Título: Colégio Estadual Chico Mendes: Um olhar HistóricoPolítico sobre a Educação Autora: Barbara Nagae1 Resumo: O presente artigo apresenta o projeto de pesquisa que propõe o estudo das relações estabelecidas entre o governo do Estado do Paraná e o Movimento Sem Terra no que tange a institucionalização de uma Escola Itinerante em um Colégio Estadual, especificamente o Colégio Estadual Chico Mendes, localizado no Assentamento Celso Furtado em Quedas do Iguaçu, região sudoeste do Paraná. Esta discussão tem seu foco em um movimento social (MST) e em políticas públicas aplicadas a educação. É valido ressaltar que este trabalho basear-se-á em referenciais metodológicos que concernam cientificidade ao trabalho ao passo em que possibilite uma análise próxima do real. Assim, o método escolhido foi o Materialismo Histórico por crer-se que o mesmo seja essencial dado o foco da problemática. Quer-se através desta pesquisa, perceber facetas do contexto educacional paranaense em um assentamento do MST e entendê-las em seu contexto histórico. Palavras-chave: Colégio Estadual Chico Mendes, Escola Itinerante, Educação e Políticas Públicas. 1estranda em educação pela UNIOESTE. Introdução Esta pesquisa baseou-se, na curiosidade e ânsia em conhecer a História do Movimento Sem Terra, os mecanismos de poder do Estado do Paraná nessa problemática, os discursos ideológicos da educação e os questionamentos que a condição humana impõe. Em um país como o Brasil que teve seu modelo de colonização pautado em exploração, sendo colônia de produtos agrícolas, passando por ciclos monocultores de açúcar, café, borracha e atualmente soja, tem-se uma economia que privilegia o latifúndio e obedece ao capital externo na medida em que não favorece a agricultura de subsistência e não se faz a reforma agrária. Há 25 anos comemorados nesse ano, surgiu em Cascavel o Movimento Sem Terra (MST), período conturbado da história política do Brasil, pois em 1984 viviam-se ainda os resultados da ditadura militar brasileira (1964-1985) e as implicações mundiais do final da Guerra Fria (1945-1991). O MST como o nome diz vem de uma luta pela terra, do sindicalismo combativo nascido da necessidade e do direito de continuar sendo camponês em resposta, as políticas neoliberais americanas, definidas assim na História do MST: ”Trabalhadores rurais sem terras, que estavam desprovidos do seu direito de produzir alimentos. Expulsos por um projeto autoritário para o campo brasileiro, capitaneado pela ditadura militar, que então cerceava direitos e liberdades de toda a sociedade. Um projeto que anunciava a “modernização” do campo quando, na verdade, estimulava o uso massivo de agrotóxicos e a mecanização, baseados em fartos (e exclusivos ao latifúndio) créditos rurais; ao mesmo tempo em que ampliavam o controle da agricultura nas mãos de grandes conglomerados agroindustriais”. (in site: WWW.mst.org.br) Em Quedas do Iguaçu, região sudoeste do Paraná ocorreu à ocupação de 80 mil hectares, no ano de 1996 por aproximadamente três mil famílias, após sete anos de luta o Movimento conseguiu a inauguração da primeira Escola Itinerante do Paraná em 2003. Os percalços e os obstáculos para a sua efetivação bem como a situação atual da Escola que passou a ser Estadual (devido à ocorrência de assentamento), são questões a serem analisadas. No site, dia-a-dia educação, que trata dos assuntos governamentais tem-se que: “Segundo Fátima Yokohama, chefe do Departamento de Diversidade da Secretaria de Estado da Educação (Seed), as escolas permanecem itinerantes enquanto o espaço físico onde se encontram é considerado um acampamento. "Após esse espaço ser reconhecido como assentamento, as escolas passam a integrar a rede estadual de educação", explicou.” Este projeto propõe-se pesquisar o Colégio Estadual Chico Mendes através das relações estabelecidas entre o governo e o MST, as alterações na relação ensino aprendizagem, pois os docentes do MST que atuavam enquanto a escola era itinerante foram substituídos por docentes do Estado o que alterou a perspectiva apresentada aos alunos. Assim, existem algumas questões que podem ser levantadas a esse respeito: de que forma isso ocorreu? A educação aos moldes governamentais supre as necessidades dos alunos no assentamento? Os professores estaduais lecionam da mesma forma que nas outras escolas, ou ainda que singularidades ocorrem? Como a educação está sendo efetivada? A escolha destas questões em detrimento de outras se deve ao fato de considerar-se fundamental analisar essas relações bem como as transformações que estão ocorrendo nesse período, a título de melhorar a compreensão e a visualização desse momento singular da Educação. A decisão por este objeto de pesquisa, que contempla o exame de fontes, tais como: questionários, textos, entrevistas, cartilhas do MST e posicionamentos do Estado, vêm de encontro á carência existente no campo historiográfico brasileiro de trabalhos voltados ao processo de formação das escolas itinerantes no Paraná, mais especificamente ao caso do Colégio Estadual Chico Mendes. Há de se considerar que a pós-graduação no Brasil tem viabilizado iniciativas de estudo e resultados referentes à produção do conhecimento das praticas sociais no que tange a educação a exemplo das linhas de pesquisa do mestrado em educação da UNIOESTE. Em recente leitura do livro: Escola e Democracia, escrito pelo educador Dermeval Saviani constata-se a importância das relações entre política e educação, pois ambas são práticas sociais. Diante de tal, atribui-se que há relação entre a temática e a política, visto que ao se analisar as praticas sociais, relacioná-las as políticas do Estado no que tange a educação no Colégio Estadual Chico Mendes, significa, dentre outros fatores, possibilitar visibilidade a sujeitos, agentes históricos, muitas vezes esquecidos. Nas palavras de Saviani: “A dimensão política da Educação consiste em que, dirigindo-se aos não antagônicos a educação os fortalece (ou enfraquece) por referência aos antagônicos e desse modo potencializa (ou despotencializa) a sua prática política. E a dimensão educativa da política consiste em que, tendo como alvo os antagônicos, a prática política se fortalece (ou enfraquece) na medida em que, pela sua capacidade de luta ela convence os não-antagônicos de sua validade (ou não validade) levando-se a se engajarem (ou não) na mesma luta.”(SAVIANI,2001). A pesquisa pauta-se, portanto, no interesse historiográfico de compreender, através metodologicamente, a de análises transformação fundamentadas ocorrida de teórico uma itinerante para uma estadual, no assentamento Celso Furtado. e escola Esta temática estabelece relações diretas com a pesquisadora visto que a mesma leciona no referido colégio e essa relação contribuiu para a definição do tema proposto. Por fim, a escolha da temática deve-se ao interesse pelo assunto desenvolvido no decorrer de algumas leituras, assim como pela sua relevância social no que concerne ao exame, em linhas gerais, da relação estabelecida entre Política e Educação. Perceber as relações estabelecidas entre Política e Educação no assentamento Celso Furtado e examinar os fatores decorrentes da mudança efetuada na escola, causada pela alteração ocorrida na transição de uma escola itinerante para um colégio estadual é do que se trata esta pesquisa, em sua fase embrionária. Ao analisar documentos da Secretaria de Educação do Paraná e do Movimento Sem Terra visa-se pesquisar seus referenciais ideológicos a fim de compreender melhor o período proposto. A constituição do Movimento Sem Terra tornou-se possível, dadas as condições históricas no Brasil, dentre elas destaca-se: a necessidade da Reforma Agrária, a exploração do campo através de latifúndios, a desigualdade social causada pelo sistema capitalista de produção e o Estado dormente diante das necessidades de seu povo. A reflexão feita no site do MST demonstra que entre as preocupações encontram-se além da reforma agrária, outras medidas de caráter social, tais como: o fim do latifúndio, da produção voltada para o mercado externo e da utilização de transgênicos. Consta no site: “É preciso realizar uma ampla Reforma Agrária, com caráter popular, para garantir acesso à terra para todos os que nela trabalham. Garantir a posse e uso de todas as comunidades originárias, dos povos indígenas, ribeirinhos, seringueiros, geraiszeiros e quilombolas. Estabelecer um limite máximo ao tamanho da propriedade de terra, como forma de garantir sua utilização social e racional. É preciso organizar a produção agrícola nacional tendo como objetivo principal a produção de alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos e organismos geneticamente modificados (transgênicos) para toda a população, aplicando assim o princípio da soberania alimentar. A política de exportação de produtos agrícolas deve ser apenas complementar, buscando maior valor agregado possível e evitando a exportação de matérias- primas.” (site: WWW.mst.org.br). Outra questão importante discutida pelo MST é a educação. No site oficial do MST, têm-se: A educação no campo e para o campo, desenvolvida de forma a engajar na luta tanto alunos como professores, entendendo-a como basilar no processo de democratizar a luta por melhores condições de existência e pela reforma agrária. O acesso à educação, tanto no sentido da escolarização ampla como a de bens e valores culturais, é condição necessária para uma Reforma Agrária e para a democratização de nossa sociedade. A educação que queremos vai além da escola e está vinculada a um novo projeto de desenvolvimento econômico, social e ecológico, para o campo que tem como sujeito as próprias pessoas que vivem nas comunidades rurais organizadas. Revisão literária e Fundamentação teórica: Esta pesquisa propõe-se a examinar os documentos escritos, tais como: cadernos do MST, resoluções do governo e questionários aplicados a professores do Estado. Visando ampliar as discussões sobre as relações entre o discurso político e a prática social enquanto alteração promovida no cotidiano dessas pessoas devido à institucionalização da escola. Crê-se ainda que ao examinar as fontes, sejam produzidos novos questionamentos que podem servir de base para a análise de dados importantes referentes à educação. Tornar-se, portanto necessário, não adequar-se ao sistema educacional atual e sim em interrogá-lo, entendê-lo e superá-lo. “É por isso que hoje o significado da mudança educacional radical não pode ser senão o rasgar do colete-de-forças da lógica incorrigível do sistema: através do planejamento e da prossecução consistente da estratégia de quebrar a regra do capital com todos os meios disponíveis, assim como com todos aqueles que ainda têm de ser inventados neste espírito.” (MÉSZÁROS, 2005). É salutar a compreensão que as perspectivas apresentadas pelo documento não são produtos neutros, e em todo e qualquer momento da análise deve-se considerar o documento como produção de memória e reprodução das relações estabelecidas no contexto do seu surgimento, pode-se destacar que: “O documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias. No limite, não existe um documento – verdade. Todo documento é mentira”. ( LE GOFF,1992) Nestes termos propõe-se buscar na análise das fontes elementos que possibilitem esclarecimentos sobre esse período tão distinto e singular da História. Entre dúvidas e pormenores, juntando lentamente as peças desse complexo quebra-cabeça contextual (no qual sempre faltam peças), vai-se lentamente contornando esse quadro do/sobre o passado até que ele adquira forma e possa “presentear” o presente com a sua particularidade e experiência. Essa particularidade vem do distanciamento tempo-espaço, existente, que produz sujeitos diferenciados que se ligam no presente através do passado. Dessa forma o passado além de reconstruído sob outra perspectiva, transcende seu lugar no tempo e aloja-se no presente de quem pesquisa, podendo assim interferir no historiador, na sociedade e tornar-se novamente presente. Torna-se portanto necessário que o historiador faça um exercício duplo durante a pesquisa: o de ausentar-se brevemente e constantemente de seu tempo, ao mesmo tempo em que o considera como parte que interfere no seu trabalho, pois representa a gênese da sua alteridade. Portanto, pretende-se com essa pesquisa aprimorar o conhecimento na área de Movimentos Sociais, na tentativa de compreender melhor o mundo contemporâneo. É válido ressaltar que a contextualização desse momento vivido na cidade de Quedas do Iguaçu deve permitir que se compreendam aspectos antagônicos da sociedade, possibilitando a aproximação de alguns parâmetros essenciais para uma melhor compreensão do tema proposto. Para não incorrer em superficialidade definiram-se determinados recortes, assim, alguns elementos foram selecionados buscando representar facetas do contexto social, político e econômico da Escola Estadual Chico Mendes, objeto de estudo elencado. Quanto á análise do contexto, a primeira ressalva é de ter-se consciência de que não se recupera o “saber” sobre o passado sem a perda de perspectivas, e que, portanto, não se deve considerar o passado como homogêneo e neutro, e, sim problemático e construído de discursos, geralmente dominantes. Dessa forma, busca-se analisar como se desenvolviam as relações, neste caso, entre os líderes do MST e o governo do Estado, tentando perceber esse processo de construção e mudança, inserindo os documentos em seu contexto histórico para que se possa analisálo e compreender que relações ele estabelece e que circunstâncias interferiram na sua produção. Relacionando-se dessa forma o texto e o contexto. As fontes literárias denotam as preocupações, os posicionamentos, as conclusões e opiniões não somente do autor, mas também de outros elementos com os quais ele mantém contato, ou seja, a obra pode ser considerada como um reflexo problemático da época em que foi escrita, e, desse modo se deve analisá-la. É válido observar que, nas palavras de Sevcenko(1994): “a literatura, dessa forma, expressa relações sociais propostas e, ao mesmo tempo, modela formas de agir e pensar. É um objeto privilegiado para alcançar mudanças não apenas registradas pela literatura, pois, mais do que dar um testemunho, ela revelará momentos de tensão”. Deve-se ainda considerar o papel de suma relevância do método desenvolvido por Karl Marx, trata-se do Materialismo Histórico que por sua vez significa um exame da sociedade através do mundo material que se efetua através do trabalho, do modo de produção e das relações econômicas que obedecem a movimentos dialéticos. Segundo Karl Marx “São os homens que produzem as suas representações, as suas idéias, etc, mas os homens reais, atuantes e tais como foram condicionados por um determinado desenvolvimento das suas forças produtivas e do modo de relações que lhe corresponde, incluindo até as formas mais amplas que estas possam tomar. A consciência nunca pode ser mais do que o ser consciente e o ser dos homens é o seu processo da vida real. E se em toda a ideologia os homens e as suas relações nos surgem invertidos, tal como acontece numa câmera obscura, isto é apenas o resultado do seu processo de vida histórico, do mesmo modo que a imagem invertida dos objetos que se forma na retina é uma conseqüência do seu processo de vida diretamente físico.” (Marx, 2002). Os conceitos e fundamentos apresentados por Marx fornecem um complexo e necessário respaldo ao analisar-se a sociedade. Complexo, devido a sua amplitude de conhecimentos simultâneos que o autor apresenta, necessário pelo amparo cientifico que produz. Há de se considerar ainda, a Dialética, na qual se percebe a existência, em termos sociais, de uma relação entre dominantes e dominados, entre tese e antítese, que resulta em síntese, ou melhor, na transformação social. Considera-se basilar a análise realizada por Friedrich Engels a respeito do Estado, da qual se entende que o Estado é o mantedor da ordem social, ou seja, os conflitos e oposições entre as classes tornaram-se de tal forma efetivos que devem ser coagidos de modo que não ocorra revolução social. Descrição e Fundamentação da metodologia: A pesquisa pretende entre outras coisas não silenciar as fontes de pesquisa tais como: cartilhas do MST, posicionamentos do Estado (obtidos através de documentos inclusos no site e entregues ao núcleo regional de Laranjeiras ou à diretora Lurdes Uliano do Colégio Estadual Chico Mendes), documentos estes que não serão abordados como verdade, discursos neutros e nem mesmo distorcidos ao gosto da pesquisadora. Assim, pretende-se abordar os documentos e para tais objetivos realizarem-se satisfatoriamente, algumas considerações são necessárias. Dessa forma apresentam-se alguns elementos conceituais referentes à utilização da literatura como fonte. Ao utilizar-se uma fonte literária, precisa-se ter consciência de que ela representa as visões sociais, culturais e políticas do autor e que isto implica em dizer que a obra o reflete. Levando-se isso em consideração a obra é um discurso produzido que legitima a opinião do autor e que representa suas escolhas. Nas palavras de Chartier têm-se:As percepções do social não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma autoridade a custas de outros, por elas menosprezados, a legitimar um projeto legitimador ou a justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas. Por isso essa investigação sobre as representações supõe-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominação. As lutas de representações têm tanta importância como as lutas econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor, a sua concepção do mundo social, os valores que sãos os seus, e o seu domínio. (CHARTIER,1990). Considera-se basilar a pesquisa que algumas reflexões sejam feitas, afim de que se compreendam elementos do contexto sócioeconômico como fundamentais no processo de formação do MST enquanto movimento social. Historicamente, no Brasil vive-se em uma conjuntura capitalista onde a Reforma Agrária faz-se necessária, sofre-se ainda as conseqüências imperialistas deste neoliberalismo aplicado de modo periférico na América Latina. O termo imperialismo é utilizado segundo Hobsbawm “por um motivo antiquado. Foi provavelmente o período da História mundial moderna em que chegou ao máximo o número de governantes que se autodenominavam “imperadores”, ou que eram considerados pelos diplomatas ocidentais como merecedores desse título.O imperialismo é a política da dominação econômica de uma nação sobre outras, às vezes acompanhada de invasão territorial, variando em maior ou menor interferência nos assuntos estatais dos povos dominados e com utilização de força militar para garantir a hegemonia. O imperialismo é um conjunto de ações e idéias que atinge elementos econômicos, políticos, culturais, etc., que tem como objetivo promover a expansão mundial das relações capitalistas de produção e acumulação. Há de se considerar que a importância de referenciais para a educação hoje é como uma luz na escuridão do neoliberalismo, pois somente uma pesquisa consciente e metodologimente enriquecida é capaz de clarear tempos tão obscuros.“Associada a essa perspectiva, a objetividade do conhecimento histórico é garantida pelo método. Nesse caso a intencionalidade do pesquisador entra na definição do tema, na seleção dos documentos, mas principalmente na escolha do método, responsável pela cientificidade do trabalho. Por outro lado, a intencionalidade dos sujeitos históricos fica relegada a segundo plano e nesse caso o documento é usado como ilustração da vontade e competência do historiador”.(PEIXOTO,1990). Esta pesquisa tem por base as prioridades aqui apresentadas, buscando através de leituras orientadas abranger os referidos conceitos teórico-metodológicos.. Entende-se que a escolha adequada do método fortaleça as relações individuais e consiga um maior conhecimento sendo produzido conjuntamente. O método Materialismo Histórico elaborado por Karl Marx, clareaa interpretação da realidade, pois a grande diferenciação causada pelos seres humanos no planeta é o trabalho. O trabalho compreendido como transformação da natureza e do próprio homem, permite considerar a materialidade dialeticamente histórica do modo de produção como premissa fundante da sociedade. Assim considerase que as condições econômicas vividas no Brasil e mais especificamente em Quedas do Iguaçu são elementos cuja relevância deve ser comprometidamente abordada. No decorrer das últimas décadas o sistema capitalista de produção vem se alterando devido as suas contradições internas e modificando as relações políticas, educacionais e sociais. No atual contexto mundial tem-se uma acelerada produção e compra de mercadorias, que de um lado concentra riqueza na mão de poucos e de outro lado espalha miséria nas mãos de muitos. O que Harvey convencionou chamar de Acumulação Flexível é uma nova faceta do sistema capitalista que vem impondo através de/ com o paio do Estado burguês neoliberal, uma nova organização do trabalho que dentre outros fatores tem levado muitos trabalhadores a não ter carteira de trabalho assinada. O neoliberalismo produz a alienação cultural dos dominados através de políticas públicas que mascaram com discursos ideológicos demagogos a real intenção de sua adição que vem a ser a regulamentação de sociedade pós moderna. No Brasil tem-se o pro-uni e o Ensino a distância que exemplificam essas políticas públicas. Ao invés de construírem-se novas universidades, contratarem-se mais professores, estatizar e socializar a educação, o que se têm é o Estado tentando dissociar-se de sua função e colaborando com o acúmulo de capitais pela elite brasileira, obedecendo em definitivo os acordos feitos com o FMI e sucateando através de políticas baseadas em um “cosmopolitismo de cócoras” a educação no Brasil. A maior parte dos governantes do mundo obedece as corporações e estas ditam as regras do papel do Estado, da Educação e do Mercado. Têm-se também a contribuição de muitos intelectuais que participam desses projetos de políticas públicas na área da educação, sem, contudo, levarem em consideração que o que gera a desigualdade, o analfabetismo, a exclusão – é o sistema capitalista. Assim estes intelectuais acabam por maquiar is problemas sociais sem efetivamente combater as suas causas. Dessa forma, compreende-se que as políticas públicas aplicadas a educação não tem resolvido e nem mesmo discutido os problemas que realmente a afetam. Crê-se que um modelo de escola que realmente funcione para promover a emancipação cultural e política dos educandos deve considerar a proposta de Gramsci - a escola unitária – onde se percebe a validade de suas observações sobre as organizações sindicais. Não se trata apenas de criar sujeitos históricos críticos, é mais que isso, deve-se criar sujeitos ativos que compreendam que são agentes históricos. Deve-se analisar que as políticas públicas aplicadas em países periféricos não resolvem o problema, deve-se pensar em uma educação capaz de gerar meios para se ir além do capital. Referências Bibliográficas: BURKE, Peter, O que é a História Cultural? Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Editor, 2005. Cadernos da Escola Itinerante – MST, ano VIII – nº1. 2008 CHARTIER, Roger, A História Cultural: entre práticas e representações. 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