,85 ms) é estatisticamente diferente do índice
encontrado na fase de pré-intervenção (45,49 ±
19,63 ms, p< 0,001) e pós-intervenção (42,81 ±
13,68 ms, p < 0,01)
pré-intervenção
Média dos intervalos RR (ms)
1200
intervenção
pós-intervenção
1000
#
800
600
400
200
0
6 cpm
15 cpm
24 cpm
Figura 2. Alterações no intervalo R-R médio, segundo frequência respiratória.
* diferente do ritmo de 24 cpm (p < 0,05), para mesmo momento.
# diferente de pré e pós-intervenção (p < 0,05), para mesma frequência ventilatória.
Alterações no Domínio da Frequência da VFC
Quando se analisam os dados do domínio
da frequência, foram encontradas diferenças
referentes ao ritmo (F= 4,49; p < 0,05) e ao
momento (F= 3,74; p < 0,05) em banda de alta
frequência (0,15 a 0,4Hz). Nesta banda, durante a
fase de intervenção, os valores sofreram
decréscimo conforme aumento dos ciclos
respiratórios,
sendo
encontrada
diferença
significante entre a respiração em bradipneia (6
cpm) e normal (15 cpm), quando comparadas
com respiração em taquipneia (24 cpm).
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Em banda de frequência baixa (0,00 a
0,15Hz), as diferenças foram encontradas
relacionadas ao ritmo (F = 31,89; p < 0,001); e ao
momento (F = 8,98; p < 0,001). No período de
intervenção,
foram
registradas
diferenças
significativas quando se comparam os valores da
respiração lenta aos encontrados em respiração
normal e rápida, assim como foi encontrada
diferença do momento de intervenção, quando
comparado ao momento pré-intervenção e pósintervenção, na FV de 6 cpm (Tabela 1). Porém
não foram registradas diferenças relacionadas ao
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ritmo (F = 0,2; p = 0,81) e ao momento (F = 2,83;
p = 0,07) em banda de muita baixa frequência.
No que diz respeito ao controle do
balanço simpato-vagal, a razão entre as bandas
de alta e baixa frequência sofreu alterações
significativas referentes ao ritmo (F = 13,7; p <
0,001) e ao momento (F = 3,83; p < 0,05). Em
frequência considerada lenta houve diferença
estatística dos índices na fase de intervenção
quando confrontados com a fase de préintervenção e pós-intervenção e, em frequência
considerada
normal,
há
diferença entre
intervenção e pós-intervenção. Ainda, foram
6 cpm
encontradas diferenças entre a frequência
ventilatória em 6 cpm quando comparada com a
frequência considerada normal e elevada durante
a fase de intervenção.
Com referência à P.T., foram encontradas
diferenças quanto ao momento (F = 8,21; p <
0,001) e ao ritmo (F = 20,06; p < 0,001). Os
valores a 6 cpm são superiores aos valores à 15
cpm e 24 cpm durante o momento da
intervenção. Ainda em respiração a 6 cpm, os
valores na fase de intervenção são superiores
aos encontrados na fase de pré-intervenção e
pós-intervenção (Tabela 1).
MBF (ms²)
BF (ms²)
AF (ms²)
BF/AF
P.T. (ms²)
Pré-Intervenção
2864,3±3834,4
2470,9±1704,9
677,3±555,9
4,3±2,1
3148,2±2087,9
Intervenção
2238,6±3525,4
Pós-
3288,0±3490,7
2404,5±1306,4
519,5±338,9
5,6±2,9
2925,9±1460,5
Pré-Intervenção
3489,4±2874,7
2944,7±1724,8
952,3±835,1
4,2±2,7
3896,9±2241,0
Intervenção
1536,3±1232,0
1193,1±1114,9
1957,1±2017,1
1,2±1,5
c
3150,2±2786,1
Pós-
3296,1±3329,5
3163,3±1942,1
1104,6±1738,2
5,4± 3,4
4267,9±2932,9
Pré-Intervenção
2645,7±3611,5
2244,4±1231,9
731,3±462,6
3,6±1,6
2975,7±1581,8
Intervenção
1581,6±2317,8
432,3±434,9
231,0±220,1
b
2,7±1,9
663,3±563,4
Pós-
4716,6±4850,9
2774,3±1563,3
832,8±725,2
6,3±6,2
3607,1±1982,1
ab
1083,0±5681,4
1628,3±1736,1
ab
9,5±4,8
ab
12454,3±7129,1
Intervenção
15 cpm
Intervenção
24 cpm
Intervenção
Tabela 1. Valores relacionados aos índices no domínio da frequência (média ± desvio padrão).
a: Diferente do momento pré e pós-intervenção para a mesma frequência (p < 0,05)
b: Diferente dos demais ritmos para o mesmo momento (p < 0,001)
c: Diferente do momento pós-intervenção (p < 0,05)
MBF: muito baixa frequência. BF: baixa frequência. AF: alta frequência. BF/AF: razão entre bandas de
frequência. P.T.: potência total.
DISCUSSÃO
O propósito do presente estudo foi
identificar os efeitos da manipulação da
frequência ventilatória sobre FC e índices
relacionados à VFC, e o seu principal achado foi
constatar que alterações no ritmo ventilatório
afetam significativamente a média dos intervalos
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R-R, indicando alterações na atividade simpática
e parassimpática. Constatou-se, também, que
diferentes taxas da FV modificam diretamente a
FC.
Efeitos da frequência ventilatória no domínio
do tempo da VFC
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O domínio do tempo da VFC e seus
componentes calculam índices de flutuações na
duração de ciclos cardíacos e refletem a atividade
simpato-vagal2. Determina-se, com este domínio,
a dispersão da duração dos intervalos entre
complexos QRS normais20. Seu conhecimento e
aplicação se relacionam à possibilidade de
utilização dos intervalos R-R como indicador
prévio de doenças cardíacas, assim como sua
associação com índices de morbidade e
mortalidade cardiovascular.
Em frequência ventilatória elevada (24
cpm) houve redução na média dos intervalos R-R,
o que ocorre de maneira inversa à medida que os
ciclos por minutos diminuem, sendo encontrada
diferença significativa quando comparadas
respiração lenta e normal com respiração
elevada. Tais resultados estão de acordo com os
11-14
, que
observados em outras investigações
encontraram redução nos intervalos R-R à
medida que frequência ventilatória aumentava.
Esta resposta decorre de mudanças na atividade
vagal e simpática sobre o nó sino-atrial, sendo
que em taxas de respiração baixa é gerado
equilíbrio entre atuação vagal e simpática; porém,
em ciclos respiratórios elevados ocorre inibição
vagal14.
De modo sumário, o controle da taxa
respiratória pode ser utilizado para melhora das
condições de saúde em certas populações. Com
indivíduos que sofrem de insuficiência cardíaca, a
respiração em taxas elevadas reduz a tolerância
ao exercício, sendo considerada uma das causas
12
da dispneia . Em contra partida, isto pode ser
aumentado com treinamento que estimule
redução da frequência ventilatória, a qual
acarretará em redução da dispnéia, aumento da
saturação de oxigênio e melhora no desempenho
físico12. Adicionalmente, indivíduos treinados para
respirar em taxas respiratórias lentas geram
efeitos positivos sobre a regulação autonômica
cardiovascular na saúde e em várias doenças
cardiovasculares, especialmente na redução da
pressão sanguínea13.
vago sobre o miocárdio, assim como a ação
conjunta da porção simpática e parassimpática.
As medidas neste domínio derivam de análise do
espectro de potência, sendo os dados
20
apresentados em função da frequência . A
banda de BF é modulada em conjunto pelos
sistemas simpático e parassimpático, com
predomínio do primeiro sobre o segundo, e reflete
alterações no sistema barorreflexo, já a banda de
AF, por sua vez, está relacionada com a atuação
vagal sobre a modulação respiratória18, porém a
banda de muita baixa frequência ainda não
8-19
possui atuação bem definida .
Em nosso estudo, os índices de BF
sofreram redução com o aumento dos ciclos
respiratórios, o que está de acordo com
investigação prévia, que registrou redução deste
índice quando compararam respiração à 5 cpm,
15 cpm e 25 cpm11. Tais achados podem indicar
alterações na função barroreceptora entre as
diferentes frequências ventilatórias, uma vez que
a banda de BF aponta para mudanças no sistema
barorreflexo. A respiração em taxa considerada
lenta (6 cpm) aumenta a sensibilidade do
barroreflexo, reduzindo a atividade simpática,
sendo este efeito capaz de gerar diminuição da
pressão arterial, o que seria benéfico no contexto
21
da hipertensão arterial .
Quanto ao exercício físico, recentemente
se observou que: i) o modo como ocorre a FV
pode contribuir no processo de recuperação após
esforço intenso22 e ii) a elevação da FV aumenta
o desempenho físico em esforços intermitentes
22
de alta intensidade . Por fim, o aumento da FC e
a diminuição da VFC, relacionadas apenas ao
número de ciclos ventilatórios, sugerem não ser
necessária a transição repouso-exercício para
que a atividade vagal seja inibida. Tal achado
levanta a hipótese da necessidade de controle da
frequência ventilatória em estudos que avaliam os
efeitos agudos do exercício físico na VFC.
Efeitos da frequência ventilatória no domínio
da frequência da VFC
O domínio da frequência, expresso por
diferentes variáveis, reflete a atuação do nervo
Conclui-se que manipulação da
frequência ventilatória é capaz de afetar a
frequência cardíaca e os índices da VFC,
havendo relação inversa entre elas: quanto
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CONCLUSÃO
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maiores
as
frequências
dos
ciclos
ventilatórios,
menores
os
índices
relacionados aos domínios do tempo e da
frequência na VFC.
Estes resultados podem contribuir
para a compreensão das alterações
cardiovasculares associadas à respiração, e
para o delineamento de estudo que têm,
como objetivo, os efeitos do exercício físico
na VFC e de programas de atividades físicas
em diferentes grupos populacionais, com
foco no aprendizado de controle da FV pré e
pós-esforço, por exemplo.
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