MAL-ESTAR E INTENSIFICAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE: DEVIR CAMELO? Carla Juliana Formulo Dhein PPGE/ FaE/ UFPel Mauro Augusto Burkert Del Pino PPGE/ FaE/ UFPel Palavras chave: Mal-estar docente, reestruturação educativa, intensificação docente Nas últimas décadas o sistema educacional vem enfrentando várias mudanças estruturais, organizacionais e curriculares. Essas mudanças propostas pelas atuais políticas educacionais têm intensificado o trabalho de professoras e professores e fabricado identidades docentes. Estes processos trazem mudanças para o trabalho dos professores à medida que estes, paulatinamente, estão perdendo o controle pedagógico e a autonomia de seu trabalho, além do que isso significa para o aumento da intensificação do trabalho. (HYPOLITO et al., 2009). Professoras mulheres, em maior percentual, são cada vez mais atingidas pelos sintomas do mal-estar docente, a síndrome do esgotamento e do afastamento, que têm feito com que estas profissionais se afastem de seu trabalho por vários tipos de problemas de saúde, tanto físicos, psicológicos e emocionais. Este trabalho é um recorte do projeto de Mestrado em Educação da UFPel que consiste em uma pesquisa qualitativa que relaciona mal-estar docente, condições de trabalho, reestruturação educativa e gênero, a qual possui estudos bibliográficos e coleta de dados através de entrevistas semiestruturadas (BOGDAN e BIKLEN, 1996). A coleta de dados está sendo feita através de entrevistas a professoras mulheres de educação infantil da rede pública municipal de Pelotas que já tiraram licença de saúde por mais de uma vez. Estudos que analisam o mal-estar docente em outras redes de ensino do Brasil (ESLABÃO, 2009; GIORDANO et al., 2006; CODO, 2002), entre outros, denunciam números alarmantes de professores e professoras doentes, que tiram licenças de saúde devido aos sintomas do mal-estar docente. Eslabão et al. (2009), por exemplo, mostra essa realidade afirmando que do quadro total de docentes da rede pública municipal de Pelotas/RS que possui 1.230 matrículas, houve 4.642 afastamentos durante um período de 2006-2007. Os principais afastamentos se dão devido, em primeiro lugar, a doenças do aparelho respiratório, com 22,64%, seguidos de transtornos mentais e comportamentais, com 12,61%, e doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo, com 12,21%, em quarto lugar aparecem as doenças do aparelho geniturinário, com 8,11% (ESLABÃO et al., 2009). Dados como estes e mostrados em outras pesquisas denunciam a situação que se encontra a categoria docente. Baixos salários, péssimas condições de trabalho, longas jornadas de trabalho, perda de sua autonomia e um sistema avaliativo que afasta o professorado da sala de aula e o empurra para a síndrome da desistência, do desânimo. Tanto se fala na importância da educação, acesso de todos à escola de qualidade, está na hora de os órgãos competentes reconhecerem a importância da pessoa que faz o processo educativo acontecer e tratá-la com dignidade e respeito, como historicamente nunca foram tratadas. REFERÊNCIAS BOGDAN, Roberto C & BIKLEN, Sari Knopp. Investigação qualitativa em educação. Portugal: Porto Editora, 1996. CODO W. (coord.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis, RJ: Vozes/1999, 3 edição 2002. ESLABÃO, L. C.; VIEIRA, J, S.; GARCIA, M. M. A.; MARTINS, M. F. D.; BALINHAS, V. G.; SILVA, A. F.; FETTER, C. L. Mal-estar docente: um panorama da rede municipal de educação da cidade de Pelotas entre os anos de 2006 e 2007. Anais do XVIII Congresso de Iniciação Científica e XI Encontro de Pós-Graduação e I Mostra Científica, Pelotas, [CD- ROOM], 2009. GIORDANO, Rosi; ANDRADE, Haroldo César Souza de. (Con) Figurações do mal-estar docente na Amazônia. In: VI Seminário da Rede Latino-americana de Estudos sobre Trabalho Docente - Rede ESTRADO, RIO DE JANEIRO. P. 01-12.,2006 HYPOLITO, Álvaro Moreira; VIEIRA, J. S.; PIZZI, Laura Cristina Vieira. Reestruturação Curricular e Autointensificação. Currículo sem Fronteiras, v. 9, p. 100-112, 2009.