○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Formação docente Desenvolvimento profissional do docente do ensino superior Professional development of higher education faculty members Barbara Sicardi Professora da Faculdade de Educação da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unicamp – SP E-mail: [email protected] R e s u m o O texto apresenta considerações a respeito do desafio e dos determinantes do exercício da docência nas instituições de ensino superior. A reflexão, neste espaço, buscará discuti-los a partir de alguns aportes teóricos, apontando possíveis saídas para a construção da competência necessária, fruto de uma síntese possível e desejável entre os saberes científicos e pedagógicos, essenciais à profissão e ao desenvolvimento do profissional docente. Unitermos: desenvolvimento profissional, saberes docentes, ensino superior. Synopsis The text presents considerations regarding the challenges and the determining factors of faculty practices in higher education institutions. Reflection, in this space, will attempt to discuss same based on certain theoretical foundations, indicating possible alternatives for the building of needed competency, product of a possible and desired synthesis between scientific and pedagogical knowledge, which are essential to the profession and to the development of the professional faculty member. Terms: professional development, faculty knowledge and higher education. Resumen El texto presenta consideraciones respecto al desafío y los determinantes del ejercicio de la docencia en las instituciones de enseñanza superior. La reflexión, en este espacio, procurará discutirlos a partir de algunos aportes teóricos, apuntando posibles salidas para la construcción de la competencia neces0aria, fruto de una síntesis posible y deseable entre los saberes científicos y pedagógicos, esenciales a la profesión y al desenvolvimiento del profesional docente. Terminos: desenvolvimiento profesional, saberes docentes y enseñanza superior. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 33 ○ ○ ○ Ano 14 - n0 26 – junho / 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O ○ ○ Na perspectiva de um novo século, muitas questões emergiram em relação à prática de ensino do docente universitário Encontramos exercendo a docência universitária, professores nas mais variadas situações ... para alguns o professor universitário é basicamente um técnico com a função de transmitir informação e avaliar a aprendizagem de seus alunos, utilizando, para isso, uma variedade de meios de Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 34 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ensino e mesmo de diagnósticos, a que teve acesso ou foi orientado para usar, com uma certa garantia de que “dá certo”. Para outros, ele é um ator cujas crenças e concepções determinam a forma como desempenha não só o papel que precisa assumir, cotidianamente, mas também as formas de condução bem sucedidas das suas tarefas docentes, mesmo que suas ações nem sempre se manifestem concordantes com a visão dos teóricos da educação ou com a vontade prescritiva das autoridades educativas. E, para outros, ainda, o professor é um profissional que procura dar respostas pedagógicas às situações com que se depara; é alguém que se move em circunstâncias muito complexas e contraditórias, mas reais, e que, por isso, é preciso respeitar, valorizar e, sobretudo, conhecer melhor. ○ desafio de exercer a docência nas instituições de ensino superior tem, atualmente, vários determinantes. A docência universitária tem sido considerada uma “caixa de segredos”, em razão das políticas públicas enunciadas costumarem omitir determinações quanto ao processo do ensinar, ficando tal processo geralmente afeto ao discernimento ou ao conservadorismo da instituição educacional que, por sua vez, tende a pressupô-lo – usando talvez a lei de menor esforço – como parte integrante do que é conveniente conceber de liberdade acadêmica docente. Na perspectiva de um novo século, muitas questões emergiram em relação à prática de ensino do docente universitário, principalmente em função de sua responsabilidade de formar profissionais em áreas específicas, inclusive professores. Questões novas passam a ocupar um certo lugar comum, dentre as quais: quem é o docente universitário? Ele está preparado para acompanhar as mudanças do terceiro milênio, mais especificamente, do século XXI? A complexidade das respostas possíveis pode ser vista de diversos ângulos. Parafraseando Ponte (1998), diríamos que ○ ○ Um dos grandes problemas da ação docente se centra na sua formação. Apesar da exigência cada vez maior da capacitação permanente em curso de pós-graduação da área de conhecimento, o professor do ensino superior não parece didaticamente preparado para o exercício acadêmico, especialmente para a interação em aulas. Isto porque, considerando o tipo de graduação realizada, encontramos, exercendo a docência universitária, professores nas mais variadas situações – que implicam maior ou menor habilidade e competência docente – quais sejam: a) alguns com formação didática [inócua] obtida Ano 14 - n0 26 – junho / 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ em cursos de licenciatura; b) outros, que trazem sua ‘experiência pessoal’ a título profissional para a sala de aula, posto que “é um professor que já foi aluno e age neste âmbito”, e c) outros, ainda, sem qualquer experiência profissional ou didática, mesmo oriundos de curso de especialização, lato e/ou stricto sensu se tornam “repetidores de informações adquiridas em nível de maior requinte”. Nestes casos, o fator definidor de toda e qualquer seleção de professores vem/tem sido, como sempre foi, a ‘competência científica’ ou o ‘domínio do conhecimento específico da área’, uma vez que, até hoje se acredita que para ensinar é suficiente saber o conteúdo específico, e o “resto” depende do jeito de cada um e “vem com a experiência, com o tempo”. Em função destas questões é que Pimenta e Anastasiou (2002) afirmam que, neste contexto, a ação de pesquisar o ensinar torna-se uma possibilidade e ao mesmo tempo, um desafio, tanto na construção da identidade docente como profissional do professor quanto na revisão das ações em sala de aula. Para que isto ocorra, o professor do ensino superior não pode ser visto como um profissional de outra área de conhecimento que está ‘quebrando o galho’ em uma universidade, ‘como um abnegado que vê no ensino superior uma forma de ajudar os outros, fazendo um bico...’ (p. 178). Com exceção dos professores oriundos da área da Educação ou de cursos de Licenciatura, a maioRevista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A maioria dos docentes que atuam nas instituições de ensino superior não tiveram a oportunidade de realizar cursos de graduação e pósgraduação com alguma disciplina que abordasse aspectos relativos à preparação para a docência ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ria dos demais docentes que atuam nas instituições de ensino superior não tiveram a oportunidade de realizar cursos de graduação e pósgraduação com alguma disciplina que abordasse aspectos relativos à preparação para a docência, isto é, que contemplassem questões de natureza teórica ou prática relativas ao ensino e à aprendizagem. E mesmo aqueles que realizaram o curso de licenciatura, a maioria teve uma formação didático-pedagógica voltada apenas ao ensino básico e não ao ensino superior. Poder-se-ia até dizer que a maioria dos que atuam na docência universitária tornou-se professor da noite para o dia: dormiram profissionais ou pesquisadores de diferentes áreas e acordaram professores1. Por mais excelência que tragam das diferentes áreas de atuação não há garantia de que a mesma tenha igual peso na construção do significado, dos saberes, das competências, dos compromissos e das habilidades referentes à docência. Por maior autonomia que tenham em sua profissão de origem, tomando a autonomia como a capacidade profissional em conceber e implementar novas alternativas diante da crise e dos problemas da sociedade (Cavallet, 1999), não há garantias de que estejam preparados para conceber e implementar alternativas e soluções pedagógicas 1 . Conforme Selma Garrido Pimenta, em palestra proferida no XI ENDIPE, Goiânia, maio de 2002. ○ ○ ○ 35 ○ ○ ○ Ano 14 - n0 26 – junho / 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ adequadas, diante dos problemas que surgem na aprendizagem de seus alunos, nas salas de aula da universidade. No Brasil, esses profissionais, em sua maioria, ingressam como docentes nas instituições de ensino superior por concurso (no caso das públicas e de algumas particulares) ou por convite. No entanto, os elementos avaliados não se referem necessariamente à competência para o processo de ensinar e de fazer (e deixar) aprender na sala de aula. Não trazendo consigo elementos de formação inicial para a docência, era de se esperar que esse processo fosse imediatamente assumido de maneira consciente pela instituição, que proveria momentos específicos de formação em serviço. No entanto, tais iniciativas pouco ocorrem institucionalmente, e nem mesmo individualmente, como seria necessário e esperado. Após ser selecionado, o professor, em geral, ingressa em departamentos organizados em torno de disciplinas que são oferecidas a vários cursos, as quais já possuem ementas prontas. Para ministrar tais disciplinas, planeja individual e solitariamente e é nessa condição – individual e solitária – que deve se responsabilizar pela docência que exerce. De maneira geral, o trabalho docente e os resultados obtidos não são objeto de estudo ou de análise do curso ou do departamento, a não ser que eles resultem em situações problemáticas, como reclamações de alunos, alto Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Inexistem situações onde orientações quanto a planejamento, metodologia ou avaliação sejam estudadas ou discutidas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ índice de retenção, entre outros. A grosso modo, inexistem situações onde orientações quanto a planejamento, metodologia ou avaliação sejam estudadas ou discutidas e não precisa realizar auto-avaliações ou relatórios (ação que lhe exigiria refletir sobre a própria docência), como acontece normalmente nos processos de pesquisa, estes sim, objetos de reflexão, preocupação e controle institucional. Assim, o processo docente e a efetivação de uma profissão ficam entregues à própria sorte. Nesse contexto, não é de se estranhar a permanência de uma relação tradicional entre professor, aluno e conhecimento na sala de aula. Essa relação tradicional, secularmente superada, cientificamente ultrapassada é muito semelhante àquela que o professor viveu enquanto aluno universitário. Por falta de um outro referencial de ação, do conhecimento da teoria e da prática pedagógica que possam lhe oferecer formas mais atuais e adequadas de ação como profissional docente, o professor seleciona, de suas experiências como aluno, aquelas que considerou mais efetivas para sua aprendizagem e passa a reproduzi-las em sala de aula. Isso nem sempre resulta no melhor processo de ensino e aprendizagem ou ensinagem2. 2. Processo de ensino do qual resulta necessariamente a aprendizagem. Certamente, este requer a superação da relação tradicional entre aluno, professor e conhecimento. Para aprofundamento do conceito ver Anastasiou (1998). ○ ○ ○ 36 ○ ○ ○ Ano 14 - n0 26 – junho / 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Temos assim, atuando nas salas de aulas, profissionais competentes em suas áreas específicas, com pleno domínio dos saberes científicos, mas sendo desafiados a constituírem-se como professores, a assumirem-se nessa nova profissão que tem estatuto, características, compromissos e procedimentos próprios, os quais necessitam serem apreendidos, questionados e constantemente reformulados pelos participantes dos colegiados institucionais da educação superior. Ficam, então, desconsiderados os elementos constitutivos dessa categoria profissional: o ideal, os objetivos, os compromissos pessoais e sociais, a regulamentação profissional, o conceito de profissão e de profissional, o código de ética, as participações nas entidades de classe, os quais são fundamentais ao exercício competente de uma profissão, o que possibilitaria um reconhecimento social da mesma. Em algumas Instituições de Ensino Superior, e a Umesp contribui com o que se denominou Seminários Interativos e Fórum dos Coordenadores, há espaços de atualização pedagógica para os docentes e coordenadores de curso3. Porém, da mesma forma, os novos Mestres e Doutores, oriundos em sua maioria, de cursos de Bacharelado, ainda que fascinados pelas possibilidades que se lhes descortinam na área ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ficam, então, desconsiderados os elementos constitutivos dessa categoria profissional Cabe a cada formador reconstruir no seu dia a dia o saber escolar ○ ○ ○ 37 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ do ensino, não têm tempo (nem hábitos) para aprofundar leituras na área. Nessa perspectiva, concordamos com Gonçalves e Gonçalves (1998) quando afirmam que as Universidades parecem não perceber que os problemas do ensino superior podem ter causas na formação de seus docentes (p.124). Não basta insistir na titulação se esta não propiciar, também, o debate sobre as questões educacionais da área na qual o docente está se especializando. Sofrendo influências variadas em sua formação acadêmica e não discutindo aspectos do processo educativo, os docentes pós-graduados tendem a se acomodar em uma prática modelada por abordagens tradicionais e geralmente almejam dedicar-se integralmente à pesquisa. Diante dessa realidade questionamos: que saberes, capacidades e habilidades têm esses profissionais para o trabalho em um curso de formação universitária? Quando e de que modo esse questionamento passa a ser uma preocupação da própria Universidade? Essas questões expressam ‘as necessidades formativas dos professores/formadores’. Como dissemos há pouco, as leis e os programas de pós-graduação de caráter generalista nunca levantam todas essas contradições de modo convincente e exaustivo, durável e sobretudo concreto. Assim, conforme pontua Tardif (2002) cabe a cada formador reconstruir no seu dia a dia o saber escolar – diferenciado do saber científico de 3. Para saber mais sobre ambas experiências, consultar Aragão; Neto e Silva (2002) e Barbosa & Sicardi (2003). Revista de Educação do Cogeime ○ ○ Ano 14 - n0 26 – junho / 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ referência – um conjunto de conhecimentos realmente utilizados a partir de elementos temporais, plurais, heterogêneos e situados na prática pessoal profissional, – aí se encontra a complexidade. Trabalhos recentes, como os de Altet e Perrenoud (2003), Pimenta e Anastasiou (2002) e Zabalza (2004), têm evidenciado que ainda são poucas as pesquisas sobre a profissionalização do docente do ensino superior. É evidente, porém, que não pode haver profissionalização do ensino sem as alavancas essenciais que constituem a formação – inicial e contínua – e sem a profissionalização dos ofícios de formador. Os trabalhos sobre a profissionalização do ofício de professor assinalam que, na melhor das hipóteses, ele está em via de profissionalização (Perrenoud, 1993), que os critérios de profissionalização – no sentido da transformação do ofício em profissão – tal como foram destacados por Lemosse (1989) e Tardif (2002), ainda estão longe de ser preenchidos. Inclusive, em mais de um país, o ofício de professor está na encruzilhada entre uma possível forma de proletarização e um engajamento decisivo na via da profissionalização (Hargreaves, 2002). Ainda que estejamos diante de uma tendência internacional (Tadif, Lessard e Gauthier, 1998), a corrente de profissionalização não é contestada; ela requer estratégias, instituições e atores. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Os trabalhos sobre a profissionalização do ofício de professor assinalam que, na melhor das hipóteses, ele está em via de profissionalização É possível pensar a formação dos professores, pensando e repensando constantemente à luz das ciências humanas, as práticas pedagógicas, a estrutura e funcionamento dos cursos, das escolas e dos sistemas educativos ○ ○ ○ 38 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Qual é então o lugar dos formadores de professores no processo, como eles se situam nessa corrente de profissionalização, como contribuem para isso e estariam eles próprios em via de profissionalização? (Altet & Perrenoud 2003, p.10). Aprofundar a discussão nas questões dos processos formativos é deparar-se com a construção dos Saberes Docentes como percurso indispensável para a profissionalização do ensino. Os Saberes como fundamentos de uma prática pedagógica que identifica a categoria docente, acaba por promover a competência, facilitar o exercício da autonomia e profissionalizar o professor. Podem ser concebidos como uma teoria de argumentação que justifica a tradição pedagógica do professor. Os Saberes Docentes constroem as concepções que definem a prática pedagógica do professor de forma individualizada e original, e são provenientes de diferentes fontes. Perrenoud (1993) enfatiza que só é possível pensar a formação dos professores, pensando e repensando constantemente à luz das ciências humanas, as práticas pedagógicas, a estrutura e funcionamento dos cursos, das escolas e dos sistemas educativos. Como se percebe, é preciso antes de tudo entender a complexidade do ensino, uma atividade caracterizadamente plural e interativa. Ano 14 - n0 26 – junho / 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Num ato de “realismo inovador” que considera desde o peso dos valores sociais, da profissão, das crises de origens diversificadas da escola à falta de pesquisa e de reflexão dos professores, Perrenoud (1993) ainda destaca que os aspectos da profissionalização não podem ser considerados e controlados sem que a questão dos Saberes Docentes tenha uma situação didática definida acadêmica e pedagogicamente. Ele demonstra a necessidade de considerar no processo educativo-formativo, a diversidade dos indivíduos envolvidos no ensino revelando a importância à gestão das diferenças e do coletivo, na formação profissional. Gomez e Sacristan (1998) também dão ênfase à preocupação com o coletivo da escola, quando discutem como a mesma pode converter–se num contexto significativo de aprendizagem, se assume uma configuração estruturalmente artificial, distante da vida e dos problemas relevantes da comunidade em nível político social e cultural, no cotidiano das salas de aula. Dizem os autores, que a ação pedagógica exercida pelo professor, entendida como complexa, revela a necessidade de um reservatório de conhecimentos de ensino por parte do docente, para a realização da própria tarefa educativa. É necessário que o docente domine o conteúdo, tenha talentos, bom senso, seja dotado e deixe fluir sua intuição, acumule experiências e assimile uma cultura geral. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Podemos considerar os Saberes Docentes como doutrinas, concepções produzidas a partir de reflexões sobre a prática educativa, formando as teorias pedagógicas. Para Fernandes (1996). Conhecimento essencialmente prático que resulta da integração de saberes experienciais e saberes teóricos A ação pedagógica exercida pelo professor, entendida como complexa, revela a necessidade de um reservatório de conhecimentos de ensino por parte do docente ○ ○ ○ 39 ○ ○ ○ a prática docente e a formação do educador têm um eixo importante: o Saber de Experiência como expansão de um Saber Social. Daí a necessidade de trabalhar esse eixo e suas relações com os Saberes de Formação e os saberes Curriculares. A relação dos Saberes com a prática, com a ação, lembra o conceito de práxis. O ator social dessa práxis é o professor. Uma contribuição muito importante para o estudo do conhecimento profissional dos professores surge com o trabalho de Elbaz (1983). Para esta autora, trata-se de conhecimento essencialmente prático que resulta da integração de saberes experienciais e saberes teóricos (relativos à sua disciplina de ensino, ao desenvolvimento humano, à aprendizagem e à teoria social) integrados pelo professor individualmente em termos de valores e crenças pessoais e orientados para a sua situação prática (p. 5). Este conhecimento inclui, assim, a percepção de diferentes estilos de aprendizagem, interesses, necessidades, pontos fortes e pontos fracos dos alunos e um repertório de ensino e formas de gerir a sala de aula. Inclui também o conhecimento da estrutura social da escola e o que esta requer para a Ano 14 - n0 26 – junho / 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ sobrevivência e para o sucesso, bem como o conhecimento da comunidade em que a escola se insere e o que ela rejeita ou é capaz de aceitar. Apoiando-se no estudo em profundidade do caso de uma professora, Elbaz considera diversos componentes do conhecimento prático, incluindo o conhecimento de si mesma e do contexto de ensino, o conhecimento do conteúdo, do desenvolvimento curricular e do ensino, propondo um interessante modelo que estrutura esse mesmo conhecimento em imagens, princípios e regras práticas. A importância de se dominar bem os conteúdos que se ensina é desde há muito reconhecida. A importância de uma formação pedagógica geral é uma preocupação mais recente, mas também já com significativa expressão em muitos programas de formação. Cabe a um outro autor, Shulman (1986), o mérito de chamar a atenção para a importância de um terceiro domínio, de algum modo a meio caminho entre aqueles dois: o conhecimento didático do conteúdo, que apresenta como a capacidade de compreensão profunda das matérias de ensino, permitindo encontrar as maneiras mais adequadas de apresentá-las aos alunos de modo a facilitar a aprendizagem. Este conhecimento compreende por isso, nas suas palavras, as formas mais úteis de representação das idéias, as analogias mais importantes, as ilustrações, exemplos, explicações e demonstrações, numa palavra, a forRevista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O conhecimento na ação é o componente inteligente que orienta toda a atividade humana, manifestando-se no saber-fazer ○ ○ 40 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ma de representar e formular a matéria para a tornar compreensível (p.9). Este autor não se limita a estudar o conhecimento de natureza proposicional, mas sublinha também a existência do conhecimento de casos (isto é, o conhecimento muito detalhado de situações concretas) e do conhecimento estratégico (o conhecimento que informa a tomada de decisões). Defende que estes diversos tipos de conhecimento não podem ser ensinados nas instituições de formação, mas têm de resultar da elaboração pessoal dos próprios professores. Apesar de referir uma componente estratégica do conhecimento, Shulman dá, sobretudo, atenção ao conhecimento proposicional. Ora, o saber profissional dos professores exprime-se especialmente na ação, em primeiríssimo lugar na prática pedagógica, mas também nas restantes atividades escolares e mesmo extraescolares em que está envolvido. Um outro autor, Schön (1983), chama a atenção para a importância do estudo deste tipo de conhecimento, o conhecimento na ação que contrapõe ao conhecimento formal e descontextualizado que constitui o essencial do saber escolar. O conhecimento na ação é o componente inteligente que orienta toda a atividade humana, manifestando-se no saber-fazer. Nesta perspectiva, há um conhecimento em qualquer ação inteligente, ainda que ele, fruto da experiência e da reflexão anteriores, se tenha consolidado em rotinas ou em esquemas semi-au- A importância de uma formação pedagógica geral é uma preocupação mais recente, mas também já com significativa expressão em muitos programas de formação ○ ○ ○ Ano 14 - n0 26 – junho / 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ tomáticos. Tem uma natureza intuitiva e muitas vezes não é facilmente explicitável pelos seus detentores – o que torna a sua transmissão particularmente problemática – mas não é por isso menos decisivo na prática profissional. Vale ainda lembrarmos do fato de que a resolução dos conflitos que constantemente surgem na atividade de qualquer professor pode processar-se por duas formas fundamentais: por acomodação ou por reflexão. No primeiro caso, procura-se simplesmente a solução mais simples e imediata para o conflito. No segundo caso, procura-se vê-lo de diversos ângulos, analisando-o à luz de uma ou várias perspectivas teóricas, pensam-se os prós e os contras de diversas soluções e só então se toma uma decisão. A reflexão pode desenvolver-se a vários níveis, incluindo: a) a análise de técnicas que melhor permitam concretizar certos objetivos, b) a análise das práticas pedagógicas, em termos globais, e do seu valor em relação aos objetivos propostos e c) a análise de semblante mais fundamental, debruçando-se sobre os valores e propósitos essenciais da ação educativa. Nos dois primeiros casos, os objetivos informam a reflexão sem serem necessariamente postos em causa; no terceiro caso, eles são o próprio objeto de análise. Schön (1983) distingue diversas formas de reflexão, referindose em especial a reflexão na ação e a reflexão sobre a ação. A “reflexão Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A “reflexão na ação” é um processo de diálogo com uma situação problemática que exige uma intervenção concreta e que se processa de uma forma fortemente intuitiva A reflexão parte sempre do confronto de uma prática com um quadro de referência teórico ○ ○ ○ 41 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ na ação” é um processo de diálogo com uma situação problemática que exige uma intervenção concreta e que se processa de forma fortemente intuitiva. Tratase de uma análise sem o cuidado e o distanciamento de um escrutínio mais rigoroso e sistematizado, mas com a riqueza da captação viva dos múltiplos fatores intervenientes e com as vantagens da possibilidade de intervenção imediata, ligando elementos racionais e afetivos. Por outro lado, a “reflexão sobre a ação” desenvolve-se num momento posterior à própria ação, processando-se de forma formalizada, com apoio da linguagem e por isso com outra possibilidade de rigor. Tem lugar, muitas vezes, a partir de discussões e trocas de experiências entre professores preocupados com problemas comuns. Em qualquer caso, a reflexão parte sempre do confronto de uma prática com um quadro de referência teórico, que pode ser a reapreciação dos objetivos inicialmente fixados ou o confronto com outras perspectivas e valores. Por isso, é tão essencial a explicitação de objetivos, propósitos, intenções inerentes, por exemplo, à prática de uma metodologia de projetos. E, também, por isso, é tão importante o contato com múltiplas fontes de informação – livros, revistas, outros professores ou mesmo parceiros exteriores ao sistema educativo – que podem proporcionar contatos estimuAno 14 - n0 26 – junho / 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ lantes, potencializadores de novas perspectivas de análise. A reflexão permite uma progressiva explicitação (e conseqüente conscientização) do “conhecimento na ação”. Ao mesmo tempo, conduz à identificação de quadros teóricos relevantes para a análise de situações práticas. Um professor reflexivo vive permanentemente num ciclo, da prática e da teoria à reflexão, para voltar de novo à teoria e à prática. A teoria é fundamental para o alargamento de perspectivas e para indicar linhas condutoras da reflexão. A prática permite o envolvimento ativo do próprio professor, proporcionando uma experiência concreta a partir da qual é possível refletir. A reflexão estimula novos interesses, chama a atenção para novas questões e possibilita uma prática mais segura, mais consciente e mais enriquecida. O professor está longe de ser um profissional acabado e amadurecido no momento em que recebe a sua habilitação profissional. Os conhecimentos e competências adquiridos antes e durante a sua formação inicial são manifestadamente insuficientes para o exercício das suas funções ao longo de toda a carreira. Por outro lado, o professor não pode ser visto como um mero receptáculo de informações – pelo contrário, deve ser encarado como um ser humano com potencialidades e necessidades diversas, que importa descobrir, valorizar e ajudar a desenvolver. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Um professor reflexivo vive permanentemente num ciclo, da prática e da teoria à reflexão, para voltar de novo à teoria e à prática O professor não pode ser visto como um mero receptáculo de informações ○ ○ ○ 42 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O desenvolvimento profissional é assim uma perspectiva em que se reconhece a necessidade de crescimento e de aquisições diversas, processo em que se atribui ao próprio professor o papel de sujeito fundamental. Diversos fatores contribuíram para a emergência desta nova visão do professor como profissional em permanente desenvolvimento. Em primeiro lugar, mudanças crescentes nas condições sociais, implicando mudanças no sistema educativo (nos objetivos da educação, nos currículos, nos alunos, no próprio conceito de escola). Em segundo lugar, mudanças na teoria educacional, proporcionando novas orientações didáticas e novas perspectivas para fundamentar a ação do professor. E, finalmente, mudanças na própria visão do papel do professor, reconhecendo-se agora a complexidade e dificuldade de sua função. Apesar de ser uma idéia relativamente nova, o desenvolvimento profissional dos professores entrou na ordem do dia e depende de diversas condições que se referem, sobretudo, ao próprio sujeito, ao seu contexto institucional e aos recursos disponíveis. Nessa perspectiva, torna-se imprescindível que se criem dispositivos e contextos que levem o professor a uma atitude conseqüente de investimento profissional ao longo de toda a sua carreira. É a ele que cabe decidir quando e como quer estudar determinado Ano 14 - n0 26 – junho / 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ assunto ou envolver-se nesse ou naquele projeto. Assim, a questão não é a de proporcionar estes ou aqueles saberes formalizados nem como promover a mudança das suas concepções e práticas para um quadro que lhes é totalmente alheio. Trata-se de lhes estimular uma reflexão sobre o seu posicionamento profissional, tomando uma nova postura de iniciativa no equacionar e resolver os problemas que se colocam no seu dia a dia docente. Não se trata de diminuir a importância da didática, mas de a levar a contemplar, de pleno direito, as problemáticas dos professores, considerando-as como questões com lógica própria, deixando de ver a prática profissional como mero terreno de aplicação dos resultados e perspectivas elaboradas pelas teorias educativas. A construção dos saberes pedagógicos existentes até agora se constituiu tal como a dos saberes científicos: a partir da pesquisa dos problemas, das questões, dos desafios da própria realidade. Esse é um processo a ser por nós continuado, no exercício cotidiano da docência. Para se constituir docente no mundo de hoje, o professor universitário precisará recorrer ao mesmo procedimento de pesquisa, necessário aos saberes científicos, efetivados em ações que fundamentem os processos de pesquisa. A relação hoje necessária Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ entre os saberes científicos e pedagógicos passa pela análise das experiências vividas nas instituições de ensino, nas salas de aula, tomando-as como ponto de partida e de chegada da reflexão e da construção processual como profissional docente. Morin nos lembra que ciência progride entre as teorias e os fatos (2000, p.149); os saberes pedagógicos assim como os científicos também progridem entre as teorias e os fatos... os fatos que vivemos a cada dia podem ser nosso referencial na construção da docência no ensino superior. Segundo ele Uma nova postura de iniciativa no equacionar e resolver os problemas que se colocam no seu dia a dia docente Os fatos que vivemos a cada dia podem ser nosso referencial na construção da docência no ensino superior ... a ciência é a aventura da razão humana que tenta dialogar com os dados e fatos (...) a ciência não é a razão somente porque a razão sozinha faz os sistemas muito lógicos nos quais ela se fecha. A ciência caminha sobre quatro patas. As duas patas dianteiras são a imaginação e a verificação, as duas patas traseiras, o racional e o empírico. De repente, quatro unipatistas diferentes podem fazer um excelente cientista (2000, p. 146). A metáfora usada pode servir de apoio para fecharmos essas reflexões com a seguinte pergunta para todos que atuam no ensino superior: quais serão as nossas bases, os suportes que precisamos para nos constituirmos como competentes professores universitários? ○ ○ ○ 43 ○ ○ ○ Ano 14 - n0 26 – junho / 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Referências Bibliográficas ALTET, Marguerite; PAQUAY, Leopold; PERRENOUD, Philippe. A profissionalização dos formadores de professores. Porto Alegre: Artmed, 2004. ARAGÃO, R.M.R; SANTOS NETO, E; SILVA, P.B. Tratando da indissociabilidade Ensino Pesquisa Extensão. São Bernardo do Campo, SP: Umesp, 2002. BARBOSA, J. G; SICARDI, B.C.M.S. Fórum dos Coordenadores: uma iniciativa criativa de formação. São Bernardo do Campo, SP: Umesp, 2003. CAVALLET, V.J. Os desafios da educação no ensino superior e a avaliação da aprendizagem. 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