Revista Iberoamericana de Arritmología – ria Artículo Original DOI: 10.5031/v5i1.RIA10245 Efeitos da frequência ventilatória sobre os índices da variabilidade da frequência cardíaca Jonathan Barth1; Fabrício B. Del Vecchio2 1: Graduando em Educação Física – Universidade Federal de Pelotas - UFPEL 2: Doutor em Ciências do Esporte – Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP RESUMO frequência (BF) foram encontradas diferenças estatísticas relacionadas ao ritmo e ao momento, porém não foram encontradas alterações em banda de muito baixa frequência (MBF). Registraram-se alterações na potência total (P.T) e na razão entre as bandas de frequência (BF/AF) tanto ao se considerar ritmo, quanto momento. Conclusões: Alterações na FV afetam significativamente a média da frequência cardíaca, e altera índices da VFC, tanto do domínio do tempo, quanto do domínio da frequência. Introdução e objetivos: O objetivo deste estudo foi mensurar os efeitos do ritmo ventilatório na regulação do tônus simpático, avaliada a partir de variáveis referentes à variabilidade da frequência cardíaca (VFC). Métodos: Foram envolvidos no estudo 15 voluntários fisicamente ativos, estudantes de Educação Física, os quais realizaram três intervenções, organizadas de maneira aleatória, com frequência ventilatória (FV) a 6, 15 e 24 ciclos por minuto (cpm). Registraram-se as medidas de VFC e da frequência cardíaca antes, durante e após a intervenção com diferentes FV. A análise dos dados contou com estatística descritiva e ANOVA de dois caminhos com medidas repetidas. Resultados: Encontraram-se diferenças significativas na frequência cardíaca média à medida que os ciclos ventilatórios aumentaram, indo de 66,20 ± 6,77 bpm em 6 cpm à 83,20 ± 10,90 bpm em 24 com (p < 0,001). A média dos intervalos R-R diminuiu quando o número de ciclos ventilatórios aumentou (relação inversão), com diferença significativa durante a fase de intervenção quando comparado o valor em frequência ventilatório baixa e normal com o valor encontrado em frequência ventilatória elevada (respectivamente 914,35 ± 102,69 ms; 882,35 ± 151,01 ms e 731,88 ± 97,66 ms; p < 0,001). Índices no domínio do tempo (pNN50 e rMSSD) também sofreram decréscimo à medida que os ciclos ventilatórios aumentaram (p < 0,001). Em banda de alta frequência (AF) e baixa Effects of ventilatory rate on indices of heart rate variability ABSTRACT Introduction and objetives: The aim of this study was to measure the effects of ventilation rate in the regulation of sympathetic tone, assessed from variables related to heart rate variability (HRV). Methods: 15 physically active volunteers who were physical education students were enrolled in the study and underwent three interventions, arranged randomly, with ventilatory frequency (VF) of 6, 15 and 24 cycles per minute (cpm). The measures of HRV and heart rate were recorded before, during and after intervention with different VF. Data analysis included descriptive statistics and ANOVA two-way. Results: Significant differences were found in average heart rate as the ventilation cycles increased, varying from 66.20 ± 6.77 bpm at 6 cpm to 83.20 ± 10.90 bpm at 24cpm (p < 0.001). The mean R-R interval decreased when the number of ventilation cycles increased (ratio inversion), with a significant difference during the intervention phase when comparing the value at low and normal Jonathan Barth Endereço: Rua General Telles, 861, apto 301 – Centro – Pelotas / RS – Brasil Telefone: (53) 8109-0663 E-mail: [email protected] www.ria-online.com 185 May 14 Vol.5 No. 1 Revista Iberoamericana de Arritmología – ria Artículo Original DOI: 10.5031/v5i1.RIA10245 modulam o comportamento cardíaco, elenca-se a respiração, especialmente por meio de alterações na frequência ventilatória, FV9. O controle da FV é feito através de centro respiratório no bulbo, a partir de neurônios dorsais e ventrais, além do centro pneumotáxico, que se encarrega do controle da frequência ventilatória e da profundidade do ciclo respiratório10. Este controle pode gerar FV de 5-6 cpm à 30-40 cpm, respectivamente conhecidas como limites de bradipneia e taquipneia10. A tendência é que, com a redução da frequência ventilatória para 6 cpm (bradpneia), os intervalos R-R aumentem, não sendo esperado haver diferença entre respiração controlada (15 cpm) e respiração espontânea; porém, com aumento dos ciclos respiratórios para nível considerado alto (24 cpm) haveria ação inversa, 11 causando redução dos intervalos R-R . Com efeito, estudos demonstram que ciclos respiratórios baixos (6 cpm) melhoram a sensibilidade dos barorreceptores, causando redução da resposta quimiorreceptora12-13, o que implicaria no melhor entendimento de alterações cardiovasculares, podendo ser utilizada como ferramenta para identificar hiperatividade simpática, assim como condições de saúde e doença associadas. Adicionalmente, existe uma gama razoável de estudos que relacionam o controle da frequência ventilatória com alterações no intervalo R-R e frequência cardíaca11-14-15, os quais, por vezes, são contraditórios. Porém, investigações que analisam os demais índices da VFC referentes à alteração do ciclo ventilatório não foram localizadas. Com isto, o objetivo deste trabalho foi mensurar os efeitos do ritmo ventilatório na regulação do tônus simpático, a partir de variáveis da variabilidade da frequência cardíaca. respiratory frequency with the value found in high frequency ventilation (respectively 914.35 ± 102.69 ms, 882.35 ± 151.01 ms and 731.88 ± 97.66 ms, p < 0.001). Time domain indices (pNN50 and rMSSD) also suffered declines as the ventilation cycles increased (p < 0.001). In the high frequency (HF) and low frequency (LF) bands significant differences related to rhythm and time were found, but there were no changes in the very low frequency (VLF) band. Still, we recorded changes in total power (TP) and in the ratio between frequency bands (LF / HF) both when considering pace, or moment. Conclusions: Changes in VF significantly affect the average heart rate, and alters HRV indices, both in the time and frequency domains. INTRODUÇÃO A variação no tempo de execução dos ciclos cardíacos, representada pelos intervalos RR, é denominada Variabilidade da Frequência Cardíaca, VFC1, e tais oscilações explicitam a adaptação do Sistema Nervoso Autônomo (SNA) aos múltiplos estímulos fisiológicos e ambientais23 , os quais elevam a FC e causam redução na VFC. Este controle se dá pela relação direta das vias simpáticas e parassimpáticas, que formulam respostas à adequação da FC a diferentes situações e necessidades. Assim, a FC aumenta em resposta à maior ativação da via simpática e menor ação parassimpática (inibição vagal), e diminui frente ao aumento da atividade parassimpática, como reflexo da atuação vagal1-3. Por representar método não invasivo de análise dos impulsos autonômicos, e considerando a baixa complexidade para sua coleta, a VFC vem sendo utilizada com frequência no estudo de diferentes patologias2, sendo considerada indicador prévio de riscos à saúde e 4utilizada para avaliar as adaptações ao exercício 5 . Assim, VFC alta representa boa adaptação do SNA, com funcionamento adequado dos mecanismos autonômicos, e o contrário se faz presente quando há VFC baixa, o que tende a representar comprometimento de funções 6-7-8 fisiológicas . Dentre os diversos fatores que www.ria-online.com MATERIAIS E MÉTODOS Tipo de estudo, caracterização das variáveis e amostra Este estudo é caracterizado como experimental, contrabalanceado e com medidas repetidas. As variáveis dependentes são derivadas da VFC e as variáveis independentes 186 May 14 Vol.5 No. 1 Revista Iberoamericana de Arritmología – ria Artículo Original DOI: 10.5031/v5i1.RIA10245 são ritmo da frequência ventilatória e momento de análise, pré-intervenção, intervenção e pósintervenção. A amostra envolveu 15 universitários, estudantes do curso de Educação Física, e foram elencados os seguintes critérios de inclusão: 1) ser do sexo masculino, 2) ter entre 18 e 28 anos; 3) não estar utilizando qualquer tipo de medicação; 4) não ser fumante, ou dependente químico; 5) não possuir problemas respiratórios ou cardíacos medicamente diagnosticados, e; 6) ser considerado fisicamente ativo, acumulando 150 minutos de atividade física em intensidade 16 moderada por semana . Previamente à coleta de dados, os indivíduos responderam a anamnese e assinaram termo de consentimento livre e esclarecido (Projeto aprovado no Comitê de ética em pesquisa local, 453.760/2013). bebidas alcoólicas nas 24 horas anteriores aos testes; e 3) praticar exercício físico nas 12h que 17 antecedessem aos teste . Adicionalmente, todas as coletas ocorreram em período vespertino, entre 18 e 21h. Intervenções e Procedimentos Foram realizadas três intervenções, aleatoriamente ordenadas, com vistas à mensuração dos efeitos de diferentes ciclos respiratórios na VFC. Para isto, empregaram-se três FV controladas: 1) ventilação em bradipneia, com 6 cpm11-13; 2) ventilação em ritmo considerado normal, a 15 cpm12-13; e 3) ventilação em taquipneia, com 24 cpm11. Inicialmente, cumpriram-se 10 min em repouso total (posição corporal sentada) antes de cada teste, e só então foi colocada a cinta torácica do cardiofrequencímetro (Polar™, modelo RS800CX). Logo após, os participantes respiraram de maneira espontânea por cinco minutos para, em seguida, realizarem protocolo de intervenção sorteado. Por fim, permaneceram novamente cinco minutos em respiração espontânea (figura 1). Delineamento Experimental Os sujeitos compareceram ao laboratório em visita única, previamente agendada, sendo que os mesmos não puderam: 1) ingerir cafeína nas 3h que precederam aos testes; 2) consumir Figura 1. Delineamento experimental do estudo. Coleta e Registro dos Dados registrados em monitor de pulso (Polar™, modelo RS800CX, Polar Electro OY, Finland). A frequência de registro da VFC no monitor de pulso foi contínua, e depurada com emprego do Os sinais referentes à atividade cardíaca foram captados por cinta torácica Wear Link™, e www.ria-online.com 187 May 14 Vol.5 No. 1 Revista Iberoamericana de Arritmología – ria Artículo Original DOI: 10.5031/v5i1.RIA10245 nas três frequências ventilatórias (6, 15 e 24 cpm) para frequência cardíaca média (FCMED, respectivamente 67 ± 8,52 bpm, 67,13 ± 8,34 bpm e 65,73 ± 8,34 bpm) e para frequência cardíaca máxima (FCMÁX, respectivamente 86 ± 8,65 bpm, 90 ± 9,23 bpm e 87,13 ± 11,42 bpm). Na amostra em questão foram encontradas diferenças de FCMED quando se consideram ritmos aplicados (F = 11,09; p < 0,001) e momentos (F = 21,13; p < 0,001). As diferenças significativas ocorrem entre a respiração lenta (6 cpm) e normal (15 cpm) em comparação à respiração rápida (24 cpm), durante a fase de intervenção com médias de 66,20 ± 6,77 bpm, 69,93 ± 12,45 bpm e 83,20 ± 10,90 bpm, respectivamente. Na FV rápida, o valor médio durante a intervenção (83,20 ± 10,90 bpm) foi estatisticamente superior ao encontrado durante a fase de pré-intervenção (65,73 ± 8,34 bpm; p < 0,001) e pós-intervenção (69,80 ± 8,06 bpm; p < 0,001). Na FCMÁX se registraram diferenças referentes ao ritmo (F = 4,68; p < 0,05) e momento (F= 10,92; p < 0,001). Durante a intervenção, o valor na respiração elevada (97,53 ± 9,02 bpm) foi estatisticamente superior ao das ventilações consideradas normal (87,93 ± 11,34 bpm) e baixa (87,73 ± 8,84 bpm). Este valor também foi superior ao do momento préintervenção para o mesmo ritmo (87,13 ± 11,42 bpm); porém, não houve diferença em relação ao momento pós-intervenção (94,80 ± 10,05 bpm) Alterações no Domínio do Tempo da VFC Observaram-se diferenças quanto ao ritmo (F = 11,24; p < 0,001), e ao momento (F = 19,08; p < 0,001) para a média dos intervalos RR. Na fase de intervenção, a média dos intervalos R-R na taxa de 6 cpm e 15 cpm foi de 914,35 ± 102,69 ms e 882,35 ± 151,01 ms, respectivamente, resultado estatisticamente superior (p < 0,05) aos 731,88 ± 97,66 ms referentes à taxa de 24 cpm, sendo que nesta FV elevada, as médias dos momentos préintervenção (927,27 ± 127,83 ms) e pósintervenção (871,06 ± 112,84 ms) foram superiores à registrada no momento da intervenção (731,88 ± 97,66 ms, figura 2). Quanto aos índices que representam a atividade parassimpática (pNN50 e rMSSD), comando LAP do mesmo. Após as coletas, as informações foram transferidas para computador portátil, utilizando o programa Polar Pro Trainer 5™ (Polar Electro OY, Finland). As análises da VFC e seus domínios ocorreram em software específico (Kubios HR 2.0, University of Kuopio, Finland). Para o controle dos ciclos respiratórios, foi empregado software metrônomo (Metronome Plus Second Edition 2.0.0.5). Tratamento dos dados da VFC A VFC foi analisada com a utilização de método linear sobre o domínio do tempo, na qual se obtem a raiz quadrada da média do quadrado das diferenças entre intervalos R-R normais adjacentes, em um intervalo de tempo, expresso em ms (rMSSD), assim como a porcentagem de intervalos R-R com diferenciação de duração maior que 50ms quando comparados aos intervalos adjacentes (pNN50), e a média dos intervalos R-R (R-R Médio). Outro método de análise empregado envolveu o domínio da frequência, a partir da utilização da transformada rápida de Fourier (FFT), da qual se extraíram os componentes de muito baixa frequência (MBF; < 0,04 Hz), baixa frequência (BF; 0,04 – 0,15 Hz), alta frequência (AF; 0,15 – 0,40 Hz), assim como a razão BF/AF e a partir da soma de AF e BF, quando é adquirida a Potência Total, P.T8-18-19. Análise Estatística Contou-se com estatística descritiva (média e desvio padrão) para apresentação dos dados. Foi conduzida análise de variância de dois caminhos com medidas repetidas (momento). Para comparação entre procedimentos adotados, realizou-se teste de esfericidade de Mauchly e correção de Greenhouse-Geisser quando necessária. Para diferenças com valores de F estatisticamente significantes, empregou-se posthoc de Bonferroni para localização das mesmas. Adotou-se 5% como nível de significância estatística. RESULTADOS Respostas da Frequência Cardíaca Indica-se ausência de diferenças estatísticas entre os momentos pré-intervenção www.ria-online.com 188 May 14 Vol.5 No. 1 Revista Iberoamericana de Arritmología – ria Artículo Original DOI: 10.5031/v5i1.RIA10245 encontrou-se decréscimo gerado com o aumento do ritmo ventilatório. Durante o momento de intervenção, o pNN50 sofreu redução significativa tendo seus índices reduzidos de 38,31 ± 12,71 % para 21,59 ± 21,65 % quando se comparam 6 cpm e 24 cpm (p < 0,001), havendo diferença também entre 15 cpm e 24 cpm, respectivamente 34,40 ± 23,05 % e 21,59 ± 21,65 % (p < 0,05). Na frequência ventilatória lenta (6 cpm), o índice no momento da intervenção (38,31 ± 12,71%) é estatisticamente superior ao índice nos momentos pré-intervenção (21,74 ± 12,18%) e pósintervenção (17,54 ± 10,18%, com p < 0,001). Enquanto na frequência normal (15 cpm) o índice no momento da intervenção (34,40 ± 23,05%) é estatisticamente diferente apenas do momento pós-intervenção (22,12 ± 11,95%, p < 0,05). Efeito semelhante foi gerado sobre rMSSD, com diferença estatística quando se comparam os índices em 24 cpm (78,15 ± 27,85 ms) com os índices em 15 cpm (61,60 ± 34,89 ms, p < 0,05) e 6 cpm (40,51 ± 19,46 ms, p < 0,001) durante a fase de intervenção. Em 6 cpm, o índice encontrado na fase de intervenção (78,15 ± 27,85 ms) é estatisticamente diferente do índice encontrado na fase de pré-intervenção (45,49 ± 19,63 ms, p< 0,001) e pós-intervenção (42,81 ± 13,68 ms, p < 0,01) pré-intervenção Média dos intervalos RR (ms) 1200 intervenção pós-intervenção 1000 # 800 600 400 200 0 6 cpm 15 cpm 24 cpm Figura 2. Alterações no intervalo R-R médio, segundo frequência respiratória. * diferente do ritmo de 24 cpm (p < 0,05), para mesmo momento. # diferente de pré e pós-intervenção (p < 0,05), para mesma frequência ventilatória. Alterações no Domínio da Frequência da VFC Quando se analisam os dados do domínio da frequência, foram encontradas diferenças referentes ao ritmo (F= 4,49; p < 0,05) e ao momento (F= 3,74; p < 0,05) em banda de alta frequência (0,15 a 0,4Hz). Nesta banda, durante a fase de intervenção, os valores sofreram decréscimo conforme aumento dos ciclos respiratórios, sendo encontrada diferença significante entre a respiração em bradipneia (6 cpm) e normal (15 cpm), quando comparadas com respiração em taquipneia (24 cpm). www.ria-online.com Em banda de frequência baixa (0,00 a 0,15Hz), as diferenças foram encontradas relacionadas ao ritmo (F = 31,89; p < 0,001); e ao momento (F = 8,98; p < 0,001). No período de intervenção, foram registradas diferenças significativas quando se comparam os valores da respiração lenta aos encontrados em respiração normal e rápida, assim como foi encontrada diferença do momento de intervenção, quando comparado ao momento pré-intervenção e pósintervenção, na FV de 6 cpm (Tabela 1). Porém não foram registradas diferenças relacionadas ao 189 May 14 Vol.5 No. 1 Revista Iberoamericana de Arritmología – ria Artículo Original DOI: 10.5031/v5i1.RIA10245 ritmo (F = 0,2; p = 0,81) e ao momento (F = 2,83; p = 0,07) em banda de muita baixa frequência. No que diz respeito ao controle do balanço simpato-vagal, a razão entre as bandas de alta e baixa frequência sofreu alterações significativas referentes ao ritmo (F = 13,7; p < 0,001) e ao momento (F = 3,83; p < 0,05). Em frequência considerada lenta houve diferença estatística dos índices na fase de intervenção quando confrontados com a fase de préintervenção e pós-intervenção e, em frequência considerada normal, há diferença entre intervenção e pós-intervenção. Ainda, foram 6 cpm encontradas diferenças entre a frequência ventilatória em 6 cpm quando comparada com a frequência considerada normal e elevada durante a fase de intervenção. Com referência à P.T., foram encontradas diferenças quanto ao momento (F = 8,21; p < 0,001) e ao ritmo (F = 20,06; p < 0,001). Os valores a 6 cpm são superiores aos valores à 15 cpm e 24 cpm durante o momento da intervenção. Ainda em respiração a 6 cpm, os valores na fase de intervenção são superiores aos encontrados na fase de pré-intervenção e pós-intervenção (Tabela 1). MBF (ms²) BF (ms²) AF (ms²) BF/AF P.T. (ms²) Pré-Intervenção 2864,3±3834,4 2470,9±1704,9 677,3±555,9 4,3±2,1 3148,2±2087,9 Intervenção 2238,6±3525,4 Pós- 3288,0±3490,7 2404,5±1306,4 519,5±338,9 5,6±2,9 2925,9±1460,5 Pré-Intervenção 3489,4±2874,7 2944,7±1724,8 952,3±835,1 4,2±2,7 3896,9±2241,0 Intervenção 1536,3±1232,0 1193,1±1114,9 1957,1±2017,1 1,2±1,5 c 3150,2±2786,1 Pós- 3296,1±3329,5 3163,3±1942,1 1104,6±1738,2 5,4± 3,4 4267,9±2932,9 Pré-Intervenção 2645,7±3611,5 2244,4±1231,9 731,3±462,6 3,6±1,6 2975,7±1581,8 Intervenção 1581,6±2317,8 432,3±434,9 231,0±220,1 b 2,7±1,9 663,3±563,4 Pós- 4716,6±4850,9 2774,3±1563,3 832,8±725,2 6,3±6,2 3607,1±1982,1 ab 1083,0±5681,4 1628,3±1736,1 ab 9,5±4,8 ab 12454,3±7129,1 Intervenção 15 cpm Intervenção 24 cpm Intervenção Tabela 1. Valores relacionados aos índices no domínio da frequência (média ± desvio padrão). a: Diferente do momento pré e pós-intervenção para a mesma frequência (p < 0,05) b: Diferente dos demais ritmos para o mesmo momento (p < 0,001) c: Diferente do momento pós-intervenção (p < 0,05) MBF: muito baixa frequência. BF: baixa frequência. AF: alta frequência. BF/AF: razão entre bandas de frequência. P.T.: potência total. DISCUSSÃO O propósito do presente estudo foi identificar os efeitos da manipulação da frequência ventilatória sobre FC e índices relacionados à VFC, e o seu principal achado foi constatar que alterações no ritmo ventilatório afetam significativamente a média dos intervalos www.ria-online.com R-R, indicando alterações na atividade simpática e parassimpática. Constatou-se, também, que diferentes taxas da FV modificam diretamente a FC. Efeitos da frequência ventilatória no domínio do tempo da VFC 190 May 14 Vol.5 No. 1 Revista Iberoamericana de Arritmología – ria Artículo Original DOI: 10.5031/v5i1.RIA10245 O domínio do tempo da VFC e seus componentes calculam índices de flutuações na duração de ciclos cardíacos e refletem a atividade simpato-vagal2. Determina-se, com este domínio, a dispersão da duração dos intervalos entre complexos QRS normais20. Seu conhecimento e aplicação se relacionam à possibilidade de utilização dos intervalos R-R como indicador prévio de doenças cardíacas, assim como sua associação com índices de morbidade e mortalidade cardiovascular. Em frequência ventilatória elevada (24 cpm) houve redução na média dos intervalos R-R, o que ocorre de maneira inversa à medida que os ciclos por minutos diminuem, sendo encontrada diferença significativa quando comparadas respiração lenta e normal com respiração elevada. Tais resultados estão de acordo com os 11-14 , que observados em outras investigações encontraram redução nos intervalos R-R à medida que frequência ventilatória aumentava. Esta resposta decorre de mudanças na atividade vagal e simpática sobre o nó sino-atrial, sendo que em taxas de respiração baixa é gerado equilíbrio entre atuação vagal e simpática; porém, em ciclos respiratórios elevados ocorre inibição vagal14. De modo sumário, o controle da taxa respiratória pode ser utilizado para melhora das condições de saúde em certas populações. Com indivíduos que sofrem de insuficiência cardíaca, a respiração em taxas elevadas reduz a tolerância ao exercício, sendo considerada uma das causas 12 da dispneia . Em contra partida, isto pode ser aumentado com treinamento que estimule redução da frequência ventilatória, a qual acarretará em redução da dispnéia, aumento da saturação de oxigênio e melhora no desempenho físico12. Adicionalmente, indivíduos treinados para respirar em taxas respiratórias lentas geram efeitos positivos sobre a regulação autonômica cardiovascular na saúde e em várias doenças cardiovasculares, especialmente na redução da pressão sanguínea13. vago sobre o miocárdio, assim como a ação conjunta da porção simpática e parassimpática. As medidas neste domínio derivam de análise do espectro de potência, sendo os dados 20 apresentados em função da frequência . A banda de BF é modulada em conjunto pelos sistemas simpático e parassimpático, com predomínio do primeiro sobre o segundo, e reflete alterações no sistema barorreflexo, já a banda de AF, por sua vez, está relacionada com a atuação vagal sobre a modulação respiratória18, porém a banda de muita baixa frequência ainda não 8-19 possui atuação bem definida . Em nosso estudo, os índices de BF sofreram redução com o aumento dos ciclos respiratórios, o que está de acordo com investigação prévia, que registrou redução deste índice quando compararam respiração à 5 cpm, 15 cpm e 25 cpm11. Tais achados podem indicar alterações na função barroreceptora entre as diferentes frequências ventilatórias, uma vez que a banda de BF aponta para mudanças no sistema barorreflexo. A respiração em taxa considerada lenta (6 cpm) aumenta a sensibilidade do barroreflexo, reduzindo a atividade simpática, sendo este efeito capaz de gerar diminuição da pressão arterial, o que seria benéfico no contexto 21 da hipertensão arterial . Quanto ao exercício físico, recentemente se observou que: i) o modo como ocorre a FV pode contribuir no processo de recuperação após esforço intenso22 e ii) a elevação da FV aumenta o desempenho físico em esforços intermitentes 22 de alta intensidade . Por fim, o aumento da FC e a diminuição da VFC, relacionadas apenas ao número de ciclos ventilatórios, sugerem não ser necessária a transição repouso-exercício para que a atividade vagal seja inibida. Tal achado levanta a hipótese da necessidade de controle da frequência ventilatória em estudos que avaliam os efeitos agudos do exercício físico na VFC. Efeitos da frequência ventilatória no domínio da frequência da VFC O domínio da frequência, expresso por diferentes variáveis, reflete a atuação do nervo Conclui-se que manipulação da frequência ventilatória é capaz de afetar a frequência cardíaca e os índices da VFC, havendo relação inversa entre elas: quanto www.ria-online.com CONCLUSÃO 191 May 14 Vol.5 No. 1 Revista Iberoamericana de Arritmología – ria Artículo Original DOI: 10.5031/v5i1.RIA10245 maiores as frequências dos ciclos ventilatórios, menores os índices relacionados aos domínios do tempo e da frequência na VFC. Estes resultados podem contribuir para a compreensão das alterações cardiovasculares associadas à respiração, e para o delineamento de estudo que têm, como objetivo, os efeitos do exercício físico na VFC e de programas de atividades físicas em diferentes grupos populacionais, com foco no aprendizado de controle da FV pré e pós-esforço, por exemplo. BIBLIOGRAFIA 1. Cambri LT, Fronchetti L, De-Oliveira FR, Gevaerd MS. Variabilidade da freqüência cardíaca e controle metabólico. Arq Sanny Pesq Saúde 2008; 1:72- 82. 99. 8. Carter JB, Banister EW, Blaber AP. Effect of endurance exercise on autonomic contrai of heart rale. Sports Medicine 2003; 33:33-46. 2. Vanderlei LC, Pastre CM, Hoshi RA, Carvalho TD, Godoy MF. Noções básicas de variabilidade da frequência cardíaca e sua aplicabilidade clínica. Rev Bras Cir Cardiovascular 2009; 24(2):205-217. 9. Achten J, Jeukendrup AE. Heart rate monitoring-Applications and limitations. Sports Medicine 2003; 33:33-46. 10. Guyton AC, Hall JE. 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