UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS ENZIMAS NO PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS Quimosina na produção de queijos Prof. Fábio Silva GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE ALIMENTOS Transformações bioquímicas de alimentos CLASSIFICAÇÃO DOS QUEIJOS Desenvolvimento de aroma, sabor e textura com o tempo Maturados Frescais Prontos para o consumo logo após o processamento Cada queijo apresenta qualidades únicas de aroma, sabor e textura LEITE X QUEIJO Líquido homogêneo, em que os seus componentes estão sob as formas solúvel, emulsão ou coloidal Material biológico complexo que apresenta características próprias por meio de um criterioso blend de enzimas, culturas starter, ácidos e temperaturas ELABORAÇÃO DE QUEIJOS Líquido Sólido A mudança de fase ocorre sob condições cuidadosamente selecionadas que alteram o ambiente físico-químico do leite, desestabilizando o sistema, tornando o leite um líquido não mais homogêneo. ELABORAÇÃO DE QUEIJOS Em queijos frescais, essa conversão se dá com o auxílio de ácidos por meio da precipitação isoelétrica da caseína somado a tratamentos térmicos e drenagem para conversão do material líquido em sólido Em queijos maturados, a conversão ocorre de forma enzimática, em pH elevado, e envolve a transformação do paracaseinato de cálcio através de fermentação ácido-lática controlada. Posteriormente, os produtos dessa reação interagem com as culturas starter para o desenvolvimento do aroma, sabor e textura. (AÇÃO DA QUIMOSINA) QUIMOSINA, COALHO OU RENINA Pertence ao grupo das proteinases do ácido aspártico (40 kDa) COALHO Extrato do estômago de animais, que contém a enzima quimosina na forma estabilizada para o uso na fabricação de queijos QUIMOSINA, COALHO OU RENINA Antigamente... COAGULAÇÃO DO LEITE ...a coagulação do leite era feita de duas formas: 1. enchendo-se os estômagos vazios de bezerros ou ovinos de leite; 2. Imergindo pedaços do estômago no leite. Atualmente... ...processo de extração melhorado pelas indústrias. Uso de métodos específicos de extração e purificação enzimática (extrato do 4º estômago de bezerros). Extratos com AE conhecida e com controle da coagulação do leite. QUIMOSINA, COALHO OU RENINA COAGULAÇÃO DO LEITE VANTAGEM DO USO DA RENINA Possui excelente capacidade de coagulação da caseína com pobre capacidade de hidrólise da mesma após a coagulação. QUIMOSINA, COALHO OU RENINA PROBLEMA Necessidade de bezerros vivos para extração da quimosina COAGULAÇÃO DO LEITE Questões religiosas Questões econômicas SUBSTITUTOS DA QUIMOSINA Crescimento da produção de lácteos Redução da população de bezerros para a produção tradicional da quimosina Queda na produção de vacas leiteiras SUBSTITUTOS DA QUIMOSINA Redução da população de bezerros para a produção tradicional da quimosina Aumento na produção de carne (animais com mais idade) Necessidade do uso de substitutos SUBSTITUTOS DA QUIMOSINA Desenvolvimento de várias enzimas de origem animal, vegetal e microbiana Características chave Razão (poder coagulante / poder proteolítico) deve ser similar à quimosina Especificidade proteolítica da beta-amilase deve ser baixa (evitar amargor no queijo) O substituto deve ser livre de enzimas contaminantes (lipases) Custos devem ser comparáveis ou menores que a quimosina tradicional SUBSTITUTOS DA QUIMOSINA Substitutos de origem animal PEPSINA Atividade proteolítica (pH 2 e 6,5), baixa capacidade coagulante em pH 6,6. Usada juntamente com a renina. Pode causar sabor amargo o queijo. SUBSTITUTOS DA QUIMOSINA Substitutos de origem vegetal Ficina, papaína e bromelina Menos utilizados pela tendência altamente proteolítica Causa formação de sabor amargo Exceção: enzimas extraídas de flores de cardo na produção de queijos maturados em Portugal com excelente flavour e sem amargor SUBSTITUTOS DA QUIMOSINA Substitutos de origem microbiana Bastante aplicadas na indústria. Muitas atuam como tripsina e tem pH ótimo de atividade entre 7 e 8 Bacillus Não é muito aplicada pois apresenta alta atividade proteolítica Enzimas de fungos Bons resultados de coagulação, mas conferem sabor amargo SUBSTITUTOS DA QUIMOSINA Substitutos de origem microbiana Preparações comerciais do Cr. parasitica Geração de queijo Emmental de boa qualidade e sem sabor amargo. Seu uso em queijo Cheddar gera sabor amargo Preparações comerciais do Rh. miehei Produção de Cheddar e outros queijos duros com boa qualidade e sem sabor amargo. AÇÃO DA QUIMOSINA NO LEITE A quimosina produz uma coagulação suave no leite Estável à pequenas variações de pH e não causa amargor no produto final Faixa ótima de pH 6,0 – 6,4 Faixa ótima de temperatura 20 – 30°C FATORES QUE AFETAM A AÇÃO DA QUIMOSINA Concentração da enzima Processamento do leite pH Temperatura Cálcio Afetam as características do produto final (queijo) Variantes genéticas FATORES QUE AFETAM A AÇÃO DA QUIMOSINA CONCENTRAÇÃO DE QUIMOSINA Afeta a firmeza do gel. Concentração de quimosina Aumento na firmeza do gel formado. (queijo mais duro) Reduz o tempo total de coagulação (aparecimento rápido do coágulo) FATORES QUE AFETAM A AÇÃO DA QUIMOSINA TEMPERATURA Temperatura ótima para coagulação do leite com quimosina é 40 – 45°C Porém, esta temperatura não é adequada para produção de queijos Temperatura de coagulação na produção de queijo 30 – 35°C (textura adequada) Em baixas temperaturas, a coagulação enzimática pela quimosina é significativamente reduzida FATORES QUE AFETAM A AÇÃO DA QUIMOSINA pH pH ótimo no leite 6 Impacto na CRA Quedas bruscas de pH reduzem a firmeza do gel (queijos moles) FATORES QUE AFETAM A AÇÃO DA QUIMOSINA CÁLCIO Tem impacto significante na formação do coágulo Adição de CaCl2 reduz a taxa de coagulação e aumenta a firmeza do coalho Geralmente, os leites devem ser suplementados com CaCl2 antes da adição do coalho para melhor formação do coágulo FATORES QUE AFETAM A AÇÃO DA QUIMOSINA PROCESSAMENTO DO LEITE O aquecimento do leite acima de 70°C provoca formação de coágulo fraco Formação de complexo envolvendo ligações dissulfeto entra a kappa-caseína e beta-lactoglobulina Afeta a ação da quimosina na caseína (irreversível). FATORES QUE AFETAM A AÇÃO DA QUIMOSINA PROCESSAMENTO DO LEITE Homogeneização tem impacto significativo sobre as propriedades de coagulação O leite homogeneizado produz coágulo mais macio Porém, se a porção gordurosa do leite for homogeneizada separadamente, o coágulo se torna mais firme Após homogeneização, ocorre redução do tamanho dos glóbulos de gordura, que são revestidos superficialmente pela caseína. FATORES QUE AFETAM A AÇÃO DA QUIMOSINA PROCESSAMENTO DO LEITE A concentração do leite antes da produção do queijo é uma prática comum Evaporação, ultrafiltração e microfiltração Aumento da concentração de caseína no leite A coagulação pela quimosina ocorre de forma lenta de acordo com o grau de hidrólise da kappa-caseína. FATORES QUE AFETAM A AÇÃO DA QUIMOSINA PROCESSAMENTO DO LEITE A concentração do leite antes da produção do queijo é uma prática comum 90 % da kappa caseína deve ser hidrollisada pela quimosina Leite não concentrado antes da formação do coalho. Leite concentrado por 50 % da kappa caseína deve ser hidrollisada pela quimosina ultrafiltração antes da formação do coalho. Em leites muito concentrados, formação de coalho muito firme (dificuldades no processamento) (mistura da quimosina de forma homogênea - prevenir ação local da enzima) FATORES QUE AFETAM A AÇÃO DA QUIMOSINA VARIAÇÕES GENÉTICAS Variações genéticas da kappa-caseína têm efeito na coagulação Alteração na sequência de aminoácidos Efeito de raças, espécies, fatores ambientais, etc. EFEITO DA QUIMOSINA NA PROTEÓLISE DO QUEIJO Durante a maturação, uma série de reações bioquímicas ocorrem, levando ao desenvolvimento do aroma, sabor e textura característicos Importância da quimosina residual (contribuição no processo de maturação) Assim que o processamento do queijo termina, a quimosina hidrolisa os paracaseinatos em peptídeos livres, os quais serão utilizados para o desenvolvimento do flavour complexo dos queijos. EFEITO DA QUIMOSINA NA TEXTURA DO QUEIJO A textura do queijo é afetada diretamente durante a maturação, especialmente nas primeiras semanas A alfa-s-1-caseína é hidrolisada pela quimosina residual melhora da maciez e queijo mais suave (outros processos protelíticos na maturação continuam a influenciar a textura)