“O ACORDO DE BASILEIA II E O IMPACTO NOS MONTANTES DE CRÉDITO CONCEDIDO ÀS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS” Dissertação de Mestrado em Economia Orientação: Professor Doutor Carlos Arriaga Costa Mestranda: Sofia Elisabete Ferreira Gomes Universidade do Minho Escola de Economia e Gestão Plano de Apresentação Estrutura da Dissertação de Mestrado: I – Introdução II- A Intermediação Financeira III – O Acordo de Basileia II IV – Determinantes do Risco de Crédito V– Estudo Empírico VI- Conclusões I- Introdução A Banca é um dos sectores económicos mais regulados, consequência do importante papel de intermediação financeira. A necessidade de regulação específica e a crescente internacionalização dos mercados financeiros, tornou necessária uma definição mais coerente, precisa e eficaz da regulação da banca, bem como a sua harmonização e convergência internacional. Basileia I Basileia II Actualmente em implementação Estudo empírico sobre os determinantes do risco de crédito de forma a avaliar o impacto do “efeito de Basileia II” nos montantes de crédito concedidos às PMEs. II- A Intermediação Financeira Os intermediários financeiros assumem um papel determinante, em geral, nos sistemas económicos e, em particular, na actividade bancária (Dewatripont e Tirole, 1993). A justificação da existência de intermediários financeiros difere: Teoria Tradicional Teoria Moderna - Custos de Transacção (Hellwing, 1991) (Benston e Smith, 1976) - Criação de Liquidez (Freixas e Rochet, 1997) (Gordon e Pennacchi, 1990) - Assimetrias de Informação (Leland e Pyle, 1977) (Boyd e Prescott, 1986) - Teoria da Monitorização (Freixas e Rochet, 1997) (Mishkin, 2000) Abordagem alternativa da Intermediação Financeira II- A Intermediação Financeira O papel predominante das instituições bancárias no processo de intermediação financeira tornou necessário a maior regulação das instituições bancárias. O risco de crises sistémicas Santos (2000) O argumento do depositante representativo Instrumentos de Regulação da Banca Existem fricções que explicam a estrutura de capital da Banca (Modigliani e Miller, 1958): Custos de Transacção (Indet) Impostos (-) Assimetria de Informação (Indet) Custos de Falência (+) Poupança Líquida (-) III- O Acordo de Basileia II Colapso do Sistema de Bretton Woods Globalização do Mercados Instrumentos Financeiros Acordo de Basileia I (1988) Adenda ao Acordo de Basileia I (1996) Acordo de Basileia II (2004) Especulação Risco de Crédito Risco de Mercado Risco Operacional III- O Acordo de Basileia II Principais objectivos (BIS, 2004): Promover a solidez dos sistemas financeiros; Consideração mais abrangente dos riscos incorridos pelas instituições bancárias; Maior equidade de condições competitivas entre Bancos e sistemas bancários; Maior flexibilidade e diversidade de regras aplicar aos diferentes Bancos; Promover a transparência do mercado. Basileia II Basileia II Pilar 1 Pilar 1 Necessidades Necessidades mínimas de capital mínimas de capital Risco de Risco de Crédito Crédito Abordagem Abordagem Standardised Standardised Rating Interno Rating Interno Foundation Foundation Pilar 2 Pilar 2 Processo de supervisão Processo de supervisão Pilar 3 Pilar 3 Disciplina de Disciplina de mercado mercado Risco de Risco de Mercado Mercado Rating Interno Rating Interno Advanced Advanced Abordagem Abordagem Standard Standard Risco Risco Operacional Operacional Modelos Modelos Internos Internos Indicador Indicador básico básico Abordagem Abordagem Standard Standard Abordagem Abordagem avançada avançada Fonte: BIS (2004) III- O Acordo de Basileia II CAMEL (Evans e Outros, 2000) Capital Adequacy (Adequação de Capital) Asset Quality (Qualidade dos Activos dos Bancos) Management Quality (Qualidade de Gestão) Earnings Performance (Resultados) Liquidity Structur of Balance Sheet (Estrutura do Balanço em termos de Liquidez) IV- Determinantes do Risco de Crédito Características da Empresa (Cruz,1998): Determinantes Qualitativos: - Atitude de gestão; - Capacidade de gestão; - Carácter dos Administradores. Determinantes Quantitativos: - Capacidade económica e financeira; - Êxito do Negócio; - Reembolso e Garantias. Características da Sector (Cruz,1998): Determinantes Qualitativos: - Tipo de actividade; - Evolução Tecnológica; - Características do produto; - Poder da concorrência; - Perfil do cliente. Determinantes Quantitativos: - Prazos Médios de Recebimentos; - Situações de incumprimento; - Crescimento da facturação e resultados; - Liquidez e endividamento; - Rendibilidade do capital próprio. IV- Determinantes do Risco de Crédito Costa (2003) enfatizou a importância dos indicadores qualitativos: - Indicadores de gestão; - Capacidade dos gestores; - Opinião sobre a performance económica e financeira. - Inovação tecnológica; - Salário e força de trabalho; - Aspectos humanos. Silva (2000) concluiu que na avaliação do risco de crédito são tidos em conta essencialmente indicadores que avaliam os indicadores económicos e financeiros das empresas, o relacionamento bancário entre empresa e Banco, as garantias prestadas, os recursos humanos e os sistemas de informação. V- Estudo Empírico Geral: Avaliar o impacto do “efeito de Basileia II” nos montantes de crédito concedidos às Pequenas e Médias Empresas (PMEs). Específicos: Identificar e caracterizar os determinantes do risco de crédito. Determinar o impacto do Acordo de Basileia II nos montantes actuais de crédito atribuídos às PMEs. Detectar eventuais efeitos negativos de Basileia II e avaliar o impacto do efeito do Novo Acordo nos determinantes de Risco de Crédito. Estudo Empírico com recurso à estimação econométrica de modelos que incluíram os determinantes de risco de crédito e o possível “efeito de Basileia II”. V- Estudo Empírico Hipóteses de Estudo: Hipótese 1: O montante de crédito concedido está positivamente relacionado com a dimensão da empresa, ceteris paribus. Forrestini e Tirini (2002), Peltonieni (2004), Brau (2002), Canóvas (2002) e Brau e Outros (2003) Hipótese 2: O montante de crédito está negativamente relacionado com o efeito Basileia, ceteris paribus. Estudo do Impacto Quantitativo III, BIS (2002) V- Estudo Empírico Amostra: Base de Dados: PMEs portuguesas clientes de uma Instituição Bancária portuguesa num conjunto de 187 observações. Caracterização das empresas: PME portuguesa com facturação > 1 Milhão de Euros e empresas que estejam a iniciar actividade que perspectivem facturar esse volume no primeiro ano de actividade. Formas jurídicas: Sociedades por Quotas e Sociedades Anónimas. O crédito destina-se a financiar a actividade principal da empresa. Cliente de crédito e recursos no Banco. Localizadas em Portugal (Continente e Ilhas). V- Estudo Empírico Definição das Variáveis: Variável Dependente Dependente LNMONT Montante de Logaritmo Natural do montante de crédito de curto-prazo concedido às PMEs, de Crédito acordo com a CRBP. Peltoniemi (2004) utilizou no seu estudo como variável dependente o logaritmo natural do montante de crédito concedido a uma empresa. Recorreu-se à exposição do cliente no Banco de Portugal em termos de crédito financeiro de curto-prazo, utilizando a Centralização de Responsabilidades do Banco de Portugal de Maio/08. A escolha do crédito financeiro de curto-prazo foi efectuada sob orientação de Freixas (2005) e Molina e Pena (2005) que valorizaram a necessidade de troca de informação periódica entre o Banco e o tomador de crédito. Pela necessidade de reajuste periódico do montante e das condições de crédito excluiu-se o crédito financeiro de Médio/Longo prazo (não permite uma revisão sistemática), o crédito comercial e por assinatura (depende não só do tomador do crédito mas também do aceitante e do beneficiário, respectivamente). V- Estudo Empírico Definição das Variáveis: Variáveis Independentes Independentes Características Económico-Financeiras LNACTLQ Dimensão Logaritmo Natural do Activo Líquido de uma empresa LNVN Dimensão Operacional Logaritmo Natural do Volume de Negócios (Vendas e Prestações de Serviços). ENDIFIN Endividamento Rácio entre o Passivo Total e o Activo líquido. LNLIQGERAL Liquidez Geral Logaritmo natural do rácio entre o Activo Circulante e o Passivo de curto-prazo. LN AUTOFIN Autonomia Logaritmo Natural do rácio entre o Capital Próprio e o Activo Líquido. Financeira LN CFLOW Meios Logaritmo Natural do Cash-Flow (Resultado Líquido do Exercício antes de serem deduzidas as Libertos Amortizações e Reintegrações). Relacionamento bancário LN SMDO Saldo Médio Logaritmo Natural do Saldo Médio Anual da conta de Depósitos à Ordem. Variável Dummy Toma o valor de “ se o crédito concedido é utilizado por uma empresa cujo Volume de Negócios (VN) se Efeito Basileia II GENRVN situe entre [1 M €; €] e “ no caso contrário. V- Estudo Empírico Variáveis Independentes Características Económicas e Financeiras das Empresas (exercício de 2006) Dimensão da Empresa (LNACTLQ) medido pelo Activo Líquido (Forestieri e Tirri, 2002 e Peltoniemi, 2004). Volume de Negócios (LNVN) medido pelo somatório das Vendas e Prestações de Serviços (Brau, 2002; Canóvas e Solano, 2002; Brick e Outros, 2003). Efeito Esperado: Negativo (ceteris paribus) Autonomia Financeira (AUTOFIN) que mede o grau de solvabilidade da empresa (Silva, 2006) Efeito Esperado: Positivo (ceteris paribus) Endividamento Financeiro (ENDFIN) definido como o rácio entre o Passivo Total e o Activo Líquido (Blackwell e Winters, 1997 e Chéhadé, 2003). Efeito Esperado: Positivo (ceteris paribus) Efeito Esperado: Positivo (ceteris paribus) Cash-Flow (CFLOW) medido como o montante dos resultados líquidos antes de deduzidas as amortizações e reintegrações (Silva, 2006) Efeito Esperado: Positivo (ceteris paribus) V- Estudo Empírico Variáveis Independentes Relacionamento Bancário: Saldo Médio da Conta de Depósitos à Ordem (SMDO) medido com a média anual do saldo da conta de Depósitos à Ordem da empresa. Efeito Esperado: Positivo (ceteris paribus) Efeito de Basileia II: Com o Estudo do Impacto Quantitativo III (BIS, 2002) começou considerar-se o tratamento das PMEs devido ao receio generalizado que as condições de financiamento se deteriorassem. Considerou-se neste estudo que as PMEs que adoptariam uma abordagem IRB (modelos de avaliação mais sensíveis ao risco) seriam as apresentam um facturação anual superior a 1 Milhão de € e inferior a 50 Milhões de €. Introdução de uma variável dummy com o objectivos de avaliar o impacto do Efeito de Basileia II no montante de crédito concedido a PMEs: Valor 1 – PMEs com facturação [1 M €; 50 M €] – Existe “efeito de Basileia II”. Valor 0 – PMEs com facturação que não se situe no intervalo [1 M €; 50 M €] – Não existe “efeito de Basileia II. Efeito Esperado: Negativo (ceteris paribus) V- Estudo Empírico Estimação Econométrica: Modelo de Regresso Linear Múltipla (MRLM) Método dos Mínimos Quadrados Ordinários (OLS) Programa Econométrico: Eviews 5.0 Modelo 1 LN MONT = -3,798 + 0,230 LN(VN) + 0,039 ENDFIN + 0,856 LN(AUTOFIN) + 1,158 LN(ACTLIQ) + 0,199 LN(LIQGERAL) 0,333 LN(CFLOW) - 0,187 LN(SMDO) Modelo 2 LN MONT = -3,029 + 0,293 LN(VN) + 0,019 ENDFIN + 0,409 LN(AUTOFIN) + 1,067 LN(ACTLIQ) - 0,290 LN(CFLOW) 0,184 LN(SMDO) V- Estudo Empírico Modelo 3 LN MONT = 0,256 LN(VN) + 0,016 ENDFIN + 0,435 LN(AUTOFIN) + 0,985 LN(ACTLIQ) - 0,266 LN(CFLOW) 0,194 LN(SMDO) – 1,199 GENRVN - Das 180 observações que compõe a amostra, o programa econométrico excluiu automaticamente 43, estimando a regressão para 137 observações. -Foi retirado o termo constante de forma a evitar-se a armadilha das variáveis dummy e consequentemente invalidar o modelo. - A regressão estimada é globalmente significativa para um nível de confiança de 95%, isto é, o montante de crédito concedido às PMEs é explicado por todas as variáveis independentes consideradas no modelo. - Os coeficientes estimados pelo método OLS são BLUE (Best Linear Unbiased Estimators), ou seja, lineares, eficientes, cêntricos e consistentes. V- Estudo Empírico Conclusões: Os resultados obtidos e as conclusões inferidas apenas são válidas para a amostra em questão, uma vez que se trata da verificação dos possíveis efeitos de Basileia II previstos pelo BIS, em 2003, para a amostra de um conjunto de PMEs tomadoras de crédito de uma específica instituição bancária portuguesa. O montante de crédito concedido às PMEs que facturaram entre 1 Milhão € e 50 Milhões € depende positivamente da dimensão da empresa quer medida pelo Activo Líquido Total quer pelo Volume de Negócios (Vendas e Prestações de Serviços). Uma maior Autonomia Financeira que se traduz num maior grau de solvabilidade, ou seja, numa maior capacidade por parte da empresa para fazer face aos seus compromissos financeiros, permite o acesso por parte das PMEs a um maior montante de crédito. Apesar das variáveis Saldo Médio Anual DO, Cash-Flow e Endividamento Financeiro apresentarem um sinal não esperado, existem razões de tal acontecer: o facto do descoberto na conta de Depósitos à Ordem também ser um produto bancário e constituir endividamento financeiro; o facto do cash-flow contemplar o resultado líquido ao exercício antes de deduzidas as amortizações e reintegrações por imposição da amostra recolhida e o peso residual estimado para o endividamento financeiro, respectivamente. VI- Conclusão Na fase da implementação do Acordo de Basileia II e face à ausência de dados históricos passíveis de avaliar os seus potenciais efeitos, o estudo empírico realizado permitiu aplicar as previsões do Estudo do Impacto Quantitativo II (BIS, 2002) a uma amostra de PMEs de uma Instituição Bancária portuguesa, apesar dos resultados valerem pela qualidade da amostra, não podendo, por isso, serem generalizados. Foi verificado um possível efeito negativo de Basileia II nos montantes de crédito concedidos às PMEs, fundamentado na adopção de modelos de avaliação mais sensíveis aos risco crédito. Os resultados obtidos no estudo empírico realçam a necessidade da utilização de instrumentos de mitigação do risco de crédito Dada actualidade do tema e ausência de historial, torna-se interessante um estudo futuro sobre os efeitos de Basileia II nos montantes de crédito concedidos às PMEs, de forma a proceder à generalização dos resultados.