Coxsaquiose Betânia Bisinoto Barra Residência em Pediatria Hospital Regional da Asa Sul 20/09/2011 www.paulomargotto.com.br Etiologia Os coxsackievírus são do gênero Enterovirus, da família dos Picornaviridae; Mais de 70 sorotipos, porém 10 a 15 deles são responsáveis pela maioria das doenças. Epidemiologia Ocorre durante o ano todo em regiões tropicais; Enterovírus são responsáveis por 33-65% das enfermidades febris agudas e por 25% das hospitalizações devido a suspeita de sepse em lactentes nos EUA; Os seres humanos são o único reservatório; Epidemiologia Transmissão fecal-oral, respiratória, por fômites e verticalmente da mãe para o RN, tanto no período prénatal quanto perinatal; Podem ocorrer infecção por diferentes sorotipos na mesma criança; Fatores associados a gravidade: idade mais jovem, sexo masculino, higiene precária, superpopulação e baixo nível socioeconômico. Epidemiologia Incubação: 3 a 6 dias; exceto na conjuntivite hemorrágica aguda(1 a 3 dias); As crianças infectadas disseminam os enterovírus pelas vias respiratórias por até 1 a 3 semanas, enquanto a disseminação fecal continua por várias semanas(7-11 semanas após a infecção). Patogênese Replicação viral inicial ocorre na faringe e no intestino, possivelmente dentro das células M da mucosa; Após alguns dias, começa a multiplicação no tecido linfóide(amígdalas, placas de Peyer e linfonodos regionais); Uma viremia transitória primária(viremia menor) resulta em disseminação para partes distantes do SRE, incluindo fígado, baço, medula óssea e linfonodos distantes; Patogênese Hospedeiro pode limitar a replicaçãoinfecção subclínica; Viremia secundária e sustentada atinge órgãos-alvo como SNC, coração e pele; Lesão de órgãos e sistemas por necrose local + resposta inflamatória do hospedeiro; O desenvolvimento de anticorpos neutralizantes tipoespecíficos circulantes parece ser o aspecto mais importante da resposta imune, mediando a prevenção e a recuperação das enteroviroses. Manifestações clínicas Variáveis: infecção assintomática, enfermidades febris ou respiratórias indiferenciadas; Raro: meningoencefalite, miocardite e sepse neonatal; Doença sintomática: mais freqüente em crianças mais jovens. Manifestações clínicas Doença Febril Inespecífica Febre de 38,5-40°C, mal-estar, irritabilidade; Outros: letargia, anorexia, diarréia, náuseas, vômitos, desconforto abdominal, dor de garganta, sintomas respiratórios, cefaléia, mialgia; Ex físico: conjuntivite leve, hiperemia leve de faringe e linfadenopatia cervical. Manifestações clínicas Doença Febril Inespecífica Podem cursar com manifestações cutâneas; Duração da febre: 3 dias; Outros sintomas: 4 a 7 dias; Leucometria: normal; OBS: em lactentes e crianças jovens são difíceis de diferenciar de infecções graves, tais como bacteremia ou meningite bacteriana. Manifestações clínicas Manifestações cutâneas Exantema, enantema; Máculas e pápulas discretas rosa salmão, nãopruriginosas, de aproximadamente 1 cm de diâmetro em face e região superior do tronco; Petéquias e púrpuras; Manifestações clínicas Doença Mão-Pé-Boca Coxsackievírus A 16; Afebril ou febre baixa; Orofaringe inflamada com vesículas dispersas em língua, mucosa bucal, porção posterior da faringe, palato, gengiva, e/ou lábios. Podem ulcerar; Lesões maculopapulares, vesiculosas e/ou pustulosas nas mãos(+), dedos, pés, nádegas e virilhas. Dolorosas. 3-7mm; Regridem em uma semana. Manifestações clínicas Herpangina Coxsackie A; Febre, dor de garganta, odinofagia, lesões características presentes na porção posterior da faringe, cefaléia, dor abdominal, dorsalgia; Lesões vesiculares e úlceras presentes nos pilares anteriores, palato mole, úvula, tonsila, parede posterior da faringe, inicialmente de 1-2mm, que aumentam até ~3-4mm, circundadas por halo eritematoso que variam de tamanho até 10mm; Manifestações clínicas Herpangina Média de 5 lesões(1-15); Idade: 3 a 10 anos; Febre perdura por 1-4 dias; Regressão dos sintomas em 3-7 dias. Manifestações clínicas Manifestações respiratórias Sintomas de vias aéreas superiores, sibilos, apnéia, angústia respiratória, pneumonia, otite média, bronquiolite, crupe, parotidite e faringoamigdalite(pode ter exsudato); Pleurodínea(Doença de Bornholm): -Coxcsakie B1, B2, B3 e B5 -dor torácica paroxística decorrente de miosite envolvendo os músculos da parede torácica e abdominal; Manifestações clínicas Manifestações respiratórias -Sintomas prodrômicos (mal-estar, cefaléia, mialgia) seguido por febre, dor pleurítica espasmódica localizada no tórax ou na porção superior do abdome, agravada pela tosse, espirros, respiração profunda; -Duração: minutos a várias horas; -A dor pode ser intensa e os movimentos respiratórios geralmente são rápidos, superficiais e com roncos, sugerindo PNM ou inflamação pleural. Sudorese e palidez; -Atrito pleural raro; -Rx tórax normal. Manifestações clínicas Manifestações oculares Conjuntivite hemorrágica aguda; Em crianças em idade escolar e adolescentes. Raro em lactentes; Transmissão olho-mão-fômite-olho; Dor ocular intensa, fotofobia, visão turva, lacrimejamento, eritema e congestão da conjuntiva, edema palpebral, linfadenite pré-auricular, hemorragia subconjuntival e ceratite pontilhada superficial. Manifestações clínicas Manifestações oculares Secreção ocular serosa, mas pode tornar-se mucopurulenta quando há infecção bacteriana secundária; Recuperação em 1-2 semanas; Outras manifestações: corioretinite, uveoretinite, neurite óptica e maculopatia idiopática aguda. Manifestações clínicas Miocardite e Pericardite Coxsackievírus B(+) e Coxsackievírus A; Adolescentes e adultos jovens; Sexo masculino; Sintomas de vias aéreas superiores precedem as manifestações cardíacas, tais como fadiga, dispnéia, dor torácica, ICC, aritmias; Podem mimetizar um IAM. Manifestações clínicas Miocardite e Pericardite Atrito pericárdico: envolvimento do pericárdio; Rx tórax: aumento da área cardíaca; ECG: anormalidades no segmento ST, onda T e/ou do ritmo; Ecocardiograma: dilatação cardíaca, contratilidade reduzida e/ou derrame pericárdico; Enzimas miocárdicas podem estar aumentadas; Recuperação geralmente é completa. Ocasionalmente: miocardiopatia crônica, microaneurisma ventricular inflamatório ou pericardite constrictiva. Manifestações clínicas Manifestações gastrointestinais Diarréia, dor abdominal; Inflamação intestinal crônica em crianças com hipogamaglobulinemia; Hepatite esporádica; Pancreatite. Manifestações clínicas Manifestações geniturinárias Orquite: Doença frequentemente bifásica; febre e pleurodínea ou meningite são seguidas de aparente recuperação e em seguida, em cerca de 2 semanas, de orquite, freqüentemente com epididimite. Manifestações clínicas Manifestações neurológicas Meningite: -principalmente em <s de 3 meses; -geralmente brandas; podem ser bifásicas; -febre, irritabilidade, mal-estar, cefaléia, fotofobia, náuseas, vômitos, anorexia, letargia, erupção cutânea, tosse, rinorréia, faringite, diarréia, mialgia, rigidez de nuca; -LCR: pleocitose(<500leuco/mm3), predomínio PMN nas primeiras 48h e após com predomínio mononuclear, glicose normal a discretamente diminuída, proteínas normais ou levemente aumentadas(<100mg/dl). Manifestações clínicas Manifestações neurológicas Encefalite: -coxsackievírus A9,B2, B4 e B5; -sintomas inespecíficos iniciais, confusão mental acentuada, astenia, letargia e irritabilidade; -em geral o acometimento é generalizado. Manifestações clínicas Manifestações neurológicas Outras: doença paralítica semelhante à poliomielite(+branda); - ataxia cerebelar; - mielite transversa; - sínd. Guillain-Barré; - - - neurites periféricas; neurites ópticas; encefalomielite disseminada aguda; perda de audição repentina. Manifestações clínicas Infecções neonatais Comuns(Coxsackie B2 a B5); Transmissão vertical ou horizontal; Doença assintomática(+), enfermidade febril benigna a doença multissistêmica grave(nas primeiras duas semanas de vida); Febre ou hipotermia, irritabilidade, letargia, anorexia, erupção maculopapulosa, icterícia, sintomas respiratórios, apnéia, hepatomegalia, distensão abdominal, vômitos, diarréia e perfusão periférica diminuída; Manifestações clínicas Infecções neonatais Doença grave: sepse, meningoencefalite, miocardite, hepatite, coagulopatia e pneumonite; Complicações: necrose do SNC, comprometimento neurológico generalizado ou focal, arritmias, ICC, IAM, pericardite, necrose e insuf. hepática, hemorragia intracraniana, necrose e hemorragia adrenal, pneumonite rapidamente progressiva. Diagnóstico Clínica, sazonalidade, surtos; RNs: febre materna, mal-estar e/ou dor abdominal próximo do parto, durante época de enterovirose; Cultura viral: padrão-ouro. Sensibilidade de 50-75% e pode ser aumentada pela cultura de material de vários sítios. 3 a 8 dias para detectar crescimento. Diagnóstico Outros: -Identificação de sorotipos(investigação de surtos/distinguir enterovírus não-pólio de poliovírus); -PCR quantitativa(não identifica sorotipo). Tratamento Suporte -RNs e lactentes com doença febril inespecíficaafastar infecção bacteriana ou por vírus do herpes simples/tratamento presuntivo; -doença grave: UTI; Imunoglobulinas: controverso/ Mais em crianças hipoglobulinêmicas*; Pleconaril** Complicações e Prognóstico Prognóstico bom na maioria dos casos; Complicações: Relacionadas com os quadros de miocardite, sínd. neurológicas, doença neonatal grave e infecções em imunossuprimidos. Prevenção Higiene básica: lavagem de mãos, evitar partilhar utensílios e vasilhames, desinfecção de superfícies contaminadas, tratamento adequado de água potável e da água de piscinas; Mulheres grávidas: evitar contato com indivíduos enfermos; Reposição de imunoglobulina: nos pacientes hipogamaglobulinêmicos(reduziu a incidência de meningoencefalite crônica por enterovírus). Obrigada! Referências Nelson, Tratado de Pediatria,18.ed, Rio de Janeiro:Elsevier,2009 Modlin, JF. Clinical manifestations and diagnosis of enterovirus infections.Disponível em: www.uptodate.com