A ESCOLA QUE QUEREMOS A ESCOLA QUE QUEREMOS VITAL DIDONET1 JUSTIFICATIVA No início deste ano foi aprovada a Lei n. 10.172, que estabelece o Plano Nacional de Educação – PNE. Este Plano define um novo cenário para a educação no País nos próximos dez anos e resulta de um esforço histórico de mais de 60 anos dos educadores e intelectuais brasileiros, que foram construindo, ao longo de tantos anos, um processo de planejamento e organização da educação nacional. Na seqüência de um processo, ele constrói um novo patamar, por configurar-se como Plano de Estado, aprovado pelo Congresso Nacional, portanto, com força de lei, por ter sido democraticamente construído, por abranger todos os graus de ensino e modalidades de educação e estabelecer metas de médio e longo prazos, em cujo período deve-se garantir continuidade de objetivos. O PNE firma um compromisso da nação consigo mesma no que toca a educação do seu povo, neste início de século. Ele deverá ser explicitado, em cada estado, município e no Distrito Federal, por meio de Planos Estaduais e Municipais de Educação. A partir do tema do Congresso de Educação realizado pelo MEC em outubro de 2001, sobre qualidade da educação, o Plano Nacional de Educação também se volta diretamente para a escola, na certeza de que ali se processa a verdadeira e profunda mudança da educação. 1 Professor. Ex-consultor legislativo da Câmara dos Deputados e consultor especial para o PNE. Atualmente é consultor do Conselho Nacional de Secretários de Educação – CONSED. Consultor da série A escola que queremos. PROPOSTA PEDAGÓGICA 2 A ESCOLA QUE QUEREMOS Por isso, o Plano precisa chegar até a escola e ser um instrumento de transformação nas mãos dos atores principais da educação, que são os professores e alunos. Estes temas tão relevantes vão estar em discussão com professores e gestores de todo o país no programa Salto para o Futuro, da TV Escola, de 1 a 5 de abril de 2002. OBJETIVOS DA SÉRIE 1. Levar ao conhecimento do professor de educação básica alguns pontos centrais do PNE e aqueles mais diretamente relacionados com a sua atuação na escola; 2. Contribuir para o envolvimento dos professores no processo de elaboração dos Planos Estaduais e Municipais de Educação; 3. Mostrar exemplos de metas do PNE (que estarão também nos Planos Estaduais e Municipais) decisivas para a melhoria da qualidade da educação no Brasil. TEMAS QUE SERÃO DEBATIDOS NOS PROGRAMAS DA SÉRIE PGM 1 – O PLANO NACIONAL DE A ESCOLA QUE QUEREMOS EDUCAÇÃO Neste programa, vamos mostrar como surge o Plano Nacional de Educação: uma breve história em cujo processo se insere o esforço de hoje de construir uma educação mais democrática de qualidade para todos. Também vamos discutir a importância e as características da educação na sociedade do conhecimento e, ainda, os grandes desafios para o Brasil alcançar o patamar necessário em educação no mundo de hoje. PGM 2 – OS PLANOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS Neste programa, vamos analisar a necessidade de articulação entre o Plano Nacional e os Planos Estaduais e Municipais de Educação. Vamos debater o processo de elaboração, que deve ser democrático, abrangente e baseado no compromisso entre todos os atores, em regime de colaboração entre a União, os estados e os municípios. Vamos mostrar também a participação dos professores na elaboração dos Planos Estaduais e Municipais. PROPOSTA PEDAGÓGICA 3 A ESCOLA QUE QUEREMOS PGM 3 – ESCOLA: DO SONHO À REALIDADE Os temas centrais que serão discutidos neste programa são: o espaço escolar como ambiente e conteúdo pedagógico; os Padrões Mínimos – nacionais e regionais – de infra-estrutura; a escola como lugar de alegria, gostoso de estar, de estudar, de aprender. E, ainda, pais, alunos e professores dizem como gostariam que fosse a escola: a sala de aula, os móveis, o laboratório, a biblioteca, os espaços de movimentação etc. PGM 4 – A PROPOSTA PEDAGÓGICA O programa pretende abordar a meta do PNE de elaboração e aplicação da Proposta Pedagógica da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Vamos debater a importância da participação dos professores na elaboração da Proposta Pedagógica e, ainda, como as Propostas Pedagógicas estão mudando o cotidiano da educação. PGM 5 – DEMOCRATIZANDO A GESTÃO O programa vai trazer para o debate a gestão democrática da escola: a participação dos professores no Projeto Político-Pedagógico da Escola; as instâncias de participação dos alunos, dos pais e da comunidade; a democracia na sala de aula e o Regimento Escolar como “contrato de convivência” entre todos os atores do processo educativo. PROPOSTA PEDAGÓGICA 4 PGM 1 – O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E OS PLANOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS Se perguntarmos a nossos alunos qual é o maior acontecimento para a educação brasileira no ano 2000, certamente eles não dirão que é o Plano Nacional de Educação. Com razão, porque esse plano não foi bem divulgado e a maioria dos dirigentes da educação e dos professores ainda não o leu. A falta de iniciativa e empenho na sua divulgação é lamentável. O País merece e os estudantes têm direito a um sistema educacional mais eficiente e a uma educação de melhor qualidade. Tudo isso o Plano Nacional de Educação (PNE) pretende trazer. Neste texto, vamos conhecê-lo um pouco melhor. Em 9 de janeiro de 2001 o presidente da República sancionou a Lei nº 10.172, que aprova o Plano Nacional de Educação e define os mecanismos necessários para colocá-lo em prática. Esse 1 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ VITAL DIDONET 1 Plano deve orientar toda a atividade educacional dos sistemas de ensino nos próximos dez anos, em todo o País. Se cumprir as diretrizes e alcançar os objetivos e metas nele fixados, o Brasil terá, no ano 2010, um quadro educacional muito melhor do que o atual. Estará à altura dos desafios do nosso tempo. Mas, para isso, é preciso agir logo, e coordenadamente, num esforço conjunto da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. A responsabilidade é de todos os entes federados, segundo o regime de colaboração estabelecido pela Constituição Federal. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Todos nós já ouvimos falar de Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Almeida Junior e do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, escri- Professor. Ex-consultor legislativo da Câmara dos Deputados e consultor especial para o PNE. Atualmente é consultor do Conselho Nacional de Secretários de Educação – CONSED. 5 A ESCOLA QUE to em 1932... Mas o que estes educadores têm a ver com um plano de educação que surgiria 68 anos depois? ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 1. Uma conquista histórica O Plano Nacional de Educação não apareceu de repente nem é fruto de iniciativa particular de alguns idealistas da educação. Ele é resultado de um esforço histórico da sociedade brasileira, especialmente dos educadores, que lutaram mais de sessenta anos para chegar a esse ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS momento. Esse esforço começou em 1932, quando um grupo de educadores, intelectuais e escritores, preocupados com o desenvolvimento do país e com a causa da educação nacional, lançaram o Manifesto dos Pioneiros pela Educação. De lá até aqui, diversos passos foram dados, tanto no âmbito da legislação quanto no da administração pública da educação, que foram construindo o patamar sobre o qual o PNE pôde ser formulado e aprovado. O quadro abaixo apresenta os principais momentos dessa trajetória. 1932 - Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, expressando a necessidade de um plano amplo e unitário para promover a reconstrução da educação no País; 1934 – A Constituição Federal incluiu um artigo determinando como competência da União fixar o plano nacional de educação, abrangendo o ensino em todos os graus e ramos, comuns e especializados; 1946 - Constituição Federal reintroduz o dispositivo, que fora omitido na CF de 1937; 1962 - Foi elaborado pelo MEC e aprovado pelo Conselho Federal de Educação o primeiro plano nacional de educação, para um período de 8 anos; 1965 e 1966 - Revisões do plano, incluindo normas descentralizadoras, para elaboração de planos estaduais e destacando novas prioridades; 1967 - Constituição Federal repete o dispositivo sobre o plano nacional de educação; 1970 a 1984 - Planos Setoriais de Educação, Cultura e Desporto – PSECD, no contexto dos Planos Nacionais de Desenvolvimento. O III PSECD contou com a participação dos estados; 1988 - Constituição Federal determina o estabelecimento, por lei, do plano nacional de educação, com duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis; BOLETIM – PGM 1 - O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO 6 A ESCOLA QUE QUEREMOS 1993-94 - Processo de elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos, sob a égide da Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada pela UNESCO, em Jomtien (Tailândia), em 1990; 1996 - LDB determina que a União encaminhe ao Congresso Nacional, no prazo de um ano após a promulgação dessa Lei, o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos; 1998 - Apresentação ao Poder Legislativo de dois Projetos de PNE: do II CONEG e do MEC; 1998-2000 - Processo legislativo, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, com debates, emendas, sugestões, apresentação de substitutivo e aprovação do PNE; 9/1/2001 - Sanção da Lei nº 10.172, que aprova o Plano Nacional de Educa- As idéias vêm de longe, mas o que o atual Plano Nacional de Educação herda dessa história? 2. Características novas do Plano Nacional de Educação Essa seqüência de acontecimentos mostra que o PNE responde a uma expectativa da sociedade brasileira e que ele se constrói sobre um patamar de experiências em planejamento e administração educacional. A reflexão sobre essas experiências, que mesclam êxitos e frustrações, é capaz de descortinar uma visão ampla das necessidades e das possibilidades da educação em nosso País, neste início do novo século. Dessa forma, o PNE é tributário de uma longa história e, ao mesmo tempo, é uma novidade, pelas características próprias que agrega. BOLETIM – PGM 1 - O PLANO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ção. “O PNE entra na história da educação brasileira com seis qualificações que o distinguem de todos os outros já elaborados: a) é o primeiro plano submetido à aprovação do Congresso Nacional, portanto, tem força de lei; b) cumpre um mandato constitucional (art. 214 da Constituição Federal de 1988) e uma determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, art. 87, 1º); c) fixa diretrizes, objetivos e metas para um período de dez anos, visando à garantia de continuidade da política educacional e coerência nas prioridades durante uma década; d) contempla todos os níveis de ensino e modalidades de educação e os âmbitos da produção de aprendizagens, da gestão e financiamento e da avaliação; e) compromete o Poder Legislativo no acompanhamento de sua execução e f) NACIONAL DE EDUCAÇÃO 7 A ESCOLA QUE convoca a sociedade para acompanhar e controlar a sua execução” (Vital Didonet, PNE – Apresentação. Editora Plano). Essas características não são uma garantia de que o Plano vai ser aplicado integralmente, de que suas diretrizes orientarão a prática educacional durante toda a década e, ainda, de que as metas serão atingidas. Como todo Plano, é um documento de trabalho e, portanto, um instrumento que orienta a ação política e administrativa dos sistemas de ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS ensino. Mas, ao mesmo tempo, é algo mais. A sociedade, os professores, os pais, os técnicos e os dirigentes da educação, os políticos, enfim todos as pessoas comprometidas com a educação no País têm à mão algo mais do que um instrumento técnico de orientação para o planejamento, para a alocação de recursos e para as ações educativas. Se reforçarmos as características a seguir relacionadas, estaremos ampliando as condições para sua implementação: a) Trata-se de um plano nacional, e não de um plano da União. Os Plano Nacional objetivos e metas nele fixados são da nação brasileira. É para o Brasil que se quer o novo panorama educacional. Cada estado, o Distrito Federal e cada município estão ali dentro, como parte constitutiva. Nesse sentido, ele pode ser entendido como algo que pertence a cada um dos entes federados, enquanto membro da federação brasileira e enquanto unidade autônoma, com competências e responsabilidades específicas; b) É um plano de Estado, não um plano de governo. Os governantes atuais lideram o processo de elaboração do PNE e dos Planos Estaduais e Municipais, mas isso não lhes confere propriedade sobre Plano de Estado eles, pois a proprietária é a sociedade. O Plano tem vigência por dez anos, indo além, portanto, de dois períodos de governo. Mesmo com alternância de pessoas e partidos nos governos federal, estadual e municipal, as diretrizes, os objetivos e as metas do Plano devem permanecer, orientando a política educacional. Para que essa característica impregne a essência dos planos estaduais e municipais, é essencial que a sociedade deles participe ativamente, como parceira de sua elaboração, acompanhando sua execução e fazendo parte de sua avaliação; BOLETIM – PGM 1 - O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO 8 A ESCOLA QUE QUEREMOS c) É um plano global, isto é, abrangente de toda a educação, tanto no que se refere aos níveis de ensino e modalidades de educação, quanto no envolvimento dos diversos setores da administração públicas e da sociedade. Em relação aos níveis, o PNE trata da Educação Infantil, do Ensino Fundamental, do Ensino Médio, da Educação Superior. Em relação às modalidades, trata da Educação de Jo- Plano Global vens e Adultos, Especial, Indígena, a Distância, Tecnológica e Formação profissional. Trata, igualmente, do magistério e da gestão e financiamento da educação. Em relação à realização da educação, ao contexto e aos agentes da educação, o PNE centra sua visão na escola, como lugar privilegiado para o ensino e a aprendizagem, mas contempla também todos os espaços, físicos e virtuais em que a aprendizagem acontece e recomenda a articulação do setor educação e de sua instância operativa mais concreta – a escola – com os demais setores como saúde, assistência, trabalho, justiça e promotoria pública e com as organizações da sociedade civil. Não se trata, pois, de um plano que diz respeito apenas à Secretaria de Educação ou à rede estadual ou municipal de ensino. As diversas forças governamentais e sociais se engajam no ideal proposto pelo Plano; d) Sendo aprovado por lei e, portanto, pelos representantes da sociedade, ele compromete – poderíamos dizer, obriga! – a todos no seu Aprovado por Lei cumprimento. Embora a lei que o aprova não estabeleça penalidades pelo não cumprimento de suas metas (além daquelas já fixadas na Constituição e na lei), o fato de ter envolvido a sociedade, diretamente e por representação, na sua elaboração, discussão e aprovação, lhe confere um poder maior do que têm os planos técnicos elaborados em gabinetes. Pode-se dizer que é uma lei de compromisso, uma opção ética da sociedade por um ideal de educação para o país, planejamento educacional no Brasil? E BOLETIM – PGM 1 - O PLANO ○ ○ ○ ○ o PNE diferente do que já foi feito em ○ Será que essas características tornam ○ um pacto político e técnico por metas necessárias. será que este Plano vai ser posto em prática? No que depender dos professores, ele contará com o apoio necessário? Na NACIONAL DE EDUCAÇÃO 9 A ESCOLA QUE seqüência dos textos deste Boletim, serão apresentados mais elementos para que possamos refletir e nos posicionar sobre essas e outras questões. 3. Pontos de partida para a construção do PNE O PNE se assenta sobre três idéiaschave: (a) A educação como direito de todos. O século XX pode ser considerado o século dos direitos humanos. O direito à educação é um dos mais expressivos e foi sendo progressivamente detalhado (o direito das crianças a partir do nascimento, dos jovens e adultos, das meninas, dos indígenas, dos refugiados, dos migrantes, a necessidade da educação permanente etc.). Seria empobrecer o ideal educativo fundamentá-lo apenas na necessidade da instrução para a inserção social e o exercício do trabalho. Toda pessoa – independente da idade, da condição social, dos objetivos econômicos – tem direito ao conhecimento, à formação de uma visão de mundo progressivamente mais ampla, à organização de um quadro de valores que lhe dê uma visão cada vez mais solidária, mais profunda e mais abrangente da vida, da história e do sentido de sua vida; (b) A educação como fator de desenvolvimento social e econômico do país. A educação contribui decisivamente tanto no desenvolvimento pessoal, na BOLETIM – PGM 1 - O PLANO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS vivência dos valores sociais e morais, na produção cultural, quanto no desenvolvimento das ciências, da técnica, no progresso material dos indivíduos, das comunidades e do país. Não há forma mais eficaz de promover o desenvolvimento econômico e social e de fazer com que todas as pessoas dele participem do que a educação. Sobretudo hoje, que vivemos na chamada “sociedade do conhecimento”, é preciso ter um certo nível de instrução formal, de conhecimento e de competências desenvolvidos pela educação para ser capaz de entender o que acontece no mundo, inserir-se no exigente e competitivo mercado de trabalho, ser criativo e flexível de acordo com a dinâmica das mudanças que ocorrem em todos os campos da atividade humana, enfim, de exercer a cidadania com autonomia, espírito crítico e participação construtiva; (c) A educação como instrumento de NACIONAL DE EDUCAÇÃO combate à pobreza e de inclusão social. Ela produz melhoria nas condições de vida das pessoas, não só pela elevação da sua capacidade de trabalho e melhoria da renda, mas também pela criação de possibilidades de inserção profissional, de exercício de trabalhos melhor remunerados e de oportunidade de optar por um estilo de vida mais satisfatório. A educação é o mais poderoso instrumento de combate à exclusão social ou, dito de outra forma, de inclusão dos segmen- 10 A ESCOLA QUE tos marginalizados no conjunto da sociedade. 4. Objetivos do PNE O PNE estabeleceu 4 objetivos gerais que sinalizam para um panorama educacional condizente com as exigências dos tempos atuais: (a) Elevação global do nível de escolaridade da população; (b) Melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis; (c) Redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência, com sucesso, na educação pública; (d) Democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais. Esses objetivos serão buscados ao longo dos dez anos, abrangendo todos os níveis de ensino e modalidades de educação. Mas considerando as possibilidades reais e a capacidade administrativa, técnica e financeira atual e aquela que se criar para cumprir tais objetivos, o Plano estabelece as seguintes prioridades: (a) Garantia de Ensino Fundamental obrigatório de oito anos a todas as crianças de 7 a 14 anos, assegurando o seu ingresso e permanência na escola e a conclusão desse nível de ensino; BOLETIM – PGM 1 - O PLANO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS (b) Garantia de Ensino Fundamental a todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria ou que não o concluíram; (c) Ampliação do atendimento nos demais níveis de ensino – a Educação Infantil, o Ensino Médio e a Educação Superior; (d) Valorização dos profissionais da educação; (e) Desenvolvimento de sistemas de informação e de avaliação em todos os níveis e modalidades de ensino. Há muitos desafios para o Brasil alcançar os objetivos e as metas estabelecidos no Plano Nacional de Educação. O ponto de partida para superá-los é a vontade política. E essa é dos dirigentes nacionais, estaduais e municipais, mas também é dos professores, dos pais, dos alunos. A vontade política leva à tomada de decisão. Tomando-se a decisão política, os recursos financeiros são alocados e, se insuficientes, novas fontes ou novos valores são buscados. Os professores têm um papel importante nessa questão. Quanto mais estiverem informados e forem participantes da definição da política educacional, do plano de educação, do orçamento nacional, estadual ou municipal, tanto mais pressão poderão fazer para que o Plano dê certo. NACIONAL DE EDUCAÇÃO 11 PGM 2 – OS PLANOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS PLANOS NACIONAL, ESTADUAIS E MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO VITAL DIDONET ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 1 ○ ○ ○ ○ Um plano nacional de educação tem um papel importante, mas dado o sistema federativo, a autonomia e as competências dos entes federados, é fundamental que sejam elaborados planos estaduais e planos municipais de educação, coerentes com o plano nacional. E aqui surge um desafio importante: compreender como eles se articulam e se complementam, para mudar a cara da educação no Brasil, de Norte a Sul, da cidade e do campo, para crianças, jovens e adultos, nas escolas de ensino regular e na educação a distância... Como isso vai ser possível? ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que institui o PNE, determina, em seu art. 2º, que os estados, o Distrito Federal e os municípios, com base no Plano Nacional de Educação, elaborem planos decenais correspondentes. É um desdobramento lógico do PNE, uma vez que as metas nacionais representam um quadro possível e necessário para todo o país, mas que, em cada ente federativo, se dá diferentemente, em decorrência do está- 1 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ gio em que se encontra em cada um dos níveis e modalidades de ensino e das questões administrativas, financeiras e técnicas da educação em seu território e sua rede de ensino. Considerando que o Brasil é uma República Federativa constituída de entes autônomos – estados e municípios – com sistemas de ensino próprios, cada um terá que elaborar seu plano decenal, em consonância com o nacional, expres- Ex-consultor legislativo da Câmara dos Deputados e consultor especial para o PNE. Atualmente é consultor do Conselho Nacional de Secretários de Educação - CONSED. Consultor desta série. 12 A ESCOLA QUE sando suas diretrizes, objetivos e metas. Era possível um processo inverso, começando com os planos municipais, indo, em seguida, aos estaduais e, finalmente, consolidando os anteriores mais as metas dos sistema federal no plano nacional. Assim foi feito com o Plano Decenal de Educação para Todos. Considerando a experiência anterior, do Plano Decenal, o PNE, adotou o caminho proposto pela LDB: “Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de .... III – elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos Municípios”. Dessa forma, o PNE fixou diretrizes nacionais para o conjunto e para cada segmento educacional e objetivos e metas globais em função dos desafios nacionais. Temos, nele, o cenário desejado, que coincide com o patamar educacional necessário para o País, cujo alcance depende de esforços conjuntos e esforços individuais e coordenados de todos e de cada um dos entes federados. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Para que os diversos planos se articulem e formem o conjunto nacional, requer-se um competente trabalho de coordenação e apoio técnico por parte da União aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios e de articulação e cooperação entre os estados e os municípios de seus território. Sem articulação e sem cooperação, dificilmente se cumprirão as metas do Plano Nacional. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ BOLETIM – PGM 2 - O S P LANOS E STADUAIS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS E Abrangência e áreas prioritárias dos Planos Estaduais e Municipais O PNE tratou de todos os níveis de ensino e de todas as modalidades de educação, do magistério da educação básica, da gestão da educação e de seu financiamento e, ainda, acrescentou um capítulo sobre acompanhamento e avaliação do Plano. Os Planos Estaduais e Municipais, em princípio, poderiam não tratar de todos esses assuntos, por exemplo no que se refere aos níveis e modalidades, uma vez que existem competências distintas entre os entes federados frente ao direito à educação e à responsabilidade pública em atendê-lo. No entanto, ficaria bastante difícil assegurar coerência e consistência nesses planos se não houvesse referência a acordos entre os municípios e o estado e a União, naquelas ações que se interligam ou interdependem. Por exemplo, como o município poderia cumprir a meta de que até 2005 todos os seus professores de Educação Infantil e das quatro primeiras séries do Ensino Fundamental tenham habilitação de Ensino Médio, na modalidade normal, se ignora se o estado vai oferecer vagas em suas escolas correspondentes à demanda de professores com essa formação? Por conseguinte, a estrutura temática do PNE, exposta a seguir, serve de guia para a elaboração dos Planos Estaduais e Municipais: Educação Infantil M UNICIPAIS 13 A ESCOLA QUE Ensino Fundamental Ensino Médio Educação Superior Educação de Jovens e Adultos Educação a Distância e Tecnologias Educacionais Educação Tecnológica e Formação Profissional Educação Especial ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS Educação Indígena Magistério da Educação Básica Financiamento e Gestão Acompanhamento e Avaliação Considerando que os entes federados têm suas respectivas áreas de atuação prioritária, consoante atribuição da Constituição Federal e da LDB, é sobre elas que dedicarão maior cuidado. Município Educação Infantil Ensino Fundamental Estado Ensino Fundamental Ensino Médio (Inclui formação de professores em nível médio) União Ensino Superior (Inclui formação de professores em nível superior) Assistência técnica e financeira aos estados, ao DF e aos municípios, para garantir equalização das oportunidades educacionais e padrão No entanto, dada a articulação e interdependência entre todos os níveis de ensino e modalidades de educação e também entre financiamento, gestão e avaliação, é aconselhável que tanto o Plano Estadual quanto o Municipal registrem os acordos com a União e com o outro ente federado sobre as metas que a eles competem prioritariamente e que são necessárias para que as suas respectivas metas sejam exeqüíveis. Por exemplo, se o município vai precisar de um número “x” de professores qualificados para a Educação Infantil, é preciso que o sistema de ensino do estado, que oferece o Ensino Médio, na modalidade BOLETIM – PGM 2 - O S P LANOS E STADUAIS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ mínimo de qualidade do ensino E normal, se ocupe dessa formação, incluindo em seus cursos a habilitação específica para atuar na Educação Infantil. Da mesma forma, o estado precisará, no decorrer da década, de “x” professores de Biologia ou Química... Mas se não houver oferta de cursos superiores correspondentes, como a meta de professores qualificados poderá ser cumprida? A LDB não proíbe o município de oferecer Ensino Médio ou Educação Superior, mas se ele estiver fazendo ou desejar fazê-lo, o disposto no art. 11, V da LDB deve ser observado, ou seja, somente quando o Ensino Fundamental em seu território estiver universalizado M UNICIPAIS 14 A ESCOLA QUE e a demanda por Educação Infantil completamente atendida e, ainda assim, que a oferta ulterior a esses dois níveis seja financiada com recursos que estejam além dos 25% da receita de impostos. O moderno conceito de universalização do Ensino Fundamental e do direito à educação inclui não apenas o “estar na escola”, mas também a garantia de efetiva aprendizagem. Não basta colocar todas as crianças de 7 a 14 anos na escola para que a obrigação constitucional esteja cumprida. É preciso, igualmente, ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS que as crianças aprendam, sejam aprovadas, concluam o Ensino Fundamental com nível de aprendizagem satisfatório. Antes disso, não se pode falar em universalização do Ensino Fundamental. Aqui fica muito evidente a necessidade e o efeito prático do regime de colaboração entre os sistemas de ensino. As seções dos Planos O PNE tem as seguintes seções, que poderão compor os planos estaduais e municipais, para o que se sugere o seguinte: Diagnóstico O diagnóstico é a indicação e a análise, com a maior objetividade e precisão possível, dos problemas da educação no território do ente federado, das medidas já adotadas, das experiências que vêm dando certo. Sugere-se a utilização dos estudos, diagnósticos, relatórios existentes na Secretaria de Educação e em outros órgãos, os levantamentos próprios do Sistema de Ensino e os dados disponíveis do IBGE e do INEP. É importante enfatizar a participação no diagnóstico dos diversos atores da educação, para assegurar uma visão mais realista, vivenciada, da realidade educacional. Deve-se evitar longas descrições históricas e estatísticas que tornam esse capítulo pesado, cansativo e pouco útil. É importante que seja curto, objetivo, prático, centrado nas questões que mais diretamente afetam a educação, seja no estado, seja no município. Diretrizes As diretrizes político-pedagógicas para a ação educacional estarão ba- político- seadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais, fixadas pelo Conselho pedagógicas Nacional de Educação e naquelas expedidas pelo Conselho de Educação do estado ou do município e, também, nas diretrizes nacionais presentes no PNE. Essas, que são mais gerais, devem ser lidas à luz das realidades locais e, dessa forma, subsidiarão a definição ou eleição das diretrizes estaduais e municipais BOLETIM – PGM 2 - O S P LANOS E STADUAIS E M UNICIPAIS 15 A ESCOLA QUE QUEREMOS Objetivos e Enquanto o PNE estabelece objetivos e metas globais para a nação, os Metas planos dos entes federados determinarão a participação de cada um no conjunto, o que implica ter, na sua elaboração, duas referências: o desejo nacional e as possibilidades locais. Os objetivos e metas serão particularizados e passarão a ser compromisso efetivo de cada ente federado. Sempre que possível, separar objetivo e meta, sendo o primeiro uma clara intenção finalística, e a segunda, um dado quantificado mensurável no tempo. Pode haver metas qualitativas para as quais não é possível estabelecer um indicador temporal ou quantitativo. A prática, em cada caso, indicará a melhor forma de tratar o assunto, ora elencando objetivos e metas sob um único capítulo ou seção do plano, ora separando-os. O importante é expressar o que o estado e o município assumem, na dimensão que lhes corresponde no conjunto Na seqüência dos objetivos e das metas do Plano Estadual e do Plano Municipal, poderão ser incluídas as linhas de ação de curto e médio prazo. Nessa fase, não é necessário, não haverá tempo nem é o local apropriado para detalhar projetos e ações. O Plano decenal será, depois, particularizado com ações específicas, muitas das quais não dependerão de aprovação da Assembléia Legislativa ou da Câmara de Vereadores. Por isso, nesse momento, basta colocar as linhas de ação para os próximos anos. À medida que a execução do Plano avança no tempo, novas ações vão sendo definidas para realizar os objetivos e atingir as metas. Quando deverão ser elaborados os Planos Estaduais e Municipais? Apesar de a lei não fixar prazo, é preciso apressar-se para não haver maior BOLETIM – PGM 2 - O S P LANOS E STADUAIS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ do Plano Nacional. E descompasso entre o nacional e os demais planos. O prazo para cumprimento das metas do PNE é até 2010. Mas algumas metas devem ser alcançadas já no primeiro ano, outras em três, um bom número em cinco anos. E já transcorreu quase um ano desde a publicação do PNE, portanto, a defasagem já começou! Quanto mais cedo os estados, o DF e os municípios elaborem seus respectivos planos, mais fácil será cumprir as metas. A expectativa é de que até abril ou maio de 2002 todos estejam elaborados e aprovados. Independentemente do Plano, as ações educacionais dos diversos sistemas de ensino estão em curso e, grande parte delas, na linha do preconizado pelo PNE, o que vai garantindo uma aproximação das metas ali fixadas. Mesmo assim, é preciso pressa nos diferentes planos, para incrementar o que se vem fa- M UNICIPAIS 16 A ESCOLA QUE zendo, para adotar novas medidas, para agregar outros esforços ali recomendados, pois é isso, em última análise, que justifica o Plano. Um processo democrático de elaboração dos Planos Estaduais e Municipais Uma característica importante do processo de elaboração deverá ser a participação mais ampla possível da sociedade. Espera-se que se engajem nesse processo – porque ele tem que ser amplamente democrático – os órgãos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, as diversas instâncias de participação social nos assuntos da educação, as entidades da sociedade civil, como sindicatos, associações, fundações, institutos, organizações, enfim todas as entidades ligadas ou interessadas na educação. Essa participação poderá dar-se em um fórum ou numa comissão em cada estado e em fóruns e comissões municipais, sob a coordenação do órgão responsável pela educação pública em cada ente federado. É possível também fazer o trabalho conjuntamente: comissões mistas, com representantes das entidades estaduais e das municipais, discutem os temas e propõem as metas para os dois sistemas de ensino. Esse processo participativo é que vai tornar prático o conceito de que o PNE não é um plano da União, ou da Secretaria de Educação ou da “atual administração”, mas da so- BOLETIM – PGM 2 - O S P LANOS E STADUAIS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS E ciedade toda. Por isso, espera-se que toda a sociedade se envolva nele, participe, debata, cobre sua implementação e o avalie. Essa forma de elaborar um plano de educação vai simultaneamente envolvendo as pessoas e instituições, costurando acordos, gerando compromissos e engajamentos. Tanto mais garantia de continuidade terá o plano quanto mais democrática for sua elaboração e aprovação, pois é dessa forma que todos se sentem “pais e mães da criança” e vão zelar para que o plano se torne realidade. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ E os professores, como eles se inserem nesse trabalho? Terão possibilidade de ocupar algum espaço importante nos Planos Estaduais e Municipais de Educação? Que efeito isso poderia ter, nos próximos anos, no sentido da valorização do magistério? ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A participação dos professores Mais do que qualquer lei anterior o tenha feito, a LDB insiste no princípio da gestão democrática da educação pública. Uma forma indicada por ela de colocar em prática esse princípio é a participação dos professores e da comunidade escolar e local no projeto político-pedagógico da escola e, especificamente dos professores, na elaboração da proposta pedagógica (arts. 13 e 14 da LDB). Pelo menos legalmente, passou o tempo de os professores receberem os “currí- M UNICIPAIS 17 A ESCOLA QUE culos”, os planos didáticos ou as propostas pedagógicas de cima, apenas para executarem. Nada de vir pronto aquilo em que o professor deve ser co-autor. Pois bem, o PNE reitera a participação dos professores (e de outros atores educacionais) em todos os itens em que eles são os responsáveis, como também os quer atuando na projeção do quadro educacional do município, do estado e do País. Eles o fazem basicamente na sala de aula (num conceito muito mais amplo do que o das quatro paredes de antigamente, pois a sala de aula hoje é física e virtual, tem alguns metros quadrados mas também viaja pelo mundo e recebe o mundo no seu espaço aberto), mas também – e com muita propriedade – atua na BOLETIM – PGM 2 - O S P LANOS E STADUAIS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS E definição das políticas educacionais. Por isso, esse momento é imperdível para os professores. É uma ocasião decisiva para usarem sua voz, a voz do conhecimento e da experiência, registrarem seu sonho de uma educação de qualidade para todos (lembremos do “sonho possível”, de que tanto falava Paulo Freire) e as condições objetivas para o sonho tornar-se realidade. Como neste verso cantado por Zé Ramalho: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto É realidade.” ○ ○ ○ M UNICIPAIS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 18 PGM 3 – ESCOLA: DO SONHO À REALIDADE Segundo Vital Didonet, consultor dessa série (com. pes.): “O espaço da escola não é apenas um ‘continente’, um recipiente que abriga alunos, livros, professores, um local em que se realizam atividades de aprendizagem. Mas é também um ‘conteúdo’, ele mesmo é educativo. Escola é mais do que quatro paredes; é clima, espírito de trabalho, produção de aprendizagem, relações sociais de formação de pessoas. O espaço tem que gerar idéias, sentimentos, movimentos no sentido da busca do conhecimento; tem que despertar interesse em aprender; além de ser alegre, aprazível e confortável, tem que ser pedagógico. Há uma ‘docência do espaço’. Os alunos aprendem dele lições sobre a relação entre o corpo e a mente, o movimento e o pensamento, o silêncio e o barulho do trabalho, que constroem conhecimento (por que silêncio na biblioteca e barulho na oficina, no ateliê de artes ou mecânica?). É verdade que ‘até embaixo de uma ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ PADRÕES MÍNIMOS DE QUALIDADE DO AMBIENTE ESCOLAR árvore se aprende’ e para algumas coisas é até mais agradável e apropriado, como aprender sobre a terra, o chão, as pedras, uma formiga, o vento, o sol, o frio e observar o movimento circundante. Mas também é verdade que uma sala de aula, um laboratório, uma biblioteca oferecem melhores condições para observar microorganismos num microscópio, resolver uma equação matemática que exige alta concentração, ficar algumas horas lendo e analisando um texto... E estudar sobre coisas distantes, que exigem atenção, pesquisa e posterior elaboração própria. Por isso, é importante que as escolas sejam espaços funcionais, produtivos e produtores de aprendizagem.” O texto a seguir faz parte do documento “Padrões Mínimos de Qualidade do Ambiente Escolar”, elaborado pelo Fundo de Fortalecimento da Escola – FUNDESCOLA/MEC. Este documento constitui a base para a organização do trabalho sobre Padrões Mínimos de Qualidade do Ambiente Esco- 19 A ESCOLA QUE lar, a partir do foco nos serviços a serem oferecidos pela escola de Ensino Fundamental. 1 Pressupostos A escola é uma organização de prestação de serviços educacionais. Todo e qualquer aluno tem direito aos mesmos serviços, no mesmo padrão de qualidade, independentemente da localização ou do tamanho da escola que freqüente. O tratamento do ambiente escolar (espaço físico e recursos materiais) com base na idéia de prestação de serviços privilegia os fins e não os meios. A flexibilização do uso dos espaços, equipamentos e mobiliário, mediante a adoção de soluções criativas, é a condição para alcançar a “universalização” da oferta dos serviços. Conceitos Serviços são os produtos oferecidos pela organização escola a alunos, pais, comunidade local, professores e funcionários. Todos os serviços oferecidos por uma escola, em seu ambiente físico ou mediante utilização de espaços da comunidade, têm como fim último o aluno e seu sucesso. Funções são etapas ou atividades com- 1 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS ponentes do processo de oferta do serviço, ou seja, é preciso que elas sejam executadas para viabilizar a oferta do serviço. Por exemplo, planejar aulas e desenvolver aulas são duas funções essenciais para a oferta do serviço de docência. Cada função, por sua vez, possui um conteúdo composto por um conjunto de ações específicas. Por exemplo, o preparo da merenda escolar, que é uma das funções que viabilizam o serviço de alimentação, requer que os alimentos sejam desembalados, higienizados e cozidos. Ambiente é o espaço físico criado e organizado para abrigar as mais diversas atividades de indivíduos e grupos. Os ambientes escolares são, pois, os espaços organizados para permitir a realização das ações específicas que dão conteúdo às funções que, por sua vez, viabilizam a oferta dos serviços diretos e indiretos. Público alvo O trabalho é dirigido, fundamentalmente, aos gestores, tanto dos sistemas de ensino, como, e especialmente, das escolas. Inscreve-se na categoria de trabalhos desenvolvidos com o objetivo de apoiar a gestão escolar, Nota de trabalho: Nesta “nota de trabalho” estão registrados observações e lembretes que deverão ser considerados até que o trabalho chegue à sua forma final. Este texto foi adaptado e resumido para a publicação no Boletim da série A escola que queremos. Se houver interesse em conhecer a publicação completa, procurar a página da Internet: www.fundescola.org.br BOLETIM – PGM 3 - E SCOLA : DO SONHO À REALIDADE 20 A ESCOLA QUE resultantes da tendência mundial de destaque ao protagonismo da escola, claramente enfatizada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e coerentes com a premissa que fundamenta o Programa FUNDESCOLA, de que o desempenho educacional dos alunos sofre influência decisiva da qualidade das escolas que freqüentam. Leva em conta as iniciativas destinadas a estimular a autonomia da escola e a exigência, cada vez mais freqüente e intensa, de que o gestor escolar, liderando sua equipe e assessorado por ela, decida, planeje, estabeleça prioridades, fiscalize a qualidade e faça exigências aos fornecedores de bens e serviços às escolas, zelando pela boa utilização dos recursos públicos destinados à educação. Enfoque inovador O trabalho se pretende inovador sob três pontos de vista. Þ Em primeiro lugar, pela mudança do eixo dos meios para os fins, do que a escola tem que ter como mínimo, para o que a escola tem que fazer como mínimo. Þ Em segundo lugar, pelo público ao qual se orienta. Especialmente no campo do espaço educativo, da arquitetura escolar, o Brasil tem produzido vários e bons trabalhos, de modo geral, porém, destinados a técnicos e especialistas. Ao voltar- BOLETIM – PGM 3 - E SCOLA : ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS DO SONHO À REALIDADE se para os clientes desses técnicos e especialistas, o trabalho busca ajudá-los a definir suas prioridades, especificar suas “encomendas”, facilitar o diálogo e mesmo acompanhar e fiscalizar a qualidade dos bens e serviços que recebem. Þ Finalmente, o terceiro aspecto é aquele no qual, provavelmente, reside verdadeiramente a característica inovadora do trabalho. A diversidade de condições de operação das escolas brasileiras é imensa. Se existem, sem dúvida, gestores e profissionais que limitam as possibilidades educacionais de seus alunos sob o argumento da “falta de recursos e de condições”, também é inegável a existência de um grande contingente de gestores que, no dia-a-dia, buscam soluções criativas para contornar limitações, carências e obstáculos. Inventam, improvisam, “quebram o galho”. Na maior parte das vezes, o fazem puramente apoiados no bom senso, já que a produção técnica, pouco acolhendo a realidade, quase não lhes oferece subsídios. É principalmente sob esse ponto de vista que este trabalho se crê inovador. Reconhecendo a diversidade de condições das escolas existentes; consciente de que, no país, já quase não se trata de construir novas escolas, mas de reorganizar as redes escolares e otimizar a utilização da 21 A ESCOLA QUE capacidade instalada; admitindo que o próprio esforço de redução dos déficits de escolarização por meio da ênfase na ampliação da oferta de vagas foi responsável, em boa medida, pela degeneração da qualidade de prédios, móveis e equipamentos escolares, o trabalho pretende oferecer estímulo, subsídios e orientações para transformar a improvisação e o “quebragalho” em otimização ou flexibilização da utilização dos ambientes e recursos escolares, com base em critérios técnicos e responsáveis. Critérios PARA A SELEÇÃO DE SERVIÇOS E FUNÇÕES O trabalho está motivado pela identificação e indicação de padrões mínimos de qualidade para ambiente da escola de Ensino Fundamental. O foco preferencial nos serviços e não nos ambientes – ou seja, nos fins ou na missão da escola e não no edifício ou nos recursos escolares – exigiu, portanto, que fossem identificados aqueles serviços aos quais todo e qualquer aluno tem direito, independentemente dos meios adotados pelas escolas e pelos sistemas de ensino para ofertálos. Passou-se, então, a buscar a seleção dos serviços e funções essenciais ao desenvolvimento do processo educativo escolar que, enquanto essenciais, são, portanto, mínimos. Essa seleção não deixa de conter uma BOLETIM – PGM 3 - E SCOLA : ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS certa dose de subjetividade ou juízo de valor. Procurou-se, no entanto, pautá-la pelos instrumentos maiores, norteadores da política educacional do país para o Ensino Fundamental, bem como por iniciativas do governo central destinadas a incidir favoravelmente na qualidade do ensino ministrado. Assim, foram considerados como balizadores da definição de serviços e funções essenciais ou mínimos: DO SONHO À REALIDADE Þ a Constituição Federal, especialmente seus artigos 206, que estabelece os princípios com base nos quais deve ser ministrado o ensino, e 208, que fixa os deveres do Estado para com a educação, com especial ênfase no Ensino Fundamental. Þ a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, especialmente seus artigos 12 e 13 que definem, respectivamente, as responsabilidades dos estabelecimentos de ensino e dos docentes. Þ os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, elaborados para “garantir a todos os alunos, de qualquer região do país, do interior ou do litoral, de uma grande cidade ou da zona rural, que freqüentam cursos nos períodos diurno ou noturno, que sejam portadores de necessidades especiais, o direito de ter acesso aos conhecimentos indispensáveis para a construção de sua cidadania” (PCN, 5ª a 8ª série, Introdução, Apresentação). 22 A ESCOLA QUE Þ programas mantidos ou apoiados pelo Ministério da Educação, por intermédio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNDE, tais como o Programa Nacional do Livro Didático - PNLD, o Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE, o Programa Nacional de Saúde Escolar - PNSE, o Programa Nacional de Informática na Educação - PROINFO, a TV Escola, o Programa de Apoio Tecnológico. Analiticamente, os serviços desenvolvidos em uma escola podem ser classificados em duas grandes categorias: os serviços com foco direto no aluno, nos quais ele participa como protagonista e, ao mesmo tempo, beneficiário principal. Nessa categoria se incluem a docência (desenvolvimento das aulas e atividades curriculares, de reforço e recuperação ou voltadas à regularização da trajetória escolar), as atividades que favorecem o convívio escolar extra-classe; os serviços suplementares de alimentação, higiene e assistência à saúde. os serviços com foco indireto no aluno, na medida em que propiciam as condições para um adequado desenvolvimento dos serviços diretos. Nessa categoria se incluem o apoio à ação docente (por meio de atividades de educação continuada ou disponibilização de recursos didáticos), a manutenção e conser- BOLETIM – PGM 3 - E SCOLA : ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS vação do ambiente físico escolar, as atividades administrativas, a segurança. A enumeração e categorização dos serviços, sua titulação e a identificação das funções que os viabilizam podem suscitar opiniões diferentes, sem que, contudo, se modifique, de modo substantivo, o significado desses mesmos serviços, funções e ações. A organização apresentada no documento é fruto do consenso do grupo responsável pelo desenvolvimento do trabalho, levando em consideração opiniões de diversos profissionais, atuantes em diferentes áreas da educação. Por sua vez, a enumeração das ações que dão conteúdo às funções poderia obedecer a diferentes graus de detalhamento. O critério adotado para limitar a discriminação foi o impacto quanto ao uso do ambiente. Para a seleção de ambientes Se os critérios e orientações anteriores nortearam a seleção de serviços e funções essenciais ou mínimos, a escolha dos ambientes comentados teve como parâmetro a freqüência com que aparecem nas escolas de Ensino Fundamental, ou seja, os ambientes mais comuns. É oportuno ressaltar, mais uma vez, que o ponto de partida são os serviços e funções essenciais ou mínimos e não os ambientes. Nesse sentido, DO SONHO À REALIDADE 23 A ESCOLA QUE a tipologia inicial de ambientes é pouco importante. A idéia é mostrar que os serviços e funções essenciais podem ser desenvolvidos em um grande ou em um pequeno número de ambientes, convenientemente organizados; em ambientes específicos, sofisticados, de alto custo de construção e manutenção ou em ambientes mais simples e genéricos, que comportem várias funções, e que os ambientes mínimos são aqueles que permitem a oferta dos serviços mínimos. Se a seleção de uma certa tipologia de ambientes não era fundamental enquanto eixo norteador do trabalho, ela era essencial em termos didáticos, de apresentação do próprio trabalho. Para orientar o leitor na avaliação de sua própria realidade, para sugerir uso flexível, consciente e organizado dos espaços, para indicar alternativas, cuidados e restrições, era necessário dispor, ao lado da relação de serviços e funções, de um rol de ambientes para exemplificar algumas das associações possíveis. O critério para definir a amplitude e composição desse rol é que foi, portanto, o de freqüência de existência dos espaços considerados, nas escolas públicas de Ensino Fundamental. Levando em consideração o uso principal, os ambientes foram organizados em: ambientes de aulas, ambien- BOLETIM – PGM 3 - E SCOLA : ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS tes de acesso à informação, ambientes de convivência, ambientes para atendimento a necessidades primárias, ambientes de guarda de materiais e documentos, ambientes de administração e apoio pedagógico, ambientes de acesso e circulação. Para a associação entre serviços / funções e ambientes A associação entre serviços / funções e ambientes é dependente da ação específica considerada como parte da função. Levando em conta as ações que dão conteúdo às funções que, por sua vez, viabilizam a oferta dos serviços, o uso do ambiente pode ser considerado específico ou múltiplo. Essa classificação, que depende de cada situação concreta, é prerrogativa do próprio usuário, considerando o seguinte entendimento: DO SONHO À REALIDADE O uso específico reflete a associação entre um ambiente e a função / ação para a qual ele foi originalmente concebido / construído. Representa, de modo geral, a utilização “usual”, “tradicional” ou “especializada” dos ambientes. O uso múltiplo reflete a otimização ou flexibilização da utilização do ambiente, de modo que, mediante os arranjos necessários, ele possa abrigar funções / ações diferentes daquela para a qual foi originalmente concebido / construído. O 24 A ESCOLA QUE uso múltiplo ou flexibilizado representa um “novo olhar” sobre o ambiente, uma visão inovadora de sua utilização, e não se confunde com uso inadequado dos espaços. Os diversos quadros apresentados no documento original, referentes a servi- BOLETIM – PGM 3 - E SCOLA : ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS ços, funções e ações que têm relação com a ambiente escolar, podem ser obtidos, se houver interesse, entrando em contato com o FUNDESCOLA: e-mail: [email protected] ou através da home page: www.fundescola.org.br DO SONHO À REALIDADE 25 PGM 4 – A PROPOSTA PEDAGÓGICA A CONSTRUÇÃO DEMOCRÁTICA DA PROPOSTA PEDAGÓGICA NA ESCOLA FERNANDO S.MOTA* ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “A esperança não é para amanhã. A esperança é este instante. Precisa-se dar outro nome a certo tipo de esperança, porque esta palavra significa sobretudo espera. E a esperança é já.” Clarice Lispector ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Neste texto, pretendemos abordar a questão da construção da Proposta Pedagógica numa visão de construção democrática. Para tanto, escolhemos este pensamento de Clarice Lispector, no sentido de dar a verdadeira dimensão que pretendemos ao assunto: a dimensão de esperança e ao mesmo tempo de imediatismo necessário. Esperança de que a questão das propostas pedagógicas possa verdadeiramente ser assumida pelas equipes de nossas escolas e imediatismo necessá- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ rio no sentido de que possam essas equipes assumir seus papéis de forma plena, comprometida e imediata. Para abordar este tema se faz necessário um detalhamento inicial de pontos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - Lei Darcy Ribeiro - nº 9.394/96 e das Diretrizes Curriculares Nacionais. É importante destacar o artº 3º, que enfatiza os princípios norteadores do ensino no Brasil: Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: * Professor do Ensino Superior, atuando com Gestão da Educação e Legislação do Ensino. Mestrando em Educação Tecnológica no CEFET/RJ. Exerce atualmente a Direção do Ensino Superior do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro – ISERJ. 26 A ESCOLA QUE ( ... ) II - Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - Pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV - Respeito à liberdade e apreço à tolerância. Consideramos importante que todos tenham a real dimensão do que isso significa, pois sem assumirmos compromissos com estes princípios, teremos certamente dificuldades em mudar concepções que remetem para uma nova postura em relação à Proposta Pedagógica. Ainda reportando ao texto legal, base da educação brasileira, Lei 9.394/96, chegamos aos Artigos 13 e 14. O primeiro diz claramente em seu inciso I: “Os docentes incumbir-se-ão de participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino” e o segundo: “Os Sistemas de ensino definirão(...): Inciso I: “Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola”. As Diretrizes Curriculares Nacionais estabelecem que as propostas pedagógicas devem respeitar os seguintes fundamentos norteadores (em todos os níveis): • Princípios éticos da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum; • Princípios políticos dos direitos e deveres de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática; BOLETIM – PGM 4- A ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS PROPOSTA PEDAGÓGICA • Princípios estéticos da sensibilidade, da criticidade, da ludicidade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais. As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental enfatizam, inclusive, que “ao definir suas propostas pedagógicas, as escolas deverão explicitar o reconhecimento da identidade pessoal de alunos, professores e outros profissionais e a identidade de cada unidade escolar e de seus respectivos sistemas de ensino”. Na Educação Infantil vemos uma pequena variação nas DCN: “explicitar o reconhecimento da importância da identidade pessoal de alunos, suas famílias, professores e outros profissionais e a identidade de cada unidade educacional no contexto de suas organizações” e no Ensino Médio as DCN dizem: “as propostas pedagógicas das escolas e os currículos constantes dessas propostas incluirão competências básicas, conteúdos e formas de tratamento dos conteúdos, previstas pelas finalidades do Ensino Médio”. Como vemos, a nova lei e as novas diretrizes apontam os caminhos necessários à garantia do envolvimento dos professores na formulação das propostas pedagógicas dos estabelecimentos de ensino em todos os níveis da educação básica (Infantil - Fundamental - Médio) e Educação Superior e estabelecem, ao mesmo tempo, novos paradigmas a serem incorporados nesta ação. No entanto, ainda temos encontrado muitos obstáculos para a concretização desse ideal. 27 A ESCOLA QUE Acreditamos que é chegada a hora de assumirmos plenamente o nosso papel. Miguel Arroyo, em Prática Pedagógica e Currículo - Anais do VII ENDIPE, Florianópolis, 1996, pág.167/168, nos diz: “Primeiro ponto que pretendo destacar é que não elaboramos um projeto de cima para baixo. Partimos da prática pedagógica das escolas, passamos mais de meio ano mapeando as práticas significativas e descobrimos que há, na escola pública, uma prática transgressora, extremamente inovadora; (...) somos tímidos na flexibilização da escola. Não é suficiente pendurar flores nas grades curriculares como estamos fazendo, muitas vezes, com nossas reformas.Não adiantarão novos parâmetros se os currículos continuarem gradeados. A escola que temos é uma escola onde não fazemos o que somos capazes de fazer, onde a iniciativa pedagógica do profissional se sente entre grades.” Arroyo nos convida a desgradear não só os currículos, mas também, nossas mentes. Ele nos convida a ousar, a inovar na formulação de nossas práticas pedagógicas. É um convite e ao mesmo tempo um desafio. Quem nos permite ousar? Quem nos possibilita inovar ? Não há possibilidade de construção coletiva de proposta, sem que todos os atores do processo estejam assumindo papéis de construtores dentro das novas concepções da educação neste século XXI. A UNESCO apresentou, através do Re- BOLETIM – PGM 4- A ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS PROPOSTA PEDAGÓGICA latório Jacques Delors, em 1996, os quatro pilares fundamentais que deveriam nortear a educação neste século XXI. São eles: Aprender a aprender; Aprender a fazer; Aprender a conviver juntos; Aprender a ser. Nossa legislação educacional incorporou todos esses quatro pilares. Com base nestes pilares e devido à realidade da nova legislação educacional, podemos durante estes últimos dois anos vivenciar algumas práticas extremamente interessantes e marcantes e que mobilizaram centenas de professores e funcionários na formulação de propostas pedagógicas coletivas. Vivemos a construção de algo verdadeiramente significativo junto a duas comunidades bem distintas entre si: a primeira em Imperatriz do Maranhão e a segunda nas cidades de Taguatinga, Ceilândia e Gama, em Brasília –DF. Na comunidade Capuchinha de Imperatriz – Maranhão, uma escola religiosa – Escola Santa Terezinha –, que atenda a todos os segmentos da educação básica, foi possível vivenciar uma relação profunda com profissionais sensíveis, criativos e que canalizaram suas energias para a elaboração de uma proposta pedagógica factível com suas realidades, no entanto não menos criativa e sonhadora. Na outra experiência significativa como consultor externo foi possível vivenciar a construção da Proposta Pedagógica das Unidades do SESI- Serviço 28 A ESCOLA QUE Social da Indústria – DF. Três unidades de educação básica (Educação Infantil e Ensino Fundamental) assumiram ousadamente uma profunda ruptura nas concepções de formulação de ações. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Conhecer fatias do mundo não é conhecer o mundo.” Jurjo Torres Santomé ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Com este pensamento do educador espanhol Jurjo Santomé, apresento a teoria do currículo integrado, que foi desenvolvido com sucesso na proposta das Unidades SESI-DF. Nossa experiência junto à equipe das Unidades do SESI-DF sustentou toda uma dinâmica de envolvimento coletivo na discussão e formulação de um novo desenho de gestão participativa: - Novo desenho de matriz curricular e de currículo integrado, através de práticas pedagógicas construtivas; - Nova forma de oferecimento do Ensino Fundamental em ciclos de estudos de três anos; - Nova visão avaliativa com registros de periodicidade trimestral e incorporando novas concepções; - Uma convivência harmoniosa construída coletivamente com a participação de alunos, professores, equipe pedagógica, auxiliares e pais, através dos “contratos de convivência”. Acreditamos que os caminhos trilhados tanto pela Escola Santa Terezinha BOLETIM – PGM 4- A ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS PROPOSTA PEDAGÓGICA Imperatriz, quanto pelas Unidades do SESI-DF foram significativos e com certeza não foram os únicos. Tantos outros exemplos teríamos a registrar, que foram concretizados e apontam para dias melhores na ação educativa de seus construtores. Perrenoud em seu livro 10 Novas Competências para Ensinar (Artmed, 2000, pág.20) enfatiza os domínios de competências reconhecidas como prioritárias na formação contínua dos professores do Ensino Fundamental ( e de outros níveis): 1) Trabalhar em Equipe: elaborar um projeto de equipe, representações comuns; 2) Participar da administração da escola: elaborar, negociar um projeto da instituição; 3) Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão: participar da criação de regras de vida comum, referentes à disciplina na escola, às sanções e à apreciação da conduta (Contratos de Convivência). Acreditamos que estas sejam concepções que precisam ser assumidas pelos professores, para que os mesmos possam mergulhar de forma concreta na ação de construção de propostas verdadeiramente democráticas. Pierre Weil, em A arte de viver em paz (Unesco, 1990) concretamente nos diz que “a humanidade atingiu o limiar de uma nova era e vive, agora, uma espécie de dor de crescimento(...). Acu- 29 A ESCOLA QUE mulamos conhecimentos em quantidade. Mas, sem sabedoria para usá-los podemos destruir-nos e ao mundo que habitamos. Felizmente, uma nova consciência está se estabelecendo no espírito de grande parte das pessoas. Ela inspira outra maneira de ver as coisas em ciência, filosofia, arte e religião. Trata-se de um momento de síntese, integração e globalização. Nesta fase, a humanidade é chamada a colar as partes que ela mesma separou nos cinco séculos em que se submeteu à ditadura da razão.” A esperança é já! Que possamos assumir essa esperança de concretizar esse sonho de construção coletiva. Que possamos entender que uma proposta elaborada a partir de experiências, realidades e contribuições de diversos profissionais pode representar conquistas. Que possamos transformar nossas escolas em espaços de práticas democráticas e de convivência harmoniosa. Sabemos das dificuldades, no entanto. Apostamos nelas para atingir o sucesso. Apresentamos aqui uma sugestão de roteiro para a execução de ações coletivas da construção da Proposta Pedagógica: I) Identificação da Instituição - Marco Referencial • Tipo de clientela – diagnóstico escolar; • Tipo de estabelecimento com a BOLETIM – PGM 4- A ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS PROPOSTA PEDAGÓGICA identificação de linhas filosóficas e metodológicas; • Localização – que tipo de espaço dispomos para a ação educacional? II) Planejamento Curricular Matriz Curricular e o tempo/espaço para as ações • Regime de funcionamento • Objetivos – proposta para cada curso oferecido • Atividades propostas para cada nível de escolaridade, com outros níveis e extra-classe • Utilização dos espaços • Ações externas • Interdisciplinaridade/Multidisciplinaridade/transdisciplinaridade • Progressão Continuada • Estudo de apoio III) Sistema de Progressão e Avaliação com coragem para mudar • Instrumentos avaliativos • Auto-avaliação • Avaliação Institucional IV) Sistema de Organização Disciplinar • Voz e vez aos alunos • Conquistas - Compromissos e conseqüências • Contratos de Convivência. Representação Estudantil V) Calendário Escolar • Reuniões/ atividades especiais / eventos • Dias letivos • Formação Continuada • Apoio/ recuperação • Recesso/ Férias 30 A ESCOLA QUE Conclusão: Mudar concepções, quebrar paradigmas, assumir papéis dentro dos novos princípios da educação, ter postura ética e cidadã são algumas das questões postas aqui para possibilitar sua reflexão. Estou certo de que este caminho será significativo para a formação de uma nova mentalidade da gestão e ação na escola brasileira. Vamos à construção? Referências Bibliográficas: Arroyo, Miguel. Prática Pedagógica e currículo - Simpósio do VIII ENDIPE. Florianópolis, INEP,1996. Mota, Fernando e De Luca, Marly. Os Caminhos e Descaminhos de um projeto Pedagógico. Rio de Janeiro, IEDITORA, 2001. Perrenoud, Philippe. 10 novas competências para ensinar:convite à viagem. Porto Alegre: Artmed, 2000. BOLETIM – PGM 4- A ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS PROPOSTA PEDAGÓGICA Weil, Pierre. A arte de viver em Paz - por uma consciência e educação, Paris, UNESCO, 1990; Documentos consultados: Brasil. Ministério da Educação. Lei nº 9.394/96 de 20 de dezembro de 1996. Diretrizes e Bases da Educação- Lei Darcy Ribeiro. Brasília, DOU, 1996. Diretrizes Curriculares Nacionais: • Educação Infantil - Parecer n. 22/98 e Resolução n. 1/99. • Ensino Fundamental - Parecer n. 4/ 98 e Resolução n. 2/98. • Ensino Médio - Parecer n. 3/98 e Resolução n. 3/98. Brasil. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação – PNE. Brasília, INEP, 2001. 31 PGM 5 – DEMOCRATIZANDO A GESTÃO A DIMENSÃO PEDAGÓGICA DA GESTÃO DA EDUCAÇÃO1 1. Introdução As Secretarias de Educação, estaduais ou municipais, têm, mais do que nunca, um papel decisivo na condução do esforço para atingir mudanças significativas, no atual quadro educacional brasileiro. Se as ações desenvolvidas pelas Secretarias têm sido, historicamente, distanciadas do seu foco principal – a escola, a sala de aula, o aluno – as condições atuais, quer relativas às novas demandas socioeconômicas e culturais do mundo contemporâneo ou às novas políticas públicas nacionais para a educação, exigem uma nova postura da administração pública: redirecionar suas ações, saindo de uma ênfase burocráti- 1 * ** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ADÉLIA LUIZA PORTELA * DILZA MARIA ANDRADE ATTA** ca e de controle para orientar e apoiar as escolas, oferecendo-lhes as condições necessárias para que possam alcançar o seu objetivo fundamental de oferecer um ensino de boa qualidade. E o que pode ser considerado um ensino de boa qualidade hoje? As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental definem, na Resolução CEB/CNE n.2/98, princípios norteadores da prática pedagógica com o objetivo de alcançar tal qualidade: a) os princípios éticos da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum; b) os princípios políticos dos direitos Versão atualizada do texto de mesmo título publicado no Guia de Consulta do PRASEM II. Brasília: FUNDESCOLA/MEC/UNICEF/UNDIME, 1999. Para ser publicado no Boletim do Salto para o Futuro, foi feita uma adaptação e um resumo do texto original. Coordenadora do Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Educação Municipal da Universidade Federal da Bahia e consultora do FUNDESCOLA/MEC. Professora da Universidade Federal da Bahia. 32 A ESCOLA QUE e deveres da cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática; c) os princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade e do respeito à diversidade de manifestações artísticas e culturais. Da mesma forma, os estudos, trabalhos e documentos que versam sobre o papel da educação no mundo contemporâneo, tanto os produzidos em nível nacional quanto internacional, apontam a qualificação intelectual e o desenvolvimento emocional e afetivo como as fontes principais de competência do mundo moderno e a escola como o lugar de construção e desenvolvimento dessa qualificação, que vem sendo entendida como maior capacidade de abstração e de raciocínio, maior capacidade de integração, de tomada de decisões, de trabalho em equipe, de assimilação de mudanças, de desenvolvimento de autonomia, de exercício de solidariedade, de acolhida e respeito às diferenças. Esses conhecimentos/habilidades requeridos, hoje, dos cidadãos têm um alto nível de complexidade. Não podem ser improvisados e, sim, construídos através de um processo sistemático, contínuo e em tempo próprio. É a escola a instituição responsável pelo desenvolvimento de tais conhecimentos/habilidades. A ênfase que as atuais políticas públicas de educação no Brasil colocam no resgate da Educação Fundamental está relacionada com essa compreensão. As- BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS A GESTÃO sim, ter o olhar voltado para a escola e para a qualidade do trabalho que vem sendo nela desenvolvido é o novo desafio que se coloca para os gestores da educação, principalmente aqueles responsáveis pela educação nos municípios, cuja competência principal, colocada no art. 11 da LDB, é oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental. 2. A escola, como espaço privilegiado de construção da cidadania A escola é a instituição do mundo moderno e contemporâneo responsável pela transmissão do conhecimento sistematizado, do assim chamado conhecimento escolar. É a única instituição diretamente responsável pelo ensino de instrumentos indispensáveis à sobrevivência no mundo letrado das sociedades modernas. Isso é válido principalmente no que se refere às classes populares, para as quais ela é o principal meio de acesso ao conhecimento sistematizado. Dessa forma, a escola, e em particular a sala de aula, é o lugar privilegiado para o encontro da criança com o saber sistematizado. A criança traz para a escola experiências do seu cotidiano, que podem ser ricas e válidas para o seu aprendizado, mas é na escola que se vai dar o seu processo de iniciação no conjunto de normas e de regras que regem o mundo letrado. A capacidade para usar material escrito é, na sociedade atual, imprescindível ao acesso a todo tipo de 33 A ESCOLA QUE informação, tornando o uso da leitura cada vez mais necessário à participação real do cidadão em atividades produtivas e coletivas. O não domínio do mecanismo da leitura é gerador de desvantagens e de dependências. Assim, há, hoje, uma crescente valorização da educação escolar como estratégia de melhoria de vida e de empregabilidade. Como vem sendo conduzida a educação nas escolas do município? Ela vem constituindo-se, de fato, em instauradora de condições para o domínio, pelos alunos, dos conhecimentos/habilidades necessários ao exercício responsável e autônomo da cidadania? Que tipo de cidadão a escola está formando? A administração municipal sabe o que vem ocorrendo no interior de suas escolas? É no interior da sala de aula que são estabelecidas diferentes formas de relação com o objeto do conhecimento escolar. Que formas são essas? Essas formas de relação permitem a apreensão desse conhecimento? O que é gerado aí? Aproximação com esse conhecimento ou distanciamento dele? Quem consegue dele se apropriar? Quem não consegue? Por quê? Quais são as condições existentes na escola que, na interação com as condições dos alunos, propiciam ou dificultam a apropriação do conhecimento escolar? Essas são algumas das ques- 2 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS tões básicas sobre o processo educacional que os gestores do município ou da escola não podem perder de vista. O que a administração do município está fazendo para que cada uma de suas escolas desenvolva uma educação de qualidade? 3. Autonomia escolar e proposta pedagógica A nova LDB, publicada em 1996, coloca na escola uma ênfase que não havia sido, ainda, dada por nenhuma outra lei no Brasil. Os artigos 11 a 15, especialmente, indicam as incumbências inerentes aos municípios, aos estabelecimentos de ensino e aos seus professores. A primeira das incumbências para as escolas é elaborar e executar sua proposta pedagógica. Essa exigência da lei está, por sua vez, fortemente vinculada ao princípio constitucional da gestão democrática que se expressa na LDB de forma bastante explícita, quando, no art. 15, se coloca: Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica, que os integram, progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público. Assim, como observa Azanha2, a LDB representa um extraor- AZANHA, José Mário Pires. Proposta pedagógica e autonomia da escola. Seminário: O que muda na Educação Brasileira com a nova Lei de Diretrizes e Bases? São Paulo, FIESP, SESI, SP e SENAI, SP, 1997. BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO A GESTÃO 34 A ESCOLA QUE dinário progresso, já que, pela primeira vez, autonomia escolar e proposta pedagógica aparecem vinculadas em um texto legal. E qual é a relação entre proposta pedagógica e autonomia? Para entender essa relação é preciso discutir a concepção de proposta pedagógica que está implícita na LDB. Se a exigência de elaboração da proposta pedagógica3 aparece nos dois artigos que tratam diretamente das incumbências das escolas e dos professores (art. 12 e 13) e aparece claramente vinculada, no art. 14, à gestão democrática, isso mostra o papel de relevância que a proposta assume como um dos mecanismos de sua concretização. O art. 14 da LDB indica, como princípios da gestão democrática, a participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolares em conselhos escolares ou equivalentes. Portanto, dois elementos são intrínsecos à elaboração de uma proposta que contemple os princípios de uma gestão democrática: ser construída de forma coletiva e ter a participação efetiva de todos os que compõem a comunidade escolar, ou seja, professores, alunos, funcionários, pais e ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS outros membros da comunidade que circunda a escola, representados no Conselho Escolar. Por isso é que Azanha coloca: a existência de uma proposta pedagógica produzida coletivamente e assumida como a diretriz que pauta as atividades desenvolvidas por todos os segmentos da escola pode-se dizer que é condição básica para a autonomia escolar. Portanto: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A proposta pedagógica pode ser concebida como a própria escola em movimento, construindo, no dia-a-dia, seu trabalho educativo, discutindo coletivamente seus problemas, suas possibilidades de solução, e definindo, de forma participativa, as responsabilidades pessoais e coletivas a serem assumidas para a consecução dos objetivos estabelecidos. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Vários estudos conduzidos tanto no Brasil quanto em outros países4 indicam como um dos fatores de sucesso da escola a existência de uma proposta pedagógica construída coletivamente e em funcionamento. A proposta possibilita a integração da comunidade escolar em tor- 3 É uma das metas do Plano Nacional a elaboração, em três anos, das propostas pedagógicas de todas as instituições de Educação Infantil e de Ensino Fundamental – meta 9 do item 1.3 e meta 8 do item 2.3 do capítulo II – Níveis de Ensino. 4 TEDESCO, Juan. Información e Innovación. Jornal da Oficina Internacional de Educacion, Ginebra, n. 91, jun. 1997. BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO A GESTÃO 35 A ESCOLA QUE no de objetivos comuns nascidos das reais necessidades da escola, influenciando na aprendizagem não só de alunos e de professores, mas constituindo-se, de fato, em uma fonte de múltiplas aprendizagens para todos os que dela participam. Outros trabalhos mostram o impacto da presença atuante do Conselho Escolar no desempenho dos alunos. Estudo realizado pelo SAEB indica que existe estreita associação entre implementação de Conselhos Escolares, com a participação efetiva dos pais e o resultado obtido 5 pelos alunos nas provas aplicadas . A participação da comunidade na escola tem sido incluída como princípio de gestão democrática, não só no Brasil como nas reformas educacionais que vêm sendo encaminhadas em vários outros países, pelo que a presença dos pais representa, enquanto elemento de acompanhamento da função social da escola. O UNICEF, ao desenvolver os doze princípios que fundamentam o documento Educação para Todos, coloca, como o primeiro princípio, o envolvimento da comunidade, destacando que os sistemas educacionais bem sucedidos possuem uma forte identificação com a comunidade de pais e de alu6 nos . Uma série de estudos realizados nos 5 6 7 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS Estados Unidos e reunidos em um documento intitulado Gerando Novas Evidências: a família como elemento crítico para o sucesso do aluno7 mostra, entre outros aspectos levantados que, quando há no grupo familiar da criança o reconhecimento da importância da educação para sua vida, ainda que esse grupo não tenha a constituição de uma família nuclear, cria-se um ambiente que encoraja a aprendizagem, fazendo com que o aluno se saia melhor na escola. Mas, ao mesmo tempo, fica evidenciado, também, que a construção de uma visão positiva a respeito da educação que a escola pode fornecer depende, em grande parte, da participação que os pais ou responsáveis têm na vida escolar dos seus filhos. A esse respeito, chama-se a atenção para o fato de que não se pode esperar que a família forneça sozinha o suporte para o desenvolvimento de uma perspectiva positiva da educação. As escolas devem envolver, de forma significativa, as famílias na educação de suas crianças. Esse envolvimento, contudo, deve ir além dos eventuais encontros de pais. Eles devem incluir, entre outros aspectos, a identificação dos elementos culturais da comunidade que podem ajudar a fazer a ligação entre os Chamada à Ação: combatendo o fracasso escolar no Nordeste/Programa de Pesquisa e Operacionalização de Políticas Educacionais. 2ª edição. Brasília: Projeto Nordeste/Banco Mundial/ UNICEF, 1997. CHUNG, Fay. Education, a Bridge between Worlds. Texto apresentado no XX Congresso Mundial do Conselho das Sociedades de Educação Comparada. Cape Town, julho de 1998. A New Generation of Evidence: the family is critical to student achievement. Edited by Anne T. Henderson and Nancy Berla. National Committee for Citizens in Education, 1996. Este documento não foi publicado no Brasil e o título em português é uma tradução das autoras deste texto. BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO A GESTÃO 36 A ESCOLA QUE objetivos da escola e os objetivos sociais do grupo ou comunidade aos quais os pais pertencem. O Conselho Escolar se constitui em um espaço importante de ligação entre a escola e os demais membros da comunidade. Quando o Conselho está organizado de uma forma democrática e aberta, ele pode constituir-se em fonte de informação e de estímulo para a participação efetiva dos pais e, conseqüentemente, em campo de exercício da cidadania. Quando se compreende, com clareza, o papel da educação e do ensino para a construção da cidadania em uma sociedade democrática, é possível desenvolver uma gestão democrática, tanto no sistema quanto no interior da escola. Contudo, essa compreensão nem sempre está presente entre aqueles que trabalham com educação. A elaboração, implementação e acompanhamento da proposta pedagógica, com a participação efetiva da comunidade, diretamente e através da participação no Conselho Escolar, constituem-se em uma das condições básicas para a construção dessa compreensão, por promover uma discussão permanente dos caminhos a serem percorridos pela escola e pelo sistema, na procura de uma gestão autônoma e democrática. 4. A proposta pedagógica como elemento orientador e condutor da gestão pedagógico-democrática Há, hoje, no Brasil, um esforço, para buscar o regime de cooperação entre BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS A GESTÃO União, estados e municípios com a finalidade de superar a existência de redes paralelas e desarticuladas, a fragmentação administrativa e a má qualidade do ensino daí decorrente. Ainda que seja o município o responsável direto por organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrandoos às políticas e planos educacionais da União e dos Estados, conforme reza o art. 11, inciso I, da LDB, deve-se ter em mente que a responsabilidade pelas escolas públicas que ministram a educação básica é do sistema público de educação como um todo. Assim, tanto as Secretarias de Educação Municipais quanto as Estaduais devem estimular e apoiar suas escolas de Educação Infantil e de Ensino Fundamental, no processo de construção e implantação de suas propostas pedagógicas, em atendimento às atuais políticas públicas de educação. É necessário que as duas redes atuem em parceria, para alcançarem os objetivos previstos para a educação no estado. A cooperação entre estados e municípios torna-se indispensável para que as escolas, independentemente de se situarem na zona urbana ou rural, ou de serem administradas pelo estado ou pelo município, possam desenvolver um ensino de qualidade e se consiga estabelecer a eqüidade na oferta da educação básica para todas as crianças brasileiras. Assim, a presença de propostas pedagógicas atuantes nas escolas será uma 37 A ESCOLA QUE decorrência da adoção, pelas Secretarias de Educação, de uma política que tome o próprio processo de construção dessa proposta como um dos pilares de seu trabalho. Para tanto, é necessário garantir às escolas as condições indispensáveis, para que a proposta seja elaborada e implementada. Algumas dessas condições são: existência de um plano municipal de educação, com uma proposta educacional clara que contemple ações voltadas para a construção das propostas pedagógicas das escolas, com previ8 são dos recursos financeiros necessários ; orientações claras e bem fundamentadas para subsidiar o trabalho das escolas; instituição de tempo, para que professores, alunos, funcionários, pais e outros membros da comunidade (diretamente ou por mecanismos de representação) participem do processo de discussão coordenado pela direção; melhoria das condições de trabalho da equipe escolar, inclusive as salariais, com a utilização correta dos recursos do Fundef; definição dos papéis a serem assumidos pelos diferentes segmentos; acompanhamento, pela Secretaria, do processo de trabalho de cada escola e avaliação contínua dos desdobramentos que esse trabalho vai tomando em função do próprio processo de construção da proposta, que é permanente e resulta de uma contínua negociação entre a administração central, a adminis- 8 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS tração da escola, os professores, os alunos, os pais e outros membros da sociedade local. Esse é o papel que se espera, hoje, que as Secretarias assumam, marcado, sobretudo, pela definição de diretrizes para as escolas, que estimulem a construção da identidade e da autonomia de cada uma delas, e pela preocupação com o sistema de apoio que dê suporte ao desenvolvimento das ações propostas no projeto de cada escola. O quadro a seguir sintetiza os elementos essenciais que vão apoiar a construção ativa e comprometida da proposta pedagógica das escolas, dentro de uma perspectiva de ação integrada: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO PROPOSTA EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO CONTIDA NO PLANO PARÂMETROS EDUCACIONAIS DO MUNICÍPIO POLÍTICA DE VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO SISTEMA DE AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO POLÍTICA DE DISTRIBUIÇÃO EQÜITATIVA DE RECURSOS (MATERIAIS E FINANCEIROS) ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A GESTÃO ○ Assim, desenvolver uma política que É indispensável fazer a previsão das despesas necessárias no plano plurianual. BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO ○ 38 A ESCOLA QUE tome o próprio processo de construção da proposta pedagógica como um dos pilares do trabalho da Secretaria de Educação é, ao mesmo tempo, reconhecer que existem princípios e normas gerais que regem a educação nacional e identificar e respeitar a peculiaridade das várias situações escolares. Essa é a ênfase dada tanto nas diversas Diretrizes Curriculares Nacionais emanadas do Conselho Nacional de Educação quanto nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Se essas diretrizes, conjuntamente com os Parâmetros, têm a finalidade de garantir certa unidade nacional dos currículos, há, também, uma preocupação em garantir o reconhecimento da diversidade étnica e cultural do Brasil. 5. A construção da proposta pedagógica A proposta pedagógica, por constituir-se em elemento orientador e, ao mesmo tempo, coordenador das ações da comunidade escolar, extrapola a dimensão pedagógica, englobando a gestão financeira e administrativa. Portanto, ela deve contemplar os recursos necessários à sua implementação e formas de gerenciamento. Em verdade, quando se trata de proposta pedagógica, se está tratando do planejamento da escola que se vai objetivar no Plano da Escola. Esse é o instrumento a partir do qual as ações 9 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS programadas serão desenvolvidas, acompanhadas e avaliadas. No entanto, é preciso ter clareza quanto ao que se considera, hoje, como planejamento. As novas concepções de gestão vão, segundo Garcia9, redescobrir essa função. Contudo esse planejamento vai diferir essencialmente do tradicional, marcado por uma linha excessivamente burocrática e centralizadora. Hoje, ele deve constituirse em um instrumento de consecução da autonomia da escola. Portanto, é importante retomar aqui o conceito de proposta pedagógica como sendo a própria escola em movimento, construindo, no dia-a-dia, seu trabalho educativo, discutindo coletivamente seus problemas, suas possibilidades de solução, e definindo, de forma participativa, as responsabilidades pessoais e coletivas a serem assumidas para a consecução dos objetivos estabelecidos. Dentro dessa perspectiva, o Plano da Escola significa um instrumento que deve viabilizar a execução da proposta e ser suficientemente flexível para se adaptar à dinâmica do trabalho cotidiano da escola. A nova LDB, ao propor a descentralização do sistema, dando à escola progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira, estabelece uma relação clara entre autonomia e proposta pedagógica e, conseqüentemente, coloca, para a esco- GARCIA, Walter E. Educação Básica: novo modelo gerencial. Tecnologia Educacional, Rio de Janeiro, v. 20, n. 101, 1991. BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO A GESTÃO 39 A ESCOLA QUE la, a responsabilidade de elaborar um planejamento que a leve a atingir esses progressivos graus de autonomia. A escola, por sua vez, só pode assumir, com competência, essa responsabilidade, se os seus profissionais tiverem condições objetivas de trabalho. Qualificação profissional, salários condizentes com sua função, jornada de trabalho que inclua tempo para estudo, discussão e atuação em outras atividades fora da sala de aula são condições indispensáveis para uma participação responsável e competente na elaboração e execução da proposta pedagógica da escola. Diante disso, que papel tem a proposta pedagógica na realização do atual ideário da educação brasileira? Sem querer esgotar suas inúmeras finalidades, serão apontadas aqui algumas, como objeto de reflexão. Estabelecer diretrizes básicas de organização e funcionamento da escola, integradas às normas comuns do sistema nacional e do sistema ou rede ao qual pertence, considerando os elementos que a identificam. Reconhecer e expressar a identidade da escola de acordo com sua realidade, idiossincrasias e necessidades locais. Definir coletivamente objetivos e metas comuns à escola como um todo. Possibilitar, ao coletivo escolar, a tomada de consciência dos principais problemas da escola e das suas possibilidades de solução, definindo as BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS A GESTÃO responsabilidades coletivas e pessoais, para eliminar ou atenuar as falhas detectadas. Estimular o sentido de responsabilidade e de comprometimento da escola na direção do seu próprio crescimento, reconhecendo as possibilidades e limitações de seu trabalho. Definir o conteúdo do trabalho escolar, tendo em vista as Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental, os Parâmetros Curriculares Nacionais, os princípios orientadores oriundos da Secretaria de Educação, a realidade da escola e as características do cidadão que se quer formar. Dar unidade ao processo de ensino, integrando as ações desenvolvidas seja na sala de aula ou na escola como um todo, seja em suas relações com a comunidade, na construção do currículo escolar. Estabelecer princípios orientadores do trabalho dos professores e dos funcionários. Criar parâmetros para o processo de acompanhamento e de avaliação do trabalho escolar. Definir, de forma racional, os recursos necessários ao desenvolvimento da proposta. Para que a proposta pedagógica alcance essas finalidades, existem alguns caminhos a serem percorridos, seja qual for a concepção de planejamento subjacente aos instrumentos utilizados. Por exemplo, a elaboração das orientações 40 A ESCOLA QUE das Secretarias de Educação e a construção da proposta pedagógica das escolas não podem deixar de ser fundamentadas nas experiências acumuladas pelas equipes da Secretaria Municipal e da escola – no assim chamado saber da experiência, na bibliografia especializada e nos documentos oficiais que vêm sendo produzidos recentemente no Brasil, desde a nova LDB, às Diretrizes oriundas dos Conselhos de Educação (Nacional, Estadual e Municipal, quando houver) aos Parâmetros Curriculares Nacionais, que fornecem os referenciais legais e conceituais para a construção da educação que se quer hoje no Brasil. Tendo em vista que o concreto da escola é dinâmico, complexo e multideterminado, esses caminhos se entrecruzam o tempo todo, de forma que certas atividades realizadas com uma determinada finalidade podem produzir resultados estimuladores de outras atividades. Por exemplo, se a escola se reúne, juntamente com a comunidade, para identificar seus problemas e levantar possíveis soluções, isso pode transformar-se tanto no diagnóstico da situação escolar quanto em um processo de mobilização e comprometimento de todos na elaboração da proposta. Assim, o próprio processo de diagnóstico pode ser um processo de mobilização, o que mostra que as atividades não são estanques, mas estão interligadas e são interdependentes. Tendo clara essa interdependência BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS A GESTÃO das ações, serão indicados, aqui, a título de sugestão, momentos que devem estar presentes na construção de uma proposta pedagógica. 5.1 Processos básicos a serem desenvolvidos para a construção, execução e acompanhamento da proposta pedagógica Para que as finalidades da proposta pedagógica sejam alcançadas, alguns processos precisam ser desenvolvidos. Em vários momentos, conforme afirmação anterior, esses processos se entrecruzam e são dependentes uns dos outros como se verá a seguir. Processo de participação A importância da participação de todos na construção da proposta já foi inúmeras vezes aqui salientada. Vale ressaltar, ainda, alguns pontos fundamentais. A existência de níveis hierárquicos diferenciados dentro da escola é indiscutível e, por isso mesmo, é preciso definir, com clareza, as responsabilidades que cada um deve assumir. Direção, professores, alunos, profissionais de suporte pedagógico, funcionários, pais, lideranças da comunidade, todos devem ter o seu espaço de participação, mas devese ter cuidado, para que não se confundam as atribuições e não sejam ultrapassados os limites de competência de cada segmento. Direção, professores e profissionais de suporte pedagógico são os responsáveis diretos pela mobilização 41 A ESCOLA QUE da escola e da comunidade para a construção da proposta. Além disso, uma de suas atribuições específicas é a tomada de decisões sobre conteúdos e métodos de ensino e carga horária das disciplinas do currículo. Os alunos são fontes de informação das suas necessidades de aprendizagem, que se vão constituir no núcleo das preocupações da escola. São eles, de fato, o alvo de todo esse esforço. O trabalho dos funcionários, por se realizar em uma escola, tem uma dimensão pedagógica que é muito pouco reconhecida, até por eles próprios. As relações que eles estabelecem com os alunos e com os pais poderiam ser exploradas na direção da formação da cidadania. E nem sempre o são. Portanto, sua participação ativa na construção da proposta é fundamental, para que a escola se constitua, toda ela, em um espaço educativo. Os pais e a comunidade devem participar efetivamente das decisões sobre o orçamento e a utilização dos recursos financeiros que a escola recebe. Além disso, eles devem participar das discussões sobre as características do cidadão que se quer formar, sobre o uso do espaço e do tempo escolar e sobre as formas de organização do ensino que a escola deve adotar. Essa participação pode propiciar aos pais uma melhor compreensão do trabalho escolar e fornecer subsídios para que eles acompanhem e estimulem seus filhos na consecução das tarefas escolares. Por outro lado, deve ser dada atenção para o fato de que essa BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS A GESTÃO participação traz, para o interior da escola, de forma mais explícita, as questões partidárias e grupais que existem na comunidade. Aqui, a negociação é fundamental. Essas questões nunca devem ser impeditivas para a presença e participação dos pais na escola. O desafio é aprender a viver em democracia. O Conselho Escolar é o canal institucional da participação dos pais. Entretanto, é preciso construir parcerias com o maior número possível de pais e de lideranças da comunidade, ultrapassando, assim, o formalmente estabelecido. A construção de parcerias com a comunidade tem sido considerada fundamental para o êxito de qualquer projeto educativo que objetive o desenvolvimento da cidadania. Ainda que as famílias usuárias da escola pública tenham pouca formação escolar, é preciso acreditar que elas podem influir significativamente nas escolas. Como se vê, nenhum segmento tem uma importância menor que a do outro nesse trabalho coletivo. Se há divisões hierárquicas, elas devem ser entendidas como elementos necessários à organização, facilitação e operacionalização do trabalho. Não devem funcionar, nunca, como elementos impeditivos da participação de todos, que deve ser cada vez mais ampliada. O currículo escolar Sabe-se que o currículo escolar é um dos pontos mais difíceis a serem enfren- 42 A ESCOLA QUE tados pela escola. Algumas questões podem ser aqui levantadas em relação a esse aspecto: a) Tradicionalmente, as escolas públicas têm a sua prática pedagógica determinada ou por orientações centralizadoras oriundas das Secretarias de Educação ou pelos próprios livros didáticos. Isso resulta, na maioria das vezes, em uma prática curricular muito pobre que não leva em conta nem a experiência trazida pelo próprio professor, nem a trazida pelo aluno ou mesmo as características e tradições culturais da localidade em que a escola está inserida. Por outro lado, isso também não possibilita a construção, pelo professor, de uma autonomia intelectual tanto quanto o exercício da sua criatividade e da dos seus alunos; e não dá margem para que a escola possa construir a sua própria identidade no processo de transmissão curricular. Mesmo com a publicação e ampla divulgação, pelo MEC, dos Parâmetros Curriculares, essa prática ainda continua muito forte nas escolas; b) Relacionado a isso, existe uma concepção restrita de currículo, próxima do conceito clássico de programa ou, pior ainda, de uma simples grade curricular, ou de mera listagem dos conteúdos que devem ser tratados; 10 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS daí porque muitos professores se orientam apenas pelos sumários ou índices dos livros didáticos. Ao adotarem essa concepção de currículo, os profissionais da escola deixam de lado uma visão mais ampla que vai além da mera enumeração das disciplinas e da especificação de seus conteúdos. De fato, o currículo abrange tudo o que ocorre na escola, as atividades programadas e desenvolvidas sob a sua responsabilidade e que envolvem a aprendizagem dos conteúdos escolares pelos alunos, na própria escola ou fora dela e isso precisa ser muito bem pensado pela escola. Assim sendo, é indispensável que a escola se reúna para discutir a concepção atual de currículo, que deixou de ser apenas uma área técnica, podendo-se mesmo falar, hoje, de uma tradição crítica do currículo, orientada por discussões de caráter sociológico, político e epistemológico10. Qual é a nova concepção de currículo que está expressa tanto na LDB quanto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os diferentes níveis de ensino e também nos Parâmetros Curriculares Nacionais? A LDB indica, no art. 26, os elementos que devem constituir o currículo do Ensino Fundamental e Médio: uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabeleci- MOREIRA, A F. b. & SILVA, T. T. Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1994 BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO A GESTÃO 43 A ESCOLA QUE mento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. A Base Nacional Comum é que vai garantir a unidade nacional, de forma que todos os alunos possam ter acesso aos conhecimentos mínimos necessários ao exercício da vida cidadã. A Base Nacional Comum é, portanto, a dimensão obrigatória dos currículos nacionais e é definida pela União. A Parte Diversificada, também obrigatória, compõe-se de conteúdos complementares tomados da realidade regional e local e devem ser escolhidos em cada sistema de ensino e escolas. Aqui é bom chamar a atenção para o fato de que a escola tem autonomia para incluir, na parte diversificada do currículo, temas do seu interesse. É através da construção da proposta pedagógica da escola que vão integrar-se a Base Nacional Comum e a Parte Diversificada. As Secretarias de Educação e as escolas devem utilizar a parte diversificada de suas propostas para enriquecer e complementar a base nacional comum, introduzindo projetos e atividades de interesse de suas comunidades. Para que a escola se mantenha contemporânea do seu tempo, esses conteúdos devem ser constantemente atualizados dentro de uma perspectiva crítica, responsável e contextualizada e dessa forma, a proposta pedagógica estará sempre em processo de discussão. O Parecer CEB n. 04/98 do Conse- BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS A GESTÃO lho Nacional de Educação, que fundamenta as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, vai especificar o que se entende como Conteúdos Mínimos das Áreas de Conhecimento que constituem a Base Nacional Comum: são as noções e conceitos essenciais sobre fenômenos, processos, sistemas e operações que contribuem para a constituição dos saberes, conhecimentos, valores e práticas sociais indispensáveis ao exercício de uma vida de cidadania plena. Segundo essas Diretrizes (Resolução CEB n. 02/98), a composição curricular deve buscar a articulação entre os vários aspectos da vida cidadã: a saúde, a sexualidade, a vida familiar e social, o meio ambiente, o trabalho, a ciência e a tecnologia, a cultura, as linguagens, com as áreas de conhecimento – Língua Portuguesa, Língua Materna (para populações indígenas e migrantes), Matemática, Ciências, Geografia, História, Língua Estrangeira, Educação Artística, Educação Física, Educação Religiosa. Há várias formas de composição curricular, mas tanto os Parâmetros Curriculares Nacionais quanto a literatura internacional e nacional sobre o tema indicam que os modelos multidisciplinar e pluridisciplinar, marcados por uma forte fragmentação e que vêm dominando a escola brasileira e de outros países, devem ser substituídos, na medida do possível, por uma perspectiva interdisciplinar e transdisciplinar. O que isso significa? 44 A ESCOLA QUE Interdisciplinaridade significa uma outra concepção de divisão do saber, marcada pela interdependência, pela interação e pela comunicação entre as disciplinas voltadas para a integração do conhecimento em áreas significativas. Transdisciplinaridade é a coordenação do conhecimento em um sistema lógico que permite o livre trânsito de um campo de saber para outro, ultrapassando a concepção de disciplina e enfatizando o desenvolvimento de todas as nuances e aspectos do comportamento humano. O papel da escola, no mundo contemporâneo, é o de desenvolver competências transversais entendidas como a capacidade de decidir qual é o alvo a ser atingido e, portanto, a capacidade de julgar a oportunidade, assim como a capacidade de inventar os meios para atingir esses alvos. Essas competências transversais são adaptativas, transferíveis e geratrizes, caracterizadas pelo poder de adaptar atos e palavras a uma infinidade de situações inéditas11. Com base nessas formas de composição curricular, é que os Parâmetros Curriculares Nacionais introduzem os temas transversais que, tomando a cidadania como eixo básico, vão tratar de questões que ultrapassam as áreas convencionais, mas permeiam a concepção, os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas dessas áreas. Essa trans- 11 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS versalidade supõe uma transdisciplinaridade que vai permitir tratar uma única questão a partir de uma perspectiva plural. Por exemplo, a ética é um tema que pode ser trabalhado a partir de vários ângulos e de várias áreas do conhecimento. Isso exige o comprometimento de toda a comunidade escolar com o trabalho em torno dos temas definidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais como Ética, Saúde, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural e Orientação Sexual. Esses temas, que têm um caráter universal, devem ser trazidos para o contexto local de forma que o aluno aprenda da realidade e na realidade. Para atingir aquilo a que se propõe, até como decorrência da própria lei, a escola precisa ensinar a criança a estabelecer relações entre a sua experiência cotidiana e os conteúdos escolares, em torno dos quais todos trabalharão, ampliando, assim, o seu universo. A escola deve, acima de tudo, fornecer as condições para que seus alunos participem da formulação e reformulação de conceitos e valores, tendo em vista que o ato de conhecer implica incorporação, produção e transformação do conhecimento, para o exercício de uma cidadania responsável. Como essas determinações formais do currículo vão se manifestar na escola? A sua concretização, no espaço dinâmico que é o da escola, vai produzir, simulta- LENOIR, Y. A importância da interdisciplinaridade na formação de professores do ensino fundamental. Caderno de Pesquisa, n. 102, p. 5-22, nov. 1997. BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO A GESTÃO 45 A ESCOLA QUE neamente, diferentes formas de expressão do currículo. Ao lado do currículo formal, determinado legalmente e colocado nas diretrizes curriculares, nas propostas pedagógicas e nos planos de trabalho, há um currículo em ação, considerado o currículo real, que é aquilo que, de fato, acontece na escola e o currículo oculto, que é aquilo que não está formalmente explicitado, mas que perpassa, o tempo todo, as atividades escolares. O currículo formal é entendido como o conjunto de prescrições oriundas das diretrizes curriculares, produzidas tanto no nível nacional quando nas Secretarias e na própria escola e indicado nos documentos oficiais, nas propostas pedagógicas e nos regimentos escolares. O currículo formal toma da cultura aquilo que considera que deve ser transmitido às novas gerações, fazendo os recortes, as codificações e as formalizações didáticas correspondentes. O currículo real é a transposição pragmática do currículo formal, é a interpretação que professores e alunos constroem, conjuntamente, no exercício cotidiano de enfrentamento das dificuldades, sejam conceituais, materiais, de relação professor/aluno, aluno/aluno. São as sínteses construídas por professores e alunos, a partir dos elementos do currículo formal e das experiências pessoais de cada um. Como bem coloca Perrenoud, o currículo formal fornece uma trama, a 12 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS partir da qual os professores devem elaborar um tecido de noções, esquemas, informações, métodos, códigos, regras que vão tentar transmitir. Para passar da trama ao tecido, o professor realiza um trabalho permanente de reinvenção, de explicitação, de ilustração, de concretização do currículo formal12. O currículo oculto é aquele que escapa das prescrições, sejam elas originárias do currículo formal ou do real. Diz respeito àquelas aprendizagens que fogem ao controle da própria escola e do professor e passam quase despercebidas, mas que têm uma força formadora muito intensa. São as relações de poder entre grupos diferenciados dentro da escola que produzem aceitação ou rejeição de certos comportamentos, em prejuízo de outros; são os comportamentos de discriminação dissimulada das diferenças e, até mesmo, a existência de uma profecia auto-realizadora dos professores que classifica, de antemão, certos alunos como bons e outros como maus. O currículo oculto também vai se manifestar, entre outras formas, na maneira como os funcionários tratam os alunos e seus pais, no modo de organização das salas de aula, no tipo de cartaz pendurado nas paredes (que mensagens?), nas condições de higiene e conservação dos sanitários, no próprio espaço físico da escola. PERRENOUD, Philippe. Oficío de aluno e sentido do trabalho escolar. Porto: Porto Editora, 1995 p. 42 e 43. BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO A GESTÃO 46 A ESCOLA QUE Essas três expressões do currículo vão constituir o conjunto das aprendizagens realizadas pelos alunos e o reconhecimento dessa trama, presente na vida escolar, vai dar à equipe da escola melhores condições para identificar as áreas problemáticas da sua prática pedagógica. Diante disso, algumas questões básicas toda a escola deveria fazer-se. Que mensagens não explícitas a escola vem passando para seus alunos? Que conteúdos vem privilegiando? Que currículo está sendo construído – o que enfatiza o sucesso escolar ou, o que, implicitamente, se conforma com o fracasso? Assim, no processo de elaboração da proposta pedagógica, o diretor e os demais membros da equipe escolar devem estudar a legislação educacional, bem como a documentação oficial da Secretaria de Educação e do Conselho Estadual e ou Municipal de Educação, produzida com o objetivo de orientar a implantação desses dispositivos legais no que se refere ao currículo. A partir daí, torna-se necessário identificar que ações precisam ser planejadas e realizadas pela escola para colocar em prática um currículo que contemple os objetivos da educação básica. Para que seja construído e posto em prática um currículo escolar que realmente permita a inserção do aluno na vida cidadã, é preciso que os profissionais da educação estejam bem preparados. A comple- 13 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS xidade da tarefa que a escola deve assumir, hoje, exige profissionais capazes de exercer, com autonomia intelectual, a condução de um processo de ensino que vai além da simples transmissão de alguns conhecimentos. O diretor tem, nesse contexto, um papel fundamental. Além de liderar, ao lado da coordenação pedagógica, a construção permanente da proposta pedagógica, ele deve estar todo o tempo viabilizando as condições para sua execução e uma delas é a formação contínua de seus professores, para que eles possam desenvolver, com competência, o currículo expresso na proposta pedagógica. Orientação didática A função primordial da escola e, especialmente, do professor é possibilitar aos seus alunos o acesso ao conhecimento escolar. Para tanto, esse conhecimento passa por esquematizações, reestruturações, segmentações, simplificações, reconstruções práticas como meio de promover a sua apreensão pelos alunos. Podese, portanto, pensar o trabalho escolar como uma transposição prática do currículo formal que, por sua vez, inclui uma transposição didática, entendida como o acabamento, a transformação a que se sujeitam os saberes, as práticas sociais ou, mais globalmente, a cultura, para poder ensiná-las e avaliá-las na aula13. Assim, o professor é, de fato, um PERRENOUD, Philippe. op. cit. p. 21. BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO A GESTÃO 47 A ESCOLA QUE mediador na interação dos alunos com os objetos de conhecimento e a orientação didática que assume; e os métodos que utiliza têm como finalidade estimular a compreensão e diferenciação entre os conceitos, possibilitar a sua generalização, transposição e aplicação em situações diversas e permitir a solução de problemas, o levantamento de questões, a avaliação dos resultados de suas ações e a reconstrução do conhecimento em outros níveis. Além de favorecer aquelas aprendizagens consideradas tradicionalmente escolares, a escola deve organizar, seja no interior da sala de aula, seja fora dela, situações, tarefas, atividades, que facilitem a vida em comum, que ajudem os alunos a criar um sentido de ordem, de uso significativo do tempo e do espaço, a desenvolver o espírito de cooperação e de solidariedade e um sentimento de pertencimento aos seus grupos de convivência. Contudo, não é isso o que vem ocorrendo na escola básica, no Brasil. A má qualidade de formação do professor brasileiro não lhe fornece as condições para o exercício do seu ofício, que é o de promover a aprendizagem dos seus alunos. Vários estudos realizados recentemente no Brasil sobre o cotidiano da sala de aula mostram, além da própria pobreza material e física das salas, o predomínio de práticas educativas rotineiras, repetitivas, centradas no professor e que utilizam a escrita pelo aluno (deveres de BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS A GESTÃO casa, cópia, exercícios escritos no caderno etc.) mais como um mecanismo de controle da indisciplina do que como instrumento de efetiva aprendizagem. A própria organização da sala de aula – a disposição das carteiras escolares em fileiras, poucas vezes dispostas em círculos ou em pequenos agrupamentos – demonstra qual é a opção metodológica que vem predominando entre os professores. A ausência de material didático rico e diversificado e a falta de conhecimento aprofundado dos conteúdos que ensina levam o professor, na maioria das vezes, a recorrer a práticas tradicionais e a banalizar a importância das atividades e das rotinas escolares. Por outro lado, aos professores, só chegam os bafejos das concepções contemporâneas de educação, seja nos cursos de formação inicial, seja nos de capacitação de professores já em serviço. Seus depoimentos a respeito desses últimos cursos indicam, inclusive, que eles percebem a necessidade de abandonar as formas tradicionais, mas o tempo do curso não é suficiente para o aprofundamento das novas idéias e sua conseqüente transposição para a prática na sala de aula. Aqui, vale ressaltar a falta que faz um acompanhamento sistemático do trabalho do professor e de sua formação continuada, através de grupos dirigidos de estudo, no âmbito da própria escola. Diante disso, é preciso que o diretor, junto com a equipe escolar, discuta as opções didáticas a serem assumidas, pro- 48 A ESCOLA QUE movendo os meios para que sejam postas em prática. Isso não se faz apenas com seminários pontuais ou com a realização das convencionais semanas pedagógicas promovidas no início de cada ano letivo. Demanda tempo, persistência, estudo e dedicação. Demanda, sobretudo, condições de trabalho, as quais o diretor deve continuamente buscar e a Secretaria de Educação apoiar, para que o professor possa se dedicar ao seu verdadeiro ofício: promover a aprendizagem dos alunos. Há, hoje, um conjunto de princípios educativos que vêm orientando as práticas pedagógicas contemporâneas. Sem pretender esgotar temática tão complexa, são indicados alguns desses princípios como pontos para reflexão. • Considerar o aluno como sujeito de sua própria aprendizagem; • Reconhecer que o conhecimento é construído, progressivamente, através da atividade própria do aluno e também através das interações sociais, isto é, de aluno para aluno e entre o professor e os alunos; • Superar a fragmentação do saber, dividido em disciplinas, enfatizando a interdisciplinaridade dos conhecimentos e a construção integrada de saberes, competências e valores que perpassam, de forma transdisciplinar, o conjunto do saber-fazer escolar; • Tomar as experiências e vivências do cotidiano do aluno como ponto de partida para as novas aprendizagens escolares; BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS A GESTÃO • Organizar o trabalho escolar em torno de atividades que proporcionem o prazer de conhecer, o desejo de descobrir e de fazer e que estimulem o aprender a aprender; • Respeitar a diversidade dos alunos, enquanto pessoas e enquanto membros de um determinado grupo étnico-cultural e socioeconômico; • Estimular o desenvolvimento da autonomia do aluno, da sua participação na construção da vida escolar, através do incentivo ao trabalho em grupo e à aprendizagem cooperativa. Como esses princípios podem ser concretizados na prática? A partir de uma leitura dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, alguns pontos podem ser destacados. A autonomia, por exemplo, pode-se concretizar no trabalho em sala de aula, através de atividades que permitam ao aluno posicionar-se, elaborar projetos pessoais e participar enunciativa e cooperativamente de projetos coletivos, ter discernimento, organizar-se em função de metas eleitas, governar-se, participar da gestão de ações coletivas, estabelecer critérios e eleger princípios éticos, entre outros aspectos. O respeito à diversidade tem a ver com o direito de todos os alunos realizarem as atividades fundamentais para o seu desenvolvimento e socialização. Sua concretização, em sala de aula, significa levar em conta fatores sociais, culturais e a história educativa de cada aluno, 49 A ESCOLA QUE suas características pessoais de déficit sensorial, motor ou psíquico, ou de super dotação intelectual (...) dando-se especial atenção ao aluno que demonstrar a necessidade de resgatar a auto-estima. Muitos professores ensinam pensando no aluno típico e não no aluno concreto. Dessa forma, a direção precisa estar atenta a essas questões e continuamente acompanhando o trabalho dos professores, verificando se eles conhecem a constituição de seu grupo de alunos e se eles respeitam a sua diversidade. O trabalho diversificado é um recurso, por exemplo, que vem sendo utilizado com bons resultados, uma vez que são usados diferentes exercícios, atividades, tarefas por grupos de alunos ou pequenos projetos, que vão permitindo a inserção de todos no trabalho escolar, independentemente dos diferentes níveis de conhecimento e experiência presentes entre os alunos de uma mesma classe. O princípio que deve orientar essa opção é o de que todos os alunos são capazes de aprender, cada um no seu ritmo próprio e a partir de pontos diferentes, desde que lhes sejam dadas as condições para que isso ocorra. Quando a escola não reconhece a diversidade presente na sala de aula, quando pratica a indiferença pelas diferenças, ela transforma essas desigualdades de ordem extra-escolar em desigualdades de 14 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS aprendizagem, logo, em sucessos e insucessos.14 A interação e a cooperação são princípios subjacentes à aprendizagem dos conteúdos escolares e à aprendizagem de formas de convivência escolar e social. Para sua concretização, a escola e os professores devem criar situações em que os alunos possam aprender a dialogar, a ouvir o outro e ajudá-lo, a pedir ajuda, aproveitar críticas, explicar um ponto de vista, coordenar ações para obter sucesso em uma tarefa conjunta. Para que esse aprendizado ocorra de fato é preciso que o professor esteja comprometido com esses princípios e tenha disponibilidade para aceitar contribuições dos alunos (respeitando-as, mesmo quando apresentadas de forma confusa ou incorreta) e para favorecer o respeito, por parte do grupo, assegurando a participação de todos os alunos. A seleção de material deve ser variada e cuidadosa. Todo material é fonte de informação mas nenhum deve ser utilizado com exclusividade. A escolha do livro didático pelo professor deve ser criteriosa e estar vinculada com as suas opções metodológicas. Além dos livros didáticos dos alunos e dos livros de literatura infanto-juvenil, o professor deve recorrer a materiais diversificados como jornais, revistas, folhetos, propagandas, computadores, calculadoras, filmes, que PERRENOUD, Philippe. op. cit. p. 34. BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO A GESTÃO 50 A ESCOLA QUE fazem o aluno sentir-se inserido no mundo à sua volta. Não se pode perder de vista que as escolas devem ter autonomia para desenvolver o pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, conforme expresso no art. 3º, inciso III da LDB, quando se refere aos princípios e fins da educação nacional. Isso deixa para a escola um espaço de criatividade, iniciativa e experimentação que pode ser desenvolvido durante a construção, implementação, acompanhamento e avaliação de sua proposta pedagógica. 5.2 Implementação da proposta pedagógica Para que a proposta pedagógica não signifique apenas uma atividade burocrática e formal a ser cumprida por exigência legal, é preciso viabilizar as condições necessárias para a sua construção, execução, acompanhamento, avaliação, reconstrução. A seguir são colocadas algumas das condições essenciais para sua implementação. Delimitação e organização do tempo para a discussão, elaboração e acompanhamento da proposta Para a realização de uma tarefa complexa como a da elaboração e implementação da proposta, é preciso buscar condições objetivas. A instituição de um tempo próprio é uma dessas condições. A cultura da participação precisa ser ainda instaurada em nossas escolas e, para BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS A GESTÃO isso, precisa-se de tempo. Aqui, o tempo merece uma conceituação precisa. Significa um horário definido para participar de reuniões e realizar tarefas específicas que se façam necessárias para a consecução da proposta. Quando a escola ocupa todo o tempo do professor com aulas, sem lhe dar algumas horas semanais de trabalho remunerado para estudar, elaborar material didático e ter oportunidade de discutir com os colegas e com a comunidade o processo de realização do trabalho pedagógico, ela está dificultando a realização de um trabalho de qualidade. Reconhecendo isso, a LDB, no seu art. 67, inciso V, assegura ao professor período reservado a estudos, planejamento e avaliação incluído na carga de trabalho, o que deverá constar do plano de carreira dos profissionais do magistério. Por outro lado, a Resolução CEB/CNE n. 3/97, art. 6º, inciso V, define que a jornada de trabalho dos docentes incluirá uma parte de horas de aula e outra de horas de atividades. No inciso IV do mesmo artigo, está indicado que as horas-atividade correspondem às horas de trabalho do professor destinadas à preparação e à avaliação do trabalho didático, à colaboração com a administração da escola, às reuniões pedagógicas, à articulação com a comunidade e ao aperfeiçoamento profissional, de acordo com a proposta pedagógica de cada escola. Vê-se, desse modo, legalmente garantida a participação do professor nesse tipo de trabalho. 51 A ESCOLA QUE Encontrar o tempo certo para reunir as pessoas da comunidade não é fácil. E, aqui, se coloca um desafio para as lideranças da escola: descobrir formas de contato com as famílias dos alunos que superem as tradicionais – as eventuais reuniões de pais para tratar da indisciplina e das notas baixas dos alunos – de maneira a atraí-las a participar sistematicamente da vida escolar de seus filhos e a participar do processo de construção e acompanhamento da proposta pedagógica. Estabelecimento de limitações e de possibilidades e do trabalho da escola definição de prioridades A degradação histórica que a escola vem sofrendo faz com que sejam inúmeros os aspectos que merecem ser transformados para que ela alcance patamares mínimos de qualidade. Na sua proposta pedagógica, é importante que sejam identificados, com clareza, os problemas enfrentados, bem como suas possíveis soluções. A partir daí, algumas questões se colocam. As soluções levantadas são viáveis? Como elas serão encaminhadas? O que precisa ser feito, para que elas se tornem operacionais? Quais os recursos necessários e como buscá-los? Tais questões, entre outras, irão ajudar a definir quais as possibilidades e limitações concretas da escola nesse primeiro momento, sempre tendo em mente que, no decurso do trabalho, essas possibilidades poderão ser ampliadas. Considerada a complexa tarefa de BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS A GESTÃO dar uma nova qualidade à escola, é preciso definir, no rol das possibilidades levantadas, as prioridades para que haja economia de tempo e de esforço. Não se pode fazer tudo ao mesmo tempo. Assim, as metas definidas devem ser claras, viáveis e representativas das necessidades básicas da escola. O documento Como Elaborar o Plano de Desenvolvimento da Escola, publicado pelo FUNDESCOLA/MEC, constitui-se em uma das fontes a que podem recorrer as escolas no processo de seleção das estratégias básicas para o desenvolvimento da proposta pedagógica. Acompanhamento da execução da proposta pedagógica A construção e execução da proposta pedagógica e do plano da escola precisam ser sustentadas por um acompanhamento contínuo e sistemático do diretor da escola, mas também de um coordenador pedagógico que deve ajudar o diretor através de ações mais específicas de caráter técnico-pedagógico. Cabe às Secretarias de Educação providenciar a presença desse agente na escola, seja ele um elemento integrante da própria escola, seja ele um técnico da Secretaria. O importante é que haja um responsável pela mobilização da escola para estar , periodicamente, discutindo os rumos que a proposta pedagógica e o plano da escola vão tomando. Como parte desse processo de acompanhamento, são sugeridas algumas ações: 52 A ESCOLA QUE • análise dos planos de trabalho dos professores para verificar sua relação com os objetivos, com os conteúdos curriculares e com as opções metodológicas da proposta pedagógica; • construção, juntamente com os professores, de um instrumento de acompanhamento das aulas, a partir de parâmetros previamente discutidos, de forma que eles possam participar da avaliação da sua própria prática de trabalho; • observação da sala de aula, a partir de um instrumento de acompanhamento, para estabelecer relações entre a dinâmica da aula e os objetivos e conteúdos curriculares da proposta pedagógica e identificar aspectos que precisam ser mais bem trabalhados com os professores; • acompanhamento do desempenho dos alunos, identificando pontos nesse desempenho que precisam ser melhorados e que precisam ser discutidos com os professores; • acompanhamento do desenvolvimento de projetos propostos por professores e por alunos; • supervisão do uso do tempo e do espaço escolar, verificando sua adequação aos objetivos e conteúdos curriculares; • supervisão da qualidade dos recursos didáticos disponíveis, observando sua variedade, sua adequação ao número de alunos e aos objetivos e conteúdos curriculares da proposta pedagógica; BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS A GESTÃO • reunião em dia fixo, que faça parte da programação normal da escola, com os professores, para estudo teórico e discussão de questões práticas; • reunião periódica com toda a escola e com os pais dos alunos para avaliação e replanejamento da proposta e do plano de trabalho da escola. Cabe à Secretaria de Educação garantir as condições para que esse acompanhamento se efetive, estimulando, inclusive, a troca de experiências entre as escolas, promovendo, por exemplo, seminários interescolares em que sejam apresentadas as diferentes propostas em andamento, as dificuldades para sua construção e implementação e os resultados que vêm sendo alcançados. Construção do Regimento Escolar A nova LDB provocou a necessidade de os Conselhos de Educação regulamentarem os novos dispositivos legais, o que levou a uma revisão, entre outras, do papel que vinha sendo atribuído ao regimento escolar. Ele continua configurando-se como uma condição normativa para a realização das tarefas essenciais da escola e tem como objetivo a organização e a disciplina das rotinas escolares. É a lei maior da escola, tem caráter obrigatório, pois é quem vai definir a natureza e finalidade da escola, bem como as normas e critérios que regulam seu funcionamento. No entanto, vários Conselhos Estaduais de Educação têm estabelecido, nas suas instruções 53 A ESCOLA QUE normativas, uma relação intrínseca entre regimento e proposta pedagógica. A ênfase dada ao regimento passa a ser a de, enquanto norma que rege o funcionamento da instituição, se constituir em instrumento que concorra para a concentração de esforços no processo ensino-aprendizagem, transformando-se em um verdadeiro estatuto pedagógico, capaz de orientar toda a comunidade escolar de forma simples, mas segura15. Por isso mesmo, ele deve ser construído em cada escola juntamente com a proposta pedagógica, se constituindo na sua tradução formal. Observe-se que, enquanto a proposta pedagógica se materializa no Plano da Escola, o regimento escolar é um instrumento de caráter legal que legitima as ações da escola, constituindo-se em uma modalidade de contrato que estabelece as regras e as normas de convivência sócio-escolar. Segundo o Conselho de Educação do Estado de Goiás, o regimento é o veículo que a escola possui como instrumento de defesa da qualidade, coerência e justeza dos serviços que presta à comunidade16. Da mesma forma que a proposta pedagógica, ele deve ser construído com a participação efetiva de todos os segmentos da 15 16 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ QUEREMOS escola, pois sua possibilidade de ser cumprido vai depender da compreensão, aceitabilidade e comprometimento de toda a comunidade escolar. A seguir, um quadro, que procura sintetizar os diversos passos a serem percorridos no caminho para a elaboração da proposta pedagógica, e que devem receber continuamente apoio, acompanhamento e avaliação por parte das secretarias e, quando houver, pelo Conselho Municipal de Educação: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Definir o cidadão que se quer formar Estabelecer os elementos identificadores da escola Mobilizar a equipe escolar Delimitar e institucionalizar o tempo Estabelecer diferentes níveis de participação e de responsabilidade Identificar possibilidades e limitações Definir os conteúdos, a organização do ensino e a orientação didática Estabelecer um processo de acompanhamento Avaliar continuamente Atualizar continuamente a proposta pedagógica ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Resolução CEE/RS n. 236/98 do Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul. Relator: Dorival Adair Flack. Instrução CEE n. 01/98 do Conselho Estadual de Educação do Estado de Goiás. Sugestões e Recomendações para Elaboração e Aprovação de Regimento Escolar. Relatora: Natividade Rosa Guimarães. BOLETIM – PGM 5 - D EMOCRATIZANDO A GESTÃO 54 ARROYO, Miguel. Prática Pedagógica e currículo - Simpósio do VIII ENDIPE. Florianópolis, INEP,1996. AZANHA, José Mário Pires. Proposta pedagógica e autonomia da escola. Seminário: O que muda na Educação Brasileira com a nova Lei de Diretrizes e Bases? São Paulo, FIESP, SESI, SP e SENAI, SP, 1997. BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação –PNE. Brasília, INEP, 2001. Chamada à Ação: combatendo o fracasso escolar no Nordeste/Programa de Pesquisa e Operacionalização de Políticas Educacionais. 2ª edição. Brasília: Projeto Nordeste/Banco Mundial/UNICEF, 1997. CHUNG, Fay. Education, a Bridge between Worlds. Texto apresentado no XX Congresso Mundial do Conselho das Sociedades de Educação Comparada. Cape Town, julho de 1998. GARCIA, Walter E. 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Ensino Médio - Parecer n. 3/98 e Resolução n. 3/98. 56 Presidente da República Fernando Henrique Cardoso Ministro da Educação Paulo Renato Souza Secretário de Educação a Distância Pedro Paulo Poppovic MEC Secretaria de Educação a Distância Programa TV Escola – Salto para o Futuro Diretora do Departamento de Política de Educação a Distância Carmen Moreira de Castro Neves Coordenadora-Geral de Material Didático-Pedagógico Vera Maria Arantes Coordenadora-Geral de Planejamento e Desenvolvimento de Educação a Distância Tânia Maria Magalhães Castro Supervisora Pedagógica Rosa Helena Mendonça Diretor de Produção e Divulgação de Programas Educativos Antonio Augusto Silva Coordenadoras de Utilização e Avaliação Mônica Mufarrej e Leila Atta Abrahão Copidesque e Revisão Magda Frediani Martins Programadora Visual Norma Massa Consultoria Pedagógica Vital Didonet e.mail: [email protected] Abril de 2002 Home page: www.tvebrasil.com.br/salto 57